UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE TEORIA E PRÁTICA DA EDUCAÇÃO
FERNANDA F. GONÇALVES ULIANA
DESENHO INFANTIL:
forma de interação professor e aluno
CIANORTE
2010
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE TEORIA E PRÁTICA DA EDUCAÇÃO
FERNANDA F. GONÇALVES ULIANA
DESENHO INFANTIL:
forma de interação professor e aluno
Trabalho de conclusão de curso apresentado
ao Departamento de Teoria e Prática da
Educação da Universidade Estadual de
Maringá, Campus Regional de Cianorte como
parte dos pré-requisitos do curso de
Pedagogia, para obtenção do título de
Pedagogo.
Orientadora: Profª. Ms Janira Siqueira
Camargo.
CIANORTE
2010
FERNANDA F. GONÇALVES ULIANA
DESENHO INFANTIL:
forma de interação professor e aluno
Trabalho apresentado como parte dos requisitos para
conclusão do Curso de Pedagogia da Universidade
Estadual de Maringá, sob apreciação da seguinte
banca examinadora:
Aprovado em ____/____/____
_______________________________________
Profª. MS. Janira Siqueira Camargo (DTP/UEM)
Professora orientadora
________________________________
Profª. Drª. Sheila Maria Rosin
________________________________________
Profª. Gizeli Aparecida Ribeiro de Alencar
AGRADECIMENTOS
A Deus por me proporcionar mais essa vitória, em cada uma o reconhecimento
devido a Ele, pois só Ele é digno de toda honra, glória e louvor.
Ao meu marido Hugo, pela paciência, força, carinho compreensão e incentivo
durante a elaboração deste trabalho. Obrigada sempre por fazer parte dos momentos mais
importantes da minha vida.
Aos meus pais, pelo amor incondicional, pelo apoio, por conduzirem meus passos
me transmitindo valores e me orientando na formação de meu caráter. Dentro da família
agradeço ainda em especial à Tia Sônia e ao Tio Wilsom que sempre me apoiaram e me
deram suporte no caminhar de minha formação.
A professora Mestre Janira Siqueira Camargo pela atenção em ler, disponibilizar
material, criticar e apontar os pontos a serem aprimorados neste trabalho a fim do sucesso
deste.
A turma de 2006 do curso de Pedagogia da Universidade estadual de Maringá pela
presença constante no dia-a-dia, pelas trocas e amizades construídas nestes quatro anos
de graduação.
Agradeço a todos que acreditaram em mim, pois sem a colaboração, apoio, atenção
e amor, a elaboração desta monografia, peça final para a conquista de minha tão sonhada
graduação não seria possível.
RESUMO
O presente trabalho tem por finalidade ressaltar a importância da análise do grafismo infantil
para uma melhor interação entre professor e aluno. Foi necessário um estudo bibliográfico
das principais concepções sobre o assunto. Com a perspectiva de observar a concepção de
desenho dos professores, o conhecimento tido sobre o assunto, e ainda como estes utilizam
o grafismos em sala de aula e o que sabem sobre a análise dos desenhos nos propusemos
a realizar uma pesquisa qualitativa, com estudo de cunho investigativo. Dentre os resultados
obtidos, podemos dizer que os professores desconhecem o grafismo infantil como um
instrumento de analise na qual pode-se observar sentimentos, dramas, tristezas e alegrias.
Servindo então como uma atividade de integração com o meio em que está inserida.
Palavras chave: Desenho infantil. Interação professor aluno. Significado.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 6
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................................... 8
2.1 O desenho na história da humanidade .............................................................................. 8
2.2 Critérios básicos para a análise do desenho infantil .......................................................... 13
3 METODOLOGIA .................................................................................................................. 16
3.1 Procedimentos .................................................................................................................. 16
3.2 Descrição do instrumento ................................................................................................. 17
3.3Caracterização dos sujeitos ............................................................................................... 18
4 RESULTADOS E ANÁLISES .............................................................................................. 19
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 23
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 25
6
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho, possuindo como concentração a área de Metodologia de
Ensino, vem a se configurar como requisito para a Conclusão do curso de pedagogia
da Universidade Estadual de Maringá.
Os desenhos são parte integrante das sociedades desde os primórdios da
humanidade, sendo uma das formas de expressão mais antigas utilizadas por esta.
Desde a época das cavernas o homem já se utilizava destes para se comunicar e se
expressar, através de pequenas figuras que desenhavam nas rochas e paredes das
cavernas, manifestavam suas idéias, pensamentos e desejos, conseguindo assim
comunicar-se, pode-se dizer que o desenho foi então um facilitador da comunicação
para os antigos povos.
O objetivo deste trabalho será verificar a percepção que os professores
das séries iniciais têm acerca das contribuições da análise do desenho infantil para
sua prática pedagógica, entendendo como o desenho infantil realizado pelas
crianças em sala de aula pode colaborar para a interação do professor com o aluno
no seu universo, fazendo com que o professor perceba aspectos da personalidade,
carências e temperamentos. Proporcionando então entender os problemas e as
dificuldades que a criança apresenta e que interferem em sua aprendizagem e em
seu comportamento em sala de aula. Sejam estes de ordem psicológica ou
emocional, decorrentes de distúrbios cuja compreensão de suas causas podem ser
buscadas na leitura e interpretação dos desenhos, por isso será de suma
importância visualizar como o professor utiliza-se do desenho dentro de sala de
aula.
Este trabalho aflorou a vontade de ser desenvolvido, devido ao meu
interesse pela Educação Infantil, pendendo pela área da psicologia. Ao longo da
graduação vivenciei diversas experiências nos estágios propostos pelo curso que
despertaram em mim a vontade de entender o que a criança pode representar e
transmitir através de um simples desenho e como o professor pode se utilizar deste
para colaborar para uma melhor aprendizagem e compreensão de seu aluno, isto
me motivou a estudar para a realização deste sobre o desenho infantil, visto que
entendo que a criança é capaz de criar novos mundos a partir dos desenhos.
O presente trabalho foi estruturado em quatro capítulos:
7
No primeiro capítulo será disposto o eixo fundamental das diferentes
vertentes e concepções que trata do assunto, entre elas estão os seguintes autores:
Piaget, Vygostsky, Luquet, Mèredieu e Lowenfeld. Em um segundo momento
destaca-se de acordo com tais teóricos, do tema os principais pontos a serem
considerados para se realizar as análises do desenho infantil.
O segundo capítulo procura orientar quanto à metodologia utilizada na
elaboração da pesquisa, apresentado assim os instrumentos empregados durante a
investigação, os procedimentos utilizados para a coleta de dados e os participantes.
O terceiro capítulo apresentará os resultados e as análises dos dados
obtidos na pesquisa.
Por fim, o último capítulo traz as considerações finais, procurando fazer
uma relação entre a intenção da pesquisa, as teorias e os resultados obtidos.
Refletindo assim sobre a utilização do desenho infantil como uma forma de interação
do professor com o aluno.
8
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 O DESENHO NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE
A necessidade de comunicar-se com os indivíduos da sociedade que se
integra acompanha o homem desde o primórdio da humanidade, assim o surgimento
da linguagem está ligado a história humana e a organização dos seres humanos em
sociedade, para que esta comunicação acontecesse o homem foi criando formas
para interagir e contar fatos e histórias uns aos outros.
Uma destas formas foram os desenhos, a partir deles é que os homens
criaram um código pelo qual se comunicavam. Derdyk (1994 a) aponta que já na
pré-história os homens desenhavam nas cavernas para contar fatos acontecidos,
algo que também acontecia no Egito, este povo realizava pinturas nas paredes das
tumbas que representavam uma forma de registro da vida e das atividades diárias
do falecido, tudo descrito com muitos detalhes. E os desenhos também tiveram uma
importante contribuição na era industrial para a construção dos maquinários.
Entendemos assim que a formação humana se desenvolve por meio de
uma interação entre os componentes de determinada sociedade. Neste contexto,
podemos observar que o desenho como forma de manifestação e comunicação
perpassa toda a história do homem, em todas as culturas. Atualmente não é
diferente, os desenhos participam do cotidiano de todos, especialmente das
crianças.
Autores como Mèredieu (2006) nos mostram que o interesse pelo
desenho infantil só se fundamenta a partir do fim do século passado com as
pesquisas de Jean-Jacques Rosseau (1712-1778) estudioso de uma época em que
começava-se a conceber a criança como um ser diferente do adulto que merecia
tratamento especializado e diferenciado. Um ser completo que no transcorrer de
seu desenvolvimento se tornaria um adulto, e não um ser inferior a este, a criança
deixava de ser vista como um adulto em miniatura. Rosseau (1995) vislumbra a
criança como um ser completo, composto de qualidades que lhe propiciam agir
segundo seu momento de desenvolvimento, valorizando suas especificidades
concebe assim a criança como um dotado de uma personalidade própria, com
9
necessidades e vontades especificas. A partir dái a criança passa a ser objeto de
novos estudos, e a forma de encarar seus desenhos evolui paralelamente. É o que
escreve Mèredieu (2006, p. 3):
A maneira de encarar o desenho evolui paralelamente: antes
considerados unicamente em relação com a arte adulta os desenhos
infantis apareciam como malogros ou fracassos, quando muito como
exercícios destinados a prepara o futuro artista.
A partir deste momento começam a surgir obras que enfocam o desenho
infantil, e cada estudioso foi contribuindo para que acontecesse um estudo mais
detalhado e direcionado a cerca do assunto. Neste contexto para dar a
fundamentação teórica, a pesquisa será necessário uma visita às principais
vertentes e concepções que tratam do assunto.
Estudos como os de Fontana e Cruz (1997) apontam que dentro de uma
perspectiva histórico-cultural, Vygotsky concebe o homem como um ser que só se
torna humano quando se relaciona em sociedade, com outros seres humanos, ou
seja, a formação do homem se dá a partir das relações e trocas que este tem com
os outros seres. Partindo deste ponto de vista Vygotsky, enxerga que a educação é
um processo pela qual se dá aquisição de conhecimentos adquiridos através das
diversas relações do ser com meio em que habita.
Ainda considerando a perspectiva de Vygotsky (1984), o desenho deve
ser interpretado como um estágio preliminar do desenvolvimento da linguagem
escrita. Vygotsky (1984), particularmente se interessava em investigar a maneira que
a criança executava tarefas que envolviam a atenção, a memória e a percepção
utilizando-se de signos. Pelo olhar de Vygotsky (1984), a criança não representa
aquilo que vê, mas sim aquilo que sabe sobre o objeto. Para Vygotsky (1984, p. 127)
“desenho é uma linguagem gráfica que surge tendo por base a linguagem verbal”.
Ele ressalta ainda que a capacidade de se desenhar aquilo que se vê não é algo que
se desenvolve espontaneamente.
Piaget (1975) escreve que o desenho é uma manifestação semiótica, isto
é, uma das formas através das quais a função de atribuição da significação se
expressa e se constrói. Ele considera que até os 8, 9 anos de idade a criança é
realista na intenção, ou seja, ela desenha aquilo que sabe sobre um determinado
personagem antes de exprimir aquilo que vê. Assim como para Vygotsky, Piaget
10
(1975) considera que o desenho é um conceito formado pelo indivíduo antes de ser
uma copia do real. Para Piaget (1975) a evolução do desenho é concomitante com
a evolução do pensamento, portanto a criança representa em seus desenhos
apenas aquilo sabe sobre o objeto que surge por base em uma linguagem verbal, na
medida em que representa aquilo que concebeu sob a forma de signos,
preferencialmente verbais.
O interesse pela criança, especialmente a partir do século XIX, fez por
surgir vários estudos sobre o desenho infantil, entre tais os desenvolvidos por e
Luquet (1969) um dos primeiros e mais importantes estudiosos do desenho infantil e
também por Mèredieu (2006) autores que convergem em algumas questões ao
tratarem do grafismo infantil e sua evolução.
Luquet (1969) definiu quatro estágios para a evolução do desenho infantil.
O primeiro é o realismo fortuito que tem inicio por volta dos dois anos, momento em
que a criança enxerga uma semelhança entre seu traçado no papel e um objeto ou
animal, desta maneira a criança nomeia o desenho após o ter efetuado-o. O
segundo estágio é o realismo falhado que são as primeiras tentativas de reprodução
do real por parte da criança. O terceiro estágio proposto por Luquet (1969) é o
realismo intelectual, quando a criança realiza os desenhos no plano deitado, neste
momento representa no desenho aquilo que sabe sobre o desenho e não aquilo que
vê. O quarto e último estágio é o realismo visual, próprio da adolescência, quando a
criança representa aquilo que vê em uma busca de maior similaridade com o real.
No ponto de vista de Luquet (1969, p. 213-214), “o desenho infantil,
enquanto manifestação da atividade da criança permite penetrar na sua psicologia e,
portanto, determinar em que ponto ela se parece ou não com a do adulto”. Para ele
o desenho infantil é um ato de representação da realidade, partindo deste ponto o
realismo trazidos nos desenhos infantis são o ponto central de sua teoria, assim sua
teoria:
Todo desenho é a tradução gráfica da imagem visual que forneça o
motivo apresentado e, acreditamos, de uma imagem visual mais ou
menos nítida realmente presente no espírito do desenhista no
momento que ele desenha, o que nós denominamos modelo interno.
Qualquer que seja o ponto de vista subjetivo, do ponto de vista
objetivo o desenho é incontestavelmente a tradução gráfica dos
caracteres visuais do objeto representado; isto é, tomando
emprestado dos estudiosos da lógica o termo “compreensão” pelo
qual eles designam o conjunto de caracteres de um objeto, o
11
desenho de um motivo pode ser definido como a tradução gráfica da
compreensão visual desse motivo. [...] Nós acreditamos que a
preocupação da criança frente cada um de seus desenhos é de o
fazer exprimir de um modo bem exato, bem completo, pode-se dizer
o mais literal possível, a compreensão visual do objeto que ele
representa. Nenhum nome nos parece exprimir melhor essa
característica que realismo, e nós diremos que o desenho infantil é
essencialmente e voluntariamente realista (LUQUET, 1969, p. 145).
Sobre as fases propostas por Luquet (1969), Mèredieu (2006) discorda
em alguns aspectos, pois para ela o estudioso não deixa claro o processo que
envolve o desenho infantil, visto que apresenta o processo em fases isoladas, sem a
passagem de uma fase para a outra. Outra crítica de Mèredieu a Luquet é a questão
de que este apresenta um avanço quanto a representação do real e para ela quando
o grafismo da criança chega ao período denominado realismo perde-se toda a
essência da infância, já que os desenhos então passam a se assemelhar como os
realizados por adultos.
Mèredieu (2006) então destaca a importância do período em que a
criança rabisca, visto que considera esta ma etapa importante para o
desenvolvimento sensório-motor do indivíduo. A autora destaca as três fases que
considera percorrer o desenvolvimento do grafismo infantil, porém o foco aqui
seriam os rabiscos, o primeiro estágio vegetativo motor, que se daria em média aos
dezoito meses, onde os desenhos consistem em riscos com formatos quase
“arredondado, convexo ou alongado” (MÈREDIEU, 2006, p. 25). Na fase dos dois,
três anos de idade acontece o estágio representativo, quando os movimentos são
realizados de forma mais lenta, visto que a criança começa a retirar o lápis do papel,
coisa que não acontece no estágio anterior e os desenhos já possuem semelhanças
com objetos. No período dos três aos quatro anos, configurar-se o estágio
comunicativo que seria o momento em que a criança começa a imitar a escrita dos
adultos na busca de uma comunicação. Observamos então que Meredieu, também
entende que o desenho infantil tem seu desenvolvimento por fases.
Fontana e Cruz (1997) assim como Mèredieu (2006) destacam a
importância de não haver interferência no desenho infantil por parte dos adultos visto
o desenho se manifesta como expressão da personalidade:
[...] o desenho torna-se objeto de uma interpretação, pois o que
importa não é mais o grafismo propriamente dito, mais o que ele
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designa, o sentido que remete. Se desenho permite assim aceder à
personalidade de seu autor, é porque ele constitui um lugar
privilegiado de projeção – do mesmo modo, alias, que qualquer obra
de arte. [...] Pode-se estudar sucessivamente a maneira como a
criança utiliza linhas e formas, o modo de distribuição do espaço, a
escolha da cor. Todas estas características têm valor expressivo e
traduzem de maneira específica o estado emocional da criança
(MÈREDIEU, 2006, p. 62).
Partindo destas vertentes podemos olhar o desenho infantil como um
momento ou instrumento importante para ser trabalhado em sala de aula, pois,
através dele, a criança pode expressar o que ainda não é capaz ou não consegue
traduzir por meio da fala e da escrita. Para elas expor seus sentimentos de forma
oral pode ser delicado e, por vezes, de difícil compreensão devido ao vocabulário
ainda limitado e/ou a vergonha e medo de contar determinado fato.
Entendemos que a criança atribui um significado àquilo que desenha por
isso considera o desenho infantil como uma forma de comunicação, por entender
que conscientemente ou inconscientemente a criança transmite uma mensagem
através daquilo que desenha, permitindo que se entenda o contexto em que esta
inserida. Sobre o que se pode observar por meio do desenho Fontana e Cruz (1997,
p. 158) escrevem: “[...] não é apenas o grau de maturidade ou o nível de
desenvolvimento do pensamento que se manifestam nos desenhos da criança. O
que é, e como ela desenha emerge das interações sociais em que ela esta inserida”.
E completam (FONTANA; CRUZ, 1997, p. 162) “para poder criar e se expressar, por
meio do desenho, a criança se apropria das experiências do seu ambiente, servindose de modelos e do auxilio de outras pessoas. A experiência que ela tem é que lhe
proporciona os meios para se expressar de modo criativo”.
Por isso é importante entender-se que muitas vezes o desenhar
proporciona à criança que coloque seus sentimentos para fora, se expressando, e aí
esta a importância de o professor se utilizar deste como um meio de investigação
sobre o que e como a criança pensa, como constrói internamente a realidade na
qual está inserida.
Segundo Mèredieu (2006, p. 78)
“A encenação do trauma no desenho provoca a revivescência dos
velhos afetos: a criança pode deste modo exprimir suas fantasias,
jogando com elas gráfica e picturalmente, tendo a cor muitas vezes
uma função importante, pois ela vivifica personagens e objetivos”.
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Complementando tudo o que foi dito sobre o grafismo infantil e a
interpretação deste, achamos importante ressaltar as palavras de Camargo (2005, p.
67):
Os professores podem analisar e observar o desenvolvimento de
seus alunos por meio dos desenhos produzidos ao longo do ano
letivo, procurando compreender como seus alunos vêem o mundo,
como pensam e como se sentem, tanto nos seus aspectos cognitivos
quanto emocionais, pois é nas atividades artísticas que a criança
inicia seu processo de criação. Quando a criança desenha podemos
ver seu prazer em criar, através de suas expressões, de seus gestos
e de sua alegria. De acordo com o estado emocional em que a
criança se encontra, suas expressões no momento em que está
desenhando podem mudar.
Assim ao melhor conhecer seu aluno o professor estabelece um dialogo
que favorece, dentre outras coisas, o auxilio as dificuldades de aprendizagem
apresentadas pelo aluno. Para tanto, é importante termos claro que para que o
desenho seja utilizado como forma de interação entre o professor e seu aluno, que o
educador conheça os critérios básicos para a análise e a interpretação do desenho
como parte deste trabalho, a seguir apresentaremos embasadas pelas teorias
estudas esses critérios.
2.2 CRITÉRIOS BÁSICOS PARA A ANÁLISE DE DESENHO INFANTIL
De acordo com as teorias apresentadas alguns critérios são importantes e
ajudam a analisar e compreender as mensagens impressas nos desenhos. Como já
citado que o professor converse com a criança sobre o desenho para poder
entender e analisar melhor este. Cabe ainda salientar que a ordem dos critérios
apresentados aqui não são obrigatórios.
Inicialmente um aspecto a ser observado é a questão da impressão geral
que o desenho transmite a quem o olha, a sensação que este provoca, se
transpassa alegria, raiva, medo, serenidade, amor, ou qualquer outro sentimento.
Outro item a ser analisado é a maneira que a criança disponibiliza o desenho na
folha, de acordo com Camargo (2005, p. 79),
14
A posição do desenho no papel é outro item que expressa muito
acerca da forma como o sujeito se sente em relação às demandas do
mundo. O desenho situado muito abaixo na folha de papel, como se
estivesse pendurado, pode indicar um sentimento de baixaautoestima. Caso ocorra o inverso, ou seja, se estiver situado muito
acima na folha, pode indicar uma criança muito dispersiva, que “vive
no mundo da lua”. A predominância do desenho no lado direito da
folha indica uma criança mais extrovertida, com maior facilidade de
se colocar frente às pessoas, de reinvidicar o que deseja. Se for no
lado esquerdo, pode indicar o inverso: introversão, com maior
dificuldades de expressar o que sente às pessoas ao seu redor, certa
timidez.
Concomitante á posição do desenho na folha temos o aspecto
relacionado ao tamanho. Quando este é muito grande, ocupando a folha toda ou
quase toda, pode indicar um narcisismo, querendo ser o centro das atenções, ou
uma certa carência. Quando o desenho é de tamanho exagerado, até mesmo
extrapolando a folha pode significar uma compensação por contenção do meio; em
contrapartida quando o desenho é pequeno pode indicar um sentimento de
inferioridade, inibição ou insegurança já quando é muito pequeno: sentimento de
inadequação. Quanto ao uso de “acessórios” estes pode indicar como a criança
percebe a realidade. Em excesso indicam imaturidade; já a falta representa
inadequação; e o uso de acessórios inadequados refletem uma percepção
deturpada da realidade.
Aliado a estes aspectos é significativo se observar a pressão que a
criança exerce sob o lápis que vai utilizar para desenhar quando esta é muito forte
(chegando a rasgar o papel) pode indicar ansiedade e tensão; muito suave (quase
não se vê): falta de energia, insegurança e certo medo de se mostrar. Concomitante
a pressão outro aspecto a ser analisado é o tipo de traçado realizado pela criança a
linha grossa demonstra energia, vitalidade; linha fina representa insegurança e
timidez; o traço contínuo transmite decisão, rapidez; muito contínuo mostra medo de
iniciativa;quando o traço é de avanços e recuos aponta falta de confiança,
ansiedade; traço interrompido indica incerteza e temor; e por fim o traço trêmulo
deixa transparecer medo e insegurança.
A linha representativa de solo também pode demonstrar o vínculo da
criança com a realidade a ausência desta demonstra dificuldade de estabelecimento
de vínculo com a realidade; já sua presença um bom vínculo com a realidade.
15
O uso excessivo da borracha ou sua falta também é um aspecto que pode
revelar pontos da personalidade da criança em excesso transmite insegurança,
muito exigente consigo mesmo; a falta do uso da borracha indica pouca críticidade.
Neste contexto, também é importante o professor analisar no desenho os
aspectos gerais deste, ou seja, por qual figura a criança inicia, se ela dá ênfase em
alguma figura ou parte desta.
Outro aspecto de relevância e que pode nos indicar pontos importantes
da personalidade da criança, são o uso das cores, por exemplos quando a criança
utiliza muito a cor branca temos a indicação de irritabilidade; o preto: tristeza ou
depressão; o azul: calma, autodomínio; em contrapartida o vermelho revela
impulsividade e força; o verde: sensibilidade, sociabilidade; enquanto o amarelo
indica força, energia, vivacidade; o marrom: obstinação, teimosia; o roxo: agitação
interior, sentimentos mais brutos; o alaranjado revela uma sensibilidade aguçada e
por fim o cinza revela uma neutralidade afetiva.
É importante salientar que de forma alguma o professor deve fazer
correções ou influenciar a criança em seu desenho é o que Camargo (2005, p. 81)
nos mostra,
Em todos os casos, algo nunca deve ser feito: escrever, rabiscar ou
fazer “arrumações” no desenho da criança. Nem tampouco mentir,
dizendo que está bonito algo que você sequer consegue decifrar e
compreender o que é. Para não incorrer nesse erro. O professor
deve solicitar para a criança discorrer sobre sua produção. O
professor deve qualquer comentário com juízo de valores a respeito
do que a criança fez, não se esquecendo jamais que é o desenho
uma obra e como tal deve ser respeitada.
Nesta perpectiva Lowenfeld (1977) sugere também aos professores que
estes conversem com a criança acerca do desenho, dialogando com ela perguntar
sobre as coisas que falou e não estão no desenho e assim proponha variações
quando há repetições e ainda que converse com a criança quando esta diz não
saber o que desenhar, pois isso proporcionara uma melhor análise do desenho
realizado. Dentro deste contexto o próximo capitulo apresentará a metodologia
utilizada para o desenvolvimento da pesquisa para vislumbrar como os professores
enxergam e se utilizam do desenho em sala de aula, para uma interação e uma
forma de compreensão de seu aluno.
16
3 METODOLOGIA
3.1 PROCEDIMENTOS
Para nortear o desenvolvimento deste trabalho, em um primeiro momento
foi necessário um levantamento bibliográfico que abrangesse obras literárias de
diversos autores que utilizaram os desenhos infantis como objeto de suas
pesquisas. Tal levantamento nos possibilitou ampliar o conhecimento quanto às
correntes que tratam do estudo dos desenhos infantis, além de proporcionar um
melhor entendimento acerca dos conceitos que conduziram esta pesquisa.
Entendemos este momento de encontro com a teoria importante por considerarmos
que são estas que nos dão suporte para transformar a prática educativa, permitindo
uma melhoria nesta, e oferecendo aos profissionais pontos de vista diferenciados
para uma ação contextualizada, na qual existe a possibilidade de análise, para o
professor compreender os diferentes contextos em que
ele e seus professores
estão inseridos. Sobre a importância da teoria na formação docente, Pimenta (2005,
p. 26) escreve:
O papel da teoria é oferecer aos professores perspectivas de análises para
compreender os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais, e
de si mesmos como profissionais, nos quais se dá sua atividade docente,
para neles intervir, transformando-os. Daí é fundamental o permanente
exercício da crítica das condições materiais nas quais o ensino ocorre.
Concordamos ainda com Freire (1996) no sentido de ser necessário que o
professor assimile os princípios que orientam a atividade docente em direção à
autonomia. Possibilitando que tenha mais condições de compreender e refletir sobre
os aspectos intelectuais e sociais que envolvem o seu fazer pedagógico.
Partindo deste ponto decidimos realizar uma pesquisa de caráter
qualitativo, com estudo de cunho investigativo. Tal estudo configura-se numa análise
que busca visualizar como os educadores utilizam o desenho infantil em sala de
aula. Para a investigação utilizamos um questionário respondido por professores que
atuam na educação infantil, este tinha como objetivo levantar informações sobre
como estes profissionais se utilizavam do desenho infantil em sala de aula.
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Com a intenção de concretizar uma pesquisa investigativa, os
questionários foram distribuídos a sete professores que atuam nas séries iniciais da
educação infantil de uma escola pública do noroeste do Paraná, com o auxílio da
diretora da escola. Os educadores tiveram um tempo de dois dias para responder o
questionário na intenção de colaborar para tal pesquisa.
Neste contexto desenvolveu-se a perspectiva qualitativa da pesquisa,
que, segundo Queiroz (1992), é uma forma de análise que procura desvendar
motivos e razões, de forma a compreender as atitudes dos indivíduos. O autor
ressalta a questão da diferenciação e da comparação como elementos fundamentais
de uma pesquisa qualitativa. Porém, cabe ressaltar que esta pesquisa não tem
intenção de fazer comparação entre os educadores, e sim uma diferenciação e
comparação entre as práticas pedagógicas referentes a analise e utilização dos
desenhos infantis como meios capazes de propiciar um melhor entendimento a
respeito da criança e seus problemas de aprendizagem e relacionamento.
Partindo deste pressuposto os questionários foram analisados de forma
individual, sendo designados os participantes como: professor 1; professor 2;
professor 3; professor 4; professor 5; professor 6 e professor 7.
Os resultados e analises serão apresentadas em um terceiro momento
onde serão dispostas, contextualizadas e analisadas conjuntamente com as
abordagens do referencial teórico que dá suporte a este trabalho. Procurando
observar e esclarecer as práticas adotadas para a utilização do desenho infantil em
sala de aula e qual o conhecimento que o professor tem sobre tal e suas
contribuições.
3.2 DESCRIÇÃO DO INSTRUMENTO
Os
questionários
respondidos
pelos
educadores
compõem
os
instrumentos materiais dessa pesquisa. Entendemos o questionário, como um
instrumento ou de coleta de dados, sua confecção é feita pelo pesquisador, e seu
preenchimento é realizado pelo informante. Neste trabalho tal instrumento teve
exatamente esta perspectiva, ou seja, a de apropriar-se de dados para orientar a
pesquisa.
18
As perguntas se aprestaram com o objetivo de levantar informações sobre
como acontece à utilização dos desenhos infantis pelos professores em sua prática
pedagógica. Neste contexto foi necessário em nossa pesquisa obtermos dados que
nos descrevessem quantas vezes por semana o educador se utilizava do desenho
infantil em suas aulas, além de o que o professor analisava e qual o conhecimento
que ele tinha para efetuar análise e ainda se considerava a mesma importante.
3.3 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS
Foram participantes da pesquisa sete professores atuantes nas séries
iniciais da educação infantil de uma escola situada em um bairro de classe média
baixa de uma cidade do noroeste do Paraná.
Segue abaixo um quadro para identificar tais colaboradores e seus perfis.
Professores
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
Quadro 1 - Caracterização dos sujeitos da pesquisa
Tempo de
Tempo de
Idade
Formação
atividade
atuação na
série
33 anos
Pedagogia
4 anos
2 anos e meio
35 anos
Pedagogia
15 anos
2 anos
39 anos
Magistério e
3 anos
4 meses
Curso normal
Superior
27 anos
Magistério e
8 anos
2 anos
Curso normal
Superior
49 anos
Letras
17 anos
2 anos
29 anos
Pedagogia
5 anos
1 ano
34 anos
Pedagogia
8 anos
4 meses
19
4 RESULTADOS E ANÁLISES
Os questionários foram entregues aos professores que tiveram dois dias
para responder ás questões. Neste momento de análise dos dados optamos por
faze - lá questão em questão.
No que se refere à primeira questão: “Quantas vezes por semana você
utiliza o desenho infantil como atividade na aula?” cinco professores (P1, P2, P5, P6,
P7) disseram que utilizam o desenho uma vez por semana em suas aulas, e dois
(P3, P4) relataram utilizar duas vezes por semana. Observamos, ao analisar as
respostas dos professores, que estes não consideram ou desconhecem a
importância de utilizar o desenho com as crianças na faixa etária pertencente à
educação infantil, momento em que o domínio da linguagem oral ainda é muito
limitado e o desenho, portanto, poderia ser utilizado como forma de comunicação,
como Mèredieu (2006, p. 38) destaca: “Seus desenhos narram, procuram transmitir
uma mensagem.” Assim, o profissional pode utilizar o desenho para observar a
criança e conseguir estabelecer uma comunicação para entender, por exemplo,
problemas que afetam e atingem a aprendizagem e as relações da criança em sala
de aula. Sobre isso Mèredieu (2006, p. 78) escreve:
[...] o desenho provoca a revivescência dos velhos afetos: a criança
pode deste modo exprimir suas fantasias jogando com elas gráfica e
picturalmente, [...] O desenho informa-nos assim sobre a natureza
das fantasias, dos recalques, e permite seu desaparecimento
favorecendo a ab-reação. [...] Como o sonho o desenho participa de
dois níveis de expressão, um consciente e mais ou menos
intencional, o outro inconsciente e recorrendo a uma simbologia
complexa. Partindo do “conteúdo manifesto” do desenho (as
imagens), a análise esforça-se por remontar até seu “conteúdo
latente” (as preocupações inconscientes da criança). [...] o conteúdo
manifesto do desenho é assim mais curto e infinitamente menos rico
que aquele que a análise revela, o mesmo signo recobrindo múltiplas
significações [...].
Observamos que os profissionais que atuam nas séries iniciais têm pouca
noção do rico objeto de investigação que têm em mãos.
Em um segundo momento, perguntamos aos professores: “O que você
analisa nestes desenhos?”, três professores (P1. P3, P4) responderam analisar a
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“coordenação motora, a forma, o traçado e a noção de espaço”. Enquanto outros
três professores (P2, P6, P7) descreveram analisar a “disposição do desenho em
relação à folha e o tamanho”. E por fim um professor (P7) relata analisar se o aluno
está usando as “cores adequadas, fazendo um desenho completo e se esta
traçando contornos”.
Complementando a questão anterior a terceira pergunta do questionário
é: “O que você sabe sobre análise de desenhos?” e as respostas variaram
inicialmente um professor (P1) descreve saber que, através da análise dos
desenhos, pode-se observar sentimentos, frustrações e a representação da vida da
criança. Outro professor (P2) descreve que mesmo com pouco conhecimento
teórico, sabe que o desenho da criança apresenta alguns indícios de sua
capacidade motora e cognitiva. Ainda neste contexto, dois professores (P3 e P4)
responderam que os desenhos nos ajudam a reconhecer as etapas pelas qual a
criança passa seus problemas, dificuldades e sua compreensão. Um professor (P5)
admite não possuir conhecimento algum, sabendo apenas que se é possível analisar
a criança através de seu desenho. Ainda recebemos de um professor a informação
que este (P6) tem conhecimento que o aluno fará desenhos mais elaborados,
quanto mais desenvolvido motor e cognitivo ele tiver. Por fim o último professor (P7)
responde que quando a criança é detalhista mostra que avançou que conhece e
observa o mundo a sua volta e seu corpo.
O que observamos no momento de análise conjunta das duas perguntas,
visto que uma complementa a outra é que os professores não possuem
conhecimentos sobre o desenho infantil e, portanto não sabem o que analisar nestes
desenhos. É visto que os profissionais sabem que o desenho pode servir como
ponte entre ele e seu aluno, podendo revelar angustias, medos, inseguranças entre
outros sentimentos. Porém eles não se utilizam deste instrumento para melhor
entender seus alunos.
Podemos
visualizar
que
os
professores
analisam
os
desenhos
considerando os traçados, as cores, a coerência de acordo com aquilo que eles
acreditam estar correto, sem considerar que nestes traços, preenchimentos e
localização do desenho a criança pode estar exprimindo muito mais que uma etapa
pelo qual está passando. Ao traçar o desenho a criança pode estar nos mostrando
que possuem muita vitalidade e energia ou muita insegurança e timidez, pode ainda
dependendo da continuidade de traçado nos demonstrar decisão e rapidez, ou medo
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em tomar iniciativas, pode demonstrar ainda com traços de avanços e recuos uma
falta de confiança, ansiedade ou incerteza e temor com traços interrompidos e medo
e insegurança quando traça com tremor. Neste contexto deveriam ser estes
aspectos os considerados no momento de olhar o desenho infantil, já que o desenho
realizado pelas crianças não devem ser “corrigidos”, visto não existir um modelo
correto ou perfeito de desenho a ser realizado Lowenfeld (1977, p. 31), destaca
sobre se é ou não conveniente corrigir as falsas proporções:
Quando nós, adultos, dizemos que algo está fora de proporção, é
porque aceitamos como ponto pacífico que a aparência visual, a
maneira como as coisas nos parecem constitui o fator mais
importante. Contudo, sabemos perfeitamente que nossas relações
emocionais com as coisas são muito mais essenciais que sua
aparência. A criança pode, amiúde, não fazer distinção entre
relações visuais e emocionais. Suas proporções revelam o valor que
as coisas têm para ela, em vez das relações visuais propriamente
ditas. [...] Então nunca deveríamos corrigir as proporções? Enquanto
a criança estivesse satisfeita com sua própria expressão, não
deveríamos interferir em seu trabalho, pois isto só serviria para torna
- lá inibida.
Outro ponto que merece destaque é a impressão que o professor tem de
que quanto mais elaborado, mais detalhes, mais desenhos a criança colocar em sua
arte, mais desenvolvimento o aluno tem, aspecto errôneo, pois o excesso de
detalhes pode indicar imaturidade enquanto a falta pode indicar inadequação em
relação á realidade na qual se insere.
Por isso, Lowenfeld (1977) destaca a importância de o professor
perguntar para a criança sobre o desenho, investigar, conversar sobre coisas que
relatou, mas que não aparecem em seu desenho, o contrário de impor padrões ou
de influenciar, condicionar a criança. Seus estudos nos fazem refletir sobre a
relevância dos pais e educadores se empenharem em entender as fases e
transformações do desenho infantil a fim de contribuírem e não interferirem ou
inibirem os processos de criação da criança.
Em um último momento questionamos os professores sobre: “Você
considera importante a análise de desenho para conhecer e compreender seu
aluno?”, as respostas foram unânimes contemplando que sim, um professor (P2)
destacou, porém que este não pode ser a única fonte para que isto aconteça. E
outro (P6) citou que se o aluno faz uma utilização adequada do espaço da folha para
22
realizar um desenho, também o utilizará bem para realizar a escrita. Mèredieu (2006,
p. 62) escreve que:
O desenho manifestou-se logo como expressão da personalidade
como um todo. Signo, traço, índice de uma realidade psíquica não
imediatamente acessível, o desenho torna-se objeto de uma
interpretação, pois o que importa não é mais o grafismo propriamente
dito, mais o que ele designa, o sentido a que se remete. Se o
desenho permite assim aceder à personalidade de seu autor, é
porque ele constitui um lugar privilegiado de projeção.
De acordo com o que os educadores responderam nos questionários, que
apesar de considerarem o desenho como uma forma de investigação e interação
com o aluno, não dominam e por isso não fazem uso da analise do desenho infantil
como recurso para melhorar sua pratica pedagógica.
23
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após discorrermos sobre as principais vertentes a cerca do desenho
infantil, os pontos básicos para a análise deste e investigarmos o que os professores
sabem sobre tal e como se utilizam estes em sala de aula, acreditamos ser possível
fazer algumas considerações a cerca da importância da utilização deste em sala de
aula para uma melhor interação entre professor e aluno.
Nesta perspectiva sendo os objetivos de investigação deste trabalho
baseados em uma proposta de análise da utilização e importância do desenho
infantil em sala de aula, nos torna necessária refletir sobre os resultados obtidos.
Entendemos o desenho como uma forma de linguagem e expressão,
como um palco onde a criança pode expressar seus sentimentos, dramas,
felicidades e dores particulares comunicando-as ao mundo exterior, e sendo assim a
atividade de desenhar funciona para a criança como uma atividade de integração
com o meio em que está inserida. Escreve Derdyk em seu livro as seguintes
palavras de Mario de Andrade que bem se encaixam ao que queremos ressaltar
aqui: “O verdadeiro limite do desenho não implica de forma alguma o limite do
papel, nem mesmo pressupondo margens” (DERDYK, 1994, p. 23, grifo nosso).
O que observamos é que de maneira geral os professores dirigem seu
olhar ao desenho simplesmente buscando observar o que a criança retrata em seu
grafismo, valorizando apenas se o desenho corresponde à realidade, se a criança
desenha “corretamente’ seguindo um esquema de cores e “lógica”. Ou seja, o olhar
do professor se volta somente a avaliar se o desenho cumpre a procedimentos
padronizados que contemplam a o real. Desconsiderando-se assim que um
determinado objeto pode ter variadas percepções, variando de pessoa para pessoa,
sendo importante se considerar os diversos momentos, contextos sociais,
sentimentos dentre outros fatores. Derdyk (1994, p. 50) escreve:
Geralmente o adulto impõe sua própria imagem de infância ao
interpretar o desenho infantil. Esta projeção revela a desatualização
de seu próprio conteúdo. Estático no tempo, o adulto é o oposto da
criança que está continuamente em movimento. A transformação
física psíquica e emocional incita a criança a um estado de atenção
para o mundo.
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O que fica claro á nosso olhar, é que o professor analisa o grafismo da
criança apoiado nas concepções e conhecimentos que têm sobre o desenho
enquanto linguagem, estas adquiridas em experiências particulares, ou durante sua
formação e vida profissional, e são estes conhecimentos e concepções acerca do
grafismo infantil que faz o professor estabelecer um dialogo com a criança sobre seu
desenho, utilizando este como uma forma de interação com seu aluno.
O que
observamos é que o despreparo e a falta de conhecimento sobre o desenho como
objeto de investigação por parte dos educadores relegam o desenho apenas a
momentos de folga, ou para preencher um tempo em sala de aula, não o utilizando
em sua essência. Derdyk (1994, p. 107) escreve:
O sistema escolar, de uma forma geral, encara o desenho como um
manual de exercícios com fins utilitários e pedagógicos bem
definidos e determinados. Simplesmente exercita-se, de maneira
impessoal, o desempenho e a eficiência da mão e do olho. A
destreza a técnica são componentes fundamentais dentro deste
sistema de pensamento. O desenho acaba perdendo a possibilidade
do significado lúdico e sua carga simbólica.
Assim o que observamos é a necessidade de uma discussão mais ampla
acerca do desenho infantil nos cursos de formação dos educadores, estes devem ter
o mínimo de conhecimento sobre a utilização do desenho infantil dentro de sala de
aula, de como este pode o auxiliar em suas atividades auxiliando-o na interação
como seu aluno, proporcionando entender este, suas aflições, desejos, medos e
sonhos, visto que o professor é o responsável por proporcionar a oportunidade de a
criança expressar-se, pois assim estarão proporcionando que ela elabore seu
pensamento, expressando também sua concepção de mundo, alegrias, tristezas
coisas que podem ser difícil de serem expressas oralmente.
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REFERÊNCIAS
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S.; ROSIN, S. M. Psicologia e educação: compartilhando saberes. Maringá:
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1997.
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educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
LOWENFELD, V. A criança e sua arte. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
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PIMENTA, S. G. O estágio na formação de professores: unidade teórica e
prática? 3. ed. SãoPaulo: Cortez, 2005.
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escolha de técnicas: algumas reflexões. In: LANG, Alice Beatriz da S. G. Reflexões
sobre a pesquisa sociológica. São Paulo: CERU, 1992. (Textos CERU. Série 2; n.
3).
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da
desigualdade entre os homens. Tradução por Lourdes Santos Machado. 5. ed.
São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 215-320. (Coleção Os pensadores, 6 ).
26
______. Emílio ou da educação. Tradução por Sérgio Milliet. 3. ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1995.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Trad. José Cipolla Neto et al. São
Paulo: Martins Fontes, 1984.
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DESENHO INFANTIL: forma de interação professor e aluno