AS CONDIÇÕES E AS ATIVIDADES DE TRABALHO DOS GARIS NA COLETA DE LIXO NO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS, SOB A ÓTICA DA ABORDAGEM ERGONÔMICA - Engenharias Vanessa de Oliveira Luiz Dra Ana Regina de Aguiar Dutra (orientadora) Engenharia de Produção/ Campus Norte – PUIP Introdução Trabalhos já desenvolvidos com esta temática nos mostram que os garis têm uma atividade dinâmica com esforços musculares de todo o corpo e que as condições de trabalho são muitas vezes inadequadas, ocasionando problemas de saúde e segurança que impactam diretamente na qualidade dos serviços realizados. O objetivo principal desta pesquisa foi o de realizar um estudo ergonômico das condições de trabalho dos garis de coleta de lixo em morros de Florianópolis Metodologia A amostra para o estudo ergonômico contempla garis que desenvolvem atividades de coleta nos morros de Florianópolis. A metodologia ergonômica do trabalho foi empregada, a qual se divide em duas etapas: a) Análise Ergonômica da Situação de Trabalho: Análise Ergonômica da Demanda; Análise Ergonômica da Tarefa; Análise Ergonômica das Atividades; b) Síntese Ergonômica da Situação de Trabalho: Diagnóstico Ergonômico da Situação de Trabalho e o Caderno de Encargos de Recomendações Ergonômicas Resultados Condições de trabalho a) As condições técnicas dos garis que coletam lixo nos morros compreendem o caminhão, os equipamentos de proteção individual e coletiva, e pedaços de lonas ou carpetes. No caso do caminhão, dependendo das condições de acesso, ele pode alcançar o final do morro, ou parte dele, ou ainda ficar no início do mesmo. Os pedaços de lonas ou carpetes são artifícios para facilitar o deslocamento dos sacos de lixos morro abaixo até alcançar o caminhão. b) Condições Ambientais: Durante o verão, os garis ficam expostos a radiação solar, e no inverno, demonstram certa dificuldade no início das atividades. Os garis salientaram que com as altas temperaturas ocorridas em fevereiro de 2010, a produtividade baixou, pois o cansaço físico foi maior. No caso dos morros, a coleta é feita praticamente durante o dia, o que facilita a visualização e a segurança dos garis, mas não os livra dos riscos de acidentes. No caso do trabalho nos morros, o ruído proveniente do caminhão quando da subida (aumento da rotação), do acionamento da prensa e dos coletores é expressivo. c) Condições organizacionais: A jornada de trabalho é oficialmente das 7:00h às 13:00h ou das 13:00h às 19:00h, mas ao terminar as atividades, os funcionários são dispensados. Os garis de morros já têm alguns anos de coleta, o que lhes dá habilidade e destreza na execução da tarefa, facilitando assim a qualidade e a produtividade do processo. O coletivo de trabalho tem autonomia para se organizar quanto a relação volume de lixo versus tempo versus nº de garis. A relação de amizade e de respeito construída com a comunidade lhes proporciona uma tranqüilidade no trabalho. O líder (fiscal) conhece as necessidades dos garis e coopera com o coletivo na organização do trabalho. Segundo os garis, o fiscal precisa ser um facilitador e conhecedor das particularidades do processo de coleta de lixo no morro, em toda a sua complexidade. Atividades de trabalho em termos funcionais e posturais Quanto ao esforço físico, inerente a tarefa de coletar o lixo, os garis dos morros ainda são exigidos quando: Sobem o morro: Em muitos dos morros o caminhão tem acesso somente a uma parte do trajeto, a outra parte, às vezes significativa, é feita a pé pelo gari. Parte deste trajeto é constituída de ladeiras ou escadarias. Ao subir os morros o gari leva um pedaço de carpete ou de lona, tudo encontrado por ele no próprio lixo, e que acaba se tornado sua ferramenta de trabalho. Descem o morro: Com a ajuda da lona ou carpete, o lixo é puxado morro abaixo, até encontrar o caminhão. As queixas de dores se concentram nos ombros/dorsal, joelhos/pernas, com algumas indicações também para a lombar. Analisar as atividades de trabalho em termos cognitivos A exigência cognitiva do gari quando da coleta de lixo no morro se concentra em: . visualizar o lixo nos locais do morro para coletá-los; orientar o motorista na condução do caminhão pelas ruas estreitas, alertando-o dos pontos críticos; visualizar e identificar os tipos de lixo (orgânico, descartáveis, perfuro-cortantes...), as vezes, escondidos em sacos, caixas e outras embalagens, objetivando assegurar sua integridade física e evitando os acidentes. O nível de realização é expresso pelos garis de morros como significativa, os quais se sentem valorizados pela comunidade, com a qual mantém uma relação de amizade e respeito. O nível de frustração é baixo, apesar de relatarem uma insatisfação em relação às ferramentas de trabalho. Os garis de morro têm consciência da importância de seu trabalho para a comunidade, segundo eles, são responsáveis pela organização dos espaços, pela preservação da saúde das pessoas e, ainda, pelo cuidado com o meio-ambiente. Conclusões Apesar das dificuldades inerentes as atividades de coleta de lixo em morros, em função das ferramentas de trabalho inadequadas, é importante salientar o respeito da população destes locais ao ser humano – gari; a possibilidade de organizar seu próprio trabalho; a aproximação do encarregado ao grupo e as atividades de trabalho desenvolvidas, para lidar com o dia-a-dia dos morros. Bibliografia CARDIA, M.C. et al. Estudos de queixas de dor de coluna entre os garis que desempenham atividades de varrição das ruas e os que recolhem o lixo da varrição em João Pessoa- PB. In: Anais da ABERGO, Recife, 2002. IIDA, I. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: Edgard Blücher, 2ª ed. revisada e ampliada, 2005. ABRAHÃO, J. et al. Introdução à Ergonomia: da Prática à Teoria. São Paulo: Blucher, 2009. Apoio Financeiro: Unisul