5. Aplicação da modelagem proposta na localização de uma base de distribuição de derivados 5.1. Levantamento das informações A modelagem apresentada no capitulo 4 será aplicada para Municípios da Região Sul do Brasil. Esta região foi escolhida por representar 16,6% do PIB (IBGE, 2005) e por ser a região onde se vislumbra a possibilidade de inserção de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0612537/CB pólos de venda no interior. Para a aplicação, foram utilizadas informações do Sistema Petrobras e das agências governamentais (ANP e ANTT), que serão detalhadas posteriormente. 5.1.1. Infra-estrutura considerada A infra-estrutura considerada para aplicação da metodologia descrita no capítulo anterior é composta de duas refinarias (REPAR e REFAP), que enviam produto para 5 pólos de venda já existentes: Araucária, Biguaçu, Guaramirim, Itajaí e Canoas, localizados como mostra a figura 6. 60 REPAR e Pólo de Araucária Pólo de Guaramirim Pólo de Itajaí Pólo de Biguaçu PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0612537/CB REFAP e Pólo de Canoas Figura 6 – Refinarias e pólos de venda atuais A partir desses pólos de venda, será analisada a possibilidade de envio de produto para 19 pólos candidatos. A escolha desses pólos foi feita selecionando-se Municípios distantes dos pólos existentes, com uma infra-estrutura logística existente mais favorável para chegada de produto, como, por exemplo, existência de ferrovia. As cidades candidatas a pólos de venda são: Bagé (RS), Cachoeira do Sul (RS), Capinzal (SC), Cascavel (PR), Chapecó (SC), Criciúma (SC), Foz do Iguaçu (PR), Guaporé (RS), Guarani das Missões (RS), Guarapuava (PR), Lages (SC), Maringá (PR), Passo Fundo (RS), Pelotas (RS), Reserva (PR), Santiago (RS), Sengés (RS), União da Vitória (PR) e Uruguaiana (RS). A localização desses pontos pode ser vista no mapa da figura 7. 61 Guarapuava Maringá Reserva Sengés Cascavel União da Vitória REPAR e Araucária Foz do Iguaçu Guaramirim Chapecó Itajaí Passo Fundo Biguaçu Guarani das Missões Capinzal Lages Uruguaiana Criciúma Santiago Guaporé Cachoeira do Sul PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0612537/CB REFAP e Canoas Bagé Pelotas Figura 7 – Refinarias e pólos existentes e candidatos Os pólos existentes e candidatos poderão distribuir produto para 614 Municípios, que correspondem a 95% da demanda total de gasolina e diesel da Região Sul. Na figura 8, pode-se ver toda a infra-estrutura considerada. 62 LEGENDA Ferrovia Rodovia Dutos Refinaria PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0612537/CB Pólos Cidades Figura 8 – Infra-estrutura logística da região Sul utilizada no estudo 5.1.2. Investimento para construção do novo pólo O custo de investimento de um novo pólo foi estimado, a partir de experiência interna do setor de engenharia do Sistema Petrobras, em R$100 milhões, divididos conforme tabela 1: Período % do Investimento Ano 1 4% Ano 2 18% Ano 3 78% Tabela 1 – Distribuição dos investimentos pelos anos O novo pólo de venda só estaria operacional após esses 3 anos. Como o modelo contempla apenas um período, tem-se de transformar o valor total do investimento em um valor representativo para apenas um período. A partir do fluxo de caixa da figura 9, calculou-se o valor futuro no instante zero e transformou-se esse novo valor em uma série uniforme, considerando-se o prazo de 10 anos, que representa o tempo de depreciação de um pólo de vendas, e uma taxa de atratividade mínima de 8,5% ao ano. 63 Receita -3 -2 -1 0 1 Investimento 2 3 4 5 6 7 8 9 Série uniforme para o investimento Figura 9 – Fluxo de caixa do investimento em novo pólo de vendas PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0612537/CB Realizando-se os cálculos, chegou-se a um valor de investimento anual uniforme para uma série de 10 anos de R$ 15,59 milhões. 5.1.3. Custos de transferência Os custos de transferência das refinarias para os pólos de venda existentes foram obtidos dentro do Sistema Petrobras. Para a movimentação dutoviária, consultou-se o valor publicado pela Transpetro em seu site (Transpetro, 2008), enquanto os custos de transporte ferroviário e rodoviário foram obtidos junto à Petrobras Distribuidora e à ANTT. Os valores encontrados estão na tabela 2: Repar (PR) Refap (RS) PÓLO EXISTENTE (R$/m³) ARAUCÁRIA BIGUAÇU GUARAMIRIM ITAJAÍ 0,00 24,90 12,18 19,66 69,00 79,38 76,36 82,13 CANOAS 69,00 0,00 Tabela 2 – Custos de transferência das refinarias para os pólos de venda existentes Para os custos de transferência dos pólos existentes para os pólos candidatos, também foram consultados a Petrobras Distribuidora e o site da ANTT. Para os trechos ferroviários referentes aos quais não constavam custos, estimou-se um custo médio por unidade de distância para transferência de um 64 Estado de origem para um de destino a partir das informações existentes e aplicou-se a cada trecho desejado. A tabela encontra-se no anexo I. 5.1.4. Custos operacionais Os custos operacionais para os pólos de venda existentes foram obtidos dentro do Sistema Petrobras, por análise dos históricos de custos. Os custos operacionais das novas bases foram estimados a partir de média dos custos de operação observados nas bases secundárias do Sistema Petrobras. Segue a tabela 3 com os custos dos pólos: PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0612537/CB Pólo Araucária (PR) Biguaçu (SC) Guaramirim (SC) Itajaí (SC) Canoas (RS) Bagé (RS) Cachoeira do Sul (RS) Capinzal (SC) Cascavel (PR) Chapecó (SC) Criciúma (SC) Foz do Iguaçu (PR) Guaporé (RS) Guarani das Missões (RS) Guarapuava (PR) Lages (SC) Maringá (PR) Passo Fundo (RS) Pelotas (RS) Reserva (PR) Santiago (RS) Sengés (PR) União da Vitória (PR) Uruguaiana (RS) Tabela 3 – Custos operacionais dos pólos de venda Custo Operacional (R$/m³) 2,84 1,93 2,54 3,85 3,40 8,18 8,18 8,18 8,18 8,18 8,18 8,18 8,18 8,18 8,18 8,18 8,18 8,18 8,18 8,18 8,18 8,18 8,18 8,18 65 5.1.5. Custos de distribuição Os custos de distribuição foram obtidos com o auxílio de software de otimização desenvolvido na Petrobras, que considerou custos fixos e variáveis de distribuição. Esses custos são apresentados no anexo II. 5.1.6. Oferta A oferta das refinarias de gasolina foi extraída dos dados estatísticos da ANP para o ano de 2006 e é apresentada na tabela 4: PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0612537/CB Refinaria Repar (PR) Refap (RS) Produção (mil m³) 7.617,43 4.515,80 Tabela 4 – Produção das refinarias 5.1.7. Demanda A demanda dos Municípios da Região Sul do Brasil foi obtida junto à ANP e está listada no anexo III. 5.1.8. Preços Os custos de produção das refinarias utilizados na aplicação do modelo foram obtidos junto às refinarias do Sistema Petrobras da Região Sul do país. Eles representam uma média dos custos de produção incorridos para o ano de 2006 e estão indicados na tabela 5: 66 Refinaria Custo de produção (R$/m³) 740,24 798,62 Repar (PR) Refap (RS) Tabela 5 – Custo de produção das refinarias Os preços utilizados para os pólos de venda existentes foram extraídos do Sistema Petrobras e representam o preço médio praticado em 2006 em cada um destes pólos, conforme pode-se ver na tabela 6: Preço (R$/m³) 987,80 1.008,90 998,10 1.004,50 999,80 Pólo PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0612537/CB Araucária (PR) Biguaçu (SC) Guaramirim (SC) Itajaí (SC) Canoas (RS) Tabela 6 – Preço nos pólos de venda existentes Para encontrar os preços nos pólos candidatos n, calculou-se primeiramente, para cada um deles, qual base existente forneceria o produto com menor custo, como pode ser visto pela equação: min(CTN jn + COn ) ∀j (73) em que CTNjn é o custo de transferência do pólo existente j para o pólo candidato n e COn é o custo operacional do pólo n. Encontrado j, que será o pólo existente que suprirá o novo pólo de venda, pode-se definir Pn como sendo: Pn = Pj + α + (CTN jn + COn ) (74) em que Pn é o preço no pólo candidato n; Pj, o preço no pólo existente j; α, um fator adicional positivo; COn é o custo operacional do pólo n e CTNjn é o custo de transferência do pólo existente j para o pólo candidato n. Esse fator α sofrerá variação de R$ 0,00 até R$ 50,00, em intervalos de R$ 5,00, a fim de verificar sua 67 influência. O resultado desse cálculo para um α de R$10,00/m³ é apresentado na tabela 7: PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0612537/CB Pólo de venda Bagé (RS) Cachoeira do Sul (RS) Capinzal (SC) Cascavel (PR) Chapecó (SC) Criciúma (SC) Foz do Iguaçu (PR) Guaporé (RS) Guarani das Missões (RS) Guarapuava (PR) Lages (SC) Maringá (PR) Passo Fundo (RS) Pelotas (RS) Reserva (PR) Santiago (RS) Sengés (PR) União da Vitória (PR) Uruguaiana (RS) Preço (R$) 1.064,91 1.042,85 1.062,69 1.064,93 1.071,66 1.060,03 1.100,99 1.040,26 1.074,05 1.036,63 1.050,40 1.054,66 1.051,34 1.051,22 1.031,84 1.072,91 1.035,44 1.029,56 1.106,59 Tabela 7 – Preço nos pólos candidatos para α igual a R$ 10,00 5.2. Ferramenta utilizada Para a resolução do modelo elaborado neste trabalho, foi utilizado o software comercial AIMMS (Advanced Integrated Multidimensional Modeling Software) em sua versão 3.8, da Paragon Decision Technology. Segundo Bisschop e Roelofs (2008), AIMMS é uma ferramenta de modelagem matemática, introduzida no mercado em 1993, que combina linguagem de modelagem, interface gráfica e solucionadores numéricos. É utilizada em várias áreas, como gerenciamento da cadeia de suprimento, gerenciamento de energia, planejamento da produção, logística, planejamento florestal, gerenciamento de riscos, de receitas e de ativos. 68 AIMMS oferece um número de conceitos de modelagem avançada não encontrados em outras linguagens, assim como interface gráfica tanto para os usuários finais como para os desenvolvedores. Ele inclui solucionadores conhecidos mundialmente para problemas de programação linear, inteira mista, não-linear, como BARON, CPLEX, CONOPT, KNITRO, LGO, PATH, XA e XPRESS e pode ser prontamente estendido para incorporar outros solucionadores avançados disponíveis no mercado atualmente. A utilização desta ferramenta deveu-se à facilidade de modelagem e à interface amigável com o usuário, além da disponibilidade junto à Petrobras. O problema analisado apresentou 736933 variáveis, sendo 722088 inteiras e 14845 contúnuas. Quantos às restrições, possui 354311 equações e 397980 inequações. O processamento desse software foi realizado em um computador Pentium M com 2 gigahertz de velocidade e 1,5 gigabytes de memória RAM. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0612537/CB Cada um dos cenários demorou cerca de 2 minutos para atingir uma solução ótima. 5.3. Resultados Inicialmente, para o cenário sem um novo pólo, pode-se constatar uma distribuição da demanda, segundo a figura 10. Esta figura mostra quais os Municípios que cada pólo de venda atende, de forma a minimizar os gastos de distribuição (preço de aquisição mais custo de distribuição dos pólos aos Municípios). 69 REPAR e Pólo de Araucária Pólo de Guaramirim Pólo de Itajaí PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0612537/CB Pólo de Biguaçu REFAP e Pólo de Canoas Figura 10 – fluxo de suprimento e área de influência dos pólos existentes Nesse cenário, constatou-se que, nos pólos de venda existentes, tem-se um fluxo de produtos conforme indicado na tabela 8: DESTINO Canoas (RS) Araucária (PR) Biguaçu (SC) Guaramirim (SC) Itajaí (SC) FLUXO (m³) 3.706.219 5.093.855 720.935 854.278 358.787 Tabela 8 – Fluxos para os pólos existentes Para suprir este volume em cada um dos pólos de venda verificou-se que a Petrobras incorreria, de forma a minimizar os custos de produção, operação e transferência, em um total de R$ 2,45 bilhões. A análise dos cenários com as faixas de preços para os novos pólos, indicados anteriormente, não apontou nenhum resultado significativo. 70 Assim, independente do valor de α, o modelo indicou que nenhum novo pólo deve ser construído; mantêm-se os fluxos já existentes e permanece o lucro de R$ 2,45 bilhões. Analisando-se os resultados obtidos, percebe-se que o custo uniforme anual de construção de um novo pólo de venda é alto (R$ 15,59 milhões). Se se considerar que a Petrobras tenha um lucro unitário (α) de R$ 10,00, seria necessária uma movimentação neste novo pólo de 1,559 milhões de m³ para que ele fosse viável, ou seja, para ser o terceiro pólo em movimentação. Se se observar qual seria a movimentação caso um pólo existisse, para um preço que só cobriria os aumentos de custos da Petrobras, ou seja, α igual a zero, ver-se-ia, conforme tabela 9, que a maior movimentação para um novo pólo seria PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0612537/CB de 661 mil m³, para o pólo de União da Vitória. Pólo Araucária (PR) Cascavel (PR) Chapecó (SC) União da Vitória (PR) Criciúma (SC) Capinzal (SC) Bagé (RS) Cachoeira do Sul (RS) Biguaçu (SC) Foz do Iguaçu (PR) Guarapuava (PR) Guaporé (RS) Guaramirim (SC) Itajaí (SC) Guarani das Missões (RS) Uruguaiana (RS) Pelotas (RS) Canoas (RS) Maringá (PR) Passo Fundo (RS) Reserva (PR) Lages (SC) Santiago (RS) Sengés (PR) Tabela 9 – Fluxos nos pólos para α igual a zero Movimentação (mil m³) 5.094 584 72 661 631 10 721 9 132 854 359 73 115 3.706 74 132 232 95 35 71 Analisando-se os demais valores de α, pode-se verificar qual seria a movimentação necessária e qual seria a máxima movimentação que ocorreria em um novo pólo para cada valor deste fator, que pode ser vista no gráfico 1. A máxima movimentação para cada valor de α foi obtida comparando-se os gastos de distribuição (preço de compra mais os custos de distribuição) a partir de um pólo candidato com os dos pólos existentes para cada um dos Municípios. O que apresentasse menor valor receberia a demanda integral do Município. Realizandose a soma pode-se ver, dentre os pólos candidatos, qual o de maior movimentação. Comparação da movimentação necessária e a máxima movimentação ocorrida em um novo pólo 4.000 3.000 Volume (m³) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0612537/CB 3.500 2.500 2.000 1.500 1.000 500 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Lucro unitário (R$/m³) Movimentação ocorrida Movimentação necessária Gráfico 1 – Fluxo máximo encontrado e fluxo necessário para um novo pólo de vendas por valor de α Pode-se perceber que, para um valor de α de R$ 30,00, a movimentação ocorrida quase justificaria a implantação de um pólo. Esta movimentação foi observada para o novo pólo em Cascavel (PR). Com as movimentações máximas que podem ocorrer para cada valor de α, pode-se calcular qual investimento anual máximo se pode ter para viabilizar um novo pólo. Como se pode ver no gráfico 2, seria viável ter um novo pólo somente se o investimento fosse de R$ 13.852 mil/ano: 72 Investimento anual máximo necessário para viabilização de um novo pólo 13.852 12.165 mil R$ 9.923 7.995 6.609 4.488 1.241 1.418 0 5 10 15 20 25 30 35 40 - - 45 50 Lucro Unitário (R$/m³) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0612537/CB Gráfico 2 – Investimento anual máximo necessário para viabilizar um novo pólo Para ilustrar tal constatação, alterou-se o custo de implantação de um novo pólo para R$ 13 milhões e verificou-se qual a solução ótima encontrada pelo modelo para um valor de α de 25, 30 e 35. Para um α de R$ 25,00, não se observou nenhum pólo novo; assim, manteve-se o resultado logístico em R$ 2,447 bilhões. As áreas de influência são mostradas na figura 11: 73 Pólo de Araucária Pólo de Guaramirim Pólo de Itajaí Pólo de Biguaçu PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0612537/CB Pólo de Canoas Figura 11 – área de influência dos pólos para α igual a R$ 25,00 e R$ 35,00 Para um α de R$ 30,00, o modelo indicou a construção de uma base em Cascavel. Nesse caso, obteve-se um resultado logístico de R$ 2,448 bilhões. Apesar da indicação do modelo, deve-se avaliar com cuidado esta solução, pois o ganho foi muito pequeno, de forma que um pequeno erro de previsão dos valores pode tornar a construção não-atrativa. A figura 12 mostra a nova disposição das áreas de influência. 74 Pólo de Araucária Pólo de Cascavel Pólo de Guaramirim Pólo de Itajaí Pólo de Biguaçu PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0612537/CB Pólo de Canoas Figura 12 – área de influências dos pólos para α igual a R$ 30,00 Já para um α de R$ 35,00, percebe-se que o modelo não mais indica a construção de um novo pólo e retorna à situação em que só se tem os pólos já existentes. Novamente, o resultado logístico é de R$ 2,447 bilhões e as áreas de influência são as mesmas mostradas na figura 13. Percebe-se que, mesmo que o aumento tenha sido pequeno, houve uma melhora na rentabilidade da Petrobras.