Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery
http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377
Curso de Educação Física - N. 10, JAN/JUN 2011
A IMPORTÂNCIA DOS MOVIMENTOS BÁSICOS DE LUTAS PARA
AS CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Rafael Ribeiro Germano1
Helder Barra de Moura2
RESUMO
A cada dia, os tipos de luta estão sendo mais procurados e praticados pelas pessoas
com o intuito de aprendizagem. Muitos são os profissionais da área de Educação
Física que não utilizam movimentos básicos das lutas como uma ferramenta de
auxílio durante uma aula de Educação Física Escolar. O presente estudo tem como
objetivo principal verificar a importância dos movimentos básicos de lutas para as
crianças na Educação Física e, mais especificamente, demonstrar se há melhorias
no desenvolvimento motor, cognitivo e social através da vivência dos movimentos
básicos de lutas. A metodologia a ser aplicada para a pesquisa foi descritiva
qualitativa, através de revisão de literatura e por meio de artigos científicos e livros
pertinentes ao tema proposto. Com base nas pesquisas realizadas, foi constatado
que as crianças que vivenciaram aulas em que foram expostas a certos movimentos
provenientes de lutas, demonstraram mudanças em aspectos interessantes, como a
melhora da lateralidade, equilíbrio, a formulação de estratégia e atenção, percepção,
postura social, respeito, perseverança, determinação, entre outras. Atualmente, as
lutas não são muito procuradas pelos profissionais da área e foi observado que, no
período entre 1998 e 2008, foram produzidos apenas setenta e cinco artigos
relacionados ao tema “lutas”. Portanto, com base na pesquisa realizada, a
preconização de maiores estudos sobre o conteúdo de lutas é de grande
importância, principalmente na área pedagógica.
Palavras-Chave: Lutas. Educação Física Escolar. Cultura Corporal de Movimento
1
Acadêmico do Curso de Educação Física da Faculdade Metodista Granbery, Juiz de Fora/MG. Email:
[email protected]
2
Professor orientador, docente do Curso de Educação Física da Faculdade Metodista Granbery, Juiz de Fora/ MG. Emai:
[email protected]
1
ABSTRACT
Each day the types of fighting are being more sought and praticed more frequently
by people with learning purposes. Many are professionals in the field of Physical
Education who do not use basic movements of fighting as an auxiliary tool for a class
of Physical Education at school. The present study has as its main objective to verify
the importance of the basic movements of fighting to the children in Physical
Education and more specifically to demonstrate whether there are improvements in
motor development, cognitive and social through the pratice of the basic movements
of fighting. The methodology to be applied for the research was descriptive
qualitative, through literature review and by analysis of papers and books regarding
the topic proposed. Based on the surveys conducted, it was observed that children
who experienced classes where they were exposed to certain movements from
fighting, have shown interesting changes in aspects such as the improvement of
laterality, balance, strategy formulation and attention, perception, social attitude,
respect, perseverance, determination, among others. Nowadays, the fighting are not
much sought by professionals and it was observed that in the years 1998 to 2008
were produced only seventy-five articles related to the theme "fighting. " Therefore,
based on the research carried out, the preconization for further studies on the
content of fighting is of great importance, especially in the teaching area.
KEY-WORDS: Fighting. Physical Education at school. Physical Culture of Movement.
2
INTRODUÇÃO
Nos dias de hoje, diversos professores de artes marciais estão
procurando uma formação em Educação Física com o objetivo de capacitação na
área da educação básica, com intuito de buscar maiores e melhores conhecimentos
sobre a área pedagógica onde tudo deverá ser revertido em uma prática corporal
sadia com associação aos objetivos educacionais.
Muitos são os conhecimentos adquiridos no curso de Educação Física
com relação à cultura corporal de movimento, o funcionamento do corpo e às formas
de trabalho corporal, com vistas à aprendizagem e ao treinamento, o que permitirá
uma aplicação mais adequada com relação aos movimentos básicos de lutas.
As artes marciais podem ser praticadas por muitos indivíduos, com a
obtenção de vários benefícios, tais como: força, agilidade, coordenação, respeito,
confiança, conhecimento sobre seu próprio corpo, entre outros.
O presente estudo tem como tema Movimentos Básicos de Lutas na
Educação Física Escolar, no qual será problematizada a maneira como poderá ser
feita a inclusão desses movimentos básicos de lutas na Educação Física Escolar e
se existem benefícios motores, cognitivos e sociais para as crianças que
vivenciarem tais gestos.
A metodologia a ser aplicada para a pesquisa será descritiva qualitativa,
por revisão de literatura e por meio de artigos científicos e livros pertinentes ao tema
proposto.
O objetivo principal deste trabalho é verificar a importância dos
movimentos básicos de lutas para as crianças na Educação Física Escolar e, mais
especificamente, demonstrar se há melhorias no desenvolvimento motor, cognitivo e
social a partir da vivência dos movimentos básicos de lutas.
O motivo primordial para a realização deste trabalho é que, na área
escolar, os movimentos básicos de lutas nem sempre são aproveitados. Devido a
isso, torna-se necessária uma melhor diversificação das aulas, para que se possa
estimular nos alunos com pouca afinidade com os esportes uma melhora nos gestos
motores.
Situando o tema no contexto atual, percebe-se que as lutas estão, a cada
dia, fazendo parte da cultura brasileira. A utilização de gestos motores básicos de
3
lutas seria uma boa ferramenta de trabalho para os profissionais da área. Com isso,
a temática proposta abordará sistemas de lutas como jiu-jitsu, judô, karatê e
capoeira, no qual o jiu-jitsu e o judô farão parte do foco central deste trabalho.
Entende-se que os estudos sobre o tema proposto são de grande
relevância tanto para os profissionais de Educação Física quanto para professores
de artes marciais. Com isso, autores como: os Parâmetros Curriculares Nacionais
(1998), Paulo Rogério Barbosa do Nascimento (2007), Ruyter da Costa Almeida
(2006), Heraldo Simões Ferreira (2006) e Gilbert de Oliveira Santos (2009), darão
subsídios para a realização da pesquisa.
CONTEXTO HISTÓRICO DAS LUTAS
Não é de se espantar que as lutas estejam cada vez mais sendo
praticadas pelas pessoas, pois é do instinto natural do homem lutar por algo ou por
alguém. E é desde a pré-história que o homem luta pela sua sobrevivência ou para
que alguma sociedade sobreviva.
O contexto histórico das lutas não é de fácil explicação, pois, de acordo
com Ferreira (2006), continua sendo uma grande questão a onde se originaram as
lutas e as artes marciais.
De acordo com o mesmo autor, os cidadãos gregos possuíam uma forma
peculiar de lutar que se denominava “pancrácio”, uma modalidade que esteve
presente nos primeiros jogos olímpicos realizados na era antiga. Os gladiadores de
Roma, na mesma época, já utilizavam técnicas de lutas para combate a dois, e,
especificamente na parte oriental do mundo (China e Índia), ocorreram primeiros
indícios de formas de combate organizadas.
Conforme Ferreira (2006), a China é considerada, por muitos artistas
marciais, o berço desta cultura, e indícios levam a crer que foi pelo comércio feito
através dos mares que os sistemas de lutas chegaram até a China e Índia, no século
V antes de cristo.
Existem vários sistemas de lutas espalhados pelo mundo, mas um deles
foi “abraçado” pelos lutadores brasileiros como uma arte “tupiniquim”, que é o jiujitsu ou “arte suave”. A família Gracie é a principal precursora do jiu-jitsu em território
brasileiro.
4
Dizem que o jiu-jitsu se originou nas montanhas da Índia há 2500
anos. Supostamente se difundiu pela china e por volta de 400 anos
atrás, estabeleceu-se no Japão, onde encontrou as condições
apropriadas para se fortalecer (Gracie, 2007, p.1).
De acordo com Ferreira (2006), é difícil obter uma definição sobre as
origens das lutas, de combate, ou simplesmente arte marcial, pois verdadeiramente
poucos fatos são conhecidos, já que de forma tradicional os conhecimentos eram
transmitidos de mestre para discípulo.
Além do jiu-jitsu, tem-se o judô como um sistema de luta que é muito
praticado pelas pessoas tanto em território brasileiro quanto mundial. De acordo com
Chutang (2002), o judô é, junto com o jiu-jitsu, a arte de luta mais propagada no
mundo todo, tanto na parte ocidental, quanto na oriental.
Havia vários séculos que os japoneses conheciam o principio da não
resistência: o ju-jitsu. No entanto, foi o mestre Jigoro Kano (18601938) o primeiro a comparar certos movimentos e criar uma técnica
pessoal superior a qualquer outra. Ele lhe deu o nome de judô: JU –
flexibilidade e Dô – caminho (ARPIN, 1970, p.23).
A capoeira é um sistema de luta muito praticado em território brasileiro,
onde falar sobre sua historia é uma tarefa de extrema complexidade. Segundo
Santos (2009), a capoeira tornou-se uma forma de lutar pela vida, de consolidação
grupal e pessoal pelo povo escravizado.
As tentativas de definição da capoeira inflamam ainda mais na sua
capacidade de transformação. Toda vez que tentamos conceituá-la
percebemos que ela é mais que nossa capacidade de definição.
Será que o desafio do entendimento da capoeira é perceber que ela
proclama a ludibriação?(SANTOS, 2009, p.128).
“Então, a capoeira possui uma memória imbricada ao processo de
escravização dos africanos no Brasil. Seus sentidos e significados apresentam o
germe do legado dessa história...” (SANTOS, 2009, p.129).
5
Entre todos os sistemas de lutas falados até o presente momento, a
capoeira possui uma maior identificação com o povo brasileiro, pois, conforme o
mesmo autor, os seus gestos podem significar uma luta pela liberdade, no qual o
rompimento social é evidenciado e ocorre um embate entre os costumes
estabelecidos pela sociedade.
Também há “dor” na capoeira. O escravo que foi forçado a
abandonar seus costumes, sua terra, seus dialetos, suas religiões
para sofrer humilhações e castigos, também concorreu para a
criação da capoeira. Talvez seja a partir dessa “dor” que surge certa
rebeldia que a prática propõe (SANTOS, 2009, p.130).
Uma pesquisa realizada por Correia e Franchini (2010), sobre lutas, teve
por objetivo verificar a quantidade de artigos publicados nas principais revistas de
cunho acadêmico de circulação nacional, da área de Educação Física, entre os anos
de 1998 a 2008, de acordo com o estabelecimento do CONFEF/CREF, bem como
fazer uma análise em relação aos temas estudados nesses artigos.
No total, foram analisados 11 periódicos com diferentes classificações:
cinco eram classificados como Nacionais C, dois classificavam-se Nacionais B, e
quatro desse total eram classificados como Internacionais C. Em cada periódico foi
determinado o número de volumes e de artigos por ano.
Os artigos que em seu título, resumo ou palavras-chave evidenciassem
termos relacionados a lutas, artes marciais e modalidades esportivas de combate
foram considerados oportunos a serem analisados. Com relação à classificação dos
artigos mediante a sua temática, foi utilizada a proposição de Tani, do ano de 1996,
para estruturação acadêmica da Cinesiologia, Educação Física e Esporte.
Nessa classificação, os estudos que detenham um caráter básico são
realizados no campo da Cinesiologia, da qual a Biodinâmica do Movimento Humano,
o Comportamento Motor Humano e os Estudos Sócio-Culturais do Movimento
Humano, fazem parte.
No campo de caráter aplicado, os estudos seriam conduzidos em áreas
da Pedagogia do Movimento Humano e Adaptação do Movimento Humano, que
estariam relacionados à Educação Física. Em relação ao campo desportivo, os
6
estudos seriam guiados nas áreas de Treinamento Esportivo e Administração
Esportiva.
Após as análises feitas pelos autores, dos 2561 artigos publicados,
somente 75 artigos (2,93%) tinham temas relacionados a lutas, artes marciais e
modalidades esportivas de combate, e também foi constatada uma defasagem em
publicações de estudos de caráter aplicado. Mediante isso, os autores preconizam
maiores pesquisas sobre essa temática.
AS LUTAS COMO FERRAMENTA DE ENSINO
Na Educação Física Escolar são aprendidos diversos gestos motores de
diferentes modalidades esportivas como, por exemplo, o futsal, vôlei, handball e o
basquetebol. Além dos esportes coletivos, o conteúdo das lutas faz parte da cultura
corporal de movimento vislumbrado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN’s).
Na atualidade, existem inúmeros sistemas de luta, as chamadas
artes orientais: Kung Fu, Tai-Chi-Chuan, Caratê, Judô, Jiu-jitsu,
Aikido, Tae-Kwon-Do, Jet-Kune-Do, Kendo, entre outras. Também
existem aquelas consideradas ocidentais como: o Boxe, a Esgrima, o
Kick-Boxe, etc (FERREIRA, 2006, p.39).
“Nas escolas, a busca de campeões conduz a especialização prematura,
inibindo o desenvolvimento do potencial psicomotor das crianças” (OLIVEIRA, 2004,
p.34), fato que não é condizente com a Educação Física Escolar.
A Educação Física enquanto componente curricular da Educação
básica deve assumir então uma outra tarefa: introduzir e integrar o
aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai
produzi-la, e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir do
jogo, do esporte, das atividades rítmicas e dança, das ginásticas e
práticas de aptidão física em benefício da qualidade de vida(BETTI e
ZULIANI, 2002, p.75).
Basicamente, os gestos motores que são ensinados nas aulas de
Educação Física têm como objetivo a vivência da maior quantidade de movimentos
7
diferenciados, para que a cultura corporal de movimento seja enriquecida sem a
obrigação de perfeição, e sim com naturalidade.
Tal naturalidade expressada pela arte marcial que é “a própria pessoa,
com todos os seus sentidos e sentimentos naturais desenvolvidos” (Centro Filosófico
do kung Fu – Internacional, 1983, p.16).
Com isso, a criança poderá ter uma maior consciência corporal, pois os
movimentos básicos de lutas irão proporcionar desenvolvimentos motores,
cognitivos e afetivo – sociais, pois, a partir do momento que a criança entrar em
sintonia com seu próprio corpo, será um ser humano mais evoluído.
No aspecto motor, observamos o desenvolvimento da lateralidade, o
controle do tônus muscular, a melhora do equilíbrio e da
coordenação global, o aprimoramento da idéia de tempo e espaço,
bem como da noção de corpo. No aspecto cognitivo, as lutas
favorecem a percepção, o raciocínio, a formulação de estratégias e a
atenção. No que se refere ao aspecto afetivo e social, pode-se
observar em alunos alguns aspectos importantes, como a reação a
determinadas atitudes, a postura social, a socialização, a
perseverança, o respeito e a determinação. (FERREIRA, 2006, p.3940).
Segundo Almeida (2006, p.5), ”através da estimulação motora, a criança
desenvolve uma consciência de seu corpo, de si mesma e do mundo a sua volta” e,
de acordo com o mesmo autor, a prática do karatê desenvolve valências físicas
como força, velocidade, agilidade, equilíbrio e coordenação, e também a noção de
espaço, em crianças de 7 a 10 anos de idade.
Mediante a esse conceito dado, o mais importante não é a prática
constante do karatê, ou da capoeira, ou de qualquer outra arte marcial, e sim o que
seus movimentos podem proporcionar de benéfico para a criança em vivência
lúdica. Segundo Silva (2003, p.56), “Assim também na capoeira, o corpo é o
instrumento-mor na prática da arte-luta”.
A prática da luta nas aulas de Educação Física deve ser inclusa, pois
Ferreira (2006) sustenta a ideia de que a mesma deve ser uma ferramenta
pedagógica para o profissional de Educação Física e que a luta já está presente no
homem desde a pré-história. Ainda de acordo com Ferreira (2006), o motivo pelo
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qual a luta deve ser inclusa na Educação Física Escolar é para proporcionar aos
alunos um maior enriquecimento cultural e de atividades motoras.
As lutas estão cada vez mais presentes no cotidiano do ser humano e é
evidente que elas estão ocupando seu espaço na vida das crianças e dos
adolescentes nas escolas. Nos dias de hoje, não é raro vermos crianças
colecionando figurinhas de super-heróis ou até mesmo brincando de luta na
recreação.
Contudo, no âmbito escolar, as lutas devem ser aproveitadas de forma
mais lúdica, e não para a formação de competidores. O aluno na escola deve ter a
“compreensão do ato de lutar: por que lutar, com quem lutar, contra quem ou contra
o que lutar” (Brasil, 1998, p.96) e, de acordo com o mesmo autor, os alunos devem
diferenciar a luta da violência, que deverá ser trabalhada dentro do contexto escolar.
Segundo Nascimento e Almeida (2007), em uma intervenção realizada
em uma turma de 5ª série, em uma escola pública estadual, na cidade de Santo
Augusto (RS), foi perguntado para os alunos quais os tipos de lutas eles conheciam.
Os alunos falaram vários sistemas de lutas conhecidas e, por exclusão, foram
escolhidos o judô, o sumô e a luta greco-romana.
A exclusão dos outros sistemas de lutas, que não foram citados na
pesquisa, foi feita mediante conceito de luta, que diz que:
As lutas são disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser
subjugado(s), com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão,
imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação
de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma
regulamentação específica a fim de punir atitudes de violência e
deslealdade. Podem ser citados como exemplos de lutas desde as
brincadeiras de cabo-de-guerra e braço-de-ferro até as práticas mais
complexas da capoeira, do judô e do caratê (Brasil, 1998, p.70).
Logo após, os autores da pesquisa fizeram uma abordagem dos sistemas
de lutas, na qual os alunos tiveram que fazer pesquisas para obter os
conhecimentos sobre regras, histórias, rituais e crenças que envolviam essas lutas.
Além disso, foram feitas visualizações de vídeos das três modalidades em questão.
Conforme
os
autores
da
pesquisa,
a
abordagem
do
esporte
institucionalizado faz com que os alunos tenham um maior conhecimento do esporte
9
de combate, porém esses sistemas de lutas ainda trazem consigo um grande
preconceito, tratando-os a eles como esportes violentos.
Após os conhecimentos obtidos, as crianças propuseram brincadeiras de
lutas, na qual foram retratadas o judô, o sumô e a luta greco-romana. Após
aplicados os jogos de luta, foi dado às crianças um novo significado sobre as lutas e
um novo sentido a alguns preconceitos relacionados á prática das mesmas. Como
exemplo, o sumô, que no imaginário das crianças só poderia ser praticada por
indivíduos pesados.
Adentrando mais ainda nesse tema de tanta complexidade, nos
deparamos com uma vertente muito comum, que é a violência. Muitos alunos ou
professores têm receio da prática lúdica das lutas por não saberem como utilizar as
lutas ou até mesmo os movimentos básicos das lutas nas aulas de Educação Física.
De acordo com Nascimento e Almeida (2007), não há necessidade de o
professor ter uma formação em lutas, desde que a aula não se desvie para a
especialização de alunos/atletas de combate, mas sim na construção de
conhecimento para as aulas.
E é nesse ponto que os movimentos básicos de lutas, que são de origem
das artes marciais, dão origem aos jogos de lutas e aos esportes de combate, vêm
demonstrando o quanto se deve respeitar o corpo do indivíduo que está sendo
utilizado, seja para fins lúdicos ou até mesmo fins competitivos.
A LUTA COMO CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO
A escola é um lugar onde as crianças devem adquirir conhecimentos
linguísticos e corporais. Santos (2009) destaca que prática corporal é uma
importante atividade de expressão e apreensão da realidade na qual são
construtoras de cultura dos conhecimentos corporais que é decorrente da história
humana.
Talvez esse saber ainda não seja devidamente reconhecido
socialmente ou as razões que tornem esse saber importante ainda
não tenham sido devidamente interpretadas, ainda assim, cabe a
educação física desenvolver a reflexão dessa forma de conhecer
(SANTOS, 2009, p.126).
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No que diz respeito a conhecimentos corporais, os movimentos básicos
de lutas têm sua importância, pois as práticas corporais, “com um caráter
predominantemente utilitário ou lúdico, todas visam, a seu modo, a combinar o
aumento da eficiência dos movimentos corporais com a busca da satisfação e do
prazer na sua execução” (BRASIL, 1998, p.28).
Essa eficiência mencionada anteriormente não está voltada para a área
do rendimento, e sim para a busca do prazer em estar realizando uma determinada
atividade de forma lúdica, sem preocupação se o movimento é tecnicamente eficaz.
Brasil (1998) menciona que a característica lúdica ou utilitária de uma
atividade depende da intenção de quem a realiza, e que um determinado tipo de
esporte possui o caráter utilitário, que está relacionado ao profissional desportista, e
a intenção lúdica, que se relaciona com o cidadão no âmbito do divertimento e do
prazer.
Em relação a este fato, Bracht (2000) menciona que a conduta lúdica não
existe em sua forma plena, ela está contida em várias vivências do ser humano,
onde é construído culturalmente.
A partir disso, “Ressignificadas, suas intencionalidades, formas de
expressão e sistematização constituem o que se pode chamar de cultura corporal de
movimento” (BRASIL, 1998, p.28). Ou seja, a cultura corporal de movimento é
expressa de variadas formas pelo homem, e só depende dele como esta será
utilizada.
Mediante o que foi dito sobre cultura corporal de movimento, vejamos
agora o que Daolio entende sobre cultura, através dos estudos do antropólogo
Clifford Geertz:
Para Geertz, a cultura é a própria condição de vida de todos os seres
humanos. É produto das ações humanas, mas é também processo
contínuo pelo qual as pessoas dão sentido às suas ações. Constituise em processo singular e privado, mas é também plural e público. É
universal, porque todos os humanos a produzem, mas é também
local, uma vez que é a dinâmica específica de vida que significa o
que o ser humano faz. A cultura ocorre na mediação dos indivíduos
entre si, manipulando padrões de significados que fazem sentido
num contexto específico (DAOLIO, 2004, p.11-12).
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Conforme Santos (2009), o corpo é um caminho entre o ser humano e a
sua cultura, e pode ser pensado como um símbolo que se estabelece entre o
homem e a cultura. “O corpo é a expressão da cultura assim como a cultura se
expressa no corpo” (SANTOS, 2009, p.127).
Sendo a cultura expressa pelo corpo, à medida que a criança vivenciar
vários movimentos diferenciados, terá um maior envolvimento com o ambiente à sua
volta, proporcionando um maior enriquecimento cultural, e a expressão de sua
cultura virá através de movimentos realizados corporalmente.
Em um artigo publicado por Carvalho (2007), foi demonstrado um caso
hipotético de um menino que fora excluído da aula de Educação Física por não
possuir gestos motores adequados durante a prática do jogo de futebol.
Conforme o mesmo autor, tal propensão humana, que separa, distancia e
aprofunda os preconceitos, poderia ser discutida pelas escolas em uma visão do
fazer e aprender com a diferença, e não adotar atitudes que facilitem com a
aprendizagem.
Porém, “pode-se dizer que certamente os códigos de rendimento
transplantados sem filtragem para a situação de aula provocam a exclusão do aluno”
(CARVALHO, 2007, p.15). Ou seja, dentro da aula de Educação Física, se o
estereótipo do rendimento não for trabalhado de forma adequada, a criança que não
possuir habilidades motoras será vitima da exclusão.
Muitos são os movimentos básicos de lutas que podem ser utilizados na
Educação Física Escolar. Como exemplo, pode-se citar a ginga da capoeira e os
rolamentos que são utilizados tanto no judô quanto no jiu-jitsu.
Importante ressaltar que esses movimentos são derivados de esportes
que são praticados de forma competitiva e com certo nível de exigência técnica de
seus gestos, com o objetivo de um melhor rendimento dentro do esporte. Porém, o
gesto técnico especializado não é o principal objetivo na escola e sim o lúdico.
Conforme as ideias de Bracht (2000), o esporte faz parte do contexto
histórico da sociedade, que está em constante transformação. E o mesmo autor fala
que quem trata de forma crítica o esporte nas aulas de Educação Física é contra a
técnica esportiva.
12
O mesmo autor afirma que a pedagogia crítica não propõe a erradicação
dos gestos esportivos especializados na escola, mas sim o ensino dos mesmos,
porém com um novo sentido e objetivo para o próprio esporte.
OS MOVIMENTOS BÁSICOS DE JUDÔ E JIU-JITSU
Dentro do judô e do jiu-jitsu, existem movimentos básicos de lutas que
são de total importância tanto para a vivência lúdica quanto para o treinamento. Os
rolamentos para frente, rolamentos para trás, rolamentos laterais, saídas de quadril,
deslocamentos de pé e os desequilíbrios são os gestos básicos a serem ensinados
para uma vivência lúdica adequada tanto do jiu-jitsu quanto do judô. Vale ressaltar
as projeções, que farão parte de ambos os sistemas de lutas.
As oito projeções a serem citadas foram retiradas do livro denominado
“Livro de Judô de Pé”, de Louis Arpin, do ano de 1970. Como projeções, serão
citadas:
De-Ashi-Harai (Varredura do Pé Avançado), Hiza-Guruma (rotação
sobre o joelho), Sasae-Tsurikomi-Ashi (bloqueio de pé levantado),
Uki-Goshi (quadril Flutuante), O-Soto-Gari (Grande Ceifagem
Externa), O-Goshi (Grande Projeção de Quadril), O-Uchi-Gari
(Grande ceifagem interna) e Seoi-Nage (Projeção de Ombro)
(ARPIN, 1970, p.41-65).
Vale ressaltar que todas as projeções citadas devem ser ensinadas de
forma a não machucar o aluno, pois todas elas têm um risco de lesionar o aluno
gravemente. Para que uma criança aprenda de forma adequada qualquer tipo de
movimento, inclusive movimentos relacionados às lutas, considera-se um trabalho
por meio de jogos ou brincadeiras, no qual o aspecto lúdico fará parte do processo
de ensino e da aprendizagem.
Conforme Freire (2002), uma forma possível de ensinar o lançamento
seria de forma repetitiva, na qual os alunos trocam passes até que o professor fique
satisfeito. Uma outra forma seria buscar uma atividade popular, através da qual esse
movimento pudesse ser exercitado.
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Todas essas projeções e rolamentos que foram citados anteriormente têm
o intuito de promover um maior incremento na cultura corporal de movimento das
crianças, sem promoção de repetições desnecessárias, tão somente para a vivência
desses gestos.
Segundo Freire (2002), a competição sob forma de jogo sempre esteve
presente, contudo, não é justificável a manutenção da mesma. Diante desse fato,
devemos pensar em como introduzir tais brincadeiras relacionadas às lutas.
Além dos rolamentos, os deslocamentos de pé podem ser utilizados para
a aula. De acordo com Arpin (1970), os deslocamentos (Shintai) sempre devem ser
feitos lateralmente, para frente e para trás, deslizando o pé sobre o chão, evitando
que as pernas se cruzem. Apesar de a descrição ser muito técnica, é importante
explicar todos esses conceitos para que a vivência da criança seja a mais prazerosa
possível.
Com relação ao local de intervenção escolar, Nascimento e Almeida
(2007) afirmam que o conteúdo “lutas” é pouco utilizado dentro das aulas de
Educação Física e que a sua maneira de aplicação pedagógica sugere
preocupações e questões variadas para professores atuantes na área da Educação
Física.
Compreende-se que o trato pedagógico do componente lutas na
Educação Física escolar deva comportar necessariamente aspectos
da autonomia, criticidade, emancipação e a construção de
conhecimentos significativos. As reflexões que apontam para a
cultura corporal de movimento como o conjunto de conhecimentos
que devem ser “tematizados” pela Educação Física podem municiar,
pedagogicamente, para construir possibilidades metodológicas para
o trato específico deste tema (NASCIMENTO e ALMEIDA, 2007,
p.93).
Sendo assim, Freire (2002) considera que quaisquer aprendizagens
devem ter um conteúdo significativo, em que a introdução de situações pedagógicas
em um contexto de significações seria mais pertinente para a criança. O conteúdo
seria direcionado a aula de Educação Física, sem utilização de repetições
sistemáticas de gestos motores.
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Continuando com o mesmo autor, ele nos diz que: “O movimento é algo
que se constrói no momento em que é necessário agir. Realizado o ato, ele se
desmancha, termina, deixa de existir” (FREIRE, 2002, p.140).
O movimento, o simples movimento corporal, aquele que se vê nos
atos, ainda não revela o homem. O que está faltando, numa
concepção de Educação Física que privilegie, acima de tudo, o
humano, é ver além do percebido: é enxergar o movimento
carregado de intenções, de sentimentos, de inteligência, de erotismo.
É ver o rumo do movimento, sempre na direção do buscar, no
mundo, as partes que faltam ao homem para ser humano (FREIRE,
2002, p.138).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação Física Escolar está se tornando palco de exclusões de
alunos, por esses não possuírem habilidades motoras adequadas para uma simples
vivência motora durante a aula. Nos dias atuais, na área escolar, os gestos motores
estão cada vez mais sendo cobrados pela “sociedade” formada pelos alunos ditos
como habilidosos, na qual o não habilidoso é deixado de lado.
Porém, a aula de Educação Física não é instrumento para a formação de
atletas, mas tem o propósito de formar o cidadão. Todo ser humano nasce com uma
habilidade motora, contudo, tal habilidade somente irá florescer com uma
estimulação motora adequada. Por meio de estímulos motores o indivíduo
desenvolve-se tanto nos aspectos físico-motor e sócio-afetivo como também no
aspecto cognitivo, fato evidenciado por Heraldo Simões Ferreira, com relação à
aplicação das lutas.
Ao ensinar os rolamentos e saídas de quadril como atividade em uma
aula, pode-se, logo após, aplicar uma atividade de pique, na qual o rolamento
deverá ser utilizado tanto pelo pegador quanto pelos demais alunos a serem pegos.
Dentro dessa mesma atividade, pede-se ao aluno para executar saídas de quadril
para evitar ser pego. A saída de quadril pode ser utilizada pelo pegador quando
achar necessário.
Os rolamentos podem ser executados tanto para frente quanto para trás,
e os alunos deverão estar ajoelhados no início da atividade. Será considerado pego
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o aluno que sair da área demarcada pelo professor, o aluno que for pego por uma
das pernas pelo pegador e o aluno que ficar de pé.
Utilizando especificamente o rolamento para frente, pode ser realizada
uma corrida, na qual os alunos serão divididos em duas equipes ou mais (isso
dependerá do número de participantes).
Dois alunos ficarão um ao lado do outro, ajoelhados. Ao sinal do
professor, os mesmos executarão rolamentos para frente, com objetivo de chegar à
linha de chegada que será demarcada pelo professor. A equipe ganhadora será
aquela que obtiver o maior número de vitórias. A mesma brincadeira poderá ser
aplicada com o rolamento para trás.
Com relação à saída de quadril, pode ser realizada uma atividade que se
chama o “dominador”. Os alunos deverão ajoelhar em volta da área demarcada pelo
professor. O aluno que será o dominador poderá ser escolhido pelo professor ou
poderá ser um dos alunos que manifestarem vontade de ser a pessoa que irá
dominar.
A dinâmica dessa atividade é a mesma do pique, só que, ao invés de
pegar a perna de seu companheiro, deverá ser feito o domínio de ambas as pernas,
deixando o indivíduo imóvel. Será considerado dominado o aluno que tiver ambas as
pernas dominadas, o aluno que sair da área demarcada e o aluno que ficar de pé.
Todas as brincadeiras descritas acima podem ser realizadas tanto em placas de
tatame, quanto em colchão usado.
Para que a aula não caia em uma mesmice, o professor poderá introduzir,
caso seja necessário, algumas projeções. As projeções mais simples de serem
executadas pelos alunos, mais por questão de vivência, são: De-Ashi-Harai, O-SotoGari e O-uchi-Gari.
Mediante a tudo que foi dito, o objetivo da introdução desses gestos
básicos de lutas é o acréscimo da cultura corporal de movimento, pois a criança
merece conhecer diferentes gestos motores para que a mesma possa usufruir dela
futuramente.
Todas as brincadeiras que foram sugeridas e descritas anteriormente têm
por finalidade acrescentar nos gestos motores das crianças, tanto para a aula de
Educação
Física,
quanto
para
professores
interessados
em
expandir
os
conhecimentos sobre lutas na Educação Física Escolar. Portanto, considerando-se
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as literaturas da pesquisa realizada, há necessidade de mais pesquisas sobre a
temática, principalmente na área pedagógica.
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