DISCURSO DO PRESIDENTE DO CONSELHO DELIBERATIVO JOÃO ANTÔNIO LIAN Boa noite,
Quero saudar e agradecer mais uma vez a presença de todos vocês a mais este
encontro Fórum & Coffee Dinner, que já está na sua quinta edição, e consolida-se como
um evento de reconhecimento nacional e internacional no calendário do café.
Pela manhã, tivemos a realização do Fórum, no qual sempre debatemos questões de
interesse global. Neste ano nos atentamos a avaliar as tendências e perspectivas do
consumo mundial, destacando a produção e a oferta mundiais dos cafés, inserindo o
café no contexto do atual panorama econômico mundial. Tivemos, mais uma vez, a
participação de convidados ilustres, que são referência nos assuntos que abordaram.
Aproveito a oportunidade para agradecer à Fabiana D´Atri. Economista Coordenadora
do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, que dissertou
sobre o panorama econômico mundial. Muito obrigada a Judith Ganes-Chase,
fundadora e presidente da J. Ganes Consulting, e a Carlos Henrique Jorge Brando,
consultor da P&A Marketing. E também nos honraram as participações de Neil Rosser,
gerente geral de pesquisa de café da Olam Europe, Edward Juzwiak, da área de
Commodities da Nestlé Brasil, e Celso Vegro, pesquisador do Instituto de Economia
Agrícola da Universidade de São Paulo.
Meus amigos, é importante destacar que o cenário mundial do café passa por um
momento singular. Transformações estão ocorrendo, novos protagonistas surgem, com
hábitos e preferências especificas, introduzindo novos conceitos e demandando
inovações.
Vejo neste novo ambiente, sem excesso de otimismo, fatores positivos do lado do
consumo. Os mercados tradicionais – Estados Unidos, Europa e Japão -, justamente os
mais afetados pela crise econômica de 2009, cujos sinais ainda se fazem presentes,
mostram aumentos moderados no consumo. Outros países importadores de café,
agrupados como emergentes, segundo a Organização Internacional do Café, já
representam um mercado consumidor de café estimado em 26 milhões de sacas anuais
e exibem taxas de crescimento anuais próximas de 2,5%. E, ao mesmo tempo, os
países produtores de café vêm expandindo de forma significativa o consumo interno do
produto. Representam hoje, segundo a OIC, um mercado de 43 milhões de sacas
anuais, com um volume de cerca de 12 milhões de sacas importadas de outros países
produtores, visto que a sua própria produção não é suficiente para atender as
necessidades ou, o que parece ser o caso, não corresponde ao perfil qualitativo
demandado.
Mas, do lado dos preços, é forçoso reconhecer a queda persistente observada nas
cotações internacionais do café ao longo dos últimos dois anos, realidade que não
podemos negar e que afeta dramaticamente a renda dos produtores.
Assim, confrontam-se, de um lado, o inegável potencial de crescimento do consumo em
escala mundial e, de outro, um comportamento dos preços incompatível com este
cenário. Vários fatores podem levar a essa dicotomia. Não incluo entre eles a expansão
da produção global, pois não creio que isto esteja ocorrendo estruturalmente. Inclino-me
mais pelo entendimento de que as transformações observadas em anos recentes,
principalmente no que se refere aos mercados do consumo interno dos países
produtores e do bloco dos emergentes, impactaram o perfil qualitativo do suprimento
gerando afrouxamento na demanda do café arábica por substituição pelo robusta, e
não uma abundância súbita das ofertas da variedade arábica.
Em resumo, ao mesmo tempo em que temos um mercado mundial mais amplo, temos
também um novo mercado, com taxas elevadas de crescimento, com preferências
diferentes.
O Brasil é um grande exemplo dessa transformação: aqui, nos últimos quatro anos a
participação do café arábica no blend do consumo interno reduziu-se em 20%, ou seja,
cerca de 4,0 milhões de sacas anuais que deixaram de ser consumidas. A mudança do
perfil qualitativo aconteceu por uma série de fatores e, na verdade, pouco fizemos para
reverter esse quadro. Sem dúvida, uma lição de casa que teremos de nos dedicar.
De maneira geral devemos concentrar nossos esforços no sentido de estimular,
fomentar e gerar crescimento de consumo nesses novos mercados que estão se
abrindo e se desenvolvendo, garantindo a presença do café brasileiro. Mas, a questão
é: de que forma podemos fazer isso?
Não há como enumerarmos um passo a passo, até porque não é esse nosso objetivo.
Mas, podemos, sim, enfatizar algumas linhas gerais desse caminho, a ser pavimentado
por posturas pró-ativas, com ousadia e inovação
Em primeiro lugar, o setor precisa pensar em longo prazo. Precisa, também, trabalhar
em conjunto e fazer com que o diálogo seja um compromisso definitivo e não uma peça
de retórica dos discursos.
Ao mesmo tempo, temos de ter consciência de que a atual política de destinação dos
recursos do FUNCAFÉ para o setor ainda peca pelo caráter assistencialista e que
faltam ações mais dinâmicas, práticas e com efetividade. Precisamos, sim, de mais
geração de crédito para o desenvolvimento e ativação do mercado interno como forma
de sustentação dos preços, para que toda a cadeia do café se beneficie, abandonando
teses de que defesa dos preços se faz com contingenciamento da oferta.
Precisamos, também, de campanhas que promovam o café brasileiro e evidenciem e
mostrem aos consumidores os atributos da alta qualidade dos grãos e de uma produção
alcançada dentro dos requisitos de sustentabilidade. Em relação a este tema, no campo
da responsabilidade social, o CECAFÉ orgulha-se de sua atuação em programas
educativos e de inclusão social, como apresentado há pouco.
Em uma frase, podemos condensar nossas expectativas: o setor, como um todo, tem
agora de se adaptar a essa nova realidade. E o Brasil, é fundamental afirmar, tem
importância destacada e decisiva dentro desse novo contexto.
Acredito, realmente, que nosso objetivo, nossa missão, agora, é a de fomentar esses
novos mercados. Temos, sim, de trabalhar com estratégia e planejamento. O momento
pede por ações efetivas que resultem em um ajuste a essa nova realidade.
Agradeço novamente em nome do Cecafé a participação de todos os presentes, que
nos ajudam a fazer deste um evento um momento de reflexão e debate construtivo. E, é
claro, aproveito a oportunidade para, desde já, reiterar nosso convite para que nos
encontremos daqui a dois anos, na sexta edição do Coffee&Dinner.
Boa noite e muito obrigado!
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