Do tempo, da existência, da poesia.
Antero de Quental
(1842 – 1891)
Vida acadêmica tumultuosa,
marcada pela polêmica com
Castilho – Questão Coimbrã
Junta-se depois aos operários
parisienses, viagem da qual
regressa desiludido.
Ativismo político – forma
sindicatos, funda jornais de
pendor socialista e organiza as
Conferências do Casino
A favor da União Ibérica
Introduziu, em Portugal, a
Associação Internacional dos
Trabalhadores.
Joel Serrão (Sondagem cultural à sociedade portuguesa cerca de 1870)
Um aumento gradual da população urbana, fazendo de Lisboa e Porto duas
cidades com alguma expressão demográfica;
O Predomínio da agricultura na vida econônica, ocupando cerca de 70% da
população ativa;
Uma elevadíssima taxa de analfabetismo, fixada em mais de 80% da
população dos anos 70, sendo mulheres cerca de 90% desses
analfabetos;
Prosseguimento da sangria emigratória, sobretudo em direção ao Brasil (e,
como consequência, a difusão da figura do brasileiro de torna-viagem na
paisagem e na literatura);
Um ensino extremamente carente com insuficiente rede de liceus com
menos de 6000 estudantes entre 73 e 74, e Universidade com teor
medieval e clerical.
As
conferências
hão-de
encontrar
resistências. Em primeiro lugar o nosso
público inteligente e sobretudo o literário
ama o bel-esprit: o que lhe agrada é a
oratória e a frase. Moda peninsular. Ora, as
conferências pela sua natureza científica,
experimental – exigem justamente o
contrário dos aparatos retóricos. São a
demonstração, não são a apóstrofe; são a
ciência, não são a eloquência.
Temos um programa, mas não uma doutrina:
Somos associação, mas não igreja: isto é, liga-nos um comum
espírito de racionalismo, de humanização positiva das questões
morais, de independência de vistas, mas de modo nenhum
impomos uns aos outros opiniões e ideias, fora do âmbito
marcado tão largamente à nossa unidade por esse comum ponto
de vista. Seremos, em religião, pelo sentimento criador do coração
humano, contra os mitos doutrinais das teologias: seremos, em
política, pelo governo do povo pelo povo: em sociologia, pela
emancipação do trabalho, em literatura e arte, pelo fim social e
civilizador da arte e literatura, combatendo as tendências egoístas
e esterilizadoras que hoje predominam. Dentro disto, todas as
opiniões são perfeitamente livres, assim como todos os assuntos.
O nosso fim é produzir uma agitação intelectual na nossa
sociedade, lançando em cada semana uma ideia ou duas para o
meio dessa massa adormecida do público.
A história mostra-nos com
efeito, a existência de um
substratum de noções
metafísicas comuns a toda
a filosofia moderna, que
penetram mais ou menos
profundamente
os
diversos sistemas, e não só
os sistemas mas ainda
todas
as
criações
espirituais
dos
povos
modernos [...] ao qual dão
a sua feição histórica e a
sua unidade funda-mental”
(p. 50)
Essas noções capitais são as de
força, de lei, de imanência ou
espontaneidade
e de
desenvolvimento:
quatro
palavras que, para o comum
da gente, não parecem ter
grande significação [...] mas
que representam, tanto em
amplitude
como
em
profundeza,
a
maior
revolução intelectual da
humanidade.
Leibniz, Kant, Hegel, Fichte, Hartmann
LEIBNIZ, G. W. (1646 -1716)
FILÓSOFO E MATEMÁTICO
ALEMÃO




Sonhou com a fundação de uma
confederação dos Estados
europeus.
O calculo infinitesimal
Acreditando na onipotência da
razão, ele reintegra no universo
a força, o dinamismo e o ponto
de vista individual e concreto.
As mônadas são os elementos
das coisas, diferentes umas das
outras e se hierarquizando
segundo maior ou menor grau
de perfeição, numa série
crescente cujo cume é Deus.
Cada uma é um espelho
representativo de todo o
universo.
KANT, I. (1724-1804)
FILÓSOFO MODERNO
PRUSSIANO
Pré-crítica (1755-1780)
Crítica (1781 em diante)
A fase crítica se inicia com a
influência dos empiristas ingleses
e com a publicação de Crítica da
Razão Pura.
 Questões: 1) o que podemos
saber? 2) o que devemos fazer? 3)o
que temos o direito de esperar? 4)
o que é o homem?
 A filosofia é a ciência de um lado,
da relação entre todo
conhecimento e todo uso da
razão; e do outro lado, do fim
último da razão humana, fim esse
ao qual todos os outros se
encontram subordinados e para o
qual devem se unificar.



FICHTE, J. G. (1762-1814)
FILÓSOFO DO IDEALISMO
ALEMÃO

O ponto de partida da obra de
Fichte são os problemas
kantianos da fundamentação
da experiência e da relação
entre a necessidade causal do
mundo natural e a liberdade
do mundo moral. Desenvolve
uma filosofia que prenuncia o
idealismo absoluto de Hegel,
formulando a noção de ego
como um ser ativo e
autônomo, resultando assim
de um ato de auto-afirmação
da consciência originária.
HEGEL, G. W. F (1770-1831)
FILÓSOFO DO IDEALISMO
ALEMÃO




Ruptura com a filosofia
transcendental kantiana
Reflexão sobre os grandes
eventos históricos como a
Revolução Francesa e a Guerra
Napoleônica
Parte da necessidade de
examinar, em primeiro lugar, as
etapas de formação da
consciência, tanto em seu
sentido subjetivo, no indivíduo,
quanto em seu sentido histórico
ou cultural, representado pelo
desenvolvimento do espírito.
Da consciência humana ao
espírito do absoluto
(Fenomenologia do Espírito)
VON HARTMANN,K.E. (18421906)
FILOSOFIA DO INCONSCIENTE

Partindo do exame dos resultados das ciências
naturais com vistas a uma indução
generalizadora, Hartmann encontra a
explicação dos fenômenos da natureza, e
especialmente dos fenômenos orgânicos, na
tese de um inconsciente criador do mundo,
elemento ativo e cego. Análogo à idéia
absoluta de Hegel e à vontade absoluta de
Schopenhauer, seria, no entanto, anterior e
mais abrangente que a idéia e a vontade, que
constituiriam, justamente, seus atributos. O
inconsciente é o incondicionado, o que não
pode explicar-se por meio nenhuma relação, é
o absoluto.

Força:

Lei:

O universo está impregnado de
espírito e, como tal, de animação
espontânea em todas as suas
partes. A este dinamismo, que não
é, na sua base, um dinamismo
mecânico,
mas
antes
um
dinamismo
psíquico
(um
pampsiquismo)

Influência de Leibniz.
À espontaneidade da força, acresce a
harmonia do movimento que fará com
que todo o universo “dance ao mesmo
compasso” e se modifique todo ele,
como numa miríade de espelhos, em
função de conciliar a liberdade e
espontaneidade da força com a lei.
Recusando o determinismo por corroer o
valor da dignidade humana, recusando
ainda o mecanicismo pelas mesmas
razões e pela ausência da necessidade de
um sentido último, superior, como
conciliar a regularidade daquilo que
ocorre
na
natureza
com
a
espontaneidade? A resposta será que o
universo não é caótica. Toda a realidade
se concatena em ordem a um fim
espiritual. A Natureza tem por fim a
gestação e a expansão da consciência.

Imanência

Evolução:

Imanência aponta para a
qualidade própria que a
realidade apresenta de se
autodeterminar, isto é, de devir
espontaneamente. Sem que
nenhum
princípio
exterior
intervenha, toda a realidade, em
todo o tempo, em cada parcela
de si, contém em si mesma,
interente, o seu princípio de
desenvolvimento e o seu fim ou
orientação.

“A minha doutrina da Evolução é
extremamente simples e lógica,
e funda-se toda numa única ideia
metafísisca: o devenir. [...] Com
efeito, se a essência da força é a
atividade, a sua existência
pressupõe uma série contínua de
actos, actos que envolvendo-os,
não podem ser a simples
repetição do mesmo acto mas
um avanço do posterior
relativamente ao anterior, que
nele
vem
contido,
um
alargamento da esfera de acção
da
força,
isto
é,
um
desenvolvimento” (p.62)


“Quero dizer que, sendo realista, será ao
mesmo tempo transcendental: realista nas
suas bases indutivas, transcendental nas suas
ideias metafísicas que a inspiram e
dominam”. (p. 121)
“Na espontaneidade insconsciente da
matéria está a raiz do que na consciência se
chama verdadeiramente liberdade” (p. 108)

“A liberdade, no rigoroso sentido da palavra,
é pois a espontaneidade quando plena, isto é,
quando o ser, não já espontâneo apenas na
sua atividade exteriormente condicionada,
[...] o é ainda nessa mesma condicionalidade,
criando conscientemente os motivos das suas
determinações, e criando-os em vista do
próprio fim” (p.108)

Onde os seres do mundo agem sob
condições, agir-se-ia criando as condições,
isto é, os motivos da sua criação; onde os
seres cumprem uma determinação interna
que é o seu fim, determinar-se-ia o próprio
fim. Mas, de onde surgiria esse fim? Do
próprio ser que se determina, isto é, da
consciência.

“Fixando em si esses elementos do seu próprio ideal, esses
princípios geradores do seu espontâneo desenvolvimento,
este pobre eu que somos, ou parecemos ser, tão
estreitamente condicionado pelo organismo, pelos
instintos, pelas relações exteriores que o comprimem num
círculo fatal, este pobre eu, que assim começa cativo e
quase esmagado transpõe gradualmente esses limites,
transborda, por assim dizer sobre o mundo que o
continha, substitui motivos próprios aos motivos alheios,
faz-se fim onde era meio e, de particular e limitado,
transforma-se finalmente no que se diria um outro eu,
impessoal, absoluto, todo razão e vontade pura.
Identificado com o ideal, só agora é ele mesmo. Não
concebemos outra coisa que seja ser livre”. (p. 110)
”Mors-Amor"
Esse negro corcél cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce,
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas,
"O INCONSCIENTE"
O espectro familiar que anda comigo,
Sem que pudesse ainda ver-lhe o rosto,
Que umas vezes encaro com desgosto
E outras muitas ancioso espreito e sigo,
Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terríveis cruzou, que assim parece
Tenebrosa e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?
É um espectro mudo, grave, antigo,
Que parece a conversas mal disposto ...
Ante esse vulto ascetico e composto
Mil vezes abro a boca ... e nada digo.
Um cavalheiro de expressão potente,
Formidável, mas plácido no porte,
Vestido de armadura reluzente,
Só uma vez ousei interrogá-lo:
-- Quem és (lhe perguntei com grande abalo),
Fantasma a quem odeio e a quem amo?
Cavalga a fera estranha sem temor
E o corcel negro diz: "Eu sou a Morte!"
Responde o cavaleiro: "Eu sou o Amor!”
-- Teus irmãos (respondeu), os vãos humanos,
Chamam-me Deus, ha mais de dez mil anos ...
Mas eu por mim não sei como me chamo ...
“Na espontaneidade insconsciente da matéria está a
raiz do que na consciência se chama verdadeiramente
liberdade” (p. 108)
 Sentimento criador do coração humano
 Nossa insensibilidade se beneficia daquilo que não
rompe, das ditas “boas ações” que não ferem os
códigos da moral. O despertar é a capacidade de
perceber situações horríveis em nossas vidas, tanto no
plano particular como social e cultural e, desse horror,
deixar surgir uma nova forma de ser, uma nova
consciência (quando estamos consciente do nosso
desconforto, olhamos o horizonte). Há uma entrega,
um despojamento, uma abertura.

Consciência da estreiteza (este pobre eu que somos, ou
parecemos ser, tão estreitamente condicionado pelo
organismo, pelos instintos, pelas relações exteriores que o
comprimem num círculo fatal, este pobre eu, que assim
começa cativo e quase esmagado)
 Sobre o apego (ver Buber, Nilton Bonder – A alma imoral)
 1) [voltar] sabem e sabem que sabem – reconhecem o
novo e permanecem à espera de uma mudança; 2) [lutar]
sabem, mas não sabem que sabem – a possibilidade de
empreender lhes escapa, o presente é demasiado forte; 3)
[desesperar-se] não sabem e sequer sabem que não
sabem – não reconhece o estreito condicionamento – a
angústia que se origina em não saber o que há de tão
inadequado; 4) [confortar-se] não sabem, mas presumem
que sabem – não compreende as diversas escravidões a
que está submetido. O futuro está em saber abrir mão
desse corpo domesticado e empreender uma nova

Antero de Quental
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