ESTUDO DA BIODEGRADAÇÃO DE POLÍMEROS ATRAVÉS DO TESTE DE STURM Marcos Krüger Fürsteneberger (PIBIC/Fundação Aracucária), Luís Antonio Pinheiro (Orientador) email [email protected], Rosilene Aparecida Prestes, Denise Milleo Almeida, Edison Luiz Salgado Silva. Universidade Estadual de Ponta Grossa/ Departamento de Engenharia de Materiais/ Ponta Grossa, PR. Engenharias, Engenharia de Materiais e Metalúrgica Palavras-chave: meio ambiente, biodegradação, polímeros biodegradáveis. Resumo Existem vários métodos para avaliar a biodegradabilidade de um polímero, sendo um dos mais utilizados o teste de Sturm, o qual mede a quantidade de degradação por meio da medida de gás carbônico liberado em um reator contendo um lodo com microorganismos e o polímero em estudo, e foi utilizado no presente trabalho. O objetivo do estudo é verificar o efeito da mudança de algumas variáveis, como a temperatura, na degradação observada. Foi estudado o comportamento dos microorganismos presentes no solo utilizado em temperaturas mais altas (25°C, 35°C, 45°C e 55°C). Os microorganismos sobreviveram a estas condições, e o estudo pôde, portanto, ser realizado nestas temperaturas. As primeiras montagens do sistema foram feitas em temperatura ambiente, apenas com solo e depois com farelo de soja, para referência. As montagens seguintes utilizaram o Ecoflex®, polímero biodegradável da BASF S.A. Primeiramente o polímero foi utilizado na forma de grânulos, sem controle de temperatura, e depois com temperatura constante de 40,0±1,0°C. Verificou-se um aumento na degradação em temperatura mais alta. Posteriormente, o polímero foi adicionado ao sistema em forma de filmes, com o intuito de aumentar a área de contato com os microorganismos. Foram montados dois sistemas com filmes de Ecoflex®, variando a massa do polímero. Introdução A utilização de polímeros não-degradáveis para as mais diversas aplicações é problemática em uma questão crucial: a preservação do meio ambiente. A crescente atenção da sociedade para este fato aumenta a demanda por polímeros que se degradem mais rapidamente e sejam menos danosos quando descartados. Exemplo disso é a fabricação de sacolas plásticas, que teve de se adequar, e produzir sacolas que se degradem em um espaço de tempo menor. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. O desenvolvimento de polímeros biodegradáveis envolve estudos sobre sua obtenção, propriedades mecânicas, e também da quantização da biodegradabilidade, ou seja, quanto tempo o material leva para se fragmentar em compostos orgânicos de baixa massa molar. Existem muitos métodos para realizar esta medida, mas os dados encontrados na literatura divergem quanto à forma de medição. Neste estudo foi empregado o teste de Sturm, por se tratar de um teste relativamente simples e abrangente quanto ao material de estudo. Este método mede a biodegradação pela quantidade de mols de gás carbônico gerada por um reator contendo solo e o polímero. Materiais e métodos Teste de Sturm O sistema consiste de dois erlenmeyers com soluções de hidróxido de bário e um frasco de Erlenmeyer contendo solo compostado, água e o polímero a ser estudado, com os recipientes conectados por mangueiras para a passagem de ar. O ar comprimido entra no primeiro recipiente com uma solução de hidróxido de bário, onde o gás carbônico presente reage com a base formando um sal. O ar que sai deste recipiente, portanto, não contém gás carbônico, e vai para o reator onde ocorre a biodegradação. Ali está ocorrendo a atividade biológica dos microorganismos, o que gera gás carbônico. Saindo do reator, o ar entra em outro recipiente com uma solução de hidróxido de bário, onde ocorre a mesma reação do gás com a base. Neste caso, porém, a quantidade de gás carbônico que reage é medida através de uma retrotitulação da solução básica com uma solução padronizada de ácido clorídrico, realizada a cada 24 horas. As soluções utilizadas para retirada do gás carbônico do ar entrando no sistema eram de 2 gramas de Ba(OH) 2 em 500mL de água destilada. Para as soluções básicas utilizadas para medição, a massa foi variada conforme a resposta diária do sistema, com valores entre 1g e 2g de Ba(OH)2 em 250mL de água destilada. Para os quatro primeiros sistemas montados, a solução de HCl foi padronizada com uma concentração de 0,05 mol/L. Para os sistemas seguintes as soluções foram padronizadas em 0,1 mol/L. No reator foram colocados aproximadamente 60 gramas de solo, 100 mL de água e uma massa variável do material estudado. O solo utilizado nas três primeiras montagens do sistema foi um solo para compostagem obtido no Colégio Agrícola Augusto Ribas. Nos sistemas seguintes foi utilizado solo adubado cedido pela Fazenda Escola da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Os materiais estudados foram resíduo de soja, peneirado em 60 mesh, para comparação, e o Ecoflex ®, um poliéster alifático-aromático biodegradável, fornecido pela BASF®. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Resultados e Discussão Sobrevivência dos microorganismos a altas temperaturas Para verificar a sobrevivência dos microorganismos a altas temperaturas, amostras do solo utilizado no reator foram diluídas em água e posteriormente inoculadas em um meio de PCA (plate count agar), apropriado para proliferação de microorganismos em geral. Para cada temperatura a ser estudada (25°C, 35°C, 45°C e 55°C), foram preparados em placas de Petri sete meios de PCA inoculados, com diferentes diluições da amostra do solo (10-1, 10-2, 10-3, 10-4, 10-5, 10-6 e 10-7), e estes foram deixados por 24 horas em estufas mantidas nas temperaturas citadas. Após esse período foi contado o número de colônias de microorganismos em cada uma das placas. Caso este número fosse maior do que 25, seria demonstrada a sobrevivência dos microorganismos nessas condições. Verificou-se em todas as placas a presença de colônias. Nas placas com diluição menor (10-1 e 10-2), foram contadas mais de 25 colônias para todas as temperaturas, indicando a sobrevivência dos microorganismos em temperaturas de até 55°C. Isso permite que o teste de Sturm seja realizado em temperaturas mais altas, com o objetivo de acelerar o processo de degradação. Teste de Sturm As quantidades acumuladas de gás carbônico gerado dos seis sistemas montados são apresentadas na Figura 1: Quantidade Acumulada de CO2 gerado (Mols) 0.14 0.12 0.1 2,68 gramas de Ecoflex 40°C 5,26 gramas de Ecoflex 40°C Apenas Terra Soja (4,6g) Ecoflex (4,6g) T ambiente Ecoflex (5g) 40°C 0.08 0.06 0.04 0.02 Tempo (Dias) 5 10 15 20 25 30 35 Figura 1 – Quantidades acumuladas de gás carbônico gerado Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Os resultados dos primeiros três sistemas (apenas terra, soja e Ecoflex em temperatura ambiente) mostram que o Ecoflex ® apresenta uma tendência de degradação menor que a da soja, o que seria esperado uma vez que a soja é um composto natural. A comparação entre os sistemas com Ecoflex ® a temperatura ambiente e a 40°C mostra que o aumento da temperatura acelera o processo de biodegradação. O aumento da massa de Ecoflex ® adicionado (curvas em azul e em roxo) também gera uma maior atividade biológica. O uso do polímero em forma de filmes (curva em roxo) também acelera o processo, aumentando a área de contato entre microorganismos e polímero. Conclusões Foi verificado que o processo de biodegradação do polímero é influenciado por algumas variáveis: em temperaturas mais altas aumenta-se a cinética da reação. A adição do polímero em forma de filmes torna o processo mais rápido do que na forma de grânulos, pois o aumento na área de contato entre microorganismos e polímero facilita a biodegradação. O aumento na massa do polímero disponível aumenta a atividade biológica devido à maior quantidade de nutrientes disponíveis para os microorganismos. Agradecimentos À fundação Araucária, pela bolsa concedida; Ao Colégio Agrícola Augusto Ribas e à Fazenda Escola da Universidade Estadual de Ponta Grossa pelo material cedido; À BASF S.A. pelo material cedido e ao professor Osvaldo Mitsuyuki Cintho pelo intermédio entre a universidade e a empresa; Ao departamento de Engenharia de Alimentos da UEPG, por ceder os laboratórios para a pesquisa. Referências 1. GRIFFIN, G. J. L. Chemistry and Technology of Biodegradable Polymers. Glasgow. Chapman & Hall. 1994. 2. SCOTT, G.; GILEAD, D. Degradable Polymers – Principles and Aplications. London, Chapman & Hall. 1995. 3. ROSA, D. S.; CHUI, Q. S. H.; PANTANO FILHO, R.; AGNELLI, J. A. M. Avaliação da biodegradação de poli-β-(hidroxibutirato), poli-β(hidroxibutirato-co-valerato) e poli-ε-(caprolactona) em solo compostado. Polímeros: Ciência e Tecnologia. São Carlos, Brasil, Vol. 12, n° 004, p. 311-317, 2002. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.