Debate potestativo sobre o novo hospital Senhor Presidente da Assembleia Senhor Secretário Regional Senhoras e senhores deputados O Partido Socialista requereu este debate potestativo sobre o novo hospital para que se dissipem, de uma vez por todas, quaisquer dúvidas sobre o nosso compromisso a este propósito, mas sobretudo para percebermos as reais intenções e timings do Governo, nesta matéria. Incumbe ao Governo Regional a definição de um plano estratégico para o novo hospital. Incumbe ao Governo Regional encontrar as respetivas fontes de financiamento. Incumbe ao Governo Regional candidatar o novo hospital a Projeto de Interesse Comum. Depois de tudo isso poderão também as diferentes forças políticas desenvolver na Assembleia da República, mas sobretudo, junto do Governo do nosso país as démarches necessárias para que isso seja agilizado e esse é também o compromisso do Partido Socialista. Não chega haver um generalizado consenso sobre a necessidade de um novo hospital, é preciso que quem de direito esteja verdadeiramente interessado na consecução desse objetivo. Não basta constituir grupos de trabalho, independentemente do seu mérito e das personalidades que os integram, pois o que se exige é que a decisão seja tomada urgentemente quanto á construção e candidatura a PIC. Em primeiro lugar porque a construção do novo hospital deverá ser uma prioridade e em segundo porque se continua a enterrar dinheiro no hospital já existente, em obras que não passam de enxertos, que podendo até mitigar determinados efeitos no presente, jamais corresponderão às necessidades do futuro. O preço do novo hospital, será para o contribuinte, o somatório do que ele próprio custar mais o que continua a ser gasto no Hospital Dr. Nélio Mendonça ao que se devem adicionar os custos imensuráveis de não termos uma estrutura moderna capaz de dar uma resposta rápida e de qualidade ao utente. Na região, como no resto do país temos uma população envelhecida e um tecido social fragilizado, também na decorrência dos anos de austeridade que temos vivido, a quem numa esmagadora maioria dos casos apenas resta a possibilidade de acorrer aos cuidados médicos que são prestados pelo sector público, pois os rendimentos já nem dão para os remédios quanto mais para as consultas no privado. O Estado assistencialista é isso mesmo, prover, principalmente, aos que menos podem, aquilo que a constituição estatui e o dever de solidariedade exige. Desde o início dos anos noventa que a edificação de um novo hospital tem vindo a ser ponderada, mas apenas isso, nunca uma decisão consequente foi levada à prática, antes, foram sendo construídas narrativas que foram adiando esse desígnio. Como está bom de perceber não só um hospital não se projeta de um ano para o outro, como não se constrói em dois ou três. Saber o que se quer é pois, um desafio determinante mas que tarda em ser percetível. Estuda-se muito mas decide-se pouco, o que na prática justifica que andemos há décadas à deriva, sem estratégia e sem saber o que na verdade se quer e é necessário. Apenas se sabe que é preciso dinheiro e mesmo aí existem dúvidas quanto ao valor e a quem o pagará. Infelizmente a construção do novo hospital foi sucessivamente secundarizada por outras obras de duvidosa necessidade mas que foram feitas para saciar o salivante lobby do betão da Madeira nova com vícios antigos, lobby esse ávido de um lucro fácil, rápido e substancial. Como está bom de ver a edificação, de raiz, de uma estrutura desta natureza de pouco servirá se a montante não estiver uma estratégia bem definida, que identifique claramente o tipo de cuidados de saúde que nela devem ser prestados, que valências deve ter, que inter-relação pode e deverá ter com a Universidade da Madeira, tendo como pano de fundo a licenciatura em medicina que ali é, em parte, ministrada. Um qualquer hospital não pode viver de costas voltadas para uma universidade, para mais na mesma Região e na mesma cidade. A articulação dessa nova estrutura com a Rede de Centros de Saúde bem como com a Rede de Cuidados Continuados e até com outras instituições de direito privado que têm gerado importantes sinergias nesta área é um imperativo que não pode ser descurado. Na própria estratégia de diversificação da economia regional, importa perceber se o turismo ligado à saúde tem ou não um papel importante a desempenhar pois, se assim for o novo hospital deverá estar à altura dessa resposta, a qual poderá representar uma importante fonte de financiamento, pois de pouco servirá ter as melhores instalações se as mesmas não forem dotadas de meios financeiros e humanos que possibilitem a otimização dos respetivos objetivos. Não podem, num novo hospital, continuar a haver listas de espera para cirurgia com 17 000 pessoas e termos um bloco operatório em subaproveitamento, seja por falta de médicos anestesistas ou de enfermeiros instrumentistas. Não podemos, num novo hospital, continuar a ter um bloco operatório potenciador de infeções hospitalares com taxas acima da média nacional, conhecendo-se as causas mas continuando a fazer de conta que tudo está bem, responsabilizando-se pelo problema quem o aponta e não quem não o resolve. Não podemos continuar a ter, num novo hospital, um heliporto limitado do ponto de vista operacional por falta de certificação quando as condicionantes eram conhecidas mas foram ignoradas. Não podemos continuar agir na base do remedeio, e do desenrascanço sem qualquer respeito pelo contribuinte e pelo utente, esbanjando os já de si insuficientes recursos financeiros que dispomos. Num novo hospital não podem existir os equívocos, as incompetências e as decisões ruinosas que foram sendo tomadas no Hospital Dr. Nélio Mendonça que criaram uma guerra entre a administração hospitalar e os profissionais de saúde como a verificada nos últimos 7 ou 8 anos, que revelou um hospital que tem sobrevivido ligado às máquinas e em permanente estado de necessidade. Num novo hospital não se podem afastar os médicos mais conceituados de acordo com os estados de alma dos gestores, agudizando os problemas e desestruturando os serviços, prejudicando como sempre o utente. As despesas com a saúde das populações deverão ser consideradas um investimento e não um fardo orçamental. A carga fiscal a que os madeirenses estão sujeitos exige melhor atendimento, exige mais e melhores estruturas e mais e melhores profissionais e para isso tem de haver uma nova política de vencimentos para o pessoal hospitalar, sem exceção. Desafortunadamente, o Plano de Ajustamento Economico e Financeiro a que a Região tem estado sujeita devido aos desvarios das governações do PSD, que criaram e ocultaram uma dívida colossal, que impos graves constrangimentos à contratação de pessoal médico, de enfermagem e operacional, para além de ter motivado graves insuficiências materiais e até mesmo de medicamentos. Não raras vezes os familiares dos doentes são obrigados a comprar os medicamentos porque a farmácia hospitalar não os tem. O novo hospital é um equipamento que pode vir a custar entre 230 a 250 milhões de euros, o equivalente a algo mais do que duas marinas do Lugar de Baixo, que para além da componente regional poderá beneficiar de apoios nacionais e europeus e que também por isso tem de ser bem programado, não sendo admissíveis expropriações de terrenos desajustadas de terrenos que vão para além das reais necessidades e da obvia margem de expansão. Tudo aponta para que a construção do novo hospital ocorra na zona de Santa Rita onde, de resto, já houve muto dinheiro gasto em expropriações. Importa pois quantificar e esclarecer Senhor Secretário Regional: 1. Quanto é que já foi gasto em expropriações? 2. Quanto é que já foi gasto em estudos? 3. Que serviços e valências terá o novo hospital? 4. Que valências terá o novo hospital? 5. Nessas valências será novamente autonomizada a ortopedia pediátrica que foi integrada na ortopedia geral? 6. Nessas valências passarão a haver serviços de internamento para as doenças mentais ao invés do quase exclusivo protocolamento desses cuidados com as casas de Saúde São João de Deus e Câmara Pestana? 7. O que é que está a ser pensado relativamente aos serviços de radioterapia, manter a parceria existente ou passarem a existir no novo hospital? 8. Que ideia tem o Governo quanto à correlação que deverá existir entre os subaproveitamento, centros os de saúde, cuidados em continuados nítido – institucionalizados ou não – e o novo hospital? 9. Quando é que o Governo Regional vai candidatar o novo equipamento a PIC? 10. Finalmente, para quando, de facto o novo hospital? Espero que a resposta a estas perguntas nos ajudem a perceber porque é que depois de tantas promessas e estudos nada de concreto se conheça que tenha expressão no orçamento para 2016. Não deixa de ser caricato que o PSD tenha já dado entrada de um projeto de resolução sobre esta matéria na Assembleia da República e não tenha dado expressão orçamental a esse objetivo. É isso mesmo, senhoras e senhores deputados o Governo Regional não inscreveu um único euro para o novo hospital no orçamento do próximo ano. Assim sendo parece ficar claro o ritmo a que o Governo quer investir no novo hospital. O Senhor Secretário disse há dias nesta casa que queria lançar a primeira pedra pelo menos até ao final da presente legislatura, entendemos ser esse um objetivo pouco ambicioso e desconforme com o interesse regional, pois se assim for não teremos hospital algum nos próximos 10 anos e isso além de dececionante revela apenas e só mais do mesmo. Tenho dito.