ADESÃO DE Pseudomonas spp. EM TANQUES DE ESTOCAGEM DE LEITE
CRU REFRIGERADO GRANELIZADO NA MICRO-REGIÃO DE VIÇOSA/MG
Antônio Fernandes de Carvalho*, Iara Dias da Silva, Roberta Torres Careli, Ana Márcia
Morelli, Nélio José de Andrade
Departamento de Tecnologia de Alimentos - Universidade Federal de Viçosa Professor Adjunto - [email protected]
INTRODUÇÃO
A qualidade do leite está associada, de forma geral, com a carga microbiana
presente no produto. No Brasil, o leite “in natura” apresenta baixa qualidade, sendo que
este fator está relacionado com práticas de produção, manuseio na ordenha, influência
das estações do ano, localização geográfica e temperatura de conservação que
contribuem para o desenvolvimento de microrganismos contaminantes (SILVEIRA,
1997).
O procedimento de estocagem do leite cru na fonte de produção, sob
refrigeração possui vantagens de reduzir custos operacionais de produção e perda de
matéria-prima pela atividade acidificante de bactérias mesofílicas. Entretanto, deve-se
considerar que a conservação do leite cru em temperaturas de refrigeração, por períodos
prolongados, pode resultar em perda de qualidade dos produtos lácteos associados ao
crescimento e à atividade enzimática de bactérias psicrotróficas (PINTO, 2004).
Dentre os psicrotróficos, o gênero Pseudomonas é um importante agente de
deterioração do leite cru representando apenas 10% da microbiota inicial, entretanto,
possui tempo de geração reduzido a temperaturas baixas, o que explica a sua
predominância em produtos armazenados sob refrigeração (CHESSA et al., 2000).
Muitas espécies de Pseudomonas produzem proteases e lipases termorresistentes que
contribuem, consideravelmente, para a deterioração de produtos lácteos (MACHADO,
2006). Além disso, esse gênero é capaz de produzir grande quantidade de
exopolissacarídeos que contribuem para a adesão e formação de biofilmes em
superfícies utilizadas no processamento de leite e derivados.
O alimento pode ser contaminado por bactérias deterioradoras e patogênicas
indesejáveis provenientes de biofilmes. Portanto, a formação de biofilmes conduz a
sérios problemas de higiene e perdas econômicas devido a deterioração do alimento e
persistência de patógenos reduzindo o prazo de validade dos produtos desde o
processamento até a comercialização (FORSYTHE, 2002). O crescimento de biofilmes
em superfícies metálicas também conduz a mudanças no grau do processo de corrosão
reduzindo a vida útil de equipamentos industriais (VALCARCE et al., 2002).
Esse trabalho avaliou a qualidade do leite cru refrigerado granelizado de três
indústrias de Laticínios localizadas na micro-região de Viçosa/MG com o objetivo de
verificar a presença de bactérias psicrotróficas e Pseudomonas spp., bem como, a
formação de biofilmes por Pseudomonas spp. em tanques de estocagem de leite cru.
MATERIAL E MÉTODOS
As análises foram realizadas no laboratório de Higiene Industrial e
Microbiologia de Alimentos localizado no Departamento de Tecnologia de Alimentos
da Universidade Federal de Viçosa.
O experimento foi realizado com três repetições em cada indústria. Inicialmente,
foram coletados em recipiente estéril, cerca de 100 mL de leite cru refrigerado
granelizado do tanque de estocagem. A amostra foi transportada e mantida sob
refrigeração até o momento da análise. Diluições apropriadas foram preparadas e
transferidas para Placas de Petri contendo o meio de crescimento PCA (OXOID®), para
determinação de bactérias psicrotróficas, e incubadas a 7 ºC por 7 dias. Para a análise de
Pseudomonas spp., foi utilizado Ágar Cetrimide (MERCK®) e as placas foram
incubadas a 28 ºC por 48 h. A seguir, procedeu-se a contagem (COUSIN et al., 2001).
Para a avaliação da formação de biofilmes na superfície interna higienizada do
tanque de estocagem de leite, foi utizada a técnica do swab coletando uma amostra de
250 cm2, segundo metodologia descrita por EVANCHO et al. (2001).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A contagem média de bactérias psicrotróficas estavam em torno de 6,0 log
UFC.mL-1 no leite cru refrigerado. Considerando que a Instrução Normativa nº 51 de
18/09/2002 estabelece para leite cru refrigerado valores máximos para contagem padrão
em placas de 1,0 x 105 UFC.mL-1 (BRASIL, 2002) e o número de bactérias
psicrotróficas não deve ultrapassar 10% dessa contagem (BRASIL, 1980), verificou-se
que 100 % das amostras avaliadas nesse trabalho encontraram-se acima dos padrões
estabelecidos pela legislação para bactérias psicrotróficas. Esses resultados estão de
acordo com os encontrados por PINTO (2004). Contagens de psicrotróficos variando
entre 6,14 a 7,94 log UFC.mL-1 foram registradas por SILVA (2003) em amostras de
leite cru coletadas em silos de indústrias processadoras de leite UHT dos Estados de SP,
RS e GO.
A contagem de Pseudomonas spp. variou de 4,98 a 6,25 log UFC.mL-1 no leite
cru refrigerado, apresentando uma média geral de 5,71 log UFC.mL-1. Baseando-se
nessas contagens, foi observado que, do total da contagem de psicrotróficos, 95,3%
correspondia a Pseudomonas spp. EWINGS et al. (1984) relataram que bactérias do
gênero Pseudomonas predominam entre psicrotróficos proteolíticos deterioradores de
leite cru. PINTO (2004) avaliando o leite cru refrigerado em silos industriais encontrou
contagens médias de 6,30 log UFC.mL-1.
Com relação à avaliação da formação de biofilmes de Pseudomonas spp. na
superfície dos tanques de estocagem de leite encontrou-se 1,92 log UFC.cm-2, como
contagem máxima. Dessa forma, pode-se dizer que ocorreu um processo de adesão
bacteriana, mas não a formação de biofilmes. Para se considerar um biofilme, segundo
ANDRADE, BRIDGEMAN e ZOTTOLA (1998) é necessário um número mínimo de
107 células aderidas por cm2, enquanto WIRTANEN et al.,(1996) e RONNER e WONG
(1993) consideram como biofilme um número de células aderidas de 103 e 105por cm2,
respectivamente.
CONCLUSÃO
A presença de altas contagens de psicrotróficos no leite evidencia a existência de
falhas em procedimentos de manipulação e higienização podendo comprometer a
qualidade e diminuir a vida de prateleira do produto final.
Esse trabalho mostrou um processo inicial de adesão bacteriana. Contudo, a
elevada contagem de Pseudomonas spp. no leite pode levar a formação de biofilmes em
superfícies de processamento de alimentos, se procedimentos de higienização não forem
corretamente aplicados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, N. J., BRIDGEMAN, T. A., ZOTTOLA, E. A., Bacteriocidal activity of
sanitizers against Enterococcus faecium attached to stainless steel as determined by
plate count and impedance methods. Journal of Food Protection, v.61, n.7, p.833-838,
1998.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Departamento de
Inspeção de Produtos de Origem Animal. Instrução Normativa nº 51, de 18 de setembro
de 2002. Coleta de leite cru refrigerado e seu transporte a granel. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, n. 172, p. 8-13, 20 set. 2002. Seção I.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regulamento da
Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal – RIISPOA.
Brasília: 1980. 116 p.
CHESSA, J., PETRESCU, I., BENTAHIR, M., BEEUMEN, J. V., GERDAY, C.
Purification, physico-chemical characterization and sequence of a heat labile alkaline
metallprotease isolated from psychrophilic Pseudomonas species. Biochemical et
Biophysica Acta, 1479, p. 265-274, 2000.
COUSIN, M. A., JAY, J. M., VASAVADA, P. C. Psychrotrophic Microorganisms. In:
DOWNES, F. P., ITO, K. (Ed.). Compendium methods for the microbiological
examination of foods. 4a ed. APHA, cap. 13, p. 159-166, 2001.
EVANCHO, G. M., SVEUM, W. H., MOBERG, L. J., FRANK, J. F. Microbiological
Monitoring of the Food Processing Environment. In: DOWNES, F. P., ITO, K. (Ed.).
Compendium methods for the microbiological examination of foods. 4a ed. APHA,
cap. 3, p. 25-35, 2001.
MACHADO, A. D. S. Atividade proteolítica de Pseudomonas fluorescens em
biofilmes e detecção das células por anti-soro policlonal. Viçosa, MG: UFV, 2006.
74p. Tese (Doutorado em Microbiologia Agrícola) – Universidade Federal de Viçosa,
2006.
PINTO, C. L. O. Bactérias psicrotróficas proteolíticas do leite cru refrigerado
granelizado destinado à produção de leite UHT. Viçosa, MG: UFV, 2004. 97p. Tese
(Doutorado em Microbiologia Agrícola) – Universidade Federal de Viçosa, 2004.
RONNER, A. B., WONG, A. C. L., Biofilm development and sanitizer inactivation of
Listeria monocytogenes and Salmonella typhimurium on stainless steel and buna-n
rubber. Journal of food Protection, v.56, n.9, p.750-758, 1993.
SILVA, P. H. F. Leite UHT: Fatores determinantes para sedimentação e gelificação. .
Lavras, MG, UFLA, 2003. 147p. Tese (Doutorado em Ciências dos Alimentos) –
Universidade Federal de Lavras, 2003.
SILVEIRA, I. A. Estudo Microbiológico do leite Tipo B Cru conservado sob
refrigeração . Lavras, MG, UFLA, 1997. 84p. Dissertação (Mestrado em Ciências dos
Alimentos) – Universidade Federal de Lavras, 1997.
WIRTANEN, G., HUSMARK, U., MATTILA-SANDHOLM, T., Microbial evaluation
of the biotransfer potencial from surfaces with Bacillus biofilms after rinsing and
cleaning procedures in closed food-processing systems. Journal of Food Protection,
v.59, n.7, p.727-733, 1996.
Download

ADESÃO DE Pseudomonas spp. EM TANQUES DE