Contabilidade Sem Medo
PROFESSORA: Ivana Agostinho
(ESAF/AFRF/2001) José Henrique resolveu medir contabilmente um dia de
sua vida começando do “nada” patrimonial.
De manhã cedo nada tinha. Vestiu o traje novo (calça, camisa, sapatos, etc.),
comprado por R$105,00, mas que sua mãe lhe deu de presente. Em seguida
tomou R$30,00 emprestados de seu pai, comprou o jornal por R$1,20, tomou
o ônibus pagando R$1,80 de passagem. Chegando ao CONIC, comprou fiado,
por R$50,00, várias caixas de bombons e chicletes e passou a vendê-los no
calçadão. No fim do dia, cansado, tomou uma refeição de R$12,00, mas só
pagou R$10,00, conseguindo um desconto de R$2,00. Contou o dinheiro e viu
que vendera metade dos bombons e chicletes por R$40,00.
Com base nessas informações, podemos ver que, no fim do dia, José Henrique
possui um “capital próprio” no valor de:
a) R$ 120,00.
b) R$ 189,00.
c) R$ 2,00.
d) R$ 187,00.
e) R$ 107,00.
Vamos lá...
Para começo de conversa, vamos ver o que o examinador está nos
perguntando.
O que devemos aferir, neste caso, é o “capital próprio” de José Henrique.
Conforme iremos estudar com maior detalhamento, “capital próprio” de uma
pessoa (seja ela física ou jurídica) poderia ser definido como sua riqueza, ou
seja, aquilo que lhe pertence “de verdade”. No caso de empresas, chamamos
essa parte do patrimônio de “Patrimônio Líquido”, que é obtido por meio da
diferença entre o conjunto de bens e direitos (ativo) e o conjunto de
obrigações (passivo) a ela pertencentes.
Resumindo:
Patrimônio Líquido (ou “capital próprio”) = Ativo (bens + direitos) – Passivo
(obrigações)
Ou, para facilitar...
PL = A – P
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De forma bem simplificada, teríamos a seguinte situação:
Momento 0: Patrimônio do José Henrique pela manhã.
“De manhã cedo nada tinha.”
Ativo
Passivo
0
0
Patrimônio Líquido
0
Momento 1: Após ganhar o traje novo de sua mãe...
“Vestiu o traje novo (calça, camisa, sapatos, etc.), comprado por R$105,00,
mas que sua mãe lhe deu de presente.”
Agora, já podemos contabilizar o primeiro item do patrimônio do José
Henrique. Sua mãe lhe deu de presente algumas roupas avaliadas em
R$105,00. Logo, seu Ativo (roupas são bens de uso, neste caso) foi acrescido
de R$105,00, sem que houvesse desembolso ou surgimento de obrigação
(para comprar essas roupas). Dessa forma, entendemos que José Henrique
ficou mais “rico”, pois recebeu uma doação (receita, que provoca um aumento
em seu patrimônio líquido). Vamos ver como é que ficou...
Ativo
Passivo
R$105,00 (1)
0
Patrimônio Líquido
R$105,00 (1)
Momento 2: Após tomar dinheiro emprestado de seu pai...
“Em seguida, tomou R$30,00 emprestados de seu pai...”
Estamos diante de uma operação de obtenção de empréstimo. No mesmo
momento em que José Henrique coloca esses R$30,00 no seu bolso (caixa),
surge a obrigação de quitar posteriormente esse empréstimo obtido. Assim...
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Ativo
Passivo
R$105,00 (1)
R$30,00 (2)
R$30,00 (2)
Patrimônio Líquido
R$105,00 (1)
Momento 3: Após comprar o jornal e pagar o ônibus...
“... comprou o jornal por R$1,20, tomou o ônibus pagando R$1,80 de
passagem.”
Tanto a compra do jornal quanto o pagamento da passagem do ônibus são
considerados despesas (que provocam diminuições no valor do capital próprio,
deixando nosso amigo mais “pobre”). Lembro que, para pagar por essas
despesas, José Henrique precisou tirar dinheiro do seu bolso (caixa). Vou
evidenciar as diminuições com a utilização de parênteses.
Ativo
Passivo
R$105,00 (1)
R$30,00 (2)
(R$1,20) (3)
(R$1,80) (3’)
R$30,00 (2)
Patrimônio Líquido
R$105,00 (1)
(R$1,20) (3)
(R$1,80) (3’)
Momento 4: Após comprar “fiado” bombons e chicletes...
“Chegando ao CONIC, comprou fiado, por R$50,00, várias caixas de bombons
e chicletes e passou a vendê-los no calçadão.”
Agora, estamos diante de uma compra de mercadorias a prazo, não é mesmo?
Se José Henrique comprou bombons e chicletes para vender, podemos tratálos como mercadorias. Se comprou “fiado”, é porque não pagou por eles,
adquirindo, assim, uma obrigação. Este fato irá, portanto, provocar um
aumento de ativo (estoque) e um aumento de passivo (fornecedores).
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Ativo
Passivo
R$105,00 (1)
R$30,00 (2)
(R$1,20) (3)
(R$1,80) (3’)
R$50,00 (4)
R$30,00 (2)
R$50,00 (4)
Patrimônio Líquido
R$105,00 (1)
(R$1,20) (3)
(R$1,80) (3’)
Momento 5: Após fazer a refeição...
“No fim do dia, cansado, tomou uma refeição de R$12,00, mas só pagou
R$10,00, conseguindo um desconto de R$2,00.”
Vamos contabilizar agora mais uma despesa (alimentação). Ressalto que não
há necessidade de se computar o “desconto obtido”, já que não havia nenhum
registro prévio a ser ajustado nesse caso. Vale, portanto, o valor resultante do
consenso com o estabelecimento (R$10,00).
Este fato irá provocar uma diminuição no valor do ativo (caixa) e no valor do
capital próprio de José Henrique, como segue.
Ativo
Passivo
R$105,00 (1)
R$30,00 (2)
(R$1,20) (3)
(R$1,80) (3’)
R$50,00 (4)
(R$10,00) (5)
R$30,00 (2)
R$50,00 (4)
Patrimônio Líquido
R$105,00 (1)
(R$1,20) (3)
(R$1,80) (3’)
(R$10,00) (5)
Momento 6: Após contar o dinheiro...
“Contou o dinheiro e viu que vendera metade dos bombons e chicletes por
R$40,00.”
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Chegamos na parte mais legal! Vamos agora contabilizar uma operação de
venda! Para registrar qualquer operação de venda, devemos dar, no mínimo,
dois passos: reconhecer a venda e reconhecer o custo das mercadorias
vendidas.
Quando reconhecemos a venda, contabilizamos a entrada no ativo (caixa, se a
venda for a vista, ou clientes, se for a prazo) e o reconhecimento de uma
receita, o que provoca um aumento no valor do patrimônio líquido. Essa
entrada corresponde ao preço pelo qual as mercadorias (bombons e chicletes)
foram vendidas (neste caso, R$40,00).
Já o reconhecimento do custo visa à contabilização do “sacrifício” que José
Henrique teve de fazer para ganhar esses R$40,00. Se ele vendeu metade do
que comprou, seu custo foi de R$25,00, não é mesmo?
Lembro que os bombons e chicletes vendidos “moravam” no estoque do José
Henrique, e agora não estão mais lá (o custo das mercadorias vendidas
“nasce” da baixa do estoque, e representa uma despesa).
Podemos aqui visualizar facilmente o lucro que José Henrique obteve com
essas vendas (Receita de Vendas de R$40,00 (-) Custo de R$25,00 (=)
R$15,00). Vamos ver...
Ativo
Passivo
R$105,00 (1)
R$30,00 (2)
(R$1,20) (3)
(R$1,80) (3’)
R$50,00 (4)
(R$10,00) (5)
R$40,00 (6)
(R$25,00) (6’)
R$30,00 (2)
R$50,00 (4)
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Patrimônio Líquido
R$105,00 (1)
(R$1,20) (3)
(R$1,80) (3’)
(R$10,00) (5)
R$40,00 (6)
(R$25,00) (6’)
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Momento Final: “Organizando” o patrimônio do José Henrique
“... podemos ver que, no fim do dia, José Henrique possui um “capital próprio”
no valor de...”
Ativo
Passivo
Caixa
Fornecedores
R$30,00 (2)
(R$1,20) (3)
(R$1,80) (3’)
(R$10,00) (5)
R$40,00 (6)
R$50,00 (4)
Empréstimos Obtidos
R$30,00 (2)
Patrimônio Líquido
Estoque
R$50,00 (4)
(R$25,00) (6’)
Roupas
R$105,00 (1)
R$105,00 (1)Receita de Doações
(R$1,20) (3) Despesa com Jornal
(R$1,80) (3’) Despesa com Ônibus
(R$10,00) (5) Despesa com refeição
R$40,00 (6) Receita de Vendas
(R$25,00) (6’) Custo das vendas (despesa)
Para finalizar, vamos apurar os saldos das contas caixa e estoque, apurar o
total das receitas e das despesas e esboçar um Balanço Patrimonial...
Ativo
Passivo
Caixa
Fornecedores
R$57,00
R$50,00
Estoque
Empréstimos Obtidos
R$25,00
R$30,00
Roupas
Patrimônio Líquido (ou Capital Próprio)
R$105,00
Receitas
R$145,00
Despesas
(R$ 38,00)
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Finalmente, verificamos que o “capital próprio” (ou patrimônio líquido) de José
Henrique, ao final do dia, está avaliado em R$107,00 (R$145,00 de receitas
subtraídos de R$38,00 de despesas).
Gabarito: E
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