Mestrado Integrado em Medicina Veterinária
Ciências Veterinárias
PREVALÊNCIA DAS AFECÇÕES PODAIS EM
EXPLORAÇÕES DE BOVINOS LEITEIROS COM
PAVIMENTO DE CIMENTO LISO VERSUS RIPADO
Catarina Sofia Tinoco e Cunha
Orientador:
Professor Doutor João Carlos Caetano Simões
Co-Orientador:
Doutor Paulo Alexandre Alves Capelo
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
VILA REAL, 2010
Este presente trabalho é dedicado aos meus avós.
ii
“Ao contrário do que afirmam os ingénuos
(todos o somos uma vez por outra), não basta dizer a verdade.”
José Saramago
iii
Resumo
RESUMO
Um dos três factores preponderantes que influenciam o bem-estar animal numa
exploração de bovinos leiteiros é o pavimento. Pisos muito escorregadios ou muito abrasivos
estão associados a um maior número de casos de claudicação, afectando a performance
reprodutiva, a produção leiteira e a saúde do úbere. De entre os vários materiais existentes para
pavimentar as áreas destinadas à circulação livre do gado em explorações leiteiras com sistema
free-stall (estabulação livre), o cimento é o mais comummente utilizado. Trata-se de um material
relativamente barato e durável que permite qualidade higiénica adequada. É contudo um material
muito duro, e devido ao desgaste provocado pelo uso torna-se mais escorregadio. De entre as
vacarias que apresentam piso em cimento, podemos encontrar explorações com o piso em
cimento compacto (liso ou com estrias) na sua totalidade e outras explorações com o piso
parcialmente ou totalmente ripado.
Com o objectivo de caracterizar a prevalência das afecções podais em explorações com
pavimento de cimento liso versus ripado foram analisados, retrospectivamente, os dados
referentes à saúde das estruturas podais de um total de 131 vacas em produção/período seco,
obtidos através da recolha e cruzamento dos registos pertencentes aos proprietários de duas
explorações, aos aparadores de cascos e aos médicos veterinários num período de 2 meses
consecutivos (Novembro e Dezembro de 2009). Foram escolhidas explorações com maneio
alimentar, higiénico e património genético aparentemente semelhantes de forma a minimizar o
impacto destas variáveis na diferença obtida. Na exploração de pavimento ripado (n=72) foram
observadas 58.3% (42/72) das vacas com claudicações, enquanto que na exploração de piso liso
(n=59) essa percentagem foi de 49.2% (29/59; P>0.05). A prevalência de dermatite (inter)digital
foi de 51.4% (37/72) na exploração de cimento ripado e de 89.8% (53/59; P<0.05) no cimento
liso; já a dos fenómenos laminiticos, manifestados sob forma de úlceras de sola, foi de 52.8%
(38/72) e 49.2% (29/59; P>0.05), respectivamente. Foi concluido que existia uma prevalência
similar de claudicação em ambas as explorações. O factor tipo de pavimento parece não ter
influenciado o tipo de patologia do casco, no caso dos fenómenos laminíticos. No entanto, foi
observada uma maior prevalência de dermatite (inter)digital na exploração de piso liso. São
necessários mais estudos para determinar a natureza causal exacta para o diferente risco entre
explorações deste tipo, nos quais se sugere o maneio zootécnico.
Palavras-Chave: Gado bovino leiteiro, patologias podais, claudicação, piso em cimento
ripado e liso
iv
Abstract
ABSTRACT
One of the three preponderant factors that influence the animal welfare on a dairy cattle
farm is the pavement. Floors very slippery or very abrasive are associated to a height number of
lameness cases, which affects the reproductive performance, milk rate and the udder health.
Amoung the variety of materials used to pave the areas for free circulation of the cattle in the
farms with free-stall system, the concrete is the most commonly used. It is a relatively cheap and
long life material that allows an appropriate hygienic quality. However it is very hard and it
becomes more slippery with the time. We can find farms with a solid concrete floor (smooth or
grooved), and another farms with slatted concrete floor.
This study goal is to search for the prevalence and risk of foot pathologies in two farms
with different floor types: solid concrete and slatted concrete. It was collected data,
retrospectively, about the state of health of the foot of the 131 cows in production/dry period,
obtained by collecting and crossing records of farmers, hoof trimmers and veterinarians over a
period of 2 consecutive months (November and December of 2009). Farms were chosen with a
similar genetic, feeding and hygienic management, to minimize the impact of these variables on
the results. In the farm with slatted concret floor (n=72) was observed 58.3% (42/72) of the cows
with digital lameness, while in the farm with solid concret floor (n=59) this value was 49.2%
(29/59; P>0.05). The prevalence of (inter)digital dermatitis, on slatted concret floor, was 51.4%
(37/72), and 89.8% (53/59; P<0.05) on solid concret floor. The prevalence of laminitic incident,
manifested in the form of sole ulcers, was 52.8% (38/72) and 49.2% (29/59; P>0.05),
respectively. It was concluded that there was similar lameness prevalence on both farms. The
factor type of floor doesn‟t seem to have influenced the type of the foot pathology, in the cases
of laminitic incident. However, it was observed a higher prevalence of (inter)digital dermatitis on
the farm with solid concret floor. Further studies are needed to determine the exact causal nature
of risk for different explorations of this type, the authors suggest zootécnic management.
Key-words: Dairy Cattle, foot pathologies, lameness, solid and slatted concrete floor.
v
Índice Geral
ÍNDICE GERAL
PARTE 1 – ASPECTOS RELEVANTES DAS CLAUDICAÇÕES EM
BOVINOS LEITEIROS
1.
As Claudicações de origem podal em gado bovino leiteiro ............................... 14
1.1. Introdução ........................................................................................................ 14
1.2. Incidência/Prevalência da Claudicação ............................................................. 15
1.3. Importância económica da Claudicação ............................................................ 17
1.4. Etiologia da Claudicação .................................................................................. 18
1.5. Diagnóstico de Claudicação em ruminantes ...................................................... 19
1.5.1. Equipamento para investigação de claudicação em bovinos ....................... 19
1.5.2. Anamnese e Exame de Estado Geral .......................................................... 20
1.5.3. Observação à distância ............................................................................... 20
1.5.4. Palpação .................................................................................................... 20
1.6. Patologias associadas a Claudicação em ruminantes ......................................... 21
1.6.1. Dermatite Digital ....................................................................................... 21
1.6.2. Dermatite Interdigital ................................................................................. 23
1.6.3. Erosão dos Talões ...................................................................................... 24
1.6.4. Necrobacilose (fleimão) interdigital ........................................................... 24
1.6.5. Hiperplasia dérmica interdigital ................................................................. 26
1.6.6. Úlceras da sola ........................................................................................... 26
1.6.7. Perfuração da sola por corpo estranho ........................................................ 27
1.6.8. Separação da linha branca e abcessos ......................................................... 28
1.6.9. Laminite .................................................................................................... 29
1.6.10. Outras patologias dos dígitos ..................................................................... 32
1.6.11. Fractura da falange distal ........................................................................... 32
1.7. Tratamento ....................................................................................................... 32
1.7.1. Banhos podais (pédilúvios) ........................................................................ 32
1.7.2. Aparo correctivo dos cascos....................................................................... 33
1.7.3. Acrílicos, resinas e tacos ortopédicos ......................................................... 34
2.
Comportamento do animal claudicante ............................................................ 35
3.
Bem-estar animal ............................................................................................... 37
3.1. O Conforto e a Vaca Claudicante ..................................................................... 38
4.
Infra-estruturas das explorações ....................................................................... 39
vi
Índice Geral
4.1. Legislação para explorações leiteiras ................................................................ 39
4.2. Tipo de alojamento ........................................................................................... 40
4.3. O piso da exploração ........................................................................................ 41
4.3.1. Influência do piso na Claudicação .............................................................. 42
4.3.2. Características dos diferentes pisos ............................................................ 43
4.3.2.1.
Cimento ............................................................................................. 43
4.3.2.2.
Gravilha, terra .................................................................................... 46
4.3.2.3.
Borracha............................................................................................. 46
4.3.2.4.
Palha .................................................................................................. 47
4.3.2.5.
Serrim ................................................................................................ 47
4.4. Corredores de passagem ................................................................................... 47
4.5. Camas .............................................................................................................. 48
4.5.1. Camas em areia.......................................................................................... 49
4.5.2. Camas com colchão ou tapete .................................................................... 49
4.5.3. Camas em palha, composto ou serrim ........................................................ 50
4.6. A influência das variáveis climatéricas nas condições da exploração, no
comportamento animal e na manifestação de claudicação ...................................................... 50
4.6.1. Humidade .................................................................................................. 50
4.6.2. Temperatura .............................................................................................. 51
PARTE 2- ESTUDO DA PREVALÊNCIA DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES PODAIS EM
EXPLORAÇÃO DE BOVINOS LEITEIROS COM PAVIMENTO DE CIMENTO
RIPADO VERSUS LISO
1.
Introdução .......................................................................................................... 53
2.
Material e Métodos ............................................................................................ 55
2.1. Explorações em estudo ..................................................................................... 55
2.1.1. Exploração A ............................................................................................. 55
2.1.2. Exploração B ............................................................................................. 55
2.2. Registo e recolha de dados ............................................................................... 56
2.3. Análise estatística ............................................................................................. 56
vii
Índice Geral
3.
Resultados .......................................................................................................... 57
4.
Discussão ............................................................................................................ 60
5.
Referências Bibliográficas ................................................................................. 65
6.
Anexos ................................................................................................................ 74
viii
Índice de Figuras e Tabelas
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Claudicação na exploração A e B. ................................................................. 57
Figura 2 – Fenómenos Laminiticos versus Dermatite (inter)digital na exploração A. ..... 57
Figura 3 - Distribuição das lesões por fenómenos laminíticos pelos Membros Anteriores,
Posteriores ou ambos na exploração A. ..................................................................................... 58
Figura 4 - Fenómenos Laminiticos versus Dermatite (inter)digital na exploração B. ...... 58
Figura 5 - Distribuição das lesões por fenómenos laminíticos pelos Membros Anteriores,
Posteriores ou ambos na exploração B....................................................................................... 59
Figura 6 - Produção leiteira média/dia/vaca de Dezembro de 2008 a Novembro de 2009
da A. ......................................................................................................................................... 75
Figura 7 - Produção leiteira média/dia/vaca de Dezembro de 2008 a Novembro de 2009
da exploração B. ....................................................................................................................... 75
Figura 8 e 9 - Exploração A, exemplo de piso em cimento ripado. ................................. 76
Figura 10 e 11 - Exploração B, exemplo de piso em cimento liso. ……………………..74
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 - Efectivo leiteiro da exploração A .................................................................. 74
Tabela 2 - Efectivo leiteiro da exploração B................................................................... 74
Tabela 3 - Inquérito epidemiológico para avaliação do grau e tipo de claudicação no
efectivo leiteiro ......................................................................................................................... 74
Tabela 4 - Inquérito ao maneio da higiene e produção na exploração leiteira.................. 75
ix
Lista de Acrónimos, Abreviaturas e Símbolos
LISTA DE ACRÓNIMOS, ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
ABLN – Associação para o apoio à Bovinicultura Leiteira do Norte
cm – Centímetro
cm2 – Centímetro quadrado
CN – Cabeça Normal
DL – Decreto-Lei
EFSA – European Food Safety Authority
E.U.A. – Estados Unidos da América
g – grama
ha – Hectare
kgm – Kilograma
L – Litro
m – Metro
m2 – Metro quadrado
min – Minuto
mL – Mililitro
nº – Número
UFAW – Universities Federation for Animal Welfare
χ² – Teste do qui-quadrado
®
– Marca registada
% – Percentagem
ºC – Grau Celsius
x
Agradecimentos
AGRADECIMENTOS
Este trabalho não teria sido possível sem a contribuição de várias pessoas e entidades,
que a título individual ou colectivo ajudaram à sua execução. Gostaria por isso de prestar os
meus mais sinceros agradecimentos:
Ao Professor Doutor João Simões que aceitou gentilmente orientar esta dissertação.
Pelo empenho, pela eficiência e entusiasmo que votou a este trabalho.
Ao Dr. Paulo Capelo (Mestre e amigo), excelente profissional e pessoa admirável. Por
todo o conhecimento e camaradagem. À sua esposa Dra. Regina, à Gorete e ao Dr. Ricardo
Borralheiro, que tão amavelmente me acolheram, alimentaram e ensinaram.
Ao Sr. António Campos, Sr. Carlos Padrão, irmãos Casanova e ao Victor Fonseca, que
gentilmente me cederam todas as informações necessárias à elaboração deste trabalho.
Mostrando a boa-vontade e simpatia características das gentes da região de Barcelos.
Ao Eng. António Martins pela disponibilidade.
À equipa do Hospital Militar de Equinos, ao Fábio e pessoal da Ferração do CMEFD,
em particular ao Mestre Pinto e ao Carriço, foi tanto o que me ensinaram, o que me aturaram!
Para sempre as saudades dos bons momentos na vossa companhia. Que tropa esta!
A todos os veterinários, enfermeiras, recepcionistas e estagiários do Three Counties
Equine Hospital, Marches Veterinary Group e ao Adrian, pela oportunidade fantástica,
acolhimento e aprendizagem. Por todas as canecas de chá e café entrecortadas de riso, conversa
animada e excêntrico humor inglês! Aos Russel e aos Evans, que me fizeram sentir em família
e que tão bem cuidaram de mim.
Aos meus colegas de curso, professores e Dr. Miguel Quaresma.
À minha avó Maria, que plantou no meu imaginário o amor ao campo bucólico e à
floresta repleta de lobos.
Aos meus Pais, eles que sempre acreditaram que os estudos são a melhor herança que
podem deixar aos filhos.
Ao meu Irmão, pela paciência infinita, pelas cúmplices brincadeiras e pelo seu humor
genial.
Ao “pequeno ser”, Tâmara, pela companhia nas madrugadas da tese.
À Tia Lena, incansável e corajosa. Cuja preocupação extremosa é inesgotável e é dona
de uma força admirável.
xi
Agradecimentos
À minha madrinha Tia Ção, com quem é sempre fácil conversar, porque sabe sempre
escutar e é a única que sabe que eu adoro bombons.
À Ana Cristina, Ana Rita e Maria Amélia, as minhas 3 meninas lindas, muito obrigada
pelos anos naquela casa, pelas gargalhadas, pelos lanches na Serrana, pelos serões de estudo
que vocês tornaram menos penosos. Por todo o vosso cuidado e disposição para comigo!
À Catarina Silva, que tem sempre histórias do “arco da velha”, e que me lembra a toda
a hora o quanto eu mereço aproveitar a vida. Por todos os bons conselhos e amizade!
À Carla, à Marlene e ao Válter, por tantos jantares, passeios, filmes e agradáveis
tretulias.
À Ana da Sebenta, porque conhece bem o quanto eu sou despistada!
À Cristiana, à Maité e à Raquel, porque tive muita sorte em morar com vocês, por todo
o carinho e conforto e porque são exemplos de postura frente à vida.
Á Vanessa, por todos os anos que já se passaram e pela nossa amizade que se mantém!
Ao Tutra e a todos os que por ali passaram durante 5 anos, em especial à Martinha, ao
Rafael, à Raquel, ao Ricardo, à Rosemary, ao Tiago, ao TóBé e ao Lobo. Obrigada por me
terem tirado os apontamentos das mãos, por me terem preenchido dias de ensaios e noites de
palco e luz. Obrigado por terem dado corda ao meu relógio, para que ele nunca pare.
A Vila Real, cidade encantadora bordada por sobre os penhascos do Corgo.
A tantos outros que passaram na minha vida, ao longo destes 6 anos, que trouxeram ou
levaram algo.
Muito obrigada por tudo.
xii
PARTE 1
ASPECTOS RELEVANTES DAS CLAUDICAÇÕES
EM BOVINOS LEITEIROS
xiii
Parte 1
1. AS CLAUDICAÇÕES DE ORIGEM PODAL EM GADO BOVINO
LEITEIRO
1.1. Introdução
Claudicação é o termo utilizado para descrever uma condição na qual o animal está
incapaz de se locomover normalmente. Caracteriza-se pela incapacidade de manutenção da
marcha normal, manifestada por assimetria no movimento, aparente descoordenação ou fraqueza
e movimentação ineficiente dos membros (Eggleston e Maas, 2009), devido a lesão ou outra
doença numa parte do membro ou do tronco (Phillips, 2010). O início da claudicação pode ter
decurso agudo, como ocorre em caso de fractura; crónico, por exemplo em doença articular
degenerativa; ou ainda decurso agudo em lesão crónica (fractura secundária à fractura por
stresse) (Eggleston e Maas, 2009). Não é apenas uma das doenças de maiores custos na indústria
leiteira, mas também causa dor significativa e mal-estar para muitas vacas (Rutherford et al.,
2009; Phillips, 2010; Tadich et al., 2010).
Afecta sobretudo vacas de leite (Rama, 2006; Frankena et al., 2009; Phillips, 2010),
ocorrendo maioritariamente no membro posterior, especialmente na unha lateral (Phillips, 2010;
Tadich et al., 2010). É um problema que tem aumentado desde que as indústrias leiteiras se têm
intensificado em diversos países (Phillips, 2010). O desconforto e dor associados à claudicação
podem sistematicamente debilitar o maneio da exploração leiteira através dos seus efeitos no
comportamento alimentar, actividade física e descanso (Cook e Nordlund, 2009; Frankena et al.,
2009; Rutherford et al., 2009). Nenhuma outra doença tem tais efeitos fundamentais e extensos
no desempenho da exploração, resultando em significativas perdas na produção, tais como perda
de condição corporal e produção leiteira (UFAW, 1994; Penkava et al., 2008; Cook e Nordlund,
2009; Phillips, 2010) um impacto negativo no desempenho reprodutivo e um risco aumentado de
refugo precoce com aumento da taxa de abate (UFAW, 1994; Mülling et al., 2006; Araújo e Vaz,
2007; Cook e Nordlund, 2009; Phillips, 2010). A claudicação é um distúrbio persistente no
tempo, a maioria dos animais permanecem nesta condição por 4 meses (Frankena et al., 2009).
A claudicação representa o sinal de uma enorme variedade de problemas subjacentes,
embora a maioria seja causada por problemas podais (UFAW, 1994; Frankena et al., 2009).
Trata-se de um número de diferentes alterações, entre as mais comuns encontram-se as úlceras
da sola, doença da linha branca, laminite, dermatite digital, e infecções interdigitais (Barker et
al., 2006; Phillips, 2010).
14
Parte 1
O conforto físico, relacionado com as superfícies de decúbito e estação, ao qual a vaca
está sujeita, influência significativamente a taxa de claudicações (Cook e Nordlund, 2009;
Rutherford et al., 2009). Um tempo diário de decúbito reduzido, o aumento consequente do
tempo total de estação em pavimentos duros e a deambulação da vaca ao longo de trilhos ásperos
e enlameados, aparentam todos eles ter efeitos negativos na claudicação (Bielfeldt et al., 2004;
Somers et al., 2005; Barker et al., 2006; Mülling et al., 2006; Cook, 2008). Sendo estes os
principais factores que conduzem a diferenças na prevalência de claudicação a nível da manada
(Cook e Nordlund, 2009).
Esta revisão teve como principal objectivo descrever as patologias de origem podal mais
relevantes e tratamentos mais comummente utilizados. Abordar os riscos extrínsecos de
claudicação relacionados com as infra-estruturas das explorações, com principal destaque para a
qualidade e materiais dos pisos.
1.2. Incidência/Prevalência da Claudicação
Aproximadamente 20% das vacas leiteiras em regime de maneio intensivo a nível
mundial apresentam claudicação (Bielfeldt et al., 2004; Cook e Nordlund, 2009; Phillips, 2010).
Em cada ano surgem 30 a 50% de novos casos de claudicação (Mülling e Greenough,
2006; Frankena et al., 2009; Phillips, 2010). Estes valores estão particularmente relacionados
com vacas de alto rendimento e condições de alojamento dos animais. Nos anos 50 (século
passado) quando as vacas leiteiras estavam instaladas individualmente em baias e eram
alimentadas sobretudo à base de forragem, com apenas uma pequena quantidade de concentrado,
a incidência era usualmente menor que 5% de vacas por ano (Phillips, 2010). Qualquer
exploração com uma incidência anual acima dos 15% considera-se ter um problema de
claudicação, o que requer uma investigação apurada das suas causas (Weaver et al., 2005).
O sistema de pastoreio regista os menores valores de prevalência de doenças podais,
comparativamente com os outros sistemas de produção (Rutherford et al., 2009). Haskell et al.
(2006), relataram uma prevalência de claudicação de 17% em explorações com sistema de
estabulação livre (free stall) cujo gado, em parte do tempo, tem acesso a pastoreio. Já em
explorações free stall nas quais os animais aí permanecem todo o ano, os mesmos autores
referem uma prevalência de 39%. Haskell et al. (2006), verificaram haver maiores percentagens
de vacas claudicantes em cubículos do que em pavilhões com área de repouso comum com
palha.
15
Parte 1
Nos sistemas intensivos, comuns na Europa ocidental e América do Norte, 95% do gado
que claudica pertence a raças leiteiras, 72% - 80% dos casos envolvem exclusivamente os dígitos
(Weaver et al., 2005; Frankena et al., 2009), sendo que 80% da claudicação com origem podal
está localizada nos membros posteriores (Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al., 2005; Tadich
et al., 2010). Em 50% da claudicação com origem nos dígitos o tecido córneo está envolvido e
em 50% a pele, que na maior parte das vezes se traduz em dermatite digital. Por outro lado, 70%
das lesões nos tecidos do casco, tecidos córneos, envolvem a unha lateral (Weaver et al., 2005),
92% de acordo com Frankena et al. (2009). Segundo Universities Federation for Animal
Welfare, UFAW, em 1994 essa percentagem seria de 90% (UFAW, 1994).
No ciclo reprodutivo/fisiológico, o intervalo de incidência máxima de claudicação
encontra-se no início do período de lactação (Weaver et al., 2005; Boyle et al., 2007). Vacas de
alto rendimento produtivo têm maior predisposição, ou seja, risco elevado de evidenciarem
problemas de claudicação (Bielfeldt et al., 2004; Weaver et al., 2005; Rutherford et al., 2009),
este facto é contestado por Haskell et al. (2006). Vacas que sofrem de claudicação na primeira
lactação são mais susceptíveis a episódios de claudicação nas lactações seguintes (Cook e
Nordlund, 2009). Há um risco aumentado de claudicação com o aumento do nº de lactações
(Bielfeldt et al., 2004; Haskell et al., 2006; Mülling et al., 2006; Rutherford et al., 2009).
Os problemas de claudicação estão geralmente associados aos meses de Inverno (UFAW,
1994). Por exemplo na Europa as lesões da dermatite digital manifestam-se de forma mais grave
no Inverno (Weaver et al., 2005; Berry, 2009). Ocorrendo mais casos de claudicação nas
estações mais chuvosas (Rama, 2006). A prevalência da claudicação é mais elevada na
Primavera do que no Outono, o que reflecte o período de alojamento durante o Inverno
(Rutherford et al., 2009).
Actualmente no Reino Unido os três maiores problemas na claudicação digital, com taxas
de incidência bastante semelhantes, são a dermatite digital, úlcera da sola e doença da linha
branca. Os últimos dois estão por vezes relacionados com um prévio incidente de laminite
(Weaver et al., 2005; Barker et al., 2006). Causas infecciosas de claudicação, particularmente
dermatite digital, têm emergido como grandes problemas na indústria leiteira (Somers et al.,
2005; Cook e Nordlund, 2009). A incidência de úlceras da sola, doença da linha branca (doenças
geralmente relacionadas com as laminites) e dermatite digital são influenciadas, entre outros
factores, pelo tipo de piso; afectando a performance reprodutiva, a produção leiteira e a saúde do
úbere (Barker et al., 2006; Rodriguez-Martinez et al., 2008; Telezhenko et al., 2008).
16
Parte 1
É necessário cuidado ao interpretar todos estes valores, visto que têm sido usados
diferentes métodos de recolha, registo e tratamento dos resultados, tornando assim difícil
determinar rigorosamente o aumento da claudicação ao longo do tempo. Antigamente os estudos
baseavam-se apenas nos registos do Médico Veterinário, mais recentemente têm sido usados os
registos do aparador, do agricultor ou pessoal encarregue da exploração e de investigadores.
Apesar dos métodos de registo mais apurados, apenas se pode concluir que a claudicação é
actualmente um problema extremamente sério na indústria leiteira (Phillips, 2010).
1.3. Importância económica da Claudicação
Para Weaver et al. (2005) e Frankena et al. (2009) apenas a infertilidade e as mastites
causam maiores perdas económicas do que a claudicação na maioria das unidades leiteiras
intensivas na Europa ocidental e norte da América. Isto porque os animais afectados perdem
peso rapidamente, a produção decai, afectando a fertilidade em casos mais prolongados. Há o
aumento da taxa de abate e consideráveis quantias de dinheiro são gastas em tratamento e aparo
correctivo de casco (Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al., 2005; Rutherford et al., 2009;
Phillips, 2010; Tadich et al., 2010).
Uma estimativa feita no Reino Unido em 2004 apontava para perdas devido à claudicação
na ordem dos £100 milhões (€113,5 milhões). Em países em desenvolvimento as doenças
infecciosas e da nutrição são mais importantes economicamente. O custo directo de cada caso de
claudicação é cerca de £150 (€170,3) (Weaver et al., 2005), mas se factores como um intervalo
de parto prolongado, custos de substituição e perdas no abate forem acrescentados, o valor pode
alcançar £200 (€227,1) (Rama, 2006) a £300 (€340,6) por cada vaca a claudicar (valores
aplicáveis ao Reino Unido). As perdas são similares nos EUA (Weaver et al., 2005).
Uma das maiores perdas resulta de uma taxa de produção leiteira reduzida (Penkava et
al., 2008). Acrescentando-se o desperdício do leite com resíduos de antibióticos durante o
período de tratamento. O período de incidência máxima (início do período de lactação) resulta
em perdas económicas mais avultadas do que a claudicação que ocorre no meio ou no final da
lactação (Weaver et al., 2005; Archer et al., 2010).
Verifica-se uma menor ingestão de alimento (Penkava et al., 2008; Rutherford et al.,
2009) com consequente perda de peso, que pode ser à volta dos 10%, ou, em vacas
eventualmente debilitadas devido a uma deterioração contínua e fraca produção, pode atingir os
25% (Weaver et al., 2005).
17
Parte 1
Somam-se ainda os custos com substituições, mortes e venda. São vendidas para abate
como vacas claudicantes, no Reino Unido, cerca de 2-4% anualmente. No entanto as vacas que
claudicam são muitas vezes acometidas também de mastites, e metrites que conduzem a
infertilidade e refugo consequente (Mülling et al., 2006; EFSA, 2009). Os custos de substituição
das vacas refugadas são consideráveis (Weaver et al., 2005; Mülling et al., 2006; Araújo e Vaz,
2007).
A Infertilidade e o intervalo entre partos prolongado, atribuída à claudicação, resultam
devido à falha na detecção do estro, vacas muitas vezes deitadas, relutantes ou incapazes de
montar as outras vacas (Weaver et al., 2005; Zemljic e Pocehova, 2008); ou atraso no retorno ao
estro, anestro, condição corporal fraca no pós-parto, balanço energético negativo; metrite
concorrente. Estas perdas são subtis, e muitas vezes não são devidamente avaliadas pelo
produtor, contudo são a maior fonte de perda económica (Weaver et al., 2005).
Custos com o veterinário e fármacos constituem uma pequena porção dos custos totais.
Os custos laborais adicionais, muitas vezes ignorados, são altos, já que o tratamento
habitualmente envolve 2 ou 3 pessoas, e cada caso requer alguns minutos de atenção diários, ou
seja tempo adicional de trabalho (Weaver et al., 2005; Mülling et al., 2006; Araújo e Vaz, 2007).
1.4. Etiologia da Claudicação
Existem muitos factores etiológicos, intrínsecos e extrínsecos ao animal, envolvidos na
origem da Claudicação (Rama, 2006; Frankena et al., 2009; Rutherford et al., 2009), incluindo
tempo de estação muito prolongado, especialmente em superfícies ásperas e duras; cascos
continuamente molhados em lama corrosiva (condições ambientais); e dietas com muito
alimento concentrado/baixo teor em fibra, que podem precipitar acidoses ruminais crónicas e
subsequentemente laminites; genética (conformação do casco e sua relação com a massa
corporal do animal); comportamento animal e factores humanos (condução apressada do gado
em superfícies escorregadias ou traumáticas) (Mülling et al., 2006; Mülling e Greenough, 2006;
Rama, 2006; EFSA, 2009).
São considerados quatro os factores desencadeantes principais no desenvolvimento de
lesões na unha. O primeiro de todos é a nutrição; esta permanece como um importante factor,
quer seja pela manutenção da qualidade do casco através de oligoelementos e vitaminas como o
zinco e a biotina, ou, associada à acidose ruminal crónica (Mülling et al., 2006; Cook e
Nordlund, 2009); o maior risco está relacionado com dietas desequilibradas e a alimentação de
transição (EFSA, 2009). Como segundo factor podemos referir as variações hormonais no
18
Parte 1
momento do parto que aparentam estar associadas a alterações não-inflamatórias no tecido
conjuntivo do corium que comprometem a resistência do pé ao stresse externo, mediado através
da activação de gelatinoproteases (Mülling et al., 2006; Boyle et al., 2007; Cook e Nordlund,
2009). O traumatismo externo é o terceiro factor desencadeante e pode resultar em lesões
traumáticas para a unha ou adelgaçamento da sola devido a desgaste excessivo (Rama, 2006;
Cook e Nordlund, 2009). Finalmente agentes infecciosos, tais como Fusobacterium
necrophorum (presente na dermatite e fleimão interdigital) e várias espécies de Treponema (na
dermatite digital) têm sido associados a lesões infecciosas das unhas (Cook e Nordlund, 2009).
Estes factores desencadeantes tornam a unha mais susceptível ao desenvolvimento de
lesões e claudicação subsequente. Contudo, o conforto e higiene da vaca têm um papel muito
importante a desempenhar na exacerbação dos danos causados à estrutura da unha e na gravidade
da lesão (Hinterhofer et al., 2006; Mülling et al., 2006; Cook e Nordlund, 2009). O painel da
EFSA (2009) considerou que a probabilidade de risco atribuído à nutrição e alimentação são
baixos relativamente aos atribuídos às instalações e maneio.
1.5. Diagnóstico de Claudicação em ruminantes
Ao contrário de equinos, os testes de flexão e bloqueio de nervos não são usados
rotineiramente para o diagnóstico de claudicação em bovinos, contudo podem ser úteis em
determinadas situações. As radiografias não são necessárias na maioria dos casos. O exame do
líquido sinovial obtido por artrocentese pode ser útil para identificar uma artrite séptica
(Eggleston e Maas, 2009). As diversas patologias que originam sinais de claudicação podem ser
distinguidas clinicamente (uma vaca a claudicar) e a nível sub-clínico (alterações identificadas
durante o aparo de cascos) (Bielfeldt et al., 2004).
1.5.1. Equipamento para investigação de claudicação em bovinos
Para um correcto exame dos animais e segurança do examinador são necessárias
facilidades para uma boa contenção física e elevação do membro anterior ou posterior,
idealmente um tronco de contenção propositadamente construído para trabalhar os cascos. Uma
boa fonte de luz, água, cordas, escovas, balde, mangueira, faca de casco para mão esquerda e
direita, cortadores de casco de dupla acção, raspadores de casco, pinça de cascos, sonda
canelada, amolador de grande escala (Weaver et al., 2005).
19
Parte 1
1.5.2. Anamnese e Exame de Estado Geral
O primeiro passo de um diagnóstico correcto para a causa da claudicação passa por uma
anamnese acurada. O início e a duração dos sinais, se mais animais na mesma propriedade
apresentam sinais clínicos semelhantes, podem ser questões importantes para o diagnóstico. É
útil examinar o ambiente e descobrir de que forma o animal pode ter sofrido traumatismo ou
lesão. Deve ser determinada qualquer evidência de doença sistémica manifestada por febre,
anorexia ou depressão (Eggleston e Maas, 2009).
1.5.3. Observação à distância
Deve-se proceder à observação dos animais em estação de forma a avaliar a postura,
posicionamento e comparar a simetria entre membros. Dor na região da pinça pode-se traduzir
num afastamento craneal do membro para que os talões suportem o peso. Em seguida deve
avaliar-se o animal em movimento. Isto permite identificar e classificar a claudicação, o que
passa por identificar o membro afectado, determinar se a claudicação se dá no membro em
suporte ou em elevação, atribuir-lhe um grau, se está associada a dor ou se é somente de origem
mecânica (Eggleston e Maas, 2009).
São várias as escalas numéricas existentes para classificar a gravidade da claudicação.
Trata-se de uma prática ferramenta de pesquisa e monitorização da claudicação a nível individual
ou do efectivo. Uma classificação de rotina permite identificar animais a serem tratados, é uma
base para a estimativa da prevalência de vacas claudicantes (Tadich et al., 2010). Uma das
escalas usadas habitualmente é a de 5 pontos: 1- locomoção perfeita; 2- algum grau de
anormalidade
nos andamentos; 3-
claudicação
moderada,
suave,
não
afectando
o
comportamento; 4- claudicação óbvia, afectando o comportamento (costas arqueadas); 5dificuldade em se levantar e andar, costas em arco acentuado (Bielfeldt et al., 2004; Phillips,
2010). Existindo uma versão mais simples e adequada: 0- não claudicante, 1- claudicação leve,
2- claudicação moderada e 3- claudicação grave/vaca em decúbito (Weaver et al., 2005),
Rutherford et al. (2009) usam esta classificação contudo consideram 1 a 4 ao invés de 0 a 3.
1.5.4. Palpação
A componente mais importante do exame de claudicação em ruminantes é a análise dos
cascos. Deve examinar-se atentamente a região entre as unhas, em redor do bordo coronário e a
parede da muralha. A sola deve ser aparada para se identificar pontos de drenagem ou colorações
anormais. O Uso da pinça de cascos permite exacerbar zonas dolorosas. O membro deve ser
palpado para detectar tumefacção, calor ou sensibilidade, o que pode indicar inflamação devido a
20
Parte 1
infecção ou traumatismo dos tecidos moles. Crepitação aquando a manipulação do membro
remete para possível fractura ou deslocamento. É necessário avaliar a rigidez ou dor na flexão
articular (Eggleston e Maas, 2009).
1.6. Patologias associadas a Claudicação em ruminantes
Infecções sistémicas tais como Febre Aftosa e Clostridiose; condições metabólicas como
Cetose e Hipomagnesiemia; bem como doenças nutricionais, caso da Hipovitaminose E; não
foram consideradas nesta revisão, embora estas possam originar sinais de claudicação (Weaver et
al., 2005). Esta selecção de doenças podais do gado está baseada na nomenclatura internacional
aceite (10 patologias distintas). Não pretende ser exaustiva, mas demonstra a importância do
maneio ambiental, nutricional e genético na exploração de gado no desenvolvimento de um
sistema de maneio saudável e sustentável (Phillips, 2010).
O membro distal do gado bovino serve como interface entre o animal e o seu ambiente. O
casco está exposto, internamente, às influências do metabolismo do animal e ao mesmo tempo
está exposto ao impacto mecânico, químico e biológico de factores ambientais (Mülling e
Greenough, 2006).
1.6.1. Dermatite Digital
A Dermatite Digital, também denominada dermatite digital papilomatosa (Weaver et al.,
2005; Zemljic e Pocehova, 2008; Berry, 2009), é uma dermatite superficial infecciosa e
contagiosa da pele digital dos bovinos que emergiu somente há algumas décadas (1º caso
descrito em Itália em 1974 e nos EUA em 1980, segundo Laven e Logue (2006) e Berry (2009),
mas que rapidamente se tem tornado uma das maiores causas de claudicação em vacas leiteiras
estabuladas em regime de produção intensivo (Weaver et al., 2005; Laven e Logue, 2006;
Zemljic e Pocehova, 2008; Berry, 2009; Phillips, 2010). Disseminada por muitas vacarias
leiteiras na Europa ocidental e América do norte (Weaver et al., 2005). Se a prevalência se
encontra acima dos 10% teremos problemas com a produtividade da exploração, taxa de
fertilidade, estado de saúde dos animais e taxa de refugo (Zemljic e Pocehova, 2008).
É causada por vários microorganismos anaeróbios obrigatórios, geralmente espiroquetas
do género Treponema (Laven e Logue, 2006; Berry, 2009; Cook e Nordlund, 2009; Frankena et
al., 2009), embora não se conheçam relatos de inoculação bem sucedida experimental da derme
interdigital com os patogeneos em estado puro (Cook e Nordlund, 2009), podem estar presentes
outros organismos incluindo Borrelia burgdorferi, Dichelobacter nodosus e Campylobacter spp.
(Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al., 2005; Laven e Logue, 2006; Phillips, 2010). Apesar de
21
Parte 1
as lesões apresentarem semelhanças macroscópicas e histológicas com os papilomas virais, a
presença do vírus nunca foi identificada (Berry, 2009). A patogénese da dermatite digital não
está somente dependente da exposição ao agente causador (Cook e Nordlund, 2009), aparentam
ser pré-requisitos para a infecção condições de humidade elevada (Blowey e Weaver, 2003;
Berry, 2009; Cook e Nordlund, 2009; Phillips, 2010), e baixa tensão de oxigénio, juntamente
com susceptibilidade genética e imunológica (Berry, 2009; Cook e Nordlund, 2009), sendo
especulativo o papel do microtrauma da pele como porta de entrada de microorganismos
(Weaver et al., 2005). É altamente contagioso se não tratado (Weaver et al., 2005; Laven e
Logue, 2006; Phillips, 2010), afectando gado adulto e causando claudicação em grau variável de
1 a 3/5 e não relacionado com a maturidade ou tamanho da lesão, é mais grave nos meses de
Inverno na Europa (Weaver et al., 2005; Berry, 2009). Manifesta-se por uma lesão dérmica
dolorosa, habitualmente na face plantar, pele adjacente ao casco dos talões, entre os bulbos dos
talões e espaço interdigital, e envolvendo o bordo coronário total ou parcialmente (Blowey e
Weaver, 2003; Weaver et al., 2005; Berry, 2009; Phillips, 2010; Tadich et al., 2010). Pode ser
introduzido, em explorações livres deste agente, a partir de novilhas assintomáticas ou material
de aparo de cascos não correctamente higienizado, que actue como fomite (Mülling et al., 2006;
Berry, 2009; Rutherford et al., 2009). O diagnóstico diferencial faz-se com a dermatite
interdigital, eczema plantar, erosão do casco dos talões, contudo as lesões são quase sempre
inconfundíveis (Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al., 2005).
O tratamento passa por lavar a zona afectada com água, aplicar antibiótico tópico sob a
forma de aerossol, diariamente durante 3 a 5 dias. Responde muito bem ao tratamento com
antibióticos tópicos, tais como oxitetraciclinas, eritromicina, tilosina e lincomicina (Blowey e
Weaver, 2003; Laven e Logue, 2006; Zemljic e Pocehova, 2008; Berry, 2009; Phillips, 2010).
Contudo apresenta alta taxa de recorrência, vacina em estudo (Berry et al., 2004). Massas
proliferativas de dimensão considerável devem ser desbridadas cirurgicamente, a nível
epidérmico, sob anestesia local. (Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al., 2005). São usados
normalmente banhos podais (pédilúvios), tanto a nível terapêutico como preventivo (Laven e
Logue, 2006; Zemljic e Pocehova, 2008; Phillips, 2010). É útil colocar em isolamento, durante 2
a 3 semanas, as novas novilhas na exploração de forma a investigar a presença de dermatite
digital, tratando ou abatendo os casos de animais afectados. Deve desinfectar-se todos os
instrumentos de aparo de cascos após se trabalhar numa exploração afectada, bem como veículos
de transporte (Weaver et al., 2005; Mülling et al., 2006; Berry, 2009). A humidade constante e a
baixa tensão de oxigénio estão presentes nas instalações de gado leiteiro confinado,
22
Parte 1
principalmente quando a extracção dos excrementos e a higiene não são eficazes. Um maneio
deficiente das camas exacerbará o problema por forçar a vaca a permanecer em estação no
material orgânico húmido por períodos mais prolongados (Berry, 2009). Pelo que o
melhoramento dos locais de passagem e sua limpeza, o fornecimento de cama confortável e seca,
a redução do número de animais no estábulo, a melhoria do sistema de ventilação, com o
objectivo de diminuir a humidade nos corredores e camas, pode resultar na diminuição da
incidência e gravidade dos casos clínicos (Zemljic e Pocehova, 2008; Berry, 2009; Phillips,
2010).
Muitos consideram que a dermatite interdigital e a erosão dos talões apresentam a mesma
etiologia da dermatite digital, visto que um dos organismos mais comummente isolados em
ambas as patologias é Bacteroides nodosus (Dichelobacter nodosus). A erosão dos bulbos dos
talões causada por esta bactéria muitas vezes está presente em todos os animais mais velhos da
exploração, não sendo por si só causa de claudicação, contudo predispõe a outras patologias no
casco e pode ser considerada parte da condição geral do membro distal causado pelo sistema de
maneio adoptado actualmente para alta produção (Mülling et al., 2006; Phillips, 2010).
1.6.2. Dermatite Interdigital
É uma inflamação superficial confinada à epiderme interdigital, sem que haja extensão
aos tecidos mais profundos (Blowey e Weaver, 2003; Berry, 2009; Tadich et al., 2010).
Encontra-se espalhada em certos sistemas de alojamento com deficiente drenagem e climas
húmidos (Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al., 2005), afectando todos os grupos etários. O
Fusobacterium necrophorum está presente associado a Dichelobacter nodosus em algumas
áreas. A claudicação pode ser leve ou inexistente. Deve-se a uma moderada irritação crónica, em
condições húmidas, onde a infecção bacteriana é importante e significativa. Ocorrendo uma
dermatite caracterizada por infiltrado de células polimorfonucleares na estrutura dérmica
lesionada pela
invasão bacteriana da camada germinativa. Segue-se eventualmente
hiperqueratose e paraqueratose. A desintegração da epiderme pode-se espalhar para os talões
com contusão do corium e ulceração secundária. (Weaver et al., 2005; Berry, 2009).
Diagnósticos diferenciais com fleimão interdigital, erosão dos talões e dermatite digital
(Weaver et al., 2005).
Como forma de tratamento desbrida-se o tecido mole do casco afectado, e se apenas
houver um caso grave na exploração aplicar spray de oxitetraciclina ou sulfato de cobre. Em
casos múltiplos recorrer a banhos podais de formol ou sulfato de cobre diluídos. Aparar
regularmente o casco.
Providenciar condições de baixa humidade no alojamento.
23
Parte 1
Profilaticamente deve assegurar-se condições de reduzida humidade, aparo rotineiro dos cascos e
pédilúvios regulares (Weaver et al., 2005).
A relação entre a dermatite interdigital e a dermatite digital é bastante contestada.
(Weaver et al., 2005). Vários investigadores consideram que ambas são formas do mesmo
complexo patológico (Blowey e Weaver, 2003; Mülling et al., 2006; Berry, 2009; Phillips;
2010).
1.6.3. Erosão dos Talões
Apelidado de “Talões de Lama”, esta condição implica inflamação na zona interdigital e
perda irregular do tecido córneo dos bulbos (Somers et al., 2005; Weaver et al., 2005; Tadich et
al., 2010) afectando, geralmente, de forma mais grave os dígitos dos membros posteriores.
Afecta tanto jovens como adultos e está mais associada aos meses de Inverno e gado alojado,
desaparecendo no pasto. O ambiente húmido e longo tempo de exposição à lama predispõem a
este problema, causando irritação crónica e promovendo infecção bacteriana (Dichelobacter
nodosus e Fusobacterium necrohorum). É possível sequela da dermatite interdigital ou causa da
mesma (Somers et al., 2005; Weaver et al., 2005; Mülling et al., 2006; Frankena et al., 2009;
Tadich et al., 2010). Provoca uma claudicação leve ou não evidente, excepto quando há
formação crónica de fendas profundas, o que pode danificar o corium. A perda de casco (erosão
da parede) junto aos talões faz com que o pé se incline mais para trás e predispõem ao
surgimento de úlcera solear. Tratamento: alojar os animais num local seco, aplicar spray de
oxitetraciclina, retirar o casco afectado, banhos podais de formol (Somers et al., 2005), espalhar
cal nos cubículos (Weaver et al., 2005).
1.6.4. Necrobacilose (fleimão) interdigital
Conhecida também como pododermatite interdigital (Weaver et al., 2005), podridão do
pé ou fleimão, esta doença é causada devido a microtrauma interdigital seguido da infecção pelo
Fusobacterium necrophorum (UFAW, 1994; Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al., 2005;
Janke, 2009; Phillips, 2010) e outro organismo Gram-negativo, Bacteroides melaninogenicus,
actuando sinergicamente (Weaver et al., 2005; Janke, 2009), habitantes ubiquitários da
exploração. O Fusobacterium necrophorum pode sobreviver no solo por 10 meses (Phillips,
2010). Esta bactéria penetra nos tecidos da pele interdigital apenas se houver lesões na mesma,
causando inflamação aguda nos tecidos subcutâneos do espaço interdigital e bordo coronário
adjacente, provocando celulite e necrose da pele interdigital com posterior formação de fissuras
na mesma, desenvolvendo-se tecido de granulação. Casos em estado avançado podem progredir
24
Parte 1
para artrite digital séptica e outras complicações (Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al., 2005;
Phillips, 2010).
O curso da doença, no caso de superfoul, (uma forma hiperaguda que tem sido
encontrada em alguns países recentemente) é muito mais rápido. O animal pode ter de ser
abatido em 48 a 72 horas após manifestar os primeiros sinais, devido às alterações destrutivas
extensas (Weaver et al., 2005).
Os sinais clínicos passam por uma fase inicial de tumefacção e hiperémia interdigital
pronunciada e bastante dolorosa que se pode alastrar proximalmente envolvendo por vezes os
dígitos acessórios (Blowey e Weaver, 2003; Janke, 2009; Tadich et al., 2010), separação das
duas unhas devido ao edema interdigital e cheiro putrefacto característico. Num estado mais
avançado (ao 2-3º dia) encontramos a pele interdigital fendida, expondo a derme e possível
exsudado caseoso. Com claudicação aguda podendo variar de leve a grave e afectando todas as
idades (Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al., 2005; Janke, 2009; Phillips, 2010), sendo uma
forma frequente de claudicação digital (15%) mas de menor importância económica desde
meados de 1980 (Weaver et al., 2005). Ocorre durante todo o ano, mas sobretudo nos meses
chuvosos (Janke, 2009).
O diagnóstico diferencial passa pela presença de corpo estranho a nível interdigital ou
solear, laminite aguda, dermatite interdigital grave (Blowey e Weaver, 2003), alterações
interdigitais devido a Diarreia Vírica Bovina/ Doença das Mucosas, Febre Aftosa, artrite
interfalangica distal séptica, fractura falangica distal (Weaver et al., 2005).
O tratamento passa pela administração sistémica de antibióticos, tais como ceftiofur,
ampicilina, oxitetraciclina (LA), penicilina, sulfonamidas (ex. trimetropim-sulfa). Com limpeza
da área necrótica afectada com desinfectante e aplicação tópica de oxitetraciclina, sulfato de
cobre ou pomada com subnitrato de bismuto, iodopolvidona e petrolatum. Não se deve colocar
penso sob as lesões. Alojar o animal em piso seco ou cama de palha, preferivelmente em
isolamento de forma a evitar o contágio. Limpeza diária com desinfectante se possível (Janke,
2009; Phillips, 2010). No caso de superfoul numa fase inicial consegue-se uma boa resposta com
6g de oxitetraciclina IM, e nos mais avançados tilosina. Desbridamento local cauteloso sob
anestesia local e um tratamento curativo com antibiótico local. O isolamento é importante
(Weaver et al., 2005).
Como profilaxia: verificar e melhorar a drenagem em áreas onde se pode dar traumatismo
interdigital, melhorar a condição de pés enxutos (pátio de palha) e aumentar a frequência das
passagens do raspador que remove a lama das passagens. Banhos podais (Phillips, 2010) de
25
Parte 1
sulfato de zinco (5 – 10%), sulfato de cobre (5%) ou formol (4%). Aditivos alimentares
antibacterianos: sulfabromometazina ou dihidroiodido de etilenediamina, embora os resultados
sejam discutíveis. Cal espalhada nos trajectos enlameados e à volta dos bebedouros (Weaver et
al., 2005; Janke, 2009).
1.6.5. Hiperplasia dérmica interdigital
Granuloma interdigital, dermatite interdigital vegetativa, fibroma (Blowey e Weaver,
2003), trata-se de uma reacção proliferativa da pele interdigital e/ou tecidos subcutâneos
formando uma massa firme. Esta hiperplasia pode apresentar ulceração secundária, com grau
variável de hiperqueratose (Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al., 2005; Cramer et al., 2009;
Tadich et al., 2010). Geralmente é esporádica e bilateral, comum em certas raças de carne, tal
como Hereford e bois em Centros de Inseminação Artificial (Blowey e Weaver, 2003; Weaver et
al., 2005). Ocasionalmente é secundária a lesões interdigitais ou ulceração da sola em vacas
leiteiras, sendo nestas circunstâncias unilateral. A maior parte dos casos clínicos que apresentam
claudicação, ocorrem em adultos, esta dá-se quando o animal caminha e pressiona a massa
(Blowey e Weaver, 2003). É hereditária em certas raças, tais como Hereford e Holstein Friesian
(Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al., 2005). Associado frequentemente a má conformação do
casco, dedos virados para fora com um espaço interdigital largo. Diagnóstico diferencial com
corpo estranho interdigital, necrobacilose interdigital, dermatite digital. Apenas se faz tratamento
quando causa claudicação, recorre-se então a cáusticos locais tais como nitrato de prata e sulfato
de cobre. Alguns casos clínicos podem mesmo requerer cirurgia para excisão da massa (Blowey
e Weaver, 2003), através da eletrocauterização ou criocirurgia sob anestesia intravenosa
regional, com aplicação de sulfadimidina. Remoção do curativo uma semana após cirurgia
(Weaver et al., 2005).
1.6.6. Úlceras da sola
Ulceração solear, perda circunscrita do tecido córneo da sola expondo a pododerme
(tecidos profundos sensitivos) é caracterizada frequentemente por um defeito erosivo localizado
tipicamente na junção da sola com os talões na unha lateral do membro posterior (Weaver et al.,
2005; Phillips, 2010; Tadich et al., 2010), bilateral (Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al.,
2005). Tem uma incidência elevada, cerca de 40% dos casos de claudicação digital, generalizada
nas raças leiteiras afectando tanto jovens como adultos de boa condição corporal (Weaver et al.,
2005; Phillips, 2010). Pode ser devida a excesso de peso suportado pela unha lateral seguindo-se
um sub-crescimento do casco. Associa-se quase invariavelmente a unhas de conformação
26
Parte 1
anormal (aparo incorrecto) e frequentemente a laminite (Acuña e Scarsi, 2002; Phillips, 2010). É
difícil distinguir o que é primário e o que é secundário. Muitas vezes uma camada fina de tecido
córneo esconde a úlcera, mas removendo-se este, logo se vê a hemorragia típica nesta patologia
(Blowey e Weaver, 2003; Phillips, 2010). Pode haver uma predisposição hereditária, tal como
uma postura incorrecta (pode também ser adquirida). Desvio da forma normal do pé
(sobrecrescimento, deformação do casco nos talões); rações ácidas e tendência para permanecer
em estação contribuem para o aparecimento deste problema (Blowey e Weaver, 2003; Weaver et
al., 2005). Outras condições predisponentes incluem laminites subclinicas e piso constantemente
molhado (condições de humidade elevada) (Phillips, 2010). Observa-se um grau moderado de
claudicação, no entanto pode progredir para uma claudicação mais acentuada e grave quando
tecido de granulação se projecta para fora e na presença de infecção purulenta profunda. Devemse verificar alterações semelhantes no membro contralateral. O bordo caudal da falange distal e a
inserção do tendão flexor digital profundo encontram-se ambos em profundidade na zona
habitualmente afectada e estão envolvidos nos casos mais complicados (Acuña e Scarsi, 2002;
Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al., 2005; Tadich et al., 2010). Diagnósticos diferenciais
com abcesso solear devido a corpo estranho, pododermatite asséptica, hemorragia solear,
laminite sub-aguda, erosão dos talões (Weaver et al., 2005).
Como tratamento recomenda-se o aparo da muralha do casco e dos talões, de forma a que
o peso suportado pela unha afectada seja mínimo, No caso de não ser possível reduzir mais o
peso sob a unha após ser aparada, recorrer a resinas e blocos ortopédicos (Acuña e Scarsi, 2002;
Weaver et al., 2005). Remover o tecido de granulação protuberante, deixando a pododerme
saudável. Aplicar tetraciclina em spray e curativo à prova de água durante 5 dias (Weaver et al.,
2005). Administrar antibiótico de largo espectro no caso de se apresentar séptico. Responde bem
ao tratamento local com peróxido de hidrogénio (Acuña e Scarsi, 2002). Confinar o animal em
boxe ou cama de palha durante 5 dias. Como medidas profilácticas deve-se evitar o
sobrecrescimento através do aparo regular das unhas. Evitar os factores de laminite e de
dermatite interdigital (ex: humidade excessiva) retirar do programa de reprodução as vacas
jovens afectadas (Weaver et al., 2005).
1.6.7. Perfuração da sola por corpo estranho
Pododermatite séptica (traumática), localizada ou difusa, causando claudicação aguda,
ligeira a grave se purulenta (Blowey e Weaver, 2003; Dabariener, 2009). Há maior predisposição
quando os animais apresentam solas finas antecedidas de fenómeno laminítico, excessivo
desgaste em cimento abrasivo. O defeito no casco estende-se à pododerme solear com
27
Parte 1
profundidade variável e produção de pus (cor negra). O animal evidência dor localizada e
claudicação repentina, usualmente nos membros posteriores. Muitas vezes é iatrogénico, após
remoção excessiva do casco aquando o aparo de rotina. A infecção secundária é causada por
vários tipos de bactérias uma das quais Arcanobacterium pyogenes. Diagnóstico diferencial com
laminite sub-aguda, ulceração solear, necrobacilose interdigital (Weaver et al., 2005).
O tratamento passa por identificar e remover o corpo estranho e drenar a lesão (Blowey e
Weaver, 2003; Dabariener, 2009), curativo local adstringente, e deixar cicatrizar por granulação.
Pode elevar-se a sola afectada colocando um bloco ortopédico no outro dígito do mesmo pé.
Administrar injecção única de oxitetraciclina de longa acção se o tecido mole estiver muito
lesionado. A profilaxia antitetânica é aconselhada (Weaver et al., 2005).
1.6.8. Separação da linha branca e abcessos
Doença da linha branca. Este é um ponto de vulnerabilidade do pé, e um dos locais mais
comuns de entrada de detritos e infecções, sendo menos queratinizado, logo mais frágil, é então
mais susceptível à entrada de corpos estranhos, que podem ser introduzidos mais profundamente
no corium devido à pressão exercida pela vaca quando esta caminha sob o local da lesão
(Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al., 2005; Sanders et al., 2009; Phillips, 2010). Ocorre a
separação da muralha da linha branca abaxialmente, estendendo-se proximalmente, com a
cavidade impactada com lama e fezes ou com desenvolvimento de um abcesso na zona mais
profunda, acumulando-se pus dentro do casco (Sanders et al., 2009; Phillips, 2010; Tadich et al.,
2010). A infecção pode atingir as lâminas sensitivas, conhecidas como pododerme ou corium,
originando claudicação (Blowey e Weaver, 2003). Tem uma elevada prevalência em sistemas
free-stall (Bielfeldt et al., 2004), é uma das causas mais comuns de claudicação digital.
Predisposição: produção anormal de casco resultante de laminite, aparo de casco insuficiente,
relacionado com eventos alguns meses antes do parto (Weaver et al., 2005; Dabariener, 2009).
As lesões na linha branca são particularmente comuns em animais que caminhem em superfícies
duras ou em casos de amolecimento do casco (Blowey e Weaver, 2003; Sanders et al., 2009), ou
seja, em condições de elevada humidade (Dabariener, 2009; Sanders et al., 2009; Phillips, 2010).
Infecções na linha branca ou sola adjacente podem também progredir proximalmente ao longo da
pododerme junto à parede do casco fistulando no bordo coronário (Blowey e Weaver, 2003). Os
abcessos podem derivar de qualquer forma de traumatismo que introduza contaminação no
tecido mole da sola (Dabariener, 2009).
Os sinais clínicos incluem claudicação moderada, linha branca mais grossa do que o
habitual. Na fase inicial apresenta pontilhado escuro e mais tarde é facilmente visível material
28
Parte 1
estranho impactado na linha branca e hemorragia solear (Weaver et al., 2005; Sanders et al.,
2009). Evidente separação aquando da correcção funcional do casco, sem dor. Nos casos em que
há abcesso o animal claudica e manifesta dor localizada na parede do casco. No abcesso pode
estar presente Arcanobacterium pyogenes. Diagnóstico diferencial com corpo estranho solear,
laminite (Weaver et al., 2005).
Tratamento: aparo regular de todos os dígitos. Desbaste da parede sob a área impactada e
séptica de forma a permitir a sua drenagem e prevenir futura impactação. Deve ser drenado por
um médico veterinário ou um aparador de cascos profissional (Blowey e Weaver, 2003; Weaver
et al., 2005; Dabariener, 2009; Phillips, 2010). Aplicar curativo com anti-séptico local e ligadura
firme. Considerar um taco ortopédico na unha ipsilateral de forma a dar descanso ao dígito
afectado (Blowey e Weaver, 2003; Dabariener, 2009). Nos casos sépticos administrar antibiótico
de largo espectro durante 3 dias. Cirurgia radical, possível amputação é requerida quando há
envolvimento dos tecidos do corium e articulação interfalângica distal. Evitar factores
predisponentes a laminite e assegurar um aparo regular do casco (Weaver et al., 2005); Barker et
al. (2006) recomenda suplemento de biotina, especialmente em animais mais velhos.
1.6.9. Laminite
Lesão do casco, o que inclui sola hemorrágica, úlcera da sola e doença da linha branca,
são causas muito comuns de claudicação em gado leiteiro e tradicionalmente têm sido referidos
colectivamente como “laminitis” (Weaver et al., 2005; Cook e Nordlund, 2009; Tadich et al.,
2010) - fenómenos laminiticos -, sendo considerados como parte de uma condição ou sindrome
apelidada por alguns investigadores de laminite sub-clinica (Mülling e Greenough, 2006). A
Laminite é ainda considerada por muitos como uma doença nutricional, apesar de crescentes
evidências sugerirem que lesões tais como sola hemorrágica são apenas meros sinais clínicos na
superfície da unha, representando possivelmente, o culminar de várias vias patológicas graves
(Mülling e Greenough, 2006; Cook e Nordlund, 2009).
Trata-se de uma inflamação difusa das lâminas dérmica e epidérmica da parede do casco
que é produzida a partir do corium modificado, imediatamente abaixo do bordo coronário,
pododerme (Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al., 2005; Cook e Nordlund, 2009; Linford,
2009; Phillips, 2010). A inflamação é um estado comum nas vacas lactantes alojadas em cimento
(Blowey e Weaver, 2003; Linford, 2009) e alimentadas à base de silagens e concentrados, mas a
etiologia ainda não é totalmente compreendida. A principal influência do cimento é o grande
impacto que inflige no casco, causando afundamento da falange distal dentro da cápsula da unha
e fazendo pressão no corium (Cook, 2008; Phillips, 2010). Contudo, também é importante a
29
Parte 1
libertação de endotoxinas bacterianas no corium, causando fenómenos de vasodilatação,
conduzindo a subsequente edema, hipóxia e isquémia funcional, o que leva a degeneração
laminar, falhando então as lâminas sensitivas no suporte do peso do animal. Isto é provavelmente
em consequência do regime alimentar nos sistemas leiteiros modernos. Excesso alimentar de
concentrados ou pasto verdejante causa uma flutuação do pH do fluido ruminal, induzindo
eventos momentâneos de acidose sub-clínica e libertação consequente de endotoxinas, o que leva
ao desenvolvimento de laminite no pé. Ocorre poucos meses após parto, quando a vaca muda
subitamente de ração fibrosa para concentrados (Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al., 2005;
Linford, 2009). Verifica-se esta condição em novilhas criadas no pasto ou sob palha, que após
parto são introduzidas em cubículos pela primeira vez (Blowey e Weaver, 2003; Cook, 2008), e
que por inexperiência ou mesmo bulling pelas fêmeas dominantes, mostram-se relutantes em
usar os cubículos, levando a tempo de estação excessivo o que exacerba a laminite (Weaver et
al., 2005; Mülling et al., 2006; Cook, 2008). Condições tóxicas tais como mastites e metrites
também podem contribuir para o desenvolvimento de laminites (Weaver et al., 2005; Linford,
2009). Os casos agudos são esporádicos, casos sub-clínicos e crónicos são comuns em
explorações leiteiras, elevada incidência em novilhas recentemente paridas e vacas jovens na
altura do parto (Weaver et al., 2005). Actualmente considera-se que são riscos de maior
importância o alojamento inadequado, cuidados dispensados aos cascos e fenómenos
relacionados com o parto, do que a nutrição e alimentação (Mülling e Greenough, 2006).
O animal afectado encontra-se com os membros anteriores abduzidos, os membros
posteriores cranialmente debaixo do abdómen, costas arqueadas (cifose), pescoço distendido e
cauda ligeiramente elevada (Blowey e Weaver, 2003), mudam de peso de um membro para o
outro constantemente, têm sensibilidade à pinça de cascos, sendo os posteriores mais
comummente acometidos (Linford, 2009). A doença origina hemorragias dolorosas na laminae,
ao longo da linha branca e sobre os bulbos dos talões, e predispõe a outras alterações do casco,
levando á possibilidade de uma etiologia comum a várias doenças graves, decorrentes do sistema
de alojamento e alimentar usados actualmente para vacas de alta produção leiteira (Mülling e
Greenough, 2006; Phillips, 2010).
Qualquer que seja o factor desencadeante de sola hemorrágica, ulceração ou doença da
linha branca, integral ao mecanismo destas patologias é o requerimento do peso do animal
exercendo pressão descendente sobre a terceira falange. Comprimindo assim o corium sobre o
osso e iniciando o desenvolvimento de lesão no casco (Cook e Nordlund, 2009; Phillips, 2010).
Portanto o conforto da vaca tem um papel a desempenhar em toda esta patologia. Determinando
30
Parte 1
a duração e tempo de estação e em que tipo de superfície o animal se mantém em pé, o que pode
influenciar a gravidade e localização da lesão (Cook e Nordlund, 2009).
Num estado agudo temos um dígito quente e dorido, pulso na artéria digital, depressão,
claudicação grave 2-3/3, postura anormal, animal em decúbito de forma persistente. Num estado
sub-agudo não é tão doloroso, rigidez, caminhar saltitante (1/3), hemorragias na linha branca e a
nível da sola. Na laminite crónica o animal apresenta postura rígida ou não claudicante 0-1/3;
nesta fase há uma rotação, desvio e afundamento da terceira falange, distanciando-se da parede
do casco. Estas alterações levam ao crescimento irregular do casco: parede dorsal côncava (pé de
chinelo), diminuição do ângulo do casco e linhas horizontais proeminentes paralelas ao bordo
coronário; a linha branca alarga-se e são evidentes hemorragias antigas na sola e linha branca
(Blowey e Weaver, 2003; Weaver et al., 2005; Linford, 2009).
Tratamento: no estado agudo e sub-agudos uso de anti-inflamatórios não esteroides
sistémicos, tais como fenilbutazona; ou uso de corticoesteroides (se o animal não estiver
gestante) e diuréticos. Assegurar exercício de forma a promover a circulação local e reduzir
posteriormente o edema, de preferência em solo macio (Bielfeldt et al., 2004; Linford, 2009).
Remover as causas alimentares que precipitaram esta situação (retirar os concentrados da dieta
até passar a fase aguda). Em estados de decúbito prolongado considerar bloqueio do nervo digital
para conseguir que a vaca ou novilha se mantenha em pé e forçá-la a fazer exercício. Nos casos
crónicos aparar o casco (Weaver et al., 2005; Linford, 2009).
Profilaxia: evitar elevadas quantidades de alimento concentrado no pré-parto (não deve
exceder 2kg diários) e assegurar a correcta dieta de transição nas últimas duas semanas (Mülling
et al., 2006). Assegurar o acesso a forragem imediatamente antes ou a seguir à ingestão de
concentrado, ou considerar mudar para o sistema alimentar completo (TMR - Total Mixed
Ration), se o problema persistir. Incorporar pedras de sal, erva ou luzerna no concentrado de
forma a aumentar a produção de saliva, que tamponiza o fluido ruminal, evitado-se assim
acidose láctica ou acidose ruminal sub-aguda. Considerar a adição (suplementar) de 1% de
bicarbonato de sódio às rações concentradas. Acostumar as novilhas gradualmente ao cimento e
cubículos 2 semanas antes do parto, mas assegurar exercício físico nas semanas pré e pós parto
(Mülling et al., 2006; Cook, 2008). Evitar o excessivo desgaste da sola devido à exposição do
animal a caminhos pedregosos ou cimento áspero. Assegurar exame e aparo regular dos cascos
(Weaver et al., 2005).
31
Parte 1
1.6.10.
Outras patologias dos dígitos
Complicações destas condições primárias podem conduzir a infecções profundas nos
dígitos, envolvendo a bolsa do navicular e eventualmente a articulação interfalângica distal.
Resultando em ruptura do tendão flexor ou abcesso no bordo coronário (Blowey e Weaver, 2003;
Weaver et al., 2005). Caracteriza-se por uma claudicação progressiva 3/3, levando o animal a
decúbito prolongado, anorexia e perda de peso (Weaver et al., 2005). Geralmente é consequência
de infecção podal não detectada ou de infecção não responsiva ao tratamento, frequentemente
devido à drenagem ou desbridamento inadequados (Dabariener, 2009).
1.6.11.
Fractura da falange distal
A fractura da falange distal dá-se habitualmente na unha medial do membro anterior,
ocasionalmente no posterior, com claudicação pronunciada, 3/3 e de início súbito. Dor à
palpação e extensão da extremidade do membro, sem tumefacção evidente (Blowey e Weaver,
2003; Weaver et al., 2005). O animal coloca o membro em causa medialmente, transferindo o
peso para o outro lado, pode adoptar a postura de perna cruzada ou pousa-la à frente do corpo
sobre uma ripa ou cubículo. A fractura intra-articular é a que ocorre mais frequentemente,
quando a fractura está associada a úlcera da sola e osteomielite, localiza-se na extremidade do
osso podal. Trata-se de uma situação pouco frequente e usualmente em animais com 1 a 5 anos,
associado a trauma que pode advir da actividade de bulling em pisos de cimento, a pedregulhos
no pasto ou vigas partidas nos pisos ripados, fluorose, osteoporose sub-clínica, fracturas
patológicas em osteomielite. Diagnóstico diferencial com laminite aguda, penetração por corpo
estranho, necrobacilose interdigital aguda e fissura vertical infectada da parede do casco (Weaver
et al., 2005). Tratamento: animais não tratados mantêm-se claudicantes por muitas semanas.
Taco ortopédico na unha saudável com melhorias imediatas e aceleração da taxa de cura.
Raramente se aconselha a amputação digital (Weaver et al., 2005).
1.7. Tratamento
1.7.1. Banhos podais (pédilúvios)
São usados normalmente banhos podais, tanto a nível terapêutico como preventivo, com
vista a inibir o crescimento ou mesmo destruir bactérias implicadas em várias patologias que
afectam os dígitos (tal como Fusobacterium necrophorum), promoção de acções de limpeza dos
dígitos, controlo da dermatite digital e erosão dos talões (Weaver et al., 2005). O princípio activo
pode variar de soluções de formol a 2.5-5%, sulfato de cobre ou sulfato de zinco a 2.5% (Weaver
32
Parte 1
et al., 2005). Banhos com agentes antibióticos podem conter lincomicina (1g/L), lincomicina +
espectinomicina (66g + 33g respectivamente num total de 150litros de água), tiamulina (0.5g/L)
ou tilosina (1.2g/L) (Weaver et al., 2005; Phillips, 2010). No entanto actualmente nenhum destes
antibióticos está licenciado para este fim na União Europeia (Weaver et al., 2005; Laven e
Logue, 2006; Phillips, 2010). Além disso os antibióticos são inactivados pelos catiões divalentes
também usados na composição dos banhos, tais como compostos de zinco e cobre. Os
antimicrobianos são também rapidamente inactivados na presença de matéria orgânica (Phillips,
2010). A maioria das misturas perdem o seu efeito terapêutico ao fim da passagem de 200
(Laven e Logue, 2006) a 300 vacas (Berry, 2009). Inicialmente recomendava-se um pédilúvio
diário durante 3 a 5 dias. A tendência actual é alternar o fármaco e usar diariamente durante pelo
menos uma semana. Os pédilúvios devem ter 3m de comprimento no mínimo e 85cm de largura,
variando com a raça de gado a tratar. Uma altura de 15-25cm, para que o fluido atinja os 1012cm de profundidade. E uma superfície antiderrapante. Devem ser colocados à saída da sala de
ordenha (Weaver et al., 2005).
1.7.2. Aparo correctivo dos cascos
As deformidades do casco podem ser hereditárias ou adquiridas como resultado de
desgaste insuficiente, ou doenças dos dígitos (por exemplo laminite). A conformação dos cascos
está associada ao futuro valor económico de uma novilha, o que enfatiza a necessidade de se
tomarem medidas de correcção do casco e revisão da política de cruzamentos e melhoramento
genético (Bielfeldt et al., 2004; Weaver et al., 2005). A unha lateral requer sempre mais atenção
durante o aparo do casco, já que ao contrário da distribuição de peso que é idealmente 50-50, o
que se verifica na maior parte das vacas leiteiras é uma distribuição de 70-30 na unha lateral e
medial respectivamente (Weaver et al., 2005).
Método Holandês de correcção do casco: incisão da parede da unha medial no ápice da
pinça, perpendicular à sola. A sola é então aparada com uma faca de cascos para remover
qualquer excesso, reduzindo o corte do dedo original cerca de 7mm e expondo a linha branca.
Em seguida, usando a unha medial como modelo, a unha lateral é cortada para o comprimento
correcto e a sola aparada até à mesma profundidade. A superfície axial da sola (não suporta peso
em ambos os dígitos) e a área à volta da fenda interdigital pode ser removida. Irregularidades na
sola são escavadas e corrigidas. Os talões são aparados para remover casco solto e reduzir
quaisquer sulcos. As solas são niveladas com o uso de uma raspadeira (Phillips, 2010).
Um aparo dos cascos bem executado pode reduzir a probabilidade do animal claudicar e
melhora o seu bem-estar, mas uma técnica deficiente pode causar claudicação (EFSA, 2009).
33
Parte 1
Nas explorações que executam um aparo rotineiro dos cascos, geralmente verifica-se um menor
índice de claudicação de origem não infecciosa (Mülling et al., 2006).
1.7.3. Acrílicos, resinas e tacos ortopédicos
Os acrílicos e as resinas são propensos a diversas aplicações, tais como: preenchimento
de fissuras na parede do casco; suporte numa área enfraquecida; como material alternativo ao
arame para ligar as duas unhas do pé de forma a reduzir trauma pós-operatório ao espaço
interdigital (por exemplo nos casos de excisão de tecido hiperplásico); e para fixar blocos aos
dígitos. As superfícies devem ser limpas, aparadas, desengorduradas e os cascos secos antes da
aplicação destes materiais. Os blocos em geral são de madeira ou plástico, e são fixos à unha
com resina (Weaver et al., 2005).
34
Parte 1
2. COMPORTAMENTO DO ANIMAL CLAUDICANTE
As formas mais extremas de comportamento agressivo são vistas principalmente no
pasto, as vacas pressionam as cabeças, umas contra as outras, andando à volta numa competição
de força. A vaca vencedora fica com acesso ao flanco vulnerável da vaca vencida. Uma disputa
deste género seria perigosa numa passagem entre cubículos, visto que é bastante escorregadio e
superpovoado (Phillips, 2010). Em geral as interacções são muito bem ritualizadas e acentam no
princípio de afastamento induzido pelo animal dominante, por exemplo, a vaca dominante
balança a sua cabeça em direcção á vaca subordinada, e esta por sua vez sai do caminho ou baixa
a cabeça em sinal de reconhecimento do estatuto da vaca dominante (Mülling et al., 2006;
Nordlund e Cook, 2006; Phillips, 2010). As vacas subordinadas têm acesso reduzido aos
alimentos; fazem mudanças de direcção repentinas de forma a evitar as dominantes; no caso de
camas insuficientes têm de permanecer em estação e são as últimas a entrar na sala de ordenha,
resultando num tempo de estação prolongado, tudo isto leva a um aumento do risco de lesão do
casco (Mülling et al., 2006; Nordlund e Cook, 2006). Dentro da hierarquia social de uma
exploração leiteira as vacas primiparas e as vacas claudicantes são geralmente subordinadas,
estas últimas têm mais dificuldade em evitar confrontos (EFSA, 2009; Nordlund e Cook, 2006).
As interacções agressivas podem induzir um determinado nível de tensão nos animais, levando
as vacas a procurem locais resguardados, tais como os cruzamentos ou manterem-se num
cubículo (Phillips, 2010). Espaço amplo nos corredores de passagem assim como nas áreas de
descanso promove o decréscimo de agressão, lesões e ocurrência de claudicação (EFSA, 2009).
Devido à necessidade em procurar e seleccionar comida, as vacas caminham pelo menos
duas vezes mais todos os dias quando se encontram no pasto do que em sistemas de alojamento
com cubículos ou cortes de palha; ocupando-se, assim, num comportamento dito normal. Em
estábulos (acesso mais facilitado à comida) parte deste tempo fica disponível, sendo gasto em
agressões e outros comportamentos danosos (Phillips, 2010).
As vacas em pastagem encontram-se em decúbito cerca de 10.9h/dia, já as que se
encontram em alojamentos passam 12.3h/dia deitadas (Tucker et al., 2006; EFSA, 2009).
Existindo uma interacção interessante entre o pavimento e as superfícies das camas. Quando há
uma melhoria do piso (por exemplo por aplicação de borracha) os animais passam menos tempo
em decúbito e mais horas em pé sobre a superfície (Fregonesi et al., 2004; Tucker et al., 2006;
Cook e Nordlund, 2009).
35
Parte 1
Camas mal concebidas, obstruções ao uso normal das mesmas; sobrepopulação;
alterações comportamentais durante o período de transição; o stresse térmico; prolongado tempo
de ordenha e as tarefas de maneio que mantêm as vacas longe das camas; tudo isto causa impacto
no tempo de descanso e aumenta a exposição das unhas ao cimento. Isto está associado a um
risco aumentado de claudicação (Stefanowska et al., 2001; Cook, 2008; Norring et al., 2008;
Cook e Nordlund, 2009).
Caminhar de forma anormal requer esforço e energia, pelo que uma alteração na
locomoção ocorrerá apenas quando é menos custoso do que manter o andar normal (Tadich et
al., 2010). Assim que o animal começa a claudicar, o seu comportamento modifica-se (Cook e
Nordlund, 2009). Havendo a supressão de actividades comportamentais devido à redução da
mobilidade (Frankena et al., 2009). Presume-se que muitas anormalidades nos andamentos das
vacas são causados por, ou pelo menos relacionados com a sensação de dor e desconforto
(Mülling e Greenough, 2006; EFSA, 2009; Frankena et al., 2009; Rutherford et al., 2009; Tadich
et al., 2010), havendo trabalhos como os de Rushen et al. (2007), citado por Rutherford et al.
(2009), que comprovam a origem dolorosa do comportamento de claudicação.
Uma possível resposta comportamental à dor, associada á claudicação nos membros
posteriores, verifica-se quando o animal permanece em estação na baia. Visto que esta condição
patológica torna difícil a execução de manobras de deitar e levantar numa superfície plana e
dura. Esta dificuldade em se levantarem é a principal razão para que os animais fiquem longos
períodos em estação sobre camas. Tendo um efeito nefasto na recuperação destes animais,
devido ao aumento da carga sobre a unha (Stefanowska et al., 2001; Nordlund e Cook, 2006;
Cook e Nordlund, 2009). Stefanowska et al. (2001) e estudos referidos por Rutherford et al.
(2009) mostram que vacas claudicantes se mantêm em decúbito por períodos mais longos e
alimentam-se menos, havendo uma redução nas suas actividades sociais e outros
comportamentos tais como cuidados pessoais (self maintenance), o que pode ser visto como
limitação ao seu bem-estar.
O comportamento reprodutivo é afectado pela claudicação (Mülling e Greenough, 2006;
EFSA, 2009). Animais com dor nos dígitos vão manifestar menos ou nenhum comportamento de
monta, e como tal sinais importantes de detecção de cio vão passar despercebidos, perdendo-se
assim ciclos reprodutivos. O que leva a um decréscimo da taxa de partos na exploração,
diminuição da produtividade e aumento da taxa de refugo (Zemljic e Pocehova, 2008).
36
Parte 1
3. BEM-ESTAR ANIMAL
O bem-estar animal é uma parte importante na aceitação ética de qualquer empresa de
criação de gado bovino (Rutherford et al., 2009; Phillips, 2010). Previamente a preocupação do
público estava voltada para o bem-estar de suínos e animais de aviário, contudo na última década
tem-se registado um crescente criticismo referente ao bem-estar do gado criado de forma
intensiva. Isto deve-se a uma maior consciencialização de que, embora se pensando que a vaca
leiteira deva ter acesso ao pasto (o que representa uma cena aparentemente tranquila e natural),
ela é confrontada com sérios desafios ao seu bem-estar metabólico e fisiológico durante a
lactação, a qual tem sido aprimorada para produzir muito mais leite do que naturalmente
produziria para alimentar um vitelo (Phillips, 2010). Como consequência deste apurado
desempenho a vaca leiteira sucumbe facilmente á doença ou falha reprodutiva, o que diminui
consideravelmente a sua duração numa exploração (Stefanowska et al., 2001; Phillips, 2010).
Com o bem-estar animal em mente, qualquer que seja o sistema de maneio e as
instalações escolhidas, a vaca leiteira deve ser tratada gentilmente e deve-lhe ser providenciado
um local confortável e limpo para descansar, bem como acesso fácil a comida e água (Cook,
2008; Cook e Nordlund, 2009), espaço apropriado que permita suficiente exercício quando
alojados em ambientes fechados; pisos conformados para caminhar sobre; cuidado veterinário
regular; supervisão por parte de trabalhadores competentes; e transporte adequado para fora da
exploração sempre que seja necessário o seu deslocamento (Phillips, 2010).
São cinco as liberdades fundamentais a qualquer animal: Liberdade de fome e sede;
Liberdade de desconforto; Liberdade de dor, ferimento ou doença; Liberdade de expressar o seu
comportamento normal; Liberdade de medo e stresse (FAWC, 1979 modificado em 2009;
Phillips, 2010).
A sanidade é o maior componente do bem-estar animal, e é governado essencialmente
pela interacção entre os animais, o seu ambiente e organismos patológicos (Phillips, 2010). A
biossegurança deve ser a consideração chave em todos os sistemas de produção intensiva de
gado, nos quais as transmissões de doenças têm de ser contidas em animais muito próximos. É
habitualmente nesses sistemas que os maiores desafios para a saúde do gado ocorrem (Phillips,
2010). Berry et al. (2004), Mülling et al. (2006) e Rutherford et al. (2009) dizem que o estatuto
de biossegurança influência a prevalência de claudicação nas explorações que repõem o seu
efectivo com animais vindos de fora, havendo relação na movimentação de animais com o risco
aumentado de problemas podais de origem infecciosa. Sendo recomendado quarentena, exame e
37
Parte 1
limpeza dos cascos dos novos animais, de forma a limitar a introdução de novas infecções
(Mülling et al., 2006).
Segundo Cortez (2006) citado por Araújo e Vaz (2007), um dos três factores
preponderantes que influenciam o bem-estar animal numa exploração de bovinos leiteiros é o
pavimento. O painel da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA, 2009)
também refere as instalações e estruturas, entre outros aspectos, como factores importantes que
afectam a saúde do gado bovino leiteiro e o seu bem-estar. A higiene das superfícies é um factor
chave que pode agravar os problemas de claudicação de origem infecciosa (Berry et al., 2004;
Hinterhofer et al., 2006; Cook e Nordlund, 2009). As patologias podais e mastites são os maiores
indicadores de deficientes condições de bem-estar animal, assim como desequilíbrios de natureza
reprodutiva, metabólica e comportamental (EFSA, 2009).
3.1. O Conforto e a Vaca Claudicante
O impacto do conforto da vaca sobre a dinâmica da claudicação no rebanho dá-se em
ambos os animais claudicantes e não claudicantes, e é mediado através da soma do tempo de
estação total por dia, e pela superfície do pavimento a que a vaca está exposta entre os períodos
de descanso (Mülling et al., 2006; Cook, 2008; Cook e Nordlund, 2009).
Segundo Cook e Nordlund (2009) o conforto desempenha dois papéis na dinâmica da
claudicação na exploração, tendo os mesmos, Cook e Nordlund (2006), citado por Cook e
Nordlund (2009), proposto a hipótese „Get Lame-Stay Lame’ para explicar esta interacção.
Primeiro, alguns aspectos do conforto da vaca podem afectar os animais quando estes estão
expostos a um ou mais factores desencadeantes da lesão, o que exacerbará a gravidade da lesão
em curso. Em segundo lugar, assim que o animal começa a claudicar, o seu comportamento
modifica-se (por exemplo deixa de exibir comportamento de monta tão frequentemente), e em
ambientes sub-óptimos, combinados com um deficiente maneio higiénico da unha, a duração da
claudicação pode-se estender por um período ainda mais prolongado, maximizando o impacto da
claudicação na produção, reprodução, saúde e sobrevivência (Cook e Nordlund, 2009; Frankena
et al., 2009).
Em manadas bem geridas, com padrões razoáveis de atendimento do casco de forma
rotineira, o conforto da vaca torna-se o determinante final da prevalência de claudicação. O
desconforto do gado bovino tem sido associado a taxas elevadas de claudicação no maneio
intensivo do gado leiteiro (Cook, 2008; Cook e Nordlund, 2009).
38
Parte 1
4. INFRA-ESTRUTURAS DAS EXPLORAÇÕES
Os elementos mais importantes em qualquer alojamento de gado são o piso, que é o ponto
de contacto directo para os cascos, o modelo das camas, que providenciam a oportunidade de
descanso, o sistema de alimentação, que tem de permitir que todos os animais obtenham uma
dieta saudável e nutritiva sem receio de outros animais (Phillips, 2010).
É errado imaginar que o gado se encontra sempre melhor no exterior, especialmente
quando o ecossistema falha na provisão de nutrição, protecção do clima e oportunidade para
cuidados individuais e atenção veterinária. Contudo, a alta densidade populacional que o
alojamento implica, pode tornar as relações sociais difíceis, e as oportunidades para descansarem
e se movimentarem possivelmente limitadas pelo piso duro e anti-natural e áreas habitacionais
superlotadas (Cook, 2008; Phillips, 2010).
Regra geral as vacas leiteiras são mantidas em recintos fechados durante uma parte
significativa do ano, de forma a providenciar nutrição mais completa do que a erva do pasto nos
períodos de frio ou seca, limitando assim o estrago do pasto pelos cascos e facilitando a ordenha
mecanizada, bem como outros aspectos rotineiros de cuidado do animal. O objectivo dos
agricultores ao alojarem o gado é portanto proporcionar um sistema de produção em recinto
fechado económico com a máxima eficiência laboral (Stefanowska et al., 2002; Phillips, 2010).
4.1. Legislação para explorações leiteiras
O Decreto-Lei nº 64/2000 de 22 de Abril estabelece as normas mínimas de protecção dos
animais nas explorações pecuárias. Segundo este Decreto-Lei o proprietário ou detentor dos
animais deve tomar todas as medidas necessárias para assegurar o bem-estar dos animais ao seu
cuidado e garantir que não seja causada dor, lesão ou sofrimento desnecessário. No Anexo A
deste Decreto-Lei encontram-se as normas a respeitar, estas incidem no alojamento, alimentação,
cuidados apropriados às necessidades fisiológicas e etológicas dos animais de interesse pecuário.
O Decreto-Lei nº 48/2001 de 10 de Fevereiro surge de forma a complementar o DecretoLei nº 64/2000, estabelecendo as normas mínimas relativas à protecção dos vitelos.
O Decreto-Lei nº 202/2005, de 24 de Novembro de 2005, veio estabelecer o regime
jurídico de licenciamento das explorações de bovinos. Define as regras a cumprir pelos
produtores para exercer esta actividade, regras estas que visam por um lado, potenciar o
crescimento económico e, por outro lado, garantir um conjunto de valores como a saúde pública,
o bem-estar animal e a protecção do ambiente.
39
Parte 1
As explorações de produção leiteira, cujos produtos se destinam ao consumo humano,
devem cumprir as condições gerais de higiene, no que respeita à manutenção das instalações, do
material e utensílios a empregar na ordenha e na manipulação do leite. Tais condições gerais de
higiene encontram-se referidas no Anexo da Directiva 89/362/CEE da Comissão de 26 de Maio
de 1989 e são fundamentais para uma boa execução do plano de biossegurança de uma
exploração, promovendo a segurança, qualidade do produto e a saúde pública.
4.2. Tipo de alojamento
Segundo o Artigo 3º do Decreto-Lei nº202/2005 as explorações de bovinos podem ser
classificadas de acordo com os seguintes critérios: finalidade principal, dimensão técnicoeconómica e sistema de produção utilizado.
Tendo em conta o sistema de produção utilizado, as explorações bovinas podem ser
classificadas em explorações de: Regime Extensivo, quando utilizam o pastoreio em todas as
fases do seu processo produtivo e cujo encabeçamento não ultrapasse 1,4 CN/ha; Regime Semiextensivo, quando em área coberta ou ao ar livre utilizam o pastoreio numa ou mais fases do seu
processo produtivo; Regime Intensivo, quando em área coberta ou ao ar livre, não utilizam o
pastoreio em qualquer das fases do seu processo produtivo e cujo encabeçamento ultrapasse 2,8
CN/ha (DL nº202/2005).
Vários estudos efectuados por Faye e Lescourret (1989), Wells et al. (1993), Bergsten e
Herlin (1996) e Cook (2003), citados por Cook et al. (2004), indicaram que o tipo de alojamento
era o factor que mais influenciava a incidência de claudicação. O tipo de alojamento é uma
influência dominante na incidência de alterações comuns nos membros do gado (Phillips, 2010).
Os objectivos de alojar gado são os seguintes: providenciar um ambiente confortável e
fornecer alimentação e água adequados, satisfazendo assim as necessidades etológicas e
fisiológicas do gado; garantir um ambiente de trabalho confortável e seguro para os
trabalhadores; minimizar danos ao efectivo e transmissão de doenças; providenciar rápido acesso
a facilidades de manutenção e no caso das vacas lactantes, a ordenha; e proteger a área de pasto
de danos causados pelo excessivo pastoreio e pelo pisar constante das patas dos animais
(Phillips, 2010).
Dentro de portas, o contínuo contacto do pé com o chão molhado e excrementos ácidos
predispõe a necrose dos talões e dermatite digital (Berry, 2009; Cook e Nordlund, 2009; Phillips,
2010). Na necrose dos talões, a acidez dos excrementos e as enzimas proteoliticas neste corroem
os bulbos dos talões, escavando a área podendo atingir tecidos mais profundos e levando a
40
Parte 1
infecção. Laminites e extensivas úlceras da sola são promovidas pelo alto nível de concentrados
que são dados de forma a compensar o baixo valor nutritivo da silagem comparativamente com a
erva fresca (Phillips, 2010).
O sistema free stall tem-se tornado o sistema de alojamento mais comum em muitos
países (Cook e Nordlund, 2009). Neste sistema a exposição crescente da unha às superfícies de
passeio em cimento, comparativamente com outros tipos de habitação e de maneio, sugere que o
gado está exposto a condições ambientais adversas que são importantes para a epidemiologia de
claudicação (Mülling et al., 2006; Ouweltjes et al., 2008; Cook e Nordlund, 2009).
4.3. O piso da exploração
O piso é o ponto físico de contacto entre o animal e o seu ambiente, e afecta a sua
habilidade para manter um comportamento deambulatório normal, assim como determina a
extensão do desgaste dos cascos, e a condução do calor para fora do animal. Os pisos devem ser
pensados para resistir ao tráfego pesado devido à elevada densidade animal nas explorações
actuais, que rapidamente destruiria qualquer pastagem. Portanto os pisos têm de ser mais
resistentes do que as superfícies do exterior, devem permitir uma efectiva remoção dos
excrementos e providenciar uma superfície firme para caminhar (Phillips, 2010).
Os melhores pisos para o gado seriam, supostamente, aqueles que providenciam maior
tracção, de forma a impedir derrapagem dos animais, mas Phillips e Morris (2001) estudando o
tamanho do agregado e abrasividade da superfície sugeriram que, enquanto um agregado de
0,5mm permite às vacas fazerem passos largos confortavelmente, um maior agregado de 2,5mm
(e um elevado coeficiente de atrito) causam uma redução na velocidade do andamento devido a
um encurtamento do comprimento do passo, tornando o material menos desejável (Phillips e
Morris, 2001; Rushen e de Passille, 2006; Cook e Nordlund, 2009). Contudo, se nos focarmos
nas forças de fricção somente, podemos estar a simplificar em demasia a questão. A
compressibilidade do piso pode também ser importante, independentemente da rugosidade
(Rushen e de Passille; 2006), e isto talvez possa explicar o melhoramento observado nos
andamentos quando as vacas caminham em superfícies de borracha (Cook e Nordlund, 2009).
Tucker et al. (2006) e Telezhenko et al. (2008) averiguaram que as vacas preferem
permanecer em estação em pisos mais suaves, como o piso coberto por serrim ou tapetes de
borracha, demonstrando serem mais confortáveis que o cimento. Contudo as vacas, quando
mantidas em pisos suaves, tendem a deitar-se nos corredores e não nas camas. Por outro lado, as
vacas podem permanecer em estação dentro dos cubículos para evitar as superfícies
41
Parte 1
desconfortáveis dos pisos dos corredores (Mülling et al., 2006; Tucker et al., 2006). As vacas em
pisos suaves (borracha e pasto por exemplo) são mais activas, aumentando o seu tempo de
caminhada e diminuindo o tempo em decúbito, levando a uma maior ingestão de alimento e
consequente aumento da produção leiteira, embora não muito significativo, pois perde-se o
factor estimulação da glândula mamária que ocorre em decúbito (Telezhenko et al., 2008).
4.3.1. Influência do piso na Claudicação
O impacto do pavimento na claudicação pode ser mediado pela duração do contacto, a
distância caminhada na superfície do mesmo e através das suas propriedades que podem causar
trauma e desgaste nas unhas. A manutenção da pista; o facto de os animais caminharem ao seu
próprio ritmo, ou serem apressados; e a distância percorrida; são, todos eles, factores de
contribuição significativa (Mülling et al., 2006; Cook e Nordlund, 2009).
As condições dos caminhos calcorreados pelas vacas podem influenciar a prevalência de
claudicação numa exploração (Phillips, 2010). Pisos muito escorregadios ou muito abrasivos
estão associados a um maior número de casos de claudicação (Mülling et al., 2006). Derrapar é
um problema importante nas vacas, que podem não ser capazes de se levantarem após a queda se
os seus membros posteriores abduzirem. Quedas, escorregões e abduções, em pisos lisos podem
danificar ligamentos, músculos e mesmo estruturas ósseas, mas por outro lado um solo de
cimento muito áspero pode também lesionar a sola do pé causando excessivo desgaste. Um
elevado risco de escorregar reduz o bem-estar da vaca, e a actividade de montar durante o estro é
atenuada, e cuida menos dos quartos traseiros devido ao risco de desequilíbrio (Stefanowska et
al., 2001; Phillips, 2010). Podemos minimizar esta situação aumentando a fricção. Determinada
como coeficiente de fricção (força requerida para mover um objecto pelo chão dividida pela
massa desse objecto) (Phillips, 2010). As vacas têm menos problemas em pisos com um
coeficiente de fricção acima de 0.4, mas com menor fricção há um aumento rápido de episódios
de escorregamento dos animais (Phillips e Morris, 2001; Phillips, 2010). O risco de escorregar é
maior no início da passada (Phillips, 2010). Segundo van der Tol et al. (2005), um coeficiente de
0.4–0.7 é requerido para providenciar tracção quando a vaca inicia o movimento de caminhar
começando parada. Apesar de um bom índice de abrasividade ser requerido com vista a diminuir
as quedas por escorregamento, um piso demasiado duro e abrasivo leva à perda da concavidade
natural na sola da unha, expondo a área do meio da sola ao contacto com o pavimento duro, a
excessiva carga sobre esta área pode causar trauma do corium, o que conduz a fenómenos
laminiticos tais como úlcera da sola (Telezhenko et al., 2008).
42
Parte 1
Deve ser tomada uma atenção especial para as qualidades do solo em áreas de muita
passagem de gado, tais como nas zonas à volta dos bebedouros, na área de alimentação e acessos
à sala de ordenha; e em locais onde os animais têm de fazer subitamente uma curva apertada.
Nas zonas mais problemáticas o chão pode ser tratado com aplicações de agregado embutido
numa resina (Phillips, 2010) ou mesmo piso em borracha (Barker et al., 2006; Shearer et al.,
2006; Cook, 2008) que aumenta a fricção e deverá reduzir estas situações. Outros são os factores
ambientais e relacionados com os próprios animais, que influenciam a probabilidade de
escorregar: superfícies molhadas são mais escorregadias do que as que se encontram secas,
segundo van der Tol et al., (2005) a probabilidade de vacas escorregarem em piso de cimento
húmido é 2 vezes maior do que quando seco), deste modo a remoção regular da água da
superfície é recomendada (Bergsten, 2004; Zemljic e Pocehova, 2008; Frankena et al., 2009;
Phillips, 2010). Vacas com pés pequenos e rectos são mais prováveis de escorregarem do que
animais de pés grandes e largos, o que significa que se deve ter cuidado na selecção para
reprodução de vacas com tais conformações de casco (Bielfeldt et al., 2004; Rama, 2006;
Phillips, 2010). Telezhenko et al. (2008) através dos seus estudos confirmaram que a
abrasividade do piso é o principal factor que afecta a conformação do casco. Os cascos podem
ser aparados para uma conformação correcta que aumentará a área de contacto do pé com o chão,
reduzindo as hipóteses de escorregar. O aparo reduz a carga imposta aos talões, melhora os
andamentos e reduz a rigidez da sola e parede abaxial. Dígitos longos também são comuns nas
unidades modernas de gado como resultado do crescimento excessivo devido à alta densidade de
nutrientes na dieta, desgaste inadequado e níveis de actividade mais baixos (Frankena et al.,
2009; Phillips, 2010; Tadich et al., 2010).
4.3.2. Características dos diferentes pisos
4.3.2.1.
Cimento
De entre os vários materiais existentes para pavimentar as áreas destinadas à circulação
livre do gado em explorações leiteiras com sistema free-stall, o cimento é o mais comummente
utilizado. Trata-se de um material relativamente barato e durável que permite qualidade higiénica
adequada (Telezhenko et al., 2008; Phillips, 2010), e responde aos Requisitos Específicos para
Explorações Leiteiras impostos pelo Decreto-Lei n.º 202/2005 de 24 de Novembro. Apresenta
um índice de abrasividade (1.68kgm-1·10-4) superior à borracha e inferior ao asfalto
(Telezhenko et al., 2006). Num período inicial após ser aplicado não é muito escorregadio
(Phillips, 2010), contudo é um material muito duro, e devido ao desgaste provocado pelo uso e
43
Parte 1
quando húmido torna-se mais escorregadio (van der Tol et al., 2005; Telezhenko et al., 2006). A
sua abrasividade é reduzida após 2 anos de uso (Ouweltjes et al., 2008).
O cimento está longe de ser uma superfície ideal para as vacas caminharem ou
permanecerem sobre, especialmente quando coberto de lama e excrementos. Os pisos em
cimento não providenciam fricção suficiente para permitir um comportamento de locomoção
natural (Ouweltjes et al., 2008; Cook e Nordlund, 2009). Maior parte dos pisos em cimento têm
um coeficiente médio de fricção á volta 0.35, o que é menor do que o exigido pela vaca para uma
deambulação normal (Phillips e Morris, 2001; Rushen e de Passille, 2006; Cook e Nordlund,
2009).
No cimento os bulbos dos talões são deformados e sofrem erosão, aumentando a
superfície de contacto com o chão e a força aplicada na parte posterior do casco, levando por
conseguinte ao levantamento da pinça, esta perde então o contacto com o solo, com o risco
concomitante de sobrecrescimento da mesma. O impacto que inflige no casco causa
afundamento da falange distal dentro da cápsula da unha e faz pressão no corium, levando a
laminite. Excessiva deambulação no cimento força a linha branca, e rompe a sola, o que
enfraquece a ligação entre a muralha e a sola (Frankena et al., 2009; Phillips, 2010). Superfícies
de cimento escorregadias ou traumáticas em alojamentos free stall podem resultar num aumento
da tendência para separação da linha branca. O aumento da exposição das unhas ao cimento está
associado a um risco aumentado de claudicação (Cook, 2008; Norring et al., 2008; Cook e
Nordlund, 2009).
De entre as vacarias que apresentam piso em cimento, podemos encontrar explorações
com o piso de cimento compacto (com ou sem estrias) na sua totalidade e outras explorações
com o piso parcialmente ou totalmente ripado.
Nos testes de preferência para pisos de cimento ripado e de cimento compacto, realizados
por Stefanowska et al. (2002), as vacas gastavam em média mais 120min/dia em estação em
pisos de cimento ripado, pelo que concluíram que os animais preferiam este tipo de piso.
Contudo, segundo eles, não encontraram diferenças significativas na caminhada ou
comportamento.
Cimento compacto
Actualmente as explorações são construídas segundo este modelo de pavimento que
permite a redução de amónia, com beneficios para a saúde animal (Stefanowska et al., 2001;
Ouweltjes et al., 2008). Pode ser liso ou sulcado numa variedade de tipos de superfícies
onduladas. Frequentes passagens do dispositivo que remove os excrementos e lama do piso leva
44
Parte 1
à perda dos sulcos ali implantados devido a desgaste, perdendo assim a sua capacidade antiderrapante (Phillips, 2010) tornando-se muito escorregadios (Stefanowska et al., 2001;
Hinterhofer et al., 2006; Ouweltjes et al., 2008). Contudo têm sido descritos vários acidentes
envolvendo o dispositivo de limpeza, que podem estar relacionadas com lesões podais de origem
traumática (Stefanowska et al., 2001; Bergsten, 2004). Nos estudos de Cramer et al. (2009) o
aumento da frequência de passagens do dispositivo de limpeza está associado ao aumento da
prevalência de úlceras da sola e dermatite digital, ao contrário do que seria de supor. Pelo que é
necessário optimizar este dispositivo que é parte indispensável na manutenção da limpeza nos
pisos lisos, passando talvez pela aplicação de borracha no mesmo de forma a amortecer colisões
e evitar o desgaste do piso (Stefanowska et al., 2001; Bergsten, 2004). A higiene destes pisos é
uma importante e dificil tarefa (Bergsten, 2004). Segundo Stefanowska et al. (2001) e Bergsten
(2004), a passagem do dispositivo a cada duas horas não é suficiente para uma limpeza desejável
e redução da humidade.
Cimento ripado
Este tipo de piso é geralmente composto por vigas em cimento, paralelas entre si, com
uma pequena separação ou ranhura entre cada par. Pisos ripados de deficiente construção
obrigam os animais a caminharem sempre com as cabeças baixas de olhar fixo no chão à sua
frente e a colocarem os pés cuidadosamente (Phillips, 2010). Contudo pisos ripados bem
projectados permitem manter uma alta densidade populacional e o espaço razoavelmente limpo
(Bergsten, 2004; Phillips, 2010), podendo ter ou não raspadores automáticos (Stefanowska et al.,
2001; Bergsten, 2004). Se as ripas são estreitas há uma tensão e deformação significativa no
cimento, especialmente no caso de estas serem longas, mas se forem largas não haverá uma
remoção adequada das fezes pelas fendas. A largura óptima da viga é cerca de 150mm e as
fendas 40mm. As ripas de cimento devem ser seccionadas em “T” de forma a incentivarem a
queda dos dejectos para o poço abaixo. Deve-se ser extremamente rigoroso com a qualidade do
cimento usado na construção das vigas, incluindo o necessário reforço, de forma a suportar com
segurança as pesadas cargas para as quais é requerido, conforme o tipo de gado que está sobre
ele (Phillips, 2010). A maior desvantagem dos pisos em cimento ripado é a alta emissão de
amónia, apesar de proporcionar uma boa superfície de caminhada para os animais (Stefanowska
et al., 2001), segundo Ouweltjes et al., (2008), este tipo de piso oferece uma melhor base de
apoio à pata. Os estudos de Hinterhofer et al. (2006) apontam resultados contrários.
45
Parte 1
4.3.2.2.
Gravilha, terra
Trilhos pedregosos e lamacentos providenciam uma superfície irregular que pode stressar
a sola, levar a claudicação e défice ao nível do bem-estar animal. Muitas alterações no casco tais
como separação da linha branca e penetração da sola por corpos estranhos são resultado de
pequenas pedras que se introduzem na sola (Mülling et al., 2006; Rama, 2006; Phillips, 2010).
A influência na claudicação de maus trilhos em explorações com sistema de pastoreio são
bem conhecidas; muitas das lesões são de origem traumática (Rama, 2006; Hernandez-Mendo et
al., 2007). Um estudo feito por Hernandez-Mendo et al. (2007), demonstrou que o deslocamento
das vacas claudicantes do cimento para o pasto pareceu melhorar a locomoção e aumento do
tempo em estação. Rutherford et al. (2009) corroboram estes resultados. Cook et al. (2004)
também aconselham o pastoreio como forma de recuperar animais que claudiquem.
Os animais em pastoreio não se podem deitar tanto tempo quanto as vacas alojadas em
instalações free-stall confortáveis, contudo, o impacto negativo causado pelo maior tempo de
estação parece ser amenizado pelo tempo gasto numa superfície macia comparativamente com a
vida numa superfície dura de cimento, reduzindo assim a taxa de desenvolvimento de novos
casos de claudicação (Telezhenko et al., 2006; Cook e Nordlund, 2009). O cimento desgasta
muito mais o casco do que a terra (Phillips, 2010).
4.3.2.3.
Borracha
O Coeficiente de Fricção (Atrito) para pisos de borracha situa-se entre 0.46–0.61, com
um valor médio á volta de 0.5 (Rushen e de Passille, 2006; Cook e Nordlund, 2009) e Índice de
Abrasividade de 0.32kgm-1·10-4 (Telezhenko et al., 2006). Tem-se demonstrado que animais
que andam sobre borracha escorregam menos, dão passadas maiores e há aumento da velocidade
de caminhada, em relação ao passeio em cimento. A compressibilidade do piso em borracha
pode explicar as melhorias observadas a nível do andamento (Rushen e de Passille, 2006; Cook e
Nordlund, 2009). Tem-se demonstrado que as superfícies em borracha melhoram a qualidade do
casco por aumento dos túbulos no tecido córneo por cm² da sola e melhor tecido córneo
intertubular (Ouweltjes et al., 2008). Há um risco cinco vezes maior de claudicação em cimento,
em comparação com a borracha (Vanegas et al., 2006; Cook e Nordlund, 2009). Embora o
impacto dos pisos de borracha para melhorar a claudicação seja bastante ambíguo (Ouweltjes et
al., 2008; Cook e Nordlund, 2009). As vacas são beneficiadas em duas vertentes: menos trauma
e desgaste, o que reduz o risco de novos casos de laminite; e menos contusões, o que facilita o
movimento de vacas com claudicação (Cook e Nordlund, 2009).
46
Parte 1
Com o sucesso óbvio da borracha nas zonas de passagem, a evolução na indústria leiteira
dos E.U.A. e em partes da Europa passa por instalar o revestimento de borracha em áreas
problemáticas da exploração e ao longo dos corredores de alimentação, numa tentativa de reduzir
os efeitos nefastos do tempo em estação sobre o cimento (Telezhenko et al., 2008; Cook e
Nordlund, 2009).
4.3.2.4.
Palha
Em estábulos com chão de palha o desgaste do casco não é tão acentuado quanto no
cimento ou no pasto, pois a abrasão no pé é mínima, o que conduz a sobrecrescimento da unha,
um problema que pode ser corrigido no caso de os animais pastarem o resto do ano. Se o gado
estiver permanentemente alojado o ano todo com palha será indispensável controlar este
excessivo crescimento aparando os cascos (Phillips, 2010). Verifica-se tempo de decúbito mais
prolongado, o que é benéfico para a saúde podal (Frankena et al., 2009). Haskell et al. (2006) e
Rutherford et al. (2009) apontam para uma menor prevalência de claudicação em alojamentos
com palha. Contudo há o risco de lesão no espaço interdigital causado pela palha que se aloja
entre as unhas, estas lesões abrem a porta a infecções secundárias, muitas vezes por Phlegmona
interdigitalis, pelo que infecções interdigitais são comuns neste tipo de alojamento. O
crescimento excessivo pode fechar o espaço interdigital, retendo a sujidade e promovendo um
ambiente óptimo para a infecção (Phillips, 2010).
4.3.2.5.
Serrim
O serrim é recomendado, mas necessita de cuidado constante. Deve ser colocados sobre
uma membrana porosa para uma boa drenagem. O cimento é realmente muito durável e melhor
do que caminhos em pedra, mas não é tão confortável para as vacas como o serrim. Contudo o
cimento pode ser usado tanto para a passagem de gado como de maquinaria o que já não se
aplica no caso de alojamentos com serrim que requerem um trajecto à parte para tractores e afins
(Phillips, 2010).
4.4. Corredores de passagem
As passagens dos cubículos devem ser de pelo menos 2.2m de largura, de forma a
permitir que as vacas passem confortavelmente por outras que se encontrem metade fora dos
cubículos. As passagens de alimentação devem ser maiores, 2.8m pelo menos, para que as vacas
possam passar por trás de outras que se estão a alimentar de forma segura (Phillips, 2010).
Suficiente espaço diminui a agressão entre animais, lesões e claudicação; promovendo o seu
47
Parte 1
bem-estar (EFSA, 2009). A lama deve ser removida frequentemente, por um tractor com
dispositivo de remoção adaptado, ou então, por um dispositivo automático de raspagem que
percorre o corredor de cima a baixo continuamente. Este sistema mantém os corredores limpos,
mas desgasta o cimento mais rapidamente devido às passagens contínuas o que o torna mais
escorregadio. As áreas de difícil acesso devem ser limpas manualmente diariamente. Os
corredores não devem ter áreas, tais como becos, onde vacas subordinadas possam ser
encurraladas por vacas dominantes. Frequentes cruzamentos entre as passagens dos cubículos e
zona de alimentação fomentam uma boa circulação do gado no edifício (Mülling et al., 2006;
Phillips, 2010). Cimento de fraca qualidade nos corredores de passagem é considerado um dos
principais factores de risco para claudicação e lesões na unha (Telezhenko et al., 2008).
4.5. Camas
As camas, ou cubículos, destinam-se ao alojamento individual de vacas e o seu uso é
influenciado por factores como o desenho do cubículo, o conforto e a densidade animal. O
desenho e dimensionamento incorrecto dos cubículos podem levar à não utilização dos mesmos
(Cook, 2002; Frankena et al., 2009). De acordo com Nordlund e Cook (2003) a superfície é o
factor mais importante na determinação do uso ou não dos cubículos.
Em sistemas free-stall as vacas têm acesso a camas elevadas de cimento forradas com
material confortável e limpo, que minimize o impacto quando esta se deita. Os cubículos não
devem permitir que as vacas se virem sobre si mesmas, com o perigo de ficarem entaladas. As
camas devem ser pelo menos 200mm mais elevadas do que os corredores de passagem, de forma
a evitar a entrada de lama aquando a limpeza dos corredores. Contudo com camas acima dos
250mm as vacas tornam-se relutantes em entrar, adoptando a posição desconfortável de
membros anteriores sob a cama e posteriores fora desta, acentuando o peso suportado pelos
posteriores e aumentando o risco de claudicação. A cama deve ser ligeiramente inclinada de
forma a permitir que a urina drene para as passagens, isto alivia também a pressão exercida sob o
diafragma (Phillips, 2010).
O uso de superfícies de pavimento alternativo, como a borracha, pode reduzir o impacto
negativo do cimento sobre a saúde do casco. No entanto, nas explorações onde as vacas
claudicantes são incapazes de descansar adequadamente nas camas, o efeito da melhoria de
pavimento pode não ser globalmente positivo (Mülling et al., 2006; Cook e Nordlund, 2009).
Um maneio deficiente das camas exacerbará o problema de claudicação por forçar a vaca a
permanecer em estação no material orgânico húmido por períodos mais prolongados (Norring et
48
Parte 1
al., 2008; Berry, 2009). Uma vez que os animais começam a claudicar, camas com tapetes ou
colchões estáveis já não são capazes de fornecer um lugar para as vacas descansarem e se
recuperarem, levando a tempo prolongado gasto em pé na cama e ao aumento da carga sobre a
unha, o que pode aumentar a gravidade da lesão. Em contrapartida, com camas de areia em
sistema free stall permitem que as vacas claudicantes mantenham os períodos de repouso, o que
pode facilitar a recuperação e explicar a menor prevalência de claudicação observados em
instalações de camas de areia (Nordlund e Cook, 2006; Norring et al., 2008; Cook e Nordlund,
2009). É importante ter um número de camas suficiente para todos os animais na exploração,
com prejuízo de vacas no fundo da hierarquia social terem de permanecer em estação por
períodos muito prolongados, o que aumenta o risco de claudicação (Mülling et al., 2006;
Nordlund e Cook, 2006; Rutherford et al., 2009). Um tempo de estação prolongado dentro dos
cubículos pode-se dever a condições de decúbito desconfortáveis (Mülling et al., 2006) e tem
sido associado a lesões podais e claudicação (Cook et al., 2004; Mülling et al., 2006).
4.5.1. Camas em areia
O facto de uma vaca que claudica ter mais dificuldade em se levantar e deitar pode
explicar, em parte, a baixa prevalência de claudicação observada em explorações com camas de
areia comparativamente com as de colchão (Espejo et al., 2006). A areia, devido á sua
capacidade de amortecer e fornecer tracção, permite que as vacas, especialmente vacas que
claudicam se levantem e deitem mais facilmente, sem medo de escorregarem. É de notar a
pequena área de contacto entre a unha e a superfície atapetada ou colchão durante o movimento
de elevação da vaca, comparado com o amortecimento e tracção providenciados pela areia
(Nordlund e Cook, 2006; Cook e Nordlund, 2009). Contudo a areia está sujeita à presença de
microorganismos, por exemplo de espécies de Klebsiella, que podem conduzir a mastites. O
facto de a areia não ser absorvente e se tornar enlameada com o tempo é um ponto prejudicial
(Phillips, 2010).
4.5.2. Camas com colchão ou tapete
Colchões e tapetes estão a ser instalados actualmente como forma permanente para
resolver o problema do revestimento das camas das vacas. Colchões são confortáveis, mas caros
e precisam de limpeza constante nas junções entre os cubículos. Tapetes têm a vantagem de
proporcionarem um fácil maneio, mas cedo acabam por se tornar comprimidos e necessitam de
outro tipo de material adicional para um conforto ideal da vaca (Phillips, 2010).
49
Parte 1
Camas com superfícies em tapete ou colchão proporcionam descanso adequado para as
vacas não claudicantes, mas entre as sessões de descanso, a vaca está exposta ao cimento rígido,
pelo que não são por si só suficientes ao bem-estar animal geral (Cook e Nordlund, 2009).
4.5.3. Camas em palha, composto ou serrim
Camas de palha são populares na Europa para habitação do gado leiteiro e estão
associados a melhorias significativas na saúde do casco. A palha é relativamente barata, contudo
deve ser trocada pelo menos 3 vezes por semana, preferivelmente todos os dias. É relativamente
livre de bactérias pelo que providencia um meio higiénico para o úbere da vaca. Contudo não é
indicada para cubículos pequenos. (Phillips, 2010).
De forma semelhante, baixos níveis de claudicação, foram identificados em instalações
com camas de composto nos E.U.A. (Endres e Barberg, 2007). Isto pode-se dever a uma
combinação entre o aumento do tempo de descanso numa superfície mais confortável e uma
proporção maior de tempo gasto num piso com uma superfície mais suave quando a vaca se
encontra entre períodos de descanso (Mülling et al., 2006; Cook e Nordlund, 2009).
As camas em aparas de madeira (serrim) podem ser uma boa alternativa à areia e à palha
(Phillips, 2010).
4.6. A influência das variáveis climatéricas nas condições da exploração, no
comportamento animal e na manifestação de claudicação
4.6.1. Humidade
O início de claudicação tem sido associado a condições climatéricas húmidas. Vários
estudos apontam para a ocorrência de mais casos nas estações de elevada pluviosidade, e alta
incidência de claudicação segue-se habitualmente a períodos de chuva intensa (Rama, 2006),
esta influência pode ser explicada pelo amolecimento do casco devido ao ambiente húmido e
longo tempo de exposição à lama, o que causa um decréscimo da resistência mecânica; irritação
crónica; além disso, condições de fraca higiene favorecem o crescimento bacteriano e início de
doenças infecciosas do casco (Rama, 2006; Frankena et al., 2009; Sanders et al., 2009; Tadich et
al., 2010); tornando comuns lesões na linha branca e adelgaçamento da sola (Blowey e Weaver,
2003; Dabariener, 2009; Sanders et al., 2009; Phillips, 2010). A humidade constante do pé nas
zonas de passagem cobertas de lama e excrementos corrói e desgasta os bulbos dos talões
(Mülling et al., 2006; Sanders et al., 2009), levando à perda de contacto da pinça com o solo, e
50
Parte 1
um crescimento descontrolado da mesma (pé de chinelo) o que predispõe a laminite (Phillips,
2010).
A humidade constante está presente nas instalações de gado leiteiro confinado,
principalmente quando a higiene das mesmas não é eficaz (Frankena et al., 2009; Berry, 2009;
Tadich et al., 2010). Embora se considere que as taxas de claudicação são relativamente baixas
em explorações leiteiras com baixo índice de humidade, não há estudos, segundo Cook e
Nordlund (2009), que o confirmem.
4.6.2. Temperatura
A partir do momento que a temperatura corporal atinge os 39ºC, o gado permanece em
estação ao invés de se deitar (Lee e Hillman, 2007 citado por Cook e Nordlund, 2009), sendo que
estar em estação aparenta facilitar a perda de calor. O que significa que um aumento da
temperatura (stresse térmico) implica um aumento do tempo em estação, factor importante na
dinâmica da claudicação (Cook, 2008; Cook e Nordlund, 2009). Segundo Shearer et al. (2006), o
stresse térmico leva a perda de saliva, menor ingestão de alimento (em grandes quantidades de
cada vez); tudo isso presispõem a alterações do pH ruminal, o que por sua vez está implicado no
mecanismo da laminite.
Havendo, assim, segundo Cook et al. (2004) e Sanders et al. (2009), efeito sasonal nas
lesões dos tecidos do casco devido ao stress térmico.
51
Parte 2
Parte 2
ESTUDO DA PREVALÊNCIA DAS PRINCIPAIS AFECÇÕES
PODAIS EM EXPLORAÇÃO DE BOVINOS LEITEIROS COM
PAVIMENTO DE CIMENTO RIPADO VERSUS LISO
52
Parte 2
1. INTRODUÇÃO
A claudicação é provavelmente o problema mais importante no que respeita à temática do
bem-estar animal actualmente nas explorações leiteiras (Rama, 2006; Ouweltjes et al., 2008;
Rutherford et al., 2009; Tadich et al., 2010). A percepção do público para esta indústria é
crescente, e vacas claudicantes não transmitem uma boa imagem da indústria leiteira (Rama,
2006; Ouweltjes et al., 2008). A ocorrência de alterações e lesões no casco está associada às
superfícies de caminhada (Ouweltjes et al., 2008). Pisos em cimento ripado ou compacto têm
sido associados a locomoção subóptima; podem fornecer apoio insuficiente ao casco, fazendo as
vacas caírem ou escorregarem, o que leva a lesões dolorosas (van der Tol et al., 2005; Ouweltjes
et al., 2008), ou contribuindo para a incidência de alterações do casco. Especialmente em pisos
de cimento compacto que são muito escorregadios (Ouweltjes et al., 2008).
Os custos com animais claudicantes surgem, principalmente, por perda de produção
leiteira, tratamento veterinário, mortalidade e desempenho reprodutivo comprometido (Weaver
et al., 2005; Cook e Nordlund, 2009; Rutherford et al., 2009; Phillips, 2010; Tadich et al., 2010).
A seguir à infertilidade e mastitis, as alterações podais são a 3ª causa mais comum para refugo
involuntário de vacas leiteiras (Bielfeldt et al., 2004).
Muitos são os estudos (Benz et al., 2002; Georg et al., 2002; Logue, 2002; Mülling et al.,
2006; Telezhenko et al., 2006 e Telezhenko et al., 2008) sobre as diferenças existentes ao nível
produtivo e clínico entre explorações leiteiras com pisos de diversos materiais (cimento, asfalto e
borracha). Contudo a literatura científica e técnica escasseia (destacamos Stefanowska et al.,
2002 e Ouweltjes et al., 2008) quando falamos em pisos de diferente conformação, isto é, ripado
ou compacto (liso ou com estrias), ambos de cimento. Não se conhecendo estudos a nível
nacional desta natureza.
Na perspectiva de Graves et al. (2006) a concepção de uma instalação moderna de vacas
leiteiras deve prever as necessidades especiais de determinados grupos (vacas em início e fim de
secagem, vacas em fase de pré-parto, maternidade, vacas recém-paridas e vacas em tratamento
ou convalescença). Uma área de exercício junto ao alojamento (à qual as vacas tenham livre
acesso ou apenas durante um período de tempo após ordenha) tem as vantagens de permitir uma
melhor detecção do cio, reduzir a claudicação e dar mais espaço às vacas, o que reduz a
transmissão de doenças infecciosas e geralmente melhora o bem-estar animal (Phillips; 2010).
Recuperar animais claudicantes reservando um espaço isolado na exploração, com palha ou
serrim, e suficientemente amplo para permitir a prática de exercício (Cook et al., 2004).
53
Parte 2
Cubículos (camas) suficientes para todas as vacas alojadas (EFSA, 2009; Rutherford et
al., 2009) e espaço de alimentação mais amplo, parecem ser vantajosos na medida em que
reduzem as tensões sociais e episódios de agressão entre as vacas, gerando um ambiente mais
tranquilo e menos propenso a quedas e escorregões, diminuindo a ocorrência de lesões e
claudicação (EFSA, 2009).
Das várias explorações de piso em cimento liso visitadas, cujos proprietários já antes
haviam trabalhado ou gerido explorações de cimento ripado, é da opinião geral que esta nova
conformação de piso não permite uma correcta drenagem da urina e excrementos, mesmo após
as contínuas passagens dos raspadores automáticos pelos corredores. Permanecendo desta forma
os animais com as unhas em contacto contínuo com um piso húmido e escorregadio. Este ponto
de vista é também partilhado por vários médicos veterinários, por Stefanowska et al. (2001) e
Bergsten (2004). Pelo que é útil discutir a projecção e construção das explorações para o
melhoramento a nível de pavimentos e sistemas de drenagem. O que passa por ponderar o uso de
novos materiais, estudar a sua aplicabilidade, a qualidade do pavimento, avaliar o seu impacto na
saúde animal e maior consciencialização para a necessidade de se dispensar uma maior atenção,
relativamente aos problemas podais e efectiva profilaxia dos mesmos.
Antigamente os estudos baseavam-se apenas nos registos do Médico Veterinário, mais
recentemente têm sido usados os registos do aparador, do pessoal encarregue da exploração e
investigadores (Phillips, 2010). Determinados grupos de patologias, como os problemas podais,
não são habitualmente tratados pelo médico veterinário da exploração, mas sim pelos próprios
produtores ou tratadores de casco. Este comportamento pode justificar a existência de uma
elevada prevalência destas patologias no seio das explorações, com a qual os produtores já se
encontram familiarizados. Observando as explorações julgamos, tal como Tadich et al. (2010),
que esta elevada prevalência se encontra relacionada com problemas de maneio ou deficiências
associadas às instalações, não sendo propriamente do foro nutricional. Espejo e Endres (2007)
constataram que a prevalência de claudicação era maior em explorações que apenas tratavam a
patologia podal comparativamente a explorações que tratavam as unhas de todas as vacas uma
ou duas vezes por ano. É necessário mais e melhor formação dos aparadores de casco e
comunicação entre estes, o Médico Veterinário que acompanha a exploração e o produtor.
O principal objectivo deste trabalho foi caracterizar e comparar as claudicações de
origem podal em 2 explorações com diferente tipo de piso (cimento ripado versus cimento liso),
com níveis de produção média por vaca dia similares.
54
Parte 2
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Explorações em estudo
Neste estudo retrospectivo, foram usados os registos de 2 explorações com distintos tipos
de pavimento, e em que a produção média de leite decresceu para valores inferiores a
30Kg/dia/vaca de Outubro a Dezembro de 2009 (Figura 6 e 7).
A exploração com a marca ASN91, Sociedade Martins Casanova, foi considerada neste
estudo como exploração A e a exploração ASW06, cujo proprietário é António Miranda de
Campos, foi considerada como exploração B. Ambas pertencem ao conselho de Barcelos, distrito
de Braga. As explorações foram visitadas no período de Setembro a Dezembro de 2009, sendo os
dados recolhidos referentes ao mês de Novembro e Dezembro desse mesmo ano. Durante o
segundo semestre de 2009, uma empresa procedeu à correcção funcional de cascos de animais
problemáticos. Foram escolhidas explorações com maneio alimentar, higiénico e património
genético semelhantes de forma a minimizar o impacto destas variáveis na diferença que se
pretendia averiguar.
As explorações respeitavam integralmente as directivas impostas pelo Decreto-Lei nº
202/2005, de 24 de Novembro de 2005.
2.1.1. Exploração A
O efectivo da exploração A (ASN91) pode ser consultado na Tabela 1 (anexos), com piso
de cimento ripado e sistema de estabulação livre (free-stall) com parque de recreio com piso de
terra. As vacas secas encontravam-se separadas das vacas em lactação, estas últimas inseminadas
artificialmente de forma homogénea ao longo do ano. O alimento composto (sistema unifeed) era
preparado 2 vezes/dia. Eram observados os correctos procedimentos de higiene durante a
ordenha. A remoção dos excrementos dos locais de passagem era efectuada 2 vezes ao dia.
Existiam camas com colchão, e era aplicado Desysec® nas camas 2 vezes/semana. Eram
aplicados pédilúvios com formol a 5%, 2 a 3 vezes/mês. A produção média anual de leite baixou
para 26,8Kg/dia/vaca.
2.1.2. Exploração B
O efectivo da exploração B (ASW06) pode ser também consultado na Tabela 2 (anexos),
com piso em cimento liso e sistema de estabulação livre (free-stall) com parque de recreio em
terra. As vacas secas encontravam-se separadas das vacas em lactação, e inseminadas
55
Parte 2
artificialmente de forma homogénea ao longo do ano. O alimento composto (sistema unifeed) era
preparado 2 vezes/dia. Existiam procedimentos correctos de higiene na ordenha, remoção dos
excrementos dos locais de passagem 4 vezes ao dia por sistema de arrastamento mecânico. Nas
camas, com colchão, era aplicado serrim e por vezes cal. De igual modo existiam pédilúvios com
formol a 5% ou sulfato de cobre, 2 vezes/mês. A produção média anual de leite baixou para
29,7Kg/dia/vaca.
2.2. Registo e recolha de dados
Em ambas as explorações, a informação referente aos animais, características das
explorações, e práticas de maneio foram obtidas através de um inquérito “a posteriori”, de modo
a recolher os dados clínico-epidemiológicos das vacas leiteiras. Foram consideradas as vacas no
período de 2 meses consecutivos (Novembro e Dezembro de 2009). O inquérito foi preenchido
com recurso a dados disponibilizados pelos proprietários das explorações, pessoal encarregue do
aparo dos cascos e do médico veterinário responsável pela exploração. Na tabela 3 encontra-se
um exemplo do inquérito usado para registar os dados obtidos para cada animal; e nas figuras 8 a
11, o registo fotográfico das infra-estruturas das explorações em estudo. Foram disponibilizados
os dados da produção leiteira média por vaca relativamente aos meses de Novembro e
Dezembro, recolhidos e tratados pela ABLN (Associação para o apoio à Bovinicultura Leiteira
do Norte).
Os dados sobre o tipo de afecção foram classificados em fenómenos laminiticos
(principalmente úlceras de sola) / lesões da parede do casco, dermatites digitais e interdigitais, e
a presença de patologia sem origem nos dígitos que explique a claudicação observada.
Foram contados todos os casos independentemente da ocorrência de claudicações mistas.
Adicionalmente foram registados os membros afectados (posteriores e anteriores,
esquerdo e direito). Foram também registados os tratamentos aos dígitos em curso. No entanto,
alguns destes dados não foram utilizados no presente trabalho
2.3. Análise estatística
Na análise estatística foram usados o teste do qui-quadrado (χ²) para determinação das
prevalências e diferenças percentuais entre afecções e/ou para comparação entre explorações.
56
Parte 2
3. RESULTADOS
A percentagem de animais claudicantes (Figura 1) na exploração A foi de 58.3%1
(42/72). Na exploração B, os valores encontrados foram de 49.2% (29/59, P>0.05).
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
a vs b: P>0.05
a
b
A
B
Figura 1 - Claudicação na exploração A e B.
Na exploração A, foram observados fenómenos laminíticos em 52.8% (38/72) e
dermatites (inter)digitais em 51.4% (37/72; P>0.05). Como se pode consultar na Figura 2.
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
53%
51%
a vs b: P>0.05
a
b
Fenómenos
Laminiticos
Dermatite
(inter)digital
Figura 2 – Fenómenos Laminiticos versus Dermatite (inter)digital na exploração A.
1
Seriam 55.6 %, se consideradas unicamente as patologias de origem podal.
57
Parte 2
Dos animais afectados por fenómenos laminíticos, observaram-se que ocorreram 79.0%
(30/38) nos membros posteriores, 5.3% (2/38) nos membros anteriores e 15.8% (6/38, P<0.001)
simultaneamente em membros posterior e anterior (Figura 3).
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
79%
16%
MA
MP
Ambos
5%
MA
MP
Ambos
Figura 3 - Distribuição das lesões por fenómenos laminíticos pelos Membros Anteriores, Posteriores ou ambos na
exploração A.
Na exploração B foram observados fenómenos laminíticos em 49.2% (29/59) e
dermatites (inter)digitais em 89.8% (53/59; P<0.05) (Figura 4).
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
90%
49%
b
a vs b: P<0.05
a
Fenómenos
Laminiticos
Dermatite
(inter)digital
Figura 4 - Fenómenos Laminiticos versus Dermatite (inter)digital na exploração B.
58
Parte 2
Nesta exploração (B), os fenómenos laminíticos foram observadas nos membros
posteriores em 72.4% (21/29), nos membros anteriores em 20.7% (6/29) e simultaneamente em
ambos os membros em 6.7% (2/29, P<0.001) dos casos (Figura 5).
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
72%
MA
MP
Ambos
21%
7%
MA
MP
Ambos
Figura 5 - Distribuição das lesões por fenómenos laminíticos pelos Membros Anteriores, Posteriores ou ambos na
exploração B.
Quando comparadas as explorações, foi observada uma tendência para uma menor
prevalência de dermatite (inter)digital na exploração de cimento ripado (B) (51.38%; 37/72) do
que na de cimento liso (A) (89.8%; 53/59; P<0.05); já a dos fenómenos laminiticos,
manifestados sob forma de úlceras de sola, esta tendência foi maior para a exploração A (52.8%;
38/72) do que para a B (49.2%;29/59; P>0.05).
59
Parte 2
4. DISCUSSÃO
A prevalência de animais claudicantes na exploração A foi de 58.3% e na exploração B
de 49.2% (P>0.05). O que se encontra bastante acima da média dos 20% (a nível mundial)
lançados por Bielfeldt et al. (2004), Cook e Nordlund (2009) e Phillips (2010). Contudo será
mais correcto comparar os resultados obtidos no presente estudo com os de Haskell et al. (2006);
estes referem uma prevalência de 39% em explorações free stall nas quais os animais aí
permanecem todo o ano (condições semelhantes às das explorações A e B). Bielfeldt et al.
(2004) apontam, para este mesmo sistema de produção, valores entre 2% e 22%. Frankena et al.
(2009) dizem-nos que a prevalência de claudicação pode ir de 24% a 46% e Tadich et al. (2010)
8% a 60% consoante as explorações; o que já se enquadra com os valores por nós obtidos, e
aponta para uma grande variabilidade de prevalência entre explorações. Frankena et al. (2009)
referiram que os pisos em cimento compacto (em particular os sulcados) apresentam uma média
de 40.6% de prevalência de claudicações.
A alta prevalência de claudicação no pesente estudo, em ambas as explorações, pode em
parte explicar-se devido a um n reduzido, comparativamente com os estudos citados; salientamos
o facto de o piso, tanto em A como em B, ser em cimento, e o aumento da exposição das unhas
ao cimento estar associado a um risco aumentado de claudicação (Stefanowska et al., 2001;
Cook, 2008; Norring et al., 2008; Cook e Nordlund, 2009). Num período inicial, após ser
aplicado, o cimento não é muito escorregadio (Phillips, 2010), contudo devido ao desgaste
provocado pelo seu uso, e quando húmido, torna-se mais escorregadio (van der Tol et al., 2005;
Telezhenko et al., 2006). A sua abrasividade é reduzida após 2 anos de uso (Ouweltjes et al.,
2008), ambas as explorações têm mais de 2 anos, pelo que o piso desgastado e escorregadio pode
estar relacionado com estes elevados valores de claudicação. Além disso, sendo a claudicação
uma condição latente em todo o gado de alta produção leiteira, desvalorizar este problema e a
falta de programas preventivos expõem o sistema produtivo a importantes perdas económicas
(Rama, 2006); o que nos leva a questionar se o maneio e a profilaxia aplicada são correctos e
suficientes, pois a maioria dos proprietários subestima os níveis de claudicação nas suas
explorações (Rutherford et al., 2009; Archer et al., 2010), descurando esta problemática.
Relembramos, que a escolha destas explorações não foi aleatória, mas deveu-se ao facto de ter
ocorrido uma diminuição da produção leiteira média diária associada ao registo de um elevado
número de animais com claudicação de origem podal.
60
Parte 2
De facto, a claudicação é, nos dias de hoje, um problema extremamente sério na indústria
leiteira (Phillips, 2010). Contudo muitas explorações mostram que é possível ter um grande
efectivo de animais de alta produção leiteira em estabulação livre e manter um nível de
claudicação razoavelmente baixo (Rutherford et al., 2009). O que indica ser teoricamente
possível e economicamente desejável a diminuição dos níveis de claudicação em ambas as
explorações A e B para níveis mais comportáveis com o bem-estar e óptimo rendimento animal.
A claudicação representa o sinal de uma enorme variedade de problemas subjacentes,
embora a maioria seja causada por problemas podais (UFAW, 1994; Frankena et al., 2009). No
nosso estudo na exploração A, apenas dois animais claudicavam por lesões de origem não podal,
enquanto na exploração B todos os animais claudicavam devido a causas podais; confirmando
que os problemas podais são a principal razão de claudicação, de acordo com os valores
apontados por vários autores: 72% (Frankena et al., 2009); 80% (Blowey e Weaver, 2003;
Weaver et al., 2005); 90% (Mülling e Greenough, 2006) dos animais com claudicações. Espejo e
Endres (2007) constataram uma maior prevalência de claudicação nas explorações que apenas
tratavam a patologia podal comparativamente a explorações que tratavam as unhas de todas as
vacas uma ou duas vezes por ano. As lesões podem até se resolver sem nunca causarem
claudicação. Contudo, pode ser que o tratamento de lesões em vacas não claudicantes previna a
sua claudicação (Tadich et al., 2010). Será que seria uma solução interessante com vista a baixar
a prevalência de claudicação com origem podal nas explorações em estudo: aparar os cascos
como medida profilática ao invés de terapêutica (actual situação em ambas as explorações)?
Por outro lado, as condições dos caminhos calcorreados pelas vacas podem influenciar a
prevalência de claudicação numa exploração (Phillips, 2010). As diferenças a nível
comportamental e produtivo entre pisos de cimento compacto versus pisos de cimento ripado são
na sua maioria insignificantes, mas o piso em cimento compacto (liso ou com estrias) foi
considerado mais desconfortável (Ouweltjes et al., 2008). De facto, o desconforto do gado
bovino tem sido associado a taxas elevadas de claudicação no maneio intensivo do gado leiteiro
(Mülling et al., 2006; Cook, 2008; Cook e Nordlund, 2009). Além disso, frequentes passagens
do dispositivo que remove os excrementos e lama do piso em cimento compacto leva ao desgaste
da superfície (Hinterhofer et al., 2006; Phillips, 2010) sendo muito escorregadios (Stefanowska
et al., 2001; Ouweltjes et al., 2008), o que explica o desconforto experimentado pelos animais
(Stefanowska et al., 2001; Phillips, 2010). Será, então, que os nossos valores de prevalência de
patologias de origem podal reflectem estes argumentos (desconforto e maior probabilidade de
61
Parte 2
escorregar em piso liso)? Frankena et al. (2009) recomendam mais estudos para apurar as
diferenças entre pisos de cimento compacto e ripado.
Em 50% da claudicação com origem nos dígitos o tecido córneo está envolvido e em 50%
a pele, que na maior parte das vezes se traduz em dermatite digital (Weaver et al., 2005). A
prevalência de dermatite digital é de 20% segundo Weaver et al. (2005); 21% nos estudos de
Laven e Logue (2006); 39.5% para Frankena et al. (2009) podendo, segundo estes autores e
Somers et al. (2005), atingir os 50% em explorações de piso em cimento (o cimento é um factor
relevante que influência a prevalência de doenças podais de origem infecciosa (Somers et al.,
2005). Contudo a variação da prevalência de dermatite digital entre explorações é muito
acentuada, podendo variar de 2% a 93% (Somers et al., 2005). Deve-se ter em consideração que
muitas das vezes estas lesões não originam claudicação (Tadich et al., 2010); por exemplo, Berry
(2006) relata que apenas certos estados de dermatite digital causam dor, e segundo Tadich et al.
(2010) cerca de 11% das úlceras da sola não causam claudicação. Remetendo-nos aos nossos
resultados, a exploração A encontra-se dentro dos 50% - 50% referidos anteriormente
(fenómenos laminíticos: 52.8% e dermatites (inter)digitais: 51.4%. Já na exploração B, esta
proporção não foi encontrada, destacando-se a elevada prevalência de dermatite (inter)digital
(fenómenos laminíticos em 49.2%, e dermatites (inter)digitais em 89.8%).
Nos locais onde a prevalência da dermatite digital se encontra acima dos 20%, teremos
problemas com a produtividade da exploração, taxa de reprodução, estado de saúde dos animais
e taxa de refugo (Zemljic e Pocehova, 2008); pelo que o caso da exploração B é deveras
preocupante; devem, pois, ser tomadas medidas sistémicas e não só o tratamento individual dos
animais (Zemljic e Pocehova, 2008). Somers et al. (2005) referem uma maior prevalência de
dermatite (inter)digital e erosão dos talões em vacas alojadas em cimento compacto; nos estudos
de Stefanowska et al. (2001), ficou explícito que o piso em cimento compacto acumula mais
fezes do que o ripado. Zemljic e Pocehova, (2008), concluíram que sem melhoramentos
substanciais no conforto e higiene das camas e exploração em geral não é possível eliminar a
dermatite digital de uma exploração, visto que condições que mantenham as patas sujas e
constantemente molhadas são os factores de risco de maior contributo para esta doença (Laven e
Logue, 2006; Boyle et al., 2007). Como tal seria interessante medir o grau de humidade e fazer
uma zaragatoa para cultura bacteriana dos corredores de passagem em ambas as explorações, de
forma a confirmar se esta pode ou não ser uma importante causa para a diferença entre os valores
de prevalência de dermatite (inter)digital na exploração A (piso em cimento ripado) e B (piso em
62
Parte 2
cimento compacto liso), visto que os pavimentos que promovem melhor higiene do casco
aparentam menos casos de doenças podais infecciosas (Berry et al., 2004; Mülling et al., 2006).
Fenómenos laminitos (expressos sobretudo sob a forma de úlcera da sola) têm aumentado
desde que o cimento tem sido usado para pavimentar as explorações (Mülling et al., 2006). As
lesões na linha branca são mais prevalentes em sistemas free-stall (Bielfeldt et al., 2004).
Segundo estudos de Tadich et al. (2010), 65% dos animais apresentam lesão na linha branca.
Mas como vimos anteriormente nem todas as lesões se reflectem em claudicação. Muitos
animais têm mais do que um tipo de lesão nas suas patas, podendo a causa de claudicação ser
uma das ou todas as lesões presentes (Tadich et al., 2010). É de interesse encontrar materiais
alternativos para os pisos, por exemplo, materiais que apresentem maior atrito e que sejam mais
moles do que o cimento (Stefanowska et al., 2001; Tucker et al., 2006) com o objectivo de
diminuir a ocorrência de tais lesões. Explorações que corrigem rotineiramente os cascos de todos
os animais apresentam uma menor incidência de claudicação de origem não infecciosa (Mülling
et al., 2006).
Enquanto que na exploração A foi observada uma prevalência de fenómenos laminiticos
semelhante à exploração B, na exploração B (cimento liso) observou-se uma maior prevalência
de dermatite (inter)digital do que na exploração A (cimento ripado). O que está de acordo com
Somers et al. (2005), os quais dizem que vacas em cimento compacto (liso ou com estrias) têm
maior risco de dermatite digital, comparativamente com cimento ripado. A higiene dos pisos em
cimento liso (tal como o da exploração B) é uma importante e dificil tarefa (Bergsten, 2004).
Segundo Stefanowska et al. (2001) e Bergsten (2004), a passagem do dispositivo a cada duas
horas não é suficiente para uma limpeza desejável e redução da humidade. A higiene das
superfícies é um factor chave que pode agravar os problemas de claudicação de origem
infecciosa (Cook e Nordlund, 2009). Pisos duros com elevado índice de fricção causam um
elevado desgaste do casco das unhas, especialmente quando sujeitos a condições húmidas
(Telezhenko et al., 2008).
Relativamente à distribuição das lesões podais na origem da claudicação, os nossos
resultados corroboram a bibliografia, sendo que, dos animais afectados por fenómenos
laminíticos, ocorreram 79.0% (exploração A) e 72.4% (exploração B) nos membros posteriores.
Segundo Blowey e Weaver (2003) e Weaver et al. (2005) 80% da claudicação com origem podal
tem origem nos membros posteriores. Fenómenos laminitos (expressos sobretudo sob a forma de
úlcera da sola) localizam-se tipicamente no membro posterior (Weaver et al., 2005; Phillips,
2010; Tadich et al., 2010). Esta elevada ocorrência observa-se porque os membros posteriores
63
Parte 2
estão sujeitos a suportar uma maior carga, sofrendo como tal, mais pressão sobre o corium
(Stefanowska et al., 2001; Frankena et al., 2009; Phillips, 2010).
Em conclusão, foi observado uma prevalência similar de claudicação em ambas as
explorações. O factor tipo de pavimento parece não ter influenciado o tipo de patologia do casco,
no caso dos fenómenos laminíticos. No entanto, foi observada uma maior prevalência de
dermatite (inter)digital na exploração de piso liso. São necessários mais estudos para determinar
a natureza causal exacta para o diferente risco entre explorações deste tipo, nos quais se sugere o
maneio zootécnico.
64
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73
Anexos
6. ANEXOS
Tabela 1 - Efectivo leiteiro da exploração A
Vacas em lactação
Vacas secas
Efectivo Total
Entrada de animais
Saída de animais
Novembro
62
14
76
0
4
Dezembro
65
10
75
3
0
Tabela 2 - Efectivo leiteiro da exploração B
Vacas em lactação
Vacas secas
Efectivo Total
Entrada de animais
Saída de animais
Novembro
54
5
59
0
0
Dezembro
55
4
59
0
0
Tabela 3 - Inquérito epidemiológico para avaliação do grau e tipo de claudicação no efectivo leiteiro
Avaliação do grau e tipo de claudicação no efectivo leiteiro de uma exploração
Nome do proprietário:
Mês:
Nº do
brinco
Marca da exploração:
Membro
afectado
Ant.
Post.
Grau de
claudicação
0
D
E
D
1
2
Dermatite
inter/digital
3
E
74
Fenómenos
laminiticos
Tratamento e outras
observações
Anexos
Tabela 4 - Inquérito ao maneio da higiene e produção na exploração leiteira
Maneio da higiene e produção na exploração leiteira
Nome do proprietário:
Marca da exploração:
¤ Parque de recreio
¤ Limpeza dos corredores de passagem
¤ Tratamentos aplicados nas camas
¤ Presença de pedilúvios
¤ Combate a pragas
¤ Preparação dos “unifeeds”
¤ Procedimentos de higiene na ordenha
Figura 6 - Produção leiteira média/dia/vaca de Dezembro de 2008 a Novembro de 2009 da exploração A.
Figura 7 - Produção leiteira média/dia/vaca de Dezembro de 2008 a Novembro de 2009 da exploração B.
75
Anexos
Figura 8 e 9 - Exploração A, exemplo de piso em cimento ripado.
Figura 10 e 11 - Exploração B, exemplo de piso em cimento liso.
76
Anexos
Limitações e melhoramentos ao estudo
 Registos da unha mais afectada, se a lateral ou se a medial.
 Método de contenção adequado em cada exploração visitada, de forma a se
proceder a uma correcta inspecção de todo o efectivo.
 Culturas microbianas e análises laboratoriais para confirmar diagnósticos.
 Período de estudo muito limitado. Mais útil e informativo o acompanhamento dos
animais por um período mais longo.
 Escala 0 a 5 mais informativa, mas mais propensa a variação conforme o
observador.
 Análise mais detalhada do estado de desgaste do cimento.
77
78
79
80
Download

prevalência das afecções podais em explorações de bovinos