UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO VEZ DO MESTRE PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL Por: Mara Rosana Ramos Lopes Professora Orientadora: Mary Sue C. Pereira Rio de Janeiro 2003 2 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO VEZ DO MESTRE PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL Apresentação da Monografia ao Conjunto Universitário Cândido Mendes, como condição prévia para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Latu Senso “ em Psicopedagogia por: Mara Rosana Ramos Lopes, tendo como Professora Orientadora Mary Sue C. Pereira. Rio de Janeiro 2003 3 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATU-SENSO” PROJETO VEZ DO MESTRE PEDAGOGIA DO ENVELHECIMENTO UMA PERSPECTIVA DE REINSERÇÃO SOCIAL OBJETIVOS: Estimular o idoso a criar novos projetos para sua vida, resgatando sua auto-estima e melhorando sua qualidade de vida. Proporcionar, através da educação e de outras atividades, a convivência entre idosos e com isso a possibilidade de sua reinserção no contexto social. 4 AGRADECIMENTOS Ao meu marido, aos meus filhos e aos meus pais pelo apoio e incentivo para que eu pudesse realizar esse curso de especialização. Aos meus professores e a minha professora orientadora pelo carinho e dedicação dispensados ao longo desse trabalho acadêmico. 5 DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho acadêmico ao meu irmão Max, que tanto me incentivou para que eu buscasse, ao longo da minha vida, o aperfeiçoamento profissional. meu crescimento e 6 RESUMO Existe um momento na vida de cada pessoa que se toma consciência de que o tempo passou e que envelhecemos. Ocorrem, então, diversas mudanças tanto biológicas como psicológicas e sociais. Muitas vezes essas mudanças podem assustar, trazendo ansiedade e até mesmo sofrimento. Porém, se não mudarmos, não cresceremos e nem teremos a oportunidade de vivenciar a diversidade de experiências pertencentes a cada fase do ciclo da vida, ou seja, não teremos a oportunidade de ver a vida como uma arte, uma escultura, que é esculpida, passo a passo, tempo a tempo. O sentido social do envelhecer é compreendido de forma diferenciada em diversas épocas e lugares, sendo algumas vezes valorizado e respeitado e, em outras desprezado. A passagem da vida adulta para a terceira idade, a idade onde o tempo sobra ( devido à aposentadoria ), é de perdas ( de ordem física, psicológica e social ), mas é também, de ganhos ( tempo, liberdade e experiência de vida ). É a fase de traçar novos projetos de vida, descobrir novas aptidões ( muitas vezes escondidas dentro de si ). A educação e a “pedagogia“, voltada para a terceira idade, é a oportunidade para que o idoso reinvente sua vida, ensinando-o a conviver com esta nova etapa, proporcionando-lhe uma melhor qualidade de vida, resgatando, assim, o seu valor como cidadão, como pessoa. 7 METODOLOGIA Trabalho desenvolvido a partir de pesquisas bibliográficas, através de uma revisão de literatura dos mais conceituados autores que enfocam a questão do envelhecimento. Tendo como referência os estudos bibliográficos, foi possível dar continuidade ao projeto de pesquisa, aperfeiçoando-o, passo a passo, trilhando em direção a conclusão do trabalho acadêmico. 8 SUMÁRIO INTRODUCAO ______________________________________9 CAPITULO l _______________________________________11 A ARTE DE ENVELHECER ___________________________11 CAPITULO I I ______________________________________18 RESGATANDO O SENTIDO SOCIAL DO ENVELHECER ___18 CAPITULO I I I _____________________________________25 EDUCAÇÃO NA TERCEIRA IDADE- UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA O IDOSO _______________________25 CONCLUSÃO _____________________________________32 BIBLIOGRAFIA ____________________________________33 ÍNDICE __________________________________________35 9 INTRODUÇÃO Podemos dizer que a velhice é um produto histórico-cultural, ou seja, um conceito social, culturalmente estabelecido em nossa sociedade. Na sociedade capitalista, onde a produtividade é a prioridade, a questão da velhice está diretamente relacionada às condições de trabalho, conseqüentemente, o sujeito trabalhador é tido como objeto e a sua condição de dignidade, de mais-valia está intimamente ligada a sua possibilidade de produção ao sistema. O idoso, cuja capacidade de produção diminui ao longo do processo de envelhecimento, é neste contexto social, relegado a um segundo plano em nossa sociedade. Culturalmente, existe um ideário que um idoso é um inútil, que só causa despesas à família e a sociedade, isto está associado a característica de improdutividade, imposta a ele pelo sistema, que só valoriza aqueles que são úteis para o acúmulo de capital. No Brasil, de acordo como o IBGE, as pessoas, com 60 anos ou mais, representam 8,7% da população do país. Verifica-se uma aceleração do número de idosos e do envelhecimento do pais. Este fato está relacionado ao aumento da expectativa de vida, devido a evolução da medicina, e a diminuição da natalidade, considerados os principais responsáveis pela modificação da estrutura etária da população. Estima-se que para o ano de 2.025, essa população de idosos atinja os 32 milhões, que equivalem, hoje, ao contingente de idosos da Europa, de acordo com Organização Mundial de Saúde. Tendo em vista o crescimento do número de idosos em nosso país, torna-se de grande importância, além de medidas de ação individual, uma 10 concentração de esforços, com objetivo de reduzir nessa população, as desigualdades sociais. Portanto, torna-se de grande importância, que sejam criadas propostas e políticas públicas voltadas para esta fase do desenvolvimento humano: a velhice. 11 CAPITULO I A ARTE DE ENVELHECER “A vida não é algo – é a oportunidade para algo” ( Helbel ) 12 O ENVELHECIMENTO Apesar dos mitos, dos medos que envolvem a fase da vida denominada como a terceira idade, saber envelhecer é uma arte. Será que todos sabem cultivar a arte de viver? Existe um momento na vida de cada pessoa que nos deparamos ao olharmos no espelho com o fato de que algo mudou: os cabelos embranquecem e se tornam rarefeitos, a pele se enruga, os dentes caem, enfim, percebemos que estamos envelhecendo. 1.1 – O Processo de Envelhecimento A velhice não é um marco isolado no desenvolvimento vital humano, está ligada à marcha do processo biológico, mas é, também, como diz Simone de Beauvoir, um fato cultural. ( BEAUVOIR, 1990,P.20 ) 1.1.1 – Aspectos biopsicossociais O envelhecimento biológico é um processo universal e progressivo, inerente ao ciclo da vida, do mesmo modo que o nascimento, o crescimento, a reprodução e a morte. Cada pessoa vive de modo particular e individual o seu processo de envelhecimento, visto que há indivíduos que, biologicamente aceleram o seu envelhecer, precisamente porque se sentem velhos. Segundo o gerontologista americano Howell: “A senescência não é uma ladeira que todos descem com a mesma velocidade. É uma sucessão de degraus 13 irregulares onde alguns despencam mais depressa que outros”.( HOWELL apud BEAUVOIR, 1990, P.40 ). Em geral, o declínio é acelerado ou retardado por vários fatores: a saúde, fatores hereditários, o meio social, as emoções, dentre outros. “Assim, a velhice não se constitui numa etapa ”naturalizada” do curso da vida, mas em vivências permanentemente construídas de acordo com diferentes modos de subjetivação”. ( NOVAES, 2000, P. 25 ). Verifica-se, dentre outras características do envelhecimento biológico; além das rugas e dos cabelos branco, o engrossamento das pálpebras superiores, enquanto se formam papos sob os olhos. O lábio superior míngua; o lóbulo da orelha aumenta, o sono torna-se reduzido e menos profundo. O esqueleto é acometido de osteoporose. A atrofia muscular e a esclerose das articulações acarretam problemas de locomoção. Percebe-se uma alteração no funcionamento do coração, por isso o idoso deve reduzir suas atividades para poder poupá-lo. O sistema circulatório é atingido; arteriosclerose é uma das características mais presentes na velhice. A circulação cerebral torna-se mais lenta. “As veias perdem sua elasticidade, o débito decresce, a rapidez da circulação diminui, a pressão sobe ”. ( BEAUVOIR, 1990, P.35 ). Observa-se, ainda, um acometimento dos órgãos dos sentidos: diminuição da audição, muitas vezes chegando à surdez; a visão torna-se “cansada” “; o tato, o paladar e o olfato apresentam menos acuidade que antes. Com relação à sexualidade, no homem idoso, em geral, as possibilidades de ereção e de ejaculação diminuem e, por vezes, até desaparecem. Mas isto não significa o desaparecimento da libido. Na mulher idosa, a função reprodutora é interrompida, ainda jovem, por volta dos 50 anos, através do ciclo ovariano e da menstruação: a menopausa. 14 Ao mesmo tempo em que ocorre o envelhecimento biológico, acontece o envelhecimento psicológico, como a diminuição da memória recente; a redução da motivação, sendo necessários maiores estímulos para que o idoso realize determinadas tarefas. Observa-se uma tendência à perda de perspectivas para o futuro, o que torna o presente pouco estimulante, favorecendo muitas vezes a supervalorização das vivências passadas, fazendo com que o idoso reduza o seu momento atual à viver de lembranças. Por outro lado, muitas vezes, por ter abandonado seus sonhos de juventude e por não ter realizado e aproveitado as diversas oportunidades que a vida lhe ofereceu, e ainda, por não ter se preparado para esta fase do ciclo de vida, alguns entregam-se à depressão, o que pode acelerar o processo de envelhecer, e muitas vezes chegar mais cedo à morte. Simone de Beauvoir, em sua obra ontológica, A Velhice, cita o caso de uma senhora: “Citaram-me o caso de uma mulher de 63 anos, muito bem conservada, que suportava, corajosamente, o tratamento das dores violentas que sofria. Tendo-lhe um interno comunicado, irrefletidamente, que não se curaria nunca, envelheceu 20 anos de repente, suas dores aumentaram “. ( BEAUVOIR, 1990, P. 41 ) O idoso, em geral, se confronta com vários medos: de ficar só ( solidão ); de ser colocado de lado, por não ter mais a capacidade produtiva de outrora e, com isso, ser esquecido como um objeto que perdeu sua utilidade; de perder o afeto dos familiares e, com isso, ser mandado para uma instituição asilar; de adoecer, e finalmente, da morte Também ocorre o envelhecimento social. As perdas sociais significativas representam, ainda, uma variável de grande influência no 15 comportamento do individuo nesta fase da vida, levando-o, por vezes, ao isolamento, abdicando dos seus direitos. Na medida em que esse isolamento social acontece, o universo das relações do idoso torna-se cada vez mais reduzido. Este fato é agravado com o falecimento de muitos dos amigos de outrora, ou mesmo, pelas enfermidades que acometem os indivíduos nesta fase. Com isso, o idoso tende a se sentir cada vez mais solitário. Percebe-se ainda, que no contexto social, o valor da pessoa encontrase atrelada à sua capacidade de produção. Com a aposentadoria, pode –se iniciar a ruptura deste “valor produtivo“. Parar de trabalhar pode estar relacionado à perda do papel profissional e, conseqüentemente, ao papel social junto à família e a sociedade. Na nossa sociedade percebe-se que o fato de se aposentar pode tornar-se um fator de exclusão social, uma vez que pode levar o homem a isolar-se do contexto de vivências da sociedade. Com a aposentadoria a pessoa é desvalorizada socialmente; não produz mais, logo, não vale mais nada. Ë marginalizada econômica, social e culturalmente, fato este que se inicia, muitas vezes, dentro do próprio lar. O idoso aposentado vai deixando de ser ouvido e consultado; acaba por perder seu poder de decisão, o que implica na perda de sua autonomia. Com isso, pode-se observar o quanto essas mudanças podem assustar, trazendo ansiedade e até mesmo sofrimento. 1.2 – A Aposentadoria e suas conseqüências psicossociais “Na sociedade moderna, consumista e imediatista, os idosos são vistos como peso social, sempre recebendo benefícios e não dando nada em troca. Os valores da 16 juventude predominam como os de beleza, de energia e de ativismo”. ( NOVAES, 2000, P. 31 ) Com a aposentadoria, esta repentina transição da vida ativa para “inativa” traz, para o individuo, a vivência de um período doloroso e difícil porque se, socialmente, ele deixa de cumprir suas tarefas laborais de um dia para o outro, psicologicamente, esse desengajamento não acontece nesse mesmo ritmo. Apesar de ser compreendida como uma norma social, a aposentadoria é sempre vivida como uma ruptura imposta do meio externo e que trará outras conseqüências: perda do “status“ profissional, de poder; alterações nas relações interpessoais, com a “perda “dos colegas de trabalho, e a permanência, em tempo integral, no seio familiar; alterações econômicas, já que a pensão é, em geral, inferior ao salário que recebia. E, ainda, a organização do tempo que já não é mais ritmada pela rotina diária de obrigações e restrições impostas pelo trabalho. Todas essas modificações e rupturas podem levar a um profundo sentimento de insegurança e angústia. No ambiente familiar, a pessoa idosa se depara com algumas modificações: a perda da autoridade como pai de filhos menores; a independência econômica dos filhos; a saída dos mesmos de casa; a chegada dos netos e com eles, muitas vezes, o tão conhecido “conflitos de gerações”. Com isso, o aposentado vai sendo deixado de lado e perdendo o seu poder de decisão, podendo buscar o seu isolamento. A pessoa, ao envelhecer e ao se aposentar, recebe como “prêmio“ uma maior disponibilidade de tempo. Mas como administrar esse tão sonhado tempo, que era quase que totalmente destinado as obrigações laborais? Como administrar, pessoalmente, esse tempo que até então, era feito por outras pessoas, a própria sociedade, com suas normas sociais? 17 De um momento para o outro, o aposentado recebe em suas mãos uma “overdose “de tempo , sem saber o que fazer com ele, pois sempre o teve repleto de atividades profissionais, familiares e sociais. O que fazer então? Surge, daí, a questão do projeto e da qualidade de vida. 18 CAPITULO I l RESGATANDO O SENTIDO SOCIAL DO ENVELHECER “ Não existem soluções prontas. Existem forças em marcha. Monitorando essas soluções acontecem .” ( Henry Ford ) forças, as 19 RETORNAR À VIDA Quando falamos em “resgate do sentido social do envelhecer”, estamos nos referindo a recuperar a razão de viver. Muitas pessoas, ao envelhecerem, “perdem”, pelo caminho, os objetivos, os planos, deixam de sonhar e de elaborar novas formas de viver. Prendem-se ao passado e não se deixam “abrir “para novas possibilidades e conquistas. Entretanto, observamos que muitos idosos se reencontraram na velhice, retornaram seus interesses antigos, abriram espaço para a aprendizagem, para a conquista de novos amigos, criaram projetos de vida; enfim, recuperaram a possibilidade de sonhar. Assim, preencheram com novos relacionamentos e projetos, o espaço que a idade lhes tenha tirado. Percebem que é possível ver na velhice um lado positivo, com a certeza de que, ao mesmo tempo em que ocorrem perdas, também acumulam-se ganhos ( experiência, por exemplo ). 2.1 – Valor social da velhice Para se compreender o significado social da velhice, é preciso que seja feito um retrospecto histórico da posição destinada aos velhos em diferentes épocas e lugares. Simone de Beauvoir, em sua obra “A Velhice “ , diz : “Estudar a condição dos velhos através das diversas épocas, não é uma empresa fácil . Os documentos de que dispomos só raramente fazem alusão a esse assunto: os idosos são incorporados ao conjunto dos 20 adultos. Das mitologias, da literatura e da iconografia destaca-se uma certa imagem da velhice, variável de acordo com os tempos e os lugares. Mas que relação essa imagem sustenta com a realidade ? É difícil determinar. A imagem da velhice é incerta ,confusa , contraditória .Importa observar que, através dos diversos testemunhos, a palavra “ velhice “ tem dois sentidos diferentes. É uma certa categoria social, mais ou menos valorizada segundo as circunstâncias. É, para cada individuo, um destino singular - o seu próprio . O primeiro ponto de vista é o dos legisladores, dos moralistas; o segundo, o dos poetas; quase sempre, eles se opõem radicalmente um ao outro. Moralistas e poetas pertencem sempre às classes privilegiadas e esta é uma das razões que tira de suas palavras uma grande parte de seu valor : eles dizem sempre apenas uma verdade incompleta. “ ( BEAUVOIR, 1990, P.109 ) É difícil definir, em que época da humanidade atribuiu-se à velhice um sentido social. A velhice individual sempre existiu na humanidade. Para muitos povos primitivos, a velhice era valorizada, respeitada e os velhos ocupavam a mais alta posição na hierarquia social. Entretanto, outras culturas sacrificavam aqueles que, por envelhecerem, não produziam mais e não conseguiam mais manter o seu sustento. No início da história da humanidade, como se sabe, os povos eram nômades, andavam de um lado para outro em busca de alimentos (caça, pesca e coleta de frutos ) . Os mais idosos, por já não possuírem mais a agilidade na locomoção e por causa das doenças, não conseguiam mais acompanhar o grupo, ficavam, então, pelo caminho e morriam. 21 Quando os povos se fixaram à terra, tornando-se sedentários, surgiu a organização familiar, uma família patriarcal. O patriarca era o chefe da família, respeitado e valorizado por todos. Quando já não mais conseguia desempenhar suas funções, o filho mais velho assumia a chefia da família. Ao longo dos anos, os grupos foram se organizando numa sociedade mais estruturada com normas e valores. Houve a influência da religião e , assim, o idoso passou a ter um papel de destaque : era conhecedor das tradições sagradas e dos costumes, por isso era o detentor do poder e da autoridade no grupo. Ele instruía os mais jovens, mas guardava para si alguns “segredos”. Todos lhe deviam obediência, inclusive a esposa . O idoso era considerado, nesta forma de organização familiar, o juiz do destino da família, detinha o poder econômico e social. “Na Idade Média e no Renascimento, o velho era também valorizado. Nas antigas civilizações européias, tivemos os filósofos gregos (respeitados não só pela sabedoria, mas também pela idade), os doges de Veneza, os senadores romanos, todos avançados em anos. “ ( PALMA e SCHONS, 2000,P.52 ) No estudo da cultura indígena, verifica-se que os idosos tem um grande valor. Constituem o “Conselho dos Anciãos”. Diz Edílson Martins no artigo”Os velhos na comunidade indígena “: “As qualidades de liderança, de mediador nas disputas, de palavra final ouvida nas grandes decisões e , mais do que isso , de transmissor de uma cultura que desconhece a palavra escrita, fazem do velho , um mentor do seu povo. “( MARTINS apud SCHONS e PALMA , 2000, P.52 ). 22 Percebe-se que quanto mais simples e primitiva a sociedade, mais ela dependia do idoso, já que a cultura de um povo só assegura a continuidade, se o saber no campo religioso, político, econômico e social ( que os idosos detinham ) fosse transmitido aos descendentes. Com a chamada Revolução Industrial, a invenção da máquina e , conseqüentemente, o advento do capitalismo, as sociedades sofreram transformações, especialmente no Ocidente , entre elas, mudanças na organização familiar, nos valores econômicos , morais, etc.. A capacidade de produzir, de adquirir bens materiais passou a ter maior valor que as pessoas . Com isso, o idoso tornou-se, neste modelo de sociedade, o improdutivo , decadente, aquele que não servia mais para nada. Não havia mais espaço social para ele. Criou-se, então, a imagem negativa da velhice. Mas por volta dos anos 70, começou-se a organizar o movimento em defesa dos idosos, devido ao aumento da população idosa em todos os paises , em função da elevação da expectativa de vida ( longevidade ) e da redução da taxa de natalidade. Considerando este aumento no número de idosos, os defensores dos direitos humanos não poderiam deixar de dar atenção a essa faixa etária. Além disso, os próprios idosos estão lutando contra esse estigma de improdutivos, decadentes, etc., através do resgate da saúde e do bem estar . Estão se inserindo em associações de idosos, grupos de convivência, clubes de terceira idade e outras atividades, voltam a ocupar um lugar na sociedade, resgatando a imagem social de pessoas sadias, dotadas de sabedoria e experiência, capazes de contribuírem, ainda, para cultura e evolução da sociedade. 23 2.2 - Tempo livre, novos projetos e melhor qualidade de vida Durante toda a vida, o homem traça os seus projetos sociais em torno da família e do trabalho, Com a aposentadoria, ele recebe como presente um grande número de horas livres para gastar como quiser. A ruptura com a vida profissional oportuniza à pessoa, a necessidade de reorganizar a sua vida . O importante é criar novos projetos, novas atividades para esta nova etapa, sejam elas de ordem física, cultural, social, educacional, recreativa ou mesmo profissional. Podemos envelhecer de diversas formas. O nível de qualidade de vida está diretamente relacionado à saúde física, mental e social do individuo. O modo como cada idoso vai viver sua aposentadoria é influenciado por sua história de vida, sua forma de enfrentar as perdas e sua capacidade de adaptar-se às novas situações . Sabe-se que durante muito tempo aposentar-se, na nossa sociedade, significava uma “morte social “, ou seja, as pessoas deixavam suas formas de convívio social e recolhiam-se em casa. Aos poucos, os idosos foram dedicando o seu tempo livre ao lazer : atividades festivas, passeios, excursões , atividades físicas e recreativas. Porém, na década de 70., surgem as Universidades da Terceira Idade . Embora, ainda hoje, perdure a “aposentadoria–lazer “, muitos aposentados desejam realizar atividades voltadas para uma finalidade social, ou seja, uma “aposentadoria ativa “.A velhice e a aposentadoria tornaram-se além de lazer, uma busca pela garantia dos direitos e da realização pessoas do idoso. 24 O tempo que a pessoa idosa recebeu ao aposentar-se deve ser ocupado por atividades prazerosas e gratificantes, através de boas escolhas , para se alcançar o equilíbrio da vida. “O importante é o saber envelhecer; é se preparar para velhice , considerando as suas limitações e os seus ganhos, porque é impossível anular as mudanças físicas fundamentais da velhice, mas muita coisa pode ser feita para preparar as condições de vida das pessoas idosas, de modo que possam usar com plena vantagem os poderes que lhe restam. “( PALMA e SCHONS, 2000, P. 114-115 ) 25 CAPITULO I l I EDUCAÇÃO NA TERCEIRA IDADE UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA O IDOSO “O homem, por ser inacabado, tende a perfeição. A educação é, portanto, um processo contínuo, que só acaba com a morte .” ( Pierre Furter ) 26 A EDUCAÇÃO NA TERCEIRA IDADE Em qualquer sistema educacional, efetua-se uma passagem de informação, conhecimentos de uma geração para outra. Com isso se perpetua a história de um povo, de uma época. Até meados deste século, só se enfocava a educação referente a criança e jovens. Entretanto, com o aumento da expectativa de vida e da esperança de se prolongar a condição de bem-estar por mais tempo, percebese o quanto revelam-se insuficientes os conhecimentos adquiridos na mocidade, dando lugar a necessidade de renovar os conhecimentos e de se reciclar. Surgiram, então, a “educação continuada“ que é um processo desenvolvido em instituições de ensino formais, como escolas, ou informais, como centro de convivências e clubes, por exemplo. Ao longo da segunda metade do século XX, a aquisição de novos conhecimentos, até então pouco importantes, vão se tornando uma necessidade. A evolução da humanidade, traz em si uma renovação de conhecimentos, técnicas, e valores e , assim, as pessoas, mesmo aposentadas, percebem a necessidade de adquirir novos conhecimentos, não apenas por razões econômicas, mas para buscar algo para ocupar seu tempo livre, e além de tudo para resgatar o seu papel de cidadão, sua dignidade. 3.1 – Educação Permanente A primeira definição foi proposta num seminário de Educação Permanente, realizado em 1970, em Buenos Aires, define que : “ Educação Permanente é o aperfeiçoamento integral e sem solução de continuidade, da pessoa, desde o nascimento até a morte “. ( PALMA e SCHONS,2000,P. 161 ) 27 Segundo Pierre Furter, “Educação Permanente é uma dialética da educação como um duplo processo de aprofundamento tanto da experiência pessoal quanto da vida social global, que se traduz pela vida ativa, efetiva e responsável de cada sujeito envolvido, qualquer que seja a etapa da existência “. ( FURTER apud PALMA e SCHONS, 2000, P. 161 ) Percebe-se que nas duas definições, pode-se destacar dois pontos fundamentais: • a educação permanente é uma tarefa individual. • é algo que acontece ao longo de todo processo vital. Como é uma tarefa individual, cabe ao individuo ir em busca do que se quer aprender, procurando aproveitar do seu meio ambiente ( família, meios de comunicação de massa, as lojas , etc. ) tudo o que pode favorecer o seu crescimento e desenvolvimento biopsicossocial, visto que a educação permanente engloba todas as atividades da vida social que proporcionam oportunidades educativas. A Educação Permanente não é educação de adulto, não é educação profissionalizante, não é educação extra-escolar, não é reciclagem, não é ensino supletivo, não é busca de diploma, não é educação popular, embora tudo isso possa fazer parte desta forma de educação. A questão da diferença entre educação permanente e educação continuada pode ser definida da seguinte forma: “Educação permanente é um processo individual: eu vou a procura de..., a educação continuada é o que as instituições de ensino formais, como as escolas, ou 28 informais, como um centro de convivência, por exemplo, organizam nos seus currículos, ou nos seus programas de atividades e colocam a disposição das pessoas, sejam programas a curto, médio ou longo prazo, dependendo dos seus objetivos e, conseqüentemente, de seus conteúdos para atingir os objetivos propostos”. ( PALMA e SCHONS, 200º, P. 146 ) Tendo em vista, que na sociedade moderna, tecnológica, se valoriza muito mais a inovação e a capacidade de dinamismo do que a experiência, a pessoa idosa necessita se atualizar permanentemente, para que não seja marginalizada. A aquisição de novos aprendizados e informações possibilitam ao idoso ampliar seus conhecimentos; pensar em si e aceitar-se; pensar nas habilidades que tem e nas que quer desenvolver; propiciar o conhecimento de suas potencialidades; reogarnizar seu tempo; enfim despojar-se dos estereótipos negativo que envolvem a questão do envelhecer numa sociedade industrial e, assim, criar um projeto de vida, consciente da sua fase da vida, realidade e existência. Quando mantemos o idoso próximo de todas as transformações que a sociedade vem sofrendo ao longo dos anos, damos a ele a oportunidade e o estimulo para buscar novas conquistas, novos objetivos para a sua vida. Segundo Maria Helena Novaes. “O importante é considerar a educação das e pelas pessoas da terceira idade sempre baseada no desejo da auto-atualização, nas relações sociais, na melhoria da qualidade de vida, no desenvolvimento de potencialidades, numa aprendizagem continuada e na motivação pelo conhecimento”. ( NOVAES, 2000,P. 140 ) 29 3.2 – “Pedagogia” para idosos “No Brasil, ainda não há pedagogia para idosos , uma pedagogia norteadora de um trabalho educacional com idosos; o que há são técnicas de trabalho, teórico e prático, num processo de aprendizagem com pessoa idosas, desenvolvidas por instituições públicas ou entidades privadas, ou grupos organizados, mas não há uma ciência “com um conjunto de doutrinas, princípios e métodos de educação e instrução”, que tendam a um objetivo prático, como diz o Aurélio”. ( PALMA e SCHONS, 2000, P. 123 ) Em alguns paises da Europa como na Alemanha e na Franca, como nos Estados Unidos e no Canadá a pedagogia para idosos ainda não chega a ter trinta anos. Verifica-se que existem muitos estudos a cerca da pedagogia para adultos, mas muito pouco sobre uma pedagogia própria para idosos. A gerontopsicologia nos tem mostrado que quanto mais ativa e exercitadas se mostrarem as aptidões e as capacidades da pessoa na terceira idade, maiores são as possibilidades de se ter uma melhor capacidade intelectual nesta fase da vida. Segundo o pedagogo alemão Johannes Doll, “... aprender, estudar, ficar aberto e interessado para o mundo é a melhor possibilidade para não perder a capacidade intelectual”. ( PALMA e SCHONS, 2000, P.124) O importante é ajudar a pessoa idosa a enfrentar, positivamente, sua terceira idade, exercitando sua capacidade de decisão e controle mental, que a torna menos deprimida, mais independente e segura. 30 Na velhice, ocorrem perdas significativas (por exemplo: morte de parentes próximos, aposentadoria, perda de status, poder, identidade social e até perdas econômicas ). Com isso a pessoa se sente desvalorizada, com baixa auto-estima, se sente inútil, o que leva a marginalização social. A pedagogia traz uma nova proposta para a terceira idade, através de cursos, seminários, encontros, reuniões, promovendo a interação entre as pessoas, idosas ou não, numa troca recíproca de sentimentos e emoções, num diálogo intergeracional, procurando um meio da pessoa idosa se adaptar a nova condição de vida. A pedagogia pode mostrar aos idosos a melhor forma de reorganizar suas vidas, ensinando-lhes a conviver com este mundo repleto de descobertas cientificas e tecnológicas. O objetivo da pedagogia para idosos é trabalhar as capacidades adormecidas, ou não, resgatando o sentido da velhice, o seu valor como pessoa e cidadão de direito. Com relação aos conteúdos, estes tem que ser, motivadores interessantes, de acordo com as condições sócio-econômicas, culturais e as experiências já vivenciadas pela pessoa idosa, para que, com isso, ela possa aproveitar a experiência dessa nova fase da sua vida. “O importante é considerar a educação das e pelas pessoas da terceira idade sempre baseada no desejo de auto-atualização, nas relações sociais, na melhoria da qualidade de vida, no desenvolvimento das potencialidades, numa aprendizagem continuada e na motivação pelo conhecimento”. ( NOVAES, 2000, P. 140 ) 31 É fundamental ensinar as pessoas enfrentarem positivamente sua terceira idade, mantendo estado de atenção constante e a capacidade de tomar decisões, tornando-se mais seguros e independentes. Os programas educativos para idosos, necessitam obedecer a um certo “enquadramento” à instituição educativa, através de cursos programados, com suas respectivas atividades e propósitos, além de conteúdos e metodologias especificas, tendo como referência o desejo das pessoas da terceira idade de liberdade de expressão. Percebe-se que o idoso está muito mais preocupado com o seu desenvolvimento pessoal do que, propriamente, atender somente essa ou aquela disciplina. Porém, é importante que fique claro que tais programas não devem ser confundidos com clubes sociais que buscam somente o lazer. Pode-se definir os motivos que levam as pessoas de terceira idade a buscarem programas educativos, da seguinte forma: • Adquirir novos conhecimentos da atualidade • Criar novos laços sociais, para por fim a solidão vivenciada. • Prevenir o envelhecimento, através do exercício das habilidades mentais. • Ocupar o tempo ocioso de forma útil e produtiva. • Enriquecer suas experiências. • Resgatar o respeito de seus familiares, mostrando-se, ainda, ativo e produtivo. 3.3 – Onde será desenvolvida essa pedagogia para idosos? Em grupos de convivência, centros de convivência, escolas abertas à terceira idade e universidades da terceira idade. Na década de 60, as primeiras universidades abertas da terceira idade eram voltadas apenas para o lazer cultural; na década de 70, foi incentivada a participação mais ativa dos idosos e o desenvolvimento de capacidades 32 visando uma melhor integração à sociedade; nos anos 80, os programas se tornaram mais especializados, absorvendo pessoas que estavam em fase de aposentadoria e desejavam fazer cursos em outras áreas. É importante que as Universidades da Terceira Idade tenham uma filosofia de ação bem definida, com propostas educativas explícitas, não sendo apenas lugares de lazer e de divertimento, ou apenas recursos para passar mais depressa o tempo ocioso. No Brasil, hoje, as universidades começam a se interessar por esse tipo de pedagogia, como a PUC Camp, Florianópolis, Juiz de Fora, Fortaleza e outras. A proposta é oferecer novas possibilidades, através de informações para que as pessoas planejem suas vidas, após a aposentadoria, para uma vida de qualidade nos próximos dez, vinte ou trinta anos, que ainda virão. 33 CONCLUSÃO O importante ao envelhecer é manter o coração jovem para que se consiga ser feliz. Esta etapa da vida, seja ela denominada terceira idade, melhor idade, nova idade, velhice, e outras, deve ser entendida por todos, para ser aceita e respeitada nas suas características, particularidades, motivações, potencialidades, expectativas e sonhos. A velhice útil e feliz não pode ser apenas um mito. Cada um, idoso ou idosa, tem o dever de lutar por sua dignidade, cobrando da sociedade a responsabilidade de dar ao idoso um lugar de direito, de cidadão, redefinindo cultural e socialmente o significado do envelhecer. Se a sociedade inventou a velhice, devem os idosos, reinventar a sociedade. O poeta Carlos Drummond de Andrade retratou nos seus versos, que a vida não termina ao envelhecer e sim, se constrói a cada dia: “Vamos não chores A infância está perdida A mocidade está perdida Mas a vida não se perdeu.” ( DRUMMOND apud NOVAES, 2000, P. 148 ) 34 BIBLIOGRAFIA ABNT - Apresentação de citações em documentos . Rio de Janeiro, 2001. BEAUVOIR, Simone de. A Velhice . Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990 DEECKEN, Alfons. Saber Envelhecer. 3ª edição . Petrópolis: Editora Vozes, 1997 FURTER, Pierre. Educação Permanente e Desenvolvimento Cultural. Petrópolis: Vozes, 1974. ______________ Educação e Reflexão . Petrópolis: Vozes, 1974. GRINBERG, Abrahão e GRINBERG, Bertha. A Arte de Envelhecer com Sabedoria. São Paulo: Nobel, 1999. LAROSA, Marco Antônio. Como produzir uma Monografia passo a passo... Siga o mapa da mina. Rio de Janeiro, WAK, 2002. NOVAES. Maria Helena. Psicologia da Terceira Idade: conquistas possíveis e rupturas necessárias, 2ª edição aumentada. Rio de Janeiro: NAU, 2000. PAES, Serafim Fortes et all. Envelhecer com cidanania: quem sabe um dia? Rio de Janeiro: CBCISS, ANG/Seção Rio de Janeiro, 2000 PALMA, L.T.S. e SCHONS, C.R. ( Orgs.) . Conversando com Nara Costa sobre gerontologia social. Passo Fundo: UPF Editora, 2000 35 SALGADO, Marcelo Antonio. Velhice, uma nova questão social. São Paulo: Sesc , 1980. 36 ÍNDICE INTRODUÇÃO 9 CAPÍTULO I 11 A ARTE DE ENVELHECER 11 O ENVELHECIMENTO 12 1.1 – O Processo de Envelhecimento 12 1.1.1 – Aspectos Biopsicossociais 12 1.2 – A aposentadoria e suas conseqüências psicossociais 15 CAPÍTULO II 18 RESGATANDO O SENTIDO SOCIAL DO ENVELHECER 18 RETORNAR À VIDA 19 2.1 – Valor social da velhice 19 2.2 – Tempo livre, novos projetos e melhor qualidade de vida 23 CAPÍTULO III EDUCAÇÃO 25 NA TERCEIRA IDADE – UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA O IDOSO 25 A EDUCAÇÃO NA TERCEIRA IDADE 26 3.1 – Educação Permanente 26 3.2 – “Pedagogia” para idosos 29 3.3 – Onde será desenvolvida essa pedagogia para idosos ? 31 CONCLUSÃO 33 BIBLIOGRAFIA 34 ÍNDICE 36 37 FOLHA DE AVALIAÇÃO UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PROJETO VEZ DO MESTRE Pós-Graduação “Lato Senso” Título : Pedagogia do Envelhecimento – Uma Perspectiva de Reinserção Social Data da Entrega : ________________ Avaliado por : Mary Sue C.Pereira Data: _____________ Grau: ___________ Rio de Janeiro, ____ de _____________ de 2003 38 ATIVIDADES CULTURAIS