POR QUE AS MULHERES TRAEM? Há algum tempo escrevi para uma revista o artigo “Por que os homens traem?” Na verdade, o título era mais provocativo porque, ao falar sobre as possíveis causas das possíveis traições masculinas, me coloquei na posição de uma mulher, como narrador-personagem, e analisei as possíveis causas. Terminei o artigo me perguntando, como mulher, se trai mais quem expressa o desejo ou quem se faz desejado. Algumas mulheres escreveram discordando, outras dizendo basicamente “é isso mesmo”. Na fala dos homens que se manifestaram havia claramente a seguinte mensagem: a mulher trai, mas nós é que levamos a fama. Seria a tradução do provérbio: Periquito come milho, papagaio leva a fama... Diante dessa situação resolvi investigar. No senso comum, ou melhor, aquilo que se propaga por aí os homens são os traidores e as mulheres umas pobres coitadas. É isso mesmo? Conversei com mulheres jovens, com mulheres vividas, com mulheres solteiras, com mulheres casadas e descasadas, entrevistei psicólogas e psicólogos, médicos e médicas. Reuni um material vastíssimo. Se tivesse a pretensão a qualquer carreira universitária, tenho em mãos um material para uma tese de doutorado. Mas neste artigo vou pinçar um outro aspecto que por algum motivo me chamaram a atenção. Descobri coisas muito interessantes. Com a liberdade que este espaço me permite e sem ferir suscetibilidades posso contar muitas intimidades sem atingir diretamente a uma ou outra mulher, embora tenha certeza devo atingir a muitas mulheres e algumas especialmente. De uma forma indireta, é claro. Na posição de cronista ou bloguista da vida, transito livremente pelas intimidades, preservando as individualidades. Algumas mulheres dizem que traem porque foram traídas. Há aquelas que traem mais de uma vez, porque foram traídas várias vezes. Há aquelas que traem uma vez apenas e aí se sentem as maiores culpadas. Soube de uma mulher que, ao trair o marido porque ele o traíra, sentiu-se tão culpada, que não se perdoou por ter feito isso. Em compensação, há outras que traíram, gostaram e repetiram. Sem culpa. E continuam vivendo em “harmonia” com “seu querido e bem amado marido”. Mas há mulheres artistas. Há mulheres que carregam no sangue, no corpo, na voz, na postura, a expressão da honestidade, da integridade moral, do respeito aos princípios religiosos que regem o comportamento da família com base no respeito aos costumes. Esse é o discurso, os atos são outros. Para elucidar isso, vou relatar um caso que conheci por meio de uma psicanalista. Ela era a mulher linda, comunicativa, segura. Para tornar a descrição mais precisa, vamos dar nome para ela. Ela era Célia. É claro que o nome é fictício. Embora tenha relações fonéticas com muitos outros nomes. Ofélia, Adélia, Amélia, Delia, Dulcinéia, Rosinéia, etc. etc. Célia era uma mulher íntegra. Pelo menos era assim que ela se apresentava e que todos pareciam acreditar que ela era. Na verdade, Célia parecia ser a concretude maior do slogan “O importante não é ser, mas parecer ser”. Pelo ser, Célia era a perfeição. Não fumava, não bebia, não xingava, não gritava (pelo menos na frente dos outros), não se descontrolava, não se excedia, não comia muito, não sorria muito, Não...não... Não fazia uma série de coisas que nós, pobres mortais, fazemos no ritmo do viver. Célia era “of concour”. As mulheres pareciam respeitá-las, e o homens a admiravam. Diante de uma mulher dessa, que homem não se curvaria? Foi isso que aconteceu com o Ricardo. O pobre e infeliz Ricardo. Apaixonou-se por essa mulher. Toda paixão submete o ser que ama aos caprichos do ser amado. Foi o que aconteceu com esse homem que passou a viver para sua bem amada mulher como se fosse a deusa de sua vida, submetendo-se às condições e aos caprichos dela. Do pedestal que o amor desse homem a colocara, Célia pôde manipular a vida dele como bem lhe aprouve. Além de joias, roupas, viagens, carros, imóveis, conquistou também os sentimentos de Ricardo que até se afastou dos filhos do casamento anterior para poder atender a sua bem amada. E nesse controle total, Célia podia transitar livremente com suas fantasias e realizá-las. Nos anos todos em que viveram juntos, esta mulher com transpirava pela sua fala a guardiã da moralidade, entregou-se loucamente a um outro homem. Enquanto isso, vigiava o marido, acusava-o de estar olhando para menininhas, acusava-o de atitudes inadequadas para com os filhos, para com os amigos. Criou um anteparo perfeito que permitia encobrir as suas escapadas. Enquanto brigavam por esses motivos, ela ficava livre para poder trair. Por que uma mulher dessa que teoricamente teria tudo para um casamento feliz traía o marido? Não era sexo, porque segundo disse essa psicanalista, o casal vivia bem na cama. Eu perguntei isso a essa minha amiga psicanalista. Segundo ela, além uma possível compulsão sexual, causada talvez por relacionamentos na infância, essa mulher queria o poder. O sexo era a forma de dominação masculina. Pelo menos isso parece que ela o via dessa forma. Será que é isso mesmo? Ou teria talvez outras leituras para essa necessidade de variar parceiros. O que impressiona é que nas muitas vezes que esse casal tentou separar-se, esta mulher quase que pirou. Pelo menos era isso que diziam. Havia com certeza a dependência de um homem que lhe dava provavelmente segurança, embora ela não o reconhecesse. Vamos ficar por aqui. O universo humano e sobretudo o universo feminino parece indecifrável. Algumas vezes. Pelo menos em algumas mulheres. Hermínio Sargentim Guaecá, 2011