Organização do Tratado de Cooperação Amazônica Fundo para o Meio Ambiente Mundial Universidade Federal do Pará Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente Grupo de Estudos Marinhos e Costeiros PROJETO GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS HÍDRICOS TRANSFRONTEIRIÇOS NA BACIA DO RIO AMAZONAS CONSIDERANDO A VARIABILIDADE E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS OTCA / GEF / PNUMA GEF-AMAZONAS Subprojeto III. 2. Prioridades Especiales sobre la Adaptación Atividade III.2.3. Adaptation to Sea Level Rise in the Amazon Delta Relatório Produto 2: Levantar informações sobre as políticas de adaptação às mudanças no Brasil Levantar informações sobre as medidas que estão sendo tomadas Belém/PA Outubro – 2014 PROJETO GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS HÍDRICOS TRANSFRONTEIRIÇOS NA BACIA DO RIO AMAZONAS CONSIDERANDO A VARIABILIDADE E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS OTCA / GEF / PNUMA GEF-AMAZONAS Subprojeto III. 2. Prioridades Especiales sobre la Adaptación Atividade III.2.3. Adaptation to Sea Level Rise in the Amazon Delta Relatório Produto 1: Levantar informações sobre as políticas de adaptação às mudanças no Brasil Levantar informações sobre as medidas que estão sendo tomadas Coordenador Maâmar El Robrini Consultor (a) Melissa do Socorro Fonsêca da Silva Belém/PA Outubro – 2014 PROJETO GESTÃO INTEGRADA E SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS HÍDRICOS TRANSFRONTEIRIÇOS NA BACIA DO RIO AMAZONAS CONSIDERANDO A VARIABILIDADE E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS OTCA / GEF / PNUMA GEF-AMAZONAS Subprojeto III. 2. Prioridades Especiales sobre la Adaptación Atividade III.2.3. Adaptation to Sea Level Rise in the Amazon Delta OBJETIVO GERAL DO SUBPROJETO: - Elaborar estudos sobre as Técnicas de adaptação à subida do nível do mar aplicada no mundo. OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO SUBPROJETO: - Criar um banco de dados e de referências bibliográficas sobre as Técnicas de adaptação. - Verificar quais as medidas que estão sendo tomadas. - Avanços sobre a subida do nível do mar no Atlântico Sul (Brasil e outros). - Políticas de adaptação às mudanças no Brasil. - Políticas de adaptação às mudanças na América Latina. OBJETIVO DO PRESENTE DOCUMENTO: • Apresentação do PRODUTO 2: Levantar informações sobre as políticas de adaptação às mudanças no Brasil e Levantar informações sobre as medidas que estão sendo tomadas. . I. APRESENTAÇÃO Este relatório faz referência ao Produto 1 da atividade III.2.3. Adaptação à subida do nível do mar no Delta do Amazonas que faz parte do projeto GEF Amazonas: Gestão Integrada e Sustentável dos Recursos Hídricos Transfronteiriços da Bacia do Rio Amazonas considerando a Variabilidade e a Mudança Climática. O objetivo geral desta atividade é elaborar estudos sobre as diversas Técnicas de adaptação à subida do nível do mar aplicada no mundo. Com isso o objetivo específico deste produto 2, o qual faz parte do relatório sobre as iniciativas desenvolvidas no mundo para conter o avanço do mar sobre as zonas costeiras, foi o levantamento de informações sobre as políticas de adaptação às mudanças no Brasil (a nível federal, estadual e municipal/instalados na ilha de Marajó); e informações sobre as medidas que estão sendo tomadas. 1. INICIATIVAS E POLÍTICAS DESENVOLVIDAS NO MUNDO SOBRE A ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Segundo o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), Clima é geralmente definido como tempo meteorológico médio ou descrição estatística em termos da média e da variância, de quantidades relevantes e mudanças no tempo meteorológico num período de tempo que vai de meses a milhões de anos. Em um sentido mais amplo é o estado do sistema metereológico, incluindo a análise estatística (IPCC, 2012). Por sua vez a Mudança do Clima, também como termo usado pelo IPCC, refere-se a qualquer mudança do clima que ocorra ao longo do tempo em decorrência da variabilidade natural ou da atividade humana. Esse uso difere do da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em que mudança do clima se refere a uma mudança do clima que possa ser atribuída direta ou indiretamente à atividade humana e que altere a composição da atmosfera global, sendo adicional à variabilidade climática natural observada ao longo de períodos comparáveis de tempo (IPCC, 2007). De acordo com o IPCC (2007), e num contexto ligado às alterações climáticas, a Adaptação pode ser definida como o ajustamento nos sistemas naturais ou humanos, em resposta a estímulos (ou efeitos) climáticos atuais ou esperados, que minimizam efeitos adversos ou exploram oportunidades benéficas. Para a UNFCCC (2007), a Adaptação “é um processo através do qual as sociedades se tornam mais capazes de lidar com um futuro incerto. A adaptação às alterações climáticas implica a tomada das medidas certas para reduzir os efeitos negativos das alterações climáticas (ou explorar os positivos) efetuando os ajustamentos e alterações apropriadas”. A definição de Adaptação na Lei Estadual Nº. 14.090, de 2010, é entendida como um “conjunto de iniciativas e estratégias que permitem a adaptação, nos sistemas naturais ou criados pelos homens, a um novo ambiente, em resposta à mudança do clima atual ou esperada”. As ações de adaptação têm uma temporalidade indefinida, uma vez que tem em vista lidar com problemas atuais, de um clima já em mudança, ou com alterações que venham a ocorrer, antecipando o futuro (CCE, 2007). A adaptação pode ser orientada para a redução dos potenciais impactes das alterações climáticas nos sistemas naturais e humanos, no sentido de se reduzir a vulnerabilidade geral, ou de se aumentar a capacidade de adaptação, propriamente dita (Swart, et al. 2009). Capacidade de adaptação é a competência de um sistema de se ajustar à mudança do clima (inclusive à variabilidade climática e aos eventos extremos de tempo), moderando possíveis danos, tirando vantagem das oportunidades ou lidando com as consequências (IPCC, 2007). A Terra sempre esteve sujeita às mudanças no clima, seja por ciclos curtos ou longos de aquecimento e glaciação causados por fenômenos naturais. Devido à dinâmica existente na paisagem da zona costeira, seja em curta ou longa escala de tempo, o nível do mar é um parâmetro de relevante importância no estudo das mudanças climáticas. Observações das características dos oceanos têm comprovado as mudanças no clima ao longo dos anos. Entre elas, destacam-se, mudanças na temperatura do gelo do Ártico; mudanças na distribuição das precipitações e salinidade dos oceanos; mudanças nos padrões de ventos e eventos extremos do clima, como secas, precipitações intensas, ondas de calor e intensidade dos ciclones tropicais (IPCC, 2007). Estudos realizados na zona costeira motivados pela elevação do nível do mar como o realizado por Titus et al. (1987) abordaram um estudo de caso em Charleston (Carolina do Sul) e Fort Walton Beach (Flórida) com uma análise detalhada da vulnerabilidade do sistema de drenagem decorrente da elevação do nível do mar. De acordo com os autores um projeto de adequação do sistema de drenagem seria menos dispendioso se comparado aos custos de reconstrução do sistema. Segundo Nicholls & Mimura (1998) em uma análise regional dos efeitos provocados pela elevação do nível do mar na Europa, Oeste da África, nas pequenas ilhas do Pacífico e no Sul, Sudeste e Leste da Ásia identificaram que a visão em escala regional é favorável à resposta de medidas mitigadoras mais significativas, sendo considerado um benefício. Além disso, os impactos comuns compartilhados entre os países poderiam oferecer oportunidades de integração de experiências, recursos e medidas mais eficazes de adaptação. Para Nicholls & Klein (2005) a abordagem do estudo foi para o desafio do gerenciamento costeiro da costa europeia frente à problemática das mudanças climáticas e alteração do nível do mar. Os quais evidenciaram que os problemas apresentam dimensões e soluções diferentes para cada região, cuja proposta de trabalho seria de gestão com metas explícitas e adaptadas às especificidades de cada região. Herbeger et al. (2009) analisaram o risco que a população, infraestrutura e bens estariam sofrendo devido ao aumento do nível do mar na costa da Califórnia, Estados Unidos. Os resultados apontaram que a sobrelevação do nível do mar provocaria alterações na costa e comprometimento de estruturas como rodovias, por exemplo. Com isso avaliaram o custo decorrente dos impactos provocados pelo avanço do mar, e apontaram medidas estruturais e não-estruturais que poderiam ser adotadas para a redução desses riscos. A avaliação das consequências da elevação do mar de países costeiros da Ásia Oriental, Pacífico, Oriente Médio, Norte da África, América Latina, Caribe, foram considerados por Dasgupta et al. (2009) como cenários de elevação a variação de 1 m a 5 m. O estudo apresentou áreas com graves impactos como Vietnã, Egito e Bahamas. Além de que a elevação do mar vem acompanhada de danos econômicos e ecológicos. Os autores concluíram que a solução seria a adoção imediata de ações de adaptação e planejamento para minimizar os possíveis impactos decorrentes da elevação. As mudanças climáticas têm sido apontadas como uma das maiores questões de política internacional da atualidade. Diante disso, em âmbito internacional, foram realizados instrumentos (tratados internacionais) que discutem as mudanças climáticas, com o objetivo de construir um sistema normativo para que os Estados concretizem meios para a busca da proteção do clima. Com isso políticas de adaptação ao clima vêm sendo abordado em um contexto internacional a fim de reforçar as ações de planejamento dos governos. Dentre essas ações foi lançada em 2008, pelo então prefeito de Nova York, Bloomberg, uma “Forçatarefa para adaptação às mudanças climáticas” que tem como objetivo iniciar estudos sobre medidas necessárias para reforçar a segurança de Nova York principalmente no que se refere à vulnerabilidade, como por exemplo, ao aumento do nível do mar e às altas temperaturas (www.mudancasclimaticas.andi.org.br). De acordo com o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), esse Plano de Nova York foi inspirado em boas práticas de outras cidades. O documento aponta que de Londres, Estocolmo e Singapura surgiu o programa de redução do congestionamento no tráfego comercial; de Berlim as políticas de energia renovável e de incentivo à instalação de painéis solares; de Copenhague a atualização das vias para pedestres e ciclistas; de Chicago e Los Angeles o projeto de plantar mais um milhão de árvores, por exemplo. Várias novas políticas de adaptação ao clima e estratégias federais têm sido desenvolvidos nos últimos anos. Tais agências federais estão obrigadas a planejar ações para a adaptação. As Ações incluem esforços coordenados na Casa Branca, regional e esforços intersetoriais, planos de adaptação específicas da agência, bem como suporte para o planejamento de adaptação a nível local. Mais recentemente o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, divulgou uma série de iniciativas para melhorar as defesas do país contra as mudanças climáticas. A declaração foi dada durante um encontro com a Força-Tarefa da Casa Branca para Resiliência e Prevenção das Mudanças Climáticas, que contou com a participação de líderes estaduais, locais e tribais. Segundo um informativo da Casa Branca, o sistema de mapeamento tridimensional, por exemplo, será capaz de ajudar no planejamento dos recursos hídricos, na mitigação da erosão litorânea e na identificação de áreas de deslizamento (Instituto Carbono Brasil, 2014). Conforme a Casa Branca, as agências federais vão examinar suas políticas e programas para facilitar que cidades e estados se fortaleçam contra a mudança do clima. Elas deverão identificar e remover obstáculos a investimentos voltados para a resiliência e, por exemplo, impedir que a reconstrução após desastres naturais siga padrões antigos. “Vamos ajudar as comunidades a melhorarem suas redes elétricas, construírem diques e barreiras naturais mais fortes e protegerem suas fontes hídricas”, comentou o presidente dos EUA. As ações dos estados também levam em conta as mudanças climáticas em futuros esforços de planejamento para desastres naturais, como os do furacão Katrina e da tempestade Sandy (Figuras 1 e 2). Figura 1. Estragos deixados pelo furacão Katrina. Fonte: Instituto Carbono Brasil (Wikimedia Commons), 2014. Figura 2. Casas destruídas na tempestade Sandy. Fonte: Instituto Carbono Brasil (Wikimedia Commons), 2014. O Gabinete de Planejamento do estado do Havaí, por exemplo, em cooperação com a universidade, privado, estatal, e os cientistas federais e outros, tem elaborado um quadro para a adaptação às alterações climáticas que identifica setores afetados pela mudança climática, e descreve um processo para planejamento de adaptação estadual coordenada. No Alligator River Refuge os serviços Fish and Wildlife Service e The Nature Conservancy estão cooperando em um projeto de adaptação para lidar com erosão e intrusão de água salgada, além de outras questões ligadas as mudanças do clima. Este projeto incorpora várias agências, conhecimentos nativos, o envolvimento da comunidade, a economia local, e precisão técnica (Bierbaum et al. 2013). O Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DOD, na sigla em inglês) tem quase 7,6 mil instalações militares espalhadas por todos os 50 estados do país, além de 40 nações estrangeiras. Elas desempenham diversas funções, mas todas têm uma coisa em comum: mudanças climáticas. Os militares já tomaram algumas medidas. O planejamento para impactos gerados por alterações climáticas está sendo incorporado a planos mestres básicos ao redor do mundo e projetos de energia renovável apareceram em algumas instalações, reduzindo as emissões de gases de efeito (Scientific American Brasil, 2014). Além dos muros de suas bases, o Pentágono também reconheceu que as mudanças climáticas representam uma ameaça à segurança nacional e está analisando opções para lidar com as alterações que já ocorrem. Como exemplo podemos citar o que vem ocorrendo na Base Aérea de Edwards, cujo leito do lago usado como pista de emergência foi inundado por enchentes (Figura 3). Figura 3. O leito de um lago usado como pista de emergência na Base Aérea de Edwards, inundado por enchentes, não secou completamente durante 8 meses. U.S. Air Force (Força Aérea dos Estados Unidos). Fonte: Scientific American Brasil, 2014. A União Europeia aprovou, em dezembro de 2008, um plano com metas próprias de combate às mudanças climáticas. Swart et al. (2009) descrevem uma visão geral das estratégias nacionais de adaptação na Europa (Tabela 1). No início de 2009, nove Estados-Membros da União Europeia desenvolveu uma Estratégia Nacional de Adaptação, enquanto vários outros estavam em processo de desenvolvimento. As versões projeto do Reino Unido e da Alemanha foram utilizados na análise e atualizado após a aprovação governamental. Tabela 1. Visão geral das estratégias nacionais de adaptação na Europa de acordo com Swart et al. (2009): RESPONSABILIDADE PAÍS ESTRATÉGIAS NACIONAIS DE ADAPTAÇÃO (NAS) ANO PELO DESENVOLVIMENTO DAS (NAS) Alemanha Estratégia Alemã para se adaptar ao A mudança climática (BMU, 2008) Estratégia Dinamarca para adaptação 2008 (Agência de Energia Dinamarquesa 2008 Ambiente, apoiado pela do Ambiente, mudado em 2008 para Ministério da Energia e Ministério Alterações Climáticas (NAPCC, 2008 2006) do Ambiente; Nacional Meio Escritório de Mudanças Climáticas Grupo de trabalho para a Estratégia Nacional da Finlândia para Adaptação ao Clima Mudança 2005 (Marttila et al. 2005) elaboração do NAS no âmbito Ministério da do Agricultura e Florestas Observatório Estratégia Nacional de Adaptação França Meio Clima Plano Nacional de Adaptação às Finlândia Meio Ministério de 2008) Espanha do Agência Ambiental Federal às alterações climáticas na Dinamarca Ministério as Mudança Climáticas (ONERC Nacional dedicado aos efeitos do aviso 2007 2007) clima (ONERC); Delegado Interministerial para o desenvolvimento sustentável Hungria Estratégia Nacional para as Alterações Climáticas 2008 Não incluso A adaptação às alterações climáticas no planejamento Holanda Abra espaço para o clima! (VROM, 2007) 2007 espacial programa (ARK), coordenado pelo Ministério da Habitação, Ordenamento do Território e do Ambiente Adaptação às alterações climáticas Reino na Inglaterra. Um quadro de ação Unido Departamento de Alimentos, 2008 (DEFRA, 2008) Guia para Adaptação às Alterações Romênia Climáticas Assuntos Rurais e do Ambiente (DEFRA) 2008 Não incluso A Alemanha por sua vez desenvolveu políticas nacionais e trabalhou com seus parceiros na União Europeia para formular respostas de abrangência continental aos desafios postos pelas mudanças climáticas. A Ponte Climática estabelece conexões bilaterais com os Estados Unidos e o Canadá. Uma parcela significativa da cooperação alemã com países em desenvolvimento e economias emergentes diz respeito a soluções climáticas. A Alemanha criou e garantiu negócios e empregos e forneceu soluções para os outros adaptarem e adotarem ao estabelecer políticas eficientes no país, desenvolver novas tecnologias e serviços (Kraemer, 2009). Os primeiros estudos sobre os impactos das alterações climáticas na África demonstraram que as alterações climáticas têm consequências para as regiões costeiras, especialmente nas pequenas ilhas e zonas costeiras em baixa altitude. Ao longo do litoral Guineense verifica-se um aceleramento do fenômeno erosivo e degradação dos ecossistemas costeiros aumentando consideravelmente a fragilidade e susceptibilidade da zona. O desenvolvimento da gestão costeira e a utilização dos recursos marinhos costeiros começaram a constituir agenda do governo guineense no início nos anos 80, esta preocupação passou a ser expressa quando se pensou numa Estratégia Nacional de Conservação (ENC). Esta Estratégia visa mobilizar instrumentos técnicos políticos e administrativos, avaliar reais prioridades para o desenvolvimento, identificar os conflitos de interesses entre os vários seguimentos sociais, prever as disponibilidades, gerir os recursos para a satisfação das necessidades da população e depois propor investimentos economicamente viáveis (Biai, 2009). Alguns países Africanos já efetuaram os estudos das avaliações da Vulnerabilidade/Adaptação (V & A), em conformidade com os compromissos assumidos no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC), a maioria desses estudos incidiu sobre os impactos do aumento do nível do mar erosão costeira e inundações. O Programa Ação Nacional da Adaptação (PANA) é um instrumento ativo na política nacional dentro das mudanças climáticas e, cujo papel é de propor atividades urgentes que devem ser implementadas para aumentar a capacidade de adaptação e resistência dos efeitos extremos na África. O PANA descreve como estratégias e medidas de adaptação às mudanças climáticas: I. Necessidade de investigação, com vista a conhecer as melhores técnicas, sobretudo tradicionais e modernas de exploração de recursos marinhos de modo a assegurar o uso sustentável dos stocks de importância comercial, diminuindo assim a pressão sobre esses recursos; II. Definição de uma gestão eficiente dos recursos marinhos vivos do país e implementação imediata de medidas de conservação, para minimizar a sensibilidade da fauna haliêutica à mudança climática; III. Promoção em fase experimental da aquicultura em nível de zona costeira. É igualmente provável que certas regiões sejam fortemente afetadas pelas alterações climáticas. A África é considerada uma das regiões mais vulnerável às alterações climáticas devido à sua baixa capacidade adaptativa. Os mega deltas Asiáticos e Africanos também estarão em grande risco devido a serem altamente povoados e terem grande exposição à subida do nível do mar, tempestades costeiras e inundações ribeirinhas (OCDE, 2011). Desde a década de 80, o país tem realizado diversos programas de desenvolvimento que tentam lidar com a variabilidade climática. As iniciativas mais relevantes chefiadas ou em parceria com o governo nacional incluem projetos nos setores agrícola, hídrico e ambiental, bem como o primeiro projeto relativo às alterações climáticas entre fronteiras, na zona costeira da Guiné-Bissau, e encontram-se descritos na Tabela 2 (Guinea-Bissau LDCF FSP, 2011). Tabela 2. Resumo das áreas das iniciativas referentes às alterações climáticas em Guiné-Bissau. Setor Programa Atividades incluem Adaptação às mudanças Gestão integrada da área climáticas – resposta à costeira, cobrindo Cabo mudança na linha costeira e a Verde, a Gâmbia, a Guinésua dimensão humana na Bissau, a Mauritânia e o África Ocidental Senegal (3,3 milhões de Mudanças Climáticas dólares, projeto do PNUD/GEF iniciado em 2008) UNFCCC Apoio para a criação da Comunicação Nacional para Adaptação (PNUD/GEF) As zonas costeiras, especialmente os mega deltas da Ásia e África, zonas urbanas costeiras de baixa altitude e atóis são também particularmente vulneráveis aos impactos da subida do nível médio da água do mar, tempestades costeiras e aumento na intensidade de ciclones em algumas regiões. Estes aumentos na exposição aos riscos das alterações climáticas são justapostos à já presentemente alta (e em crescimento) vulnerabilidade das zonas costeiras, onde vive cerca de 23% da população mundial e têm densidades populacionais três vezes superiores à média global (OCDE, 2011). O Plano Nacional de Enfrentamento de Mudanças Climáticas da China foi lançado pelo governo chinês em 2007 com os seguintes objetivos: a) as políticas e medidas relativas ao controle das emissões de gases do efeito estufa deverão atingir resultados significativos; b) a capacidade de adaptação às alterações climáticas deve ser avançada; c) as pesquisas relacionadas às mudanças climáticas devem ser promovidas novos desenvolvimentos científicos relacionados às mudanças climáticas devem ser alcançados. Com isso a China tem adotado políticas pró-ativa e tomado medidas para retardar o processo de mudança climática. O país adotou ajustamentos na estrutura econômica, mudou os padrões de desenvolvimento, economizou energia e aumentou sua eficiência, otimizou a matriz energética e promoveu o reflorestamento, estas foram as medidas mais relevantes realizadas ( Conselho de Estado da China, 2009). A China tem elaborado e estabelecido mecanismo de tomada de decisão e de coordenação de gestão ampla para então se adaptar aos impactos adversos das alterações climáticas. Além da criação de uma rede de observação multidimensional dedicada ao ambiente marinho melhorando assim o seu controle e adaptação. Dentre as leis adotadas podemos citar a Lei de Proteção do Ambiente Marinho, a Lei sobre o Uso e Administração de Zonas Marítimas, o Sistema Geral do Plano de Desenvolvimento para a Interação Ar-Mar. 2. POLÍTICAS DE ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO BRASIL O primeiro grande passo em matéria de alterações climáticas foi dado em 1979, durante a Primeira Conferência do Clima, com o estabelecimento do programa Mundial para o Clima, tendo sido reconhecida a existência deste fenômeno e a seriedade do problema das emissões antropogênicas de GEE. O Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) estabelecido em 1988 exerceu uma influência fundamental no debate e tomada de decisão sobre mudanças climáticas, representando a reafirmação perante a opinião pública do mundo sobre a importância de ações concretas, tem sido muito importantes como roteiro no debate e orientação das políticas públicas implementadas e que estão sendo elaboradas pelos diversos governos em todo o mundo. O objetivo do IPCC é revisar e avaliar informações científicas, técnicas, sociais e econômicas para aumentar o entendimento da sociedade sobre os impactos da mudança do clima, incluindo os impactos na saúde. Essas informações são importantes para as políticas públicas, inclusive para o Brasil, uma vez que, tendem a promover confiança para os tomadores de decisão (IPCC, 2012). A mudança do clima pode ser considerada como um dos principais desafios globais a serem evitados nesse e nos próximos séculos. O contexto internacional e nacional conduz à conclusão de que são necessárias políticas públicas para enfrentar os desafios associados à mitigação e à adaptação à Mudança do Clima. Torna-se relevante a mobilização de esforços para reduzir a possibilidade dos cenários menos otimistas apresentados nesses Relatórios de Avaliação como os do IPCC. A Rede Internacional de Ação pelo Clima (CAN), formada por mais de 360 organizações não-governamentais em 85 países, defende que países em desenvolvimento, como o Brasil, devem adotar a Trilha da Descarbonização, com crescimento segundo parâmetros de sustentabilidade e de redução de emissões. E somente com o controle intensivo do desmatamento mundial, responsável por 25% das emissões anuais de gás carbônico, e com a redução maciça da queima de combustíveis fósseis, será possível manter o aumento da temperatura do planeta abaixo do limite de 2º C (CAN, 2006). A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) realizada no Rio de Janeiro em 1992 foi considerada um marco na questão das mudanças climáticas no Brasil, confrontando os temas do desenvolvimento e meio ambiente. Outro mecanismo divisor no esforço da redução de emissões de gases de efeito estufa foi a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, criada em 1992 e regulamentada em 1997 pelo Tratado de Quioto – reconhecido legalmente pelo Brasil. O Tratado de Quioto é considerado uma das subsequentes ações diplomáticas em torno do aquecimento global, este foi adotado em 1997 durante a COP3 no Japão e ratificado em fevereiro de 2005. O Tratado de Quioto tem por objetivo reduzir as emissões de GEEs (Gases do Efeito Estufa) de países do Anexo I em 5,2% dos níveis de emissão em relação ao ano de 1990 (MCTI, 2012). É dito também como o principal programa de combate às alterações climáticas e representa o principal avanço obtido nesta Convenção, estabelecendo limites para a emissão de GEE negociado em 1997, assinado por praticamente todos os países, e ratificado por uma grande maioria, o Tratado de Quioto entrou em vigor em 2005. A criação da Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima em 1999 teve a finalidade de articular as ações de governo decorrentes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e seus instrumentos subsidiários de que o Brasil seja parte, é um importante passo para o estabelecimento de diretrizes políticas para o enfrentamento das mudanças climáticas (MCT, 2007). A criação do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), através do ato de decreto presidencial de 2000, foi um marco legal importante para as discussões e aconselhamento ao poder central para: “Conscientizar e mobilizar a sociedade para a discussão e tomada de posição sobre os problemas decorrentes da mudança do clima, bem como sobre o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (CDM), ratificado pelo Congresso Nacional em 1994” (BRASIL, 2007). O Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM) criado por decreto presidencial no ano de 2007 é de caráter permanente e com o objetivo de orientar a elaboração da Política e do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, bem como sua implementação, monitoramento e avaliação. O seu papel principal é de coordenador geral das ações de mitigação a serem elaboradas no âmbito do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, conferindo-lhe, a princípio, o papel de regulamentador. Com isso o resultado direto da criação do Grupo Executivo sobre Mudança do Clima, o qual é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, foi o encaminhamento, ao Poder Legislativo, no dia 05 de junho de 2008, de proposta para a criação da Política Nacional sobre Mudança do Clima, por meio do Projeto de Lei n. 3535/2008 (BRASIL, 2008). A Rede Clima (Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais) criada em 2007 e posteriormente alterada no ano de 2011 onde foram instituídos os objetivos de: a) criar, bem como disseminar, conhecimentos e tecnologias em torno da temática do clima para preparar o Brasil diante do problema da mudança climática; b) produzir dados e informações com o fim de apoiar a diplomacia brasileira nas negociações sobre o regime internacional de mudanças do clima; c) efetuar estudos sobre os impactos das mudanças climáticas globais e regionais no Brasil e; d) contribuir para a formulação e acompanhamento de políticas públicas sobre mudanças climáticas globais em todo o território brasileiro, dentre outros (Bichara & Lima 2012). Com isso, a Rede Clima detém a precipitação de implementar no Estado, informações científicas e desenvolvimento tecnológico para atender plenamente às necessidades nacionais de conhecimento, incluindo a produção de informações para formulação e acompanhamento das políticas públicas sobre mudanças climáticas e o apoio à diplomacia brasileira nas negociações sobre o regime internacional de mudanças climáticas (INPE, CCST, 2009). A Comissão Mista Permanente Sobre Mudanças Climáticas (CMMC) foi criada em 2008 sendo composta por um Colegiado que tem realizado importantes debates e fiscalizado a atuação do Poder Executivo para enfrentar as causas e os efeitos da mudança do clima. A Política Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC) foi definida em 2009 e dentre os aspectos fundamentais desta lei, então regulamentada em 2010, está à necessidade de se criar planos setoriais de mitigação e adaptação às mudanças do clima. Seu objetivo é apresentar e discutir os princípios e estrutura de governança dos fundos das políticas nacional, estadual e municipal em mudanças climáticas. O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT) em seu relatório 2011 – 2013 descrevem que a principal meta do é fornecer informação científica de alta qualidade necessária para a) compreender o funcionamento do clima, sua variabilidade e suas mudanças e b) subsidiar as políticas públicas de mitigação e adaptação em níveis local, nacional e internacional. A Audiência pública da Câmara dos Deputados discute sobre as medidas de adaptação do Brasil às mudanças climáticas. De acordo com o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Carlos Nobre, afirmou que as adaptações não podem ser feitas espontaneamente ou como um incremento depois da ocorrência de fenômenos extremos, mas devem ser pensadas de maneira “transformacional”. E acrescenta ainda que “Se mudanças estão acontecendo mais rapidamente, temos que mudar as nossas estratégias de adaptação”. O Greenpeace avaliou o Plano Nacional sobre Mudança do Clima e apontou os pontos fracos do documento e sugeriu modificações. Dentre as medidas de adaptação que devem ser implementadas tendo em vista que nos próximos anos, entre outros efeitos, o nível do mar poderá subir estão: I. Realizar o mapeamento de vulnerabilidades nos setores da agricultura, zona costeira, biodiversidade, recursos hídricos, geração de energia elétrica, desertificação e áreas urbanas; II. Utilizar o mapeamento de vulnerabilidades como base para a criação e implantação de um plano de medidas de adaptação dos setores da agricultura, zona costeira, biodiversidade, recursos hídricos, geração de energia elétrica, desertificação e áreas urbanas; III. Alocar recursos e estabelecer cronograma com os governos municipais, até 2010, para o desenvolvimento de planejamento urbano de prevenção e adaptação às mudanças climáticas, incluindo sistemas de alerta para orientar a população em caso de eventos climáticos intensos, como enchentes, desabamentos e elevação do nível do mar; IV. Estimular políticas municipais e estaduais para a adoção de metas de emissões antrópicas de gases do efeito estufa emitidos nos centros urbanos. O WWF – Brasil vem desenvolvendo uma estratégia de adaptação às mudanças climáticas que aposta na integração de instrumentos e políticas ambientais brasileiras e que também resulte em ações práticas passíveis de implementação e acompanhamento de resultados. O Centro de Estudos em Sustentabilidade da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (GVCes- FGV) organizou em 2013 o “Fórum Latino Americano de Adaptação à Mudança do Clima”, com o propósito de aprofundar o conhecimento a respeito da esfera da adaptação das mudanças do clima. Nele, o professor Mauro Monzoni alertou para a pouca atenção que se dá para o tema da adaptação. No âmbito dessa parceria foram desenvolvidos os seguintes estudos: I. Estudo contendo mapeamento de informações disponíveis sobre projeções climáticas e socioeconômicas, impactos, vulnerabilidades e adaptação; II. Estudo contendo mapeamento e descrição de principais atores envolvidos no tema de adaptação; III. Estudo contendo mapeamento de iniciativas e planos governamentais no tema de adaptação; IV. Estudo sobre dimensões temporal, espacial e temática no planejamento de adaptação. O Instituto Direito por um Planeta Verde, organização civil que congrega juízes, membros do Ministério Público, advogados públicos e privados, professores universitários e estudantes de direito, de direito, com destacada atuação na defesa do meio ambiente, tem prestado relevante contribuição na discussão dessa problemática, nacional e internacionalmente, e na definição de medidas que devam ser implementadas. Dentre as inúmeras iniciativas do Instituto nessa área destaca-se o projeto “Direito e Mudanças Climáticas”. Outras iniciativas que podemos citar estão o Grupo Vale que estabeleceu o compromisso para a gestão dos riscos e impactos das mudanças climáticas. Dentre seus compromissos temos a publicação anual do inventário das emissões de gases de efeito estufa das empresas do Grupo Vale, bem como as ações para mitigação de emissões e adaptação às mudanças climáticas. O Grupo de Pesquisa em Mudança Climática (GPMC), liderado pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) tem como objetivo o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao tema, incluindo estudos de monitoramento para caracterizar o clima do presente e sua variabilidade em longo prazo, assim como projeções de cenários futuros para modelamento do clima, de acordo com variadas taxas de emissões de gases de efeito estufa. Com o objetivo de lutar pela mitigação e adaptação aos efeitos das mudanças climáticas, a Aliança Brasileira pelo Clima: Agricultura – Florestas Plantadas – Bioenergia assume a posição sobre as negociações ligadas à Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Suas recomendações estão ligadas ao regime internacional que deverá ser definido pelas negociações no âmbito da Convenção do Clima; e recomendações para ações no plano interno. A terceira edição do International Climate Change Adaptation Futures 2014 foi realizada em Fortaleza. Este evento é promovido pelo Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) o qual faz parte do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/MCTI) e pelo Programa das Nações Unidas para Estudos sobre Vulnerabilidade, Impactos e Adaptações às Mudanças Climáticas. O foco desta conferência foram discussões dos impactos do clima e as opções de adaptação. Na ocasião foram compartilhadas abordagens, métodos e resultados de pesquisa sobre este tema, com o intuito de explorar qual o melhor caminho a seguir já que os impactos das mudanças climáticas são cada vez mais visíveis e as ações de adaptação são cada vez mais necessárias, complementa José Marengo chefe do CCST/INPE. 2.1 ALINHAMENTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS EXISTENTES NO BRASIL O Brasil tem avançado significativamente na implementação de políticas climáticas e desempenha um papel importante no cenário internacional. Vários estados da Federação adotaram leis para: incentivar a redução de emissões; estimular a proteção das florestas; e promover o desenvolvimento e a adoção de tecnologias menos energointensivas (IPEA, 2012). Diversos estados brasileiros já possuem suas próprias políticas, das 27 unidades da federação brasileira, 12 já criaram suas políticas. O enfrentamento eficaz dos impactos advindos das mudanças globais demanda das esferas estaduais e municipais e o mapeamento das vulnerabilidades em escala local. Deve ao Governo Federal, portanto, induzir os governos locais a se prepararem para o processo de adaptação aos impactos das mudanças climáticas, o que inclui o incentivo à produção de conhecimento local sobre a vulnerabilidade dos estados e municípios. A maioria dos governos locais apresenta baixa capacidade institucional de lidar com várias ameaças como os impactos provocados pelas mudanças climáticas. Mesmo assim, vale ressaltar que os governos locais são tidos como uma das unidades fundamentais para o enfrentamento das causas e consequências dos impactos por estarem próximos de onde essas atividades e eventos se manifestam (Wilbanks & Kates, 1999; Robinson & Gore, 2005; Satterthwaite et al., 2007; Puppim de Oliveira, 2009). Segundo Ferreira (2003), vários governos ainda não estão suficientemente equipados para enfrentar os problemas ambientais globais e locais, principalmente no que diz respeito às mudanças ambientais globais. Com isso os governos estaduais começam a criar fóruns permanentes para tratar das mudanças climáticas, o que corrobora a afirmação da preocupação com essa questão. Entre os Estados que já contam com uma política de mudanças climáticas regulamentadas por lei, há diferentes graus de desenvolvimento com relação à sua implantação e execução. Dentre as regiões do Brasil temos o estado do Rio de Janeiro, que, por exemplo, tem se destacado no cenário nacional como pioneiro na instituição de uma série de instrumentos e medidas (mercado de ativos ambientais, registro público de emissões de GEE corporativas condicionado ao licenciamento ambiental, metas global e setorial de emissões de GEE para o Estado, exigência de plano de mitigação das empresas instaladas para renovação das licenças ambientais, criação de polo de empresas de tecnologia e informação alimentadas por energias renováveis, entre outros). A Política Estadual de Mudanças do Clima foi regulamentada para o estado de São Paulo, cuja lei prevê a criação do Registro Público de Emissões, com o objetivo de estabelecer critérios mensuráveis e o transparente acompanhamento do resultado de medidas de mitigação. A Secretaria do Meio Ambiente é responsável por coordenar a definição de indicadores ambientais que permitam avaliar os efeitos da aplicação da lei e publicar os resultados. Os instrumentos legalmente previstos no que diz respeito às mudanças climáticas para o estado de São Paulo são: de informação e gestão (inventários de emissões antrópicas por fontes e de remoções por sumidouros, informações sobre medidas de mitigação e adaptação à mudança do clima, banco de dados para acompanhamento e controle de emissões) (Direito e mudanças climáticas, 2010). Com o objetivo de adaptarem-se as mudanças climáticas foi realizado um fórum em Araranguá, Santa Catarina, chamado de Primeiro Encontro da Região Sul sobre fenômenos naturais, adversidades e mudanças climáticas. Nesse fórum foi solicitado que a discussão do tema “Mudanças Climáticas” fosse inserida para as comunidades locais. Isso, por sua vez, conduziu a uma série de oficinas locais e, em última instância, a um manifesto para ações dos governos, haja vista que são necessários marcos políticos, institucionais e tecnológicos adequados para sua adaptação (Mudanças Climáticas, 2008). No ano de 2012 foi instituída no Estado do Paraná a Política Estadual sobre Mudança do Clima cujo um dos dispositivos que se destaca está o direcionamento de licitações públicas no sentido de fomentar a eficiência energética e a diminuição das emissões. Para tanto esta política faz vinculação entre incentivos à manutenção de vegetação nativa e medidas de mitigação e de adaptação às mudanças climáticas (Legislação Brasileira Sobre Mudanças Climáticas, 2013). A Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) do estado de Minas Gerais conduziu um importante estudo de vulnerabilidade regional às Mudanças Climáticas com vistas a contribuir para o desafio de preparar a região para o enfrentamento dos riscos das mudanças do clima em seu território. Este estudo apresenta uma avaliação da vulnerabilidade do território mineiro às mudanças climáticas a partir de uma análise integrada dos impactos e potenciais impactos climáticos nos sistemas naturais e socioeconômicos. Segundo as simulações, os aumentos de temperatura se situariam entre 2°C e 4°C, variando conforme a região e a estação do ano (FEAM, 2014). O estado de Pernambuco trilhou um caminho para estabelecer sua Política de Enfrentamento às Mudanças Climáticas. Em 2008, foi criado um Comitê Estadual de Enfrentamento das Mudanças Climáticas com o objetivo de fundamentar, democratizar e orientar a implementação da Política Estadual de Mudança Climática (Plano Estadual de Mudanças Climáticas, 2011). Em seu documento “Propostas Pernambucanas para o Enfrentamento às Mudanças Climáticas”, o qual traz como missão e princípios as medidas para enfrentar as mudanças do clima promovendo esforços necessários para aumentar a resiliência da população pernambucana à variabilidade e às mudanças climáticas em curso. O Governo do Amazonas criou uma política específica para a questão denominada “Política Estadual de Mudanças Climáticas”, que é muito importante para a manutenção da biodiversidade, recursos hídricos e populações tradicionais, e pode ser um instrumento relevante para diminuir as vulnerabilidades socioeconômicas e ambientais na Amazônia (Franke & Hackbart 2008). Para o estado do Pará, foi criado o Fórum Paraense de Mudanças Climáticas (FPMC) instituído em 2009 e presidido pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) visa à discussão e à proposição de assuntos importantes ao enfrentamento das Mudanças do Clima. Este fórum tem como atribuições promover a incorporação da dimensão climática nos processos decisórios de políticas setoriais cuja implementação esteja relacionada a fatores de emissão de gases do efeito estufa e/ou estoque de carbono, dando prioridade à utilização de tecnologias ambientalmente adequadas. A aprovação do Regimento do fórum foi o primeiro passo rumo à discussão, e construção coletiva, de um anteprojeto de lei para a futura legislação estadual de Mudanças Climáticas do Estado do Pará (Diário Oficial, 2009). O presidente em exercício do FPMC, o titular da Secretária de Estado de Meio Ambiente (Sema) José Alberto da Silva Colares, chamou a atenção para o fato de que um dos objetivos do Estado é não apenas promover a discussão sobre Mudanças Climáticas, como também fortalecer ações de base do Estado para que a “Agenda Clima” possa ser efetiva. Portanto fica instituído ao Fórum Paraense de Mudanças Climáticas visarem à promoção, a cooperação e o diálogo entre os diferentes setores da sociedade para o enfrentamento dos problemas relacionados às mudanças climáticas e às suas consequências socioambientais e econômicas. Vale ressaltar que dentre suas competências esta a elaboração de propostas e o auxílio à criação e implementação de mecanismos financeiros, propondo-se a alcançar os objetivos das políticas públicas relacionadas à mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Mais recentemente a presidente Dilma Rousseff participou da Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), e na ocasião afirmou que até o fim do ano de 2014 deve apresentar o Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas. O Plano Nacional de Adaptação é um documento que está sendo construído por um grupo de trabalho de instâncias do governo federal com o objetivo de formular um conjunto de medidas de adaptação à mudança do clima. Com isso alguns dos destaques existentes nas políticas e iniciativas estaduais foram descritas em “O Desafio de Harmonização das Políticas Estaduais de Mudanças Climáticas” publicadas pelo Fórum Clima em 2012: I. ACRE: Lei 2.308, de 22 de outubro de 2010, criação do SISA (Sistema Estadual de Incentivos a Serviços Ambientais), e do ISA Carbono (Programa de Incentivos por Serviços Ambientais) e demais Programas de Serviços Ambientais e Produtos Ecossistêmicos do Estado do Acre; II. AMAPÁ: Criação do Plano Estadual de Mudanças Climáticas, que define como um dos seus instrumentos as metas de redução de emissões progressiva e finais com estratégias de mitigação e adaptação por setores, que sejam mensuráveis, reportáveis e verificáveis. Como compromisso para a consecução da Política fica estabelecido pelo estado a conservação e recuperação dos estoques de carbono segundo meta a ser definida a cada dois anos no Plano Estadual de Mudanças Climáticas; III. AMAZONAS: um dos objetivos da política de mudança climática do Amazonas é a criação de novas Unidades de Conservação, de acordo com o Sistema Estadual de Unidades de Conservação, assim como a implantação de projetos de pesquisa em Unidades de Conservação; IV. BAHIA: A legislação prevê a redução da taxa de crescimento das emissões de GEE e a captura e estocagem desses gases. A legislação prevê a inserção do Estado no esforço nacional nas ações voltadas à redução de emissões de GEE, desenvolvimento sustentável e enfrentamento das mudanças climáticas pela implementação de planos, programas e políticas setoriais ou intersetoriais pertinentes, de forma coordenada, complementar e harmônica; V. ESPÍRITO SANTO: A legislação prevê a definição de medidas reais, mensuráveis e verificáveis para reduzir suas emissões antrópicas de GEE. Prevê a adoção de estratégias de mitigação e adaptação nos seguintes setores: uso do solo, produção, comércio e consumo, transporte. E prevê ainda a realização de acordos setoriais de redução voluntária das emissões de GEE entre o Governo Estadual e entidades empresariais privadas; VI. GOIÁS: Prevê a criação de linhas de crédito e financiamento como incentivos a alterações arquitetônicas e construção de edificações sustentáveis e para implementação de processos industriais, que contribuam efetivamente para a redução ou supressão de GEE e poluentes que influam na alteração do clima; VII. MATO GROSSO: Compromissos de Redução de Emissões: Para alcançar os objetivos da política, o Estado adotará ações de mitigação, com vistas a reduzir as emissões associadas às atividades econômicas, por meio do estabelecimento de metas a serem definidas em regulamento próprio, com base nos inventários setoriais de emissões de GEE do estado. Prevê a criação de Planos Setoriais de mitigação e adaptação com vistas a cumprir metas gradativas de redução de emissões antrópicas mensuráveis, reportáveis e verificáveis, que serão estabelecidas por meio de regulamento próprio considerando as especificidades de cada setor; VIII. MINAS GERAIS: Uma das prioridades da política é atenuar o crescimento da curva de projeção das emissões de GEE estadual e assegurar a competitividade do parque industrial do estado na transição para uma economia de baixo carbono. Prevê a integração das estratégias de mitigação e adaptação à mudança do clima, nos âmbitos local, regional e estadual, com outras políticas públicas, em especial as de meio ambiente. A aplicação do Fundo Estadual de Recursos Hídricos - FIHDRO passa a contemplar a temática da mudança do clima, a definição de áreas de maior vulnerabilidade e as ações de prevenção, mitigação e adaptação; IX. PARÁ: Prevê estratégias de mitigação e adaptação setoriais para os setores de energia; transporte; doméstico; indústria e mineração; setor público; agropecuária; biodiversidade, florestas e alteração de uso do solo; recursos hídricos; resíduos; construção civil; saúde. O Poder Executivo estadual publicará, a cada dois anos, um documento de comunicação contendo inventários de emissões antrópicas por fontes e de remoções por sumidouros de GEE de todas as atividades relevantes existentes no Pará, bem como informações sobre as medidas executadas para mitigar e permitir adaptação à mudança do clima, utilizando metodologias internacionalmente aceitas, devidamente adaptadas à realidade do estado; X. PARAÍBA: visará à redução das emissões antrópicas de GEE em relação às suas diferentes fontes e o fortalecimento das remoções antrópicas por sumidouros de GEE no território estadual; XI. PARANÁ: Prevê como objetivo da política controlar e reduzir progressivamente as emissões antrópicas por fontes e fortalecer as remoções antrópicas por sumidouros de GEE no território estadual. Prevê a criação de Fundo Estadual de Mudanças Climáticas, a ser administrado pelo Conselho Estadual de Mudanças Climáticas, que será presidido pelo Secretário Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos; XII. PERNAMBUCO: Prevê estratégias de mitigação e adaptação setoriais para: energia; transporte; indústria e mineração; setor público; agropecuária; biodiversidade e florestas; recursos hídricos; resíduos e consumo; construção civil; saúde; oceano e gestão costeira; semiárido e desertificação; uso do solo e cobertura vegetal urbana. Um dos objetivos específicos da política é promover a capacitação e fortalecimento institucional do Estado de Pernambuco em ciência, tecnologia e meio ambiente para o estudo das causas e efeitos das mudanças climáticas sobre o Estado, criando condições para o estabelecimento de uma Agência ou Instituto Pernambucano para as Mudanças Climáticas; XIII. PIAUÍ: A Política Estadual de Mudanças Climáticas e Combate à Pobreza do Piauí em desenvolvimento, foi criado apenas o Grupo de Trabalho para elaboração da mesma pelo decreto 12.612, de 4 de junho de 2007; XIV. RIO GRANDE DO SUL: institui a Política Gaúcha sobre Mudanças Climáticas, que tem como objetivo estabelecer o compromisso do Estado frente ao desafio das mudanças climáticas globais, estabelecendo as condições para as adaptações necessárias aos impactos derivados das mudanças climáticas, bem como contribuir para reduzir a concentração dos GEE na atmosfera, atingindo nível seguro para garantir o desenvolvimento sustentável; XV. SANTA CATARINA: A Lei institui o Fundo Catarinense de Mudanças Climáticas (FMUC), com o objetivo de prestar suporte financeiro à Política Estadual de Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável de Santa Catarina, vindo a ser administrado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável. Os recursos do Fundo podem ser aplicados: no apoio financeiro à execução dos trabalhos promovidos pelo Fórum Catarinense de Mudanças Climáticas e suas câmaras temáticas; no apoio financeiro a ações e projetos relacionados a Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável. A lei institui a criação do Selo de Certificação de Protetor do Clima e do Selo de Certificação de Protetor do Clima Gold, os quais serão concedidos às pessoas jurídicas ou físicas que atendam de forma exemplar às disposições da Política Estadual de Mudanças Climáticas e de Desenvolvimento Sustentável e de seus respectivos regulamentos; XVI. TOCANTINS: Para efeitos de redução do desmatamento, conservação e desempenho ambiental, o Estado pode fixar metas por região. A legislação prevê a decisão do Estado do Tocantins em contribuir voluntariamente para estabilizar a concentração de GEE. A legislação, que institui a Política Estadual sobre Mudanças Climáticas, Conservação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Tocantins, valoriza o reconhecimento da importância da conservação das florestas, do cerrado e da biodiversidade mais as características regionais – diante das atividades antrópicas que provocam os efeitos nocivos da mudança global do clima. De acordo com Franke & Hackbart (2008) as políticas públicas para a adaptação às vulnerabilidades socioeconômicas e ambientais causadas por mudanças climáticas, em curso no Brasil, além de dispersas, ainda são descoordenadas. Há uma série de políticas que guardam relação indireta com a temática, mas que necessitam ser mais bem coordenadas para atingir a eficácia desejada. As medidas e políticas públicas para a adaptação às vulnerabilidades causadas por mudanças climáticas, tomadas pelos governos executivos nas diversas esferas de poder, poderiam alcançar maior efetividade se disponibilizassem de maior aporte orçamentário. Isso somente acontecerá quando os políticos e governantes vizualizarem o alcance socioeconômico e ambiental que tais ações trazem para o conjunto da sociedade (Franke & Hackbart 2008). 3. POLÍTICAS DE ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA ILHA DE MARAJÓ Estudos recentes da Divisão de Sensoriamento Remoto do INPE, utilizando imagens do satélite Landsat, fizeram uma simulação da enchente que ocorreria na Ilha de Marajó com um aumento de poucos metros no nível do mar. Com 2 metros de elevação, 28% de seu território desaparecerão no oceano. Caso o aumento chegue a 6 metros, 36% da ilha podem ser inundadas. A Ilha de Marajó tem altitude muito baixa de modo geral, sobretudo na costa leste, que apresenta numerosos paleocanais com amplitude muito pequena, entre 2 e 4 metros. “As análises feitas até agora mostram que, em meio a uma história movimentada, a ilha preservou mais de uma linha ancestral de costa, devido a eventos passados de transgressão e regressão marinha. Com a perspectiva de elevação dos níveis do mar (em futuro não muito distante), esta história deve continuar com o estabelecimento de uma nova costa. A Ilha de Marajó sofrerá uma rápida transformação de seu desenho logo aos primeiros metros de elevação do mar”, explica Márcio de Morrison Valeriano. Diante do tema em discussão sobre as mudanças climáticas para a região da Ilha de Marajó podemos acrescentar aqui informações, noticiários, comentários e depoimentos disponibilizados na internet. O Instituto Carbono Brasil faz referência à divulgação sobre os estudos de simulação de enchente realizados pelo INPE. O noticiário é intitulado de “Nível do Oceano – Inundação do Marajó é possível”. Uma das citações do texto é sobre a confirmação de que a região poderá realmente desaparecer com a subida do nível do mar: “A catástrofe é possível, sim. Se houver elevação do nível do oceano, as águas do Amazonas serão represadas e, como o Marajó é uma ilha de superfície, irá submergir”, afirma Franklin Rabelo, assessor jurídico do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Pará (Crea-PA). Franklin Rabelo acrescenta que “A Ilha de Marajó está localizada numa planície e metade do seu terreno já fica alagado por boa parte do ano. Com o inverno rigoroso como o nosso, a situação pode se complicar mais ainda”. O autor ressalta ainda que em 1947 foi o ano que ocorreu talvez o pior alagamento de toda a história da ilha do Marajó, com perda de aproximadamente 50% do rebanho bovino da região, além de boa parte do rebanho suíno e silvestre. Muitos animais silvestres chegaram a contrair febre aftosa. “Em razão da calamidade, o então senador Álvaro Adolfo, aprovou uma Lei no Congresso Nacional solicitando a intervenção do DNPM na região, aterrando e fazendo a drenagem das áreas mais críticas”. Podemos citar também o blog denominado de Portal Marajó News, o qual faz menção a um dos prováveis impactos que a Ilha de Marajó sofrerá com as mudanças climáticas que é a erosão. Com o título “Erosão ameaça barracas e rede elétrica na Praia Grande em Salvaterra” temos o relato de que a retirada de areia e pedras da orla tem impactado radicalmente o curso do rio. Para evitar uma tragédia com a derrubada de postes elétricos localizados junto à orla e para dar uma acomodação mais descente aos frequentadores do lugar houve uma espécie de mobilização dos moradores e donos de barracas para tentar abrir uma passagem na areia levando a correnteza para longe das estruturas dos barraqueiros da praia (Figura 4). Figura 4. Mudança do curso do igarapé Caraparú, Praia Grande (Salvaterra). Fonte: www.portalmarajo.blogspot.com.br Os moradores da Ilha do Marajó já convivem com o drama da reação da natureza. O jornal O vizinho em sua edição do ano de 2009 com o título “O futuro já chegou: Oceano invade e arrasa terras brasileiras” traz informações de que os moradores da Praia de Pesqueiro, em Soure, já enfrentam os efeitos colaterais semelhantes aos prometidos pelo aquecimento global. Relataram ainda que em menos de três décadas, todas as casas do local foram reconstruídas por três vezes, em direção à floresta, confirma a família Farias, nativa da maior ilha fluviomarítima do mundo. E acrescenta: A tendência é de piora. No município de Salvaterra, na Praia de Joanes com a maré baixa já é possível se comprovar a destruição. O morro da encosta está sendo “devorado” pelas ondas a cada ciclo da maré cheia (Figura 5). As águas arrastaram parte da floresta, todo o solo e argila deixando exposta a base de rochas vulcânicas de milhões de anos, que a população coleta nas marés baixas para a construção de casas, muros e calçadas. Figura 5. Turista observa as várias fases geológicas do solo expostas pela erosão provocada pelas ondas do oceano que está invadindo a Ilha de Marajó, resultado do aumento da temperatura do planeta, derretimento das geleiras e elevação do nível das águas. Fonte: http://www.ovizinho.com.br/jor09/j0167501.htm O Plano Diretor é uma lei municipal que estabelece as diretrizes gerais para o planejamento do município visando sua organização, crescimento, e funcionamento. É importante que o Plano Diretor seja encarado como um instrumento que faz parte de um processo já que a sociedade é dinâmica e isso se reflete nas transformações que ocorrem no município (Dantas, 2006). Os Planos Diretores Participativos existentes para os municípios de Soure e de Salvaterra foram criados em 2006 determinam e descrevem o que pode ser feito em relação à política urbana, ao meio ambiente, ao desenvolvimento sociocultural, ao desenvolvimento econômico e ao uso do solo. Funciona como um instrumento básico da política municipal de desenvolvimento e expansão urbana, constituindo-se no referencial de orientação para os agentes públicos e privados na produção e na gestão territorial do Município (Resumo Executivo do Pólo Marajó, 2010). Diante das competências do Plano Diretor cabe ao mesmo contribuir para que o instrumento municipal direcione suas diretrizes para elaborar políticas públicas com medidas de prevenção, correção, contenção e controle dos fatores de riscos naturais. Com isso torna-se indispensável a incorporação da temática mudanças climáticas e gestão dos riscos naturais nos Planos Diretores de municípios costeiros como os municípios da Ilha de Marajó. Podemos citar também um plano que é aplicado para a região do Marajó chamado de Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó, o qual foi decretado em 2006 e criado para acompanhar a implementação das ações de competência dos órgãos federais no Arquipélago do Marajó. Este plano engloba todos os 16 municípios no arquipélago e conta com o Núcleo de Ação para o Desenvolvimento Sustentável (Poemar) e a Prefeitura Municipal de Curralinho que realizam conjuntamente o projeto denominado Desenvolvimento Local, Proteção da Biodiversidade e Mudanças Climáticas. É uma ação junto aos produtores da região objetivando capacitar para outra forma de desenvolvimento aproveitando os recursos que a natureza oferece sem agredi-la. Envolve 14 comunidades, que foram organizadas e divididas em quatro olos, para desenvolver novas atividades produtivas, como apicultura, avicultura e piscicultura. Entre os principais efeitos das mudanças do clima e suas interações que poderão ocasionar impactos estão: a erosão costeira; prejuízos estruturais ou operacionais a portos e terminais, sistemas de saneamento, dutos e emissários; danos a obras de urbanização de cidades litorâneas; deslizamentos de encostas; intrusão salina em estuários e aquíferos, que pode afetar a captação de água doce; alteração da área de ocupação dos manguezais; danos a ecossistemas devido à falta de água doce causados pelos efeitos relacionados ao desequilíbrio salino; danos a recifes de coral (Neves et al, 2008). Como mencionado anteriormente para o município de Salvaterra o principal impacto são os processos erosivos. Nesta abordagem temos o trabalho de Lisbôa, 2011 que dividiu o município em três setores (Norte, Central e Sul) com o objetivo de avaliar os indicadores de vulnerabilidade ambiental que a orla costeira do município de Salvaterra apresenta. O setor Norte é caracterizado pela alta densidade de uso e ocupação residencial sobre os baixos platôs até as bordas superiores das falésias. O setor central, por sua vez, é delimitado pelas áreas de influencia dos campos alagáveis. O setor sul por sua vez se estende pelos baixos platôs, desde o fim da área de influencia dos campos alagáveis, até o promontório. Para a delimitação desses setores tomou-se por base os limites das distintas unidades morfológicas presentes na orla. De acordo com os indicadores analisados os dados foram dispostos em um “quadro de vulnerabilidade”. O setor norte é marcado por uma morfodinâmica erosiva e apresenta alto grau de vulnerabilidade ambiental; o setor central é marcado pela morfodinâmica de transporte sedimentar e apresenta médio grau de vulnerabilidade ambiental e o setor sul é marcado pela morfodinâmica de acúmulo sedimentar e pelo médio grau de vulnerabilidade ambiental (Figura 6). Figura 6. Mapa de vulnerabilidade da orla de Salvaterra-PA (trecho compreendido entre a foz do rio Paracauari e a ponta do Tapariuaçu). Fonte: Lisbôa, 2011. O intuito deste trabalho foi discutir dados ambientais que possam ser utilizados em análise de vulnerabilidade, como subsídios para o ordenamento territorial ou como estudo do suporte físico da orla costeira estudada diante da demanda socioeconômica. Dados esses importantes para serem inseridos nas formulações de diretrizes setoriais dos planos diretores dos municípios da Ilha de Marajó. De acordo com a base de informações institucionais a nível municipal do IBGE, foi elaborado um amplo perfil dos municípios brasileiros, e para os municípios da região do Marajó foi inserido o tópico Gestão de Riscos e Respostas a Desastres, que engloba os seguintes quesitos (IBGE, Pesquisas de Informações Básicas Municipais – 2013): I. Alagamentos e processos erosivos; II. Enchentes ou inundações graduais; III. Enchentes ou inundações bruscas; IV. Escorregamentos ou deslizamentos de encostas; V. VI. Instrumentos de planejamento; Gerenciamento de riscos de desastres decorrentes de enchentes ou inundações graduais, enxurradas ou inundações bruscas; VII. Gerenciamento de riscos de desastres decorrentes de escorregamentos ou deslizamento de encostas. Nesta pesquisa foi apresentado que o ano de 2013 o município de Soure não foram registrados dados de alagamento e processos erosivos nos últimos 5 anos, bem como nenhum registros referentes aos outros quesitos foram aplicados. O município de Salvaterra também não foi atingido por alagamentos em suas áreas urbanas nos últimos 5 anos. Em contrapartida este município foi atingido em suas áreas urbanas por processo erosivo acelerado nos últimos 5 anos. Para o mesmo período também foram identificadas áreas de escorregamentos ou deslizamentos de encostas, apresentando o total de 1 evento. Além de áreas de taludes e encostas sujeitas a deslizamento, foi observado também áreas sem infraestrutura de drenagem e áreas com ocupações irregulares. Para os outros municípios pertencentes à região do Marajó como Breves, Afuá, Chaves, Ponta de Pedras, Portel foi registrado eventos de alagamentos em suas áreas urbanas. Em Ponta de Pedras e Portel, por exemplo, além de alagamentos a região foi atingida por processo erosivo acelerado nos últimos 5 anos. Em Afuá e Breves no ano de 2009 aconteceu o evento de enchente ou inundação gradual com maior número de edificações atingidas nas áreas urbanas desses municípios (IBGE, Pesquisas de Informações Básicas Municipais – 2013). Entretanto foi possível observar que não há para esses municípios instrumentos de planejamento ou até mesmo Planos Diretores que contemple a prevenção desses eventos. 4. MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO FRENTE ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Segundo a UNFCCC, deve ser atribuído o mesmo nível de importância à adaptação e à mitigação. Assim, tanto a adaptação como a mitigação devem ser implementadas simultaneamente e complementar-se entre si, sendo necessária uma estratégia concertada entre as duas: I. Mitigar as alterações climáticas através da redução de emissões de GEE não protege as comunidades dos efeitos das alterações climáticas; contudo reduz, a uma escala mundial, o risco e a magnitude das alterações climáticas futuras; II. A adaptação não reduzirá a frequência ou magnitude com que ocorrerão as situações de mudança climática, mas protegerá as sociedades em situações de secas, furacões, cheias, entre outros. De acordo com Marengo et al. (2007) apresenta em seu glossário as seguintes definições para adaptação: I. Adaptação Antecipatória – Adaptação que acontece antes de os impactos da mudança do clima serem observados. Também se refere à adaptação pró-ativa. II. Adaptação Autônoma – Adaptação que não constitui propriamente uma resposta ao estímulo climático, mas que resulta de mudanças ecológicas em sistemas naturais e de mudanças no comércio ou no bem-estar nos sistemas humanos. Também se refere à adaptação espontânea. III. Adaptação Planejada – Adaptação como resultado de uma política de decisão deliberada, baseada no medo de que determinadas condições têm mudado ou mudarão, e qual seria a ação necessária para retornar, manter, ou alcançar um estado desejável. IV. Adaptação Privada – Adaptação que é iniciada e implementada por indivíduos, famílias ou companhias privadas. Adaptação privada é usualmente resultante do interesse próprio racional do ator. V. Adaptação Pública – Adaptação que é iniciada e implementada por governantes de todos os níveis. A adaptação pública é usualmente direcionada às necessidades coletivas. VI. Adaptação Reativa – Adaptação que acontece após a observação dos impactos de mudança de clima. Na definição empregada pela lei brasileira 12.187/ 2009, mitigação significa “mudanças e substituições tecnológicas que reduzam o uso de recursos e as emissões por unidade de produção, bem como a implementação de medidas que reduzam as emissões de gases de efeito estufa e aumentem os sumidouros” (artigo 2º, inciso VII). Já a adaptação é definida como “iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos frente aos efeitos atuais e esperados da mudança do clima” (artigo 2º, inciso I), sendo vulnerabilidade o “grau de suscetibilidade e incapacidade de um sistema, em função de sua sensibilidade, capacidade de adaptação, (…) de lidar com os efeitos adversos da mudança do clima, entre os quais a variabilidade climática e os eventos extremos” (artigo 2º, inciso X). Sempre que possível, as ações de combate à mudança climática devem conciliar as medidas de mitigação e adaptação. As estratégias integradas de mitigação e adaptação à mudança climática nos âmbitos local, regional e nacional constituem diretrizes da Política Nacional de Mudanças Climáticas (art. 5º, IV). Uma das mudanças do 5º Relatório do IPCC em relação ao Relatório de Avaliação (AR4) é o foco em adaptação e mitigação. Para cada projeção de mudanças climáticas para diversas partes do mundo feita no relatório há indicações de ações de adaptação e mitigação, destacou Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP). E ainda acrescenta: “O problema das mudanças climáticas é irreversível e, portanto, é necessário adotar e implementar medidas adaptativas”. A identificação, destas duas grandes categorias de inter-relação (Mitigação e Adaptação), demonstra a importância da exploração das sinergias possíveis e eventuais soluções de compromisso entre adaptação e mitigação. Uma estratégia integrada, que tenha em conta as questões de mitigação e adaptação, bem como as questões de curto e longo prazo, evitaria muitos conflitos e permitiria uma melhor gestão de restrições às alterações climáticas (Magnan et al. 2009). Segundo o IPCC (2001), a capacidade adaptativa de um sistema (região ou comunidade) é o seu potencial ou habilidade de se adaptar aos efeitos ou impactos da mudança climática. É importante que a adaptação à mudança do clima não seja vista, de forma isolada e específica, como um problema ambiental, mas como uma questão de administração de riscos generalizados que podem afetar todas as áreas políticas (agricultura, saúde, proteção costeira, energia, finanças, indústria, comércio e recursos hídricos) (Bouwer & Aerts, 2006). Há uma vasta gama de opções de adaptação, mas é necessária uma adaptação mais ampla do que a que está ocorrendo atualmente para reduzir a vulnerabilidade à futura mudança do clima. Barreiras, limites e custos existentes ainda não são completamente conhecidos. Podemos citar exemplos de medidas de adaptação, a exploração mais eficiente de recursos hídricos escassos, o ajustamento da legislação aplicável aos edifícios às condições climáticas futuras e a eventos meteorológicos extremos, a instalação de dispositivos de proteção contra as inundações, a elevação do nível dos diques, o desenvolvimento de culturas agrícolas tolerantes à seca, a seleção de espécies e práticas florestais menos vulneráveis a tempestades e a incêndios, o planejamento do território e a criação de corredores ecológicos que permitam a migração das espécies, entre outros (CCE, 2007). As medidas de adaptação são apontadas como obras e ações de alto custo, o que muitas vezes desestimula sua concretização, especialmente por parte do Poder Público. No entanto, algumas medidas de adaptação podem ser economicamente viáveis e de aplicação imediata. O Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, por exemplo, sugere como eficaz medida de adaptação à restauração das matas ciliares (Altmann, 2010). Nesta caso a adaptação aos impactos das mudanças climáticas em alguns casos é a única resposta possível e adequada de como enfrentar o problema. As possíveis respostas de adaptação existentes para atividades humanas envolvem uma observação sistemática que permeia desde novas tecnologias, implantação de gestão e políticas, até mudanças comportamentais. Algumas das tecnologias e estratégias já são usuais, entretanto, para a maior parte há uma série de fatores que determinam a viabilidade de implantação ou até mesmo a possível eficácia na redução das emissões que se terá ao longo do tempo. Além disso, barreiras ambientais, econômicas, sociais e comportamentais podem inviabilizar as medidas de adaptação. Deste modo, o planejamento das ações de adaptação às mudanças climáticas é essencial para reduzir a vulnerabilidade e a intensidade dos seus impactos. Faz-se necessário, portanto, o planejamento estratégico de ações de adaptação aos impactos adversos do fenômeno, seja por medidas preventivas, ou de preparação das comunidades humanas e do meio natural, seja pelo planejamento de medidas emergenciais de reparação de danos, decorrentes da mudança climática e/ou de eventos climáticos extremos consumados. Os critérios que poderão ser usados para avaliar as opções de política de adaptação são: I. Eficácia: Este critério aborda a extensão a que a política de adaptação reduz a vulnerabilidade e proporciona outros benefícios. Basicamente, ele compara a vulnerabilidade sem adaptação com a vulnerabilidade com adaptação. Esta diferença de pode ser pensada como o principal benefício da opção de adaptação. Benefícios auxiliares ou co-benefícios devem ser explicitamente considerados se a opção de adaptação proporciona benefícios a outros setores ou para outros objetivos políticos. Este critério pode indicar diferenças em relação à eficácia de várias alternativas políticas. A eficácia também inclui o conceito de flexibilidade; II. Custo: Trata-se de um critério que avalia se a adaptação é relativamente cara ou barata. Normalmente, inclui os custos iniciais de implementação de uma política de adaptação. No entanto, os custos ao longo do tempo, tais como operação e manutenção, administração e recursos humanos, frequência esperada de reconstrução e assim por diante, também devem ser considerados. Uma contabilidade de custos deve incluir os custos não econômicos e não quantificáveis, bem como econômicos e/ou custos quantificáveis. Por exemplo, os custos, tais como uma redução no habitat para espécies significativos ou um impacte maior sobre a saúde humana, devem ser considerados juntamente com custos mais tradicionais; III. Viabilidade: Este critério avalia se a ação pode ser implementada. Será que os recursos jurídicos, administrativos, financeiros, técnicos necessários e outros existem e estão disponíveis para o uso dessa opção política? Isto normalmente significa que as medidas de adaptação que podem ser implementadas no âmbito do atual quadro operacional serão favorecidas em detrimento de opções de adaptação que necessitam de uma nova autoridade, novas tecnologias, mudanças nos comportamentos, ou outras alterações significativas no contexto operacional. A maioria das decisões de planejamento tem de passar por uma revisão periódica, por exemplo, a cada 10 ou 20 anos. Se um desses documentos de planejamento é reavaliado existe uma janela de oportunidade que é a opção da adaptação mais viável. Janela de oportunidade também pode ser criada quando o cenário político é propício ou quando a resposta é obrigatória após um desastre. Dentre as ações de planejamento adaptativas prioritárias inseridas na linha de “Previsão e prevenção de eventos climáticos extremos” incluem: - Conferir prioridade ao impacto da mudança climática sobre as águas nas grandes cidades; - Ampliar o conhecimento sobre mudanças climáticas; - Dar destaque a importância da floresta na conservação da água; - Melhorar o monitoramento e implantar sistemas de alerta aos eventos extremos, com salas de situação; - Implantar na zona costeira, redes de marégrafos e de ondógrafos de modo a desenvolver modelos regionais e locais; - Desenvolver indicadores de risco. Missões de adaptação na África, como uma medida para atenuar os efeitos do aumento do nível do mar e mudanças climáticas, vem sendo realizado pelos moradores da aldeia Lopahan em Manus, Papua Nova Guiné com a utilização de plantio de manguezais na região (Figura 7). Figura 7. Exemplo de medidas de adaptação às mudanças climáticas na localidade de Lopahan (Papua Nova Guiné). Fonte: www.usaid.gov/climate/adaptation O Estado do Senegal investe efetivamente em medidas, como i) a proteção costeira, através de medidas de conservação dos ecossistemas, ii) a consolidação de zonas de interesse sujeito a grave erosão, as deslocações das populações nas zonas costeiras e no litoral afetado pela erosão, iii) desenvolvimento de alternativas econômicas no interior das zonas úmidas (lagos e planícies para satisfazer as necessidades das populações ao longo da costa e iv) o diálogo estratégico potencial para uma parceria com o sector privado com interesses ameaçados (Biai, 2009). Em Cabo Verde, a existência de uma plataforma relativamente extensa e muitas vezes rochosa, a presença dos sistemas naturais de proteção em alguns pontos da costa e alguns corais conferem em conjunto, uma certa capacidade de adaptação às mudanças climáticas, capacidade essa que deverá ser reforçada com sistemas estruturais de proteção (Fragoso, 2007). A China é um dos países mais suscetíveis aos efeitos adversos da mudança do clima, principalmente nas zonas costeiras. Nos últimos 30 anos foi testemunhado na China uma tendência de aceleração na elevação do nível do mar, o que provocou a intrusão salina e erosão costeira. Diante disso a China tem aplicado medidas de adaptação em áreas frágeis como as zonas costeiras e tem alcançado efeitos positivos. O estado está promovendo tecnologias para a proteção e restauração dos ecossistemas marinhos, elevação dos padrões de proteção das cidades e principalmente projetos de engenharia localizados na costa e medidas contra o assoreamento em áreas costeiras. Uma dessas medidas é a captação de água doce de rios ou reservatórios para diluir a água salobra e deter a intrusão salina nos estuários. Nos últimos 50 anos foi observada uma tendência na costa brasileira de um aumento do nível relativo do mar, na ordem de 40 cm/século, ou 4 mm/ano (Marengo et al. 2007). Variações do nível relativo do mar podem ocorrer também por causa da expansão térmica, provocada pelo aquecimento global, e pelas marés meteorológicas, ocasionadas pelo aumento da intensidade dos ventos. Elas podem provocar um “empilhamento” de até 20 cm de água na costa do Rio de Janeiro e calçadões, casas e bares, construídos à beira mar, poderão ser destruídos pelas ondas ou pelo aumento de até quase meio metro do nível médio do mar. O derretimento previsto do gelo polar, que aumentaria a quantidade de água doce no mar, também mudaria a circulação térmica que ocorre nos oceanos, alterando o clima. Com isso, o ritmo acelerado e cada vez mais evidente com que as consequências da alteração do clima se manifestam – como verificado nas grandes enchentes em Santa Catarina, no calor extremo na Austrália, nas pequenas ilhas desaparecendo do mapa ou na crise mundial de alimentos, entre outros – mostrou que o investimento em adaptação é tão necessário e emergencial quanto as iniciativas para a redução de gases de efeito estufa e consequente mitigação do aquecimento global. Entre as estratégias de adaptação em aplicação em países desenvolvidos estão o planejamento urbano e a adequação de construções (como o desenvolvimento de barreiras anti-enchentes), a criação de alertas para ciclones e o estabelecimento de técnicas para estimular produções agrícolas mais resistentes às secas. Também existem modelos de prevenção de inundações provocadas por degelos em alguns países asiáticos, estratégias como a gestão dos recursos hídricos na Austrália e as respostas dos governos às ondas de calor em alguns países europeus. O fortalecimento dos sistemas de alerta e prevenção de desastres e de estruturas como o Sistema Nacional de Defesa Civil, de modo a prevenir as catástrofes relacionadas com eventos naturais, que vêm se intensificando, em especial na Região Sul, como as intensas chuvas que ocorreram no Estado de Santa Catarina. Para Dra. Maria Carmen Lemos na III Conferência Regional sobre Mudanças Globais: América do Sul, as políticas de adaptação possuem uma grande interface com outras políticas públicas, já que é difícil separar os diversos agentes, estresses e processos (sociais, políticos e econômicos) envolvidos na tomada de decição sobre desenvolvimento em face dos potenciais impactos negativos das mudanças climáticas. E completa: “É interessante olhar as políticas de adaptação conjuntamente com as políticas públicas de modo sistemático”. Relatórios científicos preveem que a região de Pintadas no Estado da Bahia, será afetada pelas mudanças do sistema clima, em função do aumento da variabilidade climática. Provavelmente choverá mais em média, mas com chuvas concentradas durante períodos específicos. O risco de secas prolongadas na região também vem aumentando. Diante disso foram realizados indicadores de adaptação visando dar partida a uma campanha regional pela disseminação de sistemas de irrigação eficientes no Município de Pintadas. A atividade proposta consiste na implantação dos sistemas de Gotejamento e Hidroponia, através de diferentes sistemas de bombeamento de água (a diesel/biodiesel e por painéis fotovoltaicos). A ideia é iniciar a adaptação das comunidades rurais de Pintadas às mudanças do padrão de chuvas que essas regiões sofrerão além do aumento dos períodos de seca (Maroun, 2007).