UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI FERNANDO BENIGNO DA SILVA FERNANDO ROBERTO CASTANHEIRA MAIA RENATO DOS SANTOS GREGÓRIO RODOLFO CÍCERO DE LIMA ARAÚJO ESCORREGAMENTOS DAS ENCOSTAS DA REGIÃO SERRANA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: FENÔMENO DENOMINADO DEBRI FLOW (CORRIDA DE LAMA) SÃO PAULO 2011 2 FERNANDO BENIGNO DA SILVA FERNANDO ROBERTO CASTANHEIRA MAIA RENATO DOS SANTOS GREGÓRIO RODOLFO CÍCERO DE LIMA ARAÚJO ESCORREGAMENTOS DAS ENCOSTAS DA REGIÃO SERRANA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, FENÔMENO DENOMINADO DEBRI FLOW (CORRIDA DE LAMA) Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Graduação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Anhembi Morumbi Orientador: PROFº. DR. WILSON SHOJI IYOMASA SÃO PAULO 2011 3 FERNANDO BENIGNO DA SILVA FERNANDO ROBERTO CASTANHEIRA MAIA RENATO DOS SANTOS GREGÓRIO RODOLFO CÍCERO DE LIMA ARAÚJO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Graduação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Anhembi Morumbi Trabalho____________ em: ____ de_______________de 2011. ______________________________________________ Profº Dr. Wilson Shoji Iyomasa ______________________________________________ Profª Dra. Adir Janete Godoy dos Santos SÃO PAULO 2011 4 “De tanto postergar o essencial em nome da urgência, termina-se por esquecer a urgência do essencial.” Hadj Garm'Orin 5 AGRADECIMENTOS Á nossas famílias, pela compreensão e apoio para finalização deste trabalho. Ao Professor Doutor Wilson Shoji Iyomasa, pela sua orientação que possibilitou a realização deste trabalho. 6 RESUMO O evento natural ou desastre natural, no último ano têm mostrado que há necessidade de se estudar e aprofundar-se nos conhecimentos sobre escorregamentos de encostas. Os acidentes geotécnicos acontecidos na região serrana do estado do Rio de Janeiro justificam essa necessidade, bem como, a busca por novas tecnologias para a previsão desse fenômeno. Neste trabalho os movimentos de massa foram categorizados pelas literaturas técnicas disponíveis até o momento, sendo que o assunto norteador principal foi o fenômeno denominado corrida de lama e detritos (Debri Flow). Visando auxiliar nos conhecimentos sobre este fenômeno, a presente pesquisa abordou as principais características deste tipo de movimento de massa, a predisposição natural das regiões para a ocorrência desse fenômeno, assim como as principais técnicas de instrumentação para monitoramento e levantamentos de dados necessários para a previsão destas ocorrências. A pesquisa mostra que os agentes antrópicos potencializaram as corridas de lama e aumentaram o número de vítimas. A região serrana do estado do Rio de Janeiro reúne diversos aspectos naturais que tornaram a região muito propícia à ocorrência dos diversos tipos de massa, esta pré-disposição natural aliada ao meio foram os grandes agentes responsáveis pela ocorrência do fenômeno devastador denominado Debri Flow. Palavras Chave: Movimento de Massa, Corrida de Lama, Fluxo de Detritos 7 ABSTRACT Natural event or natural disaster in recent years have shown that there is need to study and deepen the knowledge on landslide slopes. The geotechnical accidents that happened in the mountain region of Rio de Janeiro justify these needs, as well as the search for new technologies for predicting this phenomenon. In this work the mass movements were categorized by the technical literature available up to date, and the main topic was the phenomenon called mud flow and debris flow. In order to assist in the understanding of this phenomenon, the present study addressed the main characteristics of this type of mass movement, the regions of predisposition for the occurrence of this phenomenon, as well as the main techniques of instrumentation for monitoring and survey data needed to predict these occurrences. Research shows that anthropological agents potentiated the mud flow and increased the number of victims. Research shows that anthropogenic agents potentiated the mud races and increased the number of victims. The highlands of the state of Rio de Janeiro, brings together several natural features that made the region very conducive to the occurrence of different types of pasta, this predisposition coupled with the natural environment were the main agents responsible for the occurrence of the phenomenon called devastating Debri Flow. Keywords: Mass Movement, Mud Flow, Debri Flow 8 LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 - Características geométricas de um talude ............................................. 21 Figura 2.2 - Rastejo de solo ...................................................................................... 29 Figura 2.3 – Escorregamento Translacional .............................................................. 30 Figura 2.4 – Escorregamento Rotacional .................................................................. 31 Figura 2.5 – Escorregamento de Cunha ................................................................... 31 Figura 2.6 – Queda de Blocos ................................................................................... 32 Figura 2.7 – Tombamento de Blocos ........................................................................ 33 Figura 2.8 – Rolamento de Blocos ............................................................................ 33 Figura 2.9 - Desplacamento ...................................................................................... 34 Figura 2.10 – Desplacamento ocorrido na Venezula ................................................. 35 Figura 2.11 – Esquema de Deflagração de Fluxo de Detritos ................................... 38 Figura 2.12 – Zonas de uma corrida de Detritos com Fluxo canalizado .................... 39 Figura 2.13 – Depósito de Fluxo de Detritos na Cidade de Caraguatatuba em 1967 46 Figura 2.14 – Distância percorrida e deposição de detritos na cidade de Caraguatatuba no ano de 1967.......................................................................... 46 Figura 2.15 – Grandes Blocos de rocha no fluxo de detritos na cidade de Petrópolis em 1988 ............................................................................................................. 47 Figura 2.16 – Fluxo de Detritos na cidade de Petrópolis em 1988 ............................ 47 Figura 2.17 – Cicatrizes do Fluxo de Detritos nas encostas da Serra do Mar em Cubatão 1994..................................................................................................... 48 Figura 2.18 Deposição de blocos de rocha de grandes volumes e lama na área da planta industrial de Cubatão em 1994. ............................................................... 48 Figura 2.19 – Vista do local de deposição do Fluxo de Detritos em Cubatão ........... 49 Figura 2.20 - Inclinômetro ......................................................................................... 51 Figura 2.21 - Fonte: Esquema do piezômetro tipo Casagrande ................................ 52 Figura 2.22 – Esquema do medidor de nível d’água ................................................. 53 Figura 2.23 – Pluviômetro ......................................................................................... 54 Figura 2.24 – Esquema de levantamento de Carta Topográfica ............................... 55 Figura 4.1 – Geologia do estado do Rio de Janeiro .................................................. 60 Figura 4.2 Detalhe das estruturas geológicas da região serrana do estado do Rio de Janeiro ............................................................................................................... 61 9 Figura 4.3 – Cidade de Nova Friburgo estado do Rio de Janeiro.............................. 66 Figura 4.4 – Deslizamento circular/rotacional........................................................... 67 Figura 4.5 – Hospital São Lucas – Petrópolis, região atingida por blocos de rocha .. 67 10 LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 – Valores Obtidos com as Fórmulas Empíricas para estimar o volume de Debri Flow (Fluxo de Detritos)............................................................................ 42 Tabela 2.2 Relação de Ocorrências de Debri Flow (Fluxo de Detritos) ..................... 44 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ONU Organização das Nações Unidas ABGE Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental ABMS Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica COPPE Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia CPRM Serviço Geológico do Brasil CREA -RJ Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do estado do Rio de Janeiro DRM Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro GeoRio Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INEA Instituto Estadual do Ambiente INEMET Instituto Nacional de Meteorologia NADE Núcleo de Análise e Diagnósticos de Escorregamentos ONU Organização das Nações Unidas PUC Pontifícia Universidade Católica REAGEO Instituto Geotécnico de Reabilitação do Sistema EncostaPlanície 12 LISTA DE SÍMBOLOS IP Índice de Plasticidade m/s Metro por Segundo H Altura M Metro L Largura 13 SUMÁRIO p. 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 16 1.1 Objetivos ....................................................................................................... 17 1.1.1 Objetivo Geral.......................................................................................... 17 1.1.2 Objetivo Específico .................................................................................. 17 1.2 Justificativas ................................................................................................. 18 1.3 Abrangência .................................................................................................. 19 1.4 Estrutura do Trabalho .................................................................................. 20 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.............................................................................. 21 2.1 Estabilidade de Talude ................................................................................. 21 2.1.1 Causas e agentes.................................................................................... 21 2.1.2 Análise de estabilidade de taludes .......................................................... 23 2.1.3 Técnicas para estabilidade de taludes .................................................... 23 2.2 Agentes Deflagradores ................................................................................ 24 2.2.1 Teor de água no solo............................................................................... 24 2.2.2 Estrutura Geológica ................................................................................. 25 2.2.3 Redução do Ângulo de Atrito ................................................................... 25 2.2.4 Declividade do terreno............................................................................. 26 2.2.5 Agentes antrópicos .................................................................................. 26 2.3 Movimentos de Massa.................................................................................. 26 2.3.1 Rastejos .................................................................................................. 28 2.3.2 Escorregamentos .................................................................................... 29 2.3.3 Quedas e movimentos de blocos rochosos ............................................. 32 2.3.4 Corridas ................................................................................................... 34 2.4 Definição de Fluxo de Detritos .................................................................... 36 2.5 Deflagradores de Fluxos de Detritos .......................................................... 37 14 2.5.1 Características de Fluxos de Detritos ...................................................... 38 2.5.2 Classificação do Fluxo de Detritos .......................................................... 40 2.5.3 Parâmetros Importantes de Fluxo de Detritos ......................................... 41 2.6 Histórico e Tempo de Retorno do Fenômeno de Debri Flow .................... 43 2.7 Instrumentação ............................................................................................. 49 2.7.1 Inclinômetro ............................................................................................. 50 2.7.2 Piezômetro Casagrande .......................................................................... 51 2.7.3 Medidor de nível de água ........................................................................ 52 2.7.4 Pluviômetros ............................................................................................ 53 2.7.5 Medições Topográficas ........................................................................... 54 3 MÉTODO DE TRABALHO ................................................................................ 56 4 DEBRI FLOW NA REGIÃO SERRANA DO RIO DE JANEIRO ........................ 57 4.1 Características Geográficas da Região ...................................................... 57 4.1.1 Clima ....................................................................................................... 57 4.1.2 Vegetação ............................................................................................... 57 4.1.3 Relevo ..................................................................................................... 58 4.1.4 Descrição Geológica ............................................................................... 59 4.2 Agentes Deflagradores ................................................................................ 62 4.2.1 Índice pluviométrico ................................................................................. 62 4.2.2 Ação antrópica......................................................................................... 63 4.3 Tipos de Deslizamentos Registrados ......................................................... 65 4.3.1 4.4 Corridas de detritos ................................................................................. 68 Relatórios Oficiais Realizados .................................................................... 69 4.4.1 Ministério do Meio Ambiente ................................................................... 69 4.4.2 CREA – RJ .............................................................................................. 70 5 ANÁLISES DOS RESULTADOS ....................................................................... 73 6 CONCLUSÕES .................................................................................................. 75 15 7 RECOMENDAÇÕES.......................................................................................... 77 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 79 16 1 INTRODUÇÃO Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2011), a costa brasileira possui um total de 7.367 km de extensão, dentre estes, 1.500 km são pertencentes à Serra do Mar contemplando o trecho que vai desde o estado do Espírito Santo até o sul de Santa Catarina. Sua formação geológica é principalmente constituída por granitos, gnaisses e recoberta por uma camada delgada de solo. Inserida na Serra do Mar, é destacada a região serrana do estado do Rio de Janeiro, que apresenta os mais altos picos desta formação, localizados mais especificamente na área de domínio das cidades de Teresópolis, Nova Friburgo, Sumidouro, Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto e Itaipava, estes picos podem atingir altitudes superiores a 2.300 m. A ocupação desordenada nas encostas das regiões serranas, juntamente com a falta de uma política habitacional ocasionaram uma expansão imobiliária desenfreada, que contribuiu em muito na retirada da camada vegetal de proteção natural do solo, facilitando o carreamento dos materiais finos. Estes fatores somados às chuvas intensas e contínuas podem ter saturado o solo, reduzindo a coesão entre suas partículas. Tais fatos foram desencadeadores dos acidentes ocorridos, principalmente nos municípios de Teresópolis, Nova Friburgo, Sumidouro, Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto e Itaipava, este episódio foi classificado pela CHADE (2011) como sendo um dos dez piores acidentes geotécnicos do mundo, onde o número oficial de mortos ultrapassou 900 pessoas G1 (2011). Cabe salientar que, segundo algumas opiniões da comunidade científica internacional, o aumento da emissão de gases produzidos pelas atividades humanas causam o efeito estufa. Tal fato contribui para o aumento da temperatura no planeta e por consequência modificam todo o equilíbrio natural da Terra, entretanto esta afirmação ainda está sobre discussão, pois não existe uma comprovação de que tais fatos estão correlacionados ao aumento das chuvas. 17 É nesse contexto que o presente trabalho discorrerá sobre os processos relacionados ao: intemperismo, às morfogêneses, e às características geográficas, sobretudo climáticas e geológicas que agrupadas ao fator de interferência humana, constituíram um ambiente propício para a ocorrência do fenômeno chamado Debri Flow, também conhecido como corrida de lama e detritos. 1.1 Objetivos O presente trabalho tem como finalidade pesquisar quais fatores foram determinantes no escorregamento das encostas da região serrana do estado do Rio de Janeiro. 1.1.1 Objetivo Geral Estudar os tipos de deslizamentos conhecidos, assim como os fatores naturais e antrópicos responsáveis pela sua deflagração, tendo como foco principal o fenômeno de Debri Flow. 1.1.2 Objetivo Específico Estudo do processo denominado Debri Flow, conhecido no Brasil como fluxo de detritos ou corrida de lama, e assim auxiliar na compreensão deste fenômeno, discutindo quais tipos de instrumentos de monitoramento podem ser utilizados e como os seus resultados diretamente obtidos podem ser interpretados para a realização de uma previsão de uma possível ocorrência do fenômeno. Para atingir os objetivos específicos, utilizou-se na prática a recente ocorrência deste fenômeno na região serrana do Rio de Janeiro, principalmente nas cidades de Teresópolis e Itaipava, onde o processo de Debri Flow foi mais intenso. O desenvolvimento da pesquisa sobre Debri Flow é importante para a compreensão técnica deste fenômeno natural que pode ser potencializado pela ocupação irregular de encostas. Compreender os fatores determinantes que deflagram o processo 18 Debri Flow, abordar os mecanismos e instrumentos geotécnicos utilizados para o monitoramento que vise acionar um possível sistema de alerta para remoção da população, semelhante aos ao que ocorrem em países sujeitos a Tsunami. 1.2 Justificativas Os acidentes geotécnicos ocorridos no ano de 2010 e nos primeiros meses do ano de 2011 na região serrana do estado do Rio de Janeiro, caracterizados mais especificamente como rastejos, escorregamentos, enxurradas e corridas de lama Debri Flow, ocasionaram mortes e destruição. Este trabalho busca contribuir no esclarecimento das causas e do processo de formação de tais eventos, tendo como assunto principal o fenômeno denomidado Debri Flow, tipo de escorregamento que atingiu a região serrana do estado do Rio de Janeiro, o qual foi desencadeado por uma combinação de excesso de chuva e desrespeito aos cuidados que devem ser tomados para realização de construções em áreas propícias a riscos geológicos. O processo de deslizamento de encontras é um fenômeno natural e comum em áreas de relevo acidentado, sobretudo nas encostas. O trabalho aqui apresentado é voltado a descrever e detalhar os tipos de deslizamentos que podem ocorrer nas encostas, de forma a compreender como se manifesta e se comporta este fenômeno, abordando quais são os tipos de instrumentação técnica de monitoramento que podem ser aplicadas e como as variáveis medidas por elas são interpretadas para uma previsão de uma possível ocorrência. O foco do estudo de caso é discorrer sobre os levantamentos e monitoramentos das condições apresentadas na região serrana do estado do Rio de Janeiro, bem como avaliar as características metereológicas, pluviométricas e antrópicas, e o quanto estas foram determinantes para a ocorrência deste evento tão catastrófico. O desenvolvimento do assunto abordado neste trabalho é de suma importância, pois está ligado diretamente à segurança da vida das pessoas que residem em áreas de 19 risco, portanto se faz necessário o entendimento destes processos bem como tornálos cada vez mais públicos e disponíveis para consultas futuras sobre tais fenômenos. 1.3 Abrangência Este trabalho discorre, na revisão bibliográfica, sobre todos os tipos de escorregamentos, bem como aborda os principais fatores responsáveis por suas deflagrações. A pesquisa focaliza-se sobretudo no fenômeno ocorrido na região serrana do estado do Rio de Janeiro no início do ano de 2011, denominado Debri Flow, também conhecido com corrida de lama e detritos. Não faz parte do estudo aqui apresentado, descrever, discutir ou especular a respeito de métodos, técnicas, sistemas construtivos de proteção ou ações mitigadoras que tenham a função de evitar ou corrigir tais eventos, tampouco procurar responsáveis, direta e indiretamente envolvidos, vítimas e os protagonistas na tragédia que se abateu na região. O texto se atém aos deslizamentos ocorridos na região serrana do estado do Rio de Janeiro e sobre quais características este fenômeno se desencadeou. Este trabalho estuda o mapeamento geológico e geotécnico das regiões afetadas, porém, não apresenta análises do meio físico para o planejamento e a ocupação de maneira racional nas áreas sujeitas à ocorrência de acidentes. Não foram abordados métodos de cálculo nem modelos matemáticos, tampouco as soluções que estes pudessem apresentar, como bacias de dissipação, diques de impacto, diques de desvio, bem como obras de estabilização de rupturas, como retaludamentos, muros e obras de contenção diversas ou qualquer outro tipo abordagem que culmine em alternativas para a diminuição dos danos causados pelos escorregamentos, ou especificamente o Debri Flow. 20 Também não é escopo deste trabalho avaliar tipos de cálculo para determinação de velocidade porém, é importante sabermos que estas grandezas são estimadas hoje por fórmulas empíricas que são baseadas em eventos já ocorridos e que, apesar de servirem como balizadores para estudos, podem não corresponder ao que de fato ocorre na natureza. 1.4 Estrutura do Trabalho Esta pesquisa foi dividida em 7 capítulos, sendo que este primeiro capítulo expõe a introdução com os principais objetivos e organização. O Capítulo 2 contempla a revisão bibliográfica, onde foram abordados fundamentos teóricos geotécnicos, mais especificamente sobre estabilidade de taludes e encostas naturais, os principais tipos de escorregamentos assim como os agentes deflagradores destes eventos, bem como a definição de fluxo de detritos, assunto principal deste estudo, bem como suas principais características e alguns eventos já registrados ao longo da história. No Capítulo 3 são apresentados os métodos de trabalhos adotados para o estudo em questão, as principais fontes de pesquisa e obtenção de informações. No Capítulo 4, finalmente é apresentado o estudo de caso. A ocorrência do fenômeno conhecido como Debri Flow na região serrana do Rio de Janeiro no início deste ano. Foram apresentadas as principais características do evento, sua localização, danos e conseqüências causados pelo fenômeno à região. O capítulo 5 apresenta as análises e pareceres dos especialistas sobre o acidente que atingiu os municípios de Teresópolis, Petrópolis e Itaipava durante o mês de janeiro deste ano, as conclusões até o momento, o que foi e o que está sendo feito para mitigar os problemas causados pelo acidente. No capítulo 6 foram apresentadas as conclusões sobre como os fatos culminaram nos acidentes. O capítulo 7 foi reservado para recomendações e sugestões para estudos posteriores. 21 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Estabilidade de Talude Taludes são superfícies inclinadas que delimitam maciços de terra ou de rocha. São compostos basicamente pelas seguintes partes: crista ou topo, saia do talude e pé do talude DYMINSKI (2008). A Figura 2.1 destaca o esquema de um talude e suas partes principais. Os métodos utilizados para o estudo da estabilidade de taludes, adotam a hipótese do solo comportar-se como material rígido-plástico sempre no limite do escorregamento, sendo assim conhecidos “métodos de equilíbrios limite”. Figura 2.1 - Características geométricas de um talude Fonte: DYMINSKI (2008) 2.1.1 Causas e agentes Quando tratamos de estabilidade de taludes é importante diferenciarmos conceitualmente as causas dos agentes deflagradores. Entende-se como causa o modo de atuação de determinado agente, ou seja, um agente pode expressar-se através de uma ou mais causas. O agente água, por exemplo, pode influenciar na estabilidade de um talude de diversas formas, solifluxão, encharcamento do material ou liquefação espontânea causada por aumento na pressão neutra. GUIDICINI, NIEBLE (1984). 22 O agentes deflagradores estão subdivididos em dois tipos principais, são eles: Predisponentes: relacionado unicamente com as condições naturais do talude, condições geológicas, geométricas e ambientais, não sofrendo de nenhuma maneira a influência do homem. Estão enquadrados como agentes predisponentes: o estado de alteração dos solos e rochas, a inclinação superficial, o clima, o regime das águas, a gravidade, o tipo de vegetação e o calor solar. Efetivos: elementos diretamente relacionados ao movimento de massa, incluindo também a influência humana. Dentre os agentes efetivos podemos citar a pluviosidade ou chuva intensa, congelamento e degelo, variação de temperatura, erosão, terremotos, desmatamento, ação de animais e a ação humana. Já as causas, são diferenciadas em função da sua posição no talude TERZAGUI (1950). Distinguem-se como: internas, externas e intermediárias. A primeira não apresenta modificações nas condições geométricas do talude, o colapso é resultante de uma diminuição de resistência interna do mesmo, sendo estas causadas por aumento da pressão hidrostática, diminuição da coesão e ângulo de atrito por processo de alteração. A segunda apresenta um aumento das tensões de cisalhamento, sem que exista uma diminuição da resistência do material, estas podem ser causadas por deposição de material na crista do talude, retaludamentos, abalos sísmicos ou vibrações causadas por movimentação de equipamentos pesados entre outros. Por fim as causas intermediárias são resultantes de efeitos externos no interior dos taludes, enquadram-se nesta categoria o rebaixamento rápido do lençol freático e erosão subterrânea retrogressiva GUIDICINI & NIEBLE (1984). também conhecida como piping. 23 2.1.2 Análise de estabilidade de taludes De acordo com DYMINSKI (2008) para se analisar a estabilidade de taludes devemos aproveitar o conhecimento adquirido no estudo de escorregamentos já ocorridos dentro de diferentes tipos de condições geológicas e geotécnicas. É importante também estudar o efeito dos carregamentos naturais e dos carregamentos decorrentes da ação do homem, sendo assim, se faz necessário levar em conta nos estudos diversas condições de análise. Primeiramente, é necessário verificar a existência de alguns fatos que acometeram a região dos estudos ao longo dos anos, sendo exemplos mais comuns destes: terremotos, maremotos, explosões, altos gradientes de temperaturas além da execução de obras. A partir desta verificação, busca-se entender como a evolução pedológica foi responsável pelas diferenças nas características de cada talude. Após realização dos levantamentos e caracterização das condições, segundo DYMINSKI (2008) os deslizamentos e as conseqüências das suas catástrofes podem ser evitadas por meio de quatro medidas: restrição à ocupação de áreas de alto risco; adoção de normas e códigos para movimentos de terra e construções; execução de obras de drenagem, contenção e correção de geometria de taludes, para prevenção de escorregamentos; monitoração da água superficial e subterrânea e de deslocamentos, podendo ser desenvolvidos sistemas de alerta de movimentos iminentes. 2.1.3 Técnicas para estabilidade de taludes Apesar de não ser o objetivo deste trabalho, vale a pena citar algumas técnicas utilizadas para melhorar a estabilidade dos taludes. Entre as principais técnicas conhecidas destacam-se: 24 suavização do ângulo de inclinação ou execução de patamares; aumento do peso sobre o pé do talude com bermas de equilíbrio; execução de drenagem superficial e profunda; proteção dos taludes contra erosão com vegetação; injeção de nata de cimento ou outros produtos químicos; grampos, ancoragens e muros de arrimo. 2.2 Agentes Deflagradores Para que aconteça o movimento de massa é necessário que existam algumas condições que possam a vir a alterar a estabilidade de um terreno, como uma encosta com a declividade alta do terreno e a força da gravidade, a erosão, uma carga excessiva e a influência do homem que altera as características do solo, entre outros, estes fatores somados dão uma condição propensa ao deslocamento de terra, sabemos que apesar de contribuírem para a ocorrência do movimento de terra existem os agentes deflagradores que são considerados os principais responsáveis por provocarem estes eventos, MASSAD (2003). 2.2.1 Teor de água no solo O principal deflagrador e maior responsável pelos deslizamentos de terra é a chuva, esta pode ser extrema e rápida, moderada ou prolongada. Uma parte da água da chuva percola no solo e outra escorre superficialmente, a parte infiltrada é responsável pelo aumento do nível d’água sendo um dos principais agentes deflagradores dos movimentos de massa. A primeira delas seria porque a água que se infiltrou poderia elevar o lençol freático e provocar uma saturação do solo que mexe diretamente com os seus índices físicos interferido na sua plasticidade e fluidez e provocaria uma redução das tensões efetivas deste, levando-o a ruptura. A outra seria que o acumulo de água formada que vai penetrando na camada superficial formando uma franja de umedecimento que muitas vezes não chega a 25 atingir o lençol freático, mas provoca um acréscimo de carga que ocasiona um cisalhamento no solo. Além da chuva há outras precipitações que também podem agir como agentes deflagradores são as geadas e os granizos existem também agentes deflagradores de origem naturais que são mais raros de acontecer e não afetam as características dos solos, eles agem diretamente sobre o terreno provocando sua falência como ventos, furacões, sismos, erupções vulcânicas e raios YASSUDA (1988). 2.2.2 Estrutura Geológica Existem lugares em que as condições devido à estrutura geológica, que no caso existem fraturas, foliações, falhas e bandamentos associadas com angulação, direção e mergulhos, elas determinam o surgimento de descontinuidades mecânicas e hidráulicas as quais são aplicadamente as responsáveis pela deflagração de movimentos MASSAD (2003). 2.2.3 Redução do Ângulo de Atrito Os parâmetros mais importantes dos maciços rochosos ou terrosos na discussão de problemas de estabilidade são a coesão e o ângulo de atrito. Podemos entender como coesão as ligações intergranulares e a cimentação dos grãos componentes de um determinado solo, esta propriedade é característica dos solos argilosos que apresentam grande interação entre suas partículas. Já o ângulo de atrito é o ângulo máximo resistente ao deslizamento e rolamento das partículas uma por sobre as outras. Estes dois parâmetros são fundamentais para a definição das tensões de cisalhamento dos solos. O processo natural de alteração e transformação das rochas em solos leva a um enfraquecimento gradual do meio onde ocorre, causando uma redução natural da coesão entre as partículas e alteração do ângulo de atrito interno do solo conseqüentemente tornando-o mais susceptível ao colapso e escorregamento. 26 2.2.4 Declividade do terreno Regiões íngremes que possuem efetivamente inclinações altas também são diretamente responsáveis como agentes deflagradores, por melhor que seja a resistências dos materiais apresentados, quando disposto nestas áreas eles tendem a se locomover pela atuação da gravidade onde o apoio fica dependente da força de atrito, topos de picos e montanhas são área que há grande riscos de deslizamentos STRADA (2010). 2.2.5 Agentes antrópicos Associação do homem a ocupação em lugares propícios a haver deslizamento também é outro agente deflagrador onde homem constrói insistentemente em locais com alta declividade para usufruir de melhores paisagens, não se lembra de verificar as condições ambientais do local e acaba alterando a configuração do terreno com construções habitacionais, prejudica o ambiente com a desaflorestação, e altera capacidade da resistência da área muitas vezes saturando o solo com irrigação excessiva de área de plantio, sem verificar se a capacidade geológica adequada. 2.3 Movimentos de Massa Como sabemos a superfície da Terra está em constante transformação, e a gravidade ou campo gravitacional é o agente responsável pela tendência natural que os objetos ou corpos possuem de se deslocar do ponto mais alto para o mais baixo. Os movimentos de massa ou escorregamentos são a representação natural da atuação da força da gravidade no meio ambiente ou mais especificamente nas encostas naturais. Os movimentos de massa são diferenciados basicamente pelas características do movimento, tipo de material e geometria apresentados. Segundo VARGAS, PICHLER (1957), existem dois mecanismos principais associados a escorregamentos. 27 O primeiro, denominado “clássico”, explica a ruptura pelo aumento das pressões neutras oriundas de uma rede de fluxo, essencialmente paralela ao talude, que se eleva pelo afluxo de água infiltrada. A condição básica para que este mecanismo possa se desenvolver é que exista, subjacente aos horizontes superficiais, um horizonte ou camada essencialmente impermeável, que possa sustentar um nível d’água (N.A) pré-existente ao evento deflagrador da instabilização. O segundo, é o escorregamento provocado por desconfinamento, associa as rupturas apenas aos efeitos da infiltração d’água sobre a resistência ao cisalhamento dos solos, naturalmente insaturados, e cuja parcela de coesão depende, essencialmente, das tensões de sucção prevalecentes nestes solos. Duas são as situações mais comuns, que favorecem este tipo de escorregamento, que ocorre geralmente envolvendo cunhas planas de solo: cortes ou escavações nas encostas, produzindo taludes íngremes potencialmente instáveis ; e erosão, principalmente fluvial nas margens de córregos e riachos, produzindo profundos entalhes nas suas margens. Geralmente estes escorregamentos são deflagrados por chuvas intensas, que provocam uma redução da resistência ao cisalhamento pela infiltração d’água (redução das tensões de sucção), além de, freqüentemente, provocarem o preenchimento de trincas de tração durante picos de chuva, decorrendo daí pressões hidrostáticas nas paredes destas trincas “cleft pressures”. Os tipos processos de instabilização ocorrentes nas encostas são muito diversificados, seja no que se refere às formas das massas instabilizadas, seja no que se refere aos materiais envolvidos, apresentando ainda vários mecanismos diferentes associados a tais instabilizações. 28 2.3.1 Rastejos Os rastejos consistem em movimentos lentos, contínuos de grandes massas de solo em direção ao pé do talude. O solo adquire uma condição plástica, sem geometria definida e não apresenta superfície de ruptura definida. Os rastejos podem atingir camadas superficiais de solo, transição solo/rocha, e até mesmo rocha alterada e fraturada inclusive em profundidades maiores. Quanto ao material, considera-se o rastejo em solo superficial de encosta e rastejo em massa de tálus. Esses processos são identificados por meio de indícios indiretos, como o “embarrigamento” de árvores, deslocamentos de muros e outras estruturas, pequenos abatimentos ou degraus na encosta, este fenômeno é exemplificado na Figura 2.2. Os rastejos podem causar danos significativos em taludes e encostas adjacentes a obras civis. Podem também causar problemas nas fundações de pilares, pontes e viadutos. Além disso, os rastejos podem evoluir para escorregamentos, servindo como um indicador para movimentos mais rápidos. Certamente não existe um único mecanismo responsável por estes movimentos, assim como não se pode englobá-los num único tipo de fenômeno. WOLLE (1980, 1981) descreveu três tipos básicos de movimentos que ao final, apresentam consequências muito parecidas (deslocamentos de terreno de alguns milímetros ou poucos centímetros por ano ou décadas). Movimentos contínuos, com velocidades de deslocamentos muito reduzidas, mais intensos nas épocas das chuvas, devido à ação isolada da gravidade, conforme descrito por TERZAGHI (1950). Movimentos pulsantes, com resultante paralela à encosta e causados pelas alterações sazonais de temperatura e umidade do solo ou por forças de percolação por ocasião de períodos chuvosos. 29 Movimentos Bruscos, com deslocamentos finitos, restritos a porções da encosta, denominados “micro-escorregamentos” por Wolle (1981), provocados por vários fatores (preenchimento de trincas, redução da resistência do solo pela infiltração, quedas de árvores, etc...), mas que conseguem deflagrar um escorregamento que provoque o destaque da massa instabilizada. Figura 2.2 - Rastejo de solo Fonte: UNESP (2011) 2.3.2 Escorregamentos Conforme CAPUTO (1997), os escorregamentos são movimentos rápidos de massas de solo ou rocha, diferente dos rastejos, normalmente apresentam geometrias bem definidas. Durante um escorregamento o centro de gravidade da massa de solo se desloca para fora e para baixo da encosta ou talude que pode ser de corte ou aterro. Este tipo de fenômeno ocorre normalmente por um aumento das pressões neutras no solo ou diminuição da coesão entre as partículas em curtos intervalos de tempo. Estes mecanismos agindo individualmente ou combinados, levam os terrenos, que compõem os taludes e encostas naturais, a rupturas e deslizamentos. 30 Existem diferentes tipos de escorregamentos estes são diferenciados em função de sua geometria e das características do material de que são formados. Os escorregamentos translacionais ou planares, ver Figura 2.3, de solo são processos muito característicos das regiões serranas brasileiras, envolvendo solos superficiais, geralmente até o contato com a rocha subjacente, alterada ou não. Também ocorrem em taludes, mobilizando solo saprolítico, saprólitos e rochas, sendo condicionados por estruturas planares desfavoráveis à estabilidade, relacionados a feições geológicas diversas CAPUTO (1997). Figura 2.3 – Escorregamento Translacional Fonte: UNESP (2011) Os escorregamentos circulares ou rotacionais, ver figura 2.4, estes possuem superfícies de deslizamentos curvas, é muito comum neste tipo de evento o aparecimento de rupturas em série, combinadas e sucessivas. Costumam ocorrer em aterros ou faixas de solo mais espessas e rochas sedimentares ou cristalinas fraturadas. 31 Figura 2.4 – Escorregamento Rotacional Fonte: UNESP (2011) Existem também os escorregamentos em cunha Figura 2.5, estes costumam estar associados à os saprólitos e outros maciços rochosos, nos quais as estruturas planares de contato, desfavoráveis à estabilidade, acabam criando uma intersecção destes planos o que torna o solo muito susceptível à escorregamentos. Estes eventos são mais comuns em taludes de corte ou em encostas naturais que sofreram algum tipo de intervenção do homem CAPUTO (1997). Figura 2.5 – Escorregamento de Cunha Fonte: UNESP (2011) 32 2.3.3 Quedas e movimentos de blocos rochosos Os processos de movimento de blocos são rochosos e consistem nos deslocamentos, por gravidade, de blocos de rocha, podendo ser classificados em vários tipos. Queda de blocos: Figura 2.6, envolve materiais rochosos de dimensões diversas, que se descolam das encostas e caem em queda livre. Tombamento de blocos: Figura 2.7, evento que se caracteriza pela rotação dos blocos de rocha, com grandes quedas. Rolamento de blocos: Figura 2.8, corresponde ao movimento de blocos rochosos ao longo de superfícies inclinadas. Esses blocos, geralmente, encontram-se parcialmente imersos em matriz terrosa, destacando-se dos taludes e encostas por perda de apoio STRADA (2010). Desplacamento:figura 2.9, consiste no desprendimento de lascas ou placas de rocha que se formam a partir de estruturas, devido às variações térmicas, ou por alívio de tensão. O desplacamento pode ocorrer por deslizamento ao longo de uma superfície inclinada ou queda livre. Figura 2.6 – Queda de Blocos Fonte: UNESP (2011) 33 Figura 2.7 – Tombamento de Blocos Fonte: UNESP (2011) Figura 2.8 – Rolamento de Blocos Fonte: UNESP (2011) 34 Figura 2.9 - Desplacamento Fonte: UNESP (2011) 2.3.4 Corridas As corridas são movimentos de grandes dimensões de massas, que se movem na forma de escoamento rápido. As corridas apresentam uma constituição híbrida entre solo e água, e desta forma são controladas pela mecânica dos sólidos e dos fluidos. O grande volume de material e pelo extenso raio de alcance (muitas vezes quilômetros), resultam em um enorme potencial de destruição. As corridas de massa recebem diferentes denominações, dependendo das características do material mobilizado (textura, conteúdo d’água) e das velocidades de deslocamento do processo. Na literatura nacional e internacional utilizam-se termos como: corrida de lama Mud Flow”, consistindo de solo com alto teor de água; corrida de terra Earth Flow”, cujo material predominante também é o solo mas com teor menor de água; e corrida de detritos Debri Flow, cujo material predominante é grosseiro, envolvendo fragmentos de rocha de vários tamanhos. 35 Podem ser identificados dois mecanismos básicos da geração para as corridas de massa: Origem primária: formação das corridas a partir da desestruturação total do material mobilizado de escorregamentos nas encostas; Origem secundária: formação das corridas nas drenagens a partir da erosão e carreamento de detritos acumulados no leito e margem dos talvegues e barramentos naturais associados ao grande volume de água precipitada durante o período de chuvas. O processo de corrida de massa está associado à dinâmica de evolução das vertentes de relevos montanhosos, e, portanto, é natural que mostre certa recorrência ao longo do tempo. Todavia, a ocupação de encostas ( pelos diferentes tipos de atividade modificadora) sem determinados critérios técnicos pode antecipar e ampliar o processo. Danos causados por um fluxo de detritos na cidade de Caraballeda, na base da Cordilheira de La Costan, no litoral norte da Venezuela. Em dezembro de 1999, esta área foi atingida pelo pior desastre natural do século 20; muitos dias de chuva torrencial deflagraram o escoamento de lama, torrões de solo, água e árvores que mataram aproximadamente 30.000 pessoas GRAMANI (2001). Figura 2.10 – Desplacamento ocorrido na Venezula Fonte: LAWSON (2006) 36 Quadro 2.1 – Características do Movimento, Material e Geometria Vários planos de deslocamento (interno) Velocidades muito baixas (cm/ano) a baixas e decrescentes com a profundidade Rastejo ou fluência Movimentos constantes, sazonais ou intermitentes Geometria indefinida Poucos planos de deslocamento (externos) Velocidades médias (km/h) a altas (m/s) Pequenos a grandes volumes de material Geometria e materiais variáveis Escorregamentos Planares → solos poucos espessos, solos e rochas com um plano de fraqueza Circulares → solos espessos homogêneos e rochas muito fraturadas Em cunha → solos e rochas com dois planos de fraqueza Sem planos de deslocamento Movimentos tipo queda livre ou em plano inclinado Velocidades muito altas (vários m/s) Material rochoso Quedas Pequenos a médios volumes Geometria variável: lascas, placas, blocos, etc. Rolamento de matacão Tombamento Muitas superfícies de deslocamento (internas e externas a massas em movimentação) Movimento semelhante ao de um líquido viscoso Desenvolvimento ao longo das drenagens Corridas Velocidades médias a altas Mobilização de solo, rocha, detritos e água Grandes volumes de material Extenso raio de alcance, mesmo em áreas planas Fonte: OLIVEIRA, BRITO. (1998) 2.4 Definição de Fluxo de Detritos Corridas ou fluxos de massas são escoamentos que apresentam características essencialmente hidrodinâmicas, que são causadas pela diminuição do atrito interno do solo na presença de excesso de água. Estes movimentos são característicos por transportarem grande quantidade de materiais como solo, rocha, árvores e lama e que ao atingir o canal de drenagem natural d’água , formam uma massa de elevada densidade e viscosidade. A massa deslocada pode atingir grandes distâncias com extrema rapidez, mesmo em áreas pouco inclinadas, com consequências destrutivas muito maiores que os escorregamentos. 37 Segundo MASSAD (2003) os movimentos conhecidos como fluxos diferenciam-se dos demais devido a características particulares como: alta velocidade, grande capacidade de erosão, destruição e transporte de “detritos”. Uma definição básica de fluxo de detritos Debri Flow corresponde a um fluxo de mistura de sedimentos e de água que simula um fluido contínuo conduzido por gravidade e que alcança grande mobilidade, arrastando árvores, rochas, detritos, solo, lama, e outros materiais presentes ao longo de sua trajetória. 2.5 Deflagradores de Fluxos de Detritos Uma corrida de detritos pode ser deflagrada por diversos motivos, quase sempre, estão associados à infiltração de água no solo, porém parâmetros como inclinação da encosta, área da bacia, uso e ocupação do solo e altura da encosta também são considerados importantes. Todos os anos são registrados nas regiões serranas do sul e sudeste do Brasil eventos de instabilização de encostas. Estes acidentes geotécnicos ocorrem predominantemente nas estações chuvosas na figura 2.11 segue diagrama detalhado das série de eventos ocasionadores. 38 Figura 2.11 – Esquema de Deflagração de Fluxo de Detritos Fonte: MASSAD (2003). 2.5.1 Características de Fluxos de Detritos Os fluxos de detritos podem se iniciar sob a forma de um escorregamento que, ao atingir um curso d’água, a massa deslizada agrega fluidez e velocidade, comportando-se como um fluxo MARCELINO (2003). As corridas caracterizam-se por se constituírem de escoamentos rápidos de água e materiais sólidos de diversos tamanhos e constituições, que demandam elevadas energias e apenas ocorrem em condições excepcionais, em que o fluxo de água e/ou materiais sólidos é suficientemente elevado para produzi-las. O caminhamento das corridas se dá ao longo de drenagens em vales estreitos encaixados nas encostas até que, ao atingir vales mais abertos ou a planície, com 39 declividades mais baixas, ocorre o espraiamento e a deposição de material, cessando a corrida. Conforme VANDINE (1996), o perfil de um talvegue ou córrego que tem potencial de deflagrar uma corrida pode se dividir em três zonas: Zona de iniciação correspondente às áreas com declividades superiores a 25°; Zona de transporte e erosão que apresenta declividades maiores que 15°; Zona de deposição que pode ser dividida em zona de deposição parcial, na forma de diques, geralmente com uma declividade menor que 15°, e a zona de deposição final (Debri fan ou leque de deposição) com declividades menores que 10°. Figura 2.12 – Zonas de uma corrida de Detritos com Fluxo canalizado Fonte: VANDINI (1996). 40 2.5.2 Classificação do Fluxo de Detritos Os escoamentos rápidos conhecidos como corridas ou avalanches são sem dúvida os eventos naturais com maior capacidade de destruição. Na íntegra o termo Debri Flow, significa corrida de detritos, porém em São Paulo, esse termo é adotado para caracterizar qualquer tipo de corrida, o que muitas vezes causa confusão nas interpretações e classificações dos eventos ocorridos. As corridas são classificadas em função do tipo de material que transportam, velocidade e intensidade do evento ou ainda pelo potencial de destruição que apresentam. Dentre os tipos de fluxos conhecidos destacam-se: Corridas de terra (baixa fluidez); Corridas de areia ou silte ( relacionada a liquefação); Corridas de lama ( extrema fluidez) Avalanche de detritos ( movimentos catastróficos). Segundo WOLLE & CARVALHO (1994), os termos avalanches e corridas, muitas vezes são confundidos, provavelmente pelo fato de haver uma passagem do primeiro para o segundo. As avalanches são conhecidas pelo seu alto poder de destruição e velocidade, geralmente propagadas por quedas de blocos ou escorregamentos ocorridos nos pontos mais altos das encostas, estas costumam carregar blocos de rochas e árvores produzindo a destruição de obstáculos naturais e artificiais. O que difere as avalanches das corridas e que estas ao atingir fundos de vales ou ravinas, param provocando um acúmulo de materiais. No entanto quando estas encontram talvegues de drenagens naturais em períodos de elevada precipitação aumentam substancialmente e acabam transformando-se em corridas. 41 Existe também uma classificação dos fluxos que além da velocidade e granulometria, leva em consideração a localização geográfica do evento e seu índice de plasticidade, sendo assim: Fluxo de detritos Debri Flow – movimento rápido a extremamente rápido de detritos saturados, não plásticos, e em canal com IP< 5% na fração solo; Fluxo de lama Mud Flow, movimento rápido a extremamente rápido de lama e/ou detritos saturados, e em canal, com alto teor de água e alta plasticidade, IP > 5%; Enxurrada de detritos Debri flood, movimento muito rápido, afloramento de água, com grandes quantidades de detritos, confinado; Avalanche de detritos Debri avalanche, movimento muito a extremamente rápido de material superficial, parcial ou totalmente saturado, sem confinamento em canal. 2.5.3 Parâmetros Importantes de Fluxo de Detritos Concentração As corridas de detritos são formadas pela mistura de detritos oriundos das encostas, sedimentos finos como argila e silte e água provenientes da chuva e/ou linhas de drenagens naturais. A concentração de partículas sólidas assim como suas dimensões são fundamentais na determinação da velocidade e poder de destruição das corridas. Velocidade do movimento Os fluxos de detritos podem ocorrer de forma muito rápida ou lenta existem estimativas de corridas que variam de 5 a 20 m/s. O cálculo da velocidade de uma corrida de detritos é bastante complexa, pois a granulometria e características do material envolvido é muito diversificada, além do 42 que existem muitos outros fatores que devem ser considerados para esta determinação, inclinação e largura do canal de escoamento, espessura da camada entre outros. Volume As fórmulas empíricas existentes hoje, assim como no cálculo da velocidade provêm do estudo de eventos já ocorridos e o volume calculado em cada um deles, ver Tabela 2.1. Após a ocorrência da corrida de detritos a determinação do volume desprendido é um parâmetro de fácil obtenção baseada em levantamentos topográficos realizados pré e pós escorregamento. Tabela 2.1 – Valores Obtidos com as Fórmulas Empíricas para estimar o volume de Debri Flow (Fluxo de Detritos) Volume (m3) Geometria Evento H/L L (Km) H Caraguatatuba (1967) 0,07 9 700 Córrego das Pedras, Cubatão (1994) 0,27 2,4 650 Córrego das Pedras, Cubatão (1996) 0,41 1,6 650 Morro do Quitite (1996) 0,47 1,5 750 Morro do Papagaio (1996) 0,47 1,5 750 Via Anchieta (1999) 0,18 3,2 576 Lavrinhas (2000) 0,13 6 800 Corominas (1996) Gramani (2001) Rickenmann (1999) Eq. Proposta (2010) 7.600.000 27.607.137.499 2.876.131.506 163.252 70.876.223 150.000 190.800 559.153 61.962 119.890 16.000 4.013 34.788 4.915 17.708 90.000 556 8.390 1.563 6.650 42.000 556 8.390 1.563 6.650 300.000 9.340.788 9.149.141 700.303 823.590 16.000.000 162.801.166 71.696.690 6.478.225 3.392.324 Observados ONDE: H = Altura em m e L = Largura (Km) Fonte: GRAMANI (2001). Vazão ou Descarga de pico Este é um dos parâmetros mais importantes em uma corrida de detritos, pois está diretamente interligada com a intensidade dos danos causados pelo movimento. O dimensionamento da vazão de pico auxilia na estimativa da velocidade máxima, profundidade e distância atingida pelo movimento e é uma das causas principais do surgimento de grandes ondas de arraste. 43 2.6 Histórico e Tempo de Retorno do Fenômeno de Debri Flow Embora seja considerado por alguns pesquisadores como um fenômeno relativamente raro, a corrida de lama ocorre a algum tempo no país. Nota-se que a maioria dos escorregamentos acontece nas regiões serranas, onde a combinação dos elementos constitutivos do clima (temperatura, umidade e pressão atmosférica), além dos fatores climáticos (latitude, continentalidade, vegetação, altitude, maritimidade e atividades humanas), contribuem para a ocorrência da corrida de lama, além disso, a inclinação do terreno a ocupação desordenada e muitas vezes ilegal desses locais também são fatores que contribuem para agravar o fenômeno. A Tabela 2.3 a seguir apresenta a relação de algumas ocorrências do fenômeno ao longo dos anos, tendo como data de referência o ano de 1967, data em que ocorreram os deslizamentos em Caraguatatuba (SP) e Serra das Araras (RJ). Tempo de retorno Segundo GRAMANI (2001), diz que o ano de 1967 foi anormal devido às fortes chuvas provocadas na região de Caraguatatuba - SP e Serra das Araras - RJ. Fazendo uma análise da ocorrência do fenômeno na região da Serra do Mar, e atribuindo como referência o ano de 1967, pode-se fazer um estudo do tempo de retorno do fenômeno na região. A Tabela 2.4 a seguir apresenta a relação das ocorrências do fenômeno ao longo dos anos na região da Serra do Mar, tendo como data de referência o ano de 1967, data em que ocorreram os deslizamentos em Caraguatatuba (SP) e Serra das Araras (RJ). 44 Tabela 2.2 Relação de Ocorrências de Debri Flow (Fluxo de Detritos) Região UF Ano de ocorrência Número de vítimas fatais Caraguatatuba SP 1967 ~400 Serra das Araras RJ 1967 ~1400 Grota Funda SP 1975 Não informado Cubatão SP 1976 Não informado Ouro Preto MG 1979 Não informado Petrópolis RJ 1988 Não informado Ouro Preto MG 1989 3 1992 2 Estância Velha RS 1993 Não informado Cubatão SP 1994 Não informado Ouro Preto MG 1995 3 Timbé do Sul SC 1995 Não informado Cubatão SP 1996 Não informado Ubatuba SP 1996 Não informado Ouro Preto MG 1997 13 1998 - Campos do Jordão SP 2000 10 São Vendelino RS 2000 Não informado Angra dos Reis Petrópolis Teresópolis 2002 RJ 2002 2002 Nova Friburgo 2007 Blumenau 2008 Brusque 2008 Gaspar 2008 Ilhota SC 2008 Itajaí 2008 Rio dos Cedros 2008 Timbó 2008 Angra dos Reis Niterói São Luiz do Paraitinga RJ SP 2010 166 2010 78 Petrópolis 2011 2011 Sumidouro 2011 Teresópolis 2011 Fonte: STRADA (2010) 135 53 2011 RJ Não informado 2010 Nova Friburgo São José do Vale do Rio Preto 52 >900 45 Região UF Ano de ocorrência Diferenças entre os anos 1967 - Caraguatatuba SP Serra das Araras RJ Grota Funda SP 1975 8 Cubatão SP 1976 1 Petrópolis RJ 1988 12 Cubatão SP 1994 6 Cubatão SP Ubatuba SP 1996 2 Campos do Jordão SP 2000 4 RJ 2002 2 2007 5 2010 3 SP 2010 - RJ 2011 1 Angra dos Reis Petrópolis Teresópolis Nova Friburgo Angra dos Reis RJ Niterói São Luiz do Paraitinga Nova Friburgo Petrópolis São José do Vale do Rio Preto Sumidouro Teresópolis Fonte: STRADA (2010) Observa-se pelo que foi apresentado na Tabela 2.2 que a ocorrência do fenômeno tem ocorrido ao menos uma vez ao longo das décadas. Tais eventos são extremos, de grande poder de destruição e estão associados à ocorrência de grandes taxas pluviométricas. Na sequência serão expostas algumas imagens de acidentes geotécnicos, na Figura 2.13 é exposto o depósito dos detritos bem como a área que foi devastada no acidente acontecido na cidade de Caraguatatuba no dia 18/03/1967. Já na Figura 2.14 é apresentada a distância percorrida e a deposição de detritos em na cidade Caraguatatuba, onde estes foram conduzidos até a praia. 46 Figura 2.13 – Depósito de Fluxo de Detritos na Cidade de Caraguatatuba em 1967 Fonte: STRADA (2010) Figura 2.14 – Distância percorrida e deposição de detritos na cidade de Caraguatatuba no ano de 1967 Fonte: STRADA (2010) 47 Nas Figuras 2.15 e 2.16 são apresentados grandes volumes de blocos de rocha na cidade de Petrópolis, tal fato deve-se a grande precipitação ocorrida anteriormente ao evento de escorregamento e após este fato, foi acompanhada de uma chuva de baixa intensidade mas de longa duração NEGRO (1994). Figura 2.15 – Grandes Blocos de rocha no fluxo de detritos na cidade de Petrópolis em 1988 Fonte: NEGRO (1994.) Figura 2.16 – Fluxo de Detritos na cidade de Petrópolis em 1988 Fonte: NEGRO (1994) 48 Na Figura 2.17 é apresentada cicatriz decorrente do processo de movimento de massa ocorrido na serra do mar, mais especificamente na cidade de Cubatão. Já nas Figuras 2.18 e 2.19, o fluxo de detritos veio das encostas da Serra de Cubatão, ao longo das três bacias hidrográficas da frente da Refinaria Presidente Bernardes, acarretando um assoreamento com lama e blocos de rocha às áreas de estocagem na refinaria. Figura 2.17 – Cicatrizes do Fluxo de Detritos nas encostas da Serra do Mar em Cubatão 1994 Fonte: NEGRO (1994) Figura 2.18 Deposição de blocos de rocha de grandes volumes e lama na área da planta industrial de Cubatão em 1994. Fonte: NEGRO (1994) 49 Figura 2.19 – Vista do local de deposição do Fluxo de Detritos em Cubatão Fonte: NEGRO (1994) 2.7 Instrumentação A utilização da instrumentação geotécnica em áreas propícias a escorregamento de encostas é de vital importância, pois se faz necessário um acompanhamento “in situ” das principais variáveis que influenciam neste fenômeno. Os levantamentos têm como principais objetivos coletar informações sobre como estes locais estão se comportando ao longo do tempo e como a incidência de chuva potencializa a ocorrência de tal fenômeno. A observação geral sobre a instrumentação de áreas de risco objetiva organizar a forma com que é observado o comportamento das tendências dos maciços tem a movimentar-se. 50 Para realização dos procedimentos de coleta das variáveis medidas em campo, preliminarmente é necessário um levantamento topográfico de toda a área de influência sujeita ao escorregamento, observando os aspectos paisagísticos, a forma com que está disposta a topografia do terreno, os aspectos geológicos existentes, consultando materiais disponibilizados por órgãos oficiais, uma boa fonte de pesquisa é a CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), instituição vinculada ao Ministério de Minas e Energia, alguns órgãos estaduais também contêm informações, no caso do estado do Rio de Janeiro, podemos citar o órgão municipal chamado GeoRio (Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro) que fornece informações sobre a cidade do Rio de Janeiro. Após o inventário das informações disponíveis sobre o local do estudo, é necessário realizar uma formulação das investigações preliminares a serem implantadas, segundo JOHNSON & DEGRAFF (1988) é de grande importância a correta formulação da investigação, que envolve dois componentes básicos: - Identificação da questão ou questões que a investigação precisa responder, isto é, uma clara definição do propósito da investigação, e: - Definição dos aspectos da investigação, como: extensão, área, profundidade e duração. Na medição da movimentação de encostas naturais, os instrumentos disponíveis são em sua maioria capturadores da variável deslocamento. Abaixo serão descritos cada equipamento. 2.7.1 Inclinômetro Equipamento composto por uma haste cilíndrica que pode ser também conhecida como torpedo, é fixa por um cabo a unidade de leitura juntamente a um tubo flexível. É possuidor de um sensor distribuído internamente junto a duas ou quatro rodas distribuídas junto a sua lateral, estas rodas são encaixadas no tubo flexível que fica enterrado dentro do solo, ver figura 2.20, a disposição deste equipamento faz com que o sensor acompanhe a direção do tudo, aí então é medida a inclinação do tudo 51 em intervalos constantes que diretamente darão as medidas de deslocamento horizontais. Tal equipamento é geralmente instalado nos furos de sondagem. Figura 2.20 - Inclinômetro Fonte: SCHILLING (1993) 2.7.2 Piezômetro Casagrande Dentre os medidores de pressão por porosidade, ver figura 2.21, o piezômetro casagrande apresenta-se como o mais simples, e constituído por um tubo, que tem na extremidade inferior um objeto cerâmico ou de plástico poroso, sendo que este objeto poderá ser substituído por furos no tudo do equipamento. Tal tubo é colocado no furo do solo dentro do local de interesse, atingindo uma profundidade necessária à medição da poro-pressão. Para proteção, a extremidade inferior deverá ser preenchida com material de filtro, areia grossa e brita, este material deverá ser distribuído nas proximidades do piezômetro e sobre estas camada, areia fina. A extremidade superior é aberta para a 52 medição da posição da coluna d’água sobre o ponto instrumentado. A medição é feita com uma escala que identifique a superfície da água. Figura 2.21 - Fonte: Esquema do piezômetro tipo Casagrande Fonte: SCHILLING (1993) 2.7.3 Medidor de nível de água Composto de um tubo com extremidade contendo furos, ver figura 2.22, deve ser colocado em perfuração no solo e envolvido em material de filtro. O tubo deve ser fixado com argamassa de cimento e areia ou bentonite em sua parte superior próximo à superfície ou em camada acima da posição do nível freático (Figura 15). Assim como no piezômetro Casagrande, a medição é feita com uma escala que identifique a superfície da água no interior do tudo, que no caso do medidor de nível d’água corresponderá sempre exatamente ao nível freático. 53 Figura 2.22 – Esquema do medidor de nível d’água Fonte: SCHILLING (1993) 2.7.4 Pluviômetros São equipamentos utilizados para medição direta da quantidade de chuva precipitada numa determinada região, este equipamento e provido de um recipiente com volume conhecido, que ensaia a captação da água da chuva em um metro quadrado, ver figura 2.23. Existem equipamentos que utilizam sistemas eletromecânicos para captação das medições em intervalos menores de tempo, ou seja, pode-se traçar uma perfil do índice de pluviosidade ao longo do tempo, gerando gráficos, destes podemos observar a intensidade, a duração e frequência de uma precipitação. 54 Figura 2.23 – Pluviômetro Fonte DAEE (2011) 2.7.5 Medições Topográficas São utilizados equipamentos topográficos para a realização das medições dos deslocamentos, para isso são materializados marcos nas encostas que servirão como base para o acompanhamento das movimentações, estas medições são necessárias para criar uma perfil de deslocamento ao longo do tempo e são de suma importância para criar um histórico das movimentações. É necessário a produção de uma carta topográfica, ver figura 2.24, para localização dos marcos implantados e levantamento de curvas de nível do terreno. 55 Figura 2.24 – Esquema de levantamento de Carta Topográfica Fonte GIOTTO (2001) 56 3 MÉTODO DE TRABALHO Para o desenvolvimento da pesquisa utilizaram-se diversas fontes de informação. Na primeira etapa, correspondente à revisão bibliográfica, consultaram-se informações em obras já publicadas por autores consagrados na literatura científica, destacandose o professor Faiçal Massad, geólogo Guido Guidicini e professora Dyminski. Nessa pesquisa procurou-se compreender todos os tipos de movimentos de massa e suas principais características, as classificações existentes dos escorregamentos, processo de evolução etc. Nesse sentido procurou-se destacar os diferentes movimentos, em especial, relacionados à velocidade dos movimentos. Para a elaboração do estudo sobre o fenômeno Debri flow, utilizou-se principalmente teses e dissertações já defendidas por alguns colegas. A internet foi utilizada como ferramenta de procura e direcionamento para coleta de informações, bem como para obter acesso a relatórios publicados pelos órgãos oficiais, Ministério do Meio Ambiente, CREA-RJ, CPRM e DRM-RJ, plantas de mapeamento geológico-geotécnico, levantamento topográfico, informações sobre o clima, tipo de vegetação e morfologia do terreno e bacias hidrográficas. A participação no workshop: Grandes Desastres Naturais do Brasil, realizada no dia 05 de maio de 2011, no Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, com a presença de grandes especialistas na área como o Profº. Willy A. Lacerda (COPPE/UFRJ), Profº. Eurípedes Vargas do Amaral (PUC-Rio) e do Engº Cláudio Amaral (DRM-RJ), foi de grande importância para o desenvolvimento deste trabalho, pois os mesmos apresentaram pesquisas e realizadas “in locco” com fotos e resultados obtidos nos municípios da Região Serrana do Rio de Janeiro atingidos pelos escorregamentos nos início do ano. Entrevistas e artigos apresentados em revistas especializadas em geotecnia ajudaram a consolidar as informações apresentadas no corpo deste trabalho. Além das pesquisas literárias, para facilitar o compreendimento do assunto consultou-se também engenheiros geotécnicos e geólogos especialistas em escorregamento de encostas. 57 4 DEBRI FLOW NA REGIÃO SERRANA DO RIO DE JANEIRO A primeira quinzena do ano 2011 ficará marcada na história do país, principalmente para o estado do Rio de Janeiro, que foi sede da maior catástrofe ambiental já registrada no Brasil. Estes altos índices pluviométricos deflagraram vários processos de movimentos de massas em diversos municípios da região. As cidades de Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro, Bom Jardim, Areal e São José do Vale do Rio Preto foram as mais atingidas por estes processos relacionados a deslizamentos de solo e/ou rocha. Atualmente os municípios passam por um processo de reconstrução e recuperação das áreas destruídas. 4.1 Características Geográficas da Região As características geográficas da região serrana do estado do Rio de Janeiro são apresentadas nas subdivisões abaixo descritas. 4.1.1 Clima O clima da região serrana do estado do Rio de Janeiro apresenta características úmidas e amenas nas proximidades das escarpas da Serra do Mar, denominado clima Tropical de Altitude é constituído por temperaturas elevadas e bem distribuídas durante o ano, não apresenta déficit hídrico, a precipitação anual média fica dentro dos parâmetros de precipitação entre 1.400 e 2.000 mm, os quais são mais concentrados na época do verão ESTRADA (2010). 4.1.2 Vegetação A vegetação da região serrana do estado do Rio de Janeiro é classificada como Mata Atlântica, INEA (2011) composta por: 58 floresta ombrófila densa submontana (50 m a 500 m de altitude); floresta ombrófila densa montana (500 m a 1500 m de altitude); floresta ombrófila densa altomontana (acima de 1500m de altitude); e campos de altitude. Nas regiões acima das matas, nos cumes rochosos, verificam-se refúgios de vegetação representados pelos campos de altitude. Observa-se que os trechos de Mata Atlântica mais bem preservados estão localizados em partes restritas com áreas de relevo acidentado. Devido à ação antrópica, muitos trechos da mata original foram substituídos por culturas e campos. Nas áreas devastadas e posteriormente abandonadas ocorrem a formação de florestas secundárias; em áreas ocupadas próximas ao perímetro urbano a vegetação original foi em grande parte substituída por áreas alteradas de vegetação secundária resultantes dos processos naturais de sucessão. As áreas anteriormente ocupadas, onde há resquícios de vegetação original (ilhas de vegetação) as quais sobreviveram junto a devastação empreitada na região, constituem formações que estão passando por um processo de regeneração. Tal processo varia de acordo com o tempo de abandono da terra bem como do tipo de devastação praticada na época de sua ocupação, além é claro da extensão da área que passou por esse processo de supreção vegetal. 4.1.3 Relevo O bloco formado por movimentos tectônicos durante o terciário na costa brasileira, que originou a Serra do Mar, forma um espigão entre o vale do rio Paraíba e a orla marítima DRM (2011). A Região Serrana do estado do Rio de Janeiro possui características peculiares em seu relevo, possuindo um número elevado de espigões residuais. 59 Devido à significativa influência dos movimentos tectônicos ocorridos na região sobre a rede de drenagem, os rios possuem falhas e em alguns casos, nota-se a influência das variações litológicas. Em áreas mais escarpadas, podem ser observados grandes afloramentos de substrato rochoso, do tipo granito-gnáissica. Encontram-se nas encostas coberturas espessas de solos coluviais e depósitos de tálus, nos vales os talvegues possuem coberturas aluvionares e colúvio-aluvionares DRM (2011). A Região Serrana do Rio de Janeiro possui áreas com vales extensos e largos, preenchidos por sedimentos aluvionares que representam a drenagem principal. Essas regiões estão cercadas por espigões rochosos alternados a vales de dissecação associados a estruturas geológicas, aonde geralmente se desenvolve a urbanização secundária. No Quadro 5.1, estão alguns municípios onde pode-se observar a associação de falhas e fraturas (estruturas geológicas) com os processos erosivos da região. Reg. Área Total (km²) Latitude Longitude Altitud e (m) População 938,5 22º 16′ 55″ S 42º 31′ 52″ O 846 173.321 Petrópolis 797,1 22° 30' 18" S 43° 10' 44" O 809,5 286.537 239,95 22° 09' 03" S 42° 55' 26" O 615 21.375 Sumidouro 397,6 22° 02' 59" S 42° 40' 29" O 355 14.176 Teresópolis 771 22° 24' 43" S 42° 57' 57" O 871 150.921 São José do Vale do Rio Preto Serrana Nova Friburgo Clima Tropical de altitude Município Quadro 5.1 Dados geográficos dos municípios de Nova Friburgo, Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto, Sumidouro e Teresópolis Fonte: Prefeitura dos Municípios da Região Serrana do estado do Rio de Janeiro (2011). 4.1.4 Descrição Geológica Nas décadas de 70 e 80 foi desenvolvido o "Projeto Carta Geológica do RJ" feito pelo DRM-RJ (Departamento de Recursos Minerais do Rio de Janeiro), esse projeto permitiu que estado do Rio de Janeiro tivesse toda a geologia mapeada, como mostra a Figura 4.1. 60 Figura 4.1 – Geologia do estado do Rio de Janeiro Fonte DRM (2011) O mapa geológico mostra que existem variações litológicas e tectônicas que demonstram características de faixas distintas nas regiões, para a região do estudo de caso ela se caracteriza como: Faixa Serra dos Órgãos A área em destaque se encontra na região central do estado onde se encontra uma topografia muito acidentada que abrange a serra do mar, com altitude que variam muito, que vão desde o nível do mar até 2.000 metros. Na região entre os municípios de Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis é apresentada uma faixa onde se caracteriza uma grande concentração de Granitos homogêneos que particularmente no estado do Rio de Janeiro são as formações geológicas que não sofreram metamorfismo, os granitos são os mais comuns e eles são constituídos de quartzo, feldspato e biotita, também é apresentado uma faixa de 61 falhas, fraturas e dobras que são estruturas de reação das rochas a esforços sofridos, que as deformam e as quebram, existem também os diques de diabásio que são formados por rochas magmáticas com presença rica de minerais de ferro e magnésio os quais se apresentam em cima de uma faixa de rochas ortoderivadas formadas a partir do metamorfismo de Rochas Ígneas com composição semelhante ao granito e estrutura planar bem desenvolvida (DRM – 2011). Entre os municípios de Sumidouro e São José do Vale do rio Preto, já não há a mesma concentração dos diques de diabásio e granitos homogêneos, mas a faixa de falhas, fraturas e dobras também são altas além de estarem bem na divisão das faixas de Rochas Ortoderivadas e das Rochas Paraderivadas, formadas a partir do metamorfismo de Rochas Sedimentares sendo os mais comuns os paragnaisses que possuem minerais típicos como a sillimanita e a granada (minerais com cores predominantes de vermelho ou rosa com brilho de vidro), como pode ser visto na Figura 4.2. Figura 4.2 Detalhe das estruturas geológicas da região serrana do estado do Rio de Janeiro Fonte DRM (2011) 62 4.2 Agentes Deflagradores Os movimentos de massa que ocorreram na Região Serrana do Rio de Janeiro foram resultado da associação de diversos fatores naturais e dentre estes se destaca o alto índice pluviométricos na região, além das transformações no meio ambiente, as quais foram geradas pela ocupação do homem na região. 4.2.1 Índice pluviométrico Segundo dados do Instituto Nacional de Metereologia para o ano de 2011, a Região Serrana do Rio de Janeiro foi acometida entre os dias 11 e 13 de janeiro por intensos eventos pluviométricos chegando ao acumulado de 300,2 mm, com picos de 117,7 mm no dia 11 e 162,6 mm no dia 12.01.2011 (INEMET-2011). Os municípios de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo estão localizados na Serra do Mar, cadeia montanhosa de grande altitude que impede a passagem das nuvens o que torna a região alvo de frequentes e intensas chuvas durante o período chuvoso. Eventos chuvosos intensos e de grande duração provocaram elevação do lençol freático no solo, culminando no aumento do peso do solo e também do ângulo de atrito resistente do maciço. A combinação do excesso de chuvas com as delgadas camadas de solo, aliadas às grandes inclinações das encostas com formação de vales e talvegues de drenagem tornaram a região serrana um local extremamente propício para a ocorrência dos diversos tipos de movimentos de massa. Em encontro realizado no dia 11 de fevereiro de 2011, 30 dias após o acidente, pela Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), a Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental (ABGE), o CREA-RJ e o Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, a senhora Marilene Ramos, presidente do Instituto Estadual do Ambiente (INEA) falou a respeito das chuvas que atingiram a região serrana: 63 “A chuva que caiu foi extrema. A intensidade nas cidades foi a mesma, mas o fato de a tragédia ter sido maior em Friburgo está associado à quantidade de chuva que caiu na região central da cidade. Em Teresópolis, ela atingiu vales ocupados, mais afastados do centro urbano. Se uma chuva similar tivesse caído sobre o centro de Teresópolis nós contaríamos as vítimas não em centenas, mas em milhares.” Segundo a Engª. Laura Lopes da Silva Nunes, presidente da ABMS – Rio, as chuvas atingiram as nascentes dos rios, que encheram rapidamente e ganharam grandes velocidades ao alcançar os vales, formando as chamadas cabeças d’água arrastando tudo o que estava pela frente. 4.2.2 Ação antrópica Os deslizamentos e tombamentos são de grande importância, dada a sua interação com as atividades antrópicas; os mesmos ocorrem devido a erosão, a energia cinética, a sismicidade, a ação desagregadora de raízes, os rastejamentos, a textura e a estrutura favorável à instabilização. Tais processos fazem parte da dinâmica natural, mas quando da ação antrópica em áreas onde há potencial para ocorrência de tais eventos os mesmos podem ser induzidos por esta ação. A evolução natural do planeta sofre transformações ambientais e naturais, seja em forma de deslizamentos de terra, enchentes e etc. Embora tenha sido considerado como um desastre natural o que ocorreu na região serrana do estado do Rio de Janeiro, não se pode atribuir unicamente a natureza o que aconteceu nos municípios de Nova Friburgo, Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto, Sumidouro e Teresópolis. A ocupação desordenada e irregular das encostas da região, com a consequente retirada da cobertura vegetal composta de mata nativa (Mata Atlântica) deixando o solo exposto à ação das chuvas formam uma conjugação de fatores a serem 64 levados em conta no que ocorreu na região; bem como a falta de planejamento urbano que descaracterizaram o ambiente natural. Alguns autores Silva (2011) informam que deslizamentos que ocorrem com certa frequência estão associados à geografia urbana e ao clima, e se não for feita a remoção das pessoas que ocupam essas áreas outras tragédias poderão vir a ocorrer. Além disso, a não adoção de medidas preventivas pelo poder público, que poderiam salvar muitas vidas e minimizar prejuízos, contribuiram para a ocorrência do desastre. A falta de conhecimento e/ou omissão por parte do poder público relativo a dinâmica das bacias hidrográficas (micro e macro) da Região Serrana, também são fatores que contribuem para o que ocorreu na região. De acordo com Pedrosa (sem data), a ação humana na natureza tem consequências em três níveis, em termos de forma, processo, formação e depósito superficial do ambiente geológico, sendo elas: modificação do relevo e alterações fisiográficas da paisagem. alterações na fisiologia das paisagens. criação de depósitos superficiais correlativos comparáveis aos quaternários. A relação entre os eventos naturais ocorridos e a ação antrópica é considerado como sendo de risco e embora façam parte da evolução natural e acarretam prejuízos ao bioma e à sociedade. Para o professor e pesquisador do Instituto Geotécnico de Reabilitação do Sistema Encosta-Planície/REAGEO, José Camapum de Carvalho, o que aconteceu na Região Serrana do Rio de Janeiro, de um modo geral, está ligado às intervenções humanas no meio ambiente, como a execução de cortes para implantação de rodovias e moradias. No início ela se mantém estável, mas, com o passar do tempo, o maciço passa a sofrer degradação em função das novas condições de drenagem impostas, sendo que a degradação pode se dar em curto espaço de tempo ou levar séculos para acontecer. 65 Segundo Camapum (2011) a prática da agropecuária no topo da encosta, principalmente a agricultura, influencia na degradação do solo. A agricultura, assim como a pecuária, ocupa especialmente os fundos de vales, às margens dos cursos d’água. Como essas áreas de relevo mais suaves são poucas, a agropecuária vai se expandindo para as encostas, também tomando o lugar das florestas, resultando no aumento dos processos de erosão das encostas e de assoreamento dos rios desprotegidos. Ressalta-se que a atuação do ser humano como agente geológico o diferencia de todos os outros tipos de agente e fatores, em sua ação sobre a natureza. Mesmo sendo parte integrante da natureza, o ser humano na maioria das vezes se esquece disso. 4.3 Tipos de Deslizamentos Registrados Conforme publicado na revista ABGE nº 89 (2011) foram registrados diversos tipos de movimentos de massas na região serrana do Rio de Janeiro. Nos municípios de Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro e Bom Jardim foram registrados escorregamentos dos tipos planar ou translacionais e circulares ou rotacionais, acometidos em regiões e vertentes de altas inclinações e solos pouco desenvolvidos. Os escorregamentos do tipo planar caracterizam-se por espessuras esbeltas de solo e dimensões bem definidas com comprimentos bem maiores às larguras. Este tipo de deslizamento também está associado a existência de solos saprolíticos, geologicamente condicionados por planos de fraquezas desfavoráveis à estabilidade. Os volumes de solo instabilizados apresentam variações de média a grandes magnitudes e velocidade que oscilam de m/h à m/s. Deslizamento planar em solo posicionado em encosta de alta inclinação, onde houve a destruição de várias residências, vias e estruturas dos prédios posicionados na base da encosta. Há residências localizadas nas laterais e na base da cicatriz do 66 escorregamento, que estão em risco iminente, bem como do prédio que apresenta comprometimento estrutural, conforme verificação de campo mostrada na Figura 4.3 da cidade de Nova Friburgo – RJ. Figura 4.3 – Cidade de Nova Friburgo estado do Rio de Janeiro Fonte: DRM (2011) Já os escorregamentos do tipo circular ou rotacional caracterizam-se por apresentarem superfícies de escorregamentos curvas atingindo camadas de solos mais espessas Figura 4.4. Tal processo ocorreu no centro de Nova Friburgo, atingindo um edifício, o qual sofreu colapso parcial, além de atingir diversas moradias. 67 Figura 4.4 – Deslizamento circular/rotacional Fonte: DRM (2011) Além destes tipos de deslizamentos, foram registrados também nos municípios de Nova Friburgo e em Petrópolis movimentos dos tipos quedas, tombamentos e rolamentos. Estes tipos de movimentos na maioria das vezes estavam relacionados com o afloramento de topos rochosos nas encostas, no geral bastante íngremes. Estes três tipos de escorregamentos atingiram as regiões do Córrego D’Antas e na região do Hospital São Lucas em Nova Friburgo e no vale do rio Cuiabá em Petrópolis Figura 4.5. Figura 4.5 – Hospital São Lucas – Petrópolis, região atingida por blocos de rocha Fonte: DRM (2011) 68 4.3.1 Corridas de detritos Segundo apresentação do DRM-RJ (2011), as corridas de detritos que atingiram a Região Serrana do Rio de Janeiro no início deste ano possuem as seguintes características: movimento semelhante à de um líquido viscoso; desenvolvimento ao longo das drenagens; velocidades médias a altas; grandes volumes de material; mobilização de Blocos (pouca distância), solo ou detritos e água. extenso raio de alcance: Vieira 10 Km; Vale do Cuiabá 18 km. Nas encostas encontram-se acúmulos provenientes provavelmente de corridas passadas (sedimentos e blocos). A centralização de águas pluviais nestes canais provenientes dos taludes laterais e de áreas à montante, podem levar ao escoamento superficial de água com altas velocidades. Estas velocidades têm alto poder erosivo, expondo e eventualmente movimentando blocos ali existentes. Eventualmente à água que escoa é acrescido solo proveniente da instabilidade dos taludes laterais. Estas instabilidades adicionalmente podem provocar barramentos provisórios a montante dos quais se cria um reservatório temporário de água. Com o tempo estes barramentos são rompidos e o escoamento superficial de água ocorre com maior energia ainda. Existem diversas opiniões e descrições sobre o que é e como se formam as corridas de lama ou detritos, o fato é que todas elas enfatizam o grande poder de destruição e transformação deste tipo de fenômeno, que ao contrário do que se pensa é comum e faz parte do processo natural de evolução. “É uma avalanche de poder destrutivo estúpido”, explica o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor de Planejamento e Gestão do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). “A massa de terra e detritos acaba com o que está pela frente.” “Na verdade, o deslizamento é a massa de solo que desloca. Chove, encharca e 69 desloca”, diz Kátia Canil, do Laboratório de Riscos Ambientais do IPT. “A corrida ocorre quando vários deslizamentos se juntam, formam uma massa maior com árvores, terra, água e detritos e destrói o que vem pela frente. É muita velocidade”. O Geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos destaca no livro de sua autoria “A Grande Barreira da Serra do Mar” que as corridas de lama e detritos são fenômenos correlatos aos escorregamentos de massa de um modo geral. Segundo este autor, “as corridas de massa são consequência da afluência concomitante de inúmeros escorregamentos translacionais para o talvegue de um vale, onde já no momento, em resposta às chuvas intensas, corre um caudaloso e violento curso d'água. É o mix desse material todo: água, solo, blocos de rocha, troncos de árvore, que acabam compondo a corrida jusante a baixo. Há momentos em que a afluência de materiais de escorregamentos é tão grande que chegam a barrar por instantes o curso d'água. Essas "barragens" em se rompendo vão sobrecarregando de estúpida energia destrutiva o referido fenômeno”. 4.4 Relatórios Oficiais Realizados Abaixo serão apresentados alguns pareceres oficiais divulgados pelo governo, os quais apresentam um cenário da região da catástrofe. 4.4.1 Ministério do Meio Ambiente O Relatório de Inspeção – Área atingida pela tragédia das chuvas – Região Serrana do Rio de Janeiro do Ministério do Meio Ambiente de fevereiro de 2011, informa que os deslizamentos de terra que atingiram as áreas rurais e urbanas estavam associados a algum tipo de ocupação antrópica. Além disso, o relatório informa que é necessário analisar a relação entre as Áreas de Preservação Permanente (APPs), conforme consta no artirgo 2° da Lei n°4.771, de 1965, e as áreas de risco, sujeitas a enchentes e deslizamento de terra e rochas, como o caso que aconteceu na Região Serrana do Rio de Janeiro. 70 As APPs tem a função de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico da fauna e flora alem de proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Além disso, são funções ambientais das APPs preservar: recursos hídricos paisagem estabilidade geológica biodiversidade fluxo gênico de fauna e flora proteger o solo assegurar o bem-estar das populações humanas A tragédia ocorrida na Região Serrana do Rio de Janeiro foi a soma de fatores associados à geração de riscos naturais; bem como a topografia, geologia, hidrografia e regime pluviométrico da região, por conta de tais fatores há ocorrência de escorregamentos por conta da instabilidade de encostas é grande. Além disso, a ocupação das encostas e áreas adjacentes torna tais eventos grandes catástrofes, pois o número de vítimas e danos socioeconômico são muito elevados. O relatório informa que se a faixa a cada 30 m em cada margem estivesse livre para a passagem de água, bem como as áreas com inclinação elevada e os topos de morros, montes, montanhas e serras estivessem livres de ocupação e intervenções feitas inadequadamente, os efeitos da chuva teriam sido menores. 4.4.2 CREA – RJ O Relatório da Tragédia na Região Serrana do Rio de Janeiro elaborado pelo Conselho Regional de Arquitetura do estado do Rio de Janeiro após 6 meses da tragédia geotécnica acontecida na região, informa que o diagnóstico preliminar apresentado pelo relatório realizado em janeiro/2011, o referido órgão solicitou que fossem realizados novas inspeções em algumas áreas críticas atingidas pelas chuvas nos municípios de Bom Jardim, Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis. 71 De acordo com o relatório, as inspeções revelaram que os municípios da região ainda se encontravam em grande fragilidade, com boa parte da população voltando a morar nas áreas de risco atingidas; o relatório alerta que poderá ocorrer a repetição da tragédia a partir de outubro/2011, início do período de chuvas na região. As áreas fragilizadas, segundo o relatório, poderão sofrer novos deslizamentos ou transbordamentos dos rios em suas calhas maiores que ocasionarão mais mortes, pois estão sem a cobertura da floresta original. O relatório informa que várias construções que forma destruídas pelas enchentes, estavam localizadas dentro do leito maior dos rios, além disso, o Código Florestal (Lei n° 4771) considera como APP as Faixas Marginais de Proteção (FMP), bem como topos de morro e encostas com taludes de 45º, sendo que tais áreas devem estar preservadas com sua vegetação nativa. É informado também que as áreas de taludes que deslizaram, e que ainda estão sendo ocupadas pela população local, são muito vulneráveis a novos deslizamento de encostas. Segundo o relatório, parte da população continua a morar nos locais afetados, que em princípio, estão muito mais vulneráveis aos novos deslizamentos das encostas ou enchentes, o documento ressalta que a adoção de medidas imediatas para o início do período das chuvas. São apresentadas abaixo, as providências a serem adotadas em caráter de urgência de maneira a preservar a vida e saúde da população que continua a viver nesses locais críticos, de acordo com o relatório do CREA (2011): Implantação de sirenes ou similares nas regiões afetadas pelas chuvas de janeiro/2011 onde haja ocupação humana; Monitoramento das condições climáticas e meteorológicas com órgãos que realizem tais serviços e a implantação de sistema de aviso prévio em todas as cidades afetadas pelas chuvas de janeiro/2011, de forma que possa ser dado o aviso da chegada de eventos climáticos extremos, de maneira que a população seja avisada por meio das sirenes e as áreas de risco sejam evacuadas a tempo; 72 Criação de abrigos nas áreas de risco, para a transferência da população para regiões mais seguras e com infra-estrutura para receber provisoriamente essas pessoas. Tais recomendações deveriam ser realizadas nos dois meses antes do início das chuvas meados de outubro de 2011. O CREA-RJ lembra que o Relatório Preliminar elaborado a partir das inspeções realizadas nos dias 13 e 14 de janeiro/2011, sugeria aos órgãos responsáveis pela recuperação das áreas afetadas uma série de medidas para curto, médio e longo prazo, sendo que várias recomendações não foram implantadas. 73 5 ANÁLISES DOS RESULTADOS Foi constatada uma correlação intrínseca entre os agentes deflagradores e o uso e ocupação do solo de forma irregular. A realização de construções e cortes inadequados causou potencialização dos escorregamentos. A não observância das Leis Ambientais, mais especificamente a Lei que expressa a necessidade de respeitar as áreas de preservação permanente, culminaram no aumento significativo da amplitude da catástrofe. Tal fato potencializou o fenômeno Debri Flow, pois a fluências dos detritos utilizaram-se dos leitos das drenagens para escoar todo o material que se desprendeu da encosta. Analisando o histórico de escorregamentos no Brasil, nota-se que movimentos de massa do tipo corridas ou especificamente as corridas de detritos, Debri Flow, repetem-se com certa sazonalidade. Durante o período chuvoso, que nos estados da região sudeste estendem-se de setembro à março, é comum o registro de movimentos de massa de diversos tipos, principalmente na região da Serra do Mar, local que reúne características naturais que favorecem ao acontecimento deste tipo de evento. O fato é que até dez anos atrás, estes eventos eram classificados simplesmente como escorregamentos e não havia diferenciação nos tipos de movimentos. Remetendo-se ao cenário de algumas décadas atrás, nos “escorregamentos” ocorridos, percebe-se que os mesmos englobam movimentos do tipo queda de blocos, escorregamentos verdadeiros e principalmente corridas ou fluxos de detritos. As corridas ou fluxo de detritos fazem parte do conjunto de fenômenos naturais responsáveis pela evolução natural, como se sabe o meio ambiente está em constante transformação e os movimentos de massa são formas de modificação do meio, sendo inclusive responsável por mudanças significativas nas características físicas, como assoreamento de rios, desvio de cursos d’água, destruição da mata e mudanças topográficas. 74 A região serrana reúne todos os pré-requisitos necessários para a ocorrência deste tipo de evento: intensos e constantes nos períodos de chuva; terreno muito acidentado formado por encostas íngremes e vales confinados com a presença de talvegues de drenagem e nascentes de rios. Obviamente a ação do homem nessas áreas, com a construção de ruas, cortes, aterros e ocupações inadequadas, é um fator importante a ser considerado, porém não pode ser apontado como uma das principais causas das corridas de lama e sim um potencializador das consequências. As corridas de lama, como os que aconteceram na região serrana do Rio de Janeiro, atingiram regiões habitadas causando mortes e destruição e as vias asfaltadas potencializaram o evento criando rotas alternativas de alta velocidade para os detritos transportados pela água e lama. O Brasil dispõe de poucos recursos para os estudos e desenvolvimento de métodos e técnicas de prevenção e controle de desastres naturais, é preciso mais investimento por parte do governo e maior interesse por parte das universidades em formar profissionais e especialistas em desastres naturais. A criação de normas técnicas e principalmente o respeito e cumprimento de suas diretrizes juntamente com o desenvolvimento de um plano eficaz e funcional de alerta aos deslizamentos, acompanhado do atendimento das leis de uso e ocupação do solo, certamente teriam diminuído as consequências do acidente que atingiu a região serrana do Rio de Janeiro no início do ano de 2011. Apesar do Brasil dispor de poucas normas ou estudos sobre obras ou intervenções estruturais de prevenção e proteção contra movimentos de massas, no exterior já existem estudos e modelos matemáticos que buscam auxiliar no desenvolvimento de sistemas de proteção e gerenciamento dos danos causados por estes movimentos. Países como o Japão obtiveram sucesso com a construção de canais para direcionamento do escoamento das corridas de detritos. Este tipo de obra não tem como objetivo impedir os acidentes, mas sim gerenciar os danos causados por eles, conduzindo o material para um lugar seguro e longe das plantações e moradias reduzindo assim prejuízos humanos e materiais. 75 6 CONCLUSÕES Os movimentos de massa são eventos naturais que compõem os diversos processos responsáveis pela evolução da superfície do nosso planeta. A região serrana do país, em especial a região do estado do Rio de Janeiro apresenta um conjunto de fatores naturais predisponentes para a ocorrência de movimentos de massa do tipo corrida, sendo ela formada por grandes blocos rochosos recobertos por uma delgada camada de solo, apresenta ainda grandes vales encaixados com altas inclinações e com a presença de nascentes e pequenos cursos d’água altamente densificados por toda bacia hidrográfica. Durante os meses dezembro à março, a região é fortemente atingida por intensas e constantes precipitações que aumentam a vazão dos cursos d’água causando erosões de suas margens, saturando o solo e tornado-o mais susceptível à ocorrência de movimentos de massa de diversos tipos como escorregamentos, rastejos, quedas e tombamentos. O material proveniente destes movimentos atinge os cursos d’água transformando os mesmos em grandes canais de condução para a lama e os detritos. Além dos fatores naturais, a ocupação inadequada do solo, assim como a modificação da sua condição natural de equilíbrio com cortes e aterros, lançamento de efluentes e a impermeabilização de sua superfície pela construção de logradouros, contribuíram pra as consequências do fenômeno. Sabe-se que é praticamente impossível evitar ou impedir que corridas ou movimentos de massa aconteçam no meio natural, principalmente em uma região tão susceptível como é a Serra do Mar. Porém, é possível ter uma diminuição das consequências causadas pelos escorregamentos, principalmente com relação a perda de vidas humanas. Algumas medidas podem ser tomadas para a caracterização e monitoramento destas áreas de riscos, uma destas ações é a realização de um monitoramento que utiliza o acompanhamento periódico de imagens de satélite, onde são observadas 76 as macro evoluções da região afetada, estas informações são cruzadas com os índices pluviométricos e com as variáveis adquiridas pela instrumentação locada nas áreas de risco, também é utilizado um acompanhamento topográfico para a detecção de qualquer movimentação ou alteração superficial, tais medidas podem identificar as áreas e até prever a ocorrência de riscos geotécnicos. Outra forma de detecção de escorregamentos é a instalação de inclinômetros para medição e acompanhamento das movimentações nas camadas inferiores do solo, a instalação de piezômetros e indicadores de nível d’água (INA) para o acompanhamento de alterações de pressão e quantidade de água no lençol freático, aliados ao trabalho que já é realizado pela defesa civil, permitem criar um sistema de alerta funcional para que as pessoas que habitam em áreas de risco possam ser retiradas, diminuindo assim o grau de número de vítimas 77 7 RECOMENDAÇÕES No desenvolvimento do trabalho aqui exposto, durante a aquisição de dados para caracterização e equacionamento do fenômeno, foi observado uma dificuldade muito grande na aquisição de variáveis geotécnicas que possam ser utilizadas para traçar perfis e consequentemente caracterizar regiões onde os fenômenos de movimentação de terra possam vir a ocorrer. É de suma importância frisar que para os desenvolvimentos de trabalhos futuros sobre o tema exposto, os próximos pesquisadores poderiam realizar um longo período de levantamento das variáveis envolvidas na deflagração do fenômeno, porque somente com uma quantidade significativa de observações, as análises poderão ser feitas de forma mais consistente e as correlações entre os valores obtidos poderão trazer uma melhor previsão dos possíveis movimentos que possam vir a ocorrer. Para isso, as equipes que forem deslocadas para regiões onde os fenômenos de escorregamentos costumam acontecer poderiam, além de socorrer as possíveis vitimas e realizar intervenções corretivas, realizar medições e caracterizações da abrangência do fenômeno. Tais medidas são de suma importância para que as equipes técnicas tenham dados confiáveis para a realização da calibração dos modelos matemáticos de detecção. Tais procedimentos são extremamente importantes, haja vista que, muitos deles foram desenvolvidos por instituições internacionais, onde o clima e a forma com que as distribuição das chuvas acontecem são totalmente diferentes da região da serra do Mar. A equipe deverá realizar as medições do fenômeno, levando em conta a abrangência do escorregamento, tamanho dos matacões, área diretamente atingida, raio de alcance, desenvolvimento do fenômeno ao longo das drenagens existentes, caracterização dos materiais transportados catalogando-os em porcentagens quanto à distribuição granulométrica. 78 Ressalta-se que para que os futuros trabalhos possam ter boa uma representatividade é necessário instalar uma rede de instrumentação para cobrir as áreas suscetíveis aos movimentos de terra, para que juntamente com as variáveis hidrológicas, as quais são obtidas dos órgãos oficiais, possam ocorrer interações entre estas variáveis analisadas, os futuros desenvolvedores de trabalhos sobre escorregamentos de terra, mais especificamente o fenômeno Debri Flow, deverão dispor de informações categorizadas, consistidas e inseridas nos modelos computacionais, para que o fenômeno seja conhecido, analisado e previsto. Obviamente paralelo aos sistemas de alerta e detecção são necessárias orientações e fiscalizações por parte das prefeituras dos municípios para que as áreas de preservação permanentes sejam respeitadas, além disso, estas cidades devem ter uma política séria de uso e ocupação do solo e em seus planos diretores, com indicação de regiões suscetíveis às ocorrências de acidentes geotécnicos. A geotecnia dispõe de softwares capazes de modelar matematicamente alguns processos dinâmicos de fluxo e dispersão de materiais em função do tempo, estes sistemas utilizam parâmetros geotécnicos de campo, como ângulo interno de atrito e basal com a superfície de contato em que ocorre o deslizamento. Associando dados cartográficos, topográficos e geotécnicos, estes softwares são capazes de prever velocidade, volume e raio de alcance de movimentos do tipo Debris podendo ser utilizados como importante ferramenta para delimitação das áreas de risco. Cabe ressaltar que a utilização destas ferramentas computacionais deverão ser altamente consistidas, visto que os dados sobre estes fenômenos são escassos e necessitam de um período maior de observações, e interações com todas variáveis utilizadas nos estudos sobre deslizamentos de terra. 79 REFERÊNCIAS BRANDÃO DA SILVA, L. J. R. O.; MENDONÇA, J. A. F. de. 2006. Plano Municipal de Redução de Risco da cidade do Rio de Janeiro: uma abordagem através do IQR Índice Quantitativo de Risco. In: Seminário Nacional de Controle de Riscos em Assentamentos Precários nas Encostas Urbanas, 2, Ministério das Cidades e Cities Alliance Belo Horizonte (MG), 2011. Disponível em:http://www.cidades.gov.br//index.php. CAPUTO H. Mecânica dos solos e suas aplicações. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1998. CHADE, J (2011). Especialista em desastres naturais da ONU revista exame. 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