A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA GESTÃO SECRETARIAL Amanda da Conceição Rodrigues1 Sueli Maria pereira Leon2 RESUMO O presente artigo versa sobre a ética na Gestão Secretarial. São apresentadas teorias sobre ética na visão de alguns filósofos, a Deontologia, a prática da ética nas organizações e a importância da ética na prática da gestão secretarial. As conclusões apontam para a necessidade na observância da prática ética no desenvolvimento das atividades secretariais assim como para uma revisão do código de Ética do Profissional de Secretariado. Palavras-chave: Ética, gestão secretarial, organização. ABSTRACT This article is about ethics in Secretarial Management. It presents theories about ethics under the viewpoint of some philosophers, Deontology, the practice of ethics in organizations, and the importance of ethics in the practice of secretarial management. The results point to the need of observance of the practice of ethics in the development of secretarial activities as well as to the need of revision of the Ethics code of the Professional Secretary. Keywords: Ethics, secretarial management, organization. 1 Aluna do Curso de Secretariado Executivo 2 Profa do Curso de Secretariado Executivo 1 Introdução A ética é um tema que vem sendo muito abordado na sociedade pela relevância que representa na conduta dos indivíduos, levando em consideração a satisfação de um maior número de pessoas. A ética permeia toda a vida humana e foi discutida por diversos filósofos como: Sócrates, Platão, Aristóteles, Kant e Stuart Mill. Não se pretende neste artigo fazer uma discussão profunda sobre as ideias éticas dos filósofos citados acima, mas conhecer de forma sucinta as suas construções éticas. A prática da ética na visão de Sócrates é racionalista, pois foi estabelecida a partir do princípio de conhecer para agir corretamente, daí a sua máxima “conhece-te a ti mesmo”. Na ética de Sócrates encontra-se uma concepção do bem e do bom e para ele o homem age retamente quando conhece o bem e, conhecendo ao bem, não pode deixar de praticá-lo. Para Platão, que foi seguidor de Sócrates, o homem sozinho não se aproxima da perfeição e por isso a necessidade da intervenção do Estado ou da Comunidade para uma boa prática do cidadão, ou seja, para ele a ética se fundamenta na estreita unidade moral e da política e que o homem se forma espiritualmente somente no Estado e mediante a sua subordinação à comunidade. Aristóteles, por sua vez, foi seguidor de Platão e a sua ética está unida à sua filosofia política, pois para ele a comunidade social e política é o meio necessário para a moral. Após as discussões da ética no âmbito filosófico que discute o homem no centro de toda conjuntura (antropocêntrica) e dando-se um salto cronológico na história, pois aqui não será tratada a ética no aspecto religioso (ética teocêntrica), parte-se agora para uma breve verificação da ética no mundo moderno iniciando pela visão do Filósofo Emannuel Kant. Kant é fiel ao seu antropocentrismo ético e a sua ética é formal (que valoriza as regras) e autônoma (liberdade). Kant foi o primeiro filósofo a elaborar um modelo ético inovador, separando a ética religiosa da racional. Foi através das suas ideias revolucionárias que ele construiu um elaborado modelo ético em que cada ser racional/moral seria auto-legislador e o único sentimento que deveria guiar o agente moral seria o sentimento de dever. Um outro filosófo que contribui para a discussão sobre a ética é John Stuart Mill que concorda com a ideia de autonomia da vontade defendida por Kant e estende as suas conclusões para a igualdade entre homens e mulheres, mas existe um ponto fundamental de discordância entre os dois filósofos. Enquanto Kant defende a validade da intenção do agente (liberdade), Mill se preocupa com as consequências das ações, pois para ele uma ação moral é aquela que maximiza a felicidade a um maior número de pessoas possível e por isso a sua filosofia é conhecida como utilitarista. Tanto a filosofia de Kant quanto a de Mill é laica. Vázquez (1995) chama atenção para as mudanças nas doutrinas éticas e afirma que: As doutrinas éticas fundamentais nascem e se desenvolvem em épocas diferentes como resultado aos problemas básicos que surgem pelas relações entre os indivíduos, principalmente, pelo seu comportamento moral efetivo. Em toda moral efetiva se elaboram certos princípios, valores ou normas que mudarão de acordo com as mudanças da vida social. (VÁZQUEZ, 1995, p. 235). Nas bibliografias que tratam sobre as temáticas: ética e moral é comum os autores tratarem de ambos como sinônimos, outras vezes tratam de ética como se fossem normas a serem seguidas pelo homem, ou seja, não existe uma unanimidade sobre o conceito de ética. Essa confusão acontece devido à própria etimologia das palavras que possuem origens diferentes e significados idênticos. Moral vem do latim more quer dizer costume, conduta; enquanto ética vem do grego ethos e quer dizer costumes. Vázquez (2007, p. 24) aponta para a existência de uma estreita relação entre as palavras, mas com finalidades diferentes e define moral como: “um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano” e define ética como: “investiga e explica as normas morais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas principalmente por convicção e inteligência”. Vázquez (2007) aponta que a ética é teórica e reflexiva, enquanto a moral é eminentemente prática. Neste artigo, adotou-se o conceito de ética como sendo normas a serem seguidas pelo homem para que haja o bem-estar do conjunto dos seres sencientes. Nesse sentido, o objetivo do presente artigo é avaliar a importância da prática ética no desenvolvimento das atividades secretariais. 2 Ética nas organizações Nas organizações os indivíduos se relacionam uns com os outros diariamente e levam consigo para dentro das organizações as sua crenças e princípios que aprenderam enquanto membros da sociedade. Nasch (1993, p. 6) define ética nas organizações como “o estudo da forma pela qual normas morais pessoais se aplicam às atividades e aos objetivos de uma empresa comercial”, desta forma a ética que vigora nas organizações é a mesma que os homens constituíram na sociedade. Uma definição apresentada por Passos (2009) sobre a ética nas organizações é que ela significa “a forma de ser e modo de agir, não de maneira mecânica, mas como fruto da reflexão em consonância com a cultura e a filosofia da organização”. Assim como as doutrinas éticas mudam com o tempo, os valores organizacionais também mudam com as mudanças histórico-sociais e as relações humanas seguem a mesma tendência. Passos (2009, p. 66) salienta que a ética pode servir para regular as relações humanas dentro da organização e afirma que: Normalmente, o ambiente de uma organização é permeado por conflitos, por choques entre interesses individuais e também entre os interesses pessoais com os da própria instituição, desta forma a ética servirá para regular as relações, colocando limites e parâmetros a serem seguidos. Passos (2009, p.66) ressalta também que a ética organizacional também favorece outro ponto importante que é: A garantia da integridade dos indivíduos que vivem o dia-a-dia da empresa e sua saúde física e mental. Possibilitam que eles tenham alegria com o que fazem, fortaleçam o compromisso com a organização, renovem a coloquem em prática o poder criativo e produtivo que possuam, a solidariedade, o estímulo, enfim, as condições necessárias à manutenção da organização. A preocupação da ética nos negócios muda de décadas em décadas devido às mudanças histórico-sociais. Época remota já viveu uma preocupação ética voltada na desumanização do trabalhador e em sequência a preocupação do complexo industrial militar atrelada a preservação do meio ambiente. Hoje, coloca-se em foco, a questão da ganância e da desonestidade corporificado por situações como o tráfico de informações econômicas e também por conflitos de interesses, que podem ser observados através de litígios que têm levado muitas empresas consideradas sólidas à derrocada. Passos (2009, p. 67) afirma que: Mesmo havendo crescimento do número de empresas que demonstram interesse pela ética, há forte tensão entre a busca do lucro e a possibilidade de agir com ética. Também persistem alguns impasses como, por exemplo, a resistência das pessoas em admitirem que estão tendo atitudes antiéticas na vida em geral e, por extensão, no mundo do trabalho, preferindo culpabilizar a empresa e os outros pelas consequências de seus atos. A inexistência da ética na organização pode trazer conseqüências negativas e Aguilar (1996 apud PASSOS, 2009, p. 69) adverte que “o custo da conduta antiética pode ir muito além das penalidades legais, notícias desfavoráveis na imprensa e prejuízos nas relações com clientes. Muitas vezes consequência mais grave é o dilaceramento do espírito organizacional”. Ainda em Aguilar (1996 apud PASSOS, 2009, p. 70) ele chama atenção para a seriedade do assunto ética nas organizações e diz que “a ética empresarial transforma-se em mais um elemento da administração do dia-a-dia, juntamente com as operações e estratégia competitiva”. A ética é direito e vontade de justiça, porém também é arte que deve ser aprendida todos os dias. A prática ética é um importante patrimônio para os homens para a sua atuação na vida particular ou organizacional. 3 Ética nas atividades secretariais Antes de executar atividades o homem necessita ter uma profissão. Sá (2009, p. 147) esclarece que o conceito de profissão na atualidade é “trabalho que se pratica com habitualidade a serviço de terceiros”, ou seja, “prática constante de um ofício”. A profissão não tem apenas uma representatividade de utilidade para o indivíduo, mas representa também uma expressão social e moral. Cuvillier (1947 apud SÁ 2009, p. 147) destaca três pontos importantes do significado da profissão para o indivíduo: a) É pela profissão que o indivíduo se destaca e se realiza plenamente, provando sua capacidade, habilidade, sabedoria e inteligência, comprovando sua personalidade para vencer obstáculos. b) Através do exercício profissional, consegue o homem elevar seu nível moral c) É na profissão que o homem pode ser útil a sua comunidade e nela se eleva e destaca, na prática dessa solidariedade orgânica. Quando o indivíduo escolhe a sua profissão é necessário que ele consulte a sua consciência para verificar se a tarefa que desenvolverá é, realmente, a desejável, a condizente com o que o apraz, e se ele possui capacidade para realizá-la. Depois de assumido o compromisso o indivíduo está volvido para a produção com qualidade, para a materialização de todo um esforço, para a consecução de oferecer o melhor trabalho. Sá (2009, p. 169) destaca a importância da escolha de uma profissão e afirma que: A profissão não deve ser um meio, apenas de ganhar a vida, mas de ganhar pela vida que ela proporciona, representando um propósito de fé. Seus deveres, nesta acepção, não são imposições, mas vontades espontâneas. Isto exige, portanto, que a seleção da profissão passe pela vocação, pelo amor ao que se faz, como condição essencial de uma opção. O indivíduo deve estar atendo quanto à responsabilidade de se conhecer a profissão e a tarefa que executará. Para o exercício de uma profissão é necessário que se observe o pleno conhecimento, o domínio sobre a tarefa e a forma de executá-la, além da busca constante de atualização e aperfeiçoamento cultural. Sá (2009, p. 170) adverte que “aceitar um encargo sem ter capacidade para exercê-lo é uma prática condenável, em razão do dano que pode causar”, e adverte também que “quem aceitar prestar serviço sem ter a competência necessária ou sem estar atento para que esta se consubstancie comente infração aos princípios da ética, em razão do prejuízo defluente”. Para desenvolver as atividades secretarias o profissional de secretariado além de uma formação lastreada em conhecimentos teóricos, deve estar atualizado para as práticas das tarefas e em observância ao Código de Ética do Profissional de Secretaria que traz em seu escopo o direcionamento correto para a prática da profissão. As atividades desenvolvidas por este profissional são de grande relevância dentro de uma organização já que cabe a este profissional atuar como agente de: resultados, mudanças, facilitador e de qualidade, sem perder de vista a prática ética tão apreciada e exigida pelas organizações. Assim como as doutrinas éticas mudam de acordo com as mudanças da vida social é preciso especial atenção para o Código de Ética do Profissional de Secretariado, pois diversas mudanças já ocorreram no que diz respeito às práticas secretarias e que o referido código não prevê, a exemplo dos assuntos relacionados com a prática das atividades secretarias voltadas para o uso das tecnologias. Hoje, o uso das tecnologias para fins profissionais é considerado uma porta aberta para práticas profissionais antiéticas. 4 Características da ética profissional hoje Pode-se afirmar que a Deontologia é uma filosofia moral contemporânea, pois é uma teoria normativa segunda as quais as escolhas são moralmente necessárias, proibidas ou permitidas. A Deontologia é conhecida também como a Teoria do Dever e segundo Passos (2009, p. 107) é “sinônimo de ética profissional”. A Deontologia também se refere ao conjunto de princípios, regras de conduta, e deveres inerentes a uma determinada profissão, ou seja, é o tratado do dever ou o conjunto de deveres, princípios e normas adotados por um determinado grupo profissional, isto é, é preciso seguir normas para se atingir fins. Cada profissional está sujeito a uma Deontologia própria que regula o exercício de sua profissão, conforme o Código de Ética de sua categoria, a exemplo do Código de Ética do Profissional de Secretariado. Existem inúmeros códigos de Deontologia, cuja elaboração é de total responsabilidade das associações ou ordens profissionais. Estes códigos também propõem sanções, segundo princípios e procedimentos explícitos, para os infratores do mesmo. Passos (2009, p. 110) faz uma crítica sobre a ética profissional e diz que “seguir fórmulas prontas e códigos morais cristalizados vem sendo tomada como normas de administração do mercado de trabalho, de modo que não possuem um caráter verdadeiramente ético, deontológico”. 5 Conclusão A ética traz resultados positivos e a sua falta pode resultar em muitos prejuízos como: falta de credibilidade, afastamento de clientes, despesas judiciais, etc. O profissional de secretariado vive dentro de uma organização e convive com diversas pessoas e com muitas situações na qual exigirá dele uma conduta ética inquestionável. Este profissional precisa primar para que as práticas de suas atividades tragam os resultados positivos esperado pela organização. A associação de classe responsável pela elaboração do Código de Ética Profissional do profissional de secretariado precisa rever este documento, pois já é necessário contemplar questões éticas modernas no desenvolvimento das atividades secretarias, a exemplo do uso das tecnologias dentro do âmbito organizacional vivido por estes profissionais. Referências GORZONI, Priscila. Grandes mulheres. Revista Filosofia: conhecimento prático, São Paulo, n.24, p. 24-31, ago. 2010. NASH, Laura L. Ética nas empresas: boas intenções à parte. Tradução: Kátia Aparecida Roque. São Paulo: Makron Books, 1993. PASSOS, Elizete. Ética nas Organizações. São Paulo: Atlas, 2009. SÁ. Antônio Lopes. Ética profissional. 9 ed. São Paulo: Atlas, 2009. ______. Ética. Tradução: João Dell’Anna. 29 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Tradução: João Dell’Anna. 27 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.