03.05 cultura visual Armando Vilas Boas www.avbdesign.com Imagem retirada de www.estranhomasverdade.com. Verdadeira ou não, esta imagem não deixa de ser uma excelente paródia ilustrativa do tema deste artigo, apesar de não se tratar, evidentemente, de um erro de design gráfico, mas sim de descoordenação. 7 newsletter APOGESD Ó mãe, este logótipo bateu-me! Discussões entre os profissionais do design de comunicação visual sobre o risco de o design gráfico poder colocar em causa a integridade física de alguém são mais ou menos recorrentes. Os mais radicais defendem que o design gráfico pode matar, puxando para si o mesmo grau de responsabilidade social que um médico ou um engenheiro civil assumem. De facto, basta pensarmos num rótulo mal concebido numa embalagem de um produto tóxico para concluirmos que um design gráfico incorrecto pode facilmente tornar-se letal. Isto acontece porque nos habituámos a descodificar certos estímulos visuais de forma inconsciente: as cores do semáforo são um exemplo possível. Evidentemente que o mesmo conjunto de três cores pode simbolizar a bandeira portuguesa. O que nos leva a pensar que, como defendem os mais brandos, só em circunstâncias muito excepcionais e pontuais o design visual poderá tornar-se letal. O que parece garantido, na minha perspectiva, é que o design gráfico não mata mas mói. Basta pensarmos numa instalação desportiva insuficientemente sinalizada — ou sinalizada de forma equívoca — para compreender que o acto de encontrar um quarto de banho num estádio de futebol se pode tornar numa tarefa sofrida. Outro exemplo particularmente “escorregadio” são as piscinas. À conta da falta de sinalização dos pavimentos derrapantes já alguns ossos se têm partido (eu que o diga). Neste caso não é sequer má sinalização, mas sim a ausência desta (para além de muitas vezes se tratar de um erro projectual que nunca mais foi corrigido, claro). As instalações desportivas parecem-me um bom exemplo da importância de uma sinalética rigorosa e eficiente. Mas há outros exemplos nos quais um design gráfico deficiente não mói o corpo mas sim o juízo. Exemplo flagrante disto são quase todos os formulários que preenchemos para o Estado português. O caso recente mais lamentável foi o formulário único para o concurso de professores que o Ministério da Educação se lembrou de decretar no ano lectivo 2004–2005. Não discutindo o acto em si, só a análise visual do documento chegava para se ver que a medida iria dar asneira. É certo que uma parte substancial dos erros terão sido de processamento, mas acredito que muitos docentes — apesar de as suas habilitações académicas lhes permitirem uma compreensão folgada dos formulários — tenham concorrido de forma errada ou incompleta. A paga por este deslize não foi um osso partido, mas sim a exclusão do concurso ou a deslocação para uma escola inesperada. O intuito deste texto é o de sublinhar a importância de que um correcto planeamento e execução da comunicação visual se devem revestir. Uma comunicação visual eficaz não é nunca só o produto de um designer ou equipa de designers gráficos dotados, mas sim o resultado de uma correcta atitude por parte do cliente, o qual deve informar claramente os profissionais e acompanhar o processo com diligência. O que não se aplica só à sinalética das instalações, mas também a todo o material visual promocional.