FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE ENSINO SUPERIOR DE UBERABA - FUMESU CENTRO SUPERIOR DE ENSINO – CESUBE LICENCIATURA PLENA EM EDUCAÇÃO FÍSICA A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO ENSINO DA DISCIPLINA JUDÔ PARA ALUNOS DE 04 A 14 ANOS DE IDADE UBERABA 2008 JOSÉ DOS REIS SOUSA A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO PARA O ENSINO DA DISCIPLINA JUDÔ PARA ALUNOS DE 04 A 14 ANOS DE IDADE Monografia apresentada ao Centro de Ensino Superior de Uberaba – CESUBE como parte das exigências para conclusão de curso de licenciatura plena em Educação Física, sob a orientação do MS. Prof. Marcio Mesquita. UBERABA 2008 AGRADECIMENTO Agradeço a Deus por me permitir trilhar até o final este árduo caminho que me trouxe à graduação superior em Educação Física o que sempre quis e que tanto lutei para obter. Agradeço aos meus Pais, honrados trabalhadores deste grande País, que acreditaram em mim como acreditam em si próprios. Que me favoreceram com cadernos e penas, com livros e escolas, com almoços, jantares, com noites bem dormidas, com casa bem guardada, com Irmão amado, com tudo enfim para que eu me sentisse bem protegido e feliz e pudesse assim estudar sem maiores preocupações. Estes Pais adorados suportaram em seus ombros toda a carga da vida que se desenrola no dia a dia tudo fazendo para que eu conseguisse alcançar meu Futuro que é também esta graduação. Agradeço aos meus Irmãos Izabel, Zezé, Cida, Hélio, Cidão e Luís, todos os que me foram presenteados por Deus para ser companheiros e amigos, por todos os momentos de alegrias e lágrimas que pudemos e soubemos compartilhar, que me dedicaram tanto amor e compreensão e que sei se sentem orgulhosos e felizes por este objetivo por mim alcançado. Agradeço aos Professores desde o primeiro, Professor Tranqüilo Baleano, lá na mais tenra infância, Professor Afrânio de Almeida; Professor Otávio Lamartine Leite Filho (Sansão) e na fase adulta Professor Messias Rodart Correa, todos estes grandes Mestres do Judô Nacional, condutores de milhares de jovens e que me proporcionaram conhecimentos, me ensinaram experiências, me testaram, me moldaram à custa de muito esforço e que quero se sintam recompensados, porque eu consegui dar prova de que são grandes Mestres, pois souberam me conduzir até este patamar da minha vida. Agradeço aos meus Colegas, amados irmãos de caminhada que ao longo destes anos me emprestaram seus conhecimentos, trocando comigo informações, me ensinando também a importância de conviver e de lutar em equipe e de quem sentirei muitas saudades no transitar da vida. Agradeço a todas as demais pessoas, familiares, amigos, companheiros, profissionais que de alguma forma colaboraram para que eu me formasse alcançando assim meu sonho, a meta de minhas orações, o meu futuro profissional enfim. A todos meu Muito Obrigado. Dedico esta monografia às Mães que Deus me deu Magda e Julieta; e aos Pais a quem Ele me confiou: Geraldo e Adelino, que me receberam com amor e aos quais devo tudo o que sou. A meta final do JUDÔ KODOKAN é o aperfeiçoamento do indivíduo por si mesmo, desenvolvendo um espírito que deve buscar a verdade através de esforço constante e da sua total abnegação, para contribuir na prosperidade e no bem estar do ser humano. (Jigoro Kano) O judoca não se aperfeiçoa para lutar. Luta para se aperfeiçoar. O Shiai não é um fim em si, nem um divertimento, mas um meio de treinamento. Qualquer que seja o resultado, vitória ou derrota, deve ser considerado como matéria de experiência para o estudo. Um passo para alcançar os degraus do progresso. Professor Robert Lasserre A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO PARA O ENSINO DA DISCIPLINA JUDÔ PARA ALUNOS DE 04 A 14 ANOS DE IDADE José dos Reis Sousa Aprovado em ____/____/_____. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________ Prof. Marcio Mesquita Centro de Ensino Superior de Uberaba _______________________________________ Prof. _________________ Centro de Ensino Superior de Uberaba ___________________________________________ Profª _______________________ Centro de Ensino Superior de Uberaba CONCEITO FINAL: _____________________ LISTA DE FIGURAS Figura 1.....................................................................22 Figura 2.....................................................................24 Figura 3.....................................................................27 Figura 4.....................................................................31 Figura 5.....................................................................37 Figura 6.....................................................................39 Figura 7.....................................................................45 Figura 8.....................................................................46 Figura 9.....................................................................46 Figura 10...................................................................48 RESUMO Esta monografia pretende, através de uma revisão bibliográfica, descrever a importância do lúdico no ensino do Judô para alunos de 04 a 14 anos de idade, sua evolução histórica, desde a criação do Jiu-Jitsu, arte da qual é originário, até os dias Para tal, verificou-se: os estudos feitos pelo mestre Jigoro Kano para transformar o Jiu-Jitsu em Judô; a chegada do Judô ao Brasil, com o Conde Koma; e a introdução do Judô como disciplina da Educação Física. Conclui-se que o Judô, além de ser um esporte, é um método de educação física e moral através da luta. Além de ser também uma arte marcial de origem muito antiga. O ensino do Judô tem se desenvolvido ao longo dos séculos de forma evolutiva, significativa e obediente a regras e técnicas nipo-ocidentais. A temática em apreço oferece oportunidade de, através da leitura cientificamente orientada, aperfeiçoar o acervo literário específico e melhorar o entendimento da importância do lúdico nas aulas de Judô. Palavras Chave: Lúdico. Disciplina. Judô. Alunos de 04 a 14 anos de idade. Jigoro /kano. ABSTRACT This monograph aims, through a literature review, described the importance of play in the teaching of Judô for students from 04 to 14 years of age, its historical development, since the creation of Jiu-Jitsu, art of what is originating, until the days To this end, it was found: the studies made by master Jigoro Kano to transform the Jiu-Jitsu in Judô; the arrival of the Judô to Brazil, with the Conde Koma, and the introduction of the discipline as Judô Physical Education. It is concluded that Judô, besides being a sport, is a method of education through the physical and moral struggle. Besides being also a martial art of ancient origin. The teaching of Judô has developed over the centuries of evolutionary way, meaningful and obedient to rules and techniques Japanese-Western. The topics under consideration offers opportunity, through reading scientifically oriented, improve the acquis specific literary and improve the understanding of the importance of fun in class, Judô. Keywords: Lúdico. Discipline. Judô. Students from 04 to 14 years of age. Jigoro / Kano. SUMÁRIO INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1 DISCIPLINA E LUDICIDADE NO ENSINO DO JUDÔ 1.1. Importância do lúdico na aprendizagem 1.2. A disciplina Judô no contexto educacional 1.2.1. Preceitos do Judô: ceder para vencer 1.3. O Judô como agente educacional 1.4. Observações críticas sobre didática no ensino do Judô 1.4.1. O aprendizado do Judô e o desenvolvimento globalizado de seus praticantes CAPITULO 2. A HISTÓRIA ORIENTAL E A HISTÓRIA OCIDENTAL DO JUDÔ 2.1. História oriental do Judô 2.2. História ocidental do Judô 2.2.1. Judô no Brasil CAPÍTULO 3 PRÁTICA E LUDICIDADE NO JUDÔ 3.1. Educação Física e Judô 3.2. Hierarquia de faixas 3.3. Nague No Kata CAPÍTULO 4 MÉTODOS E TÉCNICAS PARA O ENSINO DO JUDÔ 4.1. Judô tradicional 4.2. A importância de saber educar 4.3. Ludicidade como forma de estratégia no ensino do Judô 4.4. . Modelos de aulas lúdicas para ensino do Judô 11 18 29 37 42 CAPÍTULO 5. ESTRATÉGIAS E PLANEJAMENTOS DA AULA DE JUDÔ 5.1. Práticas didático-pedagógicas 48 CONCLUSÃO 53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 54 INTRODUÇÃO A Educação Física em nosso País foi reconhecida pelo Governo Federal através do Decreto Lei 1212/39, que oficialmente inclui o curso superior de Educação Física confirmada pela na LEI Nº. 9.394 /96 de 20 de dezembro de 1996 que normaliza “As Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)”, e que manda nos artigos seguintes: Art. 26, parágrafo 3º - “A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos”. Art. 27, inciso IV - “promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não-formais” Art. 29 - “ A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, completando a ação da família e da comunidade. (BRASIL, 2008, Lei nº. 9.394 /96 –LDB, art. 26, §3°; art. 27, IV; art.29) , O lúdico é um importante fator para o desenvolvimento biopsicossocial da criança. A palavra lúdico se origina do latim ludus que significa brincar ensina que o que caracteriza o lúdico “é a experiência de plenitude que ele possibilita a quem o vivencia em seus atos”. A ludicidade como um estado de inteireza, de estar pleno naquilo que faz com prazer pode estar presente em diferentes situações de nossas vidas. (GRILO, 2002, p. 96) Compreender o desenvolvimento escolar e infantil é uma das preocupações a qual envolve este projeto de pesquisa. Porém não nos deteremos apenas às questões do desenvolvimento motor infantil, pretende-se mostrar que tendo o judô como incremento e facilitador de atividades do corpo e movimento no intuito de melhorar o desenvolvimento na aprendizagem educacional, pode-se fazer dele um fator norteador dessa questão. Serão importantes assuntos e temas transversais propiciados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN da Educação Física e que podem ser elencados como moral, ética, valores humanos, justiça, solidariedade, respeito mútuo, conhecimento de outros valores culturais farão parte no processo da pesquisa. Pinto (1997, p. 336) afirma "não há aprendizado sem atividade intelectual e sem prazer"; se não há aprendizagem sem o lúdico, a motivação através da ludicidade parece ser uma boa estratégia no auxilio da aprendizagem, como podemos observar na afirmação de Mednick (1983 p..21). É evidente que precisamos de ambas as coisas, aprendizagem e motivação, para o desempenho de uma tarefa. A motivação sem aprendizagem redundará, simplesmente, numa atividade à cegas; aprendizagem sem motivação resultará meramente em inatividade, como o sono·. Serão abordados historicamente assuntos de como surgiu a arte de luta corporal, as qualidades culturais de Jigoro Kano o seu fundador, o vínculo dos Ninjas e objetivos marciais que inspirou o fundador e seus colaboradores. Segundo Neira (2004) pesquisador da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo “o desenvolvimento é um processo que se inicia a partir da concepção e continua ao longo da vida”. Fachada (1997) cita Piaget e Vigotsky como construtores do estudo acerca do desenvolvimento do intelecto através do movimento os quais levaram em consideração as teorias do construtivismo e a relação sóciointeracionista respectivamente. Entende-se assim que no trabalho direcionado às crianças no ensino básico fundamental, sendo o Judô um meio para direcionar, um instrumento estimulador das capacidades motrizes ao longo do desenvolvimento se revelará uma fonte inesgotável para o aproveitamento na aprendizagem escolar. Sendo ele também uma disciplina terá por sua vez que se servir de formas lúdicas para exposição de seus conceitos. Segundo Rizzo Pinto (1997, p. 315), “... o aspecto lúdico está adquirindo um caráter extremamente passivo," onde segundo o autor deve-se se reforçar a importância do fazer para viver, educar-se em lugar de torcer, sugerindo a utilização da atividade motora que caracteriza a infância: os jogos (GROSSO 2005 p. 21). Esse projeto de pesquisa pretenderá fazer ciente todos aqueles que dele tiverem acesso, a importância desse esporte o Judô como interventor progressista nas questões relativas à aprendizagem. No site “Judô Brasil” existe alguns estudos sobre a abordagem desenvolvimentista que se pode explorar em um ambiente de ensino de Educação Física propiciando aos educandos nova postura de comportamento disciplinar. A tendência aqui também é de possibilitar, antever atitudes perniciosas incoerentes aos conteúdos oferecidos pelos PCNs da Educação Física. Em nosso entendimento o Judô é um interventor eficaz que enriquecerá os estímulos de alunos de 04 a 14 anos como: respeito, limites, cidadania, regras, consciência em saber os momentos de decidir que são requisitos indispensáveis e básicos para o futuro de um mundo de relações e de paz. Queiroz et al (2006, p. 5) referem-se que “o mestre Jigoro Kano instituiu dois fundamentos básicos ao Judô, os quais dão bases para suas estruturas técnicas e filosóficas”. Estes fundamentos foram se expandindo por todo o mundo e através de uma contínua construção foram se fortalecendo e dando sustentação à luta até os dias atuais. (PERUCA, 1996, p. 65-66 apud QUEIROZ et all, 2006, p 6.). Há longo tempo estamos relacionados à prática de Judô participando como atleta competidor e senhor de títulos conquistados, atuando como árbitro de torneios em competições infantis, juvenis e adultos este período de dedicação foram proveitosos para aquisição de conhecimentos. Pretende-se com esta pesquisa literária conhecer, através de bibliografia científica as técnicas didático pedagógicas para o ensino aprendizagem de crianças e verificar a oportunidade de adequá-las ao ensino do Judô. Realizar o levantamento da produção científica sobre ensino da disciplina Judô e dispositivos lúdicos do ensino aprendizagem. Sintetizar os tipos de pesquisa e analisar a abordagem teórica metodológica dos artigos Delinear os principais resultados obtidos Analisar a contribuição desta produção científica no conhecimento pedagógico. Esta monografia vem de encontro à necessidade de se demonstrar que sendo o Judô uma disciplina com conceituações didático pedagógicas comuns às demais disciplinas, que sendo esta luta marcial um esporte e também uma forma de direcionar o aluno para alcançar pleno desenvolvimento não deixa de ser impositiva enquanto teórica e repetitiva sendo portanto necessário incluir em sua didática técnicas lúdicas. Alunos da faixa etária de 04 a 14 anos de idade requerem atenção especial, pois o que está em evidência é toda a expectativa de um desenvolvimento biopsicossocial com o mínimo de seqüelas possíveis. Através da presente revisão buscaremos reconhecer as práticas utilizadas pelos educadores que possam servir como proposta lúdica no ensino do Judô. Para ressaltar a relevância da técnica concordamos com o discurso a seguir: Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, de preocupação, de responsabilização e de envolvimento ético e afetivo com o outro (BOFF, 1999, p.01). Alves Junior (2001) faz clara observação ao expor que sem querer esgotar as possibilidades do desenvolvimento da prática do judô na universidade e ainda dentro das finalidades das instituições de ensino superior, temos as pesquisas, que entre outros objetivos, deve alimentar a prática pedagógica que é desenvolvida no judô, tanto o ensinado no ambiente formal como no não formal. Mesmo reconhecendo que já saímos de um período onde eram muito raras as pesquisas relacionadas ao judô, observamos que ainda é tímida a presença de trabalhos em congressos de educação física, mas já podemos encontrar algumas dissertações de mestrado na abrangência das lutas, em especial abordando o judô ou a capoeira. A pesquisa no campo das lutas e do judô é ainda um campo a se desenvolver, e pelo que podemos observar as relacionadas a gênero e idade merecem ser uma delas. Segundo estudo relatado por Grosso (2005) a luta, por questão de sobrevivência nasceu com o homem e os documentos desta afirmativa são dos tempos mitológicos. Em um manuscrito muito antigo, o Takanogawi, relata que os deuses Kashima e Kadori mantinham poderes sobre os seus súditos graças às suas habilidades de ataque e defesa. A Crônica Antiga do Japão (Nihon Shoki), escrita por ordem imperial no ano de 720 de nossa era, menciona a existência de certos golpes de habilidade e destreza, não apenas utilizados nos combates corporais, mas também, como complemento da força física, espiritual e mental, relatando uma história mitológica na qual um dos competidores, agarrando o adversário pela mão, o joga ao solo, como se lançasse uma folha. Segundo alguns historiadores japoneses, o mais antigo relato de um combate corporal ocorreu em 230 AC, na presença do imperador Suinin Taimano Kehaya, um lutador insolente foi rapidamente nocauteado por um terrível cultor do combate sem armas, Nomino Sukune. Naquele tempo não havia regras e combate padronizadas. As lutas poderiam desenvolver-se até a morte de um dos competidores. As técnicas de ataque e defesa utilizadas guardam muita semelhança com os golpes do sumô e do antigo ju-jitsu. (GROSSO, 2002) Nos arquivos do Instituto Kodokan encontra-se que o Mestre e precursor do Judô no mundo Jigoro Kano estabeleceu o Instituto Kodokan em 1882, época em que o dojô (local de treino) tinha apenas 12 tatamis e o número de alunos era nove. O ju-jitsu foi substituído pelo judô pela razão de que enquanto "jitsu" significa técnica o "do" significa caminho, este último podendo ter dois significados: o de um caminho em que você anda e passa e o de uma maneira de viver. (KISHIMOTO, 1997). A proposta, ao enfatizar valores como o desenvolvimento integral, a auto-responsabilidade, a cooperação, a moralidade, a inserção da criança no mundo natural e social, o desenvolvimento da linguagem, a criatividade, o senso estético e a expressão de sentimentos, aproxima-se de objetivos sugeridos por sistemas infantis de muitos países. Entretanto, há fatores culturais que conferem colorido especial a cada um desses valores. Diversos estudos (HENDRY 1986a/b; SHIELDS JR. 1993; FINKELSTEIN, IMAMURA, TOBIN 1991; PEAK 1991, TOBIN et al. 1987) na obra de Kishimoto (1997) mostram a preponderância das características coletivistas da sociedade japonesa e seus reflexos no sistema escolar. A inserção da criança no grupo como objetivo prioritário da educação infantil japonesa é apontada na pesquisa de TOBIN et al. (1987) e KISHIMOTO, 1997, p. 26), realizada nos anos 80, que identifica diferenças culturais entre Japão, China e Estados Unidos. (KISHIMOTO, 1997). A criança deve desenvolver habilidades para interagir positivamente com seu meio natural e social e incorporá-lo em sua vida diária com os objetivos de: “Ter prazer em experimentar fenômenos e eventos da natureza por meio de brincadeiras; brincar pela experimentação e criar com coisas que a cercam; desenvolver interesse por brinquedos e coisas feitas pelo homem. (KISHIMOTO, 1997, p. 68). Segundo Tani (1988, página, apud LIMA, 2005)1 até por volta dos 6 a 7 anos, a criança se caracteriza pela aquisição, estabilização e diversificação das habilidades básicas. Nos anos seguintes, até por volta dos 10 a 12 anos, teremos o refinamento e diversificação na combinação destas habilidades em padrões cada vez mais complexos. Por exemplo, a criança adquire primeiro o padrão fundamental de andar e com base nesse padrão, desenvolve o andar diversificado em termos e formas, velocidades e direções. As habilidades específicas do judô, nada mais são do que a combinação dos movimentos fundamentais em padrões mais complexos e assimilados com maior eficiência por aqueles que tenham passado por um programa hierarquizado de aprendizagem e adquiriu um grande repertório de comportamentos no campo das habilidades motoras básicas. Lembramos aqui que se a “base da construção do desenvolvimento motor deve ser formada por uma grande 1 WWW.FPJ.COM.BR diversificação de habilidades motoras básicas, enquanto que o acabamento constituiria na combinação dessas habilidades em movimentos cada vez mais complexos específicos”. Este estudo monográfico propõe a ludicidade como caminho para o aprendizado da disciplina Judô prescreve nesta metodologia algumas formas de usar o lúdico como ferramenta educativa as atividades deverão ser aplicada de forma lúcida e recreativa, utilizando-se os jogos, os desafios e as brincadeiras como meio de motivar as crianças para a aula. Forma lúcida na aplicação das atividades, não significa uma oposição aos conceitos disciplinares do judô, uma vez que as regras e as normas estabelecidas pelo professor para os jogos e as brincadeiras servirão como elementos disciplinares dos conceitos sociais a que nos propomos. Sugerimos aos professores de judô que consultem a bibliografia especializada nos jogos e na educação física infantil, onde poderão encontrar exemplos e, utilizando a sua própria criatividade, adaptar para a sua aula a forma que julgar mais motivadora eficaz. A monografia foi desenvolvida a partir de pesquisa qualitativa por compreender um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam descrever e decodificar os componentes de um sistema de significados. Tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social. Abordou-se com esta metodologia questões relevantes dos professores de Educação Física e da disciplina Judô nas suas ações e comportamentos que qualifiquem a aprendizagem de um esporte/arte/disciplina através da inserção do lúdico para alunos de 04 a 14 anos de idade. . Realizou-se, ainda, revisão de literatura na qual se contrastou as respostas obtidas com o ideal proposto pela literatura. CAPÍTULO 1 DISCIPLINA E LUDICIDADE NO ENSINO DO JUDÔ Uma das razões do título deste trabalho é poder viabilizar as possibilidades de uma dimensão ampla e irrestrita nas formas da educação infantil, e poder conduzir a fundamentos e atividades lúdicas e judoísticas no campo escolar. Pensar em desenvolvimento motor, para o crescimento global da criança concatenando apenas os recursos do Judô, é ao nosso modo de entender um tanto quanto limitado. Ações educativas como; combate a obesidade, hábitos alimentares corretos, faz parte de nosso projeto de educação, apesar que a representação mais forte para nortear as crianças em seus bons hábitos alimentares, está representado nos pais,assim como os momentos de lazer e educação em geral, se faz importante ao futuros desses infantes a participação dos pais, isso por entendermos que se faz no lar, o nascimento, ou o fim de um preparo de uma vivência psicológica estável ou harmoniosa, por questões semelhantes a essa problemática é que ao inserirmos o Lúdico no Judô escolar, estaremos oportunizando a melhoria da qualidade na Educação Física Escolar, e a contribuição para uma vida infantil de maior qualidade para o futuro 1.1. Importância do lúdico na aprendizagem A Educação Física pelo seu início histórico, estreitamente vinculado às instituições militares dos meados da metade do século passado, quase nada tem a ver com os objetivos reais desse trabalho. O que tem a ver o Lúdico nessas questões todas? Poderá alguém estar questionando a esse respeito através do Lúdico Incorporado ao Judô Escolar, desenvolvido por profissionais de Educação Física com conhecimento para aplicar coerentemente as ações pedagógicas e ampliar as possibilidades de dar certo fazendo preservar o contexto disciplinar, que, esta modalidade por si só trouxe ao mundo dos esportes e atividades físicas, por intermédio do professor, Jigoro Kano, em fevereiro de 1882. Fazendo um comentário às questões Lúdicas, Grosso et al (1977, p. 20.) informa que a realidade infantil é constituída de magia. O jogo, as brincadeiras e o faz de conta para as crianças são como os sonhos para os adultos. Isso que a criança brinca é coisa séria, é como a criança constrói a si mesma, à sua identidade e o mundo que a rodeia. Ela precisa de espaço e tempo para esse crescer. Para Miranda et, al (1983) o brincar para a criança é coisa séria, aquele que as proíbe, proíbe os meios de desenvolvimento físico, superiormente fornecido. A atividade dos jogos para os quais os instintos nos impelem é essencial ao bem-estar do corpo, a construção da personalidade e ao reconhecimento do mundo externo e interno. Portanto, é de suma importância a criação de espaços onde as crianças possam se relacionar, aprender, criar, e principalmente brincar. Conforme artigo citado em uma revista do CONFEF, entidade interventora do profissional em Educação Física, Considerando as exigências de qualidade e de ética profissional de educação Física deverá estar capacitado para: 1 – Compreender, analisar, estudar, pesquisar (profissional e academicamente), esclarecer, transmitir e, aplicar os conhecimentos biopsicossociais e pedagógicos de atividade física e desportiva nas suas diversas manifestações, levando em conta o contexto histórico cultural e pedagógicos de atividades física e desportiva nas suas diversas manifestações, levando em conta o contexto histórico cultural. 2 - Atuar em todas as dimensões de seu campo profissional, o que supões pleno domínio da natureza do conhecimento da Educação Física, e das práticas essenciais de sua produção, difusão, socialização e de competências técnico-instrumentais a partir de uma atitude crítico-reflexivo e ética; 3 – Disseminar e aplicar conhecimentos práticos e teóricos sobre a Educação Física/Motricidade Humana/Movimento Humano, analisando-os na relação dinâmica entre o ser humano e o meio ambiente; 4 – Promover uma educação efetiva e permanente para a saúde e a ocupação do tempo livre e de lazer, como meio eficaz para a conquista de um estilo de vida ativo e compatível com as necessidades de cada etapa e condições de vida do ser humano; 5 – Contribuir para a formação integral de crianças, jovens adultos e idosos, no sentido de que sejam cidadãos autônomos e conscientes. 6 – Estimular e fomentar o direito de todas as pessoas à atividade física, por vias formais. 7 – Promover estilos de vida saudáveis, conciliando as necessidades de indivíduos e grupos, atuando como agente de transformação social; 8 – Conhecer e utilizar os recursos tecnológicos, inerentes à aplicação profissional. (Cons. Fed). Ed. Física, RESOLUÇÃO CONFEF nº. 046/2002). Embasados por orientações de valores inestimáveis para a nossa época atual, no prisma da Educação, seguros também através das propostas desenvolvida por Freire (1999, p. 13), que reproduzimos aqui na íntegra, sobre a questão do professor ser responsável ou não, pelo bem, ou mal da saúde do envolvimento social, que todos os docentes devem ter em mente; Eis, a proposta de Paulo Freire....... “A questão da formação docente ao lado da reflexão sobre a prática educativo-progressista em favor da autonomia do ser dos educandos é a temática central em torno de que gira este texto. Temática a que incorpora a análise de saberes fundamentais àquela prática e aos quais espero que o leitor crítico acrescente alguns que tenham escapado ou cuja importância não tenhamos percebido. Mezzaroba et all (2006, p. 1) Quanto aos aspectos que devem nortear o trabalho do professor no processo ensino-aprendizagem, vários foram os princípios apontados pelos acadêmicos, embora muitos fossem sinônimos. Percebeu-se, também, que os acadêmicos que cursaram o Atletismo III tiveram mais coesão nas suas considerações, principalmente nos aspectos: lúdico, respeito à individualidade do aluno, domínio do conteúdo, coerência em relação aos objetivos propostos e espírito inovador. Outros aspectos também foram apontados, mas que não foram considerados de tamanha relevância como: motivação do professor e lúdico para se atingir o preparo físico. Em relação ao lúdico no processo de ensino-aprendizagem do Atletismo a grande maioria dos acadêmicos o considerou um meio de extrema importância no contexto escolar, principalmente por possibilitar variedades de brincadeiras e vivências (recreativas), por possibilitar a participação de todos, por ser uma atividade prazerosa e por ser um meio de iniciação, entre outros. As respostas menos consistentes em relação ao conceito de lúdico e sua utilização no processo escolar partiram dos alunos do Atletismo I ("o lúdico é importante, pois o atletismo é uma coisa muito chata"), enquanto que os alunos do Atletismo III viam no lúdico uma ferramenta a mais para o professor desenvolver este desporto na Escola, fazendo com que a criança se movimente brincando. (MEZZAROBA et all, 2006, p. 1). 1.2. A disciplina Judô no contexto educacional Judô significa em Japonês uma idéia de “Caminho Suave” sendo esta sua mais completa conceituação. (GODIM, 2007, p. 3) Estar em atuação no Judô, não é apenas conhecer técnicas eficazes para competir. Trata-se da própria formação espiritual do judoca, e esta preparação, que em hipótese alguma deve se separar da preparação técnica é que faz o verdadeiro judoca enfrentar competições tanto no tatame quanto na vida. Nas palavras do mestre JIGORO KANO, fundador do Judô, a definição do propósito da disciplina JUDÔ: "É o caminho, para a mais eficiente utilização da força física e espiritual, pelo seu treinamento de ataque e defesa, educa-se o corpo e o espírito. Tornando a essência espiritual do JUDÔ, uma parte do próprio ser. Desta forma será capaz de aperfeiçoar a si mesmo e contribuir com algo para valorizar o mundo, essa é a meta final da disciplina do JUDÔ." (GODIM, 2007, p. 3). O que reveste de valor o JUDÔ como educação é a formação espiritual, que deve ser intrínseca no treinamento do judoca. Porém, esta percepção moral não tomou parte do processo de evolução do Judô treinado em academias, pelo contrário, ficou retraída e em alguns casos até mesmo esquecida. (MORIMOTO, 2006, p. 1-3) O JUDÔ traz, portanto, uma filosofia de vida, que é obrigação dos mais experientes e especialmente daquele que assume o papel de professor, transmitir a todos que desejam trilhar nesse caminho. (MORIMOTO, 2006, p. 13) Assim, não é correto pensar no JUDÔ, como uma simples arma de defesa pessoal ou puramente como um esporte de ganhar competições, mas acima de tudo como uma maneira de viver. O praticante do JUDÔ, não deve ser apenas um competidor ou bom esportista, mas necessita absorver o conteúdo filosófico do JUDÔ, e utilizá-lo na prática para atingir a condição de verdadeiro JUDOCA. (MORIMOTO, 2006, p. 1-3) O CAMINHO DA SUAVIDADE é aprender a aceitar com naturalidade os fatores que facilitam e dificultam a nossa vida. (MORIMOTO, 2006, p. 1-3) 1.2.1. – Preceitos do Judô: ceder para vencer Aprender a respeitar o seu semelhante, com o mesmo respeito e sinceridade que faz a saudação REI (cumprimento). (Senso Comum, autor); (KANO, 1986) Aprender a ser humilde, com a mesma humildade que se executa os UKEMIS (amortecimento de quedas), caindo para se levantar. (KANO, 1986); (Senso Comum, autor); Figura 1. Aprendendo a cair Fonte: Arquivo pessoal do autor (2008) Aprender a ser perseverante, com a mesma perseverança que se praticam os UCHIKOMIS (treinamento para aperfeiçoar as técnicas). (Senso Comum, autor); (KANO, 1986); Aprender a ser justo com seus companheiros, com a mesma justeza necessária que deve ter o seu corpo para aproveitar o momento exato do KUZUSHI (desequilíbrio) do oponente. (Senso Comum, autor); (KANO, 1986); Aprender a ser firme, com a mesma firmeza de seus NAGUE-WAZA (técnicas de projeção), para assumir as responsabilidades que lhe couberem. Aprender a ser honesto e leal, com a mesma honestidade e lealdade de quando recebe o KACHI (vitória) no final de uma luta. (Senso Comum, autor) Aprender a ser disciplinado, com a mesma disciplina que se concentra no momento do MOKUSSÔ (meditação). (Senso Comum, autor); (KANO, 1986); Aprender a ser puro, com a mesma pureza que estava seu espírito quando ouviu pela primeira vez ONEGAI-SHIMASSU (por favor), dos seus colegas. (Senso Comum, autor); (KANO, 1986); O judoca, introduzindo no seu íntimo, os completos ensinamentos do JUDÔ, tem a sua forma de viver diferente, seja pela autoconfiança que transpira em sua alma, seja pelo respeito que dispensa as pessoas, seja pela certeza de estar num mundo bem melhor. (Senso Comum, autor); (KANO, 1986); Este aprimoramento do judoca, que não é apenas físico e técnico, mas ultrapassa os limites das palavras e atos materiais, faz com que ele como esportista, lute pelo seu intento, mas é capaz de aceitar com naturalidade, que a vitória e a derrota são unicamente, conseqüência de suas reais condições. Pois se não fosse assim estaria em desacordo com o princípio da suavidade. (KANO, 1986); Esta base filosófica faz com que o JUDÔ, se caracterize como um verdadeiro esporte, muito disciplinado e admirado, no qual o confronto corpo a corpo conduz a um melhor entendimento entre as pessoas, atingindo assim seus objetivos de sociabilização, educação e de cultura física para o bem estar do homem e do mundo. (KANO, 1986); 1.3 - O judô como agente educacional O JUDÔ não é apenas uma luta desportiva, ou um sistema invencível de ataque e defesa. Antes de mais nada é um processo de educar a mente, o corpo e a moral, portanto é EDUCAÇÃO. (MORIMOTO, 2006, p. 1-3) Estão absolutamente errados aqueles que querem através do JUDÔ, se tornarem apenas valentes campeões, embora o JUDÔ seja um esporte de luta, seus objetivos vão muito além da competição, visa acima de tudo uma formação global do indivíduo, portanto seu objetivo é nobre. (MORIMOTO, 2006, p. 1-3) Através do JUDÔ, os educandos podem adquirir condições suficientes e necessárias para enfrentar os rigores do dia a dia, com alegria, naturalidade, disciplina, esforço e coragem. Entre as virtudes sociais estão a vivacidade, a modéstia, a pontualidade e a justiça. Juntamente com o progresso técnico é desenvolvido o sentido de autoconfiança, o que constitui a base do equilíbrio mental e emocional. (GONDIM, 2007, p. 15) Sendo assim, a prática BEM ORIENTADA do JUDÔ, proporciona calma, paz de espírito, dignidade, compaixão e amor ao próximo, condições essenciais para uma vida próspera e coberta de satisfação. (GONDIM, 2007, P. 15) Ao contrário do que muitos pensam, o aprendizado do JUDÔ é muito fácil e agradável, não é necessário possuir condições físicas excepcionais; por outro lado é imprescindível ter boa vontade, dedicação, perseverança e disciplina. Disse bem Koizumi, introdutor do JUDÔ na Inglaterra, quando afirmou: "O aprendizado do JUDÔ, quando é realizado por professores dedicados e competentes, oferece meios para exercitar e recrear a mente e o físico, cultivando um equilíbrio harmonioso e global para a saúde da mente e do corpo, estimulando o ser humano a ser dono de seu próprio corpo, da sua mente e de suas emoções." (MORIMOTO, 2006). 1.4. Observações críticas sobre didática no ensino de judô Mesquita (1999, p.4)) observa nas aulas de judô uma forma rígida nos padrões disciplinares onde: [...] o professor confunde a sua autoridade de educador, que deveria ser uma ponte para o saber, “com autoritarismo, que o coloca no alto de um pedestal onde o seu poder não é questionável. Obrigando assim o aluno a executar exatamente aquilo que lhe é mandado, tolhendo assim a sua liberdade de refletir e criar. Tudo em função do “ bom funcionamento das aulas”. Figura 2. Kumikata (pegada) momento disciplinar rígido. Fonte: Ferreira (2007) Mesquita (1999, p.4) revela que muitos professores não são facilitadores na obtenção de conhecimento, não permitindo que os alunos tenham liberdade de criar e se utilizam excessivamente do estilo de ensino “COMANDO” cuja característica básica é o estímulo e resposta, onde todas as decisões são tomadas pelo professor, competindo ao aluno apenas realizar, seguir e obedecer, executando o que é imposto, sem questionamentos. O papel estratégico do professor no processo de instrução, para uma aprendizagem mais eficaz e eficiente envolve responsabilidades distintas que requerem um planejamento de instrução, apresentação de informação, avaliação do processo de ensino e acima de tudo motivação. Se o professor se posiciona de forma inalcançável ficará impossibilitado de exercer sua função de forma completa. (MESQUITA 1999, p.4)) Em relação ao fato de utilizar-se da ludicidade nas aulas de judô Duncan (1979, p. 13) em seu livro “Judô para Crianças” orienta: A ginástica de aquecimento pode ser praticada incluindo pequenas brincadeiras e jogos, mas não devemos deixar jamais que o JUDÔ recreativo penetre no espírito do adolescente, a disciplina, humildade, modéstia e respeito aos mestres não devem ser esquecidos jamais. Esta transcrição acima sintetiza o pensamento e conduta muitos professores de judô, que aparentemente “vestem” a armadura de Samurai, incorporam o “Bushidô” e ensinam o judô da mesma maneira que se ensinava no século passado, onde a ludicidade não estava em sintonia com o objetivo de formar “lutadores”. Grosso (2002) explica que pelo fato do judô ter vindo para o Brasil sob o domínio absoluto de japoneses, esses professores orientais não trouxeram para o Brasil somente a prática do judô, atrelados a ela, vieram seus costumes e tradições culturais. É comum referir-se ao Dojo que na tradução literal significa “local sagrado de aprendizagem”, como um local “santo” ao qual se deve ter verdadeira veneração e respeito. Há alguns professores que exageram em seus pensamentos e acreditam que o Dojo é uma “sala de meditação onde deve-se criar uma atmosfera de seriedade” (GALAN,1971, p.6). É também o “reduto, o templo sagrado onde praticamos e sempre reverenciamos a imagem do SHIHAN”.(GAMA, 1986, p.40), estas citações revelam o clima religioso e sério embutido na pratica do judô e assimilado de forma dogmática por gerações de professores até os dias atuais. Em relação ao comportamento dos alunos no Dojo, alguns professores recomendam ao judoca “não falar em voz alta sobre o tatame” (GALAN, 1971, p.12), Virgilio condena “as instalações onde o desleixo nos entra pelos olhos logo ao primeiro contato, onde a falta de ordem, a gritaria impressiona pessimamente” (p. 67). Alguns autores justificam os climas sérios, disciplinados da doutrina do “bom comportamento” através da preocupação com a segurança dos alunos, Reay (1990, p.24) determina: Não haverá conversa ou gritos durante os randoris, nem se deverá falar durante a instrução. O sinal de submissão do judô a uma chave de braços ou estrangulamento é uma ação específica de bater no chão. ... Se aos alunos fosse permitido gritar durante os treinos a classe não reagiria quando o instrutor tivesse de dar uma ordem repentina, numa emergência. Mesquita (1994, p.8) contestando esta justificativa afirma que este argumento não se sustenta, pois por ele se teria que impedir que “crianças e jovens não dessem gritos quando manifestassem grande alegria ou outros sentimentos”. (GROSSO, 2002). 1.4.1. O aprendizado do judô e o desenvolvimento globalizado de seus praticantes Alguns professores têm em mente como modelo de bom aluno aquele que nunca pergunta, não reclama, sempre acata o que o professor diz, não conversa e nem fica de pé durante a aula, em suma um aluno autômato e submisso. (GONDIM, 2007, p. 15) Nem sempre ocorre em toda a sua plenitude o processo ensinoaprendizagem em aulas de judô ministradas com essa filosofia. Essas aulas não seguem as tendências modernas da Educação Física Brasileira. A Educação Física para Ferreira (1997) é movimento, é agir com, pelo e através do corpo, é interagir no mundo com ele. É falar de corpo, de movimento, é falar de psicomotricidade, é perceber a relação que existe entre essas duas áreas do conhecimento humano. (GONDIM, 2007, p. 15) Para Fachada (1997) é importante elaborar uma teoria psicológica que estabeleça relações entre o comportamento, o desenvolvimento da criança e a maturação do seu Sistema Nervoso Central (S.N. C), pois só através destas medidas se podem construir estratégias educativas, terapêuticas e reabilitadoras adequadas às suas necessidades específicas. A psicomotricidade, desta forma, traduz a solidariedade entre a atividade psíquica e motora. A ludicidade tem assim sua importância evidenciada, pois se não favorecermos o processo de desenvolvimento dos alunos, eles não podem “agir com, pelo e através do corpo”, se as aulas tradicionais a que são submetidos não favorecem este objetivo. Para Mesquita (1994, p. 6) o judô traz desde seus primórdios estas formas autoritárias e doutrinárias, que o sistema japonês na época exigia “o sacrifício e a obediência sem contestação, para que a ordem e a disciplina fossem sempre mantidas”. “A obediência sem contestação” reforça o conceito de disciplina, conceito esse que é largamente exigido a um “bom judoca” como fica evidente na afirmação de Virgilio (1980, p.61): [...] é lamentável que esse mesmo progresso não tenha sido registrado também nos conceitos de disciplina, respeito e fraternidade. Conceitos esses indispensáveis aos judocas e dada a seriedade com que devem ser tratados, também determinam que uma nova revisão seja feita no contexto do nosso judô Esses valores tem sido negligenciados, esquecidos e abandonados por grande parte de nossas academias, por professores, principalmente os mais novos . Estes são mais suscetíveis às influências de outros esportes menos rígidos na observância desses valores e também, das condições atuais de vida, quando esses valores, já não são colocados no destaque que merecem no conceito cívico e desportivo. Virgílio (1980, p.61) revendo o contexto do judô, entende que os conceitos disciplinares estão sendo abandonados pelos atuais professores influenciados por outros esportes. Figura 3: Tradição e Veneração Fonte: Arquivo pessoal do autor Para eles é necessário manter as formas tradicionais do judô sem evolução e consequentemente sem reestruturação do sistema de ensino, como é de se esperar de qualquer atividade que queira cumprir seu papel na formação de seres plenos física, psicológica e intelectualmente. (GONDIM, 2007, p. 15) Não se pode, contudo, negar a importância da seriedade como fator educacional, sendo necessária no processo de ensino em que a disciplina é utilizada como um conjunto de prescrições ou regras destinadas a manter a ordem e regularidade das metas. A disciplina deve existir nas aulas de judô, mas não de uma forma tirana e castradora. (GROSSO, 2002) CAPÍTULO 2 A HISTÓRIA ORIENTAL E A HISTÓRIA OCIDENTAL DO JUDÔ Os primeiros indícios da utilização pelo homem de algumas formas primitivas de luta individual e sem armas data de três a quatro mil anos a.C., a partir daí, os sinais tornam-se mais nítidos e numerosos, possibilitando uma avaliação mais segura e precisa que nos autoriza afirmar que praticamente todos os povos da remota antiguidade já praticavam alguma forma de luta esportiva ou bélica. Assim foram os hindus, os chineses, os povos da Europa, das Américas e da Ásia, inclusive do Japão onde, segundo alguns historiadores algumas formas de lutas já eram conhecidas a cerca de dois mil anos a.C. (WIKIPÉDIA, 2008) Porém, até o século XVI as técnicas eram ainda muito primitivas e pobres, havendo a partir desse século uma evolução muito grande, principalmente em função da intensificação do uso por parte dos "samurais" que, além do aperfeiçoamento das existentes, desenvolveram uma enorme quantidade de técnicas novas que vieram enriquecer e consolidar o Jiu-Jitsu. (FPJ, 1999) 2.1. História Oriental do Judô No fim do século XIX, mais precisamente em fins da década de setenta e início da década de oitenta, quando Jigoro Kano inicia um estudo sistemático das artes marciais, já com os olhos na montagem de sua própria escola. Notava ele então, o empirismo das escolas e dos métodos da época. Estas estavam muito preocupadas com seus segredos e em ignorar os valores das outras, que propriamente progredir na busca da perfeição técnica e moral. A rivalidade nunca foi tão grande entre as escolas como nessa época, procurando umas destruírem as outras a qualquer custo, servindo os meios mais ilícitos, importando apenas a própria sobrevivência. (AUGUSTO, 2007) Como vemos, a ética e a moral não existiam e isso preocupou Jigoro Kano que colocou essa mesma ética e isso mesma retidão moral como metas a serem alcançadas. As técnicas também não lhe satisfaziam pela pobreza e inexistência de princípios pedagógicos e científicos e ainda mais, os perigos que essas técnicas representavam, causando acidentes mais ou menos graves que impossibilitavam uma participação maior, ampla e generalizada com que sonhava. Assim retirou-se com alguns alunos para o templo budista de Eishosi onde estudou e analisou cientificamente as técnicas mais em evidência na época, separando o que de bom havia, inventando quando necessário e surgindo então um novo método pela fusão de técnicas do antigo Jiu-Jitsu e dos princípios pedagógicos, morais e científicos e, ainda, sem um perigo maior de acidentes. (WIKIPÉDIA, abr. / 2008). Esse foi um período de grandes provações para Kano, pois mesmo lecionando no Colégio Gakushuin e, também mantendo sua escola de inglês, o Kobunkan, para cobrir as despesas com seus alunos em Eishosi, passava longas horas a noite fazendo traduções. Nessa época, todas as formas de luta e suas escolas eram vistas como uma espécie de reduto de marginais, portanto, não eram bem vistas pela sociedade e Kano tinha que também sobrepor a essa discriminação (AUGUSTO, 2007). Ainda aluno do mestre Iikugo, Jigoro Kano inicia a montagem de sua escola, o Kodokan, em fevereiro de 1882 e para isso convidou alguns alunos do Colégio Gakushuin e da sua escola de inglês, o Kobunkan, vários do quais alojou no templo de Eishosi e os mantinha às suas expensas. O primeiro aluno foi Tomita, que estava sempre a mão para Kano testar e aperfeiçoar as técnicas que desenvolvia. (AUGUSTO, 2007) É sabido que Jigoro Kano foi um homem de pequenas dimensões, com 1.55 m, e não mais que 55 quilos, como cita Virgílio em A Arte do Judô, 1994, foi um ser exemplar, graduado em Filosofia, Economia e Ciência Política na Universidade Imperial de Tóquio, além de muitos outros feitos, dentre eles de ser o primeiro japonês a pertencer ao Comitê Olímpico Internacional; tem como nome sugestivo "Pai da Educação Física do Japão". (WIKIPÉDIA, 2008). Tendo como objetivo tornar-se mais forte, buscou uma saída no Ju Jitsu, no entanto, foi um período de trevas para as Artes Marciais, pois perderam todo apoio que era dado pelo Clã dos Lordes (militares) pois tais clãs estavam perdendo seus privilégios perante a aristocracia. (AUGUSTO, 2007) Passagens dizem que, após muito sacrifício Sr. Kano conseguiu um primeiro mestre que iria lhe ensinar as raízes do Ju Jitsu, Teinossuke Yagi; mais tarde, foi substituído por Hatinossuke Fukuda, que faleceu dois anos depois, sendo continuado o processo de aprendizagem por Massatomi Iso, ambos da escola Tenjin - Shin - Yo - Ryû (a mesma "Tenshinshinyo - Ryû" citada pela FPJ). (AUGUSTO, 2007) Adquirido o conhecimento do Ju Jitsu, e vendo o potencial ali enclausurado que certamente poderia ter um valor educativo na preparação dos jovens, aprimorando seu autodomínio e buscando superar suas próprias limitações. Jigoro Kano centrou-se na "transformação daquela tradicional arte marcial num esporte que pudesse trazer benefícios para o homem, ao invés de utilizá-la como arma de defesa pessoal simplesmente" (FPJ, 1999). Jigoro Kano peneirou ao máximo o Ju Jitsu, buscando a análise e pesquisa de suas técnicas excluindo as mais prejudiciais e lesivas à sua prática por leigos. Tal estudo destas técnicas se deu no templo budista de Eishosi. Junto a esses pré-requisitos, Jigoro Kano idealizou princípios morais, éticos e pedagógicos, os métodos educacionais, como uma disciplina de Educação Física que não seja lesiva. (FPJ, 1999). Jigoro Kano: criador do Judô no mundo. Figura 4. Fonte: Ferreira (2007) Em 1882 funda sua própria escola - Kodokan (Ko significa fraternidade, Do, caminho, moral princípio, e Kan, instituto) - Ou seja, o Instituto para Estudar o Caminho, denominando seu projeto de JUDO KODOKAN, destinado à formação e preparação integral do homem através das atividades físicas de luta corporal e do aperfeiçoamento moral, sustentada pelos princípios filosóficos e exaltação do caráter, que era a essência do espírito marcial dos samurais, o Budô. (AUGUSTO, 2007) As formas e locais de luta, naquela época eram vistas como redutos de marginais e quem dedicasse seu tempo a tais atividades não era bem visto pela sociedade, no entanto Kano teria que superar tal preconceito. (AUGUSTO, 2007) A Tomita seguiram-se Yamashita, Shiro Saigo, Yokoyama, Nagaoka, Higushi, Nakagima, Arima e Amano Kai, e ainda, segundo o mestre Terayama, Matsuoka, Ysso Gay Kaso, Tobata Nobutaro e Toko Sambo. O Kodokan crescia em tamanho, em virtudes e no respeito da sociedade e para que assim continuasse, foram instituídas algumas normas que os alunos prometiam seguir e por elas empenhavam sua palavra: - Se for admitido no Kodokan, prometo não ensinar e nem divulgar os conhecimentos da arte que me será ensinada, salvo com autorização de meus mestres. (KANO, 1887 in Judô Brasil, 2008) • • • Não farei demonstrações públicas com o fim de obter lucros. Minha conduta nunca será de forma a comprometer e desacreditar o Kodokan. Não abusarei e nem farei uso indevido dos conhecimentos que vier a ter. (KANO, 1887in Judô Brasil, 2008) A finalização da parte técnica do Judô Kodokan se deu durante o ano de 1887. A partir daí, foi edificada sua esfera filosófica, chegando a um ponto ideal denominado por Jigoro Kano como: "Judô é a máxima eficiência do uso da mente e do corpo para o benefício e o bem estar mútuos Seiryoku - Zen - Yo = máxima eficiência com mínimo esforço Jita - Kyoei = bem estar e benefícios mútuos" (KANO, 1887 in Judô Brasil, 2008) Podemos dizer que a grande diferença entre o Judô e o velho Ju Jitsu é a elevação da arte marcial ao caminho de auto conhecimento. Com o intuito de aplicar os conhecimentos oferecidos pelo Judô não só no Dojo (local de prática, lugar iluminado segundo o budismo), Jigoro Kano nos coloca cinco princípios básicos: 1) Conceito de que o indivíduo deve dar toda atenção ao relacionamento entre ele e seu oponente, antes de realizar um ataque, deve observar o peso, a constituição física, os pontos fortes, o temperamento, etc. 2) A tomada de iniciativa devemos elaborar estratégias para realizarmos o desejo de conduzirmos o adversário numa certa direção. 3) Refletir, integralmente, para agir com determinação. Agir com determinação significa executar sem hesitação e sem segundas intenções. 4) Saber quando parar. Quando um ponto predeterminado for atingido, é tempo de cessar a aplicação de técnicas ou qualquer que seja a ação. 5) Andar por um caminho simples, sem se tornar arrogante com a vitória nem humilhado com a derrota; sem esquecer a cautela quando tudo é silêncio ou tornar-se amedrontado quando ameaçado pelo perigo. (VIRGILIO, 1994, p. 22) Sensei Stanlei Virgílio em sua obra, A Arte do Judô, 1994 coloca os princípios com compõe o Espírito do Judô. Caminhos a serem seguidos para percorrer o "Caminho Suave": 1) Conhecer-se é dominar-se, dominar-se é triunfar. 2) Quem teme perder já está vencido. 3) Somente se aproxima da perfeição quem a procura com constância, sabedoria e, sobretudo, humildade. 4) Quando verificares, com tristeza, que nada sabes, terás feito teu primeiro progresso no aprendizado. 5) Nunca te orgulhes de haver vencido um adversário. Quem venceste hoje poderá derrotar-te amanhã. A única vitória que perdura é a que se conquista sobre a própria ignorância. 6) O judoca não se aperfeiçoa para lutar. Luta para se aperfeiçoar. 7) O judoca é o que possui inteligência para compreender aquilo que lhe ensinam e paciência para ensinar o que aprendeu a seus companheiros. 8) Saber cada dia um pouco mais, utilizando o saber para o bem, é o caminho o verdadeiro judoca. 9) Praticar o judô é educar a mente a pensar com velocidade e exatidão, bem como ensinar o corpo a obedecer corretamente. O corpo é uma arma cuja eficiência depende da precisão com que se usa a inteligência. (VIRGÍLIO, 1994, p. 22) 2.2. História Ocidental do Judô Sob o domínio Americano o Japão viu-se obrigado a alterar muitas das suas tradições. Os americanos interditaram todas as atividades inspiradas no bushido. As artes marciais e o judô foram proibidos. O judô só podia ser praticado nas escolas. (FPJ, 1999) Em 1946, os professores do Kodokan foram autorizados a ensinar judô apenas às tropas americanas. Depois o judô foi permitido na condição de se apresentar, não como uma arte marcial, mas como um desporto. O Butokukai é definitivamente suprimido e o Kosen é forçado a decalcar as suas atividades pelas do Kodokan. (FPJ, 1999) Até então o judô fora difundido, sobretudo no Japão. Somente Kano e alguns dos seus discípulos o haviam introduzido na Europa e na América. (FPJ, 1999) Na Inglaterra, França, Estados Unidos, Argentina e outros começaram a despontar os primeiros iniciados no Judô. O judô iria expandir-se pelo mundo inteiro em pouquíssimo tempo. (FPJ, 1999) Em 1950 cerca de 150.000 judocas são cintos negros. No ano seguinte as forças americanas autorizam o ensino do judô nas escolas japonesas. Em 1952, quando do 70º aniversário da criação do judô, contavam-se, somente no Japão, 200.000 cintos negros. (FPJ, 1999) Em 1956 o Japão organiza os primeiros campeonatos do mundo, em Tóquio, Natsui foi o grande vencedor. Em 1958, de novo em Tóquio, realiza-se a final do segundo campeonato do mundo: Sone bate Kaminaga. Desde o fim da guerra, mais de 15.000 estrangeiros estagiaram no Japão, a fim de se aperfeiçoarem. (SITE JUDÔ BRASIL, 2008) 2.2.1. Judô no Brasil O judô no Brasil foi introduzido no inicio deste século pelos primeiros emigrantes japoneses que vieram trabalhar na lavoura do café nas fazendas localizadas no estado de São Paulo e Paraná por volta de 1908. (FPJ, 1999) O Brasil teve dois grandes mestres desse esporte que lamentavelmente passaram desapercebidos diante de nosso publico devido a imprensa especializada apenas a dar valor ao futebol. Foram eles Ryuzo Ogawa e Sensei Ono. (AUGUSTO, 2007). Ryuzo Ogawa foi uma das maiores autoridades mundiais em judô tendo nascido no ano em que Jigoro Kano fundou a Kodokan e iniciado sua pratica de judô com 9 anos, treinando de 3 a 4 horas por dia. Foi honrado com diploma de mérito do imperador Meiji, por uma demonstração feita em Tóquio, tendo se tornado professor das crianças da realeza. (AUGUSTO, 2007) Em 1934, quando contava 52 anos, imigrou para o Brasil. Sendo possuidor do nono grau de faixa preta era uma das maiores autoridades mundiais em judô e, embora tivesse fundado a Associação Budokan do Brasil em 1945, jamais recebeu por parte da imprensa especializada a atenção que merecia. Na década de 60 a revista americana Black Belt dedicou extensa reportagem a sua pessoa reconhecendo-o como um dos grandes mestres mundiais nessa modalidade. Ao falecer com noventa e poucos anos de idade deixou atrás de si uma fortíssima organização de judô com quase oitenta academias. (AUGUSTO 2007) Dizem que quando sensei Ono chegou ao Brasil alugou um boxe no mercado municipal de São Paulo onde enfrentava qualquer adversário. Mais tarde tendo estabelecido sua escola de judô, veio a se tornar uma figura lendária e muito popular no estado de São Paulo, tendo treinado seu sobrinho Akira Ono, que viria a se tornar o primeiro campeão brasileiro a vencer os Jogos Pan-americanos em judô. (FPJ, 1999) Outra figura que se destacou, mas, a partir de 1908, era mais um dos discípulos de jigoro Kano, sensei Mitsuyo Maeda (shi-dan; 4º grau da faixa preta), conhecido também como o "Conde Koma", este ofereceu os seus serviços à Academia Militar, ensinando judô aos integrantes do Exército Brasileiro. Ele já havia estado antes, em 1906, juntamente com mais dois discípulos de Kodokan (Tsunejiro Tomita e Shinshiro Satake) nos Estados Unidos. Faziam demonstrações da nobre arte do judô. Como os americanos só acreditavam vendo, aceitaram mais de mil desafios de lutadores de boxe ou de luta livre, não perdendo nenhuma competição. Um dos primeiros alunos de Conde Maeda no Brasil foi o Sr. Carlos Gracie que aprendeu primeiramente as técnicas de Judô e depois técnicas de Jiu-jitsu e de outros tipos de combate que Sensei Maeda também dominava, esse conjunto de aprendizados foram o começo da família mais conhecida no mundo das artes marciais brasileira, a lendária Família Gracie, que inventou o Jiu-Jitsu Brasileiro ou Jiu-Jitsu Gracie. (AUGUSTO, 2007) Os primeiros professores enfrentaram muitas dificuldades e para poderem treinar e transmitir confeccionaram eles mesmos, rudimentares tatames de palha de arroz. (Figueiredo, 2008). Quanto à chegada de Conde Koma ao Brasil, existem várias divergências, no entanto, Rildo Eros relata a chegada de Conde Koma, através da cópia do Passaporte dele cedido por Gotta Tsutsumi, presidente da Associação Paramazônica Nipako de Belém, que revela sua chegada à Porto Alegre em 14 de Novembro de 1914, tendo ganhado tal apelido devido à sua elegância e semblante triste. No Brasil ele teria percorrido o caminho de Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, São Luiz, Belém (OUT/1915) e finalmente em Manaus em 18/12/1915. O grupo japonês, em Manaus, fazia demonstrações de técnicas de torções, defesa de agarrões, chave de articulações, demonstrações de armas japonesas e mesmo desafios ao público. Virgílio (1994) nos mostra que Maeda criou uma academia em Belém do Pará, cujo teve muita aceitação sendo freqüentada por último por integrantes da família Gracie. Nos primórdios, o Judô era filiado à Federação Paulista de Pugilismo, e suas respectivas regras de combates formuladas em 1936, há indícios que surgiu uma entidade não oficial entre 1933 e 1942, denominada Federação de Judô e Kendô, sendo a responsável pela divulgação do oficial Judô - Kodokan. Contudo, precisaríamos de um entidade nossa perante a legislação, com isso surge a Federação Paulista de Judô, em 17 de Abril de 1958. Já a Confederação Brasileira de Judô, segundo Matheus Sugizaki, foi fundada em 1969, sendo reconhecida somente em 1972.(FPJ, 2007). Após esta trajetória no tempo, temos como indícios duas correntes: a) Os pioneiros do Kasatu Maru, agricultores e colonos que praticavam o judô como um meio de laços à sua origem; amenizar a saudades e para a prática marcial desta arte inserida em suas culturas. Deste grupo destacamos Tatsuo Okoshi que chegou ao Brasil em 1924/1925, seguido de Katsutoshi Naito, Sobei Tani e Ryuzo Ogawa. (FPJ, 2007) b) E do outro lado os Lutadores, que buscavam e lançavam desafios e demonstrações lutando publicamente, utilizando o Judô (na verdade uma forma de vale tudo com Ju Jutsu, Judô, etc.) como forma de subsistência desta corrente destaca-se Mitsuyo Maeda, Takagi Saito, Geo Omori, Ono e os Gracie. (SITE JUDÔ BRASIL, 2008). CAPÍTULO 3 PRÁTICA E LUDICIDADE NO JUDÔ O professor interessado em promover mudanças, poderá encontrar na proposta do Lúdico uma importante metodologia, que contribuirá para diminuir os altos índices de fracasso escolar e evasão verificados nas escolas. “O Lúdico é eminentemente educativo no sentido em que constitui a força impulsora de nossa curiosidade a respeito do mundo e da vida, o princípio de toda descoberta e toda criação.” (Santo Agostinho) Figura 5 A ludicidade no judô. Fonte: Fotosearch, 2008. Gadotti (1993, p. 80) comprova e discute a má qualidade do ensino no Brasil em relação a outros países: Há 30 anos venho acompanhando a situação da escola e a deteriorização que se deu de forma acentuada no nosso país e na América Latina. Contudo, na América Latina, o Chile, a Argentina, o México, ao lado de outros países como o Uruguai e a Costa Rica, conseguiram avançar muito mais do que o Brasil. O grau de escolaridade é muito maior nesses países. No Chile, o analfabetismo é de apenas 2%, na Argentina, 3% e no México 5%, não se comparando com os índices de 30% no Brasil. (GADOTTI, 1993, p. 80). A utilização de atividades lúdicas nas escolas pode contribuir para uma melhoria nos resultados obtidos pelos alunos. Atividades de cunho lúdico poderiam auxiliar na busca de melhores resultados por parte dos educadores interessados em promover mudanças. O Lúdico apresenta valores específicos para todas as fases da vida humana. Assim, na idade infantil e na adolescência a finalidade é essencialmente pedagógica. A criança e mesmo o jovem opõe uma resistência à escola e ao ensino, porque acima de tudo ela não é lúdica, não é prazerosa. 3. 1. Educação Física e Judô Os conteúdos da Educação Física enquanto prática pedagógica passaram a englobar jogos diversos, esportes, lutas, danças e ginástica, adquirindo a partir do novo contexto aspectos que utilizam-se destes conteúdos para abordarem questões sociais, morais, éticas, intelectuais. Independente do conteúdo escolhido, entende-se que o processo de ensino e aprendizagem deve seguir uma linha de ação estratégica que contemple a formação do aluno como um todo, orientando-o no seu desenvolvimento como cidadão (BRASIL, 1997) Os conteúdos propostos para a Educação Física devem proporcionar aos alunos uma reflexão e discussão acerca da prática corporal numa perspectiva transformadora e crítica da realidade. Devemos trabalhar com conteúdos que abordem dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais, pois na escola não se ensina apenas conceito e fato, mas também habilidades, técnicas, atitudes, normas e valores. (GONDIM, 2005) Na prática pedagógica da Educação Física escolar, devemos analisar e propor uma série de conteúdos que venham condizer com os objetivos da disciplina. Ao citarmos o Judô e propormos a sua aplicação na escola, entendemos que esta luta pode contribuir com o processo de ensino aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento global da criança. (GONDIM, 2005) A universidade tem como excelência desenvolver e articular o ensino, pesquisa e a extensão, visando a produção e difusão de novos conhecimentos. (GONDIM, 2005) Entende-se que o judô desenvolvido como ensino pode se manifestar de duas maneiras na forma de uma disciplina que faz parte das grades curriculares dos cursos de graduação que visam formar futuros professores de educação física ou como modalidade esportiva na prática curricular da educação física. (ALVES, 2001) No Brasil, em algumas faculdades de Educação Física o judô é uma disciplina obrigatória, enquanto em outras ela pode ser uma disciplina eletiva. Atualmente verifica-se uma nova tendência que é a de abordar o judô enquanto uma das práticas de referência, de uma disciplina mais abrangente e que estamos chamando de ‘lutas’, que também tem sido denominada como de ‘combate’, ‘ataque e defesa’, ou como preferem alguns, ‘artes marciais’. A outra possibilidade do judô se desenvolver como ensino é na prática curricular, aberta a todos estudantes regularmente inscritos numa universidade que oferece a educação física como uma disciplina eletiva (GUEDES, 2001 p. 7391.) 3.2. Hierarquia de Faixas O judô deverá ser ensinado em seus primeiros passos dentro de uma proposta em que o aluno aprenda a formar convicções dentro de uma prática conscientizadora, em que o mais importante será entender os movimentos e aprender a desenvolver estratégias para vencer a resistência de seu companheiro, que está se movimentando e oferecendo resistência à sua frente durante todo o treinamento.(MESQUITA, 1994) Estas aulas deverão ser promovidas dentro de um clima prazeroso, em seus aspectos de coletividade e camaradagem, em que o bem estar comum deve ser sempre o ponto convergente de toda programação didática. (Mesquita, 1994) 3.2.1. Ordem e as faixas do judô: Figura 6 : Alunos hierarquicamente posicionados Fonte: arquivo pessoal autor (2008) • • • • • • • • • • • • • • • • • Faixa Branca - 8º Kyu Faixa Cinza - 7º Kyu Faixa Azul - 6º Kyu Faixa Amarela - 5º Kyu Faixa Alaranjada - 4º Kyu Faixa Verde - 3º Kyu Faixa Roxa - 2º Kyu Faixa Marrom - 1º Kyu Faixa Preta - 1º Dan Faixa Preta - 2º Dan Faixa Preta - 3º Dan Faixa Preta - 4º Dan Faixa Preta - 5º Dan Faixa Vermelha e Branca - 6º Dan Faixa Vermelha e Branca - 7º Dan Faixa Vermelha e Branca - 8º Dan Faixa Vermelha - 9º Dan • Faixa Vermelha 10 Dan. 3.3. Nague-No-Kata2 O Nague No Kata é o elenco de todas as técnicas demonstráveis do Judô (Grosso, 2002) e se encontra estruturado pelos 5 agrupamentos de técnicas que são: • • • • • Te-Waza Koshi-Waza Ashi-Waza Ma-Sutemi-Waza Yoko-Sutemi-Waza Cada agrupamento agrega, dentre várias técnicas existentes, as 3 mais representativas de acordo com as classificações relativas aos agrupamentos. 1. Te-Waza 1.1. Uki-Otoshi 1.2. Seoi-Nague 1.3. Kata-Guruma 2. Koshi-Waza 2.1. Uki-Goshi 2.2. Harai-Goshi 2.3. Tsuri-Komi-Goshi 3. Ashi-Waza 3.1. Okuri-Ashi-Barai 3.2. Sassae-Tsuri-Komi-As hi 3.3. Uchi-Mata 4. Ma-Sutemi-Waza 4.1. Tomoe-Nague 4.2. Ura-Nague 4.3. Sumi-Gaeshi 5. Yoko-Sutemi-Waza 5.1. Yoko-Gake 5.2. Yoko-Guruma 5.3. Uki-Waza Kime-No-Kata (GROSSO, 2002) O Kime-No-Kata é executado com as mãos nuas e também, com as espadas longa e curta (daitôo e shôotôo ) e também em duas posições : Idori ( execução ajoelhada ) e Tachi-Ai ( execução em pé ) 2 Golpe simulado (Idioma japonês) CAPÍTULO 4 LUDICIDADE NA AULA DE JUDÔ Ministrar aulas de Judô para crianças envolve diversos componentes pertinentes ao ensino, dentre eles, citamos como exemplos: a didática, a pedagogia, a metodologia, a avaliação e o planejamento. Na verdade, a metodologia no esporte de uma forma geral é passível de variações, contudo, no Judô por ser uma prática estigmatizada como “holística” “arte marcial” e/ou “filosofia”, o desafio de propor outras perspectivas metodológicas ou até mesmo de questionar o tradicionalismo, envolve o fato de irmos ao encontro de todo um paradigma tradicionalista de ensino ainda muito predominante nesta modalidade. (GONDIM, 2007, p. 14-16) 4.1. Judô tradicional No ensino do Judô ensinado através da perspectiva tradicionalista, percebe-se que a relação professor-aluno é vertical, ou seja, o professor é o dono da verdade e só ele é capaz de transmitir conhecimento, e o conteúdo que é transmitido pelo mesmo é extremamente tecnicista. De acordo com Bettman (1994), no Judô é comum presenciarmos a forma de ensino denominado como Bancária, onde o professor é o dono da verdade e cabe ao aluno apenas aprender sem jamais poder questionar. (BETMAN, 1994) O método tradicional de aulas de judô para crianças possui algumas características no dia-dia das práticas que podem ser observadas: pela organização seqüencial das aulas, de uma forma geral e que pode ser definido na seguinte ordem “padrão”: cumprimento inicial; aquecimento calistênico; preparação física para competições (melhora das capacidades físicas); Uchikomis (tipo de treino de repetição de técnicas); shiai/handori (sempre voltado para competições); conversa do professor geralmente voltada à análise técnica; e o cumprimento final (encerrando a rotina de “treino”). (GONDIM, 2007, p. 14-16) Devido ao modo analítico de ensino e também por geralmente existir um número excessivo de alunos por turmas, também é comum observarmos uma aula monótona onde as crianças esperam muito tempo para movimentar-se, passando boa parte do tempo sentadas de forma organizada (pernas cruzadas ou ajoelhadas) e esperando na maioria das vezes um longo tempo, na expectativa da oportunidade de participarem das atividades. (GONDIM, 2007, p. 14-16) Não diferenciando crianças de adultos inclusive na escola pública e ainda existe uma cultura de um Judô somente direcionado à competições, principalmente por parte dos pais, que do passado fazem também essa leitura errônea do Judô enquanto praticado por seus filhos. Cabe ao professor dialogar com os pais através de uma argumentação sólida mostrando para estes, que é importante um novo direcionamento quanto aos objetivos do Judô para crianças, pois é este fato que irá diferenciar o “Judô-competição” do “Judô-educação”. (GONDIM, 2007, p. 10) Como conseqüência de um método bastante “fechado” como é o tradicional, é que surgem problemas como a especialização precoce e que gera nas crianças um forte índice de lesões (devido ao uso de movimentos repetitivos e inadequados) e diversos distúrbios psicológicos (ansiedade, depressão, abandono da prática, agressividade etc.). (GONDIM, 2007, p. 10) Outra característica importante trata-se da técnica, que sem dúvida alguma faz parte do Judô, mas que não deve apresentar-se como única finalidade É importante que uma seqüência lógica de complexidade seja elaborada pelo professor (técnica crescente quanto ao nível de dificuldade), e que este, gradativamente insira as mesmas na prática sempre de forma racional e sistematizada. (GONDIM, 2007, p. 14) O tradicionalismo no Judô é algo que pode ser considerado de certo modo também como positivo, já que a forma de ensino por imitação não pode ser negada como uma opção na forma de repassar conteúdos, mas a existência de novos métodos que contribuam para a formação do indivíduo de uma forma integral passa a ser uma opção, já que essas novas propostas apresentam-se como alternativas mais pertinentes à um modelo de ensino diferenciado e muito mais satisfatório em todos os contextos, e condizente com a realidade da criança e do próprio Judô nos dias atuais. (GONDIM, 2007, p. 8) 4.2. A importância de saber educar A utilização de aspas na expressão educação “corporal” fornece uma pista de uma das questões que pretendemos colocar. A tradição racionalista ocidental tornou possível falar confortavelmente da possibilidade de uma educação intelectual, por um lado, e de uma educação física ou corporal, por outro, quando não de uma terceira educação, a moral - expressão da razão cindida das três críticas de I. Kant, filósofo que, não obstante, segundo Welsch (1988), preocupou-se intensamente com as mediações entre as diferentes dimensões da racionalidade. Essas educações teriam alvos, objetos bem distintos: o espiritual ou mental (o intelecto), por um lado, e o corpóreo ou físico, por outro, resultando da soma a educação integral (educação intelectual, moral e física). Tanto as teorias da construção do conhecimento como as teorias da aprendizagem, com raras exceções, são desencarnadas - é o intelecto que aprende. Ou então, depois de uma fase de dependência, a inteligência ou a consciência finalmente se liberta do corpo. Inclusive as teorias sobre aprendizagem motora são em parte cognitivistas. O papel da corporeidade na aprendizagem foi historicamente subestimado, negligenciado. Hoje é interessante perceber um movimento no sentido de recuperar a “dignidade” do corpo ou do corpóreo no que diz respeito aos processos de aprendizagem. Isso acontece, curiosamente, por intermédio dos desenvolvimentos nas ciências naturais (BRACHT, 1999) 4.3. Ludicidade como forma de estratégia no ensino do Judô O uso da ludicidade em aulas de Judô é defendido por Ruffoni (2006), quando este nos mostra que ela é inerente ao ser humano, principalmente na fase da infância, já que a criança aprende através do brincar (da brincadeira), explorando, desconstruindo e reconstruindo o conhecimento. A ludicidade no Judô é veículo para a facilitação da aprendizagem dos conteúdos judoísticos, que serão delimitados através dos objetivos determinados pelos alunos e professores (senseis). Figura 7: Aula de judô com aplicação de ludicidade Fonte: Arquivo pessoal do autor 4.4. Modelos de aulas lúdicas para ensino de Judô Os modelos ora apresentados são extraídos do cotidiano curricular do autor. Um dos mais apreciados momentos de ludismo em aulas de judô é a dinâmica do pique-corrente que se trata de uma espécie de jogo de pegador no qual existe um pegador inicial e quando este consegue aprisionar um colega passam a correr de mãos dadas para pegar outros que irão se agrupando formando a corrente. Essa aula é importante para o Judô no aspecto psicomotor irá trabalhar os membros inferiores dando tonicidade aos músculos e ventilação respiratória e cardíaca desenvolvendo ainda o espírito de coletividade e trabalho em equipe. Assim não há necessidade de trabalhar com exercícios repetitivos evitando rotinas cansativas no aquecimento e lesões por esforços repetitivos. O jogo do cabo-de-guerra, tão utilizado em dinâmicas de Educação Física também o é nas aulas de Judô por propiciar trabalhar o desenvolvimento dos membros superiores, costas e pernas; a segurança coletiva e o trabalho em equipe. Brincadeira-do-Relógio que é feita com os alunos em círculo e o professor ao centro com uma corda bem comprida com um nó na ponta. O sensei gira a corda rente ao chão no sentido horário e os alunos pulam sistematicamente, vai saindo quem não consegue pular na hora certa o que incentiva o espírito desportivo, a agilidade e destreza, os membros inferiores, a noção temporo-espacial. Medicinobol jogado com uma bola cheia de areia, de peso proporcional à faixa etária dos alunos os quais posicionados em círculo aceitam a sugestão do sensei para que um fique no meio o qual tentará interditar o passe da bola entre os alunos da roda. Este jogo trabalha membros superiores e inferiores, a agilidade de raciocínio e reflexos. Figura 8: Cambalhota Fonte: Arquivo pessoal do autor Figura 9: Cambalhota Fonte: Arquivo pessoal do autor A cambalhota é também uma aula lúdica quando os alunos se posicionam em fila indiana e o sensei ou professor deitado ao centro do tatame de costas com as mãos espalmadas para cima. Os alunos terão que correr em direção ao professor, apoiando-se em seus joelhos ou abdômen, conforme o tamanho e a faixa etária, e em seguida virar uma cambalhota com a ajuda das mãos do sensei caindo em pé do outro lado, no sentido vertical. Nos casos de dificuldades do aluno o professor deverá direcioná-lo apoiando com as pernas permitindo assim a finalização da cambalhota. Também existe a cambalhota sobre as costas dos colegas3. O futebol americano que é constantemente utilizado nas aulas de Educação Física também faz parte dos momentos lúdicos do Judô tendo em vista que trabalha agrupamento, força e destreza. Faz-se a separação por faixa etária e peso para evitar acidentes. O jogo da queimada, com dois tipos de bola (tênis e de pano) faculta a agilidade, o trabalho em equipe, a mobilidade, noção de dimensões devido aos tamanhos diferenciados das bolas, noção de força e arremesso. Como momentos lúdicos muito aguardados e que servem ao trabalho em equipe, destreza, presença de espírito e detectar a afinidade entre os alunos temos os jogos do lenço-atrás ou bola-atrás em que se forma um circulo 3 Figura 7 – cambalhota sobre as costas do colega e um dos alunos que é portador do lenço (ou bola) rodeia o circula por trás e deposita o lenço atrás de um dos alunos que ao se saber escolhido apanha o lenço e persegue o primeiro aluno “queimando-o” com o lenço ou bola. No caranguejobol os alunos divididos em duas equipes vão ficar deitados em decúbito dorsal, com mãos e pés apoiados no chão objetivando fazer gol no sentido contrário com uma bola comum. Trabalha-se os músculos superiores e inferiores, a tonicidade dos músculos e o fortalecimento. Pique rabo o objetivo é aquecer as articulações do corpo, elevar a freqüência cardíaca para a parte principal da aula, desenvolver a agilidade, além de motivar e integrar os alunos. Duração: 5 a 8 minutos. Material: Quimono com faixa. Qualquer idade. Cada aluno deverá prender a faixa do quimono atrás da sua cintura, de forma que fique visível para o restante da turma. Cada aluno será, ao mesmo tempo, pegador e fugitivo e, ao comando do professor, deverão tentar pegar as faixas dos colegas e, também, tomar cuidado para que ninguém pegue a sua. Assim, quem conseguir pegar o maior número de faixas e não ter deixado pegar a sua faixa será o vencedor. Durante a aula de judô são contadas histórias sobre a arte marcial, de cunho filosófico, que são cotadas como momentos lúdicos nos quais os alunos se sentem à vontade para questionar sobre a antiga história do Judô e seus mais proeminentes Mestres. CAPÍTULO 5 ESTRATÉGIAS E PLANEJAMENTOS DA AULA DE JUDÔ 4.1. Práticas didático-pedagógicas Figura 10: Técnica de imobilização Ossae-Waza do golpe Hon Kesa Gatame4 Fonte: Arquivo pessoal do autor Tema de Aula: Iniciação ao Judô/ Luta no chão: Katame-Waza 4 Hon: básico; Kesa: faixa; Gatame: imobilização. Significando “manter o adversário no solo’ Objetivo: Demonstrar visualmente como agir em determinadas circunstâncias durante a aula de Judô Tempo: 50 minutos Observações básicas do judô: REI Cumprimento O judô inicia-se e termina com REI. Cumprimentar corretamente é uma demonstração de respeito TAISSÔ Aquecimento O aquecimento é essencial na prática de qualquer esporte, notadamente no judô, que é um esporte viril, porque evita contusões. UKEMI Amortecimento de quedas Praticar UKEMI é indispensável no judô. Treiná-lo constantemente é proteger o próprio corpo. UTIKOMI Aperfeiçoamento de quedas O UTIKOMI e o KATÁ são fundamentalmente para que o judoca apresente uma técnica que alie a beleza e a eficácia. RANDORI Treinamento livre RANDORI é testar a técnica assimilada, procurando aplicar o golpe de maneira correta, observando principalmente a postura. SHIAI Competição SHIAI é a competição, onde se procura executar o que foi treinado nas aulas, abdicando da necessidade de vencer, e pensando em competir. Assim cada competição será uma vitória. OTACAI E NO REI (cumprimento mútuo) OMEGAI-SHIMASSU (cumprimento para início do treino) JO-SEKI E REI (cumprimento ao altar) NYUJÔ E REI (cumprimento ao entrar no Dojô) ZÁ-I NO SHISEI (posição sentada) TAIJO NO REI (cumprimento ao sair do Dojô) SUMIMASSEN OU SHIKKEI (perdão, desculpe-me) SENSEI E NO REI (cumprimento ao professor) NYUJÔ NO REI (ZA-REI) (cumprimento ao entrar no Dojô na posição sentado) GOMENKUDASSA (com licença) USI... TSUKO (passar por trás – devem) CONSIDERAÇÕES FINAIS Quando trabalhado de forma lúdico-educativa, e adaptado corretamente à idade e individualidade histórica e biológica de cada criança, o Judô, através de sua base filosófica, é capaz de favorecê-la bastante no desenvolvimento e aprendizagem de vários conteúdos, de forma que estará fortalecendo, por exemplo, a assimilação de normas e regras de convivência (interação, cooperação e disciplina); conceitos de respeito ao próximo e de organização; valores estes, que serão muito úteis, inclusive para a formação da personalidade da criança. Na prática desse esporte, serão desenvolvidas também as habilidades motoras básicas e específicas da criança, que lhe auxiliarão na formação de um amplo repertório motor, de grande utilidade no decorrer de sua vida. Frente a todos esses benefícios, podemos afirmar que o Judô é de suma importância no processo de formação educacional da criança. Vale ainda ressaltar, que o mesmo tem sido declarado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), como o esportes mais aconselhado na fase que compreende desde a infância até os quatorze anos de idade, pois, segundo a mesma, ele permite mediante o jogo e a diversão, conjugar fatores essenciais para o desenvolvimento do indivíduo, como por exemplo, a coordenação de movimentos, a psicomotricidade, o equilíbrio, a expressão corporal e a situacão espacial (percepção cinestésica). Além disso, devido a sua capacidade didático-pedagógica, o Judô, que é um esporte olímpico dos mais difundidos através de projetos sociais, favorece também à sua prática por deficientes visuais, autistas e portadores de Síndrome de Down. Na infância, as crianças deverão vivenciar uma grande diversidade de esportes, para que no futuro, tenham condições de escolher as modalidades com que mais se identificam, passando assim a treiná-las de forma mais técnica e competitiva (rendimento). Por fim, conclui-se que o Judô, assim como outras práticas esportivas, contribui para um pleno desenvolvimento motor, sócio-afetivo e cognitivo da criança, de forma que a mesma ao absorver esses benefícios, possa interagir junto à sociedade de maneira moralmente correta e autônoma. REFERÊNCIAS ALVES JUNIOR, E.D.: O Judô na Universidade: discutindo questões de gênero e idade. capítulo do livro Guedes, Onacir Carneiro (org), Judô evolução técnica e competição, João Pessoa: Idéia, 2001 p. 73-91. Com este título foi apresentado no Congresso Internacional de Judô realizado em João Pessoa no ano de 2001. AUGUSTO, JORDAN, Kumi-Uchi - O Princípio da Evolução. Textos e Ensaios. http://www.bugei.com.br/ensaios/index.asp?show=ensaio&id=84e 2007. 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FUNDAÇÃO do Instituto Kodokan Disponível http://www.kiai.com.br/judo.html > Data de acesso: 07/04/2008 em: GONDIM, F -) O Judô e a Criança - Benefícios desta Relação. “Divulgação liga RS de judô: Maio de 2005”. GONDIM, Denis Foster: Aspectos metodológicos aplicados ao ensino do judô para crianças. Or: Prof. Ms. Marco Aurélio L. Oliveira (ESEF-UPE) 2007 http://www.ligarsdejudo.com.br/2007/noticias/tcc_denis.pdf. Acesso em 07/04/2008 GRILO, A. P. S.; QUEIROZ, C. S.; SOUZA, I.P.N. e PINTO, R. C. S.: O lúdico na formação do professor. UFBA, 2002. Disponível em: http://www.faced.ufba.br/~ludus/trabalhos/2002.1/impludfp.doc Acesso em 07/04/2008 GROSSO, F.: A Ludicidade como estratégia motivacional da aprendizagem de judô para crianças na faixa etária de 4 à 12 anos (2005). Disponível em: http://www.judobrasil.com.br/2000/fgrosso.htm Acesso em 07/04/2008 GUEDES Onacir Carneiro (org), Judô evolução técnica e competição, João Pessoa: Idéia, 2001 p. 73-91. KANO, Jigoro. KODOKAN JUDO. 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