VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 1 de 10 ================================================================================ CONSIDERAÇÕES SOBRE PREVENÇÃO E CONTROLE DE VOÇOROCAS José Camapum de Carvalho, PhD. – [email protected] - UnB Marisaides Cruz Lima, MSc. – [email protected] - UnB Diógenes Mortari, MSc. – [email protected] - ANEEL RESUMO As técnicas de prevenção e de controle de erosões requerem abordagens específicas em cada caso, tendo em vista que vários são os fatores e parâmetros definidores do processo erosivo. Em regiões tropicais tem-se ainda o agravante destes apresentarem, mesmo regionalmente, grandes variações. Sendo assim, optou-se nesse trabalho por realçar os fatores e parâmetros relevantes na definição das técnicas de prevenção e controle de erosões, enfatizando-se alguns aspectos geotécnicos nem sempre considerados. Apesar do objetivo principal do trabalho estar voltado para as voçorocas, o artigo também aborda os diferentes processos erosivos. Palavras Chave: Erosão, Voçoroca, Área Rural, Área Urbana, Solos Tropicais ABSTRACT The techniques for the prevention and control of erosions require specific approaches to each case, because of the different factors affecting the erosion mechanism. In tropical regions there are additional complicating factors due to the variety of mechanisms possible. Therefore, in this work the factors and parameters relevant for the definition of techniques of erosion prevention and control are enhanced, with emphasis to geotechnical aspects not always considered in these processes. Despite the main objective of the work being the behaviour of gullies, this paper also addresses other types of erosion mechanisms. Keys – words: Erosion, Gully, Rural Area, Urban Area, Tropical Soils INTRODUÇÃO É significativa e preocupante a degradação dos solos, em conseqüência do manejo inadequado dos mesmos ou da implantação de obras de engenharia e saneamento sem os devidos cuidados. Uma grande parte dos municípios do Brasil já apresenta problemas de degradação dos solos, tanto em áreas agrícolas como em áreas urbanas, podendo ser considerada como um dos mais importantes problemas ambientais dos nossos dias. A degradação do solo envolve a alteração de suas propriedades físico-químicas e dos nutrientes, bem como os processos erosivos. Os processos erosivos podem ser naturais ou de origem antrópica. Eles podem ser causados pela ação das águas, dos ventos e das geleiras. O agente mais estudado é a água, que gera três tipos de erosão nos solos, a erosão interna ou piping, a esqueletização ou aumento da porosidade e a erosão de superfície. A erosão interna geralmente surge em conseqüência do aumento da taxa de infiltração ou do gradiente hidráulico e corresponde a formação de canais de fluxo no solo. A esqueletização (Roose, 1977) também surge em conseqüência deste processo ou por meio da dissolução de componentes minerais, provocando um aumento da porosidade do solo. A erosão de superfície pode ser gerada pela ação das ondas do mar ou fluviais e pelas águas de chuva. VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 2 de 10 ================================================================================ A erosão de superfície gerada pelas águas de chuva passa por um processo evolutivo cujas fases poderiam ser classificadas em ordem cronológica como erosão laminar, sulcos, ravinas e voçorocas. Existe, ainda hoje, controvérsias quanto a fixação dos limites de cada fase, principalmente entre ravina e voçoroca. Alguns autores buscam liga-las a aspectos geométricos e outros à presença ou não do lençol freático. Embora a adoção de uma padronização se faça necessário, cabe no momento destacar que os fenômenos de erosão interna e de esqueletização podem exercer influência direta na definição do modelo evolutivo das erosões de superfície. No âmbito deste trabalho tratar-se-á das erosões aceleradas ou antrópicas geradas pela água da chuva, adotando-se o termo voçoroca definido dentro de um enfoque geométrico. Guerra (1998), citado por Oliveira (1999), adota esse termo para as erosões com profundidade e largura superiores a 50 cm. Consideramos no entanto necessário rever os limites apresentados na literatura associando-os aos processos evolutivos das erosões. O artigo busca tratar o tema dentro de um enfoque geotécnico de modo a subsidiar pesquisadores de outras áreas atualmente trabalhando na prevenção e controle de erosões. DEFINIÇÕES BÁSICAS A erosão superficial provocada pela água de chuva, associada ou não aos processos de erosão interna e esqueletização, tem início com a erosão laminar, podendo em seguida e em ordem cronológica passar pelas fases de formação de sulcos, ravinas e voçorocas. Neste tipo de erosão estão implicados os agentes erosivos ou seja a erosividade, que corresponde a ação das gotas de chuva, do escoamento superficial e de fluido agressivos, os fatores resistentes à erosão, que constitui a erodibilidade caracterizada pelas propriedades estruturais, texturais e físico-químicas do solo e finalmente os fatores que modulam a ação erosiva sendo os principais a geomorfologia e a cobertura vegetal. A erosão laminar é normalmente classificada como a erosão que ocorre de modo uniforme na superfície do solo de uma determinada área, podendo ou não nessa fase, propiciar o aparecimento de sulcos. Este tipo de processo erosivo geralmente não deixa traços visíveis e pode continuar sua ação durante anos, só se deixando notar com o empobrecimento do solo ou com o assoreamento de áreas à jusante. Suas conseqüências são vistas mais nas zonas rurais, pois além de levar grande parte dos nutrientes, desestabiliza as plantações atingindo a cobertura de suas raízes. Filetes de água concentrada provenientes do escoamento superficial propiciam a formação dos sulcos, que são pequenos canais abertos com profundidade de até 10 cm. Na fase de aparecimento dos sulcos não ocorrem grandes concentrações de água e eles se dão geralmente de forma difusa. Com efeito, seja pela atuação mais intensa dos agentes erosivos, seja devido a maior erodibilidade do solo ou seja ainda devido a presença de fatores moduladores favoráveis tais como a geomorfologia e a cobertura vegetal ocorrerá uma maior concentração de água fazendo com que os sulcos evoluam para ravinas. Na opinião dos autores deste trabalho o termo ravina deveria ser aplicado para os canais com profundidade superior a 10 cm e limitando-se a profundidade máxima de 50 cm ou àquela para a qual começa a ocorrer instabilidade dos taludes por deficiência de coesão real, adotando-se o maior deles. O limite de 50 cm também encontra-se atrelado a estabilidade de talude pois mesmo para solos granulares, a impregnação de matéria orgânica e a presença de raízes na camada superficial assegura-lhe estabilidade. Neste caso o processo de ravinamento evoluiria com o impacto das gotas de chuva, com o aumento da pressão na fase ar propiciado pela ação das forças capilares e de sucção, com a atuação das forças de cisalhamento impostas pelo fluxo superficial, com a ação da turbulência e finalmente devido a eventual ação de agentes químicos. Este critério geométrico – geotécnico, apesar de não fixar a profundidade máxima VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 3 de 10 ================================================================================ para a ravina, a associa ao modelo evolutivo das erosões. A partir da profundidade limite estabelecida para a ravina ter-se-á as voçorocas, sobre as quais passam a intervir a instabilização dos taludes associados ou não aos fenômenos de erosão interna e/ou de esqueletização. Destaca-se que esse critério não leva em conta aspectos relativos a forma da erosão. A voçoroca é o estágio mais avançado do processo erosivo. Este estágio requer um controle imediato, procurando-se estabilizar ou impedir o prosseguimento de sua ação destruidora e manter uma vigilância periódica até que a recuperação natural ou projetada atinja a estabilização requerida. PROCESSOS EROSIVOS POR AÇÃO DA ÁGUA Para que ocorram os processos erosivos por ação da água de chuva, torna-se necessário o desprendimento das partículas de solo e o seu transporte. Em se tratando de erosão hídrica, o desprendimento das partículas de solo se dá pela atuação de um dos seguintes fatores: - Impacto das gotas de chuva; - Agentes químicos; - Atuação das forças capilares ou de sucção; - Atuação de forças cisalhantes oriundas do fluxo; - Atuação das ondas. Impacto das gotas de chuva A capacidade das gotas de chuva de desprender partículas ou grupamentos de partículas depende de dois fatores, da energia cinética que elas atingem no movimento de queda e das propriedades do solo. Quanto maior a energia cinética e menor a agregação entre as partículas de solo, maior será o desprendimento. A partícula desprendida poderá seguir dois caminhos, manter-se relativamente livre na superfície do solo e ser transportada quando da ocorrência de fluxo superficial ou iniciar um movimento descendente através dos poros do solo favorecendo, em certos casos, a sua colmatação e gerando as chamadas crostas. Esta formação de crosta está muitas vezes associada aos ciclos de molhagem e secagem do solo, que fazem com que ele atinja elevadas densidades. Camapum de Carvalho (1985) mostra que o fenômeno de retração atuando em um solo desestruturado, como seria, por exemplo, o caso de um solo preparado para o plantio, pode conduzi-lo a um grau de compactação correspondente ao fornecido pela energia Proctor intermediário. Agentes químicos Com a atividade humana o solo sofre ao longo do tempo a ação de agentes químicos atrelados a água de chuva, a água de irrigação, a água de esgoto, a efluentes de mineração e industrial e a insumos agrícolas. Dependendo do tipo de solo a ação do agente pode ser inibidora ou aceleradora do processo erosivo. Assim por exemplo, as chuvas ácidas podem em certos solos, devido ao baixo pH, favorecer a floculação das partículas de argila e contribuir para a maior resistência a erosão, em outros este mesmo tipo de chuva poderá propiciar a destruição dos cimentos agregadores das partículas e acelerar o processo erosivo ou de esqueletização. Atuação das forças capilares ou de sucção Antes da precipitação e do fluxo superficial, o solo encontra-se normalmente no estado não saturado e portanto submetido a forças capilares e/ou de sucção. Neste caso o modo como se dá a saturação poderá propiciar o desprendimento e a desagregação das partículas de solo. VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 4 de 10 ================================================================================ Se um agregado ou uma dada massa de solo (Figura 1a) vê-se repentinamente imersa em água (Figura 1b), a capilaridade e/ou sucção faz com que a água penetre no seu interior gerando uma pressão positiva na fase ar, que ao atingir a coesão do solo o rompe, desagregando-o (Figura 1c). A influência da umidade inicial do solo no processo de erosão é analisado em maior detalhe por Bender (1985). (a) (b) (c) Figura 1 - Efeito da capilaridade e/ou sucção na desagregação do solo Atuação das forças cisalhantes oriundas do fluxo O desprendimento das partículas de solo devido a atuação do fluxo se dá por dois motivos: pela capacidade interativa entre as moléculas de água e as partículas de solo, e pela ocorrência de turbulência no fluxo. As moléculas de água ao se movimentarem aplicam uma tensão cisalhante sobre as partículas de solo, que ao ultrapassar a coesão e/ou as forças de atrito do solo, propiciam o desprendimento das mesmas. Ainda, a turbulência que ocorre com o aumento da velocidade de fluxo favorece tal desprendimento. Supondo que durante o fluxo a camada superficial encontra-se saturada, a resistência ao cisalhamento () do solo será dada por: c' 'tg(') (1) Onde: - c' , é a coesão efetiva; - ' , a tensão normal efetiva atuando no contato entre as partículas; - ' , o ângulo de atrito efetivo entre as partículas. Normalmente a coesão é fruto das interações eletromagnéticas entre as partículas de argila, nos solos cauliníticos, por exemplo, este parâmetro normalmente se situa entre 5 e 10 kPa. No entanto, nos solos tropicais e nos solos superficiais dois outros fatores contribuem para aumentar as forças de ligação entre as partículas, os cimentos e a matéria orgânica, o que propicia a formação de agregações mais estáveis e o aumento da coesão. Se nas argilas a tensão normal no contato das partículas superficiais é desprezível o mesmo não ocorre com os solos granulares que por sua vez são não coesivos e apresentam maior ângulo de atrito que os solos argilosos. As análises granulométricas com e sem o uso de defloculante e as microscopias de varredura tem permitido constatar que as camadas mais superficiais de solos lateríticos apresentam a maioria das partículas de argila agregadas nas frações silte a areia fina, ligadas entre si por óxidos ou hidróxidos de ferro e/ou alumínio ou por pontes de argila. Estas camadas apresentam alta porosidade e consequentemente elevada permeabilidade. Na atuação das forças cisalhantes na superfície do solo embora ainda se discuta se deveria ser considerado o comportamento drenado ou não drenado, cabe destacar que a viscosidade e qualidade do fluido são fatores importantes no processo (Arulanandan et al. 1975). VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 5 de 10 ================================================================================ Atuação das ondas As ondas geram processos erosivos em meio marinho, lacustre e fluvial. Estas ondas podem ser geradas pelo vento ou pelo movimento de embarcações. Enquanto nos mares, oceanos e grandes lagos as ondas geradas pelo vento são as que mais provocam erosões, tanto pela freqüência com que atuam como pela energia que atingem, nos lagos menores e rios o movimento de embarcações, mesmo de pequeno porte podem assumir função erosiva de grande importância. As ondas geram o desprendimento das partículas que são imediatamente carreadas pela água. MÉTODOS DE PREVENÇÃO A melhor forma de combate ao problema da erosão, é a prevenção. As medidas preventivas consistem da adoção de um planejamento prévio em qualquer atividade ligada ao uso do solo. Conhecidos os principais processos erosivos desencadeados pela ação da água torna-se mais fácil estabelecer medidas preventivas em meio rural, em meio urbano e na execução de obras de engenharia tais como na implantação de rodovias, aeroportos, hidrovias e lagoas de estabilização. Prevenção de erosões em meio rural A prevenção de erosões em meio rural, passa pelo planejamento do uso do solo. Este planejamento deve compreender a análise conjunta da erosividade das chuvas, incluindo-se aí o fator vento, da erodibilidade do solo e finalmente dos fatores moduladores como tipo de cobertura vegetal existente e/ou de plantio, técnica de manejo, e características geológicas, geomorfológicas, hidrológicas e hidrogeológicas. Muitos desses fatores são comuns a uma determinada região e como tal devem fazer parte da política de orientação e preservação ambiental gerida pelo estado. De posse dessa análise conjunta torna-se possível e necessário definir as áreas de plantio e de preservação, as culturas apropriadas e as técnicas de manejo. A primeira e mais freqüente recomendação preventiva que se faz em meio rural é a do plantio obedecendo-se as curvas de nível. Efetivamente este é talvez o fator modulador de maior importância, mas existem outros a serem considerados. Por exemplo, sabe-se que a desagregação do solo tornao mais erodível, logo é importante que se avalie o balanceamento químico, não apenas em função das necessidades de cada cultura mas também analisando como ele afetará a erodibilidade daquele material. O preparo do solo não pode se dar tão somente em função da maior produtividade de uma determinada cultura, é necessário que essa produtividade e o custo dessa produtividade sejam avaliados dentro de um contexto de longo prazo, no qual entre como componente importante a preservação do solo. O problema de erosão pode e deve sempre ser analisado a luz da erosividade, da erodibilidade do solo e fatores moduladores. Assim por exemplo, para uma condição de erosividade fixa, pode-se ter problemas mais ou menos sérios em função da erodibilidade do solo, por sua vez esta erodibilidade é condicionada por exemplo pela topografia local, pelo tratamento que se dá ao solo e pela técnica de plantio. Mas especificamente, tratando-se de voçorocas a prevenção passa geralmente pela manutenção do equilíbrio hídrico regional, no qual deve-se buscar manter a taxa de infiltração, evitar a concentração de água e manter a vegetação das encostas e próximo as nascentes. Junto a encostas, deve ser evitado o aumento da taxa de infiltração e a implantação de represas e bacias de dissipação à montante. Tais práticas favorecem o aparecimento de erosão interna e do fenômeno de esqueletização do maciço, facilitando assim instabilizações de taludes e o surgimento de voçorocas remontantes. VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 6 de 10 ================================================================================ Em síntese a prevenção de erosões em meio rural deve obedecer regionalmente a um planejamento que contemple de modo amplo a análise da erosividade, da erodibilidade e dos fatores moduladores. Este planejamento deve avaliar o processo erosivo em suas diferentes fases da cadeia evolutiva, indo desde a erosão laminar até a formação de voçorocas. Prevenção de erosões em meio urbano Segundo Fendrich et al. (1997) a etapa primordial para o controle de erosão, também chamada de Projeto de Prevenção à Erosão Urbana, consiste no estabelecimento de bases adequadas para a ocupação de espaços urbanos, de tal forma que se eliminem as distorções existentes, para que o crescimento urbano não determine novos processos erosivos. Algumas metas dos projetos de prevenção adotados, especialmente no Estado do Paraná foram: melhoria das condições de uso do solo urbano, estabelecimento de políticas de ordenamento do crescimento dos centros urbanos, melhoria dos cadastros dos municípios, definição de legislação sobre o uso do solo, envolvendo plano-diretor, definição de limites para ocupação e expansão do perímetro urbano e disciplinamento de loteamentos. Normalmente, o Plano de Prevenção consiste basicamente de um Plano de Ordenamento do assentamento urbano, que estabeleça as normas básicas para evitar problemas futuros. Compreende o estudo dos aspectos de apropriação, uso e ocupação do solo nas áreas urbanas, de forma a se atingir os objetivos de minimização da influência desses fatores sobre a erosão urbana e a definir restrições de uso e ocupação justificáveis do ponto de vista social e econômico (Rosa et al., 1981). Desta forma, o planejamento de uso do solo em uma região constitui um meio de ativar um controle global dos processos erosivos, já que se pressupõe que um plano indicará as áreas mais adequadas para o diversos tipos de ocupação (urbana, industrial, agrícola, extrativa, etc.) o que, direta e indiretamente, contribuirá para uma segurança maior em relação ao potencial da erosão. Ao planejamento de uso do solo deve estar associado o plano de implantação de obras básicas tais como as redes de águas pluviais, de esgoto e de água potável e a adoção de taxas de impermeabilização admissíveis. A implantação dessas obras deve levar em conta as propriedades e comportamento dos solos. Assim por exemplo, é comum a implantação desses sistemas sobre um colchão de brita. Tal prática pode, em certos casos, dependendo da profundidade de implantação das redes e das propriedades e comportamento do solo dar origem a um processo de erosão interna que afeta a estabilidade das construções. O sucesso de um planejamento urbano deverá portanto estar fundamentado em estudos dos mais variados aspectos, desde os fatores sociais e econômicos, até os relativos ao físico e ambiental. Prevenção de erosões ocasionadas pela implantação de obras de engenharia Na execução de obras de engenharia tais como hidrovias, lagoas de estabilização, rodovias e aeroportos, faz-se necessário a adoção de medidas preventivas com o intuito de se evitar o surgimento de processos erosivos. Nas hidrovias é comum a erosão das margens provocada pelo movimento das embarcações, o que requer o disciplinamento dos tipos de embarcações e das velocidades de circulação admissíveis ou ainda a proteção contra o impacto das ondas. A adoção das medidas preventivas passam pela análise da erodibilidade do solo e da energia que as ondas atingem. A implantação de lagoas de estabilização não revestidas requer a análise do solo e das condições locais quanto a possibilidade do aparecimento dos fenômenos de erosão interna e de esqueletização. VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 7 de 10 ================================================================================ Seria possível aqui apresentar um rol de problemas erosivos ocasionados pela implantação de obras de engenharia começando paradoxalmente por aquelas que buscam a melhoria das condições ambientais e das condições sanitárias, tais como tratamento de esgoto e de água potável. No entanto, quanto ao surgimento de voçorocas talvez as obras de engenharia que causam maiores danos, são as construções rodoviárias. Nestas obras, as voçorocas geralmente surgem a partir dos locais explorados como jazida, nos pontos de lançamento das águas provenientes dos sistemas de drenagem e em locais onde o fluxo tornase excessivamente concentrado devido a própria implantação da rodovia. A título de exemplo de que cada caso exige estudos mais acurados, tornou-se não raro como técnica de preservação nas áreas que foram exploradas como jazida, fazer com que elas sejam revegetadas e funcionem como bacia de dissipação. Em certas circunstâncias, a implantação da bacia de dissipação poderá propiciar os fenômenos de esqueletização e o surgimento de erosão interna como mostra o caso analisado por Camapum de Carvalho et al. (1998), em outras o quadro poderá evoluir para o surgimento de voçorocas. Destaca-se no entanto, que os principais e mais importantes problemas de erosão ligados ao surgimento de voçorocas em obras rodoviárias estão geralmente ligados à concentração do fluxo superficial e ao lançamento inadequado das águas provenientes dos sistemas de drenagem. A adoção de medidas preventivas adequadas contribuirão para a preservação ambiental e para a redução dos custos de manutenção de muitas obras de engenharia como é o caso das rodovias. MÉTODOS DE CONTROLE A necessidade de controle dos processos erosivos advém da não adoção de medidas preventivas ou da adoção de medidas preventivas inadequadas. É importante destacar que o controle de erosões é geralmente muito mais oneroso que a simples prevenção, além do fato de que ao tornar-se necessário muitos danos quase que irreparáveis já foram gerados, tais como o assoreamento de reservatórios e cursos d'água. O controle de erosões e mais especificamente de voçorocas vem se constituindo em uma área de grande importância dentro da Geotecnia, seria no entanto, pretensioso apresentar soluções de controle dentro de um enfoque puramente geotécnico. A associação de conhecimentos e experiências multidisciplinares parece o melhor caminho para o estabelecimento de técnicas preventivas e de controle apropriadas. A título de exemplo, se solicitado a um paisagista que especifique a vegetação destinada a recobrir uma encosta que passou por problemas erosivos, é provável que dentro de sua formação ele busque espécies que propiciarão um agradável impacto visual. O agrônomo ou engenheiro florestal por sua vez, ao avaliar o clima e as propriedades dos solos poderá restringir certas espécies ou fornecer ao solo, os nutrientes necessários. A princípio, tudo parece então resolvido, no entanto, por exemplo, o plantio de espécies que retêm uma grande umidade no solo podem contribuir para futuras instabilidades dessa encosta, devendo então recorrer aos conhecimentos geotécnicos. Um outro aspecto que passa por uma análise ligada à geotecnia é a questão da demanda de água de cada espécie e as condições de fluxo em taludes. Embora a adoção de coquetéis de grãos venha contribuindo para minimizar o problema, a Figura 2 apresenta um croqui ilustrando o problema. O surgimento de uma voçoroca impõe o rebaixamento do lençol freático, muda as condições de fluxo e com isso aumenta-se a sucção em parte do talude conforme esquematizado. Nos períodos de seca esse aumento pode ser tal que comprometa o sucesso da revegetação. No meio geotécnico, as principais obras de controle e recuperação de áreas atingidas por voçoroca compreendem: VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 8 de 10 ================================================================================ - O disciplinamento do fluxo de água, tanto superficial como profundo através da implantação de sistemas de drenagem; Obras de retaludamento; Revegetação; Obras de contenção de taludes; Obras de reaterro; Obras de barramento. Lençol freático Zona com sucção superior ao ponto de murcha no período de seca Linhas de iso umidade ou de iso sucção Dreno Figura 2 – Croqui ilustrando as condições de fluxo em um talude de voçoroca. Lençol freático Linhas de iso umidade ou de iso sucção Gabião Erosão interna (a) Lençol freático Zona com sucção superior ao ponto de murcha no período de seca Linhas de iso umidade ou de iso sucção Gabião Geotêxtil (b) Figura 3 - Implantação de Gabião como obra de controle. VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 9 de 10 ================================================================================ Todas essas obras são sem exceção onerosas, e requerem estudos específicos. Por exemplo, em certos casos a simples estabilização dos taludes através da construção de muros gabiões pode assumir um caráter temporário, pois condições favoráveis de fluxo podem gerar erosão interna (Figura 3a) e/ou a esqueletização do maciço, propiciando futuramente a instabilização do talude e a evolução do processo erosivo. Para a solução desse problema seria necessário fazer com que o muro satisfizesse também às condições de filtro, por meio por exemplo da interposição de um geotêxtil (Figura 3b). CONCLUSÕES Existem na literatura várias obras (Diaz, 1992; Osaki, 1994; Fendrich et al., 1997; Bertoni e Lombardi Neto, 1999 & Guerra et al., 1999) que tratam das técnicas de prevenção e controle de erosões tanto em área rural quanto urbana. Nesse trabalho buscou-se apenas realçar a necessidade de um entendimento mais amplo das causas e conseqüências dos processos erosivos. Em meio rural e urbano, ao se efetuar a ocupação do solo, ao revolve-lo, ao se alterar suas propriedades e composição em função da incorporação de aditivos químicos e/ou orgânicos, ao se alterar as condições de infiltração e drenagem, e ao se implantar obras de engenharia ou saneamento propicia-se o surgimento de uma nova ponderação entre os parâmetros estabilizadores e instabilizadores do solo quanto aos processos erosivos. Sendo assim a adoção de técnicas de prevenção e controle devem ser definidas caso a caso buscando-se o equilíbrio necessário e sempre levando-se em conta o levantamento de indícios de problemas erosivos ocorridos anteriormente na região. Nessa avaliação devem ser colocadas algumas questões tais como: a) Em área rural - Dispomos de implementos agrícolas apropriados às condições climáticas e aos solos tropicais? - As técnicas de preparo e plantio adotadas são apropriadas às condições climáticas e aos solos tropicais? - Seria a colmatação dos poros ou o fenômeno de retração o principal responsável pelo aumento do escoamento superficial? - Em certas situações não seria conveniente alterações topográficas de modo a minimizar o fluxo superficial? - Qual a influência dos insumos químicos e orgânicos, na estabilidade estrutural do solo, na alteração da taxa de infiltração de longo prazo e para onde estão indo as frações dos aditivos não consumidas pela vegetação? - Os processos de irrigação estão condizentes com as características locais do solo? b) Em área urbana - Qual a taxa de infiltração ideal para que se evite os fenômenos de esquelitização e erosão interna? - Para a nova taxa de infiltração a matriz mais grossa do solo será filtro da mais fina? - Com a nova situação não será atingido o gradiente crítico do solo? - Para a nova condição de fluxo por quanto tempo se manterá estável um determinado talude? - Considerando-se o tipo de solo, as condições geológicas, geomorfológicas, hidrológicas e hidrogeológicas as técnicas de prevenção e controle serão eficientes? Por que? VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão Goiânia (GO), 03 a 06 de maio de 2001 Pag 10 de 10 ================================================================================ - Os projetos de micro e macro drenagem estão condizentes com o fluxo de água local? Contemplam a descarga até o ponto final de lançamento da água? c) Na implantação de obras de engenharia - Como a obra afetará a hidrologia, a hidrogeologia e a inclinação dos taludes e quais serão as conseqüências dessas alterações em relação a eventuais problemas erosivos? - Onde e em que condições deverão ser lançadas as águas provenientes dos sistemas de drenagem? - Como as jazidas devem ser recuperadas? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Arulunandan, K.; Laganathan, P.; Krone, R.B. (1975). Pore and eroding fluid influences on surface erosion of soil. Journal of the Geotechnical Engineering Division, ASCE, v. 101, n.1, p. 51-65. Bender, H. (1985). 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