INTERAÇÕES ENTRE PROFESSOR E ALUNO COM DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM Carla Monteiro RESUMO O presente trabalho busca chamar a atenção para alguns pontos importantes na interação professor-aluno e seus efeitos sobre a aprendizagem com base em uma perspectiva teórica que privilegia o estudo dos processos de comunicação e interação social, relacionando-os à cultura e ao desenvolvimento humano. O método de estudo privilegia a observação in loco do cotidiano escolar. Análise dos dados se fez sob duas perspectivas: observacional e através de entrevistas. As conclusões da pesquisa demonstram a necessidade de maior atenção por parte dos educadores para as questões relacionadas a inter e intra-subjetividade como fundamentais para o sucesso ou fracasso escolar. SUMMARY The present research call the attention for some important points in teacherstudent interaction and its effects on the learning with base in a theoretical perspective that privileges the study of the communication processes and social interaction, relating them to the culture and the human development. The study method privileges the observation in loco of the daily school. Analysis of the data had two perspectives: observational and through interviews. The conclusions of the research demonstrate the need of larger attention on the part of the educators for the related subjects the inter and intra-subjectivity as fundamental for the success or school failure INTRODUÇÃO Acredita-se que o estudo e a análise das interações sociais revelam padrões e características dos processos constitutivos dos indivíduos. Sabe-se que a construção das funções mentais superiores ocorre através da significação de si e do mundo por meio de categorias inter e intrapsicológicas, que originam o processo de internalização. No contexto escolar as interações professor-aluno constituem o foco principal do processo de aprendizagem, pois favorecem o surgimento de funções psicológicas mais sofisticadas, tornando-se fator essencial para a mediação de signos e instrumentos na construção de sistemas simbólicos que irão contribuir para o processo de construção do conhecimento (Araújo, 1995). Uma contribuição importante vem perspectiva sociogenética através dos estudos de Vygotsky (1989) referindo-se aos processos de internalização. Vygotsky afirma que as funções mentais superiores ocorrem em dois momentos consecutivos primeiro ao nível das interações sociais ou inter-individuais, e segundo ao nível intrapsiquíquico. Este processo representa o principal mecanismo de transmissão da cultura e inserção do indivíduo no universo de significados e valores típicos do grupo social de que faz parte. Para Vygotsky (1989) é a relação com o próximo que permite ao sujeito a construção do conhecimento e o desenvolvimento. O desenvolvimento baseado na interação tem como condições a maturação do sistema nervoso assim como a qualidade das interações que o sujeito estabelece ao longo de sua vida, sendo a interação na situação educativa de grande importância para o desenvolvimento humano. Segundo os autores que tomam como base a idéia de que sujeito constrói seu conhecimento (Davis, Espósito & Silva, 1989), as funções psíquicas são construídas na medida em que são utilizadas nas relações interpessoais que a criança estabelece ao longo de seu desenvolvimento. Assim novas funções vão sendo desenvolvidas de forma diferente quando a interação ocorre na escola, em sala de aula ou em casa com parentes da criança. Nas últimas décadas, a partir dos trabalhos de Jean Piaget, Lev Vygotsky e aqueles que os sucederam, os profissionais da educação têm se deparado com novas perspectivas para a prática escolar. Já se percebe o caráter bidirecional das interações sociais e a criança não é mais encarada como uma folha de papel em branco sobre a qual o professor irá “escrever” o conhecimento. Todas estas novas formas de pensar tem contribuído para uma reforma no sistema educacional do país. Duran (1987 em Araujo, 1995) analisou as relações em sala de aula, onde o professor exerce um poder sobre o aluno, e concluiu que este fator gera um desequilibrio prejudicial a aprendizagem. De forma semelhante a Duran, McDermott (1977) fez uma reflexão sobre o que ele chama de “relação de confiança” entre professor e aluno como ponto crucial na aprendizagem. Define confiança como qualidade de relacionamento entre pessoas, como produto de trabalho que as pessoas fazem para alcançar relações de confiança, em particular, no contexto institucional. McDermott (1977) acrescenta que o sucesso e o fracasso escolar estão diretamente ligados a existência ou não de uma relação de confiança no contexto escolar. Outra questão importante está na inadequação de alguns métodos às características pessoais das crianças e professores, e a necessidade de adaptação de ambos dentro do contexto escolar do qual fazem parte. Em Novaes (1975) observamos que a questão da adaptação do aluno e professor ao sistema educacional da instituição influencia fortemente no desempenho escolar. Novaes (1975) destaca que a escola vai estabelecer tipos de respostas padronizadas que, nem sempre, atendem as necessidades evolutivas dos alunos. Sendo assim, é importante fazer uma reformulação das estruturas de relações, que levam a formas de comportamento adaptativo mais significativas, tanto por parte dos alunos como dos próprios professores. Leontiev (1991, em Araujo 1995) afirma a importância de se utilizar métodos de ensino que respeitem mais as diferenças individuais, pois práticas alternativas demonstraram grandes resultados com as crianças ditas “problemáticas”. Estudos em Psicologia Social sobre expectativa e exigência demonstram o quanto professores e alunos estão submetidos aos processos que geram preconceito e estereótipos. Rodrigues (1983) destaca estudos que demonstram que a percepção inicial que professor e aluno estabelecem nos primeiros contatos, tende a criar rótulos e que todas as ações subsequentes serão igualmente encaixadas no rótulo que foi designado para o aluno ou para o professor. Devemos estar atentos, portanto para a tendência auto - realizadora de nossas expectativas, pois nosso comportamento em relação aos outros é baseado em nossas expectativas. Outro estudo da Psicologia Social sobre percepção social diz respeito à punição e recompensa de alunos rotulados como mais ou menos capazes, demonstrando novamente que nosso comportamento é baseado nas expectativas que temos em relação aos outros. Rotular os alunos como mais ou menos capazes pode influenciar o desenvolvimento de maior ou menor de sua internalidade, isto é, maior ou menor crença em sua própria capacidade de influir nas recompensas e punições decorrentes de seus atos. Recompensar mais a capacidade inata do aluno do que seu esforço não facilita o desenvolvimento da internalidade do mesmo. Profissionais da área de educação, pais e crianças, constantemente se deparam com um fenômeno que assusta e pode comprometer o futuro escolar dos alunos: a dificuldade de aprendizagem. Mas que fenômeno é este? Pode ser generalizado em explicações psicopatológicas? É resultado de uma instituição deficiente? Autores como Schain (1978 em Araujo, 1995) e Johnson & Micklebust (1985 em Araujo, 1995) explicam o fenômeno de dificuldade de aprendizagem usando a terminologia “distúrbios de aprendizagem” e enfatizando o papel dos fatores neurológicos na gênese destes “distúrbios”. O distúrbio estaria ligado uma disfunção cerebral ocasionando uma perturbação no comportamento. Para Johnson e Miklebust (1985 em Araujo, 1995) o distúrbio consiste numa discrepância entre aquilo que o aluno é capaz de realizar e o que ele realiza concretamente em termos de aprendizado. Numa outra perspectiva Althusser (1970), Bordieu & Passerar, (1970) em Araújo(1995) visualiza a questão da dificuldade de aprendizagem como um sintoma de deficiência da instituição escolar como reprodutora de valores e normas de classes sociais dominantes. Nesta perspectiva o sistema educacional funciona como transmissor ideológico e não co-construtor de conhecimento. Araujo (1995) aponta para a tendência atual em direcionar as pesquisas no campo do fracasso escolar para avaliações unifatoriais e consequentemente insuficientes, na explicação do fenômeno. A autora ressalta que é preciso estar atento aos fatores que podem determinar a dificuldade de aprendizagem, como fatores: neurológicos, funcionais, psicológicos, sociais, culturais, pedagógicos, familiares, etc. Desta forma, o profissional de educação, poderá ter uma compreensão dialética e interacionista da etiologia das dificuldades de aprendizagem. Evitando favorecer ideologias e doutrinas que privilegiem causas somente orgânicas, sociais, pedagógicas ou econômicas. Fonseca (1984 em Araujo, 1995) discute as causas da dificuldade de aprendizagem como uma inter-relação de vários fatores, tais como: privações culturais e psicossociais. Tais fatores terão repercussão no desenvolvimento global do sujeito e consequentemente em seu aproveitamento escolar. O autor ainda ressalta que de modo geral, a definição de dificuldade de aprendizagem não é totalmente clara, dificultando a sua identificação. Dentro das várias manifestações das dificuldades de aprendizagem Fonseca (1984 em Araujo, 1995) enumera algumas que são: problemas cognitivos, perceptivos, emocionais, psicolinguísticos, psicomotores e de memória. Algumas vezes estas manifestações podem aparecer em conjunto, outras isoladamente, acarretando dificuldades na aprendizagem. Diante de tantas definições sobre origens e manifestações de dificuldade de aprendizagem, ficamos com a idéia de que existe um responsável maior, a criança, que não assimilou corretamente o sistema educacional do qual faz parte. Esta criança com dificuldade de aprendizagem fica à margem do processo, enquanto assiste seus colegas de classe alcançarem o chamado “conhecimento”. O que deve ser ressaltado é que, como já foi dito, existe um processo, chamado ensino-aprendizagem. E dentro do processo duas pessoas interagindo: professor e aluno. Dividir o processo em ensino e aprendizagem na tentativa de encontrar o foco do problema é atrasar a compreensão e solução do mesmo. Outro ponto importante discutido em Araújo (1995) consiste em que o processo de ensino-aprendizagem está ligado ao psiquismo humano, que transita dialeticamente entre afeto e intelecto. A aprendizagem não pode ser considerada apenas de um ponto de vista consciente e intelectual. Araújo (1995) aponta para a importância de educadores estarem atentos a estas questões, pois se afeto, emoção e desejo estão em estreita relação com a inteligência e vice-versa, nos casos de dificuldade de aprendizagem estes fatores estarão presentes na relação professor-aluno. A relação professor-aluno deve ser encarada como um processo dinâmico, os dois sujeitos participam ativamente co-construindo, negociando, reorganizando e reestruturando significados. Assim, está na relação, e não nos sujeitos, o foco de análise para encontrar a explicação sobre as dificuldades no processo ensino-aprendizagem. Araújo (1995) verificou que uma criança dita com “problemas de aprendizagem” enquanto tinha uma professora “sem características afetivas sintônicas, cooperativa de apoio e incentivo” (Araujo, 1995, p.180), apresentava desempenho escolar abaixo do esperado. Com esta professora não havia uma identificação das necessidades mútuas e dos interesses de ambos, o que impossibilitou o crescimento de aluno e professora. Por outro lado, o mesmo aluno, em contato com uma professora de característica “sintônica, afetiva, cooperativa, demonstrando consideração apoio, incentivo...” (Araujo, 1995, p.180) foi capaz de superar as dificuldades de aprendizagem. Os estudos acima demonstram que a transmissão de conhecimento baseada no modelo unidirecional, onde a criança deve se conformar às atitudes do professor sem esperar ser compreendida enquanto indivíduo, não gera transformação. Ao contrário, cristaliza formas de pensar e comportar. Por outro lado, se a transmissão do conhecimento tem por base o modelo bidirecional (Lawrence & Valsiner,1993) onde há uma troca de informações que gera mudança e desenvolvimento, a interação irá mudar a mensagem, ocorre mudança tanto para quem transmite, que o faz junto com as suas vivências pessoais, assim como para quem recebe a informação e este fato é respeitado por ambas as partes da interação. Mais do que transmitir conhecimento o educador deve buscar construir o conhecimento com seus alunos respeitando as diferenças individuais e também culturais. Deste novo modelo de interação surge a confiança, o respeito mútuo e a amizade, características fundamentais para que haja uma troca sadia e construtora entre professor e aluno. OBJETIVOS Em termos gerais, este trabalho buscou descrever as interações entre professor e aluno com dificuldade de aprendizagem, tentando pontuar alguns aspectos que podem funcionar como facilitadores ou não do processo ensino-aprendizagem. Os objetivos específicos foram: 1. Descrever a participação da professora e do aluno durante o desenvolvimento de atividades diversificadas, focalizando comportamentos emitidos e características comportamentais de ambos durante as atividades. 2. Identificar padrões comportamentais na interação professora-aluno; 3. Desenvolver um sistema de categorias para análise da interação professoraaluno. MÉTODO Local: As observações foram realizadas em uma creche-escola assistencial do Distrito Federal, na cidade satélite de Taguatinga. Sujeitos: Díade aluno-professor Os sujeitos foram selecionados durante a fase inicial do trabalho, quando da primeira visita a creche-escola. O objetivo era encontrar uma criança com dificuldade de aprendizagem na fase de alfabetização. Foi solicitada a diretora que indicasse uma turma de alfabetização para as observações. Como não havia uma turma de alfabetização especificamente, foi solicitada a diretora que nos encaminhasse à turma de pré-alfabetização, o que foi feito prontamente. Ao fazer contato com a professora da turma foi solicitado que escolhesse, segundo seus critérios, uma criança com dificuldade de aprendizagem. A professora apontou “A” como o mais “atrasado” da turma, pois, segundo ela era o único da turma que ainda não sabia escrever o próprio nome, demonstrava comportamento apático e pouco participativo. O segundo sujeito da observação é “P” , como será conhecido neste estudo, é a professora de “A”. Tem nível superior incompleto, cursando a Faculdade de Educação na Universidade Católica de Brasília, campus Taguatinga. “P” aceitou prontamente a realização da observação em sua turma. Procedimentos para coleta de dados A coleta de dados foi efetuada em 3 (três) fases: 1. Adaptação: a observadora visitou a turma durante todo o período de aulas da manhã, durante 3 dias, com o objetivo de familiarizar as crianças da turma com a presença da observadora. 2. Observação: A observadora fez gravações em vídeo de 5 (seis) atividades distintas num período de 2 (dois) dias. O critério de escolha por atividade teve por objetivo registrar a maior variedade possível de interações professor-aluno nas mais diversas situações. Atividades observadas: Sessão 1 - ditado. Sessão 2 - Pintando o desenho da folha do ditado Sessão 3 - Contando o número de alunos e Hora da novidade Sessão 4 - Montando palavras Sessão 5 - Pintando a máscara do Saci Todas as situações de observação envolviam alguma atividade de objetivo pedagógico onde poderiam ocorrer ou não interação entre a professora e o aluno foco da observação. As situações de observação sempre ocorreram em sala de aula. 3. Entrevistas: foram realizadas duas entrevistas semi-estruturadas posteriores as gravações, ambas com duração aproximada de 1 (uma) hora. A primeira foi com a professora, um dia após o último dia de gravação, após a saída da professora. A entrevista foi realizada na própria escola. A segunda entrevista foi com a mãe do aluno no dia seguinte ao da entrevista da professora, a entrevista foi realizada no horário de saída de A, nos jardins da escola. Procedimentos para análise de dados observacionais Para análise dos dados coletados foram tomados os seguintes procedimentos: 1. Observações repetidas das gravações (3 ao todo) sem qualquer tipo de registro; 2. Registro contínuo com o objetivo de levantamento de categorias para construção do sistema de categorias. Foi elaborado um sistema de categorias que indicasse a articulação entre as ações da professora e do aluno. O sistema foi construído a partir de critérios qualitativamente apreendidos dos conteúdos das gravações e adaptações do sistema encontrado em Araújo (1995). Os padrões estabelecidos visam sinalizar tanto as ações individuais de professor e aluno quanto caracterizar o tipo de interação que se estabelece entre ambos nas variadas situações registradas. 3. Definição do sistema: Foi elaborado um sistema de categorias que indicasse a articulação entre as ações da professora e do aluno referente. O sistema foi construído a partir de critérios qualitativamente apreendidos do conteúdo das gravações e adaptações dos sistemas encontrados em Araújo (1995) e Dessen (1992). Os padrões estabelecidos visam sinalizar tanto as ações individuais de professor e do aluno, quanto caracterizar o tipo de interação que se estabelece entre ambos nas variadas situações registradas. A seguir temos o sistema de categorias construído e cada código estabelecido. Participação do Professor na Atividade SUPORTE (S): Orientar e/ou verificar o desempenho do aluno na atividade proposta (tendo sido requisitado ou não), esclarecendo ou transmitindo conhecimentos sobre o conteúdo da aula. Ex.: P coloca o dedo sobre o papel de A e diz: “aqui ó você coloca o seu nominho aqui, escreve o seu nominho aqui”. INCENTIVO (I): Apoiar, elogiar, dar sugestões, por meio de comportamentos verbais ou não-verbais, indicando que o comportamento do aluno está congruente com os objetivos do professor. Ex: P diz: “olha que legal o F. encontrou! Cadê a outra letrinha?”. DISCIPLINA (D): Explicitar, utilizando comportamentos verbais, ou não-verbais, que o comportamento do aluno não está de acordo com os objetivos do professor. Ex: P diz: ‘que coisa feia! Não gostei! Não gostei do que eu vi!”. Participação do Aluno na Atividade CONCENTRAÇÃO (C): Realiza a tarefa solicitada pelo professor, utilizando recursos próprios, sem requisitar ajuda do mesmo. Ex: A pega o lápis com a mão escreve sobre o papel. DISPERSÃO (DIS): Concentra a atenção em outra atividade que não seja a proposta pelo professor. Esta atividade pode ser autocentrada ou centrada em estímulos diversos. Ex: A se vira de costas para P e olha para a câmera (observadora). SOLICITAÇÃO (SOL): Pede ajuda ao professor visando esclarecimento que facilitem a execução da tarefa solicitada. Ex: A levanta o braço direito e diz: “Ô tia vem aqui!” Características da Interação Professor-Aluno RESPONSABILIDADE (RES): Emitir comportamentos que demonstrem o interesse em iniciar ou interromper a interação com o outro. Ex.: P anda em direção a mesa de A... põe a mão sobre a mesa de A e diz: “Posso explicar o que nós vamos fazer agora?” P anda em direção ao quadro e fica de frente para a turma. CONGRUENTE (CONG): A díade apresenta comportamentos, harmônicos recíprocos e temporalmente contingentes. A díade estabelece cadeias de interações onde o comportamento de um membro é articulado ao comportamento do outro e as respostas de um tornam-se pistas para a emissão do comportamento do outro. Ex.: P contorna a mesa e se abaixa ao lado de A. P diz: “Você achou! Vamos montar a palavrinha aqui?” A mostra outras letrinhas para P. DOMINÂNCIA (DOM): A interação se caracteriza pela ocorrência de comandos verbais e/ou gestuais emitidos por um dos membros da díade que se destaca como sendo o maior responsável pela direção da interação, tanto no que se refere aos aspectos do fluxo como do conteúdo. Ex.: P segura o braço de A, aponta para a menina que está fazendo a palavra ao lado e diz: “Olha aqui, ela conseguiu F! Vamos conseguir também? “A olha a palavra que a menina montou e manipula as letrinhas que estão espalhadas sobre a mesa. Dinâmica do registro Foi empregado o registro cursivo para transcrição das sessões. O tipo de atividade gravada está se encontra no alto à esquerda da folha do protocolo. Sempre que um dos sujeitos apresentava uma categoria de comportamento previamente definida, a linha era iniciada com o código da mesma. As linhas que não estão iniciadas por um código de categoria significam que o comportamento anterior permanece. O código (RES) aparece em alguns momentos ao fim da linha. Isto significa que o sujeito da ação daquela linha foi responsável pelo término da interação. RESULTADOS A) Entrevistas A entrevista com a professora permitiu verificar sua preocupação em conquistar a confiança de seus alunos para que o processo de aprendizagem seja mais natural possível e construído junto com a mesma. Afirmou não possuir muitos conhecimentos sobre o tema da pesquisa, apesar de mencionar claramente a importância da confiança entre professor e aluno, um dos pressupostos teóricos que motivaram o presente trabalho. Fazendo uma análise qualitativa de suas interações com A, fica claro que P confere mais atenção aqueles que solicitam mais, o que não ocorre com A. Há carência de conhecimento quanto as técnicas pedagógicas construtivistas, a qual diz ser utilizada na instituição. Em momentos críticos como dar disciplina ou corrigir o erro do aluno a tendência de P é utilizar métodos tradicionais. A entrevista com a mãe permitiu esclarecer dúvidas quanto às relações familiares e sua possível influência na dificuldade de aprendizagem. A mãe de A relatou que a criança tem bom relacionamento com seus familiares e que acredita que a criança tenha “puxado” à mãe, já que quando criança esta apresentava as mesmas dificuldades que A. Uma possível explicação para a dificuldade apresentada por A, que aparece no relato da mãe, pode estar no fato de que a criança foi matricula na instituição este ano transferida de outra escola a qual gostava muito. A ansiedade gerada pela mudança, somada ao fato de que as outras crianças já estão na instituição a alguns anos, pode ser um dos causadores do atraso de A em relação a sua turma. B) Observações Observa-se que o comportamento de “SUPORTE” tem predominância em situações puramente didáticas como na sessão 4 onde a tarefa era montar palavrinhas. Nos momentos em que lida com a turma com um grupo a freqüência chega a zero. A freqüência mais ou menos estável da categoria “DISCIPLINA”, variando de 1 a 3 nas 5 sessões demonstra a discrepância em relação aos momentos em que incentiva A. Com relação a participação de A nas interações, este apresenta alta freqüência da categoria “CONCENTRAÇÃO” nos momentos em que o tipo de atividade requer esforço individual, apesar de não concluir as tarefas no mesmo nível de sucesso que seus colegas de turma. Maior freqüência na categoria “DISPERSÃO” nos momentos em que a atividade era realizada em grupo ou após tentar realizar a tarefa individual sem sucesso. A categoria “SOLICITAÇÃO” tem baixa freqüência, principalmente se comparada aos momentos em que P está em interação com A. Pode ser justificada pelo alto índice de freqüência da categoria “DISPERSÃO” verificado. Nos momentos em que a professora requisita a participação do grupo A fica disperso. As interações por responsabilidade da professora são muito mais freqüentes. Deve ser ressaltado que iniciar e terminar as interações estava ligado, na maioria das vezes ao ato de disciplinar. Um dos momentos de congruência que podem ser destacados como relevantes (apesar da baixa freqüência deste comportamento) foi a atividade de montar palavras que apresentou grande sincronia entre aluno e professora do ponto de vista interacional. A professora tem o maior índice de freqüência na categoria “DOMINÂNCIA” estando este tipo de comportamento diretamente ligado as situações em que P atuava de forma a impor disciplina e quando dava suporte ao aluno. Sugestões para pesquisas futuras As reflexões desenvolvidas ao longo deste trabalho apontam para uma maior atuação do Psicólogo Escolar de maneira preventiva levando em consideração as relações interpessoais e suas motivações como foco de análise. O aluno não é mais visto como uma folha em branco na qual o professor escreve o conhecimento, isto é fato. Porém ainda sabe-se muito pouco como usar este conhecimento tão enriquecedor que o aluno traz de sua história pessoal. Acreditamos que mais estudos na área de Psicologia Escolar, com ênfase nas relações interpessoais e suas ligações com o social e a cultura, possam ampliar as possibilidades de atuação do professor em sala de aula transformando-o verdadeiramente em co-construtor do conhecimento junto com a criança. BIBLIOGRAFIA ARAUJO, C. M. M. (1995) Relações interpessoais professor-aluno: uma nova abordagem na compressão das dificuldades de aprendizagem. Dissertação de Mestrado, Brasília, UnB. DAVIS, C., ESPOSITO, Y. & SILVA, M. A. S. S. (1989) Papel e valor das interações sociais em sala de aula. Cad. Pesq. São Paulo (71): 49-54. DESSEN, M. A. S. C. (submetido à publicação). Efeito intrusivo do observador em estudos longitudinais dentro do contexto familiar: relato de uma experiência. Psicologia: Teoria e Pesquisa. LAWRENCE, J. A. & VALSINER, J. (1993) Conceptual Roots of internalization. From transmition to transformation. Human Development, 36, 150- 167. McDERMOTT, R. (1977) As relações sociais como contexto para aprendizagem na escola. Harvard Educational Review, 47 (2). Rockfeller University VYGOTSKY, L. S. (1989) A Formação Social da Mente. SP: Martins Fontes. Publicado em 30/09/2004 15:02:00 Carla Monteiro - Mestre em psicologia, professora das disciplinas: Orientação de Monografia, Gerência de Loja, Técnicas de Vendas, Marketing Pessoal, Empreendedorismo e Competências docentes para educação infantil do –Instituto Silva Serpa – São Pedro D’aldeia RJ. [email protected]