Anais do Conic-Semesp. Volume 1, 2013 - Faculdade Anhanguera de Campinas - Unidade 3. ISSN 2357-8904
TÍTULO: RESPOSTAS IMUNOLÓGICAS E BIOQUÍMICAS FRENTE A UMA SESSÃO DE TREINAMENTO
INTERVALADO DE BRAZILIAN JIU-JITSU
CATEGORIA: CONCLUÍDO
ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE
SUBÁREA: BIOMEDICINA
INSTITUIÇÃO: FACULDADE INTEGRADA METROPOLITANA DE CAMPINAS
AUTOR(ES): MARIANA ALCÂNTARA CARDOSO FARIA, KARINA DE ARAUJO COSTA
ORIENTADOR(ES): BERNARDO NEME IDE, LÁZARO ALESSANDRO SOARES NUNES
CATEGORIA CONCLUÍDO
1. RESUMO
O sistema imunológico tem a função de proteger o organismo contra infecções e
agentes agressores externos. O treinamento físico, de intensidade moderada,
melhora o sistema imune, enquanto que o treinamento intenso provoca
imunossupressão temporária. O estado de imunossupressão está associado ao risco
aumentado de incidência de Infecções Respiratórias do Trato Superior (IRTS). O
hemograma é um exame útil para avaliar o sistema imune do atleta, pois quantifica
os leucócitos componentes da resposta imune inata e adquirida (neutrófilos,
linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos). Por outro lado a saliva possui alguns
metabólitos como uréia, ácido úrico, α–Amilase e imunoglobulina A que podem ser
utilizados para avaliar o estresse durante o exercício e o sistema imune do atleta de
forma menos invasiva. O objetivo deste estudo foi avaliar a resposta imune frente a
uma sessão de treinamento intervalado em lutadores de Brazilian Jiu-Jitsu.
Participaram deste estudo 10 atletas de Brazilian Jiu-Jitsu com idade entre 28 ± 6
anos. As amostras de saliva e sangue foram coletadas antes e imediatamente após
a sessão. O treinamento intervalado foi caracterizado por 6 séries de 2 minutos com
1 minuto de intervalo do exercício de “raspagem” e “passagem de guarda”. Os
resultados das análises bioquímicas (ácido úrico, uréia, α-amilase e IgA) e
hematológicas dos atletas em repouso foram comparados aos valores pós
treinamento através do teste t de Student para amostras pareadas com nível de
significância p<0,05. A contagem de leucócitos (11,6 ± 0,9 x 103cel/μL) e linfócitos
(5,4 ± 1,7 x 103cel/μL) apresentou aumento significativo imediatamente após quando
comparado ao repouso (7,9 ± 0,1 x 103cel/μL; 3,1 ± 0,1 x 103cel/μL),
respectivamente (p<0,05). O mesmo comportamento foi observado para as análises
bioquímicas uréia (pré: 27,3 ± 10,1 mg/dL; pós: 58,7 ± 27,1 mg/dL), α-amilase (pré:
110 ± 49,8 U/mL; pós: 744,1 ± 785,2 U/mL) e IgA salivar (pré: 62,5 ± 29,6 μg/min;
pós: 134,2 ± 53,7 μg/min) respectivamente (p<0,05). Os resultados obtidos mostram
que o treinamento aplicado caracterizou-se como um estímulo estressor capaz de
provocar aumento das células e componentes do sistema imune na circulação.
Neste sentido, as dosagens em saliva e o hemograma podem ser utilizados com
eficiência para monitorar atletas durante treinos e competições.
Palavras-chaves: treinamento físico, saliva, sistema imune, alfa-amilase
salivar, imunoglobulina A.
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CATEGORIA CONCLUÍDO
2. INTRODUÇÃO
O sistema imunológico tem a função de proteger o organismo contra infecções e
agentes agressores externos (COSTA ROSA et al., 2002). Ele pode ser
didaticamente dividido em: sistema imune inato e adaptativo. O sistema imune inato
é composto por células como os neutrófilos, eosinófilos, basófilos, monócitos e
natural killer e também por fatores solúveis (sistema complemento, proteínas de fase
aguda e enzimas). O sistema imune adaptativo é constituído por linfócitos T e B,
imunoglobulinas e citocinas (COSTA ROSA et al., 2002).
Muitos estudos mostram que o exercício provoca alterações agudas e crônicas
no sistema imune (GLEESON M, 2007), que são dependentes do tipo, intensidade e
volume do mesmo (SHEPARD et al.,1994). O treinamento físico de intensidade
moderada melhora os sistemas de defesa do organismo, enquanto o mais intenso
causa imunossupressão temporária (ANGELI et al., 2004; DA NOBREGA et al.,
2005). Durante as duas últimas décadas, muitos estudos produziram evidências que
o exercício regular e de intensidade moderada diminui a incidência de infecções, tais
como o resfriado. Por outro lado o treinamento físico mais intenso ou exaustivo está
associado com o aumento de infecções do trato respiratório superior (ITRS)
(GLEESON M, 2007; ROSA et al., 2011; WALSH et al., 2011).
O hemograma é um bom exame para avaliar o sistema imune, pois através dele
quantificamos os leucócitos (neutrófilos, linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos)
de maneira simples e rápida. Estudos mostram que imediatamente após a
realização de uma sessão de treinamento, há um aumento no número de leucócitos,
relacionado com a liberação de cortisol e adrenalina (GLEESON M, 2007).
Os linfócitos apresentam uma resposta bifásica ao treinamento. Há um aumento
durante e imediatamente após o exercício físico (especialmente as células natural
killer - NK), seguido por uma diminuição que pode durar algumas horas
(principalmente de células T e NK). Nesse período o organismo pode estar mais
suscetível a infecções (GLESSON M, 2007; PEDERSEN et al., 1998).
Neste sentido, monitorar atletas ao longo de treinos e competições é importante
para evitar infecções e inflamações decorrentes dos treinos. Entretanto, um
inconveniente para a avaliação de atletas é que na maioria das vezes é necessário a
coleta de amostras de sangue venoso, o que para muitos indivíduos é um
procedimento desconfortável. Para minimizar o desconforto dos atletas, NUNES et
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CATEGORIA CONCLUÍDO
al. (2006) mostrou que a punção digital (microcoleta) pode ser uma alternativa
interessante a punção venosa. Ela é menos invasiva e estressante na obtenção de
amostras de sangue, possibilitando o monitoramento de atletas durante e após
treinos ou competições, sem grandes alterações em suas rotinas de treinamento
(NUNES et al., 2006).
Além da microcoleta, outros fluidos menos invasivos podem ser utilizados para
avaliar os atletas. A utilização da saliva para as análises bioquímicas e imunológicas
vem sendo gradativamente utilizada como alternativa ao sangue. Sua coleta forma é
também não invasiva e por não apresenta riscos durante a mesma, o que torna seu
manejo muito mais seguro (GRÖSCHL, 2008; KAUFMAN & LAMSTER 2002).
A saliva possui concentrações mensuráveis de alguns metabólitos (uréia, acido
úrico, lactato), enzimas (α-amilase) e imunoglobulina A (IgA) que podem ser
utilizados para avaliar o estresse metabólico, psicológico e o sistema imune do atleta
(CHICHARRO et al.,1994; NIEMAN et al., 2002).
A IgA salivar tem sido muito estudada como marcador de função do sistema
imune em atletas (GLEESON & PYNE, 2000). Estudos mostraram que a avaliação
dos efeitos do exercício físico sobre as concentrações de IgA salivar são
inconsistentes. Alguns estudos reportaram uma diminuição após as sessões agudas
de exercício de alta intensidade (NIEMAN et al., 2002; WALSH et al., 2002), outros
nenhuma mudança (MCDOWELL et al., 1991) e outros um aumento (BLANNIN et
al., 1998; SARI-SARRAF et al., 2007).
A α-amilase salivar é uma proteína com funções protetoras importantes na
mucosa oral. Vários estudos têm mostrado elevações na concentração de α-amilase
salivar durante e após o exercício comparado aos valores basais (CHICHARRO et
al., 1998; WALSH et al., 1999; DE OLIVEIRA et al., 2010). A enzima α-amilase
salivar mostra uma relação interessante com o estresse físico e psicológico, sendo
atualmente muito estudada como marcador de ativação do sistema nervoso
simpático (NATER, 2005).
A uréia é o produto final de degradação do nitrogênio originário do metabolismo
das proteínas e aminoácidos. Os fatores que influenciam no aumento das
concentrações séricas de uréia durante o período de treino são principalmente:
aumento de turnover proteico, redução na ingestão de água e reposição inadequada
de glicogênio (HARTMANN & MESTER, 2000). As concentrações de uréia (17 - 40
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CATEGORIA CONCLUÍDO
mg/dL) na saliva apresentam concentrações similares às encontradas no sangue
(REHAK et al., 2000) e por isso sua quantificação pode ser utilizada no
monitoramento do metabolismo proteico em atletas (LAC & MASO, 2004).
Além do estresse metabólico, ocorrem também durante o exercício físico várias
reações químicas que levam à formação de radicais livres e espécies reativas de
oxigênio (EROS) (PEREIRA, 1994; SEN et al., 2001). Para proteger os tecidos
contra possíveis danos causados pelos radicais livres e EROS, as enzimas
antioxidantes parecem responder de maneira adaptativa, elevando suas atividades
em indivíduos treinados (PEREIRA et al., 1996). O ácido úrico é produto final da
degradação das purinas, sendo um dos mais importantes antioxidantes não
enzimáticos presente em fluidos como sangue e saliva (LIPPI et al., 2008; NAGLER
et al., 2002), sua quantificação é útil no monitoramento da capacidade antioxidante
de atletas em treinamento (NUNES et al., 2011).
A avaliação de atletas através de biomarcadores pode contribuir para a
compreensão das respostas imunológicas resultantes de uma única sessão de
exercício ou do treinamento físico realizado em longo prazo, podendo também
auxiliar na ampliação do conhecimento científico e na adequação da prescrição
individualizada do esforço, diminuindo o risco de lesões e infecções decorrentes do
treinamento intenso.
3. OBJETIVO
O objetivo deste estudo foi observar a resposta imune frente a uma sessão de
treinamento intervalado de Brazilian Jiu-jitsu.
4. METODOLOGIA
4.1Sujeitos
O projeto contou com a participação voluntária de 10 atletas de Brazilian Jiu-jitsu,
do sexo masculino, com idade de (28 ± 6 anos). Os atletas que aceitaram participar
da pesquisa e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.
4.2 Critérios de Inclusão
No período de execução da pesquisa, foram adotados os seguintes critérios de
inclusão: os voluntários deviam ter idade entre 21 a 35 anos e praticar somente
Brazilian Jiu-jitsu e/ou treinamento de força tradicional por pelo menos 2 anos.
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CATEGORIA CONCLUÍDO
4.3 Critérios de Exclusão
Foram excluídos da pesquisa os voluntários fora da faixa etária selecionada, os
que estavam praticando o esporte há menos de 2 anos, os que relataram algum tipo
de lesão e aqueles que praticavam o treinamento de endurance concomitantemente
aos treinos habituais de força e Brazilian Jiu-jitsu.
4.4 Análises Estatísticas
As análises estatísticas e os gráficos foram realizados através dos programas
Microsoft Excel ® e Graph Pad Instat3. Para testar a diferença entre as médias das
amostras dos atletas foi utilizado o teste t de Student para amostras pareadas e
paramétricas. O nível de significância considerado foi p<0,05.
5. DESENVOLVIMENTO
5.1 Treinamento intervalado simulado
Antes da intervenção os atletas foram submetidos a um aquecimento padrão de
10 minutos constituídos de alongamentos gerais e 5 minutos de exercícios
específicos numa razão trabalho/descanso de 30 segundos cada. Após serem
equiparados por massa corporal, os participantes realizaram 6 lutas com duração de
2 minutos cada e intercaladas por pausas de 1 minuto. Caso ocorresse uma
submissão por parte de algum atleta durante o exercício, o mesmo era interrompido
por aproximadamente 10 segundos e em seguida continuava até que fosse
completado o tempo inicialmente estipulado. As lutas foram acompanhadas e
supervisionadas por um técnico graduado na modalidade.
5.2 Coletas de sangue e saliva
As coletas foram realizadas no próprio local de treino dos atletas e nos
momentos pré e imediatamente após a sessão de treinamento intervalado.
A saliva foi coletada de forma espontânea em coletores universais plásticos
estéreis pelo próprio voluntário durante 2 minutos.
O sangue capilar foi coletado da polpa digital do dedo médio após assepsia com
álcool etílico 70◦GL. Foi utilizado lancetador Accu-chek® Softclix Pro, com agulha
descartável. Foram coletados 0,2 mL de sangue total em EDTAK3 utilizando-se o
Microvette® Sarstedt 200 de acordo com técnica padronizada (NUNES et al., 2006).
As amostras foram armazenadas em cooler com gelo em temperatura monitorada
em torno de 4º a 8ºC para transporte ao laboratório no período de 30 minutos.
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CATEGORIA CONCLUÍDO
5.3 Análises hematológicas
As análises hematológicas foram realizadas no aparelho automatizado KX-21N
Sysmex® e incluíram: contagem total de leucócitos, contagem de linfócitos e
neutrófilos.
5.4 Análises de saliva
As amostras bioquímicas (IgA e α-amilase) foram realizadas através
de kits
comerciais da marca Biotécnica® e o ácido úrico e a uréia com kits Laborclin® no
aparelho semiautomático de bioquímica marca BioPlus 2000.
As amostras de saliva foram centrifugadas a 3500 RPM durante 10 minutos e, do
sobrenadante obtido, foram determinadas as concentrações de IgA, uréia, ácido
úrico e a atividade da alfa-amilase. Para dosagem de alfa-amilase as amostras
coletadas antes da luta foram diluídas 100 vezes e as amostras coletadas após a
luta foram diluídas novamente 1:1000. A partir dos resultados obtidos foram
calculados a média, desvio padrão e a taxa de secreção salivar. IgA, ácido úrico e
uréia não necessitaram de diluição prévia e foram ensaiadas diretamente no
sobrenadante. Os valores de IgA foram corrigidos pela taxa de secreção e os
resultados expressos em μg/min (Tabela 1).
Todas as análises foram executadas em paralelo com o soro controle comercial
(Controlab®) que foi utilizado para o cálculo do coeficiente de variação analítico
(CVA).
6. RESULTADOS
Comparado às análises bioquímicas pré e pós-treinamento, observou-se um
aumento significativo (p<0,05) imediatamente após em uréia, α-amilase e IgA. A
Tabela 1 e Figura 2 mostram os valores dos parâmetros bioquímicos em saliva.
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CATEGORIA CONCLUÍDO
Tabela 1. Parâmetros bioquímicos dos atletas pré e pós-competição simulada.
Análises
CVA
Pré
Pós
P
(%)
Alfa amilase salivar (U/mL)
0,4
110 ± 49,8
744,1 ± 785,6
<0,020*
IgA salivar (μg/min)
0,7
62,5 ± 29,6
134,2 ± 53,7
< 0,001*
Acido Úrico (mg/dL)
2,8
3,5 ± 1,0
5,2 ± 3,7
0,130*
Uréia (mg/dL)
1,7
27,3 ± 10,1
58,7 ± 27,1
<0,001*
Taxa de secreção (mL/min)
-
0,8 ± 0,2
0,8 ± 0,3
0,716*
Volume Salivar (mL)
-
1,5 ± 0,5
1,6 ± 0,7
0,716*
Valores apresentados em média ± desvio padrão; *em relação às análises pré (nível
de significância p<0,05); CVA= coeficiente de variação analítica.
Figura 1. Parâmetros hematológicos (média e erro padrão) pré e póscompetição simulada. LEUC= leucócitos LINF= linfócitos NEUTR= Neutrófilos *
p<0,05 diferença estatisticamente significativa em relação às análises pré. CVA =
Leucócitos (1,5%); Linfócitos (3%) e Neutrófilos (2,2%).
A contagem de leucócitos (11,6 ± 0,9 x 10³cel/μL) e linfócitos (5,4 ± 1,7 x
10³cel/μL) apresentou aumento significativo imediatamente após a competição
simulada quando comparado ao repouso (7,9 ± 0,1 x 10³cel/μL; 3,1 ± 0,1 x
10³cel/μL), respectivamente (p<0,05).
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CATEGORIA CONCLUÍDO
Figura 2. Dados dos parâmetros bioquímicos em saliva referente à média e
erro padrão, pré e pós-treinamento. *p<0,05 diferença estatisticamente
significativa em relação às análises pré.
A alfa-amilase apresentou um aumento significativo após o treinamento,
refletindo a intensidade e ativação do SNS durante o exercício (DE OLIVEIRA et al.,
2010). O aumento de alfa-amilase da saliva após o exercício pode melhorar o efeito
protetor da saliva, uma vez que esta enzima é conhecida por inibir a fixação
bacteriana às superfícies orais (WALSH et al., 1999). Os resultados observados na
IgA salivar reforçam este comportamento protetor, visto que o aumento de
anticorpos nas mucosas é importante fator de prevenção, principalmente nos casos
IRTS.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados obtidos mostram que uma sessão de treinamento intervalado
Brazilian Jiu-Jitsu é um estímulo estressor capaz de provocar aumento das células
do sistema imune na circulação bem como do estresse metabólico. Neste sentido,
as dosagens em saliva e o hemograma podem ser utilizados com eficiência para
monitorar atletas durante treinos e competições.
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