REALISMO O Realismo foi um movimento artístico surgido na segunda metade do século XIX com o objetivo de retratar, verdadeiramente e sem concepções abstratas ou subjetivas, a sociedade e o modo de viver. Na literatura, ele procurou analisar a nova organização social e econômica, detectando suas causas e denunciando suas consequências. Foi, portanto, contrário ao Romantismo. O Realismo surgiu num contexto histórico em que as inovações tecnológicas, principalmente decorrentes da Segunda Revolução Industrial, tiveram um efeito imediato na vida dos europeus. Simultaneamente, várias teorias e projetos foram feitos, visando uma visão cientificista da realidade. O positivismo declarava que a ciência, por meio da linguagem matemática, deveria desmitificar a religião e a metafísica; o determinismo afirmava que o homem era um reflexo de sua raça, do momento histórico e do meio social que estava inserido. Portanto, a realidade das máquinas, dos transportes e das novas teorias sociais tornava inviável a visão de mundo romântica e idealizada. Os artistas procuravam um novo parâmetro de interpretação da realidade. Foi assim que a objetividade ocupou o lugar do subjetivismo romântico, e a valorização desmedida da emoção foi abandonada. Em lugar de tratar dos dramas individuais, o olhar realista focalizará a sociedade os comportamentos coletivos. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS Como uma estética literária, o Realismo busca uma representação da realidade que permita compreender a origem de práticas e de comportamentos sociais negativos. Para fazer essa análise, os escritores realistas adotarão a razão e a objetividade como lentes através das quais observam a Você encontra esse resumo no site: http://www.webnotes.com.br/ realidade. O que relevam é uma burguesia hipócrita e fútil, que explora o proletariado enquanto professa o amor à justiça e à igualdade. Distribuído em folhetins, os projetos dos romances realistas gradativamente vão conquistando o interesse do público e substituindo a idealização romântica, que desejava compreender as transformações sociais. Entretanto, o que esse leitor não esperava era encontrar uma condenação do seu modo de vida. Por essa razão, a reação do público foi de desqualificar os autores mais incisivos, como Eça de Queirós e Machado de Assis. Na íntegra, as histórias realistas não traziam nenhum dos ingredientes destinados a conquistar o público da época. Na literatura realista, o artista procura analisar a realidade que o cerca tendo a razão como seu instrumento pessoal. O interesse pelo funcionamento da sociedade leva os escritores realistas a abordarem as necessidades materiais humanas (como alimentação e moradia) e discutir as condições econômicas necessárias para satisfazer tais necessidades. Esse interesse pela realidade concreta e material afasta o romance realista da perspectiva idealizada que caracterizou o Romantismo. O passado, as origens e as raízes não são mais o foco da atenção do escritores realistas. Integrados à sociedade em que vivem, eles se interessam pela realidade presente, pela contemporaneidade. Alguns recursos narrativos colaboram para essa marca, como a referência, por meio dos personagens, de acontecimentos da vida social ou política. Um olhar mais crítico também era utilizado. Uma consequência natural da oposição ao sentimentalismo romântico é a adoção de uma postura materialista, que procura a verdade na realidade concreta, material, e não nos sentimentos e na imaginação. A sociedade é o objeto de interesse imediato, e sua análise e compreensão dependem da capacidade de se aterem a fatos verdadeiros e a Você encontra esse resumo no site: http://www.webnotes.com.br/ comportamentos observáveis. As manifestações e motivações psicológicas eram recorrentes. Os arroubos amorosos do Romantismo são deixados de lado: o escritor deseja agora investigar como é a vida após o casamento, explorando bastante o tema do adultério. Temas de interesse coletivo, como a opressão, a corrupção, o mundo da política e a frivolidade das elites, aparecem tematizados com frequência. A partir deles, se forma um retrato da sociedade da época naquilo que ela tem de mais verdadeiro. No plano da linguagem, a tradução mais evidente do novo olhar abordado pelos escritores realistas é a tentativa de oferecer descrições aparentemente isentas para que o leitor forme um juízo das cenas apresentadas. Machado de Assis, por exemplo, estabelece, desde o início de suas obras, um diálogo constante com o leitor, de modo a conquistar a simpatia dos leitores ao provocar uma espécie de identidade e de reflexão. Na época realista, Portugal estava bastante atrasado em relação ao restante da Europa, sem industrialização ou prosperidade. O saudosismo colonialista impedia que o país participasse das transformações nos modos de produção que agitavam o continente europeu. As condições políticas e econômicas, portanto, favoreceram o surgimento de uma literatura de denúncia social e observação crítica da realidade. A partir de 1865, o Realismo chega a Portugal por meio de estudantes críticos, que publicaram obras polêmicas dentre os românticos, num episódio conhecido como Questão Coimbrã. Na primavera de 1871, uma série de conferencias realizadas em Lisboa, chamadas de Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, consolidou a perspectiva realista como nova diretriz para a produção literária portuguesa. O escritor Antero de Quental (1842-91) foi um realista de destaque em Portugal, fazendo sonetos realistas revolucionários, explicitando as preocupações sociais; Quental arrebatava a razão, a justiça e a verdade, personificando esses Você encontra esse resumo no site: http://www.webnotes.com.br/ elementos. Eça de Queirós (1845-1900) foi outro escritor importante, destruindo completamente as ilusões românticas ainda existentes e retratando cruelmente, em seus textos, uma sociedade hipócrita, falsa. O REALISMO NO BRASIL Na segunda metade do século XIX, o Brasil também enfrentava um cenário de crise. O fim do tráfico negreiro, em 1850, acelera a decadência da economia açucareira e anuncia a ruptura definitiva do regime escravocrata, extinto em 1888 pela Lei Áurea. O quadro se agrava quando o país se envolve na Guerra do Paraguai, iniciada em 1864, que irá acelerar a queda da monarquia e constituir um sistema republicano, em 1889. Assim, as bases sociais que sustentavam a ideologia romântica desaparecem. O pensamento burguês mais conservador, que assumira o poder econômico, entra em confronto com os anseios de uma classe média brasileira cada vez mais numerosa. A sociedade precisava, portanto, de novos intérpretes para essa realidade. É Machado de Assis quem desenvolve um novo olhar para a sociedade do Segundo Império, esboçando de modo revelador e impiedoso seu retrato mais fiel. MACHADO DE ASSIS: o mestre realista O carioca Machado de Assis (1839-1908) é considerado, por muitos, o maior nome da literatura brasileira. A carreira de Machado como escritor costuma ser divida em duas fases, determinadas a partir da natureza dos romances que criou: a romântica e a realista. A primeira fase mostra um autor cuja genialidade já começa a aparecer: as obras, apesar de marcadas por traços claramente românticos, traduzem a preocupação do escritor com a questão da ascensão social. As histórias de amor sempre Você encontra esse resumo no site: http://www.webnotes.com.br/ envolvem dinheiro, família e casamento, e apresentam a estrutura das narrativas com o objetivo de provocar surpresa e emoção ao leitor, com uma intenção evidente de divertir e moralizar. Com a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado inaugura a segunda fase realista. Nessa fase, a trama de todos os textos é desenvolvida durante o Segundo Reinado, tendo como cenário a cidade do Rio de Janeiro. Os romances da segunda fase concentram-se na falsidade da vida depois do casamento, marcado pela traição. A insistência nesse tema parece ter origem no pessimismo do autor, que vê as relações humanas sempre movidas por interesses. Assim, os personagens, reflexo das camadas dominantes, sempre buscam o proveito próprio. O livro que tem como protagonista Brás Cubas, publicado em 1881, é a história de um “defunto autor”. Nessa obra, o que merece atenção é a composição detalhada e atenta das personagens. A arrogância e a prepotência que constituem os traços fundamentais de Brás Cubas são um reflexo do caráter da sociedade brasileira. Machado, ao apresentar o personagem em toda a sua desfaçatez e arrogância, quer que o leitor seja forçado a encarar, sem atenuantes, o retrato de sua própria miséria humana. O romance Dom Casmurro, o narrador, Bento Santiago, confessa ter tentado reconstituir a adolescência na velhice por meio da construção de uma réplica prefeita da casa onde passou sua infância. A sua estratégia fracassou: ele não é mais a mesma pessoa que viveu dias felizes na casa de Matacavalos. Sua felicidade foi destruída pela traição cometida pela esposa Capitu e pelo amigo Escobar. Assim, o livro conta a história de um homem completamente perturbado por um sentimento mesquinho: o ciúme. A ficção de Machado é caracterizada por um diálogo constante com o leitor. Ao contrário do que faziam os românticos, o narrador provoca, insulta, desafia e ironiza seu público, Você encontra esse resumo no site: http://www.webnotes.com.br/ transformado em alvo de chacotas. O objetivo da prosa realista machadiana é manter a atenção do leitor, e não convencê-lo a se comportar dessa ou daquela maneira, como queriam os românticos. Você encontra esse resumo no site: http://www.webnotes.com.br/