ID: 62060383 28-11-2015 Tiragem: 33573 Pág: 2 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 25,70 x 30,82 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 3 NOVO GOVERNO Propostas de lei do Governo vão ser negociadas com PCP, BE e PEV Depois de aprovados em Conselho de Ministros e antes de debatidos na Assembleia, os diplomas serão discutidos semanalmente com a esquerda Nuno Sá Lourenço O PS vai coordenar a cooperação parlamentar com os partidos que assinaram as posições conjuntas. Mas se a assinatura desses acordos foi feita separadamente, agora PS, BE, PCP e Verdes vão sentar-se à mesma mesa todas as semanas, às terças-feiras, na véspera da conferência de líderes, para acertar posições “sobre tudo aquilo que está pendente e a preparação da conferência de líderes”. Isso mesmo foi afirmado ontem pelo líder parlamentar do PS, Carlos César. Estas reuniões não se vão limitar às iniciativas das bancadas da esquerda: também as propostas de lei provenientes do executivo serão alvo de discussão entre os partidos nessas reuniões semanais, depois de apro- vadas em Conselho de Ministros. “O Governo pode ter interesse em que os seus diplomas estejam devidamente coordenados”, afirmou César ao PÚBLICO. Por isso mesmo, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares “estará presente sempre que for necessário”. A composição desse grupo de coordenação deverá ser ao mais alto nível parlamentar. Depois de frisar que as “delegações não têm que ser fixas”, Jorge Costa, vice da direcção parlamentar, afirmou ao PÚBLICO que, da parte do BE, estaria sempre presente pelo menos um dos membros da direcção da bancada (Pedro Filipe Soares, Mariana Mortágua ou ele próprio). E, “justificandose, participarão deputados responsáveis pelas matérias em apreço”. Carlos César confirmou também que o PS se fará representar pelo líder da bancada, além da primeira vice- presidente, Ana Catarina Mendes. Só o PAN não participará nestas reuniões. Apesar de o Governo ter incluído seis propostas deste partido no seu programa, a assessora do PAN, Naide Muller, justificou essa opção com o facto de o partido não ter feito parte dos acordos de incidência parlamentar assinados por PS, BE, PCP e Verdes. Ao encontro do PAN Depois das alterações efectuadas devido aos acordos com BE, PCP e Verdes, o Programa do XXI Governo voltou a ser revisto para acolher alterações no sector da Justiça e também para acolher seis medidas provenientes do PAN. O texto, entregue ontem no Parlamento pelo novo secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, não difere muito, no entanto, daquele que foi aprovado, no início do mês, na co- missão nacional socialista, depois de terem sido fechadas as negociações com os partidos à esquerda do PS. Ainda assim, já depois do primeiro Conselho de Ministros liderado por António Costa, o Governo decidiu acrescentar algumas medidas em relação à gestão do sistema judicial. É aí que se encontra um dos objectivos que não estavam na anterior versão: “Adaptar o ano judicial ao ano civil”. Da mesma forma, o “contrato para um serviço público de justiça” foi substituído pela criação de “um conselho de concertação para o sistema judicial”. Mas com o mesmo alcance do referido contrato: “metas quantificadas para o sistema, no seu todo e para cada tribunal, gerando orientações e fixando objectivos públicos, transparentes e escrutináveis de redução dos prazos dos processos”. Mas sem a inclusão da “participação do Conselho Econó- mico e Social”, que estava referido no programa que fora apresentado no início do mês. Além dessas alterações, o PS incluiu seis compromissos no seu programa por proposta do PAN. No capítulo relativo à valorização do território, António Costa aceitou inscrever no texto que se venha a fazer a “revisão do estatuto jurídico dos animais, adequando-o à evolução do Direito Civil de forma a diferenciá-lo do regime jurídico das coisas”. O Governo acordou ainda rever o “quadro de sanções acessórias e clarificar os tipos penais existentes” em relação ao crime de maus tratos a animais de companhia. A “gradual erradicação” do abate de animais nos canis e gatis municipais foi também incluída, além da revisão do regime jurídico da venda e detenção de animais selvagens, “com vista à sua restrição e adequação às melhores ID: 62060383 28-11-2015 DANIEL ROCHA Tiragem: 33573 Pág: 3 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 25,70 x 30,68 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 3 Na primeira reunião do Conselho de Ministros, concluiu-se o programa de Governo Novos vistos gold Contrapartidas vão capitalizar empresas I nserido num conjunto de medidas destinadas a melhorar o financiamento e a capitalização das empresas, o Governo propõe a criação de um fundo de capitalização financiado por diversas fontes, incluindo as contrapartidas dos vistos gold. O fundo “deve ser financiado pelos reembolsos dos fundos comunitários e as contrapartidas dos vistos gold, agora reorientando-os para a capitalização de empresas e reforçar a sua autonomia”, refere o programa do Governo. O programa refere ainda “uma revisão da tributação municipal do património”, admitindo a introdução da progressividade no IMI, que não detalha, mas pode ser em função do rendimento das famílias, como tem sido pedido pelos proprietários. Também é prevista “uma cláusula de salvaguarda que limite a 75 euros/ano os aumentos de IMI em reavaliação do imóvel, que seja habitação própria permanente, de baixo valor”, o que deverá valer apenas para o futuro, já que os aumentos das anteriores reavaliações já estão aplicados. Rosa Soares práticas”. Ao nível do Ambiente, o executivo acrescentou o compromisso da elaboração de um “plano de promoção da bicicleta e outros modos de mobilidade suave”. O programa não inclui, no entanto, todas as medidas discutidas com o PAN nos últimos dias. Desde que assumiu o seu mandato parlamentar, André Silva defendeu a inclusão de terapias não-convencionais no Sistema Nacional de Saúde, a proibição do cultivo do milho geneticamente modificado e a redução de metano. O voto favorável do PAN pode tornar-se relevante caso o PCP venha a optar pela abstenção na votação de diplomas do Governo. Com BE, Verdes e PAN, o PS já conseguiria fazer passar as suas propostas. Mas, ontem, a assessora do PAN não dava como garantida essa disponibilidade. Também o PSD e o CDS ainda estão em fase de ponderação. Mas, no caso destes dois partidos, a dúvida é se vão apresentar uma moção de rejeição ao programa de Governo. A opção não colhe unanimidade entre os sociais-democratas. Há quem defenda esta iniciativa para vincar o apoio de PCP, BE e PEV ao Governo PS e para fazer sobressair a posição contra da direita. Outros consideram que PSD e CDS seriam sujeitos a mais uma humilhação. Só na segunda-feira poderá haver uma decisão final. Défice nos 3% Nas metas financeiras, não houve mudanças. Reflexo disso é o facto de o quadro da revisão do cenário macroeconómico que acompanha o programa não ter sofrido qualquer alteração em relação ao quadro de revisão do cenário final com que se encerrava o programa votado pelos socialistas. A previsão para o défice de 2015 mantém-se nos 3%, assim como para 2016 essa variável se situa nos 2,8%. O Governo segura também a dívida pública nos 128,2% em 2015 e aponta para os 123,9% no ano seguinte. Por isso mesmo, Pedro Nuno Santos manteve o discurso em relação aos objectivos após a entrega do texto no Parlamento. “Este programa de Governo marca o início de um novo ciclo da governação em Portugal, sendo um instrumento fundamental, que é coerente e que rompe com as políticas de austeridade e de empobrecimento colectivo dos últimos anos. Este documento traduz uma estratégia de maior crescimento, de melhor emprego e mais igualdade”, sustentou Pedro Nuno Santos perante os jornalistas, depois de ter estado reunido com Ferro Rodrigues cerca de 15 minutos. com Sofia Rodrigues e Ana Henriques Esquerda tem 20 dias para se entender sobre austeridade Maria Lopes A s propostas sonantes do PS sobre a redução da austeridade e a reversão das subconcessões de transportes (ver pág. 6) acabaram por não ser votadas ontem na generalidade, sendo remetidas para a especialidade sem votação. Foi o próprio PS quem o solicitou. Apenas o fim dos exames do 4.º ano do ensino básico foi aprovado com os votos de toda a esquerda. Ficou claro que PS, BE, PCP e PEV ainda estão a limar arestas. Da direita houve algum sarcasmo perante esta nítida falta de entendimento entre o PS e os partidos à sua esquerda — nos próximos 20 dias, estes últimos vão tentar que os socialistas aceitem acelerar as devoluções de salários e pensões e a diminuição das sobretaxas. O PS quer uma reversão faseada das medidas de austeridade aplicadas pelo Governo PSD/CDS e os três partidos à sua esquerda exigem que a sobretaxa do IRS e a CES terminem já em Janeiro. Também baixaram à comissão as propostas sobre a procriação medicamente assistida de PS, BE, PAN e PEV para uma análise em 90 dias. Uma decisão contestada pela Associação Portuguesa de Fertilidade, que se diz “revoltada” por antever um arrastar do assunto, lembrando ser uma situação “bastante semelhante” à que ocorreu na última legislatura, em que se criou uma comissão que ouviu entidades e debateu o projecto de lei da gestação de substituição durante três anos, mas acabou por não ver a luz do dia. A direita viu chumbados todos os seus diplomas. Ficaram pelo caminho a reversão faseada dos cortes nos salários da função pública e da CES, a aplicação em 2016 das medidas fiscais do OE 2015, graças aos votos contra de toda a esquerda e do PAN. Esquerda que chumbou também a recomendação para que o Governo crie uma política global e integrada de modernização administrativa e um programa de desenvolvimento social. Na discussão da recomendação desse programa, PS, PCP e BE con- sideraram-no uma “hipocrisia” e criticaram PSD e CDS por tentarem agora remediar com parcas medidas o empobrecimento em que mergulharam o país. A direita argumentou ter encontrado Portugal na bancarrota e que agora o PS o recebe “em desenvolvimento”. “Passado o tempo de emergência social, temos que olhar para o futuro e apostar na valorização das pessoas, combatendo a pobreza e as desigualdades sociais”, defendeu Maria Mercês Borges, do PSD. A centrista Cecília Meireles vincou a natureza abrangente do programa, que inclui promessas eleitorais da coligação como a reposição dos 4.º e 5.º escalões do abono de família e dos valores do complemento solidário para idosos. Sónia Fertuzinhos considerou que a direita fez um “diagnóstico errado” e afirmou que o PS acabará por propor um “programa nacional de erradicação da pobreza para corrigir os últimos anos”. “É um acto de profunda hipocriCecília Meireles defendeu o programa de desenvolvimento social apresentado pelo PSD e CDS-PP sia política e desprezo pelas vidas de pessoas que foram destruídas, pela miséria” em que a direita mergulhou o país, acusou a deputada do PCP Rita Rato. “Quatro anos de Governo demostraram que a agenda política de PSD e CDS é transformar os direitos sociais em caridade.” Mas foram aprovados os projectos de resolução do PEV e do BE em que se recomenda ao Governo que elabore e apresente ao Parlamento, no prazo de um ano, um plano ferroviário nacional — “um dos primeiros frutos dos acordos” que firmaram com o PS, diz o PEV. Os ecologistas viram ainda aprovado o seu projecto de resolução que recomenda a divulgação e o estudo da Constituição da República Portuguesa na escolaridade obrigatória, que contou com os votos do PS, Bloco, PCP e PAN. João Almeida, do CDS-PP, abstevese, e PSD e CDS votaram contra. ID: 62060383 28-11-2015 Tiragem: 33573 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 18,57 x 7,79 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 3 de 3 Leis do Governo vão ser discutidas semanalmente com PCP, BE e PEV Partidos à esquerda vão sentar-se à mesma mesa, às terças-feiras, para acertar estratégia. PS, PCP, BE e PEV têm 20 dias para se entenderem sobre fim da sobretaxa de IRS e cortes na função pública Destaque, 2 a 7 e Editorial