XIV Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar – XIV COLACMAR Balneário Camboriú (SC / Brasil), 30 de outubro a 04 de novembro de 2011 IDENTIFICAÇÃO VISUAL DA DISTRIBUIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DO MANGUEZAL DE UM TRECHO DO RIO CAPIBARIBE, RELACIONADO AO NÚMERO DE TOCAS DE CARANGUEJO, RECIFE, PE, BRASIL Brito, L. N.1 1 Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco, Campus Nazaré da Mata, Rua Francisco Leopoldino, nª190, Cep: 50980-060, Várzea, E-mail: [email protected] RESUMO O lixo atualmente representa uma crescente ameaça à biota dos ecossistemas marinhos por comprometer o desenvolvimento de muitas espécies. A planície estuarina ocupada pelos manguezais esta cada vez mais afetada pela influência de atividades humanas, exposto a disposição inadequada de diversos tipos de resíduos. O manguezal do trecho do rio Capibaribe nas proximidades da Casa da Cultura vem sendo prejudicado pelo acúmulo de lixo inorgânico que está pondo em risco o equilíbrio ambiental litorâneo. O presente estudo teve por objetivo a avaliação da porcentagem de cobertura dos resíduos Sólidos no manguezal de um trecho do rio Capibaribe nas proximidades da casa da cultura na cidade do Recife, e relacionar com o numero de tocas de caranguejos. O estudo foi realizado nos dias 2 e 3 de junho de 2011, no qual foram feitas distribuições de seis estações de coleta, tendo sido realizadas seis parcelas aleatórias, uma em cada estação com um quadrante medindo 1 X 1m. De acordo os resultados apresentados pode-se concluir que os resíduos com maior massa cobriam praticamente a maioria das tocas dos organismos, impossibilitado sua entrada ou saída das mesmas. Entretanto os resíduos encontrados acabam por prejudicar a biota que vive neste ambiente, reduzindo a biodiversidade faunística comum nos manguezais. Palavras chave: Manguezal, Resíduos sólidos, Rio Capibaribe, Centro do Recife, Impacto antrópico. INTRODUÇÃO A fauna e a flora dos manguezais são altamente especializadas, sobrevivendo em equilíbrio com o ambiente. Entretanto, distúrbios induzidos, principalmente por ações humanas, podem desequilibrar essas relações levando à perda de populações inteiras (SCHAEFFERNOVELLI, 1995). A degradação dos estuários e dos mangues do litoral brasileiro decorre de uma ação conjunta de várias causas e fatores resultantes de um modelo econômico de ocupação do espaço litorâneo. (DIEGUES, 1995). Os principais meios pelos quais a poluição atinge águas costeiras são as descargas diretas: poluição de rios que desembocam nas praias; descargas de contaminantes existentes na atmosfera e carregamentos de contaminantes presentes no solo por meio das chuvas; descargas acidentais devido a acidentes com navios; descargas industriais; e rompimento de tubulações industriais submarinas. (WAGENER, 2009) São muitos os casos em que são registrados fatores crônicos, atingindo permanentemente o manguezal, criando novas condições ambientais, quase sempre impróprias ao seu desenvolvimento. (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995). A SCTMA (2006) entende resíduo sólido como todos aqueles resíduos nos estados sólidos e semi-sólidos, que resultem de atividade da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e varrição. Em diversas partes do mundo, estudos vêm sendo realizados com ênfase na análise da composição, quantificação e distribuição do lixo marinho em praias arenosas, embora estudos em manguezais ainda sejam restritos. Portanto, o presente estudo objetiva a avaliação da porcentagem de cobertura dos resíduos Sólidos no manguezal de um trecho do rio Capibaribe, e relacionar sua demanda com a ausência de tocas de caranguejos. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi realizado num trecho do manguezal do rio Capibaribe nas proximidades da casa da cultura na cidade do Recife, PE, nos dias 2 e 3 de junho de 2011. A metodologia amostral foi realizada a partir de distribuições de seis estações de coleta, tendo sido realizadas seis parcelas aleatórias, uma em cada estação com um quadrante medindo 1 X 1m. Foi Associação Latino-Americana de Investigadores em Ciências do Mar - ALICMAR AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia XIV Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar – XIV COLACMAR Balneário Camboriú (SC / Brasil), 30 de outubro a 04 de novembro de 2011 realizada a identificação da cobertura do lixo presente nos quadrados por categoria, de plástico, tecido, papel, isopor, vidro, material de construção, espuma, metal e entre outros e associando ao numero de tocas de caranguejos. (SCHMIDT, 2006) desenvolveu no seu estudo no sul da Bahia metodologia semelhante com uso de quadrados para identificar a demanda de tocas do caranguejo Uca. (ALMEIDA, 2010) também utilizou uma metodologia semelhante, em Pernambuco, com uso de quadrados para analise da cobertura de resíduo sólido, relacionado a contagem de tocas do caranguejo Ucides cordatus. RESULTADOS E DISCUSSÕES Para o lixo contabilizado em plástico, tecido, papel, isopor, vidro, material de construção, espuma e metal, foram tiradas medias e desvios dos seis quadrados estudados. O maior percentual de cobertura de resíduo foi encontrado na estação 6 com 26,95% seguido da estação 3 com 23,47%, estação 5 com 14,78%, estação 1 com 13,91%, a estação 4 com 11,3% e por fim a estação 2 que apresentou a menor quantidade de resíduo por metro quadrado com 9,56%. Os resultados da contagem de tocas de caranguejos foram comparados com o resíduo solido, no qual se verificou que existia uma relação negativa entre a quantidade de tocas com a demanda de lixo. Os resíduos com maior massa cobriam praticamente a maioria das tocas dos organismos, impossibilitado sua entrada ou saída das mesmas. O sedimento que proporciona o habitat dos indivíduos encontrava-se bastante endurecido impossibilitando-os de cavar suas tocas que são de extrema importância para sua sobrevivência bem como para o próprio o manguezal que tem o solo oxigenado (ALLER & ALLER, 1988) e a serapilheira consumida, aumentando a riqueza do solo. A contagem de tocas de caranguejos levou-se em conta, tocas grandes de aproximadamente 8 cm de diâmetro com a ocorrência do caranguejo Ucides cordatus, como também as de pequeno tamanho com aproximadamente 0,5 cm de diâmetro com a ocorrência do caranguejo Uca leptodactila. Na estação 1 foi observado a ocorrência de 14 tocas de Uca leptodactila e foi observado a presença de apenas 1 toca do caranguejo Ucides cordatus, na estação 2 foi a que menos apresentou cobertura de resíduo com a ocorrência de tocas de Uca leptodactila, no qual era marcante chegando a 73 tocas, na estação 3 foi observado a ocorrência de 4 tocas de Ucides cordatus e 10 tocas de Uca leptodactila, nas estação 4 observou-se 4 tocas de Ucides cordatus e um numero de 56 tocas de Uca leptodactila, na estação 5 foi observado apenas tocas de Uca leptodactila com um numero de 42, na estação 6 devido a grande quantidade de resíduo sólido, o numero de tocas foi mínimo, com apenas 6 tocas de Uca leptodactila. O resíduo que apareceu com maior freqüência nos locais de coleta foi o tipo plástico ocorrendo em torno de 44,3%, seguido de vidro com 21,7%, isopor com 15,6%, material de construção com 11,3%, metal com 4,3%, tecido com 0,8%, espuma com 0,8%, e finalmente o papel com 0,8% que também apresentou-se em baixa quantidade nas estações estudadas. O plástico é um tipo de resíduo sólido que apresenta alta mobilidade, pois é transportado facilmente pelo vento, pelas águas e por ações das mares (BEZERRA, 2006). Resultados semelhante pode-se verificar nos trabalhos de (NEVES et al., 2010) em Vila Velha ES, onde o plástico foi o material mais encontrado, contribuindo com 46% do lixo amostrado, e no trabalho de (DIAS et al., 2010) onde o plástico também foi o resíduo mais percebido pelos banhistas entrevistados na pesquisa realizada na praia de Boa Viagem, Recife PE. CONCLUSÕES De acordo os resultados apresentados pôde-se concluir que os resíduos encontrados no manguezal acabam por prejudicar a biota que vive neste ambiente, principalmente pelo impacto causado pelo acumulo de lixo no sedimento, reduzindo consideravelmente o numero de tocas de caranguejo. Os resíduos encontrados foram ali depositados pela população que transita em seu entorno bem como pelos comerciantes que trabalhos próximos. Para isto, medidas como a destinação adequada do lixo produzido nos municípios ao longo da bacia, a implantação de um sistema eficiente de coleta seletiva e reciclagem, e programas de educação ambiental, a fim de minimizar este tipo de impacto para uma adequada manutenção da biodiversidade, bem como a exploração sustentável e conservação do manguezal. Associação Latino-Americana de Investigadores em Ciências do Mar - ALICMAR AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia XIV Congresso Latino-Americano de Ciências do Mar – XIV COLACMAR Balneário Camboriú (SC / Brasil), 30 de outubro a 04 de novembro de 2011 REFERÊNCIAS ALLER R.C & J.Y. ALLER. 1988. The effect of biogenic irrigation intensity and solute exchange on diagenetic reaction rates in marine sediments. Journal of Marine Research. ALMEIDA, V. C. 2010. Identificação Visual da Distribuição de Resíduos Sólidos do Rio Tejipió e Lagoa do Araçá, Relacionado ao Número de Tocas de Ucides Cordatus e a Caracterização Estrutural do Bosque de Mangue, Recife-PE. Trabalho de conclusão de curso de graduação para a obtenção do titulo de Bacharel em Ciências Biológicas. BEZERRA, M. A. 2006. A percepção do lixo como fator de degradação ambiental no manguezal, defesa de pós-graduação FAFIRE. DIAS, M.;CAVALCANTE,J. 2010. Avaliação da percepção pública na contaminação por lixo marinho de acordo com o perfil do usuário: Estudo de caso em uma praia urbana no Nordeste do Brasil. Journal of Integrated Coastal Zone Management. DIEGUES, A. C. S., 1996, Ecologia Humana e Planejamento em Áreas Costeiras. São Paulo, NUPAUB-USP. NEVES, R.; SANTOS, A. ;OLIVEIRA,K.;NOGUEIRA,D. 2010. Análise qualitativa da distribuição de lixo na praia da Barrinha, Vila Velha-ES Journal of Integrated Coastal Zone Management. SCHAEFFER-NOVELLI, Y. 1995. Manguezal: Ecossistema entre a Terra e o Mar. Caribbean Ecological Research, Sao Paulo. SCHMIDT, A. 2006. Estudo da dinâmica populacional do caranguejo Uça, Ucides cordatus e dos efeitos de uma mortalidade em massa desta espécie em manguezais do Sul da Bahia. Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. SECRETARIA DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE. 2006. Política de Resíduo Sólido de Pernambuco, Recife, Ed. SCTMA, 3ª edição. WAGENER, A. L. R. 2009. Oceanos: Petróleo, Poluição e Energias Alternativas. Ed. Duetto. São Paulo. Associação Latino-Americana de Investigadores em Ciências do Mar - ALICMAR AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia