GOVERNANÇA E SUSTENTABILIDADE Julho de 2007 23 POR ROBERTO SOUSA GONZALEZ Diretor de Estratégia de Sustentabilidade da The Media Group – Comunicação de Valor, assessor para assuntos de Sustentabilidade da Presidência da Apimec-Nacional, membro do Conselho Deliberativo do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e professor em cursos de pós-gradução e graduação. Melhor profissional de investimentos de 2005 do mercado de capitais nacional, eleito pelos associados da Apimec ([email protected]). COMO O DESIGN PODE AJUDAR NA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA? Torna-se cada vez mais ponto pacífico que o mundo empresarial deve assumir responsabilidades com um universo amplo de públicos de interesse e que a estratégia das empresas deve incorporar o conceito de desenvolvimento sustentável. Desse reconhecimento, emerge a pergunta inicial deste artigo: afinal, não basta fazer, é preciso comunicar o que se faz. O design gráfico pode contribuir substancialmente para que empresas comuniquem melhor aquilo que desejam aos seus públicos stakeholders. Buscamos aqui ilustrar essa afirmativa por meio de dois exemplos: Exemplo 1 Uma empresa antenada com a sustentabilidade nas vertentes econômica, social e ambiental promove a reciclagem de resíduos dos seus processos industriais, por entender que isso faz parte de seus deveres em relação à comunidade em que opera e ao meio ambiente. Por coerência com tal ponto de vista, entende que é muito importante empregar papel reciclado em seus relatórios, publicações e em outros produtos impressos, adotar uma identidade visual coerente com o uso do papel reciclado e usar técnicas de impressão menos poluentes. Exemplo 2 Uma instituição financeira tem linhas de crédito com taxas de juros diferenciadas para projetos socioambientais. Freqüentemente, não concede crédito a empresas que criam impactos negativos no meio ambiente. Essa instituição não utiliza papel reciclado em suas publicações, mas transmite suas mensagens com imagens conceitualmente bem produzidas, em cores vibrantes e positivas, notando-se sua grande preocupação em comunicar corretamente o que deseja aos seus stakeholders. Percebemos, nos dois exemplos anteriores, a postura de transmitir corretamente os princípios e valores que permeiam as operações da empresa e de expor, sim, à sociedade opções e ações de responsabilidade social. Há problema nisso? Acreditamos, com sinceridade, que não; ao contrário. A verdade é que, durante longo tempo, muitas empresas agiram e assumiram posturas socialmente responsáveis sem que isso fosse bem comunicado e percebido (inclusive por funcionários!). Mas ações sociais de cunho pessoal e ações sociais de cunho empresarial têm implicações muito, muito diferentes. Se em âmbito pessoal é válida a discrição e mesmo a não-revelação do bem que se faz, em âmbito empresarial, quanto mais as empresas comunicarem suas ações sociais, melhor. A comunicação de ações sociais é fundamental para melhorar o mundo, para induzir outras empresas a seguirem pelo mesmo caminho. Página 1 de 2 GOVERNANÇA E SUSTENTABILIDADE Julho de 2007 23 É é aí que o design gráfico aplicado em produtos, embalagens, documentos, publicações, relatórios anuais, cartazes e em outros itens emerge como instrumento de eficaz comunicação. Para muitas pessoas, uma simples imagem valerá muito mais do que um milhão de palavras. Nos mercados financeiros e de capitais, que exigem, cada vez mais, informações sobre a sustentabilidade das empresas, a boa comunicação está ligada à valorização em bolsa de valores. E as formas de as empresas comunicarem suas mensagens aos mercados são múltiplas: relatórios anuais, balanços sociais, revistas, informes e websites que podem ser elaborados de modo a se consolidarem como peças exemplares de boa comunicação. O design gráfico pode contribuir substancialmente para que isso seja feito. Lembramos, ainda, que o bom design gráfico deve combinar forma e função ou, dito de outro modo, visual e conteúdo. A forma ou visual abrange tópicos como tipologias adequadas, diagramação para hierarquizar informações, padrões cromáticos, imagens, ilustrações, acabamento e recursos gráficos variados e cada vez mais sofisticados. Já a função ou conteúdo corresponde à mensagem (ou mensagens) que pretendemos comunicar, em consonância com a missão, visão e estratégia da empresa. Concordamos, em boa medida, com a reportagem veiculada na Revista Veja (26/05/04), que apresenta o design como um combustível de peso, capaz de influenciar a economia, o comportamento e a cultura, agregando valor a produtos, a relacionamentos e à imagem corporativa. E temos certeza de que o design pode ser colocado a (bom) serviço da responsabilidade social corporativa. Gostaríamos de finalizar esta reflexão relembrando palavras de Tom Peters, um dos mais conhecidos pensadores do mundo dos negócios, no livro Re-imagine - Business excellence in a disruptive age: [...] ”no fundo, o que importa é o design, oferecer uma abordagem que valorize a criatividade, a inovação e as experiências extraordinárias”. Se, por um lado, para empresas que buscam sustentabilidade, o design não é a único aspecto que importa, a frase anterior não deixa de ser uma provocação interessante. Repetindo o que dissemos inicialmente: para empresas, não basta fazer, é preciso comunicar o que se faz. COMENTÁRIO APIMEC-MG O design é um poderoso instrumento de comunicação disponível às organizações e às pessoas que têm algo a comunicar. É importante ressaltar que ele abrange visual e conteúdo, concomitantemente, ou seja, não se restringe à esfera visual, como talvez se possa imaginar. Isso significa que não basta um visual diferenciado. O bom design deve abranger também a mensagem a ser comunicada. Transpondo-se tais considerações ao plano de empresas, entende-se que elas devem refletir em profundidade sobre o que efetivamente desejam comunicar, de modo a obterem o melhor aproveitamento dos gastos realizados com comunicação, vários deles obrigatórios nos mercados financeiros e de capitais. Por que não aproveitar para diferenciar? Página 2 de 2