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GISELE CASSANO FERREIRA, ET AL.
ORIGINAL/ORIGINAL
Estudo de Caso de um Jovem Afásico
e sua Qualidade de Vida
Case Study of an Aphasic Youngster and his Quality of Life
RESUMO Este trabalho se propõe a analisar o discurso oral de um jovem
afásico sobre sua qualidade de vida após dois acidentes vasculares cerebrais, doravante AVCs, cuja etiologia provável tenha sido a dependência
química. A análise de seu discurso é feita a partir do que pode ser extraído
do processo de interlocução, em intervenção terapêutica fonoaudiológica.
A metodologia utilizada é a de abordagem qualitativa, e a análise dos dados é guiada pela análise microgenética. Com base nos dados analisados,
observa-se que a terapeuta, ao assumir o papel de interlocutor, do que interpreta, atribui sentido ao seu discurso, incentiva o paciente a falar, favorecendo sua auto-estima e contribuindo para uma melhor qualidade de
vida do sujeito envolvido.
Palavras-chave AFÁSICO JOVEM – QUALIDADE DE VIDA – DISCURSO ORAL.
GISELE CASSANO FERREIRA*
Curso de Fonoaudiologia – Faculdade
de Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)
EVANI ANDREATTA AMARAL
CAMARGO
Curso de Fonoaudiologia – Faculdade
de Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)
*Correspondências: Rua Josefa
Torres Silvestrine, 79, Jardim Torrezan,
13440-000, Saltinho/SP
[email protected]
ABSTRACT This work aims to evaluate the oral speech of an aphasic young
adultís quality of life, after two vascular brain accidents, henceforth AVCs,
which etiology, probably, had been chemical dependence. The analysis is
carried from what can be extracted from the speaker process in
phonological therapeutic intervention. The methodology used is a
qualitative approach and the data analysis is guided by the micro-genetic
analysis. Based on the evaluated data, it is observed that the therapist, when
assuming the speaker role, from what he interprets, gives sense to his
speech, motivates the patient to speak, favoring his self-esteem, contributing
for the subjectís quality of life.
Keywords YOUNG APHASIC – QUALITY OF LIFE – ORAL SPEECH.
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ESTUDO DE CASO DE UM JOVEM AFÁSICO E SUA QUALIDADE DE VIDA
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GISELE CASSANO FERREIRA, ET AL.
INTRODUÇÃO
omo fonoaudióloga, uma das autoras ficou
envolvida com a questão da afasia desde o
momento inicial de seus estágios clínicos da
graduação em fonoaudiologia, realizados na UNIMEP.
Quando formada e clinicando em seu consultório, o primeiro paciente foi um afásico adulto
jovem, de 18 anos, que acabara de ser acometido
por dois AVCs isquêmicos, cuja seqüela foi uma
afasia motora e uma hemiplegia à direita. Os
AVCs foram causados, provavelmente, por dependência química. Tais fatos motivaram este estudo
sobre afasia e sobre afásicos jovens.
Assim, o objetivo deste trabalho é analisar o
discurso oral e a qualidade de vida deste sujeito
adulto jovem após dois AVCs. E, além disso, as
questões que ele apresenta sobre suas dificuldades, a partir do material extraído do processo de
interlocução de um episódio de uma sessão terapêutica fonoaudiológica, que faz parte do banco
de dados da dissertação de mestrado (em construção) de uma das autoras.
Pode-se observar que, durante as sessões de
terapia fonoaudiológica, o paciente trazia para a
terapeuta suas frustrações, emoções, ansiedades e
angústias em relação à sua linguagem. Posteriormente, ele passou a se queixar de sua fala curta,
ou seja, do fato de não conseguir formar frases,
da linguagem telegráfica, esperada para o seu
quadro afásico. Muitas vezes, durante as sessões,
o paciente dizia “falar mais... preciso”. Levando
em consideração as necessidades do paciente, a
terapeuta procurou mostrar a ele a importância
da atividade dialógica durante as sessões fonoaudiológicas, lugar em que o sentido e a significação
são privilegiados em detrimento da repetição e
do falar corretamente. Nesse sentido, foi-lhe
mostrado que os desvios em sua fala podiam ter
outro estatuto, pois são atividades epilingüísticas,
de reconstrução ou ressignificação das palavras.
Ao discutir a linguagem de afásicos, Couldry1
coloca como problema teórico metodológico
fundamental a condição de sujeito da linguagem.
A autora aponta para o fato de que é na condição
de exercício da linguagem que emerge o sujeito.
Interessa-se por estudar a linguagem do afásico
para conhecer o que “a afasia apaga e o que o sujeito sublinha” (p. 5). Enfatiza a questão de que,
para conhecer a atividade do sujeito, o que realça
e quais recursos são usados a partir de sua doen-
C
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ça, é necessário estar imerso na linguagem em
funcionamento. Avança ao falar sobre a singularidade do sujeito e, a partir daí, propõe uma prática intersubjetiva, em que seja possível surgirem
possibilidades de formas de ação (tanto do sujeito
como do terapeuta).
A autora propõe que, logo no início do atendimento do sujeito afásico, a meta deve ser elevar
o sujeito e suas formas de se expressar, ou seja,
trazer o sujeito para o discurso em funcionamento. Sendo assim, o terapeuta não pode se posicionar distante, mas deve inserir-se no espaço da
linguagem, assumir o papel do interlocutor, que
participa dos modos de ação que são possíveis
pela linguagem e dá condições para que o afásico
se constitua como sujeito.
Para complementarmos o estudo sobre o funcionamento lingüístico do sujeito aqui apresentado, também buscamos respostas em outros
autores, como Bakhtin,2 que discute que “compreender a enunciação de outrem significa orientar-se em relação a ela, encontrar o seu lugar
adequado no contexto correspondente” (pp.
131-2). A compreensão ocorre porque existe o
outro, apto para “orientar-se em relação à enunciação do interlocutor” (pp. 131-2).
Já a perda da fala, decorrente de uma lesão
cerebral, e os sintomas da afasia vêm sendo discutidos em muitos trabalhos oriundos da medicina.
O cérebro era um mistério, e os anatomistas e
fisiologistas empenharam-se em decifrar suas funções. Foucault3 discute que, entre os séculos XVII
e XIX, observa-se uma grande mudança no saber
médico caracterizada pela passagem entre o “adivinhar o interior unicamente pelas noções externas” e o “descobrir a doença na profundidade
secreta do corpo” (p. 156). Isso só se tornou possível às custas do enfrentamento de obstáculos
que opunham resistência à abertura de cadáveres.
Segundo Novaes-Pinto,4 as primeiras investigações sobre afasia ocorreram quando Broca, em
1861, procedeu a uma autópsia de um paciente,
pretendendo atribuir às alterações encontradas
no cérebro a causa da sintomatologia apresentada
pelo paciente. Como o paciente de Broca tinha
dificuldade na linguagem articulada, ele determinou que aquela área seria a sede da faculdade da
linguagem articulada, a área de Broca (parte inferior da terceira circunvolução frontal esquerda,
área 44 de Broadman).
Opondo-se à noção localizacionista, assim
como à visão holística do funcionamento cereSAÚDE REV., Piracicaba, 7(15): 33-38, 2005
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bral, segundo a qual todo cérebro estaria envolvido em qualquer que fosse a função psíquica
registrada, Luria5 adota a concepção de sistema
funcional, atribuindo a algumas áreas a responsabilidade pelo desempenho de qualquer que seja o
processo psíquico referido. Para muitos outros
autores, o distúrbio da linguagem nas afasias
ocorre após a sua aquisição e é causado por uma
lesão cerebral.
Após uma breve discussão sobre afasia, introduziremos o tema qualidade de vida, cuja correlação estamos discutindo neste artigo. Conforme
Penteado:6
Para o Ministério da Saúde, promoção da saúde implica a
construção de um processo de investimentos e ações
que fortalece as pessoas e aumenta sua auto-estima,
capacitando-as ao controle, ação e transformação dos
fatores que afetam sua qualidade de vida. Implica também uma mudança na forma de pensar sobre a saúde,
que passa a ser compreendida como a capacidade da
população em desenvolver potencialidades para realizar
aspirações, satisfazer necessidades, responder aos
desafios. (Penteado,6 p. 62).
Segundo o Grupo Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde,7 qualidade de vida
é definida como “a percepção do indivíduo de
sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos
seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (p. 179).
Observa-se que a capacidade do sujeito quanto à interação e comunicação, à expressão e ação
no mundo relaciona-se com a saúde, daí a importância do desenvolvimento da linguagem para a
qualidade de vida. Então, qualidade de vida implica também promover o desenvolvimento do
sujeito, da linguagem e da comunicação.
METODOLOGIA
O dado analisado é de uma das sessões fonoaudiológicas de um sujeito afásico jovem, cuja
linguagem está sendo estudada. Tais sessões foram gravadas por gravador portátil em fitas cassetes de 60 minutos e transcritas ortograficamente.
As terapias foram iniciadas três meses após os
AVCs (03/2001), com acompanhamento semanal,
com duração de 45 minutos. As gravações foram
feitas durante um ano de terapia, mas analisamos, para este trabalho, apenas uma delas, da
qual foram recortados todos os trechos em que o
sujeito falou sobre sua vida, expectativas, relatos
pessoais etc.
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ESTUDO DE CASO DE UM JOVEM AFÁSICO E SUA QUALIDADE DE VIDA
Em seu discurso, observa-se um agramatismo,
de característica telegráfica, o que não prejudica
totalmente o sentido e o significado do seu discurso, pois o paciente tem realizado, ao longo do
processo terapêutico fonoaudiológico, cada vez
mais intervenções relacionadas àquilo que é dito,
mostrando interpretar o que lhe é falado e que
está preocupado em se posicionar com relação
aos temas, independente do seu desejo inicial de
alcançar uma fala perfeita.
Segue-se, abaixo, um resumo do histórico do
agravo que acometeu o jovem sujeito deste estudo, aqui chamado de João (nome fictício para
preservar a identidade do sujeito).
João, 20 anos, apresenta uma afasia motora e
hemiplegia à direita. No ano de 2001, teve dois
AVCs no prazo de quatro dias. Antes dos AVCs,
João era dependente químico (cocaína, bebida,
cigarro). Ele iniciou as terapias fonoaudiológica e
fisioterápica alguns dias após a alta hospitalar.
A metodologia utilizada para a análise dos dados é a de abordagem qualitativa, pois tal metodologia revela aspectos dos processos envolvidos,
ao contrário do que ocorre em análises centradas
em estudos estatísticos dos fenômenos lingüísticos, cujos parâmetros só podem ser tomados para
a avaliação de parte do sistema lingüístico, e não
da linguagem em funcionamento.
A análise dos dados é guiada pela análise microgenética que, segundo Góes,8 pode ser o caminho de uma investigação ou articular-se a
outros procedimentos para compor um estudo de
caso ou uma pesquisa participante. Esse tipo de
pesquisa está orientado para os detalhes das
ações, para as interações e os cenários socioculturais, para o estabelecimento de relações entre microeventos e condições macrossociais.
RESULTADOS, DISCUSSÕES
E CONCLUSÕES
Com o objetivo de analisar o discurso oral e a
qualidade de vida deste sujeito adulto jovem e,
além disso, as questões que ele apresenta sobre
suas dificuldades a partir do que pode ser extraído do processo de interlocução, foi analisado
aqui um episódio de uma das sessões fonoaudiológicas, realizada no mês de agosto 2002, cerca
de um ano após o início da terapia. Este episódio
está sendo tomado como exemplo do processo
de interlocução entre o sujeito e a terapeuta.
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Episódio
Os participantes da sessão eram a terapeuta
(T) e o paciente (P). No dia 21 de agosto de 2002,
a terapeuta chegou na sala de espera do consultório e encontrou o paciente com um sorriso no
rosto, um ar de alegria. Ambos entraram na sala,
sendo que, em cima da mesa, havia o jornal do
dia, pois o paciente gostava de lê-lo e conversar
sobre os assuntos das manchetes.
Como a terapeuta percebeu a alegria do paciente,
começou a sessão terapêutica perguntando:
Turno 1 – T: Você está contente hoje, tá até
mais bonito, o que é que aconteceu
neste fim de semana?
Turno 2 – P: (sorridente).... eu... festa peão....
Barretos....
Turno 3 – T: Que delícia, por isso que está com
essa cara tão boa!!!!
Turno 4 – P:.É...
Turno 5 – T: E aí? Estava gostoso lá!!
Turno 6 – P: Nossa... muito bom... cheio gente...
Turno 7 – T: É, tinha muita gente?
Turno 8 – P: Brasil inteiro!!
Turno 9 – T: É mesmo, vai gente de todo o
Brasil.
Turno 10 – P: Eu... uma menina... Minas
Gerais...
Turno 11 – T: Que legal, você conheceu, como
ela chama?
Turno 12 – P: Jaqueline... nossa, não... longe,
né...
Turno 13 – T: É. Minas Gerais é longe, mas tem
telefone, né, é só ligar para ela.
Turno 14 – P: É... peguei número...
Turno 15 – T: Então dá para vocês conversarem
Turno 16 – P: Muita menina lá... tudo nova... assim... (aponta com o dedo para a terapeuta, se referindo a sua idade)
veião... caminhonete...
Turno 17 – T: Verdade, João, tudo nova com homem velho, só interesse, João.
Turno 18 – P: É... só dinheiro...
Turno 19 – P: Nossa, muita... muita gente... gostoso... Big Brother... o peão...
ganho...
Turno 20 – T: Verdade, João, o Rodrigo estava
lá, ele é bonito!!!
Turno 21 – P: Ô loco... bonito... homê (rindo)
Turno 22 – T: Ué, eu acho mulher bonita, por
que você não acha homem bonito?
Turno 23 – P: Tô fora…
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A análise do episódio apresentado suscita algumas questões para discussão: a terapeuta fica
atenta para a expressão facial e postural do paciente, chamando sua atenção para isso, respondendo e reinterpretando os tópicos por ele
introduzidos.
O episódio faz refletir sobre a importância entre os locutores, na atribuição de sentidos em um
discurso. A terapeuta assume o lugar de interlocutora ativa, participando, fazendo perguntas, atribuindo sentidos para a fala e as expressões do
sujeito, considerando-o como o outro do discurso, buscando a significação da interlocução. Isso
pode ser identificado no momento em que a terapeuta usa a experiência vivida do paciente para
fazer dela o tema da discussão.
Além disso, verificamos que ela não está preocupada com a forma da língua, com a fala telegráfica do rapaz, mas sim com o conteúdo que ele
traz, como podemos observar em todo o episódio. Dessa forma, o paciente não se queixa de
como está usando a língua, não se importando
em não conseguir formar frases complexas.
Segundo Bakhtin,2 é durante o diálogo, em
que há a réplica, que a compreensão torna-se possível. Assim, é necessário que os processos de significação sejam considerados em todas as suas
possibilidades. Dessa forma, quando a terapeuta
leva em conta a fala do jovem, mesmo que incompleta, os processos de significação configuram-se como efetivos.
Observa-se neste episódio, pelo relato do jovem, que sua vida social continua preservada
(mesmo que parcialmente), ao contar para a terapeuta sobre seu passeio na festa do peão de Barretos. Nota-se que ainda mantém suas amizades e
paqueras (turnos 10 a 15). Assim, ao dirigirmos
nosso olhar para a qualidade de vida deste jovem,
cujo tema do episódio aqui apresentado é o passeio do final de semana, podemos inferir que ele
procura se inserir como os jovens sem afasia de
sua idade.
Nos turnos 10, 12 e 14, verifica-se que o sujeito aparenta resolver seus problemas, pois sabe
que Minas Gerais é longe e, por isso, pega o telefone da menina por quem se interessou para
manter contato, pois é a única maneira, devido à
distância.
Podemos observar o senso crítico de João sobre costumes sociais nos turnos 16 e 18, ao identificar o interesse das meninas novas por homens
mais velhos e ricos, posicionando-se frente ao faSAÚDE REV., Piracicaba, 7(15): 33-38, 2005
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to. Nos turnos 20 a 23, a terapeuta questiona e
provoca o sujeito sobre suas posições e opiniões,
mas, apesar disso, ele as mantém. Já no turno 19,
verifica-se que o paciente está atualizado com os
acontecimentos da televisão, ao falar sobre o ganhador do programa de televisão Big Brother Brasil.
Identifica-se, ainda, que a fala do paciente tem
característica telegráfica, já que apresenta uma
grande dificuldade em formar frases complexas.
Mas, mesmo assim, ele se faz entender e não desiste de falar.
Observa-se, também, que a terapeuta privilegia o conteúdo da fala do paciente, em detrimento dos aspectos formais da língua, questiona e, ao
mesmo tempo, o interpela, para que a dinâmica
discursiva não fique prejudicada. Ao levarmos em
conta todos os recursos lingüísticos e extralingüísticos dos quais um sujeito afásico lança mão para
se fazer compreender, podemos observar em sua
fala elementos que, de certa forma e com maior
independência, fazem parte dos processos normais de interlocução: lapsos, reiterações, retomadas e apoio na fala do interlocutor.
Conforme Goffman,9 faz-se necessário tentar
integrar os sujeitos estigmatizados na sociedade,
já que podem ser considerados engajados numa
espécie de negação coletiva da ordem social. Tais
sujeitos são percebidos pelo grupo cultural como
incapazes de usar as oportunidades sociais disponíveis, como as de trabalho ou de relações sociais,
fazendo com que sejam discriminados. Os afásicos fazem parte desse grupo de indivíduos e, assim, o processo terapêutico deve levar em conta
tais questões.
Com o referencial teórico que permeia a terapia fonoaudiológica, tanto a terapeuta quanto o
próprio paciente procuram amenizar esses estigmas. Dessa forma, a partir do episódio aqui analisado, podemos supor que o jovem continua
parcialmente incluso na sociedade, mantendo sua
vida social com restrições, não se intimidando
com os preconceitos da sociedade. Acreditamos
que uma das razões para isso decorre da perspectiva terapêutica adotada, como nos aponta a citação: “Tudo isso tem a ver com a proposta de
relacionar fonoaudiologia e qualidade de vida,
onde a fonoaudiologia possibilita acolher e tratar
do sofrimento de modo a melhorar a qualidade
de vida de uma pessoa” (Friedman,10 p. 8).
Complementando as discussões, observa-se
no episódio como o paciente não tem dificuldade para expandir ou mesmo sair do tópico discursivo da interlocução em curso, sem perder-se
enquanto locutor, demonstrando que responde
às questões da terapeuta, não se sobrepondo a
sua fala. Discursivamente, a terapeuta está presente para o paciente e ele demonstra ser interlocutor e mantenedor dos tópicos que vão sendo
elaborados.
Portanto, o episódio apresentado demonstra
como o processo dialógico caracteriza a linguagem e, nesse diálogo, existe a troca fundamental
para que haja o processo de significação; a terapeuta, ao assumir o papel de interlocutor, interpreta, atribui sentido, resgata a fala do sujeito,
priorizando o conteúdo relatado em seu discurso
e, dessa forma, incentivando o sujeito a falar e tomar consciência do que é capaz, favorecendo sua
auto-estima.
O processo terapêutico em que o acompanhamento da linguagem do sujeito afásico é organizado a partir de situações discursivas dialógicas
propicia outros modos de ação verbal.1 Podemos
verificar na oralidade do paciente a capacidade de
interação e de expressão e ação no mundo. Daí a
importância da linguagem para a qualidade de
vida e das oportunidades de interações sociais
oferecidas a sujeitos com limitações como as desse jovem afásico, que se transformam em alicerce
para a reintegração social do sujeito, como discutido por Penteado,6 já que a linguagem é considerada uma prática vinculada às suas condições de
produção, como um produto social, cultural e
histórico.
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Submetido: 15/jan./2004
Aprovado: 26/out./2004
38
SAÚDE REV., Piracicaba, 7(15): 33-38, 2005
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