UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE TEORIA E PRÁTICA DA EDUCAÇÃO FERNANDA F. GONÇALVES ULIANA DESENHO INFANTIL: forma de interação professor e aluno CIANORTE 2010 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE TEORIA E PRÁTICA DA EDUCAÇÃO FERNANDA F. GONÇALVES ULIANA DESENHO INFANTIL: forma de interação professor e aluno Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de Maringá, Campus Regional de Cianorte como parte dos pré-requisitos do curso de Pedagogia, para obtenção do título de Pedagogo. Orientadora: Profª. Ms Janira Siqueira Camargo. CIANORTE 2010 FERNANDA F. GONÇALVES ULIANA DESENHO INFANTIL: forma de interação professor e aluno Trabalho apresentado como parte dos requisitos para conclusão do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá, sob apreciação da seguinte banca examinadora: Aprovado em ____/____/____ _______________________________________ Profª. MS. Janira Siqueira Camargo (DTP/UEM) Professora orientadora ________________________________ Profª. Drª. Sheila Maria Rosin ________________________________________ Profª. Gizeli Aparecida Ribeiro de Alencar AGRADECIMENTOS A Deus por me proporcionar mais essa vitória, em cada uma o reconhecimento devido a Ele, pois só Ele é digno de toda honra, glória e louvor. Ao meu marido Hugo, pela paciência, força, carinho compreensão e incentivo durante a elaboração deste trabalho. Obrigada sempre por fazer parte dos momentos mais importantes da minha vida. Aos meus pais, pelo amor incondicional, pelo apoio, por conduzirem meus passos me transmitindo valores e me orientando na formação de meu caráter. Dentro da família agradeço ainda em especial à Tia Sônia e ao Tio Wilsom que sempre me apoiaram e me deram suporte no caminhar de minha formação. A professora Mestre Janira Siqueira Camargo pela atenção em ler, disponibilizar material, criticar e apontar os pontos a serem aprimorados neste trabalho a fim do sucesso deste. A turma de 2006 do curso de Pedagogia da Universidade estadual de Maringá pela presença constante no dia-a-dia, pelas trocas e amizades construídas nestes quatro anos de graduação. Agradeço a todos que acreditaram em mim, pois sem a colaboração, apoio, atenção e amor, a elaboração desta monografia, peça final para a conquista de minha tão sonhada graduação não seria possível. RESUMO O presente trabalho tem por finalidade ressaltar a importância da análise do grafismo infantil para uma melhor interação entre professor e aluno. Foi necessário um estudo bibliográfico das principais concepções sobre o assunto. Com a perspectiva de observar a concepção de desenho dos professores, o conhecimento tido sobre o assunto, e ainda como estes utilizam o grafismos em sala de aula e o que sabem sobre a análise dos desenhos nos propusemos a realizar uma pesquisa qualitativa, com estudo de cunho investigativo. Dentre os resultados obtidos, podemos dizer que os professores desconhecem o grafismo infantil como um instrumento de analise na qual pode-se observar sentimentos, dramas, tristezas e alegrias. Servindo então como uma atividade de integração com o meio em que está inserida. Palavras chave: Desenho infantil. Interação professor aluno. Significado. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 6 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................................... 8 2.1 O desenho na história da humanidade .............................................................................. 8 2.2 Critérios básicos para a análise do desenho infantil .......................................................... 13 3 METODOLOGIA .................................................................................................................. 16 3.1 Procedimentos .................................................................................................................. 16 3.2 Descrição do instrumento ................................................................................................. 17 3.3Caracterização dos sujeitos ............................................................................................... 18 4 RESULTADOS E ANÁLISES .............................................................................................. 19 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 23 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 25 6 1 INTRODUÇÃO Este trabalho, possuindo como concentração a área de Metodologia de Ensino, vem a se configurar como requisito para a Conclusão do curso de pedagogia da Universidade Estadual de Maringá. Os desenhos são parte integrante das sociedades desde os primórdios da humanidade, sendo uma das formas de expressão mais antigas utilizadas por esta. Desde a época das cavernas o homem já se utilizava destes para se comunicar e se expressar, através de pequenas figuras que desenhavam nas rochas e paredes das cavernas, manifestavam suas idéias, pensamentos e desejos, conseguindo assim comunicar-se, pode-se dizer que o desenho foi então um facilitador da comunicação para os antigos povos. O objetivo deste trabalho será verificar a percepção que os professores das séries iniciais têm acerca das contribuições da análise do desenho infantil para sua prática pedagógica, entendendo como o desenho infantil realizado pelas crianças em sala de aula pode colaborar para a interação do professor com o aluno no seu universo, fazendo com que o professor perceba aspectos da personalidade, carências e temperamentos. Proporcionando então entender os problemas e as dificuldades que a criança apresenta e que interferem em sua aprendizagem e em seu comportamento em sala de aula. Sejam estes de ordem psicológica ou emocional, decorrentes de distúrbios cuja compreensão de suas causas podem ser buscadas na leitura e interpretação dos desenhos, por isso será de suma importância visualizar como o professor utiliza-se do desenho dentro de sala de aula. Este trabalho aflorou a vontade de ser desenvolvido, devido ao meu interesse pela Educação Infantil, pendendo pela área da psicologia. Ao longo da graduação vivenciei diversas experiências nos estágios propostos pelo curso que despertaram em mim a vontade de entender o que a criança pode representar e transmitir através de um simples desenho e como o professor pode se utilizar deste para colaborar para uma melhor aprendizagem e compreensão de seu aluno, isto me motivou a estudar para a realização deste sobre o desenho infantil, visto que entendo que a criança é capaz de criar novos mundos a partir dos desenhos. O presente trabalho foi estruturado em quatro capítulos: 7 No primeiro capítulo será disposto o eixo fundamental das diferentes vertentes e concepções que trata do assunto, entre elas estão os seguintes autores: Piaget, Vygostsky, Luquet, Mèredieu e Lowenfeld. Em um segundo momento destaca-se de acordo com tais teóricos, do tema os principais pontos a serem considerados para se realizar as análises do desenho infantil. O segundo capítulo procura orientar quanto à metodologia utilizada na elaboração da pesquisa, apresentado assim os instrumentos empregados durante a investigação, os procedimentos utilizados para a coleta de dados e os participantes. O terceiro capítulo apresentará os resultados e as análises dos dados obtidos na pesquisa. Por fim, o último capítulo traz as considerações finais, procurando fazer uma relação entre a intenção da pesquisa, as teorias e os resultados obtidos. Refletindo assim sobre a utilização do desenho infantil como uma forma de interação do professor com o aluno. 8 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 O DESENHO NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE A necessidade de comunicar-se com os indivíduos da sociedade que se integra acompanha o homem desde o primórdio da humanidade, assim o surgimento da linguagem está ligado a história humana e a organização dos seres humanos em sociedade, para que esta comunicação acontecesse o homem foi criando formas para interagir e contar fatos e histórias uns aos outros. Uma destas formas foram os desenhos, a partir deles é que os homens criaram um código pelo qual se comunicavam. Derdyk (1994 a) aponta que já na pré-história os homens desenhavam nas cavernas para contar fatos acontecidos, algo que também acontecia no Egito, este povo realizava pinturas nas paredes das tumbas que representavam uma forma de registro da vida e das atividades diárias do falecido, tudo descrito com muitos detalhes. E os desenhos também tiveram uma importante contribuição na era industrial para a construção dos maquinários. Entendemos assim que a formação humana se desenvolve por meio de uma interação entre os componentes de determinada sociedade. Neste contexto, podemos observar que o desenho como forma de manifestação e comunicação perpassa toda a história do homem, em todas as culturas. Atualmente não é diferente, os desenhos participam do cotidiano de todos, especialmente das crianças. Autores como Mèredieu (2006) nos mostram que o interesse pelo desenho infantil só se fundamenta a partir do fim do século passado com as pesquisas de Jean-Jacques Rosseau (1712-1778) estudioso de uma época em que começava-se a conceber a criança como um ser diferente do adulto que merecia tratamento especializado e diferenciado. Um ser completo que no transcorrer de seu desenvolvimento se tornaria um adulto, e não um ser inferior a este, a criança deixava de ser vista como um adulto em miniatura. Rosseau (1995) vislumbra a criança como um ser completo, composto de qualidades que lhe propiciam agir segundo seu momento de desenvolvimento, valorizando suas especificidades concebe assim a criança como um dotado de uma personalidade própria, com 9 necessidades e vontades especificas. A partir dái a criança passa a ser objeto de novos estudos, e a forma de encarar seus desenhos evolui paralelamente. É o que escreve Mèredieu (2006, p. 3): A maneira de encarar o desenho evolui paralelamente: antes considerados unicamente em relação com a arte adulta os desenhos infantis apareciam como malogros ou fracassos, quando muito como exercícios destinados a prepara o futuro artista. A partir deste momento começam a surgir obras que enfocam o desenho infantil, e cada estudioso foi contribuindo para que acontecesse um estudo mais detalhado e direcionado a cerca do assunto. Neste contexto para dar a fundamentação teórica, a pesquisa será necessário uma visita às principais vertentes e concepções que tratam do assunto. Estudos como os de Fontana e Cruz (1997) apontam que dentro de uma perspectiva histórico-cultural, Vygotsky concebe o homem como um ser que só se torna humano quando se relaciona em sociedade, com outros seres humanos, ou seja, a formação do homem se dá a partir das relações e trocas que este tem com os outros seres. Partindo deste ponto de vista Vygotsky, enxerga que a educação é um processo pela qual se dá aquisição de conhecimentos adquiridos através das diversas relações do ser com meio em que habita. Ainda considerando a perspectiva de Vygotsky (1984), o desenho deve ser interpretado como um estágio preliminar do desenvolvimento da linguagem escrita. Vygotsky (1984), particularmente se interessava em investigar a maneira que a criança executava tarefas que envolviam a atenção, a memória e a percepção utilizando-se de signos. Pelo olhar de Vygotsky (1984), a criança não representa aquilo que vê, mas sim aquilo que sabe sobre o objeto. Para Vygotsky (1984, p. 127) “desenho é uma linguagem gráfica que surge tendo por base a linguagem verbal”. Ele ressalta ainda que a capacidade de se desenhar aquilo que se vê não é algo que se desenvolve espontaneamente. Piaget (1975) escreve que o desenho é uma manifestação semiótica, isto é, uma das formas através das quais a função de atribuição da significação se expressa e se constrói. Ele considera que até os 8, 9 anos de idade a criança é realista na intenção, ou seja, ela desenha aquilo que sabe sobre um determinado personagem antes de exprimir aquilo que vê. Assim como para Vygotsky, Piaget 10 (1975) considera que o desenho é um conceito formado pelo indivíduo antes de ser uma copia do real. Para Piaget (1975) a evolução do desenho é concomitante com a evolução do pensamento, portanto a criança representa em seus desenhos apenas aquilo sabe sobre o objeto que surge por base em uma linguagem verbal, na medida em que representa aquilo que concebeu sob a forma de signos, preferencialmente verbais. O interesse pela criança, especialmente a partir do século XIX, fez por surgir vários estudos sobre o desenho infantil, entre tais os desenvolvidos por e Luquet (1969) um dos primeiros e mais importantes estudiosos do desenho infantil e também por Mèredieu (2006) autores que convergem em algumas questões ao tratarem do grafismo infantil e sua evolução. Luquet (1969) definiu quatro estágios para a evolução do desenho infantil. O primeiro é o realismo fortuito que tem inicio por volta dos dois anos, momento em que a criança enxerga uma semelhança entre seu traçado no papel e um objeto ou animal, desta maneira a criança nomeia o desenho após o ter efetuado-o. O segundo estágio é o realismo falhado que são as primeiras tentativas de reprodução do real por parte da criança. O terceiro estágio proposto por Luquet (1969) é o realismo intelectual, quando a criança realiza os desenhos no plano deitado, neste momento representa no desenho aquilo que sabe sobre o desenho e não aquilo que vê. O quarto e último estágio é o realismo visual, próprio da adolescência, quando a criança representa aquilo que vê em uma busca de maior similaridade com o real. No ponto de vista de Luquet (1969, p. 213-214), “o desenho infantil, enquanto manifestação da atividade da criança permite penetrar na sua psicologia e, portanto, determinar em que ponto ela se parece ou não com a do adulto”. Para ele o desenho infantil é um ato de representação da realidade, partindo deste ponto o realismo trazidos nos desenhos infantis são o ponto central de sua teoria, assim sua teoria: Todo desenho é a tradução gráfica da imagem visual que forneça o motivo apresentado e, acreditamos, de uma imagem visual mais ou menos nítida realmente presente no espírito do desenhista no momento que ele desenha, o que nós denominamos modelo interno. Qualquer que seja o ponto de vista subjetivo, do ponto de vista objetivo o desenho é incontestavelmente a tradução gráfica dos caracteres visuais do objeto representado; isto é, tomando emprestado dos estudiosos da lógica o termo “compreensão” pelo qual eles designam o conjunto de caracteres de um objeto, o 11 desenho de um motivo pode ser definido como a tradução gráfica da compreensão visual desse motivo. [...] Nós acreditamos que a preocupação da criança frente cada um de seus desenhos é de o fazer exprimir de um modo bem exato, bem completo, pode-se dizer o mais literal possível, a compreensão visual do objeto que ele representa. Nenhum nome nos parece exprimir melhor essa característica que realismo, e nós diremos que o desenho infantil é essencialmente e voluntariamente realista (LUQUET, 1969, p. 145). Sobre as fases propostas por Luquet (1969), Mèredieu (2006) discorda em alguns aspectos, pois para ela o estudioso não deixa claro o processo que envolve o desenho infantil, visto que apresenta o processo em fases isoladas, sem a passagem de uma fase para a outra. Outra crítica de Mèredieu a Luquet é a questão de que este apresenta um avanço quanto a representação do real e para ela quando o grafismo da criança chega ao período denominado realismo perde-se toda a essência da infância, já que os desenhos então passam a se assemelhar como os realizados por adultos. Mèredieu (2006) então destaca a importância do período em que a criança rabisca, visto que considera esta ma etapa importante para o desenvolvimento sensório-motor do indivíduo. A autora destaca as três fases que considera percorrer o desenvolvimento do grafismo infantil, porém o foco aqui seriam os rabiscos, o primeiro estágio vegetativo motor, que se daria em média aos dezoito meses, onde os desenhos consistem em riscos com formatos quase “arredondado, convexo ou alongado” (MÈREDIEU, 2006, p. 25). Na fase dos dois, três anos de idade acontece o estágio representativo, quando os movimentos são realizados de forma mais lenta, visto que a criança começa a retirar o lápis do papel, coisa que não acontece no estágio anterior e os desenhos já possuem semelhanças com objetos. No período dos três aos quatro anos, configurar-se o estágio comunicativo que seria o momento em que a criança começa a imitar a escrita dos adultos na busca de uma comunicação. Observamos então que Meredieu, também entende que o desenho infantil tem seu desenvolvimento por fases. Fontana e Cruz (1997) assim como Mèredieu (2006) destacam a importância de não haver interferência no desenho infantil por parte dos adultos visto o desenho se manifesta como expressão da personalidade: [...] o desenho torna-se objeto de uma interpretação, pois o que importa não é mais o grafismo propriamente dito, mais o que ele 12 designa, o sentido que remete. Se desenho permite assim aceder à personalidade de seu autor, é porque ele constitui um lugar privilegiado de projeção – do mesmo modo, alias, que qualquer obra de arte. [...] Pode-se estudar sucessivamente a maneira como a criança utiliza linhas e formas, o modo de distribuição do espaço, a escolha da cor. Todas estas características têm valor expressivo e traduzem de maneira específica o estado emocional da criança (MÈREDIEU, 2006, p. 62). Partindo destas vertentes podemos olhar o desenho infantil como um momento ou instrumento importante para ser trabalhado em sala de aula, pois, através dele, a criança pode expressar o que ainda não é capaz ou não consegue traduzir por meio da fala e da escrita. Para elas expor seus sentimentos de forma oral pode ser delicado e, por vezes, de difícil compreensão devido ao vocabulário ainda limitado e/ou a vergonha e medo de contar determinado fato. Entendemos que a criança atribui um significado àquilo que desenha por isso considera o desenho infantil como uma forma de comunicação, por entender que conscientemente ou inconscientemente a criança transmite uma mensagem através daquilo que desenha, permitindo que se entenda o contexto em que esta inserida. Sobre o que se pode observar por meio do desenho Fontana e Cruz (1997, p. 158) escrevem: “[...] não é apenas o grau de maturidade ou o nível de desenvolvimento do pensamento que se manifestam nos desenhos da criança. O que é, e como ela desenha emerge das interações sociais em que ela esta inserida”. E completam (FONTANA; CRUZ, 1997, p. 162) “para poder criar e se expressar, por meio do desenho, a criança se apropria das experiências do seu ambiente, servindose de modelos e do auxilio de outras pessoas. A experiência que ela tem é que lhe proporciona os meios para se expressar de modo criativo”. Por isso é importante entender-se que muitas vezes o desenhar proporciona à criança que coloque seus sentimentos para fora, se expressando, e aí esta a importância de o professor se utilizar deste como um meio de investigação sobre o que e como a criança pensa, como constrói internamente a realidade na qual está inserida. Segundo Mèredieu (2006, p. 78) “A encenação do trauma no desenho provoca a revivescência dos velhos afetos: a criança pode deste modo exprimir suas fantasias, jogando com elas gráfica e picturalmente, tendo a cor muitas vezes uma função importante, pois ela vivifica personagens e objetivos”. 13 Complementando tudo o que foi dito sobre o grafismo infantil e a interpretação deste, achamos importante ressaltar as palavras de Camargo (2005, p. 67): Os professores podem analisar e observar o desenvolvimento de seus alunos por meio dos desenhos produzidos ao longo do ano letivo, procurando compreender como seus alunos vêem o mundo, como pensam e como se sentem, tanto nos seus aspectos cognitivos quanto emocionais, pois é nas atividades artísticas que a criança inicia seu processo de criação. Quando a criança desenha podemos ver seu prazer em criar, através de suas expressões, de seus gestos e de sua alegria. De acordo com o estado emocional em que a criança se encontra, suas expressões no momento em que está desenhando podem mudar. Assim ao melhor conhecer seu aluno o professor estabelece um dialogo que favorece, dentre outras coisas, o auxilio as dificuldades de aprendizagem apresentadas pelo aluno. Para tanto, é importante termos claro que para que o desenho seja utilizado como forma de interação entre o professor e seu aluno, que o educador conheça os critérios básicos para a análise e a interpretação do desenho como parte deste trabalho, a seguir apresentaremos embasadas pelas teorias estudas esses critérios. 2.2 CRITÉRIOS BÁSICOS PARA A ANÁLISE DE DESENHO INFANTIL De acordo com as teorias apresentadas alguns critérios são importantes e ajudam a analisar e compreender as mensagens impressas nos desenhos. Como já citado que o professor converse com a criança sobre o desenho para poder entender e analisar melhor este. Cabe ainda salientar que a ordem dos critérios apresentados aqui não são obrigatórios. Inicialmente um aspecto a ser observado é a questão da impressão geral que o desenho transmite a quem o olha, a sensação que este provoca, se transpassa alegria, raiva, medo, serenidade, amor, ou qualquer outro sentimento. Outro item a ser analisado é a maneira que a criança disponibiliza o desenho na folha, de acordo com Camargo (2005, p. 79), 14 A posição do desenho no papel é outro item que expressa muito acerca da forma como o sujeito se sente em relação às demandas do mundo. O desenho situado muito abaixo na folha de papel, como se estivesse pendurado, pode indicar um sentimento de baixaautoestima. Caso ocorra o inverso, ou seja, se estiver situado muito acima na folha, pode indicar uma criança muito dispersiva, que “vive no mundo da lua”. A predominância do desenho no lado direito da folha indica uma criança mais extrovertida, com maior facilidade de se colocar frente às pessoas, de reinvidicar o que deseja. Se for no lado esquerdo, pode indicar o inverso: introversão, com maior dificuldades de expressar o que sente às pessoas ao seu redor, certa timidez. Concomitante á posição do desenho na folha temos o aspecto relacionado ao tamanho. Quando este é muito grande, ocupando a folha toda ou quase toda, pode indicar um narcisismo, querendo ser o centro das atenções, ou uma certa carência. Quando o desenho é de tamanho exagerado, até mesmo extrapolando a folha pode significar uma compensação por contenção do meio; em contrapartida quando o desenho é pequeno pode indicar um sentimento de inferioridade, inibição ou insegurança já quando é muito pequeno: sentimento de inadequação. Quanto ao uso de “acessórios” estes pode indicar como a criança percebe a realidade. Em excesso indicam imaturidade; já a falta representa inadequação; e o uso de acessórios inadequados refletem uma percepção deturpada da realidade. Aliado a estes aspectos é significativo se observar a pressão que a criança exerce sob o lápis que vai utilizar para desenhar quando esta é muito forte (chegando a rasgar o papel) pode indicar ansiedade e tensão; muito suave (quase não se vê): falta de energia, insegurança e certo medo de se mostrar. Concomitante a pressão outro aspecto a ser analisado é o tipo de traçado realizado pela criança a linha grossa demonstra energia, vitalidade; linha fina representa insegurança e timidez; o traço contínuo transmite decisão, rapidez; muito contínuo mostra medo de iniciativa;quando o traço é de avanços e recuos aponta falta de confiança, ansiedade; traço interrompido indica incerteza e temor; e por fim o traço trêmulo deixa transparecer medo e insegurança. A linha representativa de solo também pode demonstrar o vínculo da criança com a realidade a ausência desta demonstra dificuldade de estabelecimento de vínculo com a realidade; já sua presença um bom vínculo com a realidade. 15 O uso excessivo da borracha ou sua falta também é um aspecto que pode revelar pontos da personalidade da criança em excesso transmite insegurança, muito exigente consigo mesmo; a falta do uso da borracha indica pouca críticidade. Neste contexto, também é importante o professor analisar no desenho os aspectos gerais deste, ou seja, por qual figura a criança inicia, se ela dá ênfase em alguma figura ou parte desta. Outro aspecto de relevância e que pode nos indicar pontos importantes da personalidade da criança, são o uso das cores, por exemplos quando a criança utiliza muito a cor branca temos a indicação de irritabilidade; o preto: tristeza ou depressão; o azul: calma, autodomínio; em contrapartida o vermelho revela impulsividade e força; o verde: sensibilidade, sociabilidade; enquanto o amarelo indica força, energia, vivacidade; o marrom: obstinação, teimosia; o roxo: agitação interior, sentimentos mais brutos; o alaranjado revela uma sensibilidade aguçada e por fim o cinza revela uma neutralidade afetiva. É importante salientar que de forma alguma o professor deve fazer correções ou influenciar a criança em seu desenho é o que Camargo (2005, p. 81) nos mostra, Em todos os casos, algo nunca deve ser feito: escrever, rabiscar ou fazer “arrumações” no desenho da criança. Nem tampouco mentir, dizendo que está bonito algo que você sequer consegue decifrar e compreender o que é. Para não incorrer nesse erro. O professor deve solicitar para a criança discorrer sobre sua produção. O professor deve qualquer comentário com juízo de valores a respeito do que a criança fez, não se esquecendo jamais que é o desenho uma obra e como tal deve ser respeitada. Nesta perpectiva Lowenfeld (1977) sugere também aos professores que estes conversem com a criança acerca do desenho, dialogando com ela perguntar sobre as coisas que falou e não estão no desenho e assim proponha variações quando há repetições e ainda que converse com a criança quando esta diz não saber o que desenhar, pois isso proporcionara uma melhor análise do desenho realizado. Dentro deste contexto o próximo capitulo apresentará a metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa para vislumbrar como os professores enxergam e se utilizam do desenho em sala de aula, para uma interação e uma forma de compreensão de seu aluno. 16 3 METODOLOGIA 3.1 PROCEDIMENTOS Para nortear o desenvolvimento deste trabalho, em um primeiro momento foi necessário um levantamento bibliográfico que abrangesse obras literárias de diversos autores que utilizaram os desenhos infantis como objeto de suas pesquisas. Tal levantamento nos possibilitou ampliar o conhecimento quanto às correntes que tratam do estudo dos desenhos infantis, além de proporcionar um melhor entendimento acerca dos conceitos que conduziram esta pesquisa. Entendemos este momento de encontro com a teoria importante por considerarmos que são estas que nos dão suporte para transformar a prática educativa, permitindo uma melhoria nesta, e oferecendo aos profissionais pontos de vista diferenciados para uma ação contextualizada, na qual existe a possibilidade de análise, para o professor compreender os diferentes contextos em que ele e seus professores estão inseridos. Sobre a importância da teoria na formação docente, Pimenta (2005, p. 26) escreve: O papel da teoria é oferecer aos professores perspectivas de análises para compreender os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais, e de si mesmos como profissionais, nos quais se dá sua atividade docente, para neles intervir, transformando-os. Daí é fundamental o permanente exercício da crítica das condições materiais nas quais o ensino ocorre. Concordamos ainda com Freire (1996) no sentido de ser necessário que o professor assimile os princípios que orientam a atividade docente em direção à autonomia. Possibilitando que tenha mais condições de compreender e refletir sobre os aspectos intelectuais e sociais que envolvem o seu fazer pedagógico. Partindo deste ponto decidimos realizar uma pesquisa de caráter qualitativo, com estudo de cunho investigativo. Tal estudo configura-se numa análise que busca visualizar como os educadores utilizam o desenho infantil em sala de aula. Para a investigação utilizamos um questionário respondido por professores que atuam na educação infantil, este tinha como objetivo levantar informações sobre como estes profissionais se utilizavam do desenho infantil em sala de aula. 17 Com a intenção de concretizar uma pesquisa investigativa, os questionários foram distribuídos a sete professores que atuam nas séries iniciais da educação infantil de uma escola pública do noroeste do Paraná, com o auxílio da diretora da escola. Os educadores tiveram um tempo de dois dias para responder o questionário na intenção de colaborar para tal pesquisa. Neste contexto desenvolveu-se a perspectiva qualitativa da pesquisa, que, segundo Queiroz (1992), é uma forma de análise que procura desvendar motivos e razões, de forma a compreender as atitudes dos indivíduos. O autor ressalta a questão da diferenciação e da comparação como elementos fundamentais de uma pesquisa qualitativa. Porém, cabe ressaltar que esta pesquisa não tem intenção de fazer comparação entre os educadores, e sim uma diferenciação e comparação entre as práticas pedagógicas referentes a analise e utilização dos desenhos infantis como meios capazes de propiciar um melhor entendimento a respeito da criança e seus problemas de aprendizagem e relacionamento. Partindo deste pressuposto os questionários foram analisados de forma individual, sendo designados os participantes como: professor 1; professor 2; professor 3; professor 4; professor 5; professor 6 e professor 7. Os resultados e analises serão apresentadas em um terceiro momento onde serão dispostas, contextualizadas e analisadas conjuntamente com as abordagens do referencial teórico que dá suporte a este trabalho. Procurando observar e esclarecer as práticas adotadas para a utilização do desenho infantil em sala de aula e qual o conhecimento que o professor tem sobre tal e suas contribuições. 3.2 DESCRIÇÃO DO INSTRUMENTO Os questionários respondidos pelos educadores compõem os instrumentos materiais dessa pesquisa. Entendemos o questionário, como um instrumento ou de coleta de dados, sua confecção é feita pelo pesquisador, e seu preenchimento é realizado pelo informante. Neste trabalho tal instrumento teve exatamente esta perspectiva, ou seja, a de apropriar-se de dados para orientar a pesquisa. 18 As perguntas se aprestaram com o objetivo de levantar informações sobre como acontece à utilização dos desenhos infantis pelos professores em sua prática pedagógica. Neste contexto foi necessário em nossa pesquisa obtermos dados que nos descrevessem quantas vezes por semana o educador se utilizava do desenho infantil em suas aulas, além de o que o professor analisava e qual o conhecimento que ele tinha para efetuar análise e ainda se considerava a mesma importante. 3.3 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS Foram participantes da pesquisa sete professores atuantes nas séries iniciais da educação infantil de uma escola situada em um bairro de classe média baixa de uma cidade do noroeste do Paraná. Segue abaixo um quadro para identificar tais colaboradores e seus perfis. Professores P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 Quadro 1 - Caracterização dos sujeitos da pesquisa Tempo de Tempo de Idade Formação atividade atuação na série 33 anos Pedagogia 4 anos 2 anos e meio 35 anos Pedagogia 15 anos 2 anos 39 anos Magistério e 3 anos 4 meses Curso normal Superior 27 anos Magistério e 8 anos 2 anos Curso normal Superior 49 anos Letras 17 anos 2 anos 29 anos Pedagogia 5 anos 1 ano 34 anos Pedagogia 8 anos 4 meses 19 4 RESULTADOS E ANÁLISES Os questionários foram entregues aos professores que tiveram dois dias para responder ás questões. Neste momento de análise dos dados optamos por faze - lá questão em questão. No que se refere à primeira questão: “Quantas vezes por semana você utiliza o desenho infantil como atividade na aula?” cinco professores (P1, P2, P5, P6, P7) disseram que utilizam o desenho uma vez por semana em suas aulas, e dois (P3, P4) relataram utilizar duas vezes por semana. Observamos, ao analisar as respostas dos professores, que estes não consideram ou desconhecem a importância de utilizar o desenho com as crianças na faixa etária pertencente à educação infantil, momento em que o domínio da linguagem oral ainda é muito limitado e o desenho, portanto, poderia ser utilizado como forma de comunicação, como Mèredieu (2006, p. 38) destaca: “Seus desenhos narram, procuram transmitir uma mensagem.” Assim, o profissional pode utilizar o desenho para observar a criança e conseguir estabelecer uma comunicação para entender, por exemplo, problemas que afetam e atingem a aprendizagem e as relações da criança em sala de aula. Sobre isso Mèredieu (2006, p. 78) escreve: [...] o desenho provoca a revivescência dos velhos afetos: a criança pode deste modo exprimir suas fantasias jogando com elas gráfica e picturalmente, [...] O desenho informa-nos assim sobre a natureza das fantasias, dos recalques, e permite seu desaparecimento favorecendo a ab-reação. [...] Como o sonho o desenho participa de dois níveis de expressão, um consciente e mais ou menos intencional, o outro inconsciente e recorrendo a uma simbologia complexa. Partindo do “conteúdo manifesto” do desenho (as imagens), a análise esforça-se por remontar até seu “conteúdo latente” (as preocupações inconscientes da criança). [...] o conteúdo manifesto do desenho é assim mais curto e infinitamente menos rico que aquele que a análise revela, o mesmo signo recobrindo múltiplas significações [...]. Observamos que os profissionais que atuam nas séries iniciais têm pouca noção do rico objeto de investigação que têm em mãos. Em um segundo momento, perguntamos aos professores: “O que você analisa nestes desenhos?”, três professores (P1. P3, P4) responderam analisar a 20 “coordenação motora, a forma, o traçado e a noção de espaço”. Enquanto outros três professores (P2, P6, P7) descreveram analisar a “disposição do desenho em relação à folha e o tamanho”. E por fim um professor (P7) relata analisar se o aluno está usando as “cores adequadas, fazendo um desenho completo e se esta traçando contornos”. Complementando a questão anterior a terceira pergunta do questionário é: “O que você sabe sobre análise de desenhos?” e as respostas variaram inicialmente um professor (P1) descreve saber que, através da análise dos desenhos, pode-se observar sentimentos, frustrações e a representação da vida da criança. Outro professor (P2) descreve que mesmo com pouco conhecimento teórico, sabe que o desenho da criança apresenta alguns indícios de sua capacidade motora e cognitiva. Ainda neste contexto, dois professores (P3 e P4) responderam que os desenhos nos ajudam a reconhecer as etapas pelas qual a criança passa seus problemas, dificuldades e sua compreensão. Um professor (P5) admite não possuir conhecimento algum, sabendo apenas que se é possível analisar a criança através de seu desenho. Ainda recebemos de um professor a informação que este (P6) tem conhecimento que o aluno fará desenhos mais elaborados, quanto mais desenvolvido motor e cognitivo ele tiver. Por fim o último professor (P7) responde que quando a criança é detalhista mostra que avançou que conhece e observa o mundo a sua volta e seu corpo. O que observamos no momento de análise conjunta das duas perguntas, visto que uma complementa a outra é que os professores não possuem conhecimentos sobre o desenho infantil e, portanto não sabem o que analisar nestes desenhos. É visto que os profissionais sabem que o desenho pode servir como ponte entre ele e seu aluno, podendo revelar angustias, medos, inseguranças entre outros sentimentos. Porém eles não se utilizam deste instrumento para melhor entender seus alunos. Podemos visualizar que os professores analisam os desenhos considerando os traçados, as cores, a coerência de acordo com aquilo que eles acreditam estar correto, sem considerar que nestes traços, preenchimentos e localização do desenho a criança pode estar exprimindo muito mais que uma etapa pelo qual está passando. Ao traçar o desenho a criança pode estar nos mostrando que possuem muita vitalidade e energia ou muita insegurança e timidez, pode ainda dependendo da continuidade de traçado nos demonstrar decisão e rapidez, ou medo 21 em tomar iniciativas, pode demonstrar ainda com traços de avanços e recuos uma falta de confiança, ansiedade ou incerteza e temor com traços interrompidos e medo e insegurança quando traça com tremor. Neste contexto deveriam ser estes aspectos os considerados no momento de olhar o desenho infantil, já que o desenho realizado pelas crianças não devem ser “corrigidos”, visto não existir um modelo correto ou perfeito de desenho a ser realizado Lowenfeld (1977, p. 31), destaca sobre se é ou não conveniente corrigir as falsas proporções: Quando nós, adultos, dizemos que algo está fora de proporção, é porque aceitamos como ponto pacífico que a aparência visual, a maneira como as coisas nos parecem constitui o fator mais importante. Contudo, sabemos perfeitamente que nossas relações emocionais com as coisas são muito mais essenciais que sua aparência. A criança pode, amiúde, não fazer distinção entre relações visuais e emocionais. Suas proporções revelam o valor que as coisas têm para ela, em vez das relações visuais propriamente ditas. [...] Então nunca deveríamos corrigir as proporções? Enquanto a criança estivesse satisfeita com sua própria expressão, não deveríamos interferir em seu trabalho, pois isto só serviria para torna - lá inibida. Outro ponto que merece destaque é a impressão que o professor tem de que quanto mais elaborado, mais detalhes, mais desenhos a criança colocar em sua arte, mais desenvolvimento o aluno tem, aspecto errôneo, pois o excesso de detalhes pode indicar imaturidade enquanto a falta pode indicar inadequação em relação á realidade na qual se insere. Por isso, Lowenfeld (1977) destaca a importância de o professor perguntar para a criança sobre o desenho, investigar, conversar sobre coisas que relatou, mas que não aparecem em seu desenho, o contrário de impor padrões ou de influenciar, condicionar a criança. Seus estudos nos fazem refletir sobre a relevância dos pais e educadores se empenharem em entender as fases e transformações do desenho infantil a fim de contribuírem e não interferirem ou inibirem os processos de criação da criança. Em um último momento questionamos os professores sobre: “Você considera importante a análise de desenho para conhecer e compreender seu aluno?”, as respostas foram unânimes contemplando que sim, um professor (P2) destacou, porém que este não pode ser a única fonte para que isto aconteça. E outro (P6) citou que se o aluno faz uma utilização adequada do espaço da folha para 22 realizar um desenho, também o utilizará bem para realizar a escrita. Mèredieu (2006, p. 62) escreve que: O desenho manifestou-se logo como expressão da personalidade como um todo. Signo, traço, índice de uma realidade psíquica não imediatamente acessível, o desenho torna-se objeto de uma interpretação, pois o que importa não é mais o grafismo propriamente dito, mais o que ele designa, o sentido a que se remete. Se o desenho permite assim aceder à personalidade de seu autor, é porque ele constitui um lugar privilegiado de projeção. De acordo com o que os educadores responderam nos questionários, que apesar de considerarem o desenho como uma forma de investigação e interação com o aluno, não dominam e por isso não fazem uso da analise do desenho infantil como recurso para melhorar sua pratica pedagógica. 23 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após discorrermos sobre as principais vertentes a cerca do desenho infantil, os pontos básicos para a análise deste e investigarmos o que os professores sabem sobre tal e como se utilizam estes em sala de aula, acreditamos ser possível fazer algumas considerações a cerca da importância da utilização deste em sala de aula para uma melhor interação entre professor e aluno. Nesta perspectiva sendo os objetivos de investigação deste trabalho baseados em uma proposta de análise da utilização e importância do desenho infantil em sala de aula, nos torna necessária refletir sobre os resultados obtidos. Entendemos o desenho como uma forma de linguagem e expressão, como um palco onde a criança pode expressar seus sentimentos, dramas, felicidades e dores particulares comunicando-as ao mundo exterior, e sendo assim a atividade de desenhar funciona para a criança como uma atividade de integração com o meio em que está inserida. Escreve Derdyk em seu livro as seguintes palavras de Mario de Andrade que bem se encaixam ao que queremos ressaltar aqui: “O verdadeiro limite do desenho não implica de forma alguma o limite do papel, nem mesmo pressupondo margens” (DERDYK, 1994, p. 23, grifo nosso). O que observamos é que de maneira geral os professores dirigem seu olhar ao desenho simplesmente buscando observar o que a criança retrata em seu grafismo, valorizando apenas se o desenho corresponde à realidade, se a criança desenha “corretamente’ seguindo um esquema de cores e “lógica”. Ou seja, o olhar do professor se volta somente a avaliar se o desenho cumpre a procedimentos padronizados que contemplam a o real. Desconsiderando-se assim que um determinado objeto pode ter variadas percepções, variando de pessoa para pessoa, sendo importante se considerar os diversos momentos, contextos sociais, sentimentos dentre outros fatores. Derdyk (1994, p. 50) escreve: Geralmente o adulto impõe sua própria imagem de infância ao interpretar o desenho infantil. Esta projeção revela a desatualização de seu próprio conteúdo. Estático no tempo, o adulto é o oposto da criança que está continuamente em movimento. A transformação física psíquica e emocional incita a criança a um estado de atenção para o mundo. 24 O que fica claro á nosso olhar, é que o professor analisa o grafismo da criança apoiado nas concepções e conhecimentos que têm sobre o desenho enquanto linguagem, estas adquiridas em experiências particulares, ou durante sua formação e vida profissional, e são estes conhecimentos e concepções acerca do grafismo infantil que faz o professor estabelecer um dialogo com a criança sobre seu desenho, utilizando este como uma forma de interação com seu aluno. O que observamos é que o despreparo e a falta de conhecimento sobre o desenho como objeto de investigação por parte dos educadores relegam o desenho apenas a momentos de folga, ou para preencher um tempo em sala de aula, não o utilizando em sua essência. Derdyk (1994, p. 107) escreve: O sistema escolar, de uma forma geral, encara o desenho como um manual de exercícios com fins utilitários e pedagógicos bem definidos e determinados. Simplesmente exercita-se, de maneira impessoal, o desempenho e a eficiência da mão e do olho. A destreza a técnica são componentes fundamentais dentro deste sistema de pensamento. O desenho acaba perdendo a possibilidade do significado lúdico e sua carga simbólica. Assim o que observamos é a necessidade de uma discussão mais ampla acerca do desenho infantil nos cursos de formação dos educadores, estes devem ter o mínimo de conhecimento sobre a utilização do desenho infantil dentro de sala de aula, de como este pode o auxiliar em suas atividades auxiliando-o na interação como seu aluno, proporcionando entender este, suas aflições, desejos, medos e sonhos, visto que o professor é o responsável por proporcionar a oportunidade de a criança expressar-se, pois assim estarão proporcionando que ela elabore seu pensamento, expressando também sua concepção de mundo, alegrias, tristezas coisas que podem ser difícil de serem expressas oralmente. 25 REFERÊNCIAS CAMARGO, J. S. 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