EDUCAÇÃO E CORPOREIDADE NA PERSPECTIVA TRANSPESSOAL Tânia Maria de Carvalho Câmara Monte1 Departamento de Ciências Sociais – UFRN RESUMO: O presente artigo pretende traçar um paralelo entre a educação e a corporeidade na perspectiva transpessoal, que é a quarta força na Psicologia e surgiu após o behaviorismo, a psicanálise e o movimento humanista. Tendo raízes no existencialismo e na busca do sentido da vida e da existência humana. Essa abordagem teórica foi oficializada em 1968 por ela além de Franckl, Grof, Sutich e Fadiman, enfocando o estudo da consciência e o reconhecimento dos significados das dimensões espirituais da psique, especialmente os caracterizados pela experiência culminante, pela consciência cósmica unitiva, pelo êxtase e pela plena consciência (SALDANHA, 1999; BERGER, 2001). Reconhecendo que os seres humanos desempenham papeis sociais e profissionais, portanto dotados além dos conhecimentos intelectuais e técnicos, também de emoções que constituem a ecologia do ser, dessa forma de natureza bio-psico-social, considerando as instituições onde esses se inserem como uma rede integrativa de relacionamentos entre indivíduos, grupos e social. Palavras chave: Educação Corporeidade, Consciência. 1 Transpessoal, Mestre em Ciências Sociais UFRN, professora de Graduação em Pedagogia em na Pós-graduação em: Psicopedagogia, Gestão Educacional e Gestão de Pessoas. O capitalismo vigente nas décadas de 60 e 70 teve sua contestação pelas minorias, que se articulavam na tentativa da transformar o cenário econômico e social. No final do século XX e início do XXI, os sociólogos são convocados a se posicionarem a sobre questões a cerca desta nova sociedade, essas questões formam o horizonte pensamento de Bauman (1998), que discorrerá sobre as transformações sociais pelas quais passa a sociedade contemporânea em todas as esferas: vida pública, privada, relacionamentos humanos, mundo do trabalho, estado e instituições sociais, bem como o esgarçamento do tecido social e de suas consequências para o âmbito dos relacionamentos humanos. O impacto desses fenômenos nos relacionamentos afetivos interfere nas relações transformando-as sociedades líquidas, reflete Bauman (1998) que ancorado nas idéias dos pensadores franceses Jacques Derrida e Emmanuel Lévinas, pondera a respeito da baixa cotação da alteridade dos indivíduos que vivem este tempo, porém, não desenvolvem empatia com o outro nas relações de um modo geral, não havendo, portanto envolvimento em questões éticas. Como consequência predominam as dissoluções dos laços afetivos e sociais, de desapego e transitoriedade, uma presença sensação de liberdade que traz em seu reverso a evidência do desamparo social em que se encontram os indivíduos moderno-líquidos, assim a cultura do Eu sobrepõe-se a do Nós e o relacionamento eu-outro ganha poder de barganha, em que os tênues laços têm a possibilidade de serem desfeitos a qualquer momento e por qualquer insatisfação por ambas as partes. Relacionamentos voláteis e fluidos remetem a uma sensação de leveza e descomprometimento, que é muitas vezes associada à liberdade individual. Ter é ser e ser é, para aqueles que podem consumir, portanto, o valor é aferido, não pelo o que se é e sim pelo que se pode comprar, não há compromisso com a idéia de permanência e durabilidade, as identidades estão à disposição do consumidor. numa sociedade de consumo, compartilhar a dependência de consumidor – a dependência universal das compras – é a condição sine qua non de toda liberdade individual; acima de tudo da liberdade de ser diferente, de „ter identidade (BAUMAN, 2001, p.98). Salientando que o estilo de um homem ou de um determinado grupo nada mais é que a cristalização da época em que este se insere, permite que este possa servir de revelador da complexidade da vida social, assim a tônica do nosso tempo é o desprendimento das redes despertencimento social, a transitoriedade das relações, incluindo aí a própria família. Neste contexto as relações pessoais e profissionais vão também sofrer fortes modificações. Reconhecendo que os seres humanos desempenham papeis sociais e profissionais, portanto dotados além dos conhecimentos intelectuais e técnicos, também de emoções que constituem a ecologia do ser, dessa forma de natureza bio-psico-social, considerando as instituições onde esses se inserem como uma rede integrativa de relacionamentos entre indivíduos, grupos e social. vivemos no mundo e por isso fazemos parte dele; vivemos com os outros seres vivos, e portanto compartilhamos com eles o processo vital. Construímos o mundo em que vivemos ao longo de nossas vidas. Por sua vez, ele também nos constrói no decorrer dessa viagem comum. Assim, se vivemos e nos comportamos de um modo que torna insatisfatória a nossa qualidade de vida, a responsabilidade cabe a nós....o mundo não é anterior à nossa experiência. Nossa trajetória de vida nos faz construir nosso conhecimento do mundo – mas este também constrói seu próprio conhecimento a nosso respeito. Mesmo que de imediato não a percebamos, somos sempre influenciados e modificados pelo que experenciamos. Para mentes condicionadas como as nossas não é nada fácil aceitar esse ponto de vista, porque ele nos obriga a sair do conforto e da passividade de receber informações vindas de um mundo já pronto e acabado – tal como um produto recém-saído de uma linha de montagem industrial e oferecido ao consumo. Pelo contrário, a idéia de que o mundo é construído por nós, num processo incessante e interativo, é um convite à participação ativa nessa construção. Mais ainda, é um convite à assunção das responsabilidades que ela implica (MATURANA, 2003, contracapa). A valorização das pessoas nas organizações surgiu durante o período que se chamou de era do comportamento. Essa era foi marcada pelo movimento das relações humanas e pela ampla aplicação, nas organizações, das pesquisas da ciência do comportamento. Como ela só começou na década de 30, dois acontecimentos anteriores foram de relevância na aplicação e no desenvolvimento do comportamento organizacional. Maslow, que desenvolveu importantes teorias administrativas e foi um dos precursores da psicologia transpessoal que é a quarta força na Psicologia e surgiu após o behaviorismo, a psicanálise e o movimento humanista. Tendo raízes no existencialismo e na busca do sentido da vida e da existência humana. Essa abordagem teórica foi oficializada em 1968 por ela além de Franckl, Grof, Sutich e Fadiman, enfocando o estudo da consciência e o reconhecimento dos significados das dimensões espirituais da psique, especialmente os caracterizados pela experiência culminante, pela consciência cósmica unitiva, pelo êxtase e pela plena consciência (SALDANHA, 1999; BERGER, 2001). A Psicologia Transpessoal trás uma contribuição muito grande para a Educação, pois educar no latim exducere significa redescobrir a natureza do Ser Integral no seu aspecto imanente e transcendente. De acordo com Berger (2000, p. 491): tendo como pressuposto o contínuo processo de vir a ser, a transformação humana não é uma utopia inatingível, mas pode acontecer se os educadores aventurarem a ir além do intelecto, dos condicionamentos sociais e da história de vida de cada um, mergulhando no fascinante terreno da dimensão transpessoal. A Psicologia Transpessoal compreende os diferentes estados de consciência, na percepção dos diferentes estados demostrados para além da realidade objetiva os quais não são captados apenas pelos cinco sentidos, mas através das vivências projetivas e regressivas de memórias desenvolvidas a partir da corporificação da consciência. existem sistemas energéticos inacessíveis aos nossos cinco sentidos, mas registráveis por outros sentidos. Tudo na natureza se transforma e a energia que a compõe é eterna. A vida mental e espiritual forma um sistema suscetível de se desligar do corpo físico. A vida individual é inteiramente integrada e forma um todo com a vida cósmica. A consciência é energia, que é vida, no sentido mais amplo: não apenas a vida biológica, física, mas também a da natureza, do Espírito, a vida-energia, infinita na suas mais diferentes expressões (WEIL, 1999, p 9). Na abordagem transpessoal cada estado de consciência que esteja vivenciando (consciência de vigília, consciência de devaneio, consciência de sonho, consciência de sono profundo, consciência de despertar e consciência cósmica ou plena consciência), a realidade é percebida pelo indivíduo de forma diversa. O estado de consciência de vigília que é aquele em que passamos a maior parte do dia, ou seja, acordados, Assim o quadro abaixo elaborado por Kenneth Ring de acordo com Weil (1989, p 58). Figura 1: Cartografia da Consciência No estado de vigília predominam as funções do ego, ou seja, a mente, as emoções e os cinco sentidos, além disso, no estado de vigília o ego vive em um mundo tridimensional do espaço e do tempo, com a separação eu - mundo exterior, ou seja, é o mundo da dualidade (WEIL, 1978). é nele que consideramos os outros estados de consciência como “inconscientes”, o que é errôneo, além do que os estudos da microfísica e da psicologia transpessoal relatam que estamos enganados quanto à realidade energética das coisas. Pela linguagem do corpo, você diz muitas coisas aos outros. E eles têm muitas coisas a dizer para você. Também nosso corpo é um centro de informações para nós mesmos. É uma linguagem que não mente (WEIL, 1986 p.7). Proposições da Psicologia Transpessoal aplicadas à Educação “Mas, para mudar a educação, primeiramente os educadores precisam mudar a si mesmos. Usando a metáfora de Leonardo Boff, precisam descobrir que são águias” O homem, para a Transpessoal é o Ser Integral, ou melhor, o ser bio – psico, social, cósmico e espiritual, e a visão de mundo nessa abordagem teórica é a de um todo integrado, em harmonia, onde tudo é energia formando uma rede de inter-relações entre tudo que existe no Universo. Por conseguinte a educação transpessoal utiliza como recursos vivências oriundas de outras abordagens como um patchwork, elencando por exemplo: o relaxamento, a visualização criativa, e os desenhos objetivaram ativar a dimensão intuitiva, autocriativa e transpessoal utilizados para ampliar a consciência. ser-no-mundo com corpo significa estar aberto ao mundo e, ao mesmo tempo, vivenciar o corpo na intimidade do Eu: sua beleza, sua plasticidade, seu movimento, prazer, dor, harmonia, cansaço, recolhimento e contemplação. Serno- mundo com um corpo significa ser vulnerável e estar condicionado às limitações que o corpo nos impõe pela sua fragilidade, por estar aberto a uma infinidade de coisas que ameaçam sua integridade. Ser- no-mundo com um corpo, significa a presença viva do prazer e da dor, do amor e do ódio, da alegria e da depressão, do isolamento e do comprometimento. Ser-no-mundo com o corpo significa movimento, busca e abertura de possibilidades, significa penetrar no mundo e, a todo momento, criar o novo. Ser-no-mundo com o corpo significa a presença viva da temporalidade (GONÇALVES, 1997, p.103). REFERÊNCIAS BAUMAN, Z. O Mal-estar na Pós-modernidade. São Paulo: Jorge Zahar, 1998. ___________. Vida Líquida. 1ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006. BERGER, M. V. B. Educação Transpessoal: integrando o saber ao ser no processo educativo. Tese de Doutorado. Campinas, SP: FE / UNICAMP, 2001. ______________. Resgatando os Sonhos e as Esperanças dos Educadores: educação transpessoal. Anped, GT 20 Psicologia da Educação, 2000. BOOF, Leonardo. O Despertar da Águia; o diabólico e o simbólico na construção da realidade. Petrópolis : Vozes, 1998. 206p. MASLOW, A. H. Introdução à Psicologia do Ser. Rio de Janeiro : Eldorado Tijuca, MATURANA, H. Emoções e Linguagens na Educação e na Prática. BH: UFMG, 2001. MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 6. ed, São Paulo: Cortez, 2002. WEIL, P. et al. Pequeno Tratado de Psicologia Transpessoal. Petrópolis: Vozes, 1978. _____. Cartografia da Consciência Humana; pequeno tratado de psicologia, vol. I. Petrópolis: Vozes, 1986. _____. As fronteiras da evolução e da Morte; os limites de transformação da energia no homem. Petrópolis: Vozes, 1999. SALDANHA, V. A Psicoterapia Transpessoal. Rio de Janeiro : Record: Rosa dos tempos, 1999.