PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC – SP JANICE VALIA DE LOS SANTOS FORMAÇÃO BÁSICA EM ENGENHARIA: A ARTICULAÇÃO DAS DISCIPLINAS PELO CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL DOUTORADO EM EDUCAÇÃO (CURRÍCULO) SÃO PAULO 2009 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC – SP JANICE VALIA DE LOS SANTOS FORMAÇÃO BÁSICA EM ENGENHARIA: A ARTICULAÇÃO DAS DISCIPLINAS PELO CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Educação (Currículo), sob orientação do Prof. Dr. Marcos Tarciso Masetto. SÃO PAULO 2009 BANCA EXAMINADORA _____________________________ _____________________________ _____________________________ _____________________________ _____________________________ Ao Prof. Dr. Marcos T. Masetto, meu grande mestre. AGRADECIMENTOS A Deus, que por meio de Sua Vontade dirigida pelo Seu Entendimento, permitiu-me realizar o presente trabalho. Ao Prof. Dr. Marcos Tarciso Masetto, meu orientador e grande mestre. Aos meus pais Luiz Coe de los Santos e Alice Pachoalina de los Santos e minha irmã Juraci Valia de los Santos, por terem compreendido, silenciosamente, a minha solidão nos longos meses de elaboração deste trabalho. À Universidade Cruzeiro do Sul, por permitir-me desenvolver a pesquisa de campo em um de seus cursos. À Profa. Dra Sueli Cristina Marquesi, Magnífica Reitora da Universidade Cruzeiro do Sul, pelo incentivo constante para a realização do trabalho. À Andressa Aureliana Silva, jovem brilhante, pelo auxílio na finalização da obra. À Profa. Ms. Ana Maria Tavares Pollônio, amiga antiga, pelas correções tão necessárias nesta produção. À Profa. Ms. Inês Confuorto, pela colaboração inteligente e eficiente em diversos momentos da elaboração desta obra. Aos alunos de engenharia da Universidade Cruzeiro do Sul, os maiores responsáveis por este trabalho. Todos foram, são e serão imprescindíveis. RESUMO A pesquisa desenvolvida teve por objetivo estudar a articulação das disciplinas de formação básica nos cursos de engenharia por meio do Cálculo Diferencial e Integral. Desta forma, propomos, neste trabalho, uma metodologia que oriente as atividades de cálculo e que se constituam como experiências integrativas no curso. Para que atinjamos o objetivo, foi necessário estudar, também a postura do professor para que possa ser construída a aprendizagem junto ao aluno. Desse modo, desenvolvemos uma pesquisa de campo com a disciplina Cálculo Diferencial e Integral, que pertence à formação básica dos cursos de engenharia, junto aos alunos da Universidade cruzeiro do Sul. Após a realização das atividades, percebemos que é viável a utilização de atividades integrativas utilizadas na pesquisa pela metodologia proposta, visto que o aluno adquiriu conhecimento científico, desenvolveu criatividade como também conceitos básicos para a resolução de problemas em sua formação específica. ABSTRACT The present research aimed at studying the articulation of the basic formation subjects of the Engineering courses through the Differential and Integral Calculus. Thus, in this study, it was proposed a methodology which could guide the calculus activities and could be constituted as integrative experiences in the course. In order to accomplish the goals, it was also necessary to study the teachers’ role so as the learning process could be built. For this reason, a field research with the Differential and Integral Calculus subject, which is part of the basic formation of the Engineering course of Cruzeiro do Sul University, was developed. After accomplishing the activities, it was noticed that using integrative activities such as the ones suggested in the research by the proposed methodology is viable for the results showed the students have acquired scientific knowledge, have developed their creativity as well as basic concepts for problem solving in their specific formation. SUMÁRIO Introdução ................................................................................................... 10 1- Os motivos da pesquisa ................................................................... 11 2- Os problemas da pesquisa .............................................................. 15 3- Relevância ....................................................................................... 20 4- Metodologia ...................................................................................... 26 Capítulo 1: A formação básica nos cursos de Engenharia ......................... 30 1- A organização legal do curso de Engenharia no Brasil ................... 31 2- A formação básica: o levantamento de seus problemas ................. 33 Capítulo 2: Currículo e Projeto Pedagógico ................................................ 49 1- O currículo ........................................................................................ 50 2- O Projeto Pedagógico dos cursos de Engenharia na Universidade Cruzeiro do Sul ................................................................................ 56 2.1- Considerações sobre a concepção do curso de Engenharia ... 56 2.2- Matriz Curricular dos cursos de Engenharia na Universidade Cruzeiro do Sul ................................................................................ 61 3- Como o Cálculo Diferencial pode ser o agente interdisciplinar ....... 64 Capítulo 3: Formação básica: aprendizagem e postura do professor ........ 67 1- Introdução ........................................................................................ 68 2- Aprendizagem .................................................................................. 70 3- O papel e a postura do professor ..................................................... 78 4- Considerações ................................................................................. 86 Capítulo 4: O diálogo entre as disciplinas: Problemas Motivadores e Instigantes ................................................................................................... 88 1- Introdução ........................................................................................ 89 2- O cálculo como linguagem interdisciplinar ....................................... 91 3- A articulação das disciplinas pelo cálculo: aprendizagem ............... 92 4- Caminhos na aprendizagem em Engenharia ................................... 97 5- Apresentação de atividades motivadoras e instigantes ................... 99 6- Considerações ................................................................................. 106 Capítulo 5: Experiências integrativas das disciplinas básicas pelo cálculo. 109 1- Introdução ........................................................................................ 110 2- Atividade nº 1 – Equação de Aquecimento Resfriamento de Newton ............................................................................................. 112 3- Atividade nº 2 – Aplicação das Leis de Newton ............................... 124 4- Atividade nº 3 – Movimento Harmônico Simples ............................. 138 5- Atividade nº 4 – Circuito Elétrico – Derivadas parciais e aplicação.. 146 6- Considerações sobre as atividades integrativas realizadas ............ 153 Conclusões ................................................................................................. 156 Referências Bibliográficas .......................................................................... 163 Anexos ........................................................................................................ 170 INTRODUÇÃO 10 INTRODUÇÃO 1. Os motivos da pesquisa A docência de mais de vinte anos na Universidade Cruzeiro do Sul, em diversos cursos de ciências exatas, tais como Matemática, Ciência da Computação, Tecnológico em Sistemas de Informação e Engenharias, deu-nos a oportunidade de lecionar Cálculo Diferencial e Integral, Física e Álgebra Linear. Desde 1995, dedicamos especial atenção ao Cálculo Diferencial e Integral nos cursos de engenharia por sentir que alguma coisa poderia ser mais atrativo do que aquilo que se trabalhava. Em nossos primeiros anos de docência, ensinamos Cálculo de forma tradicional, por meio de definições e teoremas com suas intermináveis demonstrações, regras e procedimentos generalistas e exercícios da forma: resolva, calcule, derive, integre. Estabelecíamos o mesmo programa para todos os cursos, a mesma forma de avaliação, os mesmos objetivos e as mesmas estratégias. Como resultado, tínhamos o temor do aluno para o enfrentamento da disciplina, a desmotivação para o aprendizado e a consequente evasão. Não havia, na época, preocupação em compartilhar com os demais professores de disciplinas da mesma série, os conteúdos que seriam tratados. Nossa preocupação, em reuniões de planejamento, era a confecção de plano de ensino de forma cartorial, sem discussões sobre objetivos, conteúdos e estratégias. Após alguns anos, começamos a perceber que havia um problema em nossa disciplina. Nossas aulas não eram suficientes para motivar os alunos s aprender, visto que estudavam unicamente para a aprovação (sentindo-se vencedores de uma grande batalha quando conseguiam a tão esperada nota). Tratando-se de disciplina tão importante para a formação de engenheiro, 11 causava-nos estranheza e grande preocupação o fato dos estudantes não valorizarem tão necessários conhecimentos. Procuramos conversar com os estudantes e pudemos perceber que existiam problemas, não somente em cálculo, mas em todas as disciplinas iniciais do curso. Havia, por parte do aluno, a sensação de “utilidade inútil” de boa parte das disciplinas de formação básica . Desta forma, fomos à procura de meios para, pelo menos, minimizar tais problemas. Existiam, para nós, duas questões importantes a serem estudadas: como transformar nossas aulas em meios eficazes para a aprendizagem de nossos alunos e qual o papel do professor frente a isso. Começamos a nos indagar se valia a pena ensinar Cálculo nos moldes tradicionais e enfrentar o aluno desinteressado, sem perspectiva de sucesso. Como fazer o estudante perceber a importância da disciplina cálculo, ferramenta indispensável para a continuidade de seus estudos? Como motivar esse aluno? Este foi o grande motivo de nossa pesquisa em nível de mestrado, que defendemos em 2004. Buscamos, por meio de atividades articuladas com algumas disciplinas, meios de reavaliar o ensino de cálculo diferencial e integral nos cursos de engenharia com a utilização de softwares específicos. Não seria possível estudar o aprendizado sem abordar a formação do professor, razão por que foi feito um estudo sobre o perfil do professor de cálculo. Entretanto, ao longo do tempo, pudemos perceber que o cálculo poderia ser um elemento gerador de grandes mudanças no ensino de engenharia, visto que é a linguagem básica para a formação do profissional e, além disso, é o elo entre as demais disciplinas do curso. Portanto, se mudanças eram necessárias, deveriam ter como articulador o cálculo e seus professores. 12 Nós, professores dos cursos superiores em engenharia, temos como referência os nossos professores da graduação e, como nos falta a formação pedagógica, a tendência natural é exercer a docência da forma como aprendemos. As expressões “o cálculo é sempre o mesmo”, “assim eu aprendi, assim eu ensino”, “a física é para poucos”, são bastante comuns entre os professores das disciplinas básicas dos cursos de engenharia. Outro fator de igual importância sempre foi a falta de informações aos estudantes sobre a real necessidade das disciplinas básicas para sua formação profissional. Grande parte de nossos alunos, quando iniciam o curso de graduação em engenharia, não sabem os motivos pelos quais estuda cálculo, ou álgebra linear, geometria e a física. Têm somente a certeza de que deverão passar por elas de alguma forma para prosseguirem seus estudos. Os cursos de engenharia oferecem o cálculo pelo cálculo, a álgebra pela álgebra e a física pela física. O mesmo programa para os mais diversos cursos com exemplos genéricos, teoremas e demonstrações, é utilizado em cursos de formação científica aplicada, tais como nas engenharias, na física e na ciência da computação. A visão de que os professores ensinam e os alunos aprendem hoje em dia mudou bastante. As verdades tornaram-se perecíveis e o conhecimento temporário. Não se trata mais de retratar a realidade, mas de construí-la. “Conhecer não é refletir a realidade, é elaborar modelos que pareçam o mais possível ao que sabemos desta realidade” (POZO, 2002, p.38). A evolução do mundo exige nova postura dos cidadãos e cria novas expectativas para o direcionamento dos processos escolares de aprendizagem e formação. A forma tradicional, memorística e repetitiva de reprodução dos saberes tornam-se, em nosso entendimento, inadequadas e “deve dar lugar a uma cultura da compreensão, da análise crítica e da reflexão sobre o que fazemos e acreditamos e não só do consumo, mediado e acelerado da tecnologia, de crenças e modo de fazer fabricado fora de nós” (idem p.40). Entretanto, as 13 nossas aulas continuam as mesmas. É evidente que a tecnologia alterou muitas de nossas chamadas estratégias: podemos não utilizar de lousa e fazer uso de projeções multimídia, entretanto, acreditamos que houve somente uma troca de instrumento. A lousa, agora, é mais sofisticada. A visão da escola tem o limite de um processo de ensino no qual os conhecimentos e experiências devem ser transmitidos por um professor que sabe e tem experiência e um aluno que não sabe e não conhece. Ao final de um período o aluno é submetido a uma avaliação que, se for positiva, lhe confere uma aprovação que o habilita a prosseguir seus estudos ou a exercer a profissão para a qual foi formado. Os professores devem estar preocupados não apenas em incutir nos alunos, desde o início de seus cursos, saberes fragmentados e desarticulados da vida cotidiana de cada um, mas em construírem juntos um conhecimento que possibilite a compreensão da sociedade atual e suas contradições, que seja capaz de perceber as necessidades e possibilidades de mudanças para a construção do novo estilo de vida exigido pela atual sociedade. A finalização de nossa pesquisa em mestrado, conforme já citado, nos levou a iniciar esta outra que ora apresentamos, mais ampla, em que procuramos estudar todo o ciclo básico do curso de engenharia, tema de nossa pesquisa no doutorado. 14 2. O Problema da pesquisa Nossa pergunta é: COMO PROGRAMAR E EXECUTAR, DE FORMA ARTICULADA PELO CÁLCULO, AS DISCIPLINAS DE FORMAÇÃO BÁSICA NO CURSO DE ENGENHARIA, APRESENTADAS E CONSTRUÍDAS COMO FERRAMENTA PARA A CARREIRA PROFISSIONAL, DE FORMA A TORNAR A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA AO ESTUDANTE? QUAL A POSTURA DO PROFESSOR FRENTE A ISSO? Nossa hipótese inicial era: é possível propor uma metodologia que oriente as atividades de Cálculo que se constituam como experiências integrativas no curso de engenharia, visto que o cálculo é a ferramenta que permite modelar fenômenos e processos. A Resolução CNE/CES 11, de 11 de março de 2002, instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia (anexo 1) , que definem os princípios, fundamentos, condições e procedimentos na formação de engenheiros, para aplicação em âmbito nacional. Cada curso deve possuir um projeto pedagógico que apresente um conjunto de atividades previstas, a fim de garantir o perfil desejado de seu egresso e o desenvolvimento das competências e habilidades esperadas. Em seu artigo 6o, essa resolução propõe que “Todo o curso de Engenharia, independente de sua modalidade, deve possuir em seu currículo um núcleo de conteúdos básicos, um núcleo de conteúdos profissionalizantes e um núcleo de conteúdos específicos que caracterizem a modalidade”. Aponta, também, que o núcleo de conteúdos básicos deverá ser de 30% da carga horária mínima e versará sobre os tópicos: metodologia científica e tecnológica, 15 comunicação e expressão, informática, expressão gráfica, matemática, física, fenômenos de transporte, mecânica dos sólidos, eletricidade aplicada, química, ciência e tecnologia dos materiais, administração, economia, ciências do ambiente, humanidade, ciências sociais e cidadania. A escolha de disciplinas que abraçarão todos os tópicos citados na Resolução é feita por cada instituição de ensino, a quem caberá adequar seu currículo dentro do projeto pedagógico de cada curso. A Universidade Cruzeiro do Sul, instituição onde a pesquisa foi realizada, pratica os ingressos de estudantes por habilitação, ou seja, os estudantes ingressam em engenharia elétrica, mecânica, civil e produção e cursam as disciplinas de formação básica (em sua maior parte) durante os quatro semestres iniciais. Outras escolas de engenharia optam por ingresso em ciclo básico (engenharias) e, posteriormente oferecem aos estudantes a opção de modalidade/habilitação. Nossa pesquisa contemplará a articulação do Cálculo Diferencial e Integral com a Física, Álgebra Linear, Mecânica Geral, Eletricidade e Fenômenos de Transporte. Até quase dez anos atrás, quando ministrávamos aulas de Cálculo para engenharia, o cálculo era tratado da forma tradicional na abordagem, ou seja, geral e pouco aplicada (ou com aplicações genéricas em alguns tópicos da física geral): os índices de reprovação de nossos alunos eram bastante altos, chegando a 80% e o desinteresse pela disciplina, visto apresentar-se como impossível de aprovação, aumentava ano a ano. Problemas semelhantes aconteciam com outras disciplinas de formação básica, quando havia a necessidade de utilização dos conceitos de cálculo para resolução de problemas de Física ou Mecânica. 16 Que resposta dar aos estudantes quando nos perguntam: “ A álgebra linear é usada quando?” ou “ para que eu preciso estudar cálculo? Ou” Para que serve uma transformação linear? Ou “ posso aplicar esta técnica de resolução de equações diferenciais para um problema de Fetrans (Fenômenos de transporte)?” ou “dê um exemplo de aplicação na minha profissão”, ou “vou usar isto em eletromagnetismo?”. Estas, e tantas outras perguntas semelhantes, foram feitas (e certamente ainda serão) por nossos alunos. Eles, com certeza, não se aperceberam na intrínseca relação entre as disciplinas do ciclo básico. A simples justaposição das disciplinas componentes da estrutura curricular das disciplinas de formação básica permite que os estudantes nos questionem sobre a necessidade do tópico tratado em uma disciplina, ou até mesmo da importância dela para a formação profissional. Acreditamos na importância de questionamentos por parte de nossos alunos, entretanto, muito mais interessante seria o aluno perceber, pelas atividades oferecidas a eles durante as aulas, a relevância do assunto tratado, qualquer que seja a disciplina. Outra inquietação nossa é saber por quais motivos os professores das disciplinas básicas, mais especificamente de Cálculo, não se utilizam de atividades motivadoras e problemas instigantes que, ao mesmo tempo sejam exercícios de aplicação em cálculo e de aplicação de outro assunto em disciplinas diversas. Nossas atividades como professora de cálculo, são, em sua maioria, de aplicação, sejam elas iniciais, quando são utilizados os conhecimentos armazenados pelos alunos (quer sejam em física básica ou dados do cotidiano), ou finais (quando podemos fazer uso de introduções a assuntos futuros). Procuramos não perder chance alguma de desenvolver atividades aplicadas junto aos alunos e mostrar a utilidade do cálculo, oferecendo a disciplina com mais significado para o curso, contribuindo não só para a sua formação cognitiva, como também para o desenvolvimento das competências necessárias a sua futura profissão. 17 As exigências do mercado de trabalho com o avanço da tecnologia são cada vez maiores. Desta forma, não é mais possível, nem lógico, o ensinar como aprendemos. As disciplinas que compõem a estrutura curricular de engenharia devem ter como objetivo a formação do profissional que atenda às exigências da sociedade atual. A comunicação entre as disciplinas pode ser feita por meio do cálculo diferencial e integral com aplicações práticas. O Cálculo Diferencial e Integral foi uma das maiores conquistas intelectuais do século XVII, perpetuando-se, como a ferramenta básica do desenvolvimento científico desde então. Por caminhos distintos e, com diferentes modos de raciocínio, Newton e Leibniz chegaram à descoberta do Cálculo. Newton, o físico, desenvolveu, em 1665, o método dos fluxos, utilizando-se de conceitos de movimento; Leibniz, o filósofo, na mesma época, partiu da idéia de diferencial como elemento constitutivo da vida e da evolução. Newton não apresentava preocupação com a elegância da forma pela perfeição de notação. Ele sabia trabalhar com os fluxos, conhecia o significado de suas notações, o que lhe bastava. Para Leibniz, a notação apropriada significava mais do que um adorno, era para ele um princípio fundamental para o raciocínio, constituindo-se, por si só, um instrumento de pesquisa: a ordem, uma certa aproximação da perfeição divina. É essa a linguagem com que a ciência avança. É esse o meio de comunicação daqueles que praticam a ciência. Cabe a nós, professores de Cálculo, mostrarmos ao aluno ser este ramo da matemática, uma das maiores realizações do homem, demonstrando a sua real importância, por seu aspecto prático, assim como pela sua surpreendente beleza. O culto pela teoria e suas abstrações sempre dominaram o ensino das matemáticas. A apresentação das teorias sempre foi desenvolvida desconectada da realidade. E, como a realidade é extremamente complexa, pois foge daquilo que é ideal, torna-se necessário ao professor, maior 18 flexibilidade e conhecimentos nas diversas áreas, no caso, científicas. Desta forma: Trabalhar com a realidade intimida e inibe a abordagem no ensino. Fica-se no teórico e abstrato, mencionando que “essas teorias e técnicas servem para isso ou aquilo”, ilustrando com exemplos artificiais, manipulados e descontextualizados. Isso é particularmente notado nos cursos universitários de cálculo, assim como no ensino fundamental e médio. (Bassanezi, 2002, pp.1112) Na pesquisa que fizemos em nossa dissertação de Mestrado (Los Santos, 2004) verificamos, dentre outras coisas, por meio de atividades e trabalhos integrados, que a aprendizagem em cálculo é mais eficiente, se os alunos forem motivados a pesquisar assuntos tratados em outras disciplinas na resolução os problemas. O professor, para isso deve procurar se auto desafiar para aprimorar seus processos de compreensão e de sua prática educativa e procurar, cada vez mais, a forma de produção do conhecimento destinado a um saber fazer com sentido e: - criar situações de aprendizagem calcadas na resolução de situações problemas do cotidiano, ou atividades integradas que envolvam o aluno na busca de informações e aprofundamento de conceitos; - entender que os conteúdos disciplinares estão a serviço da solução de situações problemas ou trabalhos integrados com as devidas conexões horizontais e verticais entre as disciplinas; - envolver-se na discussão com seus pares, visando a atualização e aprimoramento de seu fazer; - compreender a forma como o aluno organiza o pensamento/idéias, para intervir, adequadamente, na situação, de forma a promover a construção do conhecimento do aluno; - ser capaz de empreender mudanças em sua prática, buscando adaptá-la à diversidade e ao contexto escolar; 19 - ser facilitador da aprendizagem, favorecendo a participação e cooperação dos alunos, o que implica criar um ambiente de aprendizagem que integre o ensino e pesquisa, em que os alunos exercitem constantemente a comunicação e a colaboração. A pesquisa que ora realizamos visa melhorar, dentre outras coisas, a postura do professor que trabalha nas disciplinas de formação básica dos cursos de engenharia, e facilitar a organização e realização de trabalhos/atividades articuladas com as demais disciplinas do curso. A apresentação das atividades propostas e realizadas, durante dois anos junto aos alunos nas disciplinas básicas do curso de engenharia, nos apresentou como resultado um crescimento fundamental na qualidade de aprendizagem, assim como em resultados quantitativos em relação ao número de aprovações que superou (e vem superando) 70% em cálculo diferencial. Vale ressaltar que o percentual de aprovação citado, refere-se à disciplina oferecida presencialmente, após a realização de todas as avaliações regimentais e exames. 3. Relevância A preocupação com a formação dos engenheiros para este século vai além de oferecer as competências técnicas necessárias para o exercício da profissão. A formação de um cidadão responsável, dotado de princípios morais e éticos é também uma de nossas grandes missões. A partir de 1973, o COBENGE – Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia evento anual promovido pela ABENGE – Associação Brasileira de Ensino de Engenharia, reúne grande parte dos órgãos oficiais ligados ao setor, tais como instituições de ensino, empresas e profissionais interessados na melhoria e desenvolvimento da engenharia no Brasil. O evento é fórum propício 20 para discussões de temas essenciais ao ensino de engenharia e, dentre os assuntos mais discutidos, estão a aprendizagem nas disciplinas de formação básica e a formação dos professores dos cursos de engenharia. A Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC tem publicado inúmeros trabalhos sobre o Ensino de Engenharia no Brasil. O Prof. Dr. Walter Antonio Bazzo, preocupado com os alarmantes índices de reprovação e evasão, levanta questões bastante sérias sobre o ensino de engenharia e seus paradigmas, aponta diferentes abordagens para o ensino de engenharia e questões didático-pedagógicas, evidenciando, também, a falta de oportunidade de se oferecer conhecimento humanístico aos estudantes e propõe algumas questões para reflexão (Bazzo, 1999), das quais destacamos: - A prática de compartimentização e da dissociabilidade do conhecimento específico com o mundo que o cerca. O processo educativo como um fim em si mesmo, sem ligação com o cotidiano das pessoas, torna-se uma estrutura meramente acadêmica, apartada da vida prática. (p.254) - Ambiente de sala de aula que desencoraja a participação ativa dos alunos. (p.259) - Ensino é exageradamente centrado na memorização e na reprodução de tarefas repetitivas. Por consequência, a avaliação da aprendizagem é um ritual de repetição preciso e detalhado das explicações do professor. (p.260) A questão pedagógica dentro do curso de engenharia é bastante séria e significativa. Pesquisas realizadas na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, quando da comemoração dos 100 anos da POLI, publicadas por Brighenti (1995) apontaram diversos problemas no curso, principalmente nas disciplinas de formação básica. As maiores dificuldades encontradas no curso estão na má qualidade pedagógica dos professores, na falta de visualização do porque estão estudando aquele assunto e não outro e na não articulação das disciplinas. Foram apontadas pelos egressos alguns problemas quanto ao 21 ensino de matérias básicas nos dois primeiros anos de curso (Brighenti, 1995, pp. 31 – 46): 1- O aluno entra no curso esperando uma formação em engenharia e o que encontra são as disciplinas básicas, ensinadas de modo completamente desvinculada da engenharia e, no dizer deles: ”muito puxadas”. 2- O aluno não vê utilidade ou não é esclarecido sobre a serventia posterior do que lhe é ensinado nas matérias básicas. 3- As matérias básicas são ensinadas de maneira muito teórica e pouco relacionadas com a engenharia. 4- Elevado nível de exigência nas provas. “Ensina-se pouco e cobra-se muito”. 5- O clima de pressão sobre o aluno – aliado à falta de “didática” dos professores – acrescente-se aqui o fato de o aluno não ter a quem recorrer, em virtude do mau desempenho nas avaliações e de ter a sensação de que não está conseguindo levar o curso. 6- A falta de didática dos professores, incluindo-se apoio e orientação aos alunos, e as aulas mal ministradas - segundo a maioria dos alunos do ciclo básico, quase sempre ou muitas vezes tiveram professores cujas aulas consistiam apenas em repetir o que estava no livro-texto. 7- Os professores das matérias básicas não falam a linguagem dos engenheiros - partindo-se da premissa de que conhecem bem a sua matéria – e se conseguissem ensiná-la talvez não tão propriamente dentro da linguagem dos engenheiros, mas, pelo menos, dentro do “espírito da engenharia”, já seria conveniente. 22 8- Ausência de integração entre as disciplinas - a maioria dos professores nem sabe, além da sua, quais são as outras disciplinas que estão sendo dadas no semestre, no anterior e no seguinte, e muito menos nos seus programas. 9- A presença de professores iniciantes nos primeiros semestres do curso – a idéia, bastante corrente, de que lecionar aos calouros não é preciso tanto conhecimento ou experiência, pois eles também não o possuem, apenas em parte tem sentido. Por outro lado, não se pode esquecer de que os professores que já acumularam mais conhecimento e experiência têm mais condições de iniciar e motivar os alunos ao curso, o que é decisivo nos primeiros semestres. Informam, também, que não existe controle em termos pedagógicos do serviço prestado à POLI por professores de outros institutos. 10- Os alunos consideram excessivo o número de créditos do ciclo básico e o número de horas que sobram para estudo individualizado, pequeno, o que dificulta o estudo para as provas. Outra constatação dos alunos refere-se ao baixo aproveitamento nas aulas em termos de aprendizagem, pois os professores basicamente “passavam” as matérias (muitas vezes o que estava escrito no livro texto). Por conseguinte deixavam de assistir às aulas e passavam a estudar por si em livros, anotações de colegas e afirmam que assim melhoraram as suas notas. Os alunos entendem que mais da metade das aulas são dispensáveis, de modo que assistir aulas “era perda de tempo”. Os alunos administram a sua aprovação na disciplina. Garantida a aprovação em uma disciplina, deixam-na de lado e dedicam-se a outra. Sabendo isso, muitos professores demoram para divulgar as notas das primeiras provas ou procuram fazer com que as médias delas sejam baixas. 11- Superposição de conteúdos. Isso acontece, basicamente, por: falta de comunicação entre professores, o que os leva a assuntos repetidos já que o aluno não aprendeu no grau de complexidade desejada pelo professor. 23 12- Quantidade exagerada de conteúdos da disciplina – Dizem os alunos que os professores deveriam selecionar, por conta do curso, os conteúdos mais importantes para evitar o inchaço. 13- Nos cursos não são declarados os objetivos gerais de cada disciplina. Diz o autor que :”Na verdade, formular e declarar os objetivos de ensino não apenas está ausente na prática docente do curso, como, em geral, também não é do conhecimento pedagógico de seus professores” (Bringhenti, 1995, p.94). 14- Tiveram que colar para ser aprovado na disciplina. A partir das evidências aqui citadas, além de outras que fazem referência a observações feitas pelos egressos da Escola Politécnica, esta criou o programa POLI 2015, iniciado em novembro de 2002 com a Conferência de Construção de Futuro1 para discutir sobre o futuro da formação dos engenheiros e da própria escola de engenharia, apontando o ano de 2015 como meta para empreender transformações que se farão necessárias até lá. Uma das grandes preocupações do programa é a questão que envolve as técnicas pedagógicas e de comportamento (no estímulo à criatividade e poder de comunicação), processo contínuo de ensinar, aprender e resolver problemas, com início em graduação e continuando com a pós-graduação. Outra grande preocupação (POLI 2015, 2002, p.27) é: “a mudança do papel do professor – muito mais um orientador e questionador”, além de sua maior preocupação: “aprender a aprender”. Um relatório final denominado Estratégias para implementação da visão – POLI 2 foi publicado em 2004, com as estratégias para implementação do projeto. Demo (1999), ao discorrer sobre o “profissional engenheiro” que as escolas “geram” aponta que, já ao se formar, ele está ultrapassado, pois “... em 1 2 Disponível em www.poli.usp.br/2015/documentos/relatorio_campos_jordao.doc Disponível em www.poli.usp.br/2015/documentos/relatorio_final.doc 24 vez de orientado a aprender a aprender, a saber pensar, continua escutando as aulas e armazenando conhecimento de segunda mão, requentados; toma nota e faz provas...” (Demo, 1999, p.41). Muitas dissertações, teses e publicações em diversos países do mundo e também aqui no Brasil, abordaram o problema do ensino nos cursos de engenharia, assim como as questões de aprendizagem em disciplinas específicas das suas estruturas curriculares. A tese de doutoramento de Fusco (2002) intitulada Ensino de uma disciplina básica de matemática (Geometria Analítica e Cálculo Vetorial) num curso de Engenharia”, estuda a disciplina Geometria Analítica e Cálculo Vetorial de modo a colaborar para a formação do engenheiro. Nossa dissertação de mestrado (Los Santos, 2004) apresenta um estudo sobre o Cálculo Diferencial e Integral e a aprendizagem aplicada por meio de situações problema com uso de tecnologia. A obra “Ensino de Engenharia: Técnicas para a otimização das aulas”, organizada pelo Prof Dr. Marcos T. Masetto, publicada em 2007, apresenta diversas contribuições de professores dos cursos de engenharia da Escola Politécnica da USP, da PUC-SP , FEI e Universidade Cruzeiro do Sul3. Grande parte dos autores apresentaram trabalhos referentes ao ciclo básico: Ensino de Geometria Analítica e Cálculo Vetorial (Fusco, 2007), Cálculo Diferencial e Integral – aprendizagem aplicada ( Los Santos, 2007), O uso de tecnologia de informação para melhoria da eficiência instrucional – o caso das disciplinas de Desenho” (Santos, 2007) e Práticas de eletricidade e eletrônica: motivando alunos do 2o ano do curso de engenharia elétrica para as atividades relacionadas com a profissão” (Consonni, 2007). Durante o COBENGE em 1996, realizado em Manaus, uma das grandes preocupações dos participantes era a formação do professor de engenharia. Foram reunidos textos que levassem o professor a refletir sobre sua prática e 3 A Universidade Cruzeiro do Sul é representada pela autora desta tese. 25 suas relações com os educandos. Bazzo (1997) diz no prefácio da obra “Ensino de Engenharia – na busca de seu aprimoramento”: Como um possível caminho para permitir essas novas visões, imaginamos que as seguintes idéias gerais, aqui contempladas, possam ajudar: - apresentar conteúdos que oportunizem reflexões acerca da prática do ensino de engenharia no Brasil; - suscitar discussões que possibilitem a abertura de espaços para que se pense o ensino de engenharia sob novos enfoques; - incentivar o desenvolvimento de instrumentos e de procedimentos didático-pedagógicos que possam (re) estabelecer a motivação e a criatividade nas escolas de engenharia. Quanto às questões didáticas, relação teoria e prática, articulação entre as disciplinas e a forma fragmentada como as disciplinas são tratadas no curso de engenharia, Bazzo (1999) relata: “...os conhecimentos que os professores transformam em estrutura didática, resultado de transposições diversas do conhecimento de origem, não podem – hoje mais do que nunca! – ser tratados de forma linear, fragmentada, nem no currículo, nem na própria preparação didática individual. Surge aqui um tema para o debate curricular: a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade no ensino tecnológico, e a própria idéia da estrutura disciplinar” (p.4) 4. Metodologia A abordagem da pesquisa é qualitativa, visto que a produção do conhecimento científico não está reduzida a dados isolados, justificados por teoria. O observador (sujeito) integra o processo do conhecimento, interpretando os fenômenos e procurando atribuir a eles significado. Segundo 26 Chizzotti (1998), existe uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito (dependência biunívoca entre sujeito e objeto), um vínculo entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. Esta confere uma das grandes divergências entre a pesquisa qualitativa e os trabalhos experimentais: considera todos os elementos de uma situação em suas inter-relações e influências recíprocas. Bogdan (1994) e André (2001) ao discorrerem sobre investigação qualitativa, mostram que este tipo de pesquisa apresenta cinco características: 1a “Na investigação qualitativa a fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal” (Bogdan, 1994, p.47) e o procedimento mais comum é a observação. 2a “A investigação qualitativa é descritiva” (p.48) - os dados da pesquisa são palavras e não números. Os dados consistem em transcrições de entrevistas, respostas a questionários e outras observações que possam se tornar importantes para a investigação. A riqueza desse tipo de pesquisa está na análise de todo esse material, cujas pistas são fundamentais para a compreensão de nosso objeto de estudo. 3a “Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos” (p.49). 4a “Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma indutiva. Não recolhem dados ou provas com o objetivo de confirmar ou infirmar hipóteses construídas previamente” (p.50). 5a “O significado é de importância vital na abordagem qualitativa” (p.50). O presente trabalho assemelha-se a um exemplo clássico da metodologia de investigação-ação. Desta forma, pode-se considerá-la uma pesquisa-ação: o professor decide promover uma mudança na sua prática docente e acompanha o desenvolvimento com um processo de pesquisa, com planejamento de intervenção, coleta sistemática de dados, análise e relato de resultados. Nossa 27 pesquisa foi caracterizada por ação docente (feita por nós) caracterizando alterações em nossa prática diária e acompanhamento de todo o processo. A pesquisa de campo envolve os alunos do 3o semestre de dois cursos: Engenharia Mecânica e Engenharia Elétrica. A partir de pesquisa bibliográfica e experiências pessoais, foram elaboradas as atividades descritas e discutidas no capítulo 5 deste trabalho. As atividades foram planejadas sob o ponto de vista do Cálculo Diferencial e Integral que funcionou como articulador entre as demais disciplinas. Durante todo o processo, foram feitos os registros de todas as aulas e documentada toda a produção do material. A análise dos registros permitirão que verifiquemos a pergunta desta pesquisa, se as hipóteses iniciais foram verificadas, ou não. A pesquisa de campo envolve grupos de alunos do curso de engenharia da Universidade Cruzeiro do Sul, que cursaram o 3o semestre nos anos de 2005 e 2006. Assim distribuídos: - 2005 – alunos dos 3o semestre de engenharias (Mecânica e Elétrica) – num total de 139 alunos. - 2006 – alunos do 3o semestre de engenharias (Mecânica e Elétrica) – num total de 142 alunos. Com esses grupos , foram realizadas as atividades que estão descritas no corpo deste trabalho e, após a realização das mesmas, foi aplicado questionário para grupos de 10 alunos por atividade, com dois tipos de questões: múltipla escolha e questões abertas (anexo 2.1). Todos os trabalhos foram realizados junto aos alunos pela pesquisadora . Além disso, foram entrevistados 5 professores dos cursos de engenharia da Universidade Cruzeiro do Sul (anexo 2.2), com o propósito de receber deles as informações sobre a importância e/ou a necessidade das atividades propostas, além de questioná-los sobre as disciplinas do ciclo básico e sua importância para o ciclo profissionalizante. 28 A partir dessa documentação, será feita análise minuciosa dos relatos para que se possa responder o problema de nossa tese. Os capítulos deste trabalho estão assim organizados: CAPÍTULO 1 – A formação básica no curso de engenharia – tratamos inicialmente da organização legal dos cursos de engenharia e fazemos levantamento e análise de seus maiores problemas referentes às disciplinas de formação básica. CAPÍTULO 2 – Currículo e Projeto Pedagógico – tratamos das diversas concepções de currículo e do projeto pedagógico dos cursos de engenharia. Fazemos também um estudo sobre os projetos pedagógicos dos cursos de engenharia na Universidade Cruzeiro do Sul (instituição em que a pesquisa foi realizada). CAPÍTULO 3 – Aprendizagem e postura do professor nas disciplinas de formação básica do curso de engenharia – discussão sobre a aprendizagem, a formação do professor, seu papel e sua postura. São discutidos aspectos específicos de aprendizagem e formação de professor das disciplinas de formação básica dos cursos de engenharia. CAPÍTULO 4 – O diálogo entre as disciplinas: problemas motivadores e instigantes – discussão sobre a articulação das disciplinas de formação básica pelo cálculo diferencial e integral, os caminhos da aprendizagem por meio de atividades motivadoras e problemas instigantes. CAPÍTULO 5 – Experiências integrativas das disciplinas de formação básica pelo cálculo – apresentação e discussão minuciosa de todas as atividades feitas em nossa pesquisa. 29 CAPÍTULO 1 A FORMAÇÃO BÁSICA NOS CURSOS DE ENGENHARIA 30 CAPÍTULO 1 A FORMAÇÃO BÁSICA NOS CURSOS DE ENGENHARIA 1- A organização legal do curso de engenharia no Brasil A Resolução CNE/CES 11, de 11 de março de 2002, instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia, a serem observadas pelas Instituições do sistema de educação superior do país. O documento define os princípios, fundamentos, condições e procedimentos na formação de engenheiros, para aplicação em âmbito nacional. Cada curso deverá possuir um projeto pedagógico que apresente como se desenvolve o conjunto de atividades previstas, de forma a garantir o perfil desejado de seu egresso e o desenvolvimento das competências e habilidades esperadas. O documento, em seu artigo 6o, dispõe que, independente da sua modalidade (ou habilitação), todos os cursos de engenharia devem possuir em seu currículo, um núcleo de conteúdos básicos, um núcleo de conteúdos profissionalizantes e um núcleo de conteúdos específicos que caracterizem a modalidade. Dispõe também, um percentual de 30% da carga horária mínima que deverá ser oferecida com conteúdos básicos, que versará sobre os seguintes tópicos: - Metodologia Científica e Tecnológica - Comunicação e Expressão - Informática 31 - Expressão Gráfica - Matemática - Física - Fenômenos de transporte - Mecânica dos sólidos - Eletricidade aplicada - Ciência e tecnologia dos materiais - Administração - Economia - Ciências do ambiente - Humanidades, Ciências Sociais e Cidadania A maioria das Instituições de Ensino Superior no Brasil utiliza-se no estabelecimento de suas estruturas curriculares, de um rol de disciplinas de formação básica, comuns às diversas habilitações e modalidades de engenharia, durante três ou quatro semestres iniciais do curso. No rol de disciplinas estão elencadas: o Cálculo Diferencial e Integral, a Geometria Analítica e Cálculo Vetorial, a Álgebra Linear, as Físicas, Mecânica Geral, Desenho Técnico Básico, Estatística, Química, Fenômenos de Transporte, Resistência dos Materiais, Técnicas de Programação e Cálculo Numérico. Os nomes das disciplinas podem sofrer algumas alterações terminológicas, mas suas ementas comportam todos os conteúdos citados na legislação. O objetivo das disciplinas é oferecer um embasamento matemático e físico para os dois outros núcleos citados na legislação, ou seja, os conteúdos profissionalizantes e os conteúdos específicos. A estrutura curricular e a infra-estrutura estabelecidas para este curso devem ser planejadas para , além de atender à legislação, oferecer ao aluno subsídios necessários para o acompanhamento do curso. Dentre os aspectos considerados para o projeto do curso, encontra-se a conciliação de núcleos de formação, constituídos por um núcleo de conteúdos 32 básicos, um núcleo de conteúdos profissionalizantes e um núcleo de conteúdos específicos que estabelecem as características peculiares de formação dos alunos. A seleção, encadeamento e integração vertical e horizontal das disciplinas destes conjuntos de núcleos, desenvolverão os aspectos conceituais, procedimentais e atitudinais desejados para a formação de Engenheiros. Durante o período que corresponde à formação básica inicial, o índice de evasão é bastante acentuado, independentemente da instituição em que o curso é oferecido, se pública ou privada. Os maiores responsáveis por esse acontecimento são a dificuldade de acompanhamento dos conteúdos das disciplinas e a desmotivação por aprender, causada pela qualidade das aulas e a não percepção da importância dos conteúdos desenvolvidos nesta etapa para o prosseguimento do curso. 2- A formação básica: o levantamento de seus problemas Pesquisas discutidas a seguir, comprovam a existência de diversos problemas na etapa da formação básica dos alunos de engenharia, dentre as quais: a falta de preparação do ingressante para o estudo de disciplinas complexas, a não formação pedagógica dos professores, a falta de subsídios que permitam ao estudante notar a importância das disciplinas básicas para sua formação profissional e a não percepção da integração entre o que aprende. “...mais tarde assisti uma aula na Escola de Engenharia – Dois corpos... são considerados equivalentes... se momentos iguais... produzem... acelerações iguais. Dois corpos são considerados equivalentes se momentos iguais produzem acelerações iguais. Os alunos estavam todos ali sentados a copiar o ditado e, quando o professor repetia a frase, verificavam-na para ter a certeza de que tinham escrito corretamente. Depois escreviam a frase seguinte, e assim por diante. Eu era o único que 33 sabia o que o professor estava falando sobre momentos de inércia, o que era difícil de descobrir. Não via como eles podiam aprender alguma coisa daquela maneira. Ali estava ele falando de momento de inércia, mas não discutia a dificuldade em abrir uma porta, empurrando-a quando pusermos peso na parte de fora, comparada com a dificuldade se os pesos estiverem próximos dos gonzos – nada! Depois da aula falei com um aluno: - Vocês escrevem todos estes apontamentos – o que fazem com eles? - Oh, a gente estuda, diz ele. Vamos ter um exame. - Como vai ser o exame? - Muito fácil – posso dizer-lhe agora uma das perguntas. Olha para o caderno e diz: - Quando é que dois corpos são equivalentes? E a resposta é: dois corpos são considerados equivalentes se os momentos iguais produzem acelerações iguais. - Por isso, como se pode ver, eles podiam passar nos exames e aprender todas aquelas coisas, e não saberem nada, exceto o que decoraram. Os estudantes tinham decorado tudo, mas não sabiam o significado de nada...” (Bassanezi, 2002, p.176). Bassanezi (2002) apresenta, na citação acima, o depoimento do físico norte americano Richard Feynman, Nobel de Física, ao assistir uma aula em um curso de engenharia, quando em visita ao Brasil. Registra o autor, ao referirse às palavras de Feynman, que ele: “...demonstra sua perplexidade frente aos rumos que estava (está?) tomando nosso sistema educacional quando aqui esteve participando, na década de 50, do que denominou método brasileiro de ensino” (idem, p.176). Feynman esteve no Brasil na década de 50. Cerca de cinquenta anos depois, Brighenti (1993) publicou resultado de uma pesquisa sobre a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, referência nacional em escola de engenharia, intitulada Perfil do ex-aluno da Escola Politécnica da USP – Pesquisa visando aprimoramento curricular. Além desse trabalho, Brighenti 34 publicou outra pesquisa em 1995 intitulada: O Ensino na Escola Politécnica da USP – Fundamentos para o Ensino de Engenharia. As pesquisas contemplaram diversas questões sobre todo o curso e, sobre a formação básica. Os egressos apontaram alguns dos principais problemas existentes nas séries iniciais do curso: - O aluno praticamente não vê engenharia nos dois primeiros anos do curso; - Elevado número de exigência nas provas: ensina-se pouco e cobra-se muito”; - O aluno não vê utilidade, ou não é esclarecido sobre a serventia posterior do que lhe é ensinado nas matérias básicas; - As matérias básicas são ensinadas de maneira muito teórica e pouco relacionada à engenharia; - Há sobreposição de conteúdos; - Os professores das matérias básicas não falam a linguagem dos engenheiros; - Clima de pressão sobre os alunos, aliado à falta de didática dos professores, incluindo apoio e orientação aos alunos; - Ausência de integração entre as disciplinas; - Quantidade exagerada de conteúdo da disciplina; - A presença de professores iniciantes nos primeiros semestres do curso; - Metade das aulas são dispensáveis, assistir aulas é perda de tempo; - Nos cursos não são declarados os objetivos de cada disciplina. - Tiveram que colar para serem aprovados. (Bringuentti, 1995, p. 31-46) A construção dos conhecimentos em engenharia tem como base fundamental os princípios de cálculo, da geometria, da física e da álgebra. A pesquisa aponta para a não percepção, por parte dos egressos, da utilidade e importância das disciplinas por diversos motivos. Um deles é não terem sido 35 informados da aplicação dos conteúdos à futura formação. A partir do momento em que o aluno não vê sentido no que lhe é apresentado no momento, perde seu interesse em aprender e, consequentemente, estuda somente para ser aprovado na disciplina. Por diversos métodos de memorização e utilização de técnicas diversas é possível que o estudante consiga ser aprovado (sucesso em resultados numéricos), entretanto, o mais provável é que se esqueça de tudo após a prova final. Se a aprovação é o único objetivo do aluno, este foi atingido, caso seja a aprendizagem da disciplina, não há como ter certeza disso. O aluno, ao ingressar em um curso superior, espera informações sobre os objetivos de cada uma disciplina que vai estudar para a construção sequencial de seu conhecimento sobre a futura profissão. Se não receber orientação sobre os motivos pelos quais utilizará os conhecimentos em Cálculo Diferencial, em Geometria e em Física para as disciplinas de formação profissional, ficará mais difícil se aperceber da real importância de cada uma delas. A pesquisa aponta também para o questionamento dos egressos sobre até que ponto tem sentido exigir-se nas provas das disciplinas Cálculo Diferencial, Geometria e Álgebra , demonstrações de muitos teoremas pois, segundo eles, a matemática interessa ao engenheiro sobretudo como ferramenta. Acreditamos na demonstração de teoremas somente para elucidar ou mostrar a veracidade da lei. Essas demonstrações devem dar lugar às aplicações, que são de muito maior importância e interesse para os alunos. Superposição de conteúdos em disciplinas de formação básica acontece, porque falta comunicação entre professores a respeito do conteúdo e isso torna os assuntos repetidos sob alegação de que o aluno não aprendeu no grau de complexidade desejada pelo professor. Dizem os alunos que os professores deveriam selecionar (por conta do curso) os conteúdos mais importantes para evitar o inchaço. Dizem os pesquisados que a maioria dos professores nem 36 sabe, além da sua, quais são as outras disciplinas que estão sendo dadas no atual semestre, no anterior e no seguinte e, muito menos, os seus programas. Sem que haja diálogo constante entre os professores, fica impossível executar um plano de ensino. Muitas vezes, quando reclamamos da enormidade do programa a ser concluído, não nos apercebemos que muitos dos tópicos que precisamos trabalhar, já foram tratados em outras disciplinas. Reuniões entre o corpo docente poderiam, com certeza, tornar esta fase menos cansativa, menos trabalhosa, mais prazerosa para todos (professores e alunos), menos desgastante e repetitiva. Se o professor “pensar e executar o seu plano de ensino” isoladamente, seguirá a sua “própria rota”, assim como os demais seguirão as suas. Cada um, percorrendo seu caminho, poderá entrar em rota de colisão com outro (ou outros). A integração e articulação entre as disciplinas são fatores de extrema importância quando nos referimos à aprendizagem. Essa preocupação fará com que as rotas seguidas por cada professor tenham a mesma direção e com um sentido único: a aprendizagem do aluno. A abordagem interdisciplinar facilitará a aprendizagem da teoria, visto que o aluno poderá perceber, ou ficará convencido de que o que está estudando é realmente necessário. Masetto (2003) esclarece: “...seria igualmente importante que os professores das diversas disciplinas lecionadas no mesmo semestre, ou em semestres anteriores e posteriores, pudessem se encontrar para analisar a integração entre elas, uma vez que todas cooperam para a formação do profissional. Por vezes, assuntos podem se complementar, temas poderiam não se repetir, situações e experiências profissionais poderiam ser exploradas conjuntamente, casos estudados com a participação de várias cadeiras...” (Masetto 2003, p.48). 37 A utilização de ligação mais forte entre a teoria e a futura prática, poderia minimizar o distanciamento sentido pelo aluno entre os primeiros dois anos de curso e os três últimos. ”No meu entender, de modo geral, até hoje, a docência universitária colocou sua ênfase no processo de ensino. Por isso, a organização curricular continua fechada e estanque, as disciplinas são maximamente conteudistas e só são oferecidas às concernentes e aos assuntos técnicos e profissionalizantes dos cursos, com pouca abertura para as outras áreas de conhecimento, quase nunca para a interdisciplinaridade ou para temas transversais, pouco incentivo à investigação científica na graduação”. (idem, 2003, p.36) Outra constatação é o baixo aproveitamento dos alunos nas aulas, em termos de aprendizagem. Citam os pesquisados que os professores “passavam” as matérias (muitas vezes o que estava escrito no livro texto). Por conseguinte deixaram de assistir às aulas, passando a estudar por meio de livros, anotações de colegas e afirmaram que assim houve progresso em suas notas. Importante salientar a expressão citada por eles: as notas melhoraram. Não fazem referência ao progresso na aprendizagem. Os alunos entendem que mais da metade das aulas eram dispensáveis, de modo que assistir aulas “era perda de tempo”. Os alunos, administram a sua aprovação na disciplina, garantem a sua aprovação, deixam-na de lado para se dedicarem a outras. Sabendo isso, muitos professores demoram para divulgar as notas das primeiras provas ou procuram fazer com que as médias delas sejam baixas. Um aspecto a ser destacado é um falso princípio que dirige a ação pedagógica de vários professores, particularmente da Matemática (Instituto de Matemática), o de que para o ensino dar resultado é preciso ser “ferrado” – difícil – havendo daí pouco empenho em tornar a aprendizagem da matéria fácil (no bom sentido) e prazerosa. 38 A falta de didática dos professores, incluindo-se apoio e orientação aos alunos, e as aulas mal ministradas foram aspectos citados pelos egressos. Segundo a maioria dos alunos, quase sempre, ou muitas vezes, tiveram professores cujas aulas consistiam apenas em repetir o que estava no livrotexto. A alta rotatividade dos professores das matérias básicas é considerada pelos pesquisados como uma das razões por que os professores não se esforçam em preparar e dar aulas melhores e mais adequadas a seu público alvo, por saberem que sua permanência é no curso transitória. A idéia, bastante corrente, de que para lecionar aos calouros não é preciso tanto conhecimento ou experiência, pois eles também não o possuem, é temerosa, visto que não se pode esquecer que os professores que já acumularam mais conhecimento e experiência têm maiores condições de iniciar e motivar os alunos ao curso, o que é decisivo nos primeiros semestres. Os alunos consideram excessivo o número de créditos das disciplinas de formação básica e o número de horas que sobram para estudo individualizado, pequeno, o que dificulta o estudo para as provas. A pesquisa também mostra que não são declarados os objetivos gerais de cada disciplina pelos professores. Diz o autor que: ”Na verdade, formular e declarar os objetivos de ensino não apenas está ausente na prática docente do curso, como, em geral, também não é do conhecimento pedagógico de seus professores” (Brighenti, 1995, p.94). A pesquisa feita por Brighenti (1995) no que se refere a ensinar pouco e cobrar muito, às formas memorísticas, à cobrança de demonstrações em avaliações, à forma tradicional de transmissão de conhecimento é muito bem representada por Bazzo (1997). “Quando pensam no ensino, muitos professores normalmente recorrem a lembranças de um tempo em que os estudantes seriam cobrados com mais rigor, em que a rigidez do próprio 39 sistema daria conta de imprimir ritmos mais eficazes de aprendizagem, em que os alunos encaravam com mais seriedade as suas obrigações escolares. Enquanto ocupados com o saudosismo tardio, de um tempo que talvez nunca de fato tenha existido, ficam estagnadas as abordagens mais sérias para busca de soluções que possam melhorar não só o ensino, mas acima de tudo a aprendizagem. Isso num tempo em que a dinâmica do processo ensino-aprendizagem sofre enormes influências do acelerado desenvolvimento científico e tecnológico”. Aprender, como Pozo (2002, p.139) cita abaixo, é algo não tão simples, visto que demanda gasto de energia e tempo. Desta forma devem existir motivos muito bons para superar “a inércia” de não aprender. Para ele, “Muitos professores, especialmente em educação obrigatória, costumam atribuir o fracasso de seus alunos a uma ausência de motivação. Na realidade, tal qual sugere Claxon (1984), seria mais adequado pensar na motivação em termos newtonianos, e dizer que o problema não é que os alunos se movam, mas mudar “sua quantidade de movimento” . Segundo a mecânica newtoniana, um objeto em repouso necessita de uma força para se pôr em movimento, da mesma força que um objeto em movimento necessita de uma força para se deter. Em ambos os casos há uma cômoda inércia que leva a se manter no estado atual, a não mudar.” A imagem que muitos professores tentam dar ao curso de engenharia é de um “curso que existe para poucos” e que “somente mentes privilegiadas receberão o diploma”. É comum, ouvirmos nos corredores das salas professores comentando: “vamos ver quantos sobreviverão ao massacre” ou, quando em seu primeiro encontro com os alunos: “a minha disciplina é a que mais reprova, poucos daqui conseguirão”. Nossa particular indagação sempre 40 foi: Os alunos são, de fato, incapazes para aprender? Sobre isso, Bazzo (1998, pp.53, 54) diz: “Torna-se quase rotina professores se orgulharem das listas perversas dos resultados das avaliações, que no fundo o que mais fazem é medir a sua própria capacidade de proporcionar a construção do conhecimento junto aos seus alunos. Os resultados, no conceito absurdo e equivocado destes professores, parecem denunciar que poucos, afinal, podem ter acesso aos conhecimentos privilegiados dos “bem-dotados” intelectualmente. Reforça sua posição junto aos departamentos todos saberem que a sua disciplina, não interessando qual a sua razão no todo do aprendizado, é realmente a mais difícil, e por isso é a que mais reprova alunos; é a mais difícil, complexa e inacessível; em suma: “o verdadeiro terror dos estudantes”. Quem quiser ser engenheiro, enfim, deve passar por esta árdua provação”. Reportamo-nos ao diálogo entre Feymann e alunos do curso de Engenharia citado no início deste capítulo. Aqueles alunos conseguiam prever exatamente quais seriam as perguntas do exame. E tinham em mãos a resposta, ditada pelo professor. Sobre o assunto, como notou o grande cientista, nada sabiam, mas sobre as perguntas e respostas do exame todos que “decorassem” responderiam. O livro texto e as anotações dos colegas, no entender dos alunos, suprem as aulas, que são dispensáveis, sendo pura perda de tempo assisti-las. Em nenhum momento foi citada a importância do assunto tratado pelo professor, mas sim a preocupação em “garantir a aprovação”. Surgem, então, dois problemas: os professores reclamam da falta de tempo para “esgotar” o conteúdo programático, e os alunos, por outro lado, dizem que mais da metade das aulas são dispensáveis. Será que um aluno motivado, com a certeza da 41 necessidade de aprendizagem dos conceitos tratados, teria esta impressão? Se o professor utilizasse as experiências dos próprios alunos, por meio de problematizações e diálogo aberto, suas aulas seriam tão dispensáveis assim? Em nossa pesquisa realizada em nível de mestrado (Los Santos, 2004), tratamos de aprendizagem em cálculo por meio de atividades aplicadas e uso de tecnologias. Em parte da pesquisa, entrevistamos egressos dos cursos de engenharia Elétrica (ingressantes em 1995) e de Engenharia Mecânica (ingressantes em 1996) que haviam estudado cálculo da forma tradicional (não aplicada). Foram feitas algumas perguntas a eles, das quais ressaltamos: 1- Como você acha que o cálculo deveria ser ensinado? - se quando aprendemos o cálculo, já soubéssemos em que usar, acredito que tivesse sido melhor. Não foi só em cálculo. Em álgebra, mesmo na Física, cálculo numérico. - Acho que cálculo e outras matérias do básico deveriam ser dadas para o curso, ou seja, para a engenharia com exemplos da engenharia. Não acho que tantas demonstrações sejam necessárias. Quando a professora, naquela época, após as demonstrações citava exemplos para comprovar aquele teorema ou aquela lei, tudo ficava mais claro. - seria bom se nós soubéssemos para que e como usar na engenharia uma série de matérias. 2- O que faltou? - Faltou só costurar com as outras matérias seguintes. - Faltou a prática. - Faltou um pouco de empenho meu no primeiro ano. Mas ainda acho que seria melhor se fosse direcionado para a engenharia. - Faltou saber para que servia aquele conteúdo. Talvez eu conseguisse passar antes. 42 As respostas dadas pelos egressos, na época, nos mostrou, de forma semelhante às respostas dadas pelos egressos da Escola Politécnica, que os alunos precisam, para aprender os diversos conteúdos que compõem a estrutura curricular do curso, de motivação para o aprendizado. Mesmo após a aprovação nas disciplinas, sentiram que o aprendizado poderia ser muito mais significativo se soubessem para que a disciplina seria utilizada. A preocupação do docente em tratamentos excessivamente formais da disciplina em detrimento de abordagens aplicadas muitas vezes desmotiva o aluno a estudar. Em uma segunda parte de nossa pesquisa (Los Santos, 2004), fizemos perguntas semelhantes às feitas aos egressos, mas para os alunos do curso, que haviam estudado cálculo por meio de atividades aplicadas e com a utilização de tecnologia . As respostas dadas mostraram a inversão significativa no teor dos depoimentos, dos quais ressaltamos: 1- Como foi seu aprendizado em Cálculo? - Difícil no primeiro ano pela falta de base. O Calculo 1 foi mais difícil. O Cálculo 2 foi muito mais fácil, pois tudo é aplicado. Eu sei em que usar, os exercícios são assim. Não tem mais a história de só resolver. Preciso pensar, pois a resposta não é mais só o resultado do integral. Tem problema para responder. Eu aprendi bastante. - Foi muito bom meu aprendizado em cálculo. Sei usar, ou melhor já sabia onde iria usar desde o começo, já que as aulas eram assim. Cálculo 2 foi sensacional. Brigar com a calculadora, estudar os gráficos, analisar, ver os porquês. Foi maravilhoso. - Difícil, muito difícil. Vim sem base. Consegui passar, mas não foi fácil. Usei tudo o que a escola oferecia: biblioteca, colegas professores na hora do café, monitor. Cheguei ao 5o ano com 2 dependências: Eletromagnetismo e Eletrônica I. Acho que se tivesse 43 estudado um pouco mais de cálculo eu não teria os problemas em eletromag. - Em 99 e 2000 repeti em cálculo I. Cansei, deixei para lá. Fiquei um ano sem ver cálculo I. Ano passado fiz matrícula em Cálculo I e Cálculo II, juntos. Pensei que não fosse dar. Ninguém imagina, mas o cálculo II me ensinou o I. Eu usava no II, o que aprendia no I. Uma matéria virou reforço da outra. Não me formo este ano, porque levei mais dps, por causa do cálculo que não sabia. 2- Como você acha que o cálculo deveria ser ensinado? O que faltou? - O Cálculo deve ser ensinado sempre e por todas as escolas como foi na minha: com objetividade, aplicado, com atividades, as mais diferentes possíveis para que todos aprendam. Eu gostei muito e falo para todos que aqui se aprende cálculo de uma maneira que em nenhum lugar se ensina. - Foi difícil, mas foi eficiente. As aulas começavam sempre, quando o assunto era novo, com o “para que serve isto que você vai começar a aprender hoje”. Depois todas as técnicas, em seguida problemas que eram discutidos e resolvidos com auxílio de calculadora ou computador ou no caderno mesmo. A professora sempre nos surpreendia com uma coisa diferente a cada semana. Agora vejo como foi bom estudar tanto, pois estou começando a transportar o cálculo para frente. As respostas dadas pelos alunos, mostram que as mudanças feitas em uma disciplina ocasionaram alterações na forma como os alunos enxergavam o cálculo. Não o consideravam mais fácil ou difícil, houve uma evolução em 44 aprendizagem. Vale ressaltar, também, que houve um aumento substancial nos índices de aprovação, também citados em nossa dissertação. Considerando-se o aprimoramento do ensino de engenharia, as novas tendências em Educação, as Diretrizes curriculares para os cursos de engenharia e as expectativas de formação profissional de engenharia para o século XXI é que se procurou desenvolver um trabalho diferenciado em sala de aula com os alunos de Cálculo Diferencial e Integral em nossa pesquisa em nível de mestrado. Apesar da formação básica do curso ocorrer, na maior parte do tempo, em sala de aula, os trabalhos desenvolvidos junto aos alunos de Cálculo Diferencial e Integral, com a utilização de diferentes estratégias de aprendizagem, contemplaram os seguintes aspectos: - Oferecer ao aluno aulas motivantes, por meio de situações-problema ligadas à sua formação; - A diversificação de estratégias de ensino; - Reflexão sobre as dificuldades e consequente ação, com a finalidade de recuperação; - Desenvolvimento de habilidades para trabalhos em grupo; - Desenvolvimento de habilidades de comunicação oral e escrita; - Utilização de diversos tipos de tecnologia (softwares, calculadoras gráficas, etc); - Desenvolvimento de criatividade; - Desenvolvimento de atitude de aprender a aprender; 45 - Compreensão da utilidade do Cálculo Diferencial e Integral na formação do engenheiro. Tomando por base as entrevistas feitas junto a alunos e ex-alunos do curso, pudemos observar que quanto à articulação entre as disciplinas e a aprendizagem construída por meio de situações aplicadas, os depoimentos que constam desta pesquisa são determinantes. Dos ex-alunos ingressantes em 1995, engenharia elétrica, época em que a disciplina era ministrada da forma tradicional, demonstrativa, nada aplicada, sem nenhum uso de dispositivos tecnológicos, percebe-se que, embora tenham consciência da importância da disciplina no desenvolvimento de seu curso, só se aperceberam disso depois. “...se quando aprendemos o cálculo, soubéssemos em que usar, acredito que tivesse sido melhor”; “...o cálculo e outras disciplinas do básico deveriam ser dadas para o curso, para engenharia com exemplos de engenharia...” ”Seria bom se nós soubéssemos para que e como usar na engenharia uma série de matérias”; “ficava um pouco sem “pé” e desmotivado, não sabia para que serviria no futuro”. Os depoimentos dos ex-alunos demonstram que conseguiriam melhor aprendizado se tivessem sido motivados pelo professor, por meio de apresentação e desenvolvimento do conteúdo com situações-problema, que envolvessem assuntos tratados no passado e que tivessem ligação com a sua formação. Os ingressantes de 2001, nos cursos das engenharias elétrica, mecânica e civil, apresentam, em seus depoimentos, mais observações sobre a utilização de tecnologia além daquelas referentes à forma aplicada e articulada no desenvolvimento da disciplina. Ressaltamos, de suas falas, alguns trechos significativos: “Você aprende aqui, você aplica lá...”; “...sei onde vou usar e porque eu integro e porque eu derivo” ;”...estou conseguindo entender para que serve uma equação diferencial, onde uso e como resolvo”; “Consigo 46 compreender o que o cálculo faz, para que serve”; “...as aulas começavam sempre, quando o assunto era novo, com o para que serve isso que você vai começar a aprender hoje. Depois todas as técnicas, e problemas eram discutidos e resolvidos com auxílio de calculadora, computador ou no caderno mesmo. A professora sempre nos surpreendia com uma coisa nova a cada semana”; “...a professora mostra onde a gente vai usar...” Quanto à postura pedagógica do professor, pode-se ressaltar, nos depoimentos dos pesquisados, que sempre houve a busca pelo aprimoramento pedagógico, o comprometimento em procurar meios de unir a teoria com a prática, o saber e o saber fazer. Mais do que isso, é saber fazer com sentido, o que nos leva a adquirir a competência maior: saber refazer. A construção do conhecimento tem início quando existe alguém predisposto a aprender algo (motivação) e, ao seu lado existe outro alguém que crie situações facilitadoras da aprendizagem. Os grandes desafios dos professores para facilitar a aprendizagem são: criar situações de aprendizagem calcadas na resolução de situações-problema do cotidiano de seus alunos; estabelecer conexões horizontais entre as disciplinas; ser capaz de empreender mudanças em sua prática; favorecer a participação e cooperação dos alunos, criando ambiente de aprendizagem que integre ensino e pesquisa, onde os alunos exercitem a comunicação e colaboração. É necessário que nós, professores, tenhamos criatividade para interferir positivamente em aulas práticas. Oferecer aulas dinâmicas, com a participação ativa de todos, de forma a aguçar a curiosidade nos alunos, tornará a aula mais motivante, levará o aluno a buscar soluções criativas e inteligentes para os problemas. Se há interesse em vencer a “inércia“ dos alunos é necessário que busquem saídas. Uma das saídas é o trabalho interdisciplinar criativo dos professores na busca da motivação dos alunos. “A criatividade não pode ser imaginada como um atributo natural atrelado a programas fixados... (...) Parece 47 que a grande “sacada” para buscar a criatividade está no diálogo limpo e livre que deve ser praticado em todos os meios culturais dos indivíduos“. (Bazzo, 1997, p.83) Um passo a frente em nosso trabalho, busca mostrar que, com atividades articuladas pelo cálculo, é possível reverter o quadro apresentado. A organização dos trabalhos de cada docente, formando um grupo coeso, de forma a preparar as atividades inter-relacionadas, favorecerá, como será possível perceber, a aprendizagem dos estudantes, tornando-os motivados para aprender. Importante agora, termos caracterizações e análises do projeto pedagógico dos cursos de engenharia da instituição de ensino em que a pesquisa foi realizada, visto ser ele o decodificador operacional das diretrizes curriculares do curso. 48 CAPÍTULO 2 CURRÍCULO E PROJETO PEDAGÓGICO 49 CAPÍTULO 2 CURRÍCULO E PROJETO PEDAGÓGICO 1- O currículo São muitas as concepções de currículo. Para alguns, currículo significa apenas uma grade curricular , ou seja uma longa lista de disciplinas que devem ser cursadas pelo estudante para obtenção de seu diploma. Nesta concepção, cada disciplina agrega um rol de conteúdos a ser cumprido. No entanto, a grande parte dos educadores associa a ideia de currículo ao conjunto de princípios e metas de projeto educativo, suficientemente flexível para promover discussões e reelaborações quando de sua implementação em sala de aula. Macedo (2005) cita que a palavra currículo apresenta uma série de significados. Ela “a caracteriza como termo polissêmico e que provoca diferentes sentidos e representações” (p.198). Continua a autora, ao justificar a existência de diversos significados para o currículo: “Embora, vários autores tenham buscado definir o significado de currículo, “este é um termo polissêmico, conforme Pedra (1997, p.30). O autor argumenta que desde que se iniciaram as teorizações sobre o currículo no século 20, com a confrontação das perspectivas de Bobbit (1918) e Dewey (1902), já se acenava para essa característica polissêmica do termo currículo, pois, para 50 o primeiro, o currículo era entendido como “algo dado ao aluno” e para o segundo, algo “dado para o professor“ (p.198). Desta forma, de acordo com a autora, “os vários conceitos atribuídos ao termo currículo não descrevem realidades diferentes, apenas informam sobre a interpretação de determinado autor, ou escola teórica” (p.198). Sacristán (2000) aponta que currículo é uma diversidades de coisas ao mesmo tempo: “O currículo é muita coisa ao mesmo tempo: idéias pedagógicas, estruturação de conteúdos de uma forma particular, detalhamento dos mesmos, reflexo das aspirações educativas mais difíceis de moldar em termos concretos, estímulo de habilidades aos alunos, etc. Quando o professor desenvolve uma prática concreta de modo coerente com quaisquer desses propósitos, ele está desempenhando um papel decisivo” (Sacristán, 2000, p.173). O autor cita em outra obra (Sacristán, 1998) que o termo currículo: “...provém da palavra currere, que se refere à carreira, a um percurso que deve ser realizado e, por derivação, à sua representação ou apresentação. A escolaridade é um percurso para os alunos (as), e o currículo é o seu recheio, seu conteúdo, o guia de seu progresso pela escolaridade” (Sacristán, 1998, p.125). Considera o autor (idem, p.126), também, que o seu conceito é bastante elástico, o que indica riqueza de possibilidades de concretizações e ajustes pela flexibilização, relacionando-se à instrumentalização concreta do que faz da escola determinado sistema social, descrevendo as funções da escola e a forma particular de enfocá-las. “Como uma primeira síntese, poderíamos dizer: 1) Que o currículo é a expressão da função socializadora da escola. 51 2) Que é um instrumento que cria toda uma gama de usos, de modo que é elemento imprescindível para compreender o que costumamos chamar de prática pedagógica. 3) Além disso, está estreitamente relacionado com o conteúdo de profissionalização dos docentes. O que se entende por bom professor e as funções que se pede que desenvolva, depende da variação nos conteúdos, finalidades e mecanismos de desenvolvimento curricular. 4) No currículo se entrecruzam componentes e determinações muito diversas: pedagógicas, políticas, práticas administrativas, produtivas de diversos materiais, de controle sobre o sistema escolar, de inovação pedagógica, etc. 5) Por tudo o que foi dito, o currículo, com tudo o que implica quanto aos seus conteúdos e formas de desenvolvê-los, é ponto central de referência na melhora da qualidade de ensino, na mudança das condições da prática, no aperfeiçoamento dos professores, na renovação da instituição escolar em geral e nos projetos de inovação dos centros escolares” (Sacristán, 2000, p.32). Moreira (1997) destaca haver dois sentidos para a palavra currículo: o conhecimento escolar e a experiência de aprendizagem. O primeiro vê o currículo como o conhecimento tratado pedagógica e didaticamente pela escola e que deve ser aprendido e aplicado pelo aluno. O segundo sentido começou a surgir a partir do século XVIII quando os envolvidos com educação passaram a considerar, na elaboração dos currículos, as questões políticas, econômicas e culturais. Considera o autor que o currículo passa a significar um conjunto de experiências a serem vividas pelo estudante na escola. O currículo passaria a orientar e selecionar as experiências educacionais, organizando-as e relacionado-as aos interesses do aluno. O conteúdo, dessa forma, passa a ser um dos componentes do currículo. 52 São muitas as variáveis que devem ser consideradas para o desenvolvimento do currículo: a comunidade a que pertence os alunos, as histórias de vida de cada professor, a direção da escola, o momento político do país (e todas as implicações sociais e econômicas que relacionam-se a isso). Goodlad (1975) distingue cinco dimensões de currículo: - o currículo formal – prescrito como desejável; - o currículo operacional – o que um observador percebe sobre o que ocorre na sala de aula; - o currículo percebido – o que o professor diz que está fazendo; - o currículo experenciado – o que os alunos percebem e como reagem ao que está sendo feito; - o currículo oculto – o que não é explicitado, mas ocorre. Sacristán (2000) utiliza-se de outra classificação em relação às dimensões do currículo: - o currículo prescrito; - o currículo apresentado aos professores; - o currículo moldado pelos professores; - o currículo em ação; - o currículo realizado; - o currículo avaliado; Os currículos prescritos, segundo Sacristán (2000), são consequência das regulamentações do sistema educacional, que orientam e regulamentam o que deve ser seu conteúdo. Não devem ser compreendidos como seleção entre saberes e bens culturais em um dado momento da sociedade, visto que os conhecimentos a serem transmitidos às gerações futuras deverão passar por intenso trabalho de reestruturação e reorganização por meio de ações que transformam os elementos de um conhecimento sistematizado em objeto de ensino, o que Chevallard (1985) chama de transposição didática. É um processo que transforma um elemento de saber científico em elemento para o ensino. 53 O currículo apresentado aos professores, traduz o significado e os conteúdos do currículo prescrito. Segundo Sacristán (2000), as prescrições costumam ser genéricas e, “na mesma medida, não são suficientes para orientar a atividade educativa” (p.105). O professor é o agente concretizador dos conteúdos e significados do currículo a partir de sua cultura profissional, que dará a expressão de um currículo moldado por ele. É ele, um tradutor, “que intervém nas configurações dos significados das propostas curriculares” (Sacristán, 2000, p.105). O currículo em ação corresponde à prática real, concretizada nas tarefas acadêmicas que sustentam a ação pedagógica, com o significado real do que são as propostas curriculares. “É o elemento no qual o currículo se transforma em método ou no qual, desde outra perspectiva, se denomina introdução. “(idem, p.105). Nossa pesquisa está relacionada fortemente ao currículo em ação. O currículo realizado corresponde ao que o professor, de fato, realizou. Nem sempre corresponde ao que está documentado, mas afeta, profundamente o aluno. Por meio do currículo avaliado, se reforça “um significado definido na prática do que é realmente. As aprendizagens escolares adquirem, para o aluno, desde os seus primeiros anos de escolaridade, a peculiaridade de serem atividades e resultados valorizados” (id. Ibidem, p.196). No que diz respeito à organização dos conteúdos curriculares, o modelo mais comum utilizado no ensino superior de escolas de engenharia, obedece a uma sequência de conteúdos apoiados em pré-requisitos (oficiais ou não)4. Os cursos superiores da área de ciências exatas são pautados por organização linear dos conteúdos dentro de uma determinada disciplina e também utilizam dessa linearidade para a elaboração das estruturas curriculares que contêm o conjunto de todas as disciplinas do curso. Doll (1997) explicita que a 4 Os pré-requisitos podem não fazer parte oficial dos documentos prescritos, mas há uma sequência de pré-requisitos informais quando são elencados os conteúdos de cda disciplina numa determinada ordem. 54 organização dos conteúdos curriculares se apresenta de acordo com abordagens positivista e linear, ou psicológica e flexível. A abordagem positivista e linear tem sua origem nas ciências exatas. Prioriza-se o sequenciamento dos conteúdos e os alunos deverão estudar dentro de uma lógica linear. Os limites e domínios das disciplinas são determinados e a definição dos conteúdos é feita com base em pré-requisitos (formais ou não) definidos antes da avaliação e conhecimento dos alunos. A abordagem psicológica tem sua origem nas ciências sociais em que os conteúdos são organizados por temas ou conceitos organizadores, favorecendo o aprofundamento de acordo com o interesse da classe ou do aluno, numa abordagem interdisciplinar. Dentre as diversas expressões do currículo, o Projeto Pedagógico do curso é uma de suas formas de apresentação. Dentro da organização didáticopedagógica do curso, ele retrata a sua concepção, os seus objetivos gerais, o perfil desejado para os egressos, e qual a metodologia institucional utilizada na construção do currículo. As matrizes curriculares são objeto de extrema importância do projeto pedagógico, e contemplam não somente o rol de disciplinas e suas ementas, mas também (e principalmente) a justificativa da matriz curricular apresentada, a sua coerência com os objetivos do curso, com o perfil esperado do egresso, com as diretrizes curriculares nacionais. A matriz curricular deve também ser adequada à metodologia institucional e apresentar as inter-relações entre as disciplinas, para que a matriz possa ser tratada como tal e não como uma grade curricular. As ementas de cada disciplina, a bibliografia básica e complementares, os planos de ensino, fazem parte do projeto pedagógico, assim como as caracterizações do estágio supervisionado, os trabalhos de conclusão de curso e as atividades complementares (monitorias, programas de pesquisa docente e discente). A seguir apresentaremos de forma resumida como estão apresentados os projetos pedagógicos dos cursos de engenharia na Universidade Cruzeiro do Sul, onde nossa pesquisa foi realizada. Os documentos consultados referem-se 55 aos projetos pedagógicos vigentes até 2007, tendo em vista o desenvolvimento de pesquisa junto aos alunos datar dessa época. 2- O Projeto Pedagógico dos cursos de engenharia na Universidade Cruzeiro do Sul O ingresso dos alunos nos cursos de engenharia da Universidade Cruzeiro do Sul faz-se por processo seletivo por habilitação de engenharias. Existe, desta forma, projeto pedagógico para cada um dos cursos. A seguir é feita uma descrição e análise de alguns tópicos pertencentes aos projetos pedagógicos de forma geral e com enfoque na formação básica. 2.1 Considerações sobre a concepção do curso de engenharia Levando-se em conta que a evolução da humanidade nas últimas décadas está fortemente associada à evolução das engenharias em suas diversas vertentes, o processo de concepção do curso de engenharia deve ser norteado de forma a promover a formação de pessoal altamente qualificado para atuar nos mais diversos aspectos da criação e da aplicação de tecnologias novas e de tecnologias convencionais. Neste processo de formação, procura-se também enfatizar aos estudantes a importância de se considerar e conciliar em seu futuro trabalho os mais diversos aspectos tecnológicos, científicos, sociais, econômicos e ambientais. O artigo 4o das Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Graduação em Engenharia (anexo 1) nos apresenta que o curso de engenharia tem como objetivo dotar o profissional de conhecimentos para o exercício profissional de competências e habilidades de caráter técnico (itens I a VIII) além de: IX- atuar em equipes multidisciplinares; 56 X- compreender e aplicar a ética e a responsabilidade profissionais; XI- avaliar o impacto das atividades de engenharia no contexto social e ambiental; XII- avaliar a aplicabilidade econômica dos projetos em engenharia; XIII- assumir a postura de permanente busca de atualização profissional. Cabe à instituição que forma o engenheiro apresentar em seu projeto pedagógico a formação de um profissional completo, ou seja, aquele que possua, além das competências técnicas, postura crítica, criatividade e que leve em consideração aspectos sociais, econômicos, ambientais e culturais na resolução de problemas. Bazzo (1997) cita a expressão cidadão-engenheiros para definí-los. Relacionadas com a formação de profissionais conscientes e preocupados com o bem estar do cidadão, as diretrizes curriculares apresenta que o futuro engenheiro deva ser formado para “compreender e aplicar a ética e responsabilidade profissionais” assim como “avaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto social e ambiental”. Não há mais como realizar trabalhos em engenharia sem levar em conta os impactos ambientais e sociais. A postura do novo engenheiro é a busca contínua pelos melhores materiais, com menores valores e menor impacto ambiental. Temos aí uma equação de muitas variáveis para que o engenheiro encontre a melhor solução. Bazzo (1998) afirma que a ciência e tecnologia eram únicas para a solução de problemas, mas que na atualidade, as decisões de caráter científicotecnológicas não são mais tomadas exclusivamente por especialistas, com conhecimentos técnicos. A sociedade quer maior participação nessas decisões e o novo engenheiro precisa estar em sintonia com os problemas sociais para solucioná-los. Importante salientar a importância do professor do curso de engenharia na formação do profissional, tendo em vista o grande tempo de convivência do aluno com o docente. O desenvolvimento do conteúdo com abordagens puramente técnicas, nos levará a esquecer a responsabilidade mais ampla no 57 processo educacional. Para que o egresso de engenharia adquira as competências de caráter não tecnológico, ele deverá passar por experiências quando aluno. Na qualidade de professor das disciplinas que fazem parte da estrutura curricular, é imperioso que cada um compartilhe com seus estudantes as suas experiências e discuta sobre cada questão social que poderá interferir na solução de um problema em engenharia. Na Universidade Cruzeiro do Sul, para contemplar esses objetivos, são realizados projetos interdisciplinares a partir do 5o semestre do curso nas disciplinas profissionalizantes. Nos últimos anos, a procura por cursos de engenharia tem crescido muito. O crescimento econômico até o primeiro semestre de 2008, provocou uma procura acentuada por profissionais em engenharia nas mais diversas habilitações/modalidades, o que proliferou a abertura de novos cursos em todo o Brasil. Na Universidade Cruzeiro do Sul, instituição de ensino onde a pesquisa foi realizada, todos os alunos que apresentaram vontade (ou necessidade) de trabalhar, conseguiram. Não havia, até o 1o semestre de 2008, aluno algum sem emprego (considerados também os estágios em empresas). O Governo Federal, tendo em vista a necessidade de formação de engenheiros, considerou o curso como prioritário para a obtenção do FIES (programa de Financiamento Estudantil do Governo Federal), cobrindo até 75% dos encargos educacionais. Os demais cursos considerados prioritários são as licenciaturas, medicina e geologia. Desta forma, ao se desenvolver o projeto do curso, deve-se levar em consideração o fato de que esta área do conhecimento sofre transformações intensas, realçando-se, assim, a necessidade de propiciar uma formação que estimule a busca contínua do conhecimento e do aprimoramento. Um engenheiro que não se atualiza, em pouco tempo perde a sua capacidade e competitividade para atuar no mercado de trabalho. A estrutura curricular e a infra-estrutura estabelecidas para este curso devem ser planejadas a partir das ideias delineadas nos parágrafos anteriores. Entre os primeiros aspectos considerados para o projeto do curso, encontra-se 58 a conciliação de núcleos de formação, constituídos por um núcleo de conteúdos básicos, um núcleo de conteúdos profissionalizantes e um núcleo de conteúdos específicos que estabelecem as características peculiares de formação dos alunos. A seleção, encadeamento e integração vertical e horizontal das disciplinas destes conjuntos de núcleos, desenvolverão os aspectos conceituais, procedimentais e atitudinais desejados para a formação de Engenheiros. A finalidade do curso é propiciar uma sólida formação em ciências básicas, procurando criar um ambiente propício para instigar a criatividade e desenvolver a independência intelectual dos alunos, encorajando-os, também, a utilizar a infra-estrutura disponível para desenvolver as suas idéias, por meio de projetos de iniciação científica, monitorias e projetos individuais. Neste ambiente, enfatiza-se, ainda, a importância das implicações sociais e ambientais do seu trabalho, destacando-se a ética profissional e suas responsabilidades perante a sociedade, com o propósito de propiciar a formação de um profissional ativo, consciente da necessidade do seu aprimoramento contínuo, com as necessárias habilidades para transitar com desenvoltura nos limites do conhecimento tecnológico e considerar com naturalidade a utilização das novas tecnologias. Os projetos dos cursos de engenharia também devem estabelecer as diretrizes para a implantação de infra-estrutura laboratorial adequada, mediante a qual os alunos poderão desenvolver as habilidades necessárias para compreender os aspectos construtivos e princípios de funcionamento dos equipamentos. Dessa forma, é possível viabilizar a comparação entre os modelos teóricos desenvolvidos e os resultados experimentais para projetar, montar e executar experimentos, bem como para analisar os seus resultados. Tal infra-estrutura deve propiciar, também, a conscientização da importância da segurança no trabalho e da importância de trabalhar em equipe. A concepção do curso de engenharia deve ser o resultado de um processo de análise da conjuntura regional, nacional e internacional, sob os 59 mais diversos pontos de vista – tecnológicos, científicos sociais e econômicos – aliados ao empenho das instituições de ensino em cumprir a missão a que se propõe. A formação do engenheiro constitui um processo a que se submete o aluno a partir de conhecimentos gerais, correspondentes ao fim dos estudos no ensino médio, até o ensino superior de disciplinas, principalmente, de caráter científico e técnicas, com extensão e profundidade apropriadas aos objetivos específicos do curso. De forma geral, podemos conceber que um curso de engenharia deva ter por objetivos gerais, a propiciar seu egresso: a) uma cultura científica suficiente ampla que lhe permita dominar a sua especialidade e lhe confira aptidão de aplicar as novas conquistas científicas ao aperfeiçoamento das técnicas e do progresso industrial; b) uma sólida formação técnica lastreada na prática, em trabalhos experimentais e sua interpretação; c) uma visão das consequências sociais de seu futuro trabalho como engenheiro e prepará-lo para a solução dos problemas de natureza social delas decorrentes; d) uma formação alicerçada em estrutura de conhecimentos que lhes proporcione uma rápida adaptação às situações da demanda constantemente ávida por novas realizações de interesse social e humano. É necessário que este profissional adquira conhecimentos sólidos, relacionados a diversos conhecimentos, habilidades e atitudes, desde os primeiros semestres do curso, e amplie seus saberes durante a formação específica. Após os quatro primeiros semestres do curso, o estudante de engenharia da Universidade Cruzeiro do Sul, deverá ter conhecimentos sólidos em: ciências dos materiais; computação; desenho técnico; física; 60 matemática; para começar a: avaliar problemas, buscar soluções referentes a sua formação específica e multidisciplinares; executar e analisar resultados de ensaios e experimentos (para depois projetar); avaliar criticamente conceitos de ordem de grandeza; desenvolver e aplicar modelos matemáticos e físicos com base em informações sistematizadas (iniciará o desenvolvimento desta habilidade); realizar leitura, expressão e interpretação gráfica; operacionalizar problemas numéricos. 2.2 Matriz curricular dos cursos de engenharia na Universidade Cruzeiro do Sul Os cursos de Engenharia na Universidade Cruzeiro do Sul são estruturados em 10 semestres. As disciplinas de formação básica, em sua maioria, são cursadas nos quatro primeiros semestres. Na justificativa das Estruturas Curriculares dos cursos de Engenharia Elétrica, e Mecânica são realizadas análises dos currículos dos cursos em relação aos seguintes itens: a) Coerência do currículo com os objetivos do curso; b) Coerência do currículo com o perfil desejado do egresso; c) Coerência do currículo em face das diretrizes curriculares nacionais; d) Adequação da metodologia de ensino à concepção do curso; e) Inter-relação das disciplinas. A estratégia adotada para a consecução dos objetivos traçados para este curso consiste na definição coerente das disciplinas dos três núcleos de 61 formação, bem como na seleção, encadeamento e interrelação das disciplinas. Espera-se, assim, criar as condições favoráveis para que os alunos adquiram conhecimentos e desenvolvam habilidades e atitudes compatíveis com o perfil pretendido. No decorrer do curso, busca-se solidificar muito mais os conceitos fundamentais para a formação geral na área, visto que um dos objetivos é a formação generalista, mais do que, simplesmente, enfatizar aquelas que possibilitam informações tecnológicas que podem ser obtidas com certa facilidade por um aluno bem formado. Assim, os conteúdos programáticos das disciplinas que compõem os três núcleos de formação dos cursos de Engenharia, denominados núcleo de conteúdos básicos, núcleo de conteúdos profissionalizantes e núcleo de conteúdos específicos, foram elaborados de forma a propiciar aos alunos um desenvolvimento acadêmico e profissional gradativo, que se consolida à medida que eles concluem cada um dos núcleos. No processo de formação dos alunos, vem, em primeiro lugar, o núcleo de conteúdos básicos. As disciplinas deste núcleo são oferecidas nos quatro primeiros semestres do curso, restando apenas as disciplinas Ciências Econômicas e Administrativas (I e II) , oferecidas nos 7o e 8o semestres, e Ética e Legislação Profissional oferecidas no 10o semestre. Ao ministrar as disciplinas do núcleo de formação básica, os professores procuram detectar as principais dificuldades dos alunos ingressantes e implementar os meios necessários para superá-las, de forma a estabelecer um ponto de partida adequado ao desenvolvimento dos conteúdos propriamente ditos. São diversificados os recursos que os auxiliam a superar suas dificuldades iniciais, tais como: aulas extras de orientação didática, orientação extra-classe pelos professores; monitoria e estímulo ao uso da Biblioteca, do laboratório e da Internet. Esta é, certamente, a parte mais sensível e fundamental do curso, pois, a partir de uma situação inicial de grande heterogeneidade dos alunos ingressantes, deve-se garantir a superação de inúmeras dificuldades que eles trazem da Educação Básica, sem prejudicar o conteúdo planejado para as disciplinas deste núcleo. 62 É, também, com o desenvolvimento das disciplinas deste núcleo que se estabelecem as bases necessárias para se iniciar o processo da obtenção de uma sólida formação nas disciplinas básicas da engenharia. As disciplinas que compõem este núcleo, são: Álgebra Linear e Cálculo Vetorial; Cálculo Diferencial e Integral (IA e IB); Cálculo Diferencial e Integral (IIA e IIB); Cálculo Numérico; Ciências do Ambiente; Ciências Econômicas e Administrativas (I e II); Desenho Técnico (I e II); Eletricidade (I e II); Ética e Legislação Profissional; Fenômenos de Transporte (IA e IB); Física Geral e Experimental (IA e IB); Física Geral e Experimental (IIA e IIB); Geometria Analítica, Mecânica Geral, Probabilidade e Estatística (I e II); Química Geral e Experimental (I e II); Resistência dos Materiais e Técnicas de Programação. O corpo docente dos cursos de Engenharia da Universidade Cruzeiro do Sul vem adotando algumas estratégias de ensino adequadas aos conteúdos ministrados em cada disciplina. Em geral, são utilizadas técnicas de estudo para garantir o processo de pesquisa, compreensão e discussão de temas gerais e específicos, tais como, palestras, seminários, leituras, relatórios aplicados, pesquisas, dinâmicas para a solução de problemas, realização de projetos interdisciplinares, montagem de experimentos, obtenção e análise de dados, interpretação dos resultados dos conceitos estudados, interpretação de resultados experimentais, debates, ética e legislação profissional. Destaca-se que as estratégias descritas acima são resultantes da metodologia institucional “Aprender na prática”, adotada pela Universidade Cruzeiro do Sul há mais de 5 anos, e que vem se desenvolvendo de forma satisfatória no ensino de graduação, tanto do ponto de vista docente quanto discente. Esse diferencial tem impulsionado o crescimento de atividades práticas inseridas nos projetos pedagógicos dos cursos. Facilitadoras do aprendizado da teoria em sala de aula, as atividades complementares, outro recurso oferecido aos alunos, possibilitam o aprimoramento dos discentes em seu contato com a realidade profissional. 63 A distribuição do conteúdo programático ao longo do curso, sob o enfoque de ciências básicas e de engenharia, mostra uma ordem lógica e natural. A disposição das disciplinas Ciências Econômicas e Administrativas (I e II) e Ética e Legislação Profissional nos últimos semestres tem por objetivo reforçar a formação humanística do aluno antes de sua introdução ao mercado de trabalho. 3- Como o cálculo diferencial pode ser o agente interdisciplinar Levando em conta as ementas das disciplinas que compõem o ciclo básico dos cursos de engenharia da UNICSUL, em Cálculo Diferencial e Integral pode-se realizar articulações com: 1- Cálculo e Mecânica Geral – O cálculo é disciplina que participa de todo o ciclo básico do curso e mecânica geral é disciplina da 1a série. Desta forma, é possível haver articulação utilizando situações problema para iniciar os tópicos de Equações diferencias ordinárias, centro de massa e momentos de força em aplicações de integrais duplos e triplos, atritos em equações diferenciais. Para que sejam compreendidos os fenômenos é imprescindível que o aluno faça uso dos conceitos de geometria plana, espacial e analítica. A abordagem vetorial permeia todo o programa da disciplina, visto que grande parte das grandezas ou funções são vetoriais. A Álgebra Linear é ferramenta importante no tratamento de espaços vetoriais euclidianos. 2- Cálculo e Física Geral e Experimental – disciplinas de todo o ciclo básico do curso, utilizando todos os itens do programa da disciplina, além dos resultados experimentais (obtidos junto aos professores de laboratório) – Cinemática, Dinâmica, Estudo de calor, eletrostática, eletrodinâmica e eletromagnetismo: equações diferenciais ordinárias (como introdução e 64 alguns problemas mais avançados envolvendo atritos); Trabalho e energia, forças conservativas: integrais curvilíneos; Sistemas de partículas: aplicações dos integrais múltiplos; Práticas de laboratório: propagação de erros através de derivadas parciais. Forças e campos elétricos: cálculo vetorial ; potencial elétrico: aplicações do cálculo de integrais curvilíneas (campos conservativos). Campo e força magnética leis de indução e introdução ao eletromagnetismo: integrais múltiplos e integrais de superfície. O tratamento geométrico (plano e espacial) é imprescindível para a compreensão dos fenômenos, assim como o tratamento em geometria analítica é necessário para a resolução dos problemas. Conceitos e tratamento vetorial (em grandezas e funções) são ferramentas de resolução de problemas. 3- Cálculo e Resistência dos Materiais – Cálculo II (2o ano do curso) trata de equações diferenciais e integrais múltiplos, e Resistência dos Materiais é disciplina da 2a série do curso, utilizando conceitos de torção, propriedades de áreas planas, flexão de barras e tensões: integrais múltiplos e suas aplicações e equações diferenciais ordinárias. Tratamento geométrico tornase imprescindível na compreensão dos conceitos e analítico, na resolução dos problemas. 4- Cálculo e Fenômenos de Transporte – Cálculo Diferencial e Integral II e Fenômenos de Transporte, são disciplinas da 2a série do curso. Todos os itens do programa da disciplina de cálculo: equações diferenciais (para aprofundamento no assunto), integrais múltiplos, integrais curvilíneos e integrais de superfície são utilizados em Fenômenos de Transporte. 5- Cálculo e Eletricidade – Cálculo II e Eletricidade são disciplinas da 2a série do curso. Estudam-se conceitos de resistência elétrica, capacitância e indutância: identificação do papel de um resistor, de um capacitor e de um indutor num circuito elétrico; resolução de equações diferenciais ordinárias de 65 1a e 2a ordens. Leis de Kirchhoff: equações diferenciais de 1a e 2a ordens e sistemas de equações diferenciais. Corrente alternada: equações diferenciais de 2a ordem com coeficientes constantes não homogêneas. Por meio das ligações entre as disciplinas citadas, e analisadas acima, as atividades descritas e discutidas no capítulo 5 deste trabalho, foram elaboradas, tendo em vista a possibilidade de respondermos à pergunta de nossa tese. Desta forma, há que se considerar, a partir das descrições e considerações feitas, a necessidade de um detalhamento dos processos de aprendizagem, da postura do professor que atua junto aos cursos de engenharia. Devemos compreender os processos de aprendizagem e de formação de professores para que seja possivel compreender o método (estratégia de trabalho) proposto nesta pesquisa (capítulo 4). 66 CAPÍTULO 3 FORMAÇÃO BÁSICA: APRENDIZAGEM E POSTURA DO PROFESSOR 67 CAPÍTULO 3 FORMAÇÃO BÁSICA: APRENDIZAGEM E POSTURA DO PROFESSOR 1- Introdução Atualmente, a instituição escolar e a prática docente desenvolvem-se num contexto que apresenta, entre outras, as seguintes características: a) produção acelerada de novos conhecimentos científicos, no caso específico da educação, sobre o objeto e sujeito da aprendizagem; b) mudança significativa nos produtos do pensamento, cultura e arte; c) enormes mudanças tecnológicas e nos meios de comunicação (sociedade da informação), que apontam a necessidade de acesso diversificado e rápido a fontes ampliadas de informação. No relatório da UNESCO (1999) sobre educação para o séc. XXI lê-se que o professor deve despertar a curiosidade, desenvolver a autonomia, estimular o rigor intelectual e criar condições necessárias para o sucesso da educação formal e da educação permanente. Já Edgar Morin (1999) defende a ideia de que antes de ensinar disciplinas é importante discutir saberes que são fundamentais para a preparação do ser humano “rumo à lucidez”, como por exemplo a compreensão do conhecimento pertinente e contextualizado, a 68 compreensão de si mesmo como ser uno e inserido no contexto “terra”, a compreensão mútua e ética e a forma de se preparar para as incertezas. A evolução do mundo exige nova postura dos cidadãos e cria novas expectativas para o direcionamento dos processos escolares de aprendizagem e formação. A forma tradicional, memorística e repetitiva de reprodução do saber tornam-se evidentemente inadequadas e “deve dar lugar a uma cultura da compreensão, da análise crítica e da reflexão sobre o que fazemos e acreditamos e não só do consumo, mediado e acelerado da tecnologia, de crenças e modo de fazer fabricados fora de nós”. (Pozo, 2002, p.40). Os cursos superiores voltaram-se para a formação de profissionais para o exercício de determinada profissão. Assim os currículos foram compostos de forma seriada, os programas compostos unicamente com disciplinas diretamente vinculadas às profissões, visando à formação de profissionais competentes em determinada área ou especialidade (Masetto, 2001). A organização da escola, sua estrutura, tempo e espaço devem visar, primordialmente, ao desenvolvimento de competências pessoais. A visão da escola tradicional tem o limite de um processo de ensino no qual os conhecimentos e experiências devem ser transmitidos por um professor que sabe e tem experiência e um aluno que não sabe e não conhece. Ao final de um período, o aluno é submetido a uma avaliação que se for positiva lhe confere um diploma que o habilita a exercer a profissão para a qual foi formado. Portanto, a função da escola é servir de meio para o desenvolvimento de um conjunto de características pessoais, denominado “competência”. Os professores devem estar preocupados não apenas em incutir nos alunos saberes fragmentados e desarticulados da vida cotidiana de cada um, mas em construírem juntos um conhecimento que possibilite a compreensão da sociedade atual e suas contradições, que seja capaz de perceber as 69 necessidades e possibilidades de mudanças para a construção do novo estilo de vida exigido pela sociedade atual. Frente a este quadro, a função da escola passa a ser questionada: de transmissora de um saber pronto e acabado para promotora do desenvolvimento da autonomia da própria aprendizagem o que exige do professor uma atitude de investigador de sua prática. 2- Aprendizagem O termo processo de aprendizagem é abrangente, complexo e de múltiplas interpretações. Perez Gomes (1998) discorre que as teorias de aprendizagem mais significativas podem ser agrupadas sob dois grandes enfoques: (i) teorias associacionistas, de condicionamento, que concebem a aprendizagem como um processo cego, fortuito de associação de estímulos e respostas provocados e determinados pelas condições externas, (Skinner, Pavlov, Thorndike entre outros); (ii) teorias mediacionais que consideram a aprendizagem um processo de conhecimento, de compreensão das relações, em que as condições externas atuam mediadas pelas condições internas. (Maslow, Rogers, Vygotsky, entre outros). Anastasiou (2003) procura fazer uma distinção entre os termos (i) apreender do latim apprehendere, significa segurar, prender, assimilar mentalmente, entender, compreender, agarrar. Para isto é preciso agir, exercitar-se, informar-se, apropriar-se e (ii) aprender derivado de apreender por sincope, significa tomar conhecimento, reter na memória mediante estudo, receber informação de. Conclui afirmando que se nossa meta é propiciar condições para o desenvolvimento total do aluno, ultrapassando o simples repasse de informações, temos que evoluir do aprender para o apreender. 70 Os autores citados evidenciam as diferenças entre um processo de aprendizagem memorístico, circunstancial, baseado na lógica formal e um complexo processo de apropriação de conhecimento integrativo, flexibilizado, conectado à realidade, que mobiliza várias operações de pensamento e promove mudança significativa e crescimento. Neste caso a aprendizagem se traduz por um processo de reflexão sistemática que, nas palavras de Anastasiou (2003, p.29) conduz o aprendiz da síncrese (visão inicial, não elaborada ou até caótica) para a síntese (visão mais elaborada deste mesmo objeto). Para que isto ocorra, é condição imprescindível que haja uma mobilização para o conhecimento. O aprendiz precisa acordar, se sensibilizar e se direcionar para o processo. O que ocorre em dois momentos: Quando sente a necessidade de mudança. A alteração do status quo se inicia com a consciência de que a situação atual não está satisfatória, pois está caracterizando uma perda em relação ao que poderia ser, ter ou estar. Independente do que causou a necessidade de mudança, instaura-se o desequilíbrio, a instabilidade, o caos interior, pois as novas idéias não combinam com a estrutura que se tem como base. O caos pode levar à (i) negação: voltamos atrás, resistimos, criticamos; (ii) permanência no estado de crise: oscilamos entre a idéia nova e a antiga; (iii) racionalização: agimos de uma maneira e sentimos de outra. (é uma mudança efêmera, afastada a ameaça ou o estímulo a tendência é voltar à situação anterior); (iv) evolução: há o preenchimento de lacunas inconscientes, o prazer pela nova situação e incorporação de outros valores. As mudanças na maneira de sentir são as que alteram definitivamente o comportamento. Quando percebe e atribuiu significado ao ato de aprender, ou seja, estabelece nexos, vínculos entre os conteúdos a serem apreendido com seus interesses e prática. Estabelece-se um diálogo entre o mundo do aluno e o tema a ser trabalhado. O aprendiz percebe que o processo de aprendizagem vem contribuir para ordenação de seu caos interior. Sente 71 que “o novo” se somará positivamente ao que sabia anteriormente e trará contribuições relevantes para sua vida pessoal e profissional. A aprendizagem significativa é aquela que envolve o aluno como pessoa, como um todo (idéias, sentimentos, cultura, valores, profissão) (Masetto, 2003, p.43). O processo de aprendizagem, na perspectiva descrita acima, é complexo. Um exercício a ser construído em parcerias: professores e alunos entre si e uns com os outros. O papel do professor é desafiar, estimular e ajudar os alunos na construção do conhecimento; o papel dos alunos requer apropriação ativa e consciente destes conhecimentos e sua aplicabilidade. O que sempre prevaleceu na atuação docente no ensino superior é o processo em que o professor “ensina” aos alunos que “não sabem”. O primeiro acredita que cumpriu seu papel, e o segundo vai aos poucos, considerando-se incapaz. Becker (1999, p.181), sobre isso, nos diz: “A crença universalmente professada, na teoria e na prática, pela escola é a de que o conhecimento se transmite segundo um mecaniscismo extremamente simples: o professor ensina e o aluno repete, o professor expõe e o aluno copia e repete para si mesmo “tantas vezes quantas forem necessárias” até que esse conhecimento adquira, deixe marca na sua mente que, inicialmente é “tábula rasa”. (um CD ou um disquete “virgem” já superaram essa mente, pelo menos sob este ponto de vista, pois basta uma repetição para que um conteúdo qualquer seja gravado)” (ou...) Continua Becker: ”Tudo o que o ensino deve fazer é curvar-se ante a dinâmica da aprendizagem. No cerne da dinâmica da aprendizagem está a ação do sujeito da aprendizagem”. (idem, p.184). 72 Masetto (2003, p.36) quando trata de aprendizagem centrada no aluno nos diz: “Quando, porém falamos em “aprender”, entendemos buscar informações, rever a própria experiência , adaptar-se às mudanças, descobrir significado nos seres, nos fatos, nos fenômenos e nos acontecimentos, modificar atitudes e comportamentos”. Aprender é um processo de construção, que envolve a predisposição de alguém para tal ação. O ponto de partida é identificação dos saberes anteriores, isto é, qual é o repertório do aluno, a fim de inseri-los no contexto e realizar as possíveis conexões com o aprendizado futuro (o que se pretende). Este processo, para ser desencadeado, necessita de uma ação motivadora, que poderá ter como agente o professor, que criará situações de aprendizagem. A aprendizagem se dá, quando o aluno consegue fazer ligações do que viveu e viu com o que está vendo e vivendo. Este processo articulador propicia “ancoragens” nas conexões efetivas e importantes ao aprendiz. Sobre este assunto Becker (1999, p.186) cita: “Na medida em que o professor assume o quadro conceitual do aluno como ponto de partida de cada nova experiência de ensino, o aluno poderá estabelecer todos os nexos necessários entre o seu saber”. A aprendizagem comporta a idéia de movimento e, frise-se desde logo, não de qualquer movimento, mas de um movimento que se faz continuamente e em conjunto com outros agentes. Ela traz consigo a identidade de um processo que nunca chega ao seu final, que se renova permanentemente impulsionado por sucessivos interesses e que, uma vez despertado e desenvolvido no aprendiz, será capaz de fazê-lo assumir permanentemente a responsabilidade por sua formação, dividindo-a com professores e colegas, em um motocontínuo de energia geradora de mais aprendizagem. Nesse contexto, aprendizagem é ainda um objetivo que não pertence só a alunos, mas também a professores que deverão estar envolvidos juntamente 73 com os alunos na identificação de temas, problemas e questões que devam ser conhecidos, estudados, pesquisados, debatidos e que sejam esses professores ainda, capazes de lançar continuamente novos propósitos a serem alcançados juntamente com seus alunos. Por outro lado, esses temas, problemas e questões que serão trabalhados conjuntamente por professores e alunos, não se restringem ao chamado conhecimento técnico, capaz de criar habilidades específicas para o desenvolvimento de uma certa atividade profissional. Mais do que isso, a aprendizagem pressupõe a escolha de um elenco de temas, problemas e questões que sejam profundamente motivadores para alunos e professores e, por isso mesmo, tratem de aspectos mais amplos da vida das pessoas, envolvendo sua cidadania, sua participação social e políticas, as experiências vividas por cada um dos participantes da relação ensino-aprendizagem, e os objetivos que traçam para o seu futuro pessoal e profissional. Pozo (2002, p.211), cita: “O material de aprendizagem será mais significativo quanto mais relações o aluno consiga estabelecer não apenas entre os elementos que o compõem como também, e essencialmente, com outros conhecimentos prévios que já tenha em sua memória permanente.” Isto nos leva a dar cada vez mais valor à articulação entre as disciplinas, tanto vertical quanto horizontalmente. Quanto mais conexões puderem ser feitas, com o passado, presente e futuro, mais significativa será a aprendizagem evitando, assim, o esquecimento. Segundo Pozo (idem, pp.212–213), a aprendizagem significativa baseiase em dois processos: a diferenciação progressiva dos conceitos e a sua integração hierárquica. A diferenciação progressiva acontece quando, inicialmente, determinados conceitos são confundidos, pois não se conhece a relação entre eles (ou mesmo a não relação). A partir do momento em que as relações são percebidas, abre-se a porta para compreensões mais avançadas 74 (incremento progressivo). Junto à diferenciação progressiva, é necessário que haja a integração hierárquica, ou seja, algo que “permita reconciliar ou integrar, sob os mesmos princípios conceituais, tarefas e situações que anteriormente o aprendiz concebia de modo separado”. Masetto (2003, p.43) ao refletir sobre a aprendizagem significativa diz que: “Entendemos que a aprendizagem significativa é aquela que envolve o aluno como pessoa, como um todo (idéias, sentimentos, cultura, valores, sociedade, profissão). Ela se dá quando: o que se propõe para aprender se relaciona com o universo de conhecimento, experiências, vivências do aprendiz... permite a formulação de perguntas e questões que de algum modo o interessem e o envolvam ou lhe digam respeito: lhe permite entrar em confronto experimental com problemas práticos de natureza social, ética, profissional que lhe são relevantes; permite e ajuda a transferir o aprendizado na Universidade para outras circunstâncias da vida; suscita modificações no comportamento e até mesmo na responsabilidade do aprendiz”. O currículo escolar, por esses motivos, necessita ser traçado por grupos de ações organizadas, com metodologias pautadas por rigor investigativo, de forma que um ex-aluno possa responder positivamente à questão: quase todos os conhecimentos que estão dispostos nas disciplinas de meu histórico escolar, me foram (são) úteis? Becker (1999, p.185) quando faz a ligação entre currículo, conteúdos e aprendizagem diz: ”O que deve interessar a um currículo atual é que o aluno aprenda a pensar, “aprenda a aprender” e não a reter informações, frequentemente, de valor discutível”. O papel do professor no processo de aprendizagem, mesmo não sendo mais ele o “ator principal do espetáculo”, é de vital importância. Passa a ser ele o grande orientador, aquele que deverá encontrar meios de tornar a aprendizagem exequível, compartilhando 75 conhecimentos, ouvindo as experiências dos seus alunos (estas experiências são preciosas para o professor). Saber ouvir, falar sem impor seu conhecimento, ter sempre em mente quais são os objetivos daquele encontro com os alunos, avaliar corretamente... São muitas ações na sala de aula e, portanto, temos muito o que aprender. “Cabe, pois ao professor a tarefa de “aprender” o seu aluno (apreender sua estrutura conceitual, cognitiva) como condição de legitimidade de sua tarefa de ensinar. Essa aprendizagem é, talvez, a mais importante condição para a superação da dicotomia entre o ensino e aprendizagem que caracteriza a sala de aula atual” (idem, p. 188). Torna-se imprescindível trazer o aluno para o centro da discussão, colocando-o em destaque, de maneira a compreender, primeiramente, qual a aprendizagem que se pretende que esse aluno obtenha, e de que forma ele deve deixar de ser apenas passivo para se tornar um agente com participação contínua do processo de aprendizagem. Esse universo, que pressupõe intensa relação de professor-aluno e alunoaluno, se inicia com a busca de elementos significativos para a aprendizagem e se desenvolve com a construção de estratégias para que essa aprendizagem efetivamente ocorra, é preciso ressaltar a importância de uma nova atitude dos professores e dos alunos, e muito em especial dos primeiros, a quem compete coordenar e liderar o processo. Professor não é mais aquele que ensina, mas é também aquele que aprende; não é mais só aquele que detém o conhecimento, mas aquele que reparte e avança na busca de novos saberes, realizando pesquisas; não é só aquele que escolhe os conteúdos válidos para a aprendizagem, mas aquele que participa da escolha como orientador; não é mais só aquele que avalia, mas também que é avaliado pelo conjunto dos alunos; não é só mais aquele 76 que prepara as aulas a serem ministradas, mas aquele que incentiva a busca de elementos capazes de fazer avançar o conhecimento; não é mais só aquele que lidera, mas aquele que participa de um grupo de trabalho contínuo; é, enfim, um elemento do processo de aprendizagem e não o principal elemento. Nessa vertente, é fundamental que o professor adote uma nova postura de atuação, despido por completo dos conceitos tradicionais que envolvem sua atividade. Não mais a autoridade advinda do fato de ser o detentor exclusivo do conhecimento, mas a autoridade pela constância na participação e na troca. Não mais a distância que a legitimidade do saber construído permitia, mas a disposição para aceitar as experiências vividas pelos alunos como parte da construção da aprendizagem. Não mais a impessoalidade na transmissão de informações, mas a troca de experiências que não raro contempla a afetividade e a emoção. Não mais a palavra final expressa em uma nota de aprovação ou reprovação, mas a disposição para pesquisar e produzir em conjunto com os alunos, avaliando também em conjunto o resultado final do trabalho desenvolvido. Se de um lado está o papel do professor, de outro está o do aluno. Nesse sentido, Masetto (2.001, p.89) revela: “Teoricamente, hoje, há um consenso de que “ aprender a aprender” é o papel mais importante de qualquer instituição educacional. O que me parece imprescindível destacar é que “aprender a aprender” é mais do que uma técnica de como se faz. É a capacidade do aprendiz de refletir sobre sua própria experiência de aprender, identificar os procedimentos necessários para aprender, suas melhores opções, suas potencialidades e suas limitações, e, então, a partir daí, desenvolver o próprio processo e a própria aprendizagem, no ritmo próprio, de forma contínua, competências”. 77 sempre explorando as próprias Aprendizagem, portanto, é mais do que aprender um determinado conteúdo temático. É mais do que fixar um conceito ou uma fórmula. É uma atividade contínua, construída por professores e alunos, que tem que ser significativa para ambos, e extrapola a construção de um arcabouço exclusivamente técnico para atingir também, e principalmente, a formação total do aprendiz, privilegiando aspectos como a sua formação cidadã, e de participante ativo da sociedade onde vive e onde deve atuar de forma pró-ativa para melhorá-la. 3- O papel e a postura do professor Grande parte dos professores do ensino superior foi educada e formada segundo um paradigma que se fundamenta no conhecimento já produzido, a partir do qual são selecionados os conteúdos que devem ser transmitidos. Conforme este paradigma, cabe ao professor, para o exercício da docência, o domínio do conhecimento de determinada área (os chamados conteúdos disciplinares) e de algumas técnicas/estratégias que possam facilitar o processo de transmissão. Logo, sua formação começa com um conjunto de conhecimentos específicos de uma determinada área (o que ensinar) seguido dos elementos que compõem a ciência aplicada (como ensinar). Pretende-se, neste enfoque, que o professor seja capaz de dominar rotinas de intervenção que permitam a transmissão do conhecimento científico, ainda que este seja recortado ou compartimentado. Nesta perspectiva, o professor detém o monopólio do saber, não havendo, pois, oportunidade da troca, de compartilhar e discutir. Ainda que o professor sinta-se insatisfeito com seu “fazer” e esteja desejoso de nele empreender mudanças, 78 que, por certo, operarão transformações em seu perfil, existem alguns fatores que causam certas dificuldades nesse processo: a formação inicial que, não raras vezes descontextualizada e fragmentada, não possibilita ao professor a criação de estratégias e métodos de intervenção, cooperação, análise e reflexão, bem como a construção de uma postura investigativa; a experiência prévia como aluno, que muitas vezes o levou à assimilação de concepções e crenças sobre o ensino inadequadas ao contexto atual, mas que permanecem como marca, amiúde, mais importante que a formação inicial; o clima institucional que pode solapar tentativas de empreender inovações no processo ensino e aprendizagem (às vezes, é mais fácil fazer o que todos fazem que tentar convencê-los de que é possível mudar); a falta de espaço e tempo para a troca de experiências, discussão e reflexão sobre a prática, ou o uso inadequado destas condições (tempo e espaço) quando existem; Uma das características que se considera fundamental na atuação profissional dos docentes de hoje é que sejam capazes de desenvolver, no desempenho de suas atividades, uma atitude de pesquisa, investigador de sua própria prática, de sua própria ação docente, que lhe permita, no cotidiano de seu fazer institucional, escolar e de aula, aperfeiçoamento contínuo desse mesmo fazer. Porém, esta reflexão recupera seu sentido mais profundo e transforma-se em aprendizagem para o professor, quando empreende esta tarefa em interação com seus colegas, refletindo em conjunto, repensando seu fazer em colaboração, num processo que compreende a reflexão sobre “seu ser sujeito 79 individual”, que se confirma ou modifica no coletivo. É um processo que, dandose formal ou informalmente, emerge em situações de aula, em reuniões com os colegas ou como resultado de eventos de que participa o professor (cursos, seminários, encontros, grupos de estudo, congressos, grupos de trabalho) em seu próprio local de trabalho ou em outros espaços. A concepção do professor investigador de sua prática, que se coloca questões sobre seu próprio “fazer” e levanta hipóteses, visando a encontrar respostas, fundamenta-se em alguns princípios: O professor é inteligente e pode propor-se uma pesquisa de forma competente, que esteja baseada em sua experiência. O professor deve buscar dados para responder a seus questionamentos e refletir sobre eles por obter respostas aos problemas com que se defronta na atividade de ensino. O professor desenvolve novas formas de compreensão, quando contribui para a formulação de seus problemas (questões) e busca dados para sua solução. (IMBERNÓN, 2001, p. 73) Assim, o professor passa a fazer parte de uma comunidade de educadores que se autodesafiam, não para competir, mas para aprimorar seus processos de compreensão e sua prática educativa, buscando recuperar uma qualidade própria do ser humano – socializar e produzir de modo coletivo - para superar a visão de um profissional da educação individualista e competitivo, dentro de uma sociedade que se torna, dia a dia, mais interdependente, complexa e em permanente mudança (Demo, 2002), onde o que importa não é o acúmulo de informações, mas, cada vez mais, a forma de produção do conhecimento destinado a um “saber fazer com sentido”, um “saber situado”, dentro de circunstâncias sociais, econômicas e educativas perenes, o 80 que implica adquirir competências para um permanente “saber refazer”. Esta forma de conceber o professor coloca-lhe alguns desafios em sua prática: Romper com a concepção de ensino como mera transmissão de um conhecimento pronto e acabado. Criar situações de aprendizagem calcadas na resolução de situaçõesproblema do cotidiano de seus alunos ou no desenvolvimento de projetos, que envolvam a busca de informações e o aprofundamento de conceitos. Entender que os conteúdos disciplinares (conceitos, princípios etc.) estão a serviço da solução de situações-problema e que, não raras vezes, há a necessidade de se estabelecerem conexões horizontais entre as disciplinas. Envolver-se no trabalho coletivo, na troca de experiência com seus pares, visando à atualização e aprimoramento de seu “fazer”. Compreender a forma como o aluno organiza seu pensamento / idéias, para intervir, adequadamente, na situação, de forma a promover a construção do conhecimento pelo aluno. Ser capaz de empreender mudanças em sua prática, buscando adaptá-la à diversidade e ao contexto escolar. Assumir a educação como um compromisso político dominado por valores éticos e morais. Ser facilitador da aprendizagem, favorecendo a participação e cooperação dos alunos, o que implica criar um ambiente de aprendizagem que integre ensino e pesquisa, onde os alunos exercitem, constantemente, a comunicação e a colaboração. 81 Considerando-se o contexto em que atuamos hoje e o compromisso com a educação dos futuros engenheiros, numa sociedade participativa e acompanhando o desenvolvimento tecnológico, ser professor significa: - considerar que o protagonista do processo ensino-aprendizagem é o aluno com suas dificuldades e necessidades; - abandonar a concepção de que o ensino é simples transmissão de conhecimento (acabado e formal); - planejar o seu “fazer” como um facilitador da aprendizagem, propiciando a participação ativa dos alunos - ser capaz de mudar o seu fazer, buscando adaptá-lo à realidade diversificada do contexto escolar; - “olhar a própria experiência de forma crítica, refletir sobre sua ação, extraindo dela subsídios para reorganizar e redirecionar o seu trabalho de sala de aula“ (Alonso, 1999, p.15). Entretanto, raros são os professores no curso de engenharia que possuem formação pedagógica. Muitos utilizam-se como exemplo, seus próprios professores, outros tentam buscar dentro de si mesmos habilidades inatas e, a grande maioria, amadoristicamente tenta ensinar. Mas esquecem que o imprescindível é fazer com que alguém aprenda. Para ser pesquisador, na maioria das vezes, o engenheiro é obrigado a “ser professor”. E sem preparo algum, ele é colocado numa sala de aula. Bazzo (1997) expõe sobre a parcela de culpa da própria instituição de ensino em sabendo da não formação pedagógica do professor engenheiro, ao contratá-lo e mantê-lo sem a devida preparação: 82 “As próprias instituições de ensino pouco se preocupam em orientar essa transição de engenheiros para engenheirosprofessores, ou mesmo depois para professores-engenheiros ou, ainda, finalmente para professores. Basicamente se cobra, quando da entrada do indivíduo nos seus quadros, comprovação de titulações acadêmicas, compromissos de “boas” intenções para com a pesquisa e o ensino, principalmente com a primeira (..). Os aspectos negativos aparecem quando a boa intenção com o magistério esgota-se nesses preâmbulos. Como resultado, estes indivíduos se instalam, quase sempre procurando reproduzir algum modelo de “repasse” de conhecimentos ou informações com que anteriormente tiveram contato e aprovaram. O docente “formado” dessa maneira, até há pouco tempo atrás, conseguia satisfazer medianamente as necessidades nos cursos de engenharia. Mas, esse processo “empírico” de formação docente, que na verdade sempre foi de fato altamente deficiente, não tem mais encontrado sustentação dentro da nova dinâmica de circulação de informações e das necessidades atuais de construção de conhecimentos”. (Bazzo, 1997, p. 94-95) Em muitos casos, o “carisma da competência intelectual e profissional” do pesquisador-professor prevalece sobre a sua formação pedagógica. Bazzo (1997), mais uma vez refere-se ao assunto: “Talvez este seja um dos quadros que servem de legitimação para que alguns docentes de engenharia passem a menosprezar o tipo de formação que não seja a puramente técnica e, de certa forma, passem também a desconsiderar a necessidade de uma formação específica para uma atuação docente” (idem, p. 96). As próprias universidades brasileiras têm sua grande parcela de culpa na má formação pedagógica do professor de engenharia (ou quando existe) ao valorizar mais as publicações científicas do que os trabalhos de pesquisa em 83 ensino de engenharia, e deixam para segundo plano o ensino e, consequentemente, o aluno. “Uma forte tendência entre os professores, quando admitem a existência de problemas na aprendizagem, é a de transferir a responsabilidade desses fracassos ou para os alunos, ou para as deficiências materiais para sua execução. No mais, continuam às voltas com seus trabalhos mais imediatos de cunho científico, seguindo à risca o padrão vigente na universidade brasileira, a publicação eminentemente técnica e a administração e relega a segundo plano o ensino (Bazzo, 1997, p. 74) Não há mais espaço para o pesquisador ou para o engenheiro que, nas suas horas vagas, torna-se professor. Ou este profissional assume-se como professor ou ele deve deixar de sê-lo amadoristicamente. O professor amador deve dar espaço para o professor. É comum ao professor amador, dizer que mantém o diálogo com o aluno com a finalidade de minimizar as distâncias entre eles, e alertá-los sobre a questão da criatividade. Entretanto, as posições de ambos os envolvidos no processo de aprendizagem: professor e aluno devem estar abertas. “...é comum ouvir-se de professores a afirmativa de que, apesar do diálogo que mantém com seus alunos, eles continuam sendo muito limitados, deixando muito a desejar na sua ação criativa. Dialogar não é manter posições inflexíveis e pontos de vista imutáveis, na busca de tentar convencer os outros a mudarem os seus. Mas isto é costumeiramente o que acontece nas salas de aula. Com esse tipo de comportamento, o máximo que se pode alcançar é a concordância ou compromisso, mas jamais se conquistará algo criativo. É ainda mais evidente esta problemática quando a discussão envolve um tema fundamental, levando sempre à intransigência da necessidade de se mostrar firme e resoluto no assunto. Parece 84 que o professor tem medo de ser acentuado em parecer não conhecer algo. Estes aspectos são extremamente prejudiciais, pois impedem o jogo livre do pensamento na comunicação.” (Bazzo, 1997, p. 88, 89) Falar a linguagem dos engenheiros, significa utilizar a ciência e a tecnologia na abordagem dos temas das disciplinas. Significa que o professor precisa ter informações e formação mais próxima ao aluno do curso. No ciclo básico de engenharia, a linguagem é a ciência. É bastante comum, nós professores, considerarmos que os alunos ingressantes nada tenham a oferecer (ou compartilhar) em termos de conhecimentos. Talvez não possuam os conhecimentos específicos em Matemática e Física que gostaríamos que tivessem. Entretanto, há que se considerar, e muito, o que eles trazem de suas observações do mundo, de sua função profissional, etc. “Quando chegam ao curso superior, os alunos não estão com as mentes vazias. Chegam, é certo, com toda uma carga de formação que é herança não só do senso comum, da cultura popular e da educação familiar, mas também da bagagem educacional formal que receberam nos anos anteriores de escolarização” (Bazzo, 1997, p. 95,96). Das disciplinas que compõem o ciclo básico de engenharia , o cálculo sempre foi considerado “o grande vilão”, responsável por reprovações maciças, de utilidade “questionável” (em virtude da falta de aplicabilidade), de conteúdo quase que totalmente composto de teoremas e demonstrações que nunca serão usados (as demonstrações de teoremas não serão mesmo usadas, mas sim os conceitos), um mal necessário (na opinião dos alunos). É necessário motivar os alunos. De nada adianta dizer a tradicional fala de todo professor das disciplinas básicas: “Cálculo, física, geometria e álgebra são indispensáveis para o engenheiro”. É preciso mostrar que esta nossa fala é verdadeira, que existe um significado para tudo o que estamos construindo 85 juntos. É necessário formar os elos entre o passado (aquilo que eles conhecem) com o presente (o que estamos construindo) e o futuro, para que eles possam, finalmente, ter a certeza do valor da ferramenta e saber usá-la sem receio. 4- Considerações É necessário quebrar as barreiras rígidas existentes entre as disciplinas. Para tanto, o professor deve avaliar sua própria disciplina e , em conjunto com os demais professores, verificar os vínculos e relacioná-las em suas aulas. Se o professor de cálculo utiliza-se de problemas envolvendo fenômenos da Física básica, Mecânica, circuitos elétricos, os professores destas disciplinas deverão, a cada momento, sempre que possível, relacioná-las ao cálculo. Deve-se mostrar ao aluno, através de atitudes, que há um relacionamento forte entre as disciplinas de formação básica e profissionalizante, distribuídas homogeneamente ao longo do curso e realizar uma adequação da interdisciplinaridade intrínseca à área. As ações interdisciplinares precisam ganhar espaço. As disciplinas básicas do curso de engenharia não despertam interesse do aluno porque ficam desvinculadas do ciclo profissionalizante. Os conceitos básicos de cálculo, geometria e álgebra ficam reduzidos a fórmulas prontas e tabelas, não permitindo ao aluno solidificar sua linha de raciocínio. O fortalecimento dos elos presente-passado-futuro, é muito bem descrito por Sacristán (2000, p. 37): “Refletir sobre o presente é impossível sem se valer do passado, pois neste o tempo que vivemos encontrou seu nascimento. Refletir sobre o futuro é impossível sem se referir ao passado e ao presente, já que a partir desses alicerces são construídas as linhas mestras do que está por vir.” 86 As questões fundamentais, para nós, são: como ensinar (de fato) o cálculo, a física, as geometrias e a álgebra de forma agradável para os estudantes; como diminuir o distanciamento que existe entre o que pensamos ter ensinado e o que, de fato, é aprendido; como mostrar ao aluno as ligações passado-presente-futuro nas disciplinas, como posso cumprir o programa estabelecido de forma a atingir a aprendizagem. A física nos explica que para vencer a inércia dos corpos é necessário aplicar uma força externa. Assim dizia Newton na sua 1a lei de mecânica Clássica. Esta força externa deverá ser aplicada por nós, professores: MOTIVAÇÃO através de ações interdisciplinares. 87 CAPÍTULO 4 O DIÁLOGO ENTRE AS DISCIPLINAS: PROBLEMAS MOTIVADORES E INSTIGANTES 88 CAPÍTULO 4 O DIÁLOGO ENTRE AS DISCIPLINAS: PROBLEMAS MOTIVADORES E INSTIGANTES 1- INTRODUÇÃO Mudanças que resultem em aprendizagem, exigem que professor e aluno se tornem co-participantes e co-responsáveis em todas as ações do processo. E para mudar precisamos ousar, não temer andar por caminhos inseguros. Mas estes caminhos não serão percorridos de forma solitária, o professor tem o aluno a seu lado. E, junto aos conhecimentos puramente acadêmicos, compartilharão também as relações humanas. A articulação entre as diversas disciplinas que compõem o quadro do curso de engenharia, que estão descritas e discutidas no capítulo 2 (p.56-58) deste trabalho, feitas pelo professor de cálculo e das demais disciplinas é, muitas vezes, deixada de lado, visto que demandam tempo e dedicação por parte do professor. Buscar de problemas e exercícios que promovam a integração entre as disciplinas é tarefa que demanda tempo para pesquisa e elaboração dos trabalhos. Reunir os colegas professores, é um dos elementos que dificulta e desestimula a realização do trabalho, visto que é necessário verificar a disponibilidade dos colegas em discutir e planejar estas ações e, principalmente, pela comodidade em trabalhar da forma como sempre fez. 89 O Cálculo foi uma das maiores conquistas intelectuais do século XVII, perpetuando-se como a linguagem básica do desenvolvimento científico desde então. Entretanto, nossos alunos, quando deparam-se com ele, no início de seu curso de engenharia, na maioria das vezes não conseguem perceber a sua importância, nem por seu aspecto prático, muito menos pela sua beleza. Muito ao contrário, a imagem que os estudantes têm do cálculo diferencial é muito diferente disso. A não compreensão das reais utilidades e aplicações na área de estudos leva, muitas vezes, a perder o interesse em aprender. Disciplinas do núcleo de formação básica, tais como o Cálculo Diferencial e Integral, Geometrias e Álgebra Linear são ministradas, na grande maioria das vezes, na sua forma mais tradicional: uma lousa, giz (ou mesmo utilizando ferramentas tecnológicas), professor falando e escrevendo no quadro (ou mudando de tela), alunos em atitude passiva, copiando e ouvindo. A falta de compreensão sobre o conteúdo, o desinteresse e a consequente evasão dos alunos, levaram-nos a procurar saídas para tornar as disciplinas do ciclo básico em engenharia úteis e articuladas por intermédio do cálculo diferencial. O conteúdo da disciplina não sofreu alteração, mudamos as estratégias de abordagem da disciplina. Demonstrações de teoremas, foram avaliadas em sua real necessidade e, algumas foram substituídas por apresentações de situações que mostravam claramente a sua existência. Percebemos que, para uma aula produzir aprendizagem é necessário que os estudantes participem ativamente, vejam o cálculo e as demais disciplinas como uma linguagem interdisciplinar para a sua carreira. 90 2- O cálculo como linguagem interdisciplinar O curso de Cálculo Diferencial e Integral , disciplina sob nossa responsabilidade, é oferecido aos alunos de engenharia com a utilização de exercícios conceituais, e situações-problema com dados próximos do mundo real. As aulas são repletas de exemplos e discussões que encorajem os alunos a pensar gráfica, analítica e numericamente. Em quase todos os problemas propostos é solicitado aos alunos que gerem e interpretem gráficos de maneira que possam compreender as relações entre o cálculo e o mundo real. Além disso, pede-se aos estudantes que explorem e expliquem vários conceitos e aplicações do cálculo, das físicas, da geometria e da álgebra, em questões dissertativas ao longo de cada tópico e em seus interfaceamentos. A ligação horizontal entre as diversas disciplinas que compõem a série é mostrada ao aluno nos trabalhos realizados. É importante salientar a necessidade do professor ir à busca de informações sobre as demais disciplinas. Sem que haja o conhecimento disso, torna-se difícil ou até impossível organizar sua disciplina. Grande parte dos problemas é resolvida em sala de aula, com uso de quadro, entretanto, não se descarta a utilização de calculadoras gráficas. Para alguns assuntos utilizamos computadores e sistemas de álgebra por computador. Neste momento, é dada uma situação- problema real, com dados reais de engenharia. O diálogo, após a apresentação de uma situação problema, tem grande importância para todos nós, professores e alunos, na compreensão de conceitos e técnicas. A diversificação dos trabalhos (feitos em sala), ora individuais, ora em grupos (orientados) tem sido facilitadora de integração entre os alunos. Muitos grupos de estudo têm se formado para discussões de problemas. 91 No curso, dá-se ênfase à compreensão dos conceitos. Cada tópico é apresentado de quatro maneiras: geométrica, numérica , algébrica e do ponto de vista verbal (descritiva). A linguagem precisa ser simples, os exemplos claros, reforçados por sua aplicação com base no mundo real, de grande interesse para os alunos. Não comprometendo a integridade do conteúdo, dáse ênfase, também, na modelagem e suas aplicações no cálculo usando-se dados reais, equilibrando métodos gráficos, numéricos e analíticos. 3- A articulação das disciplinas pelo cálculo: aprendizagem Despertar o interesse e a curiosidade nos alunos, com a finalidade de criar situações que se revertam em motivação para uma participação ativa, têm sido a nossa busca nestes anos de docência. O processo de aprendizagem se faz quando professor e aluno tornam o ambiente de sala de aula local de troca de idéias e experiências. Ambos são coresponsáveis pelo aprendizado. Desta forma, é necessário que o professor seja um elemento facilitador da aprendizagem e nunca uma barreira que dificulte o processo. Todos os assuntos tratados em Cálculo Diferencial e Integral podem ser discutidos como aproximações de situações reais. Não importa o curso em que a disciplina é oferecida. Se ela fizer parte de grade curricular de Economia, Administração, Bioquímica ou Engenharia, existirá um meio de torná-la próxima à realidade do estudante e sua futura profissão. É evidente que o Cálculo Diferencial e Integral, num curso de engenharia, será diferente do ministrado em Bioquímica. Não pelos tópicos do conteúdo a serem estudados, mas pelas diferentes necessidades de cada formação. A grande diferença entre eles será a forma de abordagem (ou pelo menos, deveria ser). 92 As Equações diferenciais ordinárias, por exemplo, são de extrema importância para o aluno do curso de engenharia e também para o aluno do curso de Bioquímica. Mudam as situações-problema apresentadas aos alunos, diferentes análises (analíticas e gráficas). Importante é o estabelecimento da decodificação da linguagem escrita para a linguagem matemática (modelagem). Os modelos matemáticos têm multiplicidade de propósitos que vão desde a compreensão melhor da situação apresentada, até a ação decorrente de um resultado. O grau de precisão que se espera de um modelo matemático também pode variar consideravelmente, de acordo com o curso em que a disciplina está sendo ministrada. As situações para um curso de engenharia podem ser modeladas com muita precisão, enquanto que em situações de ciências humanas, com menor precisão. Isto não torna tais modelos mais ou menos importantes, visto que poderá servir como base de ação. O propósito do trabalho que realizamos junto aos alunos do curso de engenharia é sempre considerar, inicialmente, uma situação simples e construir uma sequência de modelos mais reais para, após, verificar junto aos alunos o que podemos aprender sobre a situação. Nisso há um resultado, que pudemos notar na prática, valioso: ele antecede uma resolução numérica qualquer, sem interpretação dos fatos. A resposta correta, na verdade, não é a coisa mais importante no processo. Cada tópico é tratado como elencado abaixo: 1- Introdução de tópico de conteúdo: discorrer um pouco sobre generalidades do assunto, sua importância para o desenvolvimento de outras disciplinas do curso e para a sua formação profissional. Em nossa pesquisa, utilizamo-nos de textos introdutórios sobre cada assunto, como por exemplo, no capítulo 5 (p.104) em que se disponibiliza ao estudante texto introdutório sobre o que é uma equação diferencial e sua importância como ferramenta de descrição, análise e resolução de grandes e pequenos problemas em engenharia. 93 2- Apresentação de uma situação-problema: este problema envolve assuntos já tratados em outras disciplinas. Quando necessário, são disponibilizados aos alunos, textos sobre o assunto. Citamos como exemplo, a apresentação do problema sobre a Lei de Resfriamento e Aquecimento de Newton (p.104) deste trabalho. 3- Leitura e interpretação minuciosa do problema: é feita com a participação de todos. A sua transformação em linguagem matemática é feita aos poucos. Todas as interferências e/ou sugestões apresentadas são transcritas no quadro. Os próprios alunos, na maioria das vezes, explicam aos colegas os erros de interpretação e sugerem o que, de fato, o problema solicita. 4- Ligação entre o tópico do conteúdo e o problema apresentado: a partir da situação problema, decodificada para a linguagem matemática, a participação da professora intensifica-se, visto que é necessário identificar conceitualmente o tema, assim como explicar técnicas de resolução. Este é o momento de demonstrações (quando necessárias) e aplicação de conceitos e propriedades matemáticas. 5- Identificação de condições iniciais e condições de contorno para a determinação da solução do problema: resolvido o problema, é necessário retornar ao enunciado para verificar as condições iniciais e condições de contorno que ele nos apresenta. Estas condições levam o aluno a verificar qual a melhor resposta. São feitas verificações gráficas e/ou numéricas. Para o Cálculo e para as demais disciplinas do curso de engenharia é imprescindível que o aluno consiga analisar as respostas (que podem ser diversas) e, através das condições iniciais e das condições de contorno apresentadas no problema, saber qual a melhor solução ou a mais provável. 6- Apresentação de situação-problema mais elaborada sobre o mesmo assunto: a primeira situação problema apresentada é sempre bastante simples, pois é de interesse que a participação dos alunos seja bastante 94 abrangente. Na sequência, aplica-se outra situação problema mais elaborada (conceitual e matematicamente). Muitas vezes é utilizada a mesma situação-problema anterior com condições iniciais e condições de contorno mais complexas (ou até com mais aproximação da realidade). 6.1- Esta é uma atividade feita em grupos. São dadas as orientações para o desenvolvimento dos trabalhos daquele dia: o que será solicitado, como será o andamento, como deve ser a apresentação dos resultados. Algumas vezes são dados os mesmos problemas para cada grupo e, em outras vezes problemas diferentes são oferecidos para discussões na sequência da aula. 6.2- Divididos em grupo, os alunos fazem todas as primeiras leituras do problema e discutem sobre o provável equacionamento (linguagem matemática). 6.3- Quando existe dúvida sobre o equacionamento, há a participação mais ativa da professora. A partir das diversas possibilidades que eles apresentam, discutimos os motivos de uma estar certa e outras estarem erradas e até como mais de uma possibilidade de equacionamento é possível (isto é muito produtivo quando acontece, pois dá margem a maiores discussões e avanços de programa). 6.4- Encontrado o equacionamento correto (ou mais de um) são aplicadas as técnicas de solução. 6.5- Resolvido o problema, voltamos ao enunciado para que se possa verificar como as condições de contorno foram utilizadas, assim como as condições iniciais. A análise gráfica é de grande importância. 7- Análise gráfica: quando se trata de análise gráfica, nem sempre dispomos de computadores para uso de softwares. Nesse momento, utilizo-me de 95 transparências, ou até mesmo (particularmente tenho utilizado mais) de calculadoras gráficas. Normalmente mais de 50% das turmas possuem este tipo de calculadora, desta forma, fazemos juntos e eles verificam com seus pares em sala. 8- Exercícios de fixação: do tipo resolva, integre, derive, calcule, são importantes para que os alunos pratiquem técnicas de resolução de cada um dos tópicos do programa. Para tanto, resolvo, junto aos alunos, alguns exercícios, procurando variá-los em grau de dificuldade. 9- O trabalho importante do monitor da disciplina: a partir deste ponto, para exercício de técnicas de solução, utilizo-me dos trabalhos de monitoria. O monitor, que está sempre à disposição dos alunos fora dos horários de aula (horários estabelecidos pelos grupos), de posse dos exercícios que deixei previamente com os alunos, orienta-os a fim de que aprimorem-se em técnicas de solução. O monitor é sempre um ex-aluno da disciplina que tenha obtido destaque em aproveitamento e facilidade em comunicar-se. É um grande auxiliar. Muitas vezes ele recorre ao professor para solucionar dúvidas mais genéricas e, de posse da informação, o professor poderá saná-las em aula. 10- Apresentação de um problema para reflexão: ao final de cada tópico do conteúdo, é oferecido um problema para reflexão. Este problema, normalmente é sobre algum assunto do cotidiano ou sobre tópico de outras disciplinas oferecidas paralelamente ao cálculo. Uma questão que permeia todos os itens citados é o tratamento dado ao erro. Erro do aluno na formulação de perguntas, nas observações sobre as questões físicas e/ou tecnológicas que envolvem as soluções de problemas apresentados, erros oriundos de desconhecimento de assuntos relativos à lacuna do ensino médio e erros na análise de soluções. Esse momento do erro, de extrema importância ao desenvolvimento de qualquer conteúdo, deve ser 96 explorado pelo professor. É exatamente nesta hora que existe uma grande abertura para discussões e esclarecimentos de dúvidas. Pode-se conduzir as discussões para que os próprios alunos encontrem uma resposta adequada e uma justificativa para o que aconteceu. Observações negativas e punitivas não são em nada estimulantes para o desaparecimento do erro, muito ao contrário, levarão o aluno a deixar de questionar sobre suas dúvidas. 4- Caminhos na aprendizagem em engenharia Considerando-se a necessidade de aprimoramento do ensino de engenharia, as novas tendências em Educação, e as expectativas de formação profissional de engenharia para o século XXI, é que se procurou desenvolver um trabalho diferenciado em sala de aula com os alunos de Cálculo Diferencial e Integral. Os trabalhos desenvolvidos junto aos alunos de Cálculo Diferencial e Integral, com a utilização de diferentes estratégias de aprendizagem, contemplaram os seguintes aspectos: - Oferecer ao aluno aulas motivantes, por meio de situações-problema ligadas à sua formação; - A utilização do Cálculo Diferencial e Integral como agente articulador entre as diversas disciplinas do curso, promovendo integração vertical e horizontal; - A diversificação de estratégias de ensino; - Reflexão sobre as dificuldades e consequente ação, com a finalidade de recuperação; - Desenvolvimento de habilidades para trabalhos em grupo; 97 - Utilização de diversos tipos de tecnologia (softwares, calculadoras gráficas, etc.); - Desenvolvimento de criatividade; - Desenvolvimento da atitude de aprender a aprender. O entrosamento entre os alunos e professor foi um elemento facilitador no desenvolvimento da habilidade de trabalhar em equipe. Esta habilidade desenvolvida, facilitará o profissional engenheiro a atuar no mercado de trabalho que se exigirá dele: trabalhar em equipe, trocar informações e ideias. Isto rompe a forma exclusivamente autônoma. A construção do conhecimento tem início quando existe alguém predisposto a aprender algo (motivação) e, ao seu lado, existe outro alguém que crie situações facilitadoras da aprendizagem. Entre os grandes desafios dos professores para facilitar a aprendizagem estão: criar situações de aprendizagem calcadas na resolução de situaçõesproblema do cotidiano de seus alunos; estabelecer conexões horizontais entre as disciplinas; ser capaz de empreender mudanças em sua prática; favorecer a participação e cooperação dos alunos, criando ambiente de aprendizagem que integre ensino e pesquisa, onde os alunos exercitem a comunicação e colaboração. É imprescindível que o professor saiba que o ponto de partida, no processo ensino-aprendizagem, é o aluno, que precisa estar predisposto (por meio de motivação) a aprender. É necessário que os professores reflitam sobre seu real papel no grande cenário da aprendizagem em que o protagonista é o aluno. 98 5- Apresentação de atividades motivadoras e instigantes É importante que o estudante perceba que nas ciências e nas engenharias frequentemente desejamos descrever ou MODELAR o comportamento de algum sistema ou fenômeno em termos matemáticos. Esta descrição começa com: i- a identificação das variáveis responsáveis por mudanças do sistema e ii- a elaboração de um conjunto de hipóteses razoáveis sobre ela. Estas hipóteses incluem algumas leis empíricas que são aplicáveis aos sistema. A estrutura matemática de todas essas hipóteses, ou MODELO MATEMÁTICO do sistema, é muitas vezes representada por equações diferenciais ou por um sistema de equações diferenciais. Esperamos que um modelo matemático razoável do sistema tenha uma solução que seja consistente com o comportamento conhecido dele. Um modelo matemático de um sistema físico, geralmente envolve a variável tempo. A solução do sistema representa, então, o ESTADO DO SISTEMA; em outras palavras, para valores apropriados de tempo t, os valores da variável dependente (ou variáveis) descrevem o sistema no presente, passado e futuro. Desta forma, quando se estuda equações diferenciais, para estabelecimento de modelagem, iniciamos por: 1- Corpo em queda livre – com ausência de atritos Utilização da 2a lei de Newton com a utilização de sua forma em derivadas de 2a ordem ou de 1a ordem – ratificação das equações estudadas no ensino médio. Importante lembrar que o aluno terá meios de comprovar a consistência, ou não, de seus estudos anteriores na determinação de 99 equações de deslocamento e velocidade para movimentos sem resistência do ar e com aceleração constante – integração vertical (passado) com a atual. 2- Sistema massa-mola Deslocamento vertical de sistema massa-mola – utilização de leis empíricas de Newton e de Hooke – sistemas sem amortecimento ou existência de forças externas que serão vistos posteriormente (na própria disciplina). 3- Pêndulo simples Apresentação de uma equação não linear, mas com a redução para uma linear numa simplificação para deslocamentos angulares pequenos. Importante salientar neste caso, que existe experimento simples realizado com o sistema acima para determinação de aceleração de gravidade local, assim como cálculo de erros de determinação da progressão de erros (ligação com física básica e laboratório de física, assim como de cálculo e derivadas parciais). 4- Brincadeira de pular corda (ou corda giratória) Preparação para estudo de curvas de deflexão, importantes para os alunos do curso de engenharia civil. 5- Circuitos em série Utilização de circuitos R, R-L, R-C ou R-L-C para determinação de correntes elétricas variáveis. Importante ligação com física geral e eletricidade básica. Poderão ser feitos experimentos em laboratórios para comprovação. 100 6- Lei de resfriamento de Newton Importante para que os alunos percebam a utilização desta lei para situações cotidianas. É possível trabalhar desde resfriamento de café em uma xícara, problemas em cozimento fica, e práticas com envolvimento da polícia científica. 7- Drenagem através de orifícios 8- Deflexões de vigas Consideramos importante salientar ser imprescindível que o professor (ou grupo de professores envolvidos no trabalho) faça: - discussão física e matemática da EXISTÊNCIA de uma determinada solução e como PODER EXIBIR tal solução; - Discussão sobre condições SUFICIENTES e/ou NECESSÁRIAS; - Discussão sobre o QUE É UMA FAMÍLIA DE SOLUÇÕES na solução de uma equação diferencial; - Discussão sobre SOLUÇÃO PARTICULAR de uma equação diferencial e CONDIÇÕES INICIAIS. Alguns aspectos novos, que esperamos que os estudantes achem INTERESSANTES e INSTIGANTES devem ser acrescentados aos trabalhos citados em aulas. Devemos aproveitar as oportunidades (e possibilidades) de apresentar aos alunos, ensaios de profissionais proeminentes em sua especialidade. Cada um dos ensaios reflete o pensamento, criatividade e opiniões de seu autor. Importante salientar que isto poderá despertar no estudante o interesse, encorajando-o a ler e se conscientizar de que os 101 assuntos tratados pelas diversas disciplinas comporão sua formação como engenheiro. O estudante poderá perceber que o estudo do cálculo, das geometrias, álgebras e física básica, não são simplesmente uma mera coleção de métodos e técnicas, fatos e fórmulas, mas de assuntos vibrantes e imprescindíveis como os quais os futuros engenheiros precisam trabalhar. Não basta aprender técnicas para a resolução de equações diferenciais. Mais do que métodos e técnicas, é necessário que o estudante perceba o processo físico que a equação (ou sua solução) representa. A apresentação de equações diferenciais por meio de problemas (ou situações problema) simples tornará mais fácil a compreensão de processos complexos. “O conhecimento de sistemas naturais complexos é, em geral, conseguido através da combinação ou do refinamento de modelos mais simples e mais básicos. Assim, um conhecimento profundo desses modelos, das equações que os descrevem e de suas soluções constitui um primeiro passo indispensável para a solução de problemas mais complexos e realistas.” (Boyce, 1999, p.IX) O autor expõe com clareza a importância da construção de soluções para fenômenos simples com o objetivo de extrapolação para fenômenos (ou sistemas) mais complexos e próximos do real. Um dos momentos mais importantes da resolução de uma equação diferencial é a análise: 1- prévia, para responder à primeira grande indagação: Será que uma equação tem sempre uma solução? Como o estudante perceberá a existência de uma solução? Se um problema não tem solução, é prudente conhecermos a situação antes de investirmos tempo e esforço em uma tentativa inútil de resolvê-lo. Desta forma, apresenta-se aqui uma 102 situação ideal para ações interdisciplinares. É necessário investigar o próprio problema (desde que apresentada sob a forma de um problema ou situação concreta). “...se um problema real de física é expresso matematicamente por uma equação diferencial, esta deve ter uma solução; se não tiver, é porque existe algo de errado na formulação do problema” (Boyce, 1999, p.3). 2- da equação: admitindo que a equação tenha solução, ela é única? Ela é necessária para responder ao problema? As questões de EXISTÊNCIA e UNICIDADE, embora sejam de difícil compreensão aos estudantes que iniciam os estudos das equações diferenciais, poderão ser mais facilmente entendidas, se as equações forem apresentadas sob a forma de situações-problema. É importante que o estudante acostume-se a construir e interpretar as FAMÍLIAS DE SOLUÇÕES (para isso, quando necessário os alunos poderão fazer uso de meios tecnológicos) e sua interpretação geométrica (apresenta-se aí uma importante e imprescindível ligação com as geometrias). A solução de uma curva, em particular, desta família de curvas é feita por identificações específicas: as condições iniciais devem ser exploradas pelo professor de cálculo, com aportes nas físicas e nas demais disciplinas que compõem o ciclo básico. A articulação entre as disciplinas é ponto fundamental para que o estudante sinta-se estimulado para continuar seus estudos. A equação diferencial é um MODELO MATEMÁTICO de um processo. Para que ela seja identificada e estruturada é necessário a leitura atenta do problema proposto, sua tradução matemática do fenômeno físico. Uma vez que se tenha formulado matematicamente um problema, o estudante terá que resolver a equação diferencial ( ou diversas) ou, quando não for possível, descobrir o máximo acerca da solução. É possível que a resolução de uma equação diferencial seja difícil e, talvez, sejam indicadas aproximações para que o problema seja “matematicamente tratável”. 103 “...uma equação não linear pode ser aproximada por uma equação linear, ou uma função que varie lentamente pode ser aproximada pelo seu valor médio. Naturalmente, qualquer dessas aproximações deve ser examinada também sob o ponto de vista físico, a fim de que se tenha segurança de o problema matemático continuar a refletir os traços essenciais do processo físico que estiver investigando” (Boyce, 1999, pp 33;34) Continua o autor enfatizando as intrínsecas relações entre os fenômenos físicos e a estruturação matemática da equação: “... o conhecimento íntimo da física do problema pode sugerir aproximações matemáticas razoáveis que farão o problema matemático mais tratável pela análise. Esta interrelação da compreensão dos fenômenos físicos e do conhecimento das técnicas matemáticas e de suas limitações é uma característica da melhor matemática aplicada e é indispensável para a construção correta de modelos matemáticos de processos físicos complexos” (Boyce, 1999, p.34) A citação apresentada a seguir, faz parte da apresentação de G. F. Simmons em sua obra Cálculo com Geometria Analítica, que é um respeitado autor de obras destinadas a estudantes de cálculo Ele resume, com propriedade, nossa opinião acerca do estudo de cálculo. “Meu propósito maior foi o de apresentar o cálculo como arte poderosa de resolver problemas, arte que é indispensável em todas as ciências quantitativas. Naturalmente, desejo convencer o estudante de que os instumentos-padrão de cálculo são razoáveis e legítimos, mas não à custa de transformar o assunto numa disciplina lógica enfadonha, dominada por definições supercuidadosas, apresentações formais de teoremas e provas meticulosas. É minha esperança que toda explicação matemática nestes capítulos pareça 104 ao estudante atento ser tão natural e inevitável quanto a água que flui no leito do rio. O objetivo principal do texto é explorar assuntos para os quais o cálculo é útil – o que ele nos possibilita fazer e compreender – e não por sua natureza lógica, quando encarado do ponto de vista especializado ( e limitado) do matemático puro moderno” (Simmons, 1987, p.XVI). Num mundo em que somos cada dia mais desafiados, precisamos propor atividades que desenvolvam a tomada de decisões, a mobilização de recursos e saber agir. A docência pautada nas atividades envolvendo a resolução de problemas é um dos caminhos para atingir um melhor nível de aprendizagem. Simmons (1987), continua em sua apresentação, ao explicar a existência de um grande número de problemas em sua obra: “Há grande número de problemas com “histórias” espalhados por todo o livro. Todos os professores sabem que os estudantes tremem diante desses problemas, pois usualmente exigem pensamento não rotineiro. Entretanto, a utilidade da matemática nas várias ciências demanda que tentemos ensinar nossos estudantes a penetrar no significado de um problema com história, julgar o que é relevante e traduzir as palavras para esboços e equações. Sem essas habilidades – que são igualmente valiosas para os estudantes que se tornarão doutores, advogados, analistas financeiros ou pensadores de qualquer natureza – não há educação matemática digna desse nome” (Simmons, 1987, p.XVII). Ao sugerir situações desafiadoras em seus “problemas com histórias” o autor mostra que é necessário ter bastante claro o objetivo que se quer alcançar e saber a quem elas se dirigem. Para que esses problemas surtam efeito junto aos alunos, é necessário que: - as atividades sejam reconhecidas pelos alunos como verdadeiros problemas; 105 - haja motivação dos alunos para a resolução das mesmas; - as atividades partam de conhecimento prévio dos alunos. Mais do que a resolução de problemas envolvendo situações desafiadoras, deve-se considerar o planejamento, as decisões, o raciocínio e os procedimentos, ou seja, o processo para que elas sejam resolvidas. Entretanto, não deve ser esquecido pelo professor, que a aprendizagem não se dá somente por construção, mas também por associação (Pozo, 2002). Portanto, torna-se imprescindível, também, a utilização de exercícios. Algumas aprendizagens necessitam de um exercício massivo e contínuo que complemente (ou anteceda) a resolução de problemas. “Um bom equilíbrio entre problemas e exercícios pode ajudar os alunos são só a consolidar suas habilidades, como também a conhecer seus limites, diferenciando situações conhecidas e já praticadas das novas e desconhecidas” (Pozo, 2002, p.256). 6- Considerações É no contexto da escola, na prática docente e na presença dos alunos que acontecem as modificações no processo de ensinar e aprender. O docente cria condições para a construção do conhecimento superando o sistema de fragmentação do ensino, abordando um conteúdo voltado para a resolução de problemas de interesse para o aluno. Importante que tenhamos em mente que nossa linguagem deve ser cuidadosamente modificada quando iniciamos nossas atividades na disciplina. O cálculo, a álgebra e a geometria apresentam, àqueles que iniciam, uma própria terminologia, nada familiar, muitas vezes consideradas “notações enigmáticas”. Acostumar-se a tudo isso exige tempo e prática, processo 106 semelhante a aprender uma nova língua. Entretanto, esse fato não deve nos impedir de ver no inteiro que os problemas centrais do assunto são realmente muito simples e claros, sem nada de estranho ou misterioso acerca deles. Espera-se que o estudante perceba a estreita ligação do cálculo com as geometrias (de início) e como é mais fácil aprender o cálculo por meio delas e que lançam luz, de modo significativo, sobre a geometria. É surpreendente ao estudante, constatar que eles têm aplicações profundas e de longo alcance na sua futura formação. Especificamente o cálculo adquire importância no “mundo fora das matemáticas” por meio destas aplicações científicas e um de nossos principais objetivos é introduzir o estudante a uma variedade delas tão grande quanto possível. O conceito de derivada está intimamente ligado à determinação de velocidades. Desta forma, torna-se mais útil ao estudante de engenharias, construir os conceitos de derivada por meio de problemas (simples e usuais) que envolvam determinação de velocidades de corpos. Vale ressaltar que este foi o fato que tornou (historicamente) o Cálculo um instrumento essencial para Newton. Essas idéias poderão oferecer ao estudante uma introdução bastante simples ao conceito geral de taxas de variação. O estudo de corpos em queda livre com ausência de resistência do ar é possível ser explorado por meio de problemas triviais (como o apresentado acima) tais como as questões de velocidade instantânea, velocidade média e a ampliação dos conceitos de limites. É importante partir de temas já conhecidos pelos estudantes, pois isto evitará que sejam feitas longas demonstrações matemáticas sobre o assunto. Muitas vezes a demonstração (que chamamos aqui de informal) é suficiente para que o estudante perceba a veracidade do tema apresentado. Os assuntos relativos a máximos e mínimos, funções decrescentes e crescentes, concavidades e pontos de inflexão, podem, e devem ser, 107 exaustivamente explorados pelas demais disciplinas que compõem a estrutura curricular dos cursos de engenharia. As integrações horizontais ampliarão e solidificarão os conceitos, tornando a aprendizagem ampla e mais significativa, visto serem abordadas e aplicadas por diferentes referenciais. Os cálculos e a álgebra só terão o real valor como ferramenta para as ciências se for possível ao futuro engenheiro aprender a compreender o problema e a traduzi-lo em linguagem matemática apropriada. Nossa pesquisa a partir do próximo capítulo, visa a descrever e analisar todas as atividades feitas pelos alunos, tendo em vista a resposta a nosso questionamento. 108 CAPÍTULO 5 EXPERIÊNCIAS INTEGRATIVAS DAS DISCIPLINAS BÁSICAS PELO CÁLCULO 109 CAPÍTULO 5 EXPERIÊNCIAS INTEGRATIVAS DAS DISCIPLINAS BÁSICAS PELO CÁLCULO 1- Introdução A articulação entre as diversas disciplinas que compõem a estrutura curricular do curso de engenharia, por meio de atividades integrativas, feita pelo professor de cálculo ou por grupo de professores de disciplinas do ciclo básico é, muitas vezes, deixada de lado por diversas dificuldades, tais como: - formalizar reuniões com os professores para discussão dos programas de cada disciplina; - criar atividades integrativas, tendo em vista a falta de tempo para reuniões de elaboração; - resolver, quando questionados pelos estudantes, situações difíceis por falta de conhecimento nos assuntos das atividades integrativas das demais disciplinas envolvidas; - considerar que as atividades implicarão perdas de tempo no cumprimento de seus planos de ensino; - considerar, previamente, que o aluno não terá interesse em realizar as atividades. 110 As observações/informações citadas, podem, aparentemente, ser agentes que dificultam o trabalho, entretanto, não devem ser consideradas impeditivas de ações que, ao nosso entender, apresentam resultados muito bons no aprendizado dos estudantes. Em cada plano de ensino das disciplinas do curso, existem os objetivos (cognitivos, habilidades e atitudes) que fazem parte do projeto pedagógico do curso que se espera alcançar ao final do semestre. O aluno deverá ter sólidos conhecimentos em Cálculo, em Física, em Álgebra e Mecânica de forma a utilizar esses conhecimentos de forma abrangente e articulada nas disciplinas do ciclo profissionalizante. Não deve assustar o professor tratar de mecânica geral, física geral, termodinâmica, resistência dos materiais, eletromagnetismo ou mecânica dos fluidos numa aula sobre equações diferenciais. É justamente com estas disciplinas que deve haver maior articulação para que se possa trabalhar o cálculo através de atividades integrativas. Dentre os diversos assuntos tratados em cálculo diferencial e integral de forma integrada às demais disciplinas de formação básica dos cursos de engenharia, escolhemos, para a apresentação no trabalho, temas abrangentes em equações diferenciais e derivadas parciais. Na apresentação da atividade, explicitamos toda a abrangência, o tempo gasto no seu desenvolvimento, observações feitas por nós sobre o andamento do problema e todas as indicações de possíveis dificuldades no desenvolvimento da tarefa. Em todos os casos, após a aplicação dos trabalhos, que são descritos pormenorizadamente, foi feita pesquisa junto aos alunos que fizeram as tarefas. Os resultados da pesquisa são descritos no anexo 2.2. 111 2- Atividade no 1: Equação de aquecimento e resfriamento, de Newton Por ser uma atividade inicial, é necessário oferecer ao aluno um grande número de informações a respeito das equações diferenciais, ou seja, o estudante precisará saber o que é uma equação diferencial, para que é necessário aprender tal conteúdo dentro de seu curso. Foi disponibilizado um texto geral sobre equações diferenciais ordinárias, por meio de cópias fotocopiadas e na plataforma Blackboard5, antes da discussão presencial sobre o assunto. Já com o texto lido, o assunto é debatido pela professora e alunos em encontro presencial, quando são discutidos os motivos pelos quais estudamos uma equação diferencial e o que ela representa. Em seguida, são apresentadas técnicas de solução de um tipo de equação diferencial: AS EQUAÇÕES SEPARADAS E SEPARÁVEIS. Só então são apresentadas técnicas de como estruturar uma equação diferencial. Neste momento são abordados, por meio de muitos exemplos originados em outras disciplinas, formas de equacionamento. Cabe salientar a importância deste tópico na articulação entre as disciplinas, pois assuntos já tratados em Física, Mecânica, Eletricidade e Fenômenos de Transporte são retomados pelo professor de Cálculo, para oferecer visibilidade e aplicabilidade a tão importante conteúdo. A atividade prossegue envolvendo a Lei de Aquecimento e Resfriamento, de Newton, com a aplicação de um problema simples sobre o resfriamento de uma xícara de café. O tempo gasto para a realização da discussão é de 200 minutos (correspondentes a 4 horas-aula). Após essa atividade, finalizamos com um problema de aplicação da mesma lei de Newton para resfriamento e aquecimento, com aplicação diferente da anterior. O problema de aplicação envolve um assassinato, e os alunos disporão, além das condições iniciais (a que o aluno foi submetido no problema do resfriamento do café) , de condições de contorno, não discutidas 5 A plataforma Blackboard é utilizada como meio de comunicação virtual junto aos alunos da Universidade Cruzeiro do Sul. 112 até então. O aluno terá que refletir sobre estas condições para responder à questão apresentada. O assunto que é tratado na atividade (equações diferenciais ordinárias), nesta atividade, tem: PRÉ-REQUISITO: derivação e integração (assuntos abordados em Cálculo Diferencial e Integral). LIGAÇÕES COM DISCIPLINAS DA SÉRIE ANTERIOR: Mecânica Geral , Física Geral e Experimental I, Cálculo Vetorial e Álgebra Linear. LIGAÇÕES COM DISCIPLINAS DA MESMA SÉRIE: Fenômenos de Transporte, Física Geral e Experimental II, Eletricidade, Resistência dos Materiais. LIGAÇÕES COM DISCIPLINAS DE SÉRIES POSTERIORES: Fenômenos de Transporte, Eletromagnetismo. TEXTO DISPONIBILIZADO AOS ALUNOS ANTES DA APLICAÇÃO DA ATIVIDADE O QUE SÃO EQUAÇÕES DIFERENCIAIS? Às vezes não conhecemos uma função-chave para a resolução imediata de um problema, mas temos informações sobre a sua taxa de variação. Dessa forma é possível, na maioria das vezes, escrever um tipo de equação, agora com derivadas, chamada EQUAÇÃO DIFERENCIAL. As equações diferenciais apresentam interesse para quem também não é da área de ciências exatas, visto que têm uma ampla possibilidade de utilização na investigação dos mais diversos tipos de fenômenos ligados às ciências físicas, biológicas e sociais. Para tanto, é necessário: a- traduzir, em termos matemáticos, a situação presente no fenômeno, o que se faz, em geral, através das hipóteses em torno do que está acontecendo. 113 b- Observar que as equações matemáticas são, na maioria das vezes, descrições aproximadas dos processos reais. São aproximações, já que baseiam-se em observações. “Por exemplo, os corpos que se movem a velocidades comparáveis à velocidade da luz não são governados pelas leis de Newton, (...) a transferência de calor é também influenciada por outros fatores que não a diferença de temperatura”. c- Descobrir o máximo sobre a solução do problema, quando já de posse da equação diferencial que mais se aproxime da sua realidade. Caso a solução (ou soluções) não seja (m) possível (eis) de ser (em) resolvida (s), deve-se descobrir o máximo acerca da solução. Um exemplo típico é uma equação diferencial não linear poder se aproximar de uma equação linear. Entretanto, é importante lembrar que quando estamos tratando de aproximações, uma análise física deve ser feita para assegurar que o problema matemático continue a refletir os traços essenciais do processo físico que está se investigando. d- Quando já encontrada a solução (aproximada ou não), deve-se analisá-la, verificando se ela está dentro do contexto do problema estudado. Percebe-se, a partir do exposto, a relação intrínseca existente entre este tópico de Cálculo Diferencial e a Ciência Aplicada. Para o futuro engenheiro, mais importante do que determinar a solução é a realização da análise minuciosa dos fenômenos que precisam ser estudados. Na sua vida profissional, não surgirão problemas para serem resolvidos com a forma simples: calcule, integre ou derive. É imprescindível que ele saiba calcular, integrar e derivar, mas pouco ou nenhum valor haverá sem a contextualização. O texto abaixo é disponibilizado ao aluno pela plataforma Blackboard uma semana antes da aula sobre o assunto. Desta forma, é possível que façam a leitura sobre o assunto, procurem mais informações sobre a lei para uma discussão junto aos colegas e professor durante o encontro. Alertamos que as 114 observações (que constam após cada passo do trabalho que é disponibilizado ao aluno) foram feitas por nós, por conta dos acontecimentos em cada tarefa. Salientamos, também, que a primeira fase da atividade é realizada em sala de aula, com a orientação do professor. As observações (em itálico) correspondem a esclarecimentos, orientações ou questionamentos que surgem durante o desenvolvimento da tarefa. PROBLEMA GERADOR: LEI DE NEWTON PARA RESFRIAMENTO E AQUECIMENTO (RESFRIAMENTO DE CAFÉ) Newton é popularmente conhecido pelas suas leis da Mecânica Clássica. Esta lei que será apresentada, embora pouco conhecida, é muito usada quando é necessário estudar o tempo gasto para resfriamento e aquecimento de um corpo em determinado ambiente. É de grande utilidade para o engenheiro mecânico, engenheiro civil assim como para os peritos da polícia. Esta lei nos diz que a temperatura de um objeto quente descreve uma taxa proporcional à diferença entre sua temperatura e a dos objetos em torno dele. Da mesma forma, um objeto frio se aquece a uma taxa proporcional à diferença de temperatura entre o objeto e o que o rodeia. Uma xícara de café quente, largada sobre uma mesa, esfria. Há uma taxa proporcional à diferença de temperaturas entre o café e o ar em volta. Enquanto o café esfria, a taxa de resfriamento vai diminuindo, já que a diferença entre as temperaturas (do café e do ar em volta) é menor. Com o correr do tempo, a taxa de resfriamento tende a zero, pois a temperatura do café e do ar se aproximam (chegando ao equilíbrio térmico). Seja T a temperatura ao tempo t de uma xícara de café numa sala a 35o C. A Lei de Newton nos afirma que: 115 TAXA DE VARIAÇÃO DA TEMPERATURA = CONSTANTE X DIFERENÇA DE TEMPERATURA Passo 1 - O problema cita “taxa de resfriamento”. Qual a melhor maneira de expor matematicamente esta informação? A taxa de variação de temperatura é dT . Observação: é sempre importante lembrar aos alunos que taxas de dt variação implicam derivadas. Passo 2 - Como explicar matematicamente a diferença de temperatura? Observação: O problema cita que a taxa de resfriamento do café é proporcional à diferença de temperatura. Dessa forma, as respostas dos alunos, normalmente apontam para (T – 35) Passo 3 - Como, agora, equacionar o problema? Observação: Esta é uma fase tradicionalmente difícil para o aluno, visto que ele necessita interpretar o problema e “traduzi-lo” para a linguagem matemática. É necessário, muitas vezes, auxiliar na leitura, grifar no enunciado do problema as palavras ou expressões mais importantes (para o momento). Passo 4 - A diferença de temperatura entre o café e a sala é T 35 . Dessa forma, como será a equação que descreve o problema? Observação: Aqui surge uma maior variação de respostas pelos alunos. Existe sempre uma grande confusão com a igualdade e a proporcionalidade. Neste momento é necessária a interferência do professor com a finalidade de explicar o que significa ser igual e o que significa ser proporcional. O maior índice de dT (T 35) , o que poderá forma de equacionamento para o problema é: dt ser verdade, se a constante for igual a 1. Entretanto, como ainda não utilizamos nenhuma condição inicial , permanecerá como está. 116 dT cons tan teXT 35 dt Passo 5 – Vamos agora analisar a equação. O que ela descreve? Observação: é importante a interferência do professor para apresentar aos alunos que o fenômeno está descrito por meio de uma equação diferencial. Os alunos são alertados para atentarem à forma de tal tipo de equação: tanto a função (o que se quer determinar) quanto a variável (do que depende a função) apresentam-se na forma de derivadas, que estão expressas na forma de uma razão de diferenciais. Passo 6 - E a constante de proporcionalidade? Que sinal deve-se usar antes dela? Observação: O aluno deverá ser orientado a perceber que o café está, inicialmente, mais quente que a sala, ou seja: temperatura do café decresce, isto é T 35 0 , assim a dT 0 ; A constante deve ser negativa: dt dT k.T 35 , com k>0 dt Passo 7 - Como se resolve essa equação? Observação: O professor deverá apresentar a equação como uma equação diferencial separável, visto que, facilmente, isola-se em cada membro da equação as variáveis, ou seja: dT k.dt T 35 117 Passo 8 - Como se resolve a equação? Observação: O professor lembra aos alunos as operações inversas (adiçãosubtração; potenciação-radiciação e derivação-integração). Integrando ambos os membros da equação: dT (T 35) k.dt Isso nos resulta: ln(T 35) kt C Passo 9 - Como expressar T como função de t? Observação: Importante a participação do professor ao revisar operações inversas (logarítimo-exponencial) T 35 e kt C De outra forma: T 35 C.e kt Passo 10 – Como interpretar o resultado? Será possível construir gráfico? A seguir está exposta uma forma apresentada por um aluno da disciplina para responder ao passo 10. Consideramos a resolução bastante interessante, de forma que expomos e divulgamos aos demais alunos. 118 LEIS DE NEWTON PARA AQUECIMENTO E RESFRIAMENTO: UMA OUTRA FORMA MAIS GENÉRICA (EXPOSIÇÃO DE UM ALUNO UTILIZANDO OUTRAS FORMAS DE ABORDAGEM TECNOLÓGICA) Hipóteses: (i) a temperatura T é a mesma em todo o corpo e depende apenas do tempo t; (ii) a temperatura Tamb do ambiente é constante com o tempo e é a mesma em todo o ambiente; (iii) o fluxo de calor através das paredes do corpo, dado por dT/dt é proporcional à diferença entre as temperaturas do corpo e do ambiente: dT k (T Tamb ) dt onde k é uma constante positiva que depende de propriedades físicas do corpo. O sinal negativo, se explica pelo fato de que o calor flui da fonte quente para a fonte fria, e assim se T>Tamb, então T decresce. Se T<Tamb, então dT dt cresce e o corpo está se aquecendo ao invés de se resfriar. A solução geral da equação diferencial é: T Tamb Ce t Após a realização da atividade sobre a equação de resfriamento de Newton, os alunos recebem o problema a seguir, como uma variação sobre o 119 mesmo tema, envolvendo agora uma aplicação não convencional ao curso. O enunciado do problema é disponibilizado aos alunos na plataforma Blackboard. Eles tiveram prazo de uma semana para responder. Após o prazo estipulado e a entrega da solução, eles têm acesso a uma possibilidade de resolução oferecida pelo professor pela mesma plataforma. O PROBLEMA: ASSASSINATO Um indivíduo é encontrado, pela secretária, morto em seu escritório. Ela liga para a polícia. Quando a polícia chega, 2 horas após a chamada, examina o cadáver. Uma hora depois, um detetive prende a secretária. Por quê? Dados do problema: A temperatura do escritório era de 20o C. Quando a polícia chegou, mediu a temperatura do corpo, achando 35o C; uma hora depois, mediu novamente e a temperatura era de 34,2o C. Suponha que a temperatura de uma pessoa viva seja de 36,5o C. A equação que rege este tipo de fenômeno é a chamada equação de resfriamento de Newton: dT (t Ta ) dt Onde é uma constante (que deve ser determinada) Ta é a temperatura ambiente. O trabalho se inicia com a determinação da solução geral, da solução particular e de . Os resultados serão interessantes. 120 RESOLUÇÃO DO PROBLEMA Observação: resolução disponibilizada aos alunos uma semana após a apresentação do mesmo para a resolução pelos alunos. 1- Para resolver o problema do assassinato, é necessário observar as condições de temperatura e os tempos: A temperatura do ambiente (20o C), a primeira medida de temperatura do morto (feita pela polícia) (35o C), a 2a medida de temperatura feita pela polícia (34,2o C) e a consideração da temperatura de uma pessoa viva como 36,5o C. Existem diversas formas para resolver este problema. Vou apresentar a vocês uma delas. Com certeza vocês devem ter encontrado outros caminhos, que devem ser compartilhados com os colegas (pelo blackboard, inclusive) Podemos considerar que: T(0) = 36,5o C - a temperatura de uma pessoa viva T (tm) = 35o C onde tm é o tempo decorrido até o instante da morte (é o que queremos saber) T (tm+1) = 34,2o C (temperatura do falecido 1 hora depois da chegada da polícia. A equação de Newton para resfriamento: dT T Ta . dt Para resolver a equação, ou seja, encontrar a solução geral, há que se perceber que se trata de uma equação separável. Então: 121 dT T Ta dt dT dt (T Ta ) dT T T dt a Resolvendo os integrais: ln T Ta t ln C ln T Ta C t T Ta C.e t Observem que a constante poderia ter sido adicionada em qualquer membro da equação, sob forma ou não de seu logaritmo natural. A forma como eu adicionei a constante, foi totalmente aleatória. Como a temperatura ambiente é 20o C, farei a substituição na equação: T 20 Ce t Precisamos encontrar a constante, por meio das condições iniciais do problema, ou seja : T(0) = 36,5o C. Desta forma: Como a solução de nossa equação diferencial é: T 20 Ce t , pelas condições iniciais, poderemos calcular o C, ou seja: 36,5 Ce .0 20 16,5 Ce0 C 16,5 T 16,5.e t 20 Agora, temos que determinar o . Para isso vamos ao tm. A temperatura neste momento era de 35o C, ou seja: 35 16,5e t m 20 15 16,5.e t m Desta forma, temos a expressão: 15 e t m (1) 16,5 122 Temos outra informação, que é a temperatura 1 hora após o tm, que é 34,2o C Ou seja: T (tm+1) = 34,2o C. Vamos substituir isso em nossa solução: 34,2 16,5.e t m 1 20 14,2 16,5.e t m 1 14,2 e t m .e (2) 16,5 Ao efetuarmos a razão entre as equações (1) e (2): 15 e t m 15 1 t e 1,056338 0,05481 14,2 e m .e 14,2 e O que precisamos saber, de fato é o tm. Desta forma, voltamos à equação (1), com o valor de , ou seja: 15 e 0,05481t m t m 1,73898 16,5 Ou seja, tm= 1,73898 horas, mostra que o assassinato ocorreu, 1h44min 20s antes da chegada da polícia. Portanto, quando a secretária ligou para a polícia, o seu chefe ainda estava vivo. É importante observar que, embora o problema seja bastante interessante, existem questionamentos que devem ser feitos com relação à utilização única das ferramentas matemáticas como fonte de obtenção de resultados. Vocês poderão enumerar uma grande quantidade de possibilidades que poderiam impedir, a princípio, a secretária de ser presa. Mas este, agora, é um caso para outras áreas, o direito, por exemplo. 123 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ATIVIDADE Esta atividade é introdutória ao estudo das equações diferenciais. Com a aplicação procurou-se estabelecer uma relação de proximidade ao cotidiano do estudante, com problema de resfriamento. Pensamos à época em somente utilizar a questão de resfriamento de café, entretanto, ousamos em “brincar” com uma aplicação menos formal. Esse problema (do assassinato) transformou-se num grande desafio junto aos alunos, que procuravam em todos os meios matemáticos a justificativa para a secretária ter sido presa. Sem que eles prestassem atenção aos detalhes, aprenderam a utilizar-se de condições iniciais e condições de contorno, tão difíceis de serem explicadas e usadas. Ao responderem à pesquisa sobre a dificuldade da atividade, apresentaram que a atividade foi difícil, mas que, queriam resolver o problema por ser muito curioso e interessante. 3- Atividade no 2 – Aplicação das Leis de Newton Esta atividade corresponde a um longo número de problemas com crescente grau de dificuldade, envolvendo a resolução de equações diferenciais ordinárias, aplicadas da Mecânica por meio das Leis de Newton. Toda a atividade é composta por cinco situações, que são: 1- Texto – Leis de Newton – disponível ao aluno na plataforma Blackboard uma semana antes do início da atividade. 2- Problema 1 – Movimento horizontal de uma partícula num meio resistente 3- Problema 2 – Continuação do problema anterior – desenvolvimento de uma equação de deslocamento e velocidade em função do tempo 4- Problema 3 – Movimento vertical de uma partícula em meio resistente 124 5- Problema 4 – Movimento com massa variável – equação de foguetes Toda a atividade tem duração de aproximadamente 400 minutos (o que corresponde a 8horas/aula) e é realizada em sala de aula, com disponibilização prévia dos problemas por meio de fotocópias e pela plataforma Blackboard com discussão e resolução pelos alunos auxiliados pela professora. Para essa atividade temos: PRÉ-REQUISITO: derivação e integração (assuntos abordados em Cálculo Diferencial e Integral). LIGAÇÕES COM DISCIPLINAS DA SÉRIE ANTERIOR: Mecânica Geral , Física Geral e Experimental, Calculo Vetorial e Álgebra Linear. LIGAÇÕES COM DISCIPLINAS DA MESMA SÉRIE: Fenômenos de Transporte, Resistência dos Materiais. O texto a seguir, é disponibilizado aos alunos uma semana antes da atividade ser discutida em aula. Os professores das disciplinas envolvidas são informados, para que possam dar o tratamento interdisciplinar adequado. TEXTO: LEIS DE NEWTON O objetivo da mecânica é a busca de uma descrição precisa e coerente da dinâmica das partículas e dos sistemas de partículas. Ou seja, a intenção é descobrir um conjunto de leis físicas que nos proporcionem um método para a descrição matemática dos movimentos dos corpos e conjunto de corpos. Na teoria de Newton está implícito que o conceito de distância é compreendido intuitivamente (do ponto de vista geométrico) e que considera o tempo como uma magnitude absoluta, que pode ser definida por um observador qualquer. As idéias de Newton serão alteradas quando se utilizam altas velocidades, já que entram aí os princípios de relatividade. 125 A combinação dos conceitos de distância e tempo permitem a definição de velocidade e aceleração de uma partícula. As Leis de Newton, em sua forma convencional são: 1a Lei – “Todo corpo permanece em repouso ou em movimento uniforme a menos que sobre ele atue uma força”. 2a Lei – “Todo corpo sobre o qual atua uma força, se move de tal forma que a variação da quantidade de movimento p, por unidade de tempo, é igual à força”. 3a Lei – “Quando dois corpos exercem forças entre si, estas forças são de intensidades iguais e sentidos opostos”. Estas leis são tão familiares que às vezes perde-se seu autêntico significado. A 1a lei tem um significado preciso de força nula, ou seja, seria correto afirmar que todo corpo em repouso ou em movimento uniforme (retilíneo e não acelerado) não está submetido à ação de força alguma. Todo corpo que se move desta forma é um corpo livre. Uma afirmação explícita acerca de força, surge na 2a Lei, em que a força se relaciona com a variação de quantidade de movimento p. A quantidade de movimento, definida por Newton, é o produto da massa do corpo m, pela sua velocidade v. Ou seja: p m.v Portanto, a 2a lei pode ser expressa como: dp d ( m.v ) F dt dt 126 Importante observar que a definição de força só expressa algo completo quando se define a massa. A 3a lei é realmente um princípio já que se trata de uma declaração relativa ao mundo físico real e contém toda a física de que estão dotadas as leis de movimento newtonianas. Não é um princípio geral, pois só se aplica no caso da força exercida por um objeto (ponto) sobre outro objeto (ponto) ao longo da reta que os une. São estas as chamadas forças centrais, e a 3a lei se aplica a elas. São forças centrais , as forças gravitacionais e as eletrostáticas. A equação de movimento de uma partícula pode, então, ser descrita como: F d dv ( mv) m. m.x dt dt supondo que a massa não varie com o tempo. ESTA É UMA EQUAÇÃO A DIFERENCIAL DE 2 ORDEM EM X = X(T) (DISTÂNCIA). A força F não é, necessariamente constante e, na realidade, pode estar composta de várias partes diferentes. Ela é, de fato, a força resultante da aplicação de várias outras. PROBLEMA 1 – MOVIMENTO HORIZONTAL DE UMA PARTÍCULA NUM MEIO RESISTENTE Nosso problema é determinar uma equação de velocidades para o caso de uma partícula movendo-se horizontalmente, num meio que há uma força de resistência (que no caso é um atrito). Passo 1 – Fazer um esboço do problema. Passo 2 – Estabelecer a equação do movimento. 127 Observação: O aluno deve já conhecer as Leis de Newton e, como se determinam as equações de movimento. Utilizar-se da 2a lei de Newton. Ele deverá estabelecer que: FR m dv kmv dt Kmv é a força de atrito, com K sendo a constante de proporcionalidade Passo 3 – Que tipo de equação é a que descreve o problema? Observação: O aluno deverá identificar a equação diferencial separável: m dv kmv dt Passo 4 – Como resolver a equação diferencial separável? dv k.v dt Observação: O aluno separará as variáveis: dv k.dt v integrando ambos os membros da equação: dv kt C v (k ).dt ln v kt C1 v e 1 Passo 5 – Dadas as condições iniciais: para t=0 , x=0 e v=v0, como encontrar a solução particular? 128 Observação: O aluno deverá aplicar as condições iniciais para determinação da equação de velocidades para as condições iniciais dadas: v 0 e k .0 C1 v 0 e C1 C1 ln v 0 Neste momento, o aluno que apresenta dificuldades em trabalhar com logaritmos, deverá ser alertado pelo professor a retomar o assunto, ou ser informado sobre algumas das propriedades dos log. v e kt ln v0 v e kt .e ln v 0 v v 0 .e kt Passo 6 – Como interpretar a resposta? Observação: Este passo é de grande importância para o estudo gráfico dos movimentos. O aluno deverá notar a queda da velocidade (pelo sinal do expoente da forma e). A discussão poderá, também, ser levada para o estudo dos atritos. PROBLEMA 2 – CONTINUAÇÃO DO PROBLEMA ANTERIOR, NA DETERMINAÇÃO DE DESLOCAMENTO EM FUNÇÃO DO TEMPO, ASSIM COMO DA RELAÇÃO DA VELOCIDADE COM O DESLOCAMENTO. DETERMINAÇÃO DE SOLUÇÃO PARTICULAR DE UMA EQUAÇÃO DIFERENCIAL. Dada a outra condição inicial do problema (para t=0, x=0), determinar a equação do deslocamento do corpo em relação ao tempo. Passo 1 – Como encontrar, a partir dos resultados do problema anterior (e solução geral da equação de velocidades), a equação dos espaços. 129 Observação: É de conhecimento do aluno que v dx (pelas atividades dt de Física Geral). Portanto ele deverá perceber que através da equação de velocidades obtida, encontrará a solução, ou seja: v v o .e kt dx v 0 .e kt dt O aluno deverá perceber que esta é uma equação diferencial separável e, para resolvê-la basta integrar ambos os lados da equação: dx v 0 .e kt .dt dx v 0 e kt dt x v 0 kt e C2 k Passo 2 – Como determinar a constante C2,? Observação: A constante de integração C2 será determinada, ao se aplicar a 2a condição inicial: para t=0, x=0. 0 v0 0 v .e C 2 C 2 0 k k A substituição do valor obtido na equação de x (deslocamentos) nos dará a forma final da equação de deslocamento para as condições iniciais dadas. Ou seja: x v0 (1 e kt ) k Observar que a análise gráfica também é importante, pois quando t, x tende, assintoticamente, para v0/k 130 Passo 3 – Determinar a expressão da velocidade em função do deslocamento. Observação: O professor utilizará as informações dadas quando ensinou derivadas (regra da cadeia) dv dv dt dv 1 . . dx dt dx dt v De forma que: v. dv dv kv dx dt ou seja: dv k dx Esta, também é uma equação diferencial separável, e basta integrar ambos os membros da equação para determinar o que se pede, ou seja, v em função de x. dv kdx dv kx v 0 Desta forma, a equação final de velocidade em função de deslocamento fica: v v 0 kx A análise gráfica da equação nos permite verificar que existe uma relação linear entre velocidade e deslocamento (velocidade decresce linearmente com o deslocamento, por efeito do atrito) MathCad Versão 2001. 131 O MathCad é um aplicativo a ser empregado na execução de trabalhos técnicos, principalmente quando cálculos complexos e repetitivos são necessários. Não pode ser comparado a uma planilha eletrônica, pois as fórmulas ou equações não ficam escondidas e isso permite a análise da sequência de cálculos. Esse aplicativo é muito utilizado nas instituições de ensino e também tem boa aceitação nas indústrias, justamente pelo fato de poder acompanhar a análise da sequência de solução das equações. Sua única desvantagem está na sua interface de programação não muito amigável, devido a falta de literatura especializada no assunto, porém existe algo disponível na Internet. PROBLEMA 3 – MOVIMENTO VERTICAL DE UMA PARTÍCULA EM UM MEIO RESISTENTE Lança-se uma partícula de massa m, verticalmente para cima até uma altura h, em relação ao solo, com velocidade inicial v0. A resistência do ar é proporcional à velocidade de queda. a) Determinar a equação de velocidades da partícula (geral e particular). b)Determinar a equação e deslocamento da partícula, usando as condições iniciais apresentadas. c) Fazer uma representação gráfica do item a (utilizando-se de calculadoras gráficas ou softwares específicos). Passo 1 – Qual a força resultante? Qual a equação ? Observações: Ao aluno poderá ser dada a equação do movimento, ou se o professor considerar importante, solicitar-lhe que a determine, visto ser resultado da aplicação da 2a lei de Newton. 132 Fm dv mg kmv dt O aluno terá agora que resolver a EQUAÇÃO DIFERENCIAL DE 1A ORDEM para determinar o que se pede no item a, ou seja: m dv m(g kv) dt Em seguida, perceberá que o problema independe da massa do corpo, visto que: dv dv (g kv) dt dt (g kv) Passo 2 – Como resolver a equação de velocidades? Observação: O aluno perceberá tratar-se de uma equação diferencial de 1a ordem – separável: dv (g kv) dt Caso o aluno não se recorde de como resolver o 1o integral, o professor poderá ajudá-lo, visto ser este, um tipo de integral bastante comum nas equações diferenciais. 133 Professor auxiliando na resolução de um integral: - é interessante que seja explicado através de um outro exemplo, nas mesmas condições: - Resolvendo um integral do tipo: dx (2 3x) Muda-se a variável: u 2 3x du 3dx dx du 3 Substituindo no integral: dx du 1 du 1 1 . ln u ln 2 3x (2 3x) 3u 3 u 3 3 A resolução da equação diferencial, agora, será: ln g kv t g kv e t PROBLEMA 4 – MOVIMENTO COM MASSA VARIÁVEL – EQUAÇÃO DE UM FOGUETE Observação inicial – para a resolução deste problema é necessária a participação ativa do professor na organização do trabalho de encaminhamento de raciocínio para o melhor aprendizado do estudante. O PROBLEMA: Seja v(t) a velocidade de um foguete de acordo com um sistema de coordenadas fixo w; seja m(t) a massa do foguete (incluindo a massa de combustível que está sendo consumida). Supor que os gases de escape projetados pelo foguete para conseguir propulsão são expulsos a uma 134 velocidade V, constante (em relação ao foguete). Desta forma, a velocidade de escape dos gases será v(t) + V. Determinar a equação de velocidade máxima do foguete. O professor deverá dar as Informações iniciais aos alunos 1 – A equação diferencial deverá ser ligada à variação de quantidade de movimento do foguete por unidade de tempo. dp f d dv dm (mv) m v dt dt dt dt Da mesma forma que a variação de quantidade de movimento dos gases expelidos por unidade de tempo: dp g dt Como (v V) dm dm ( v V ) dt dt dm 0 , visto que a massa diminui, surge o sinal negativo. dt A variação da quantidade de movimento total por unidade de tempo será a força exterior que atua sobre o sistema: F d dv dm dm (p f p g ) m v (v V) dt dt dt dt O que significa o mesmo que: (F V dm dv )m dt dt 135 Informações inicias 2 – De posse da equação diferencial acima, é interessante explicar ao aluno que: a) a força adicional V dm dt é chamada de empuxo. b) quando o foguete se desloca no vácuo, a força exterior é nula, ficando a equação: V dm dv m dt dt Passo 1 – Determinar a solução geral e particular da equação diferencial. Observação: O aluno chegará até a forma de uma equação separável e determinará a solução geral: V dm dv V. ln m C v( t ) m Para determinar a solução particular, utilizará das condições iniciais apresentadas, ou seja: v(0) = v0 e m(0)=m0 v v 0 V. ln m0 m Passo 2 – Como acontece o consumo de combustível? Observação: Levar o aluno a observar alguns fatores sobre consumo de combustível. O professor fará esta passagem junto aos alunos. Se o foguete era composto, no início, de uma estrutura de massa M0 e uma carga de combustível de massa M, teremos que m0 = M0 + M. Portanto, no 136 instante tb, em que o consumo de combustível tenha sido total, a massa será: m(tb)=M0 e neste ponto, a velocidade será máxima. Desta forma: M v max v 0 V. ln 1 M0 Passo 3 – De posse da solução de nossa equação diferencial, faça uma análise do problema. Observação: O aluno deve recordar-se de que as velocidades v e V são opostas (sentidos opostos), portanto, se o foguete deve alcançar velocidades superiores a V, será necessário que MM0, ou seja, a razão de combustível e carga útil seja muito grande. CONSIDERAÇÕES SOBRE A ATIVIDADE O objetivo deste grande grupo de atividades é, além da resolução de equações diferenciais de 1a ordem, a aproximação com a física e com a mecânica de corpos. São atividades de aplicação da 2a lei de movimento de Newton, assunto esse já tratado pela Física e pela Mecânica (em semestre anterior). Pudemos perceber, quando na finalização das atividades, que foi muito longa e que os problemas não haviam sido tão instigantes quanto os da atividade anterior. Percebemos, também, que existiam muitas dúvidas além das questões de Cálculo. Os alunos sentiam-se inseguros quando necessitavam de conhecimentos físicos sobre a lei de Newton. Todas as nossas suspeitas foram ratificadas quando fomos analisar as respostas dadas por eles na pesquisa feita após a atividade. Ela foi considerada muito difícil (da mesma forma que a anterior), entretanto não foi considerada muito interessante. Suas falas a 137 respeito dela demonstraram, entretanto, que a atividade foi de extrema importância, visto que puderam, por meio do cálculo, aprender (ou confirmar a aprendizagem) de uma série de conceitos físicos. 4- Atividade no 3 – Movimento Harmônico Simples Esta atividade é apresentada aos alunos após a introdução ao estudo das equações diferenciais lineares de 2a ordem não homogênea, que é uma equação do tipo: a d2y dy b cy g ( x ) 2 dx dx Se g(x) = 0, a equação será homogênea e, consequentemente, se g(x) 0 a equação será não homogênea. As equações diferenciais de 2a ordem são de uso extremamente amplo nas engenharias. A escolha de problemas de aplicação pode ser bastante variada, com o uso, que fizemos com sistemas mecânicos e elétricos. A atividade é composta de problema envolvendo um sistema massa-mola, livre de amortecimento, mas que poderia ser feita com problemas envolvendo circuitos elétricos (R-C ou R-L-C) para atingirmos os mesmos objetivos. Nesta atividade a interlocução entre as disciplinas é muito maior do que nas atividades anteriores, visto envolverem conceitos físicos importantes para a formação de engenheiro. A aplicação da atividade é precedida por aulas de resolução de equações diferencias de 2a ordem, homogêneas e não homogêneas por diversas técnicas. Ao contrário das atividades anteriores, nada foi disponibilizado ao aluno previamente. Entretanto, houve atividade prática sobre o assunto em aula 138 de Física (em semestre anterior) com resultados retomados na atividade de Cálculo. A duração foi de 200 minutos (4horas/aula), e a visualização do problema e da figura feita por meio de aparelho multimídia. Os passos citados na atividade correspondem às orientações e questionamentos feitos pela professora durante o processo. PROBLEMA GERADOR: MOVIMENTO LIVRE SEM AMORTECIMENTO Suponha uma massa m1 presa a uma mola flexível suspensa por um suporte rígido. Quando m1 é substituída por uma massa diferente m2, L k L k L+s k Sem distensão (a) s m Posição de equilíbrio mg-ks=0 m (b) movimento (c) 139 o alongamento da mola será obviamente diferente. Pela Lei de Hooke, a mola exerce uma força restauradora F, oposta à direção do alongamento e proporcional à distensão s. Passo 1 – Aplicar a 2a Lei de Newton e determinar a força resultante. Observação: Aplicando a segunda Lei de Newton, temos: mx k ( s x ) mg mx ks kx mg mx kx ks mg Importante observar a utilização de outra notação para expressar derivada de uma função em relação ao tempo: dx d2x x ; x 2 ; para designar, dt dt respectivamente, velocidade e aceleração de um corpo. Passo 2 – Pelas condições de equilíbrio temos que k.s = m.g, então, qual será a equação diferencial? Considere, também que k 2 n m Observação: o aluno verificará com facilidade que: mx kx é uma equação diferencial de 2a ordem, homogênea. Dividindo ambos os lados por m, temos: 140 x(t ) mas k 2 n m k x(t ) m então: 2 x(t ) n x(t ) 0 (I) , que é a equação diferencial do movimento harmônico simples. Passo 3 – Que tipo de equação diferencial é esta? Observação: o aluno que já conhece a equação de 2a ordem, facilmente notará tratar-se de uma equação diferencial de 2a ordem homogênea. Passo 4 – Como resolver a equação? Observação: Por tratar-se de uma equação de 2a ordem, torna-se imprescindível uma retrospectiva sobre assuntos tratados em Álgebra Linear, visto que será necessário verificar se as soluções da equação diferencial são linearmente dependentes, para que se possa fazer a combinação linear das soluções. Nesta fase, a análise de todas as soluções possíveis de uma equação de 2a ordem homogênea, já foi tratada com os alunos: x(t ) C1 cos( n t ) C 2 sen( n t ) (II) onde C1 e C2 são determinadas pela aplicação de condições iniciais. Derivando a equação (II), temos: 141 x (t ) C1 n sen( n t ) C 2 n cos( n t ) (III) Derivando a equação (III), temos: 2 2 x(t ) C1 n cos( n t ) C 2 n sen( n t ) (IV) Com isso, o aluno poderá determinar a solução particular do problema. Passo 4 – Como fazer análise gráfica a partir de dados reais obtidos em aula prática de Física Geral e Experimental: Observação: Neste momento são retomados os resultados obtidos em aula prática de Física Geral e Experimental IB e Mecânica Geral do semestre anterior. Foram usados os resultados já em planilha Excell (a seguir) e construídos gráficos representativos, para melhor visualização do problema e dos resultados da equação diferencial. 142 UTILIZAÇÃO DE DADOS OBTIDOS EM LABORATÓRIO (AULA PRÁTICA DE FÍSICA II) E VISUALIZAÇÃO POR MEIO DO MICROSOFT EXCEL Planilha do sistema massa-mola Constantes do sistema Constante da mola (k) (N/m) Condições de contorno 1000 Massa (m) (kg) Posição inicial x(0) 100 Frequência natural (wn) rad/s Velocidade inicial v(0) 3,16227766 Tempo (t) (s) Posição x(t) (m) Velocidade v(t) (m/s) Aceleração a(t) (m/s2) 0 100,0000 0,0000 -1000,0000 0,1 95,0415 -98,3416 -950,4153 0,2 80,6578 -186,9308 -806,5784 0,3 58,2754 -256,9821 -582,7536 0,4 30,1137 -301,5487 -301,1375 0,5 -1,0342 -316,2109 10,3423 0,6 -32,0796 -299,5145 320,7965 0,7 -59,9437 -253,1155 599,4374 0,8 -81,8632 -181,6152 818,6325 0,9 -95,6644 -92,1042 956,6442 1 -99,9786 6,5407 999,7861 1,1 -94,3780 104,5370 943,7797 1,2 -79,4179 192,1664 794,1793 1,3 -56,5820 260,7388 565,8205 1,4 -28,1350 303,4538 281,3496 1,5 3,1023 316,0756 -31,0225 1,6 34,0318 297,3522 -340,3182 1,7 61,5865 249,1407 -615,8647 1,8 83,0336 176,2219 -830,3362 1,9 96,2464 85,8274 -962,4638 2 99,9144 -13,0786 -999,1444 143 100 0 Sistema massa-mola (sem amortecimento) 1500,0000 1000,0000 500,0000 x(t), v(t), a(t) P o sição x(t) (m) Velo cidade v(t) (m/s) 0,0000 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,8 1,9 2 -500,0000 -1000,0000 -1500,0000 tempo(s) Tamb T1 T2 t 20 20 20 20 20 20 55 32,87578 24,73673 21,74254 20,64104 20,23582 -15 7,124219 15,26326 18,25745 19,35895 19,76417 0 1 2 3 4 5 144 A celeração a(t) (m/s2) Planilha do sistema massa-mola Constantes do sistema Constante da mola (k) (N/m) Massa (m) (kg) 1000 Frequência natural (wn) rad/s 3,16227766 Tempo (t) (s) 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,8 1,9 2 Condições de contorno Posição inicial x(0) 100 Posição x(t) (m) 100,0000 95,0415 80,6578 58,2754 30,1137 -1,0342 -32,0796 -59,9437 -81,8632 -95,6644 -99,9786 -94,3780 -79,4179 -56,5820 -28,1350 3,1023 34,0318 61,5865 83,0336 96,2464 99,9144 Velocidade inicial v(0) Velocidade v(t) (m/s) 0,0000 -98,3416 -186,9308 -256,9821 -301,5487 -316,2109 -299,5145 -253,1155 -181,6152 -92,1042 6,5407 104,5370 192,1664 260,7388 303,4538 316,0756 297,3522 249,1407 176,2219 85,8274 -13,0786 100 0 Aceleração a(t) (m/s2) -1000,0000 -950,4153 -806,5784 -582,7536 -301,1375 10,3423 320,7965 599,4374 818,6325 956,6442 999,7861 943,7797 794,1793 565,8205 281,3496 -31,0225 -340,3182 -615,8647 -830,3362 -962,4638 -999,1444 Importante salientar que essa atividade envolveu participação bastante ativa de professores de outras disciplinas que, formal ou informalmente, foram consultados pelos alunos. 145 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ATIVIDADE Nesta atividade foi utilizado um exemplo clássico de MHS (movimento harmônico simples). As equações diferenciais de 2a ordem com coeficientes constantes são de muita aplicabilidade nas disciplinas profissionalizantes, pois elas descrevem os movimentos com amortecimento. São de muita importância também no estudo dos circuitos elétricos em corrente alternada. A resolução de uma equação diferencial de 2a ordem é relativamente simples, mas demanda atenção e uma maior diversidade de utilização de conceitos anteriormente aprendidos em álgebra linear (dependência linear, dentre outros) e análises de resultados. Esta atividade teve uma excelente receptividade junto aos alunos, tendo em vista ser uma atividade final de estudo de equações diferenciais e de aplicabilidade forte em disciplinas como Eletricidade e Fenômenos de Transporte. Não foi considerada pelos alunos como atividade de muita dificuldade e consideraram-na muito interessante, tendo em vista a aplicabilidade citada anteriormente. As considerações feitas por eles foram as mais positivas dentre todas as outras. 5- Atividade no 4 Circuito elétrico – Derivadas parciais e aplicações Neste trabalho, um pouco diferente dos anteriores, tratou-se de atividade interdisciplinar para alunos de 3o semestre do ciclo básico de engenharias. Damos um breve relato da importância da disciplina de Cálculo Diferencial e Integral na formação do engenheiro, ressaltando a necessidade de um enfoque interdisciplinar no ensino da disciplina, com o objetivo de despertar mais 146 interesse nos alunos e reduzir a tão conhecida dificuldade enfrentada por eles em Cálculo. Mostramos uma introdução teórica, que foi entregue à direção do centro a que pertence o curso, além do exercício interdisciplinar que passamos e a visão dos alunos sobre o que foi feito. A atividade foi formalmente interdisciplinar, e envolveu disciplinas do mesmo semestre: Cálculo Diferencial e Integral II, Física geral e Experimental II e Eletricidade. Todos os professores participaram da do planejamento da atividade, elaboração do problema, das discussões junto aos alunos e da correção. A atividade não foi realizada durante as aulas. O problema foi disponibilizado aos alunos na plataforma Blackboard, em dia marcado e com prazo de uma semana para a entrega das resoluções. INTRODUÇÃO O Cálculo foi uma das maiores conquistas intelectuais do século XVII, perpetuando-se como a ferramenta básica do desenvolvimento científico e tecnológico desde então. Entretanto, nossos alunos, quando deparam-se com ele, no início do curso de engenharia, na maioria das vezes não conseguem perceber sua importância, nem por seu aspecto prático, muito menos pela sua beleza. Ao contrário, a imagem que os estudantes têm do cálculo diferencial é muito diferente disso. A não compreensão das reais utilidades e aplicações na área de estudos faz com que o estudante, muitas vezes, perca o interesse em aprender esta disciplina. Neste contexto, é fundamental o papel do professor ao abordar a disciplina de forma a despertar e estimular o interesse do aluno. Como já disse alguém: “A arte de ensinar é a arte de tomar parte em descobertas”. Normalmente usam-se em sala de aula métodos puramente expositivos, onde o aluno é apenas um agente passivo. 147 É comum falarmos em sala que o bom engenheiro deve ter muita habilidade em resolver problemas, mas esquecemos que ensinar a resolver problemas é diferente de apresentar soluções já feitas. Devemos fazer com que o aluno seja um participante ativo no processo de aprendizagem. Podemos fazer isso criando um ambiente em sala de aula, através de nosso método de ensino, que ajude nossos alunos a serem questionadores. Para a mente que procura respostas, é mais fácil encontrá-las. Assim, em alguns casos, não precisamos fornecer prontamente a resposta, mas sim desempenhar um papel de facilitador, fazendo com que o aluno chegue por si mesmo a uma resposta. Enquanto a Matemática faz uso do raciocínio dedutivo (parte-se de premissas e, usando-se o raciocínio lógico, chega-se a conclusões válidas), a Física usa o raciocínio indutivo (conclusões baseadas nas observações de algum tipo de fenômeno ou hipótese, que permitem prever comportamentos futuros). Na disciplina de Cálculo podemos, muitas vezes, usar os dois tipos de raciocínio. Por exemplo, no ensino de equações diferenciais, podemos partir de um fenômeno físico (o movimento de um corpo em um meio fluido, por exemplo) e entendê-lo por meio do raciocínio indutivo e descrevê-lo em linguagem matemática. Neste processo, usamos o raciocínio indutivo para relacionar o fenômeno físico a uma taxa de variação. Em seguida, partindo de informações sobre esta taxa de variação (parâmetros físicos), encontramos uma função matemática que descreva o fenômeno em questão. Nesta parte final, utilizamos o raciocínio dedutivo. Um ponto importante a ressaltar aqui é que, em boa parte dos casos, as soluções podem ser facilmente testadas. Este processo faz com que o aluno ganhe segurança e confiança, mesmo quando estuda sozinho, pois pode testar seus resultados. Isto está de acordo com o que é assinalado nos National Science Education Standards (1996): “...a educação científica deve ser baseada na metodologia de investigação”. 148 Ainda, com relação à importância da disciplina, muitas competências e habilidades requeridas pelo MEC, que devem ser adquiridas pelo aluno de engenharia ao longo do curso, estão embutidas na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral. Abaixo citamos algumas delas que podem ser facilmente encontradas na página do MEC: - aplicar conhecimentos matemáticos, científicos, tecnológicos e instrumentais em engenharia; - projetar e conduzir experimentos e interpretar resultados; - identificar, formular e resolver problemas de engenharia; - avaliar criticamente ordens de grandeza e significância de resultados numéricos. Todos esses pontos estão, de alguma forma, ligados à disciplina de Cálculo. Quando não diretamente ligados, indiretamente por meio de disciplinas específicas do curso que usam o Cálculo como uma ferramenta. Daí, também, a necessidade de o professor ir à busca de informações sobre as demais disciplinas. Sem que haja o conhecimento disso, torna-se difícil ou até impossível organizar sua disciplina, conforme alerta Masetto (2003): “...seria igualmente importante que os professores das diversas disciplinas lecionadas no mesmo semestre, ou em semestres anteriores ou posteriores, pudessem se encontrar para analisar possibilidades de integração entre elas, uma vez que todos cooperam para a formação do profissional. Por vezes, assuntos podem se complementar, temas poderiam não se repetir, situações e experiências profissionais poderiam ser exploradas conjuntamente”. (Masetto, 2003, p.48). 149 Em seguida, relatamos uma experiência interdisciplinar, de o aproximadamente 4 horas, feita com alunos de engenharia do 3 semestre, que envolve conceitos das disciplinas de Cálculo Diferencial e Integral II-A, Física Geral e Experimental II-A e Circuitos Elétricos. O principal objetivo desta atividade foi ajudar o aluno a relacionar as disciplinas umas com as outras e, desta forma, estimular seu interesse. Convém dizer ainda que, apesar de relatarmos apenas esta experiência, constantemente, em nossas aulas, usamos este procedimento interdisciplinar. DESENVOLVIMENTO Como um exemplo das atividades interdisciplinares que temos desenvolvido, segue abaixo um exercício que passamos para os alunos e a impressão que os mesmos tiveram de tarefas interdisciplinares. Trata-se de um exercício em que o aluno deverá aplicar o conceito de diferencial, aprendido em Cálculo, para calcular o erro nas medições dos parâmetros físicos pedidos. PROBLEMA É dado um circuito composto de três resistores ligados em paralelo a uma bateria. Você tem um voltímetro para medir a tensão fornecida pela bateria, que possui uma precisão de 5%. Os resistores R1, R2 e R3 possuem valores nominais de 200 , 300 e 400 , respectivamente, com precisão de 2%. É necessário saber a corrente total do circuito e a corrente em cada resistor. Entretanto, você está sem amperímetro para medir a corrente. Calcule a resistência equivalente do circuito e, em seguida, use diferenciais para encontrar o erro máximo no cálculo da mesma. Determine também a corrente total que passa pelo circuito e a corrente em cada resistor, usando diferenciais para determinar seus respectivos erros. A tensão fornecida pela fonte é de 110V. 150 ________________________________________________________________ Uma semana após a entrega das atividades pelos alunos, a resolução (abaixo) foi disponibilizada por meio da plataforma Blackboard. RESOLUÇÃO Partindo da expressão que fornece a resistência equivalente para associação em paralelo: 1 1 1 1 , Eq.1 Req R1 R2 R3 podemos considerar a resistência equivalente Req como uma função de três variáveis: Req f ( R1 , R2 , R3 ) Assim, de acordo com a teoria de diferenciais, temos: dReq Req R1 dR1 Req R2 dR2 Req R3 dR3 Eq.2 em que dR1, dR2 e dR3, são as precisões nominais de cada resistor (no caso, 2%), e dReq é a precisão na medida de Req. Multiplicando-se ambos os lados da Eq.1 por Req e derivando a equação obtida Req R1 151 Req2 R12 Com o mesmo procedimento (ou simplesmente observando que a situação das em relação à variável R1 , chega-se, após algumas manipulações algébricas a: Req Req2 R22 R2 e Req R3 Req2 R32 Substituindo esses resultados na Eq.2, chega-se na expressão abaixo que é justamente o erro obtido no cálculo da resistência equivalente 2 Req dReq R1 2 R dR1 eq R2 R dR2 eq R3 2 dR3 Para a corrente total, usando a lei de Ohm, temos: I V Req dI I I 1 V dV dReq dV 2 dReq Req Req V Req onde dV é a precisão na medida obtida com o voltímetro. Da mesma forma, para a corrente no resistor R1, I1 : I1 V V I I 1 dI1 1 dV 1 dR1 dV 2 dR1 V R 1 R1 R1 R1 Para as correntes I2 e I3, as expressões são as mesmas, basta trocar o índice 1, por 2 e 3, respectivamente. Substituindo-se os valores fornecidos da tensão, dos resistores e da resistência equivalente calculada, com seus respectivos erros, obtêm-se as respostas. CONSIDERAÇÕES SOBRE A ATIVIDADE Relatamos brevemente a importância das ações interdisciplinares por meio da disciplina de Cálculo Diferencial e Integral na formação do engenheiro; 152 são alguns exemplos da nossa abordagem em sala de aula no sentido de minimizar as dificuldades do aluno em relação ao Cálculo, apresentando ao estudante que há diálogo entre as disciplinas, e que isso só vem facilitar a sua aprendizagem. Após a realização da atividade, foi aplicado uma pesquisa junto aos estudantes, que está descrita no anexo 2.2 Pudemos observar, após a aplicação desta atividade, nos dois anos da pesquisa, que a experiência foi de grande valia para os alunos, mas de valor maior para os professores envolvidos. Parte dos professores que participaram da atividade pouco acreditavam que ela seria valiosa. Grandes discussões e grandes projetos partiram desta atividade. Percebemos, ao final, que a experiência foi muito positiva para os alunos e os relatos mostram que eles entenderam a necessidade de atividades interdisciplinares. A grande maioria respondeu que as atividades interdisciplinares contribuíram satisfatoriamente com seu aprendizado, e também concordou que métodos interdisciplinares deveriam ser usados em outras disciplinas. 6- CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ATIVIDADES INTEGRATIVAS REALIZADAS As atividades realizadas nesta pesquisa, fazem parte de um grande rol de outras atividades que são realizadas no cotidiano de nossas aulas. Optamos por essas atividades nos anos de 2005 e 2006, por serem atividades muito mais ligadas, academicamente, aos conteúdos das outras disciplinas. É explícito que a atividade que envolve as equações de mecânica, de Newton, são correlacionadas às Físicas e Mecânica, não havendo necessidade de grandes justificativas, assim como a atividade, que envolve circuitos elétricos tem ligação com Física e Eletricidade. Outras tantas atividades foram e são realizadas por nós junto aos alunos do ciclo básico em engenharia. Alguma vezes (e podemos até dizer muitas 153 vezes) nos deparamos com situações que nos levam a trocar a atividade por outra, tendo em vista a notícia que surgiu de um dia para o outro, ou situações do cotidiano escolar. Tudo pode e deve ser usado como estímulo para a aprendizagem. Utilizamo-nos do problema de assassinato na primeira vez, como uma brincadeira. No semestre seguinte, fomos forçados pelos alunos para que o problema fosse utilizado. Agora, este problema já tornou-se uma lenda. Fazemos algumas alterações na situação ou alteramos as condições iniciais e de contorno para que a resposta seja outra, mas ele não pode faltar. Encantanos observar todas as extrapolações que os estudantes fazem após a aplicação destes problemas, ligando-as às situações que ocorrem em seus ambientes de trabalho, de suas famílias e de seus amigos. Importam-se em chegar a uma resposta, buscando por muitos caminhos (inclusive não previstos por nós) indícios de solução. A pesquisa que realizamos junto aos professores das diversas habilitações do curso de engenharia na Universidade Cruzeiro do Sul apontou a necessidade de utilização de atividades integrativas como um meio de comunicação entre as disciplinas e como forma de tornar (ou antecipar) a utilização amplamente divulgada. Acreditamos, mais do que nisso, que as atividades não são só formas de ilustração ou de apresentação de cenas de futuros capítulos. Temos a certeza de que são elas meios eficientes de aprendizagem global. Os alunos, após cada atividade, puderam avaliar e apontar suas impressões acerca de cada uma delas. Dentre as opiniões sobre elas, podemos afirmar que a aceitação foi muito além do esperado, pois consideraram todas de muita importância, embora trabalhosas, para o seu desenvolvimento escolar. Mais do que isso, relataram que aprenderam diversas outras disciplinas envolvidas diretamente. Perceberam a necessidade da álgebra Linear quando 154 da resolução de equações diferenciais de 2a ordem, e foram além dessa percepção, visto que aplicaram os conceitos e compreenderam a necessidade da disciplina. O mesmo aconteceu em outros tantos casos, que nos foram relatados extra-oficialmente pelos estudantes. Eles demonstraram, por mais que as atividades tivessem sido trabalhosas e de longa resolução, vontade em aprender e, com isso, com certeza aprenderam a aprender. Aplicamos estas atividades por dois anos seguidos, para fins de andamento de nossa pesquisa. Como será possível observar, as respostas dadas não foram muito diferentes de um ano para o outro, mas é possível perceber que houve um número mais significativo de respostas às questões abertas e também uma aceitação quase que total das atividades realizadas. 155 CONCLUSÕES 156 CONCLUSÕES Poucas são as pesquisas que envolvem mudanças em práticas de sala de aula em ensino superior, assim como publicações sobre currículo e formação de professores em engenharia. Com o número crescente de escolas de engenharia no Brasil, torna-se necessário buscar meios de oferecer aos seus alunos um processo de aprendizagem mais significativo, que colabore, efetivamente, na formação de engenheiros competentes. Considerando-se a necessidade de aprimoramento do ensino de engenharia, as novas tendências educacionais, as Diretrizes Curriculares do curso de Engenharia e as expectativas para a formação de engenheiros, realizamos esta pesquisa, na tentativa de desenvolver um trabalho diferenciado em Cálculo Diferencial e Integral como agente de articulação entre as disciplinas de formação básica. Criamos uma metodologia de trabalho descrita e analisada nos capítulos 4 e 5 desta obra. A pesquisa realizada conseguiu, certamente, em alguma medida, colaborar para a formação pretendida. Com a utilização de diversas estratégias de aula, o presente trabalho contemplou: - utilização de conceitos de outras disciplinas em problemas de aplicação em Cálculo. - desenvolvimento de criatividade e despertou a curiosidade nos estudantes. - desenvolvimento de atitude de aprender a aprender por parte dos alunos e professores. - aquisição de conhecimento científico. 157 - aprendizagem a correlacionamento de conhecimentos através do diálogo entre as disciplinas. - compreensão de que o cálculo é ferramenta de comunicação entre as disciplinas. A articulação entre as disciplinas de formação básica do curso de engenharia feita em cálculo diferencial e integral não é algo simples. A busca de problemas que promovam a integração entre as disciplinas é tarefa que demanda tempo para pesquisa e elaboração dos trabalhos. O curso de Cálculo Diferencial e Integral que oferecemos aos alunos da Universidade Cruzeiro do Sul é todo baseado em exercícios conceituais e problemas de aplicação próximos do mundo real. As aulas são repletas de exemplos e discussões que encorajam o aluno a falar e pensar gráfica, analítica e numericamente. Em quase todos os problemas propostos é solicitado ao aluno que gerem e interpretem gráficos de maneira a compreender as relações entre o cálculo e as demais disciplinas de formação básica e o mundo real. A atividade no 1 que introduziu os alunos do 3o semestre de engenharia ao estudo das equações diferenciais ordinárias, teve como objetivo mostrar que as equações diferenciais estão em todas as situações, não somente aquelas que consideramos acadêmicas. Foi, com certeza, a atividade que mais houve empenho por parte dos estudantes em procurar solução. Foi considerada difícil por eles, entretanto foi uma das que mais consideraram interessante. Tínhamos muito interesse em fazê-los considerar as situações iniciais e de contorno e sabíamos que teriam dificuldade em encontrá-las e aplicá-las na solução. Observações feitas pelos alunos após a atividade corroboraram com isso: ”Foi difícil entender e colocar em ordem as temperaturas e os tempos” ou ”Resolver a equação foi simples, o que foi difícil foi usar as condições”. Mas quando questionados sobre o interesse em relação ao problema, a maioria absoluta apresentou respostas positivas: ”Estou usando o que aprendi no problema do 158 assassinato para questões de meu trabalho na indústria, para resfriamento de peças” ou ”Tudo poderia ser ensinado assim. Procurei pela Internet, cansei os outros professores, mas consegui resolver” ou ”Tive que usar tudo o que aprendi antes e tudo o que não aprendi também para resolver o problema”. Desta forma, consideramos de extrema valia a atividade proposta, pois os fez articular diversos assuntos relativos à álgebra básica e mesmo de física para a procura da solução. Houve envolvimento entre os alunos e demais colegas professores. A atividade de no 2, que contemplou quatro problemas de aplicação da 2a lei de Newton, foi a mais longa e cansativa de todas elas. Percebemos que aos alunos faltava conhecimentos mais detalhados sobre Física e Mecânica, para darem prosseguimento na resolução das equações diferenciais que se apresentavam aos estudantes. Mais do que as impressões dos alunos sobre a atividade, que foi a pior avaliada por eles, ela foi ao nosso ver a que mais aproximou os professores de Física e Mecânica ao Cálculo, visto os constantes questionamentos feitos pelos alunos sobre a atividade. Esta foi a atividade que, de fato, nos deu a certeza de que nossa pesquisa dava indícios de ser um sucesso. Professores de diversas disciplinas e alunos estavam discutindo cada problema apresentado. Os alunos consideraram-na difícil, pois tiveram que pesquisar muito para solucioná-la, e só após as devidas explicações, conseguiram êxito. As suas falas, entretanto, sobre a importância da atividade, nos mostraram, com clareza, que as nossas hipóteses estavam certas: “aprendi mecânica em cálculo. Pensei que isso nunca fosse me acontecer” ou “...valeu a pena pelo que aprendi. Aprendi física em cálculo”. A atividade de no 3 foi composta de um problema de aplicação de movimento harmônico simples (MHS). Essa atividade já era considerada por nós, antes mesmo de aplicá-la junto aos alunos, como bastante agradável, 159 tendo em vista que já estavam familiarizados com a metodologia usada e pela aplicabilidade, visto que sistemas amortecidos são bastante comuns nos estudos em engenharia. A pesquisa realizada, após a aplicação da atividade, confirmou nossa idéia inicial sobre ela: foi considerada moderadamente simples e de muito interesse. Perceberam os alunos que agora todas as demais disciplinas do curso faziam parte das atividades. Suas falas foram: ”Até que enfim notei a utilidade de álgebra linear na engenharia...” ou “é possível entender agora os casos de amortecimento” ou “...consegui aprender casos da física aplicados em cálculo”. A partir dessas informações, tínhamos agora a complexa tarefa de conversar com os professores de Física, Fenômenos de Transporte e Eletricidade a aplicar uma atividade conjunta. Ela foi escolhida por nós e apresentada aos colegas. Houve aceitação moderada, pelo professor de eletricidade, que aceitou participar dela. A atividade no 4, desta forma, foi diferente. Tratava-se de uma aplicação de derivadas parciais em um circuito elétrico. Os alunos consideraram a atividade satisfatória. Os seus relatos foram também bons, e relacionados à utilização de um meio único para apresentação em várias disciplinas: “Foi muito importante enxergar que as matérias, na realidade, são uma só” ou “Achei a atividade muito eficiente, pois envolveu algumas disciplinas e precisamos trabalhar em conjunto”. De todos os depoimentos sobre essa atividade, a que mais nos chamou a atenção foi “Interessante, pois vimos os professores trabalharem em conjunto”, o que mais uma vez ratificou nossa tese. A pesquisa também envolveu questionamento junto a alguns professores do curso sobre a importância e significado de atividades interdisciplinares. Todos os pesquisados demonstraram que as disciplinas de formação básica são muito importantes na formação do engenheiro, tendo em vista que elas 160 estabelecem as bases necessárias para o ciclo de disciplinas profissionalizantes, desenvolvem o raciocínio analítico e resgatam o conteúdo tratado em nível de ensino médio, fazendo a ponte com a profissionalização. Consideram, também, que as disciplinas de formação básica seriam muito mais atraentes se fossem dadas por meio de atividades aplicativas em situações reais. Notaram que isso só ocorrerá se houver diálogo entre os professores e que a utilização de trabalhos interdisciplinares e atividades aplicadas favorecerá a aprendizagem, estimulando a criatividade, a motivação e integração dos alunos. De todas as respostas dadas, pelos alunos e professores, pudemos notar que, embora houvesse opiniões positivas acerca de atividades integrativas, houve uma clara diferença entre elas. A postura dos professores foi muito mais superficial e menos motivadora à mudanças. Os alunos, em sua maioria, mostraram-se motivados, apresentando respostas com muita especificidade e com firme propósito de aprender em cada atividade proposta. Os professores mostraram superficialidade em suas respostas. Uma de nossas suspeitas é que para trabalhar de forma diferente, necessitamos sair de nossos “mundos” e aprender o “mundo” de outros, ou seja, eles mostraram fechamento em suas próprias disciplinas e não abertura para novas experiências. Por esse motivo, há necessidade de mudança na postura do professor, para que se torne mais flexível e aberto a mudanças. Cursos de formação de professores em engenharia, acompanhados de oficinas, com certeza minimizarão os problemas. Considerando-se no contexto em que atuamos hoje, faz-se necessário um maior compromisso com a educação dos futuros engenheiros, pois numa sociedade participativa em que se faz necessário acompanhar o desenvolvimento tecnológico, a postura do professor deverá sofrer profunda mudança, visto que ele deve: 161 - considerar processo que o protagonista ensino-aprendizagem do é o aluno; - abandonar a concepção de que o ensino é simples transmissão de conhecimento (acabado e formal); - planejar o seu “fazer” como um facilitador da aprendizagem, propiciando a participação ativa dos alunos; - ser capaz de mudar o seu fazer, buscando adaptá-lo à realidade diversificada do contexto escolar. Desta forma, tudo o que foi verificado durante o processo nos leva a afirmar que atividades interdisciplinares levam o aluno a aprender os conceitos com mais facilidade. A escolha da disciplina Cálculo Diferencial e Integral com o eixo de articulação, visto ser ela a linguagem de comunicação entre as disciplinas de engenharia, facilitou a efetivação desta pesquisa. Como o dinamismo da sociedade é fato irrefutável, faz-se necessário que a universidade acompanhe a evolução tecnológica e social a que estamos submetidos. No entanto, essa evolução social não é acompanhada na prática em sala de aula: há inúmeras discussões e propostas de inovações na forma de ensinar. Se verificarmos o que ocorre na grande maioria das salas de aula das escolas de engenharia, constataremos que existe um abismo entre o que desejamos e o que é praticado. Neste trabalho pretendeu-se mostrar que é possível fazer mudanças que resultem em aprendizagem. 162 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 163 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALONSO, Myrtes. Formar professores para uma nova escola. In ALONSO, Myrtes (org.). O trabalho docente: teoria & prática. São Paulo: Pioneira, 1999. p. 9-18. ANASTASIOU, Lea G.C.O processo de ensinagem na universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. Joinville,SC: Univille, 2003 ANDRÉ, M.D.A. et al . Pesquisa em Educação: Abordagens qualitativas. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária. 2001. AZANHA, José M. P. Comentários sobre a formação de professores em São Paulo. In SERBINO, Raquel V.; RIBEIRO, Ricardo; BARBOSA, Raquel L.L. & GEBRAN, Raimunda A. (Orgs.). Formação de professores. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998. p. 49-58. BASSANEZI, Rodney C. Ensino-Aprendizagem matemática. São Paulo: Contexto, 2002. com modelagem BAZZO, Walter A. et al. Formação do engenheiro: desafios da atuação docente, tendências curruculares e questões contemporâneas da educação tecnológica. Florianópolis: editora da UFSC, 1999. BAZZO W. A. . Ciência, tecnologia e sociedade e o contexto da educação tecnológica. Florianópolis: Editora da UFSC, 1998. BAZZO, W. A. , PEREIRA, L.T.V.. Introdução à Engenharia. 3a ed. Revista e ampliada. Florianópolis: Editora da UFSC, 1993. ___________________________. Ensino de Engenharia – na busca de seu aprimoramento. Florianópolis: Editora da UFSC, 1997. BECKER, F., Aprendizagem e ensino: contribuições da epistemologia genética. In: BAZZO, W. A. (org). Formação do engenheiro. Desafios da atuação docente. Tendências curriculares. Questões contemporâneas da educação tecnológica. Florianópolis: Editora da UFSC, 1998. P. 179-195 BEER, F. P. et al. Mecânica Vetorial para Engenheiros. 5a ed. Revisada. São Paulo: Makron Books, 1994. BERGAMINI, C. Motivação. São Paulo: Atlas, 1986. 164 BOGDAN, R.C. Investigação Qualitativa em Educação. Porto: Porto Editora, 1994. BOULOS, P. et al. Cálculo Diferencial e Integral. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2002. BOYCE, William E., DIPRIMA, Richard C. Equações diferenciais Elementares e Problemas de Valores de Contorno. 6a ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos, 1999. BOYER, C.B. História da Matemática. 2a ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1996. BRINGHENTHI, Idone. Perfil do ex-aluno da Escola Politécnica da USP pesquisa visando o aprimoramento curricular. São Paulo: EPUSP, 1995. __________________ O ensino na Escola Politécnica da USP Fundamentos para o Ensino de Engenharia. São Paulo: EPUSP, 1993. – BUSHAW, D. et al. Aplicações da Matemática escolar. São Paulo: Atual, 1997. BUTKOV, E; Física Matemática. Rio de Janeiro: Editora Globo 2, 1978 CASTANHO, M.E.L.M.(org) O que há de novo na Educação Superior- do projeto pedagógico à prática transformadora. Capmpinas: Papirus, 2000. CASTELLS, Manuel. La dimensión cultural de Interenet. Disponível em http:uoc.Edu/culturaarxi/esp/articles/castells0502/castells0502.html. Acesso em julho de 2002. CHEVALLARD, Y. et al. Estudar Matemáticas – O elo perdido entre o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2001. COLL, C. (et al). O Construtivismo em sala de aula. São Paulo: Editora Ática, 1999. COURANT, R. Cálculo Diferencial e Integral . vol 1 e 2. Porto Alegre: Editora Globo, 1951 CUNHA, M. I. O bom professor e sua prática. Campinas: Papirus, 1993. DEMO, Pedro. Complexidade e Aprendizagem: a dinâmica não linear do conhecimento. São Paulo: ATLAS, 2002. 165 ____________ . Profissional do Futuro. In: BAZZO, W. A. (org). Formação do Engenheiro. Desafios da atuação docente. Tendências curriculares. Questões contemporâneas da educação tecnológica. Florianópolis: Editora da UFSC, 1998. P. 29-47 DOWBOR, L. Tecnologias do conhecimento – Os desafios da educação. Petrópolis: Vozes, 2001 DOLL Jr., W.E. Currículo: uma perspectiva pós-moderna. Tradução de Maria ª V. Veronese. Porto Alegre: Artmed, 1997 FUSCO, C. A. da S. Ensino de uma disciplina básica de matemática (Geometria Analítica e Cálculo Vetorial) num curso de Engenharia (Tese de doutorado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2002 _________________ Ensino de Geometria Analítica e Cálculo Vetorial. In MASETTO, M. T. (org). Ensino de Engenharia: Técnicas para otimização das aulas. Campinas: Avercamp, 2007.(p. 37 –57) GÓMEZ, A. I. Pérez. A função e formação do professor/a no ensino para a compreensão: diferentes perspectivas. In SÁCRISTAN, José G. e GÓMEZ, A. I. Pérez. Compreender e transformar o ensino. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. HOFFMANN, L.D., BRADLEY, G.L.. Cálculo – Um curso Moderno e suas aplicações. 6a ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1999. HUGHES-HALLETT, D. et al. Cálculo e aplicações. São Paulo: Edgard Blucher, 1999. IMBERNON, F. La formación y el desarrolo profesional del professorado. Barcelona: 4a ed, 1998. IMBERNÓN, Francisco. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo: Cortez, 2001. LAVILLE, C. DIONNE, J. A construção do Saber: Manual de Metodologia da pesquisa em Ciências Humanas.Porto Alegre: Artmed, 1999. LOS SANTOS, J. V. de. Formação de professores e Aprendizagem na disciplina cálculo diferencial e integral: a questão da mediação 166 pedagógica. Disssertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2004. ___________________. O Cálculo Diferencial e Integral – aprendizagem aplicada. In MASETTO, M. T. (org), Ensino de Engenharia: técnicas para otimização das aulas. Campinas: Avercamp, 2007. MACEDO, I. C.G.. Currículo, Discurso e a Formação de Professores. In: ANDRADE, C. A. B de (org). Discurso: múltiplos olhares. São Paulo: Andross Editora, 2005. P.197-216 MACHADO, N. J. Sobre a idéia de Competência. IN: PERRENOUD, P. et al. As competências para ensinar no século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2002. _____________. Matemática e Realidade. 3a ed.. São Paulo: Cortez, 1994. MARION, J. B. Dinámica Clásica de las partículas y sistemas. Barcelona: Editorial Reverté, 1975. MASETTO, Marcos T. Competência pedagógica do professor universitário. São Paulo: Summus, 2003. __________________. Aulas vivas. São Paulo: MG Editores Associados, 1992. __________________. O professor universitário em aula: prática e princípios teoricos. 8a ed. São Paulo: MG Ed. Associados, 1990. MATSUMOTO, E.Y. Matlab 6.5 – Fundamentos de Programação. São Paulo: Editora Érica, 2002. MIZUKAMI, M. G. N. , et al . Escola e aprendizagem da docência: Processos de Investigação e formação. São Carlos: EdUFCar, 2002. MORAES, María Candida. Tecendo a rede, mas com que paradigma. In MORAES, María Candida (org.) Educação a distancia: Fundamentos e Prática. Campinas (SP):UNICAMP/NIED, 2002. MOREIRA, A . F. B. Currículos e programas no Brasil Campinas, Papurus, 1990. MORIN, Edgar. A cabeça bem – feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 5. ed. Rio de Janeiro: BERTRAN BRASIL, 2001. 167 ____________. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 6a ed. São Paulo: Cortez Editora, 2002. NÓVOA, A. Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992. PERRENOUD, P. Dez competências para ensinar. (Trad. Patrícia C. Ramos). Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. ______________. A formação de professores no século XXI. IN: PERRENOUD, P. (et al) As competências para ensinar no século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2002. ________________. A Prática reflexiva no ofício do profissionalização e razão pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2002 professor: ________________ Práticas Pedagógicas, profissão docente e formação: perspectivas sociológicas. Lisboa: Ed Dom Quixote, 1993. PIMENTA, S. G. (et al) Saberes Pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez, 1999. PISKOUNOV, N. Cálculo Diferencial e Integral vol 1 e 2. Porto: Edições Lopes da Silva, 1974 POZO, Juan Ignacio. Aprendizes e Mestres – A nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002. ________________.A solução de Problemas. Aprender a resolver, resolver para aprender. Porto Alegre: Artmed, 1998. RIBÁS, M. R. Construindo a competência. São Paulo: Olho d’água, 2001. SACRISTÁN, José G. A educação que temos, a educação que queremos. In IMBERNÓN, Francisco. A educação no século XXI: os desafios do futuro imediato. (Trad. Ernani Rosa). 2. ed. Porto Alegra: Artmed, 2000. p. 21-36. ________________ .Compreender e transformar o ensino., 4a ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. ________________ O Currículo. Porto Alegre: Artmed, 1998. STAHL, Marimar. M. Formação de professores para uso das novas tecnologias de comunicação e informação. In CANDAU, M., (org.) Magistério: construção cotidiana. 3. ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 1997. p. 292-316. 168 SWOKOWISKI, E.W Cálculo com Geometria Analítica. Volume 2 . São Paulo: Makron Books, 2002 TARDIF, M. Saberes Profissionais e conhecimentos universitários. Revista Brasileira de Educação: ANPED, no 13, 2000, pp. 5 – 24. THOMAS, G Cálculo – volume 2 São Paulo: Makron Books, 10a ed, 2002. 169 ANEXOS Anexo 1: Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de graduação em Engenharia Anexo 2: Pesquisas Anexo 2.1- Entrevistas com Professores Anexo 2.2- Entrevistas com Alunos Anexo 3: Ementas 170 ANEXO 1 CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR (*) CNE. Resolução CNE/CES 11/2002. Diário Oficial da União, Brasília, 9 de abril de 2002. Seção 1, p. 32. RESOLUÇÃO CNE/CES 11, DE 11 DE MARÇO DE 2002.(*) Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia. O Presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, tendo em vista o disposto no Art. 9º, do § 2º, alínea “c”, da Lei 9.131, de 25 de novembro de 1995, e com fundamento no Parecer CES 1.362/2001, de 12 de dezembro de 2001, peça indispensável do conjunto das presentes Diretrizes Curriculares Nacionais, homologado pelo Senhor Ministro da Educação, em 22 de fevereiro de 2002, resolve: Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia, a serem observadas na organização curricular das Instituições do Sistema de Educação Superior do País. Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de Graduação em Engenharia definem os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de engenheiros, estabelecidas pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, para aplicação em âmbito nacional na organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos dos Cursos de Graduação em Engenharia das Instituições do Sistema de Ensino Superior. Art. 3º O Curso de Graduação em Engenharia tem como perfil do formando egresso/profissional o engenheiro, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a absorver e desenvolver novas tecnologias, estimulando a sua atuação crítica e criativa na identificação e resolução de problemas, considerando seus aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais, com visão ética e humanística, em atendimento às demandas da sociedade. Art. 4º A formação do engenheiro tem por objetivo dotar o profissional dos 171 conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades gerais: I -aplicar conhecimentos matemáticos, científicos, tecnológicos e instrumentais à engenharia; II - projetar e conduzir experimentos e interpretar resultados; III - conceber, projetar e analisar sistemas, produtos e processos; IV - planejar, supervisionar, elaborar e coordenar projetos e serviços de engenharia; V - identificar, formular e resolver problemas de engenharia; VI - desenvolver e/ou utilizar novas ferramentas e técnicas; VI - supervisionar a operação e a manutenção de sistemas; VII - avaliar criticamente a operação e a manutenção de sistemas; VIII - comunicar-se eficientemente nas formas escrita, oral e gráfica; IX - atuar em equipes multidisciplinares; X - compreender e aplicar a ética e responsabilidade profissionais; XI - avaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto social e ambiental; XII - avaliar a viabilidade econômica de projetos de engenharia; XIII - assumir a postura de permanente busca de atualização profissional. Art. 5º Cada curso de Engenharia deve possuir um projeto pedagógico que demonstre claramente como o conjunto das atividades previstas garantirá o perfil desejado de seu egresso e o desenvolvimento das competências e habilidades esperadas. Ênfase deve ser dada à necessidade de se reduzir o tempo em sala de aula, favorecendo o trabalho individual e em grupo dos estudantes. 172 § 1º Deverão existir os trabalhos de síntese e integração dos conhecimentos adquiridos ao longo do curso, sendo que, pelo menos, um deles deverá se constituir em atividade obrigatória como requisito para a graduação. § 2º Deverão também ser estimuladas atividades complementares, tais como trabalhos de iniciação científica, projetos multidisciplinares, visitas teóricas, trabalhos em equipe, desenvolvimento de protótipos, monitorias, participação em empresas juniores e outras atividades empreendedoras. Art. 6º Todo o curso de Engenharia, independente de sua modalidade, deve possuir em seu currículo um núcleo de conteúdos básicos, um núcleo de conteúdos profissionalizantes e um núcleo de conteúdos específicos que caracterizem a modalidade. § 1º O núcleo de conteúdos básicos, cerca de 30% da carga horária mínima, versará sobre os tópicos que seguem: I - Metodologia Científica e Tecnológica; II - Comunicação e Expressão; III - Informática; IV -Expressão Gráfica; V - Matemática; VI - Física; VII - Fenômenos de Transporte; VIII - Mecânica dos Sólidos; IX - Eletricidade Aplicada; X - Química; XI - Ciência e Tecnologia dos Materiais; XII - Administração; XIII - Economia; XIV - Ciências do Ambiente; 173 XV - Humanidades, Ciências Sociais e Cidadania. § 2ºNos conteúdos de Física, Química e Informática, é obrigatória a existência de atividades de laboratório. Nos demais conteúdos básicos, deverão ser previstas atividades práticas e de laboratórios, com enfoques e intensividade compatíveis com a modalidade pleiteada. § 3º O núcleo de conteúdos profissionalizantes, cerca de 15% de carga horária mínima, versará sobre um subconjunto coerente dos tópicos abaixo discriminados, a ser definido pela IES: I - Algoritmos e Estruturas de Dados; II - Bioquímica; III - Ciência dos Materiais; IV -Circuitos Elétricos; V - Circuitos Lógicos; VI -Compiladores; VII - Construção Civil; VIII - Controle de Sistemas Dinâmicos; IX - Conversão de Energia; X - Eletromagnetismo; XI - Eletrônica Analógica e Digital; XII - Engenharia do Produto; XIII - Ergonomia e Segurança do Trabalho; XIV - Estratégia e Organização; XV - Físico-química; XVI - Geoprocessamento; XVII - Geotecnia; 174 XVIII - Gerência de Produção; XIX -Gestão Ambiental; XX - Gestão Econômica; XXI - Gestão de Tecnologia; XXII - Hidráulica, Hidrologia Aplicada e Saneamento Básico; XXIII - Instrumentação; XXIV - Máquinas de fluxo; XXV - Matemática discreta; XXVI - Materiais de Construção Civil; XXVII - Materiais de Construção Mecânica; XXVIII - Materiais Elétricos; XXIX - Mecânica Aplicada; XXX - Métodos Numéricos; XXXI - Microbiologia; XXXII - Mineralogia e Tratamento de Minérios; XXXIII - Modelagem, Análise e Simulação de Sistemas; XXXIV - Operações Unitárias; XXXV - Organização de computadores; XXXVI - Paradigmas de Programação; XXXVII - Pesquisa Operacional; XXXVIII - Processos de Fabricação; XXXIX - Processos Químicos e Bioquímicos; 175 XL - Qualidade; XLI - Química Analítica; XLII - Química Orgânica; XLIII - Reatores Químicos e Bioquímicos; XLIV - Sistemas Estruturais e Teoria das Estruturas; XLV - Sistemas de Informação; XLVI - Sistemas Mecânicos; XLVII - Sistemas operacionais; XLVIII - Sistemas Térmicos; XLIX - Tecnologia Mecânica; L - Telecomunicações; LI - Termodinâmica Aplicada; LII -Topografia e Geodésia; LIII - Transporte e Logística. § 4º O núcleo de conteúdos específicos se constitui em extensões e aprofundamentos dos conteúdos do núcleo de conteúdos profissionalizantes, bem como de outros conteúdos destinados a caracterizar modalidades. Estes conteúdos, consubstanciando o restante da carga horária total, serão propostos exclusivamente pela IES. Constituem-se em conhecimentos científicos, tecnológicos e instrumentais necessários para a definição das modalidades de engenharia e devem garantir o desenvolvimento das competências e habilidades estabelecidas nestas diretrizes. Art. 7º A formação do engenheiro incluirá, como etapa integrante da graduação, estágios curriculares obrigatórios sob supervisão direta da instituição de ensino, através de relatórios técnicos e acompanhamento individualizado durante o eríodo de realização da atividade. A carga horária mínima do estágio curricular deverá atingir 160 (cento e sessenta) horas. Parágrafo único. É obrigatório o trabalho final de curso como atividade de síntese e integração de conhecimento. 176 Art. 8º A implantação e desenvolvimento das diretrizes curriculares devem orientar e propiciar concepções curriculares ao Curso de Graduação em Engenharia que deverão ser acompanhadas e permanentemente avaliadas, a fim de permitir os ajustes que se fizerem necessários ao seu aperfeiçoamento. § 1º As avaliações dos alunos deverão basear-se nas competências, habilidades e conteúdos curriculares desenvolvidos tendo como referência as Diretrizes curriculares. § 2º O Curso de Graduação em Engenharia deverá utilizar metodologias e critérios para acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendizagem e do próprio curso, em consonância com o sistema de avaliação e a dinâmica curricular definidos pela IES à qual pertence. Art. 9º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. ARTHUR ROQUETE DE MACEDO Presidente da Câmara de Educação Superior 177 ANEXO 2 PESQUISAS Em nossa pesquisa de campo, relatadas no capítulo 5, foram feitas diversas ações: 1- Aplicação de questionários abertos a professores dos cursos de engenharia da Universidade Cruzeiro do Sul, com a finalidade de sabermos das reais necessidades de atividades integrativas no ciclo básico, assim como saber se essas atividades apontavam como importantes para as demais disciplinas do ciclo profissionalizante. Foram consultados seis professores, que serão nominados a seguir junto de suas respostas. 2- Aplicação de questionário avaliativo da ATIVIDADE 1, com questões fechadas e abertas, para 10 alunos ingressantes de 2004 (que participaram da atividade em 2005) e para 10 alunos ingressantes em 2005 (que participaram da atividade em 2006) 3- Aplicação de questionário avaliativo da ATIVIDADE 2, com questões fechadas e abertas, para 10 alunos ingressantes de 2004 (que participaram da atividade em 2005) e para 10 alunos ingressantes em 2005 (que participaram da atividade em 2006) 4- Aplicação de questionário avaliativo da ATIVIDADE 3, com questões fechadas e abertas, para alunos 10 ingressantes de 2004 (que participaram 178 da atividade em 2005) e para 10 alunos ingressantes em 2005 (que participaram da atividade em 2006) 5- Aplicação de questionário avaliativo da ATIVIDADE 4, com questões fechadas e abertas, para 10 alunos ingressantes de 2004 (que participaram da atividade em 2005) e para todos alunos ingressantes em 2005 (que participaram da atividade em 2006). Constam, a seguir, todas as pesquisas realizadas; 179 ANEXO 2.1 PESQUISA COM PROFESSORES 1- Questionário aplicado junto à professores do curso de engenharia Este questionário foi enviado por meio eletrônico par os professores, com a seguinte mensagem: Prezados colegas, Para completar nossa pesquisa para a tese de doutorado em Educação, precisamos de sua preciosa colaboração, no sentido de responder algumas questões sobre assunto relativo ao ciclo básico em engenharia. 1- QUAL A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DO CICLO BÁSICO DO CURSO DE ENGENHARIA DA UNICSUL, PARA A FORMAÇÃO ACADÊMICA DE NOSSOS ALUNOS? 2- NAS DISCIPLINAS SOB SUA RESPONSABILIDADE NO CICLO PROFISSIONALIZANTE DOS CURSOS DE ENGENHARIA, EM QUE MOMENTOS SÃO NECESSÁRIOS OS CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS NO CICLO BÁSICO? OS ALUNOS DEMONSTRAM O CONHECIMENTO? 3- COMO AS DISCIPLINAS DO CICLO BÁSICO DOS CURSOS DE ENGENHARIA DA UNICSUL PODERIAM TORNAR-SE MAIS INTERESSANTES AOS ALUNOS? 4- VOCÊ CONSIDERA A UTILIZAÇÃO DE ATIVIDADES/PROJETOS INTERDISCIPLINARES IMPORTANTES MEIOS PARA FACILITAR A APRENDIZAGEM? Agradeço, antecipadamente sua atenção e coloco-me à disposição para esclarecimentos, Janice. 180 RESPOSTAS DADAS PELO PROF ALEXANDRE APARECIDO NEVES – graduado em engenharia mecatrônica pela UNIP , coordenador do curso de engenharia de produção da Universidade Cruzeiro do Sul. 1-Existe uma importância muito grande e para citar um exemplo temos a disciplina de Mecânica Geral que dá uma visão ao engenheiro elétrico de toda a parte da mecânica que não será a sua área de formação. Além disso, dá início ao desenvolvimento do raciocínio rápido e lógico necessário à formação do engenheiro em qualquer área. 2-Os alunos demonstram o conhecimento e quando surgem dúvidas com relação aos conteúdos abordados, os mesmos tomam a iniciativa de buscar fontes de informação para sanar tais dúvidas. Exemplo: Dinâmica de Sistemas e Vibrações mecânicas é uma disciplina que faz uso de cálculo diferencial e integral, física geral e experimental e álgebra linear com conceitos interligados e que o aluno busca resgatar os conceitos abordados anteriormente. 3- Utilização de aplicações reais e práticas da disciplina com estudos de casos que são trazidos do cotidiano da indústria para o ambiente acadêmico. Os projetos interdisciplinares também são formas de atrair o interesse desses alunos. 4- São ferramentas extremamente importantes porém não são únicas. Atividades extra-classe também seria uma outra maneira de despertar o interesse pelo aprendizado das disciplinas. RESPOSTAS DADAS PELO PROF DR FERNANDO ANTONIO DA COSTA NERY Doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade de São Paulo, coordenador do curso de Engenharia Mecânica da Universidade Cruzeiro do Sul (até jun/08), e professor na mesma universidade. 1- No processo de formação dos alunos, vêm, em primeiro lugar, as disciplinas de formação básica ligadas às ciências exatas e à engenharia (1º ao 4º semestres). É com o desenvolvimento das disciplinas de conteúdos básicos que se estabelecem as bases necessárias para se iniciar o processo da obtenção de uma sólida formação nas ciências básicas e na engenharia. Estas disciplinas contribuem para o processo de uma formação sólida na medida em que o aluno tem a oportunidade de verificar as aplicações em disciplinas do ciclo profissionalizante. Além de exercitar o desenvolvimento de objetivos cognitivos, habilidades e atitudes. 2- Projeto e Fabricação Assistidos por Computador I e II (9º e 10º semestres); em aplicações de modelos físicos, formulações matemáticas e aplicações de métodos computacionais. Quando necessário, nem sempre demonstram o conhecimento. 181 3- Através de exercícios aplicados à casos práticos e relacionados aos conteúdos de disciplinas profissionalizante. 4- Além de facilitar a aprendizagem, estimula a criatividade, a motivação e a integração dos alunos de diferentes turmas e semestres. RESPOSTAS DADAS PELO PROF. DR JEAN CARLO CAMASMINE Engenheiro Metalúrgico, Doutor em Engenharia Ambiental pela Universidade de São Paulo, professor do curso de engenharia mecânica da Universidade Cruzeiro do Sul. 1- As disciplinas do curso básico têm duas funções básicas: a primeira é mostrar aos alunos as diferenças entre a etapa anterior de ensino (colégio) e a Universidade, os alunos possuem deficiências básicas tais como não saberem estudar. A outra função é apresentar as matérias como Física e Cálculo. A formação acadêmica do aluno ficará marcada com o novo método de estudo (diário) da escola e isso servirá para todos os outros anos letivos. 2- Para diversos cálculos do curso de Materiais de Construção mecânica são necessários conhecimentos anteriores. Os alunos apresentam conhecimento anterior. 3- Com uma maior interação entre os professores do curso profissionalizante , que podem apresentar exemplos de aplicações. 4- Sim, os projetos apresentam interações que são importante para os alunos demonstrarem conhecimento e técnicas de apresentação. RESPOSTAS DO PROF MSC ROBMILSON SIMÕES GUNDIN Mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade de São Paulo, coordenador do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Cruzeiro do Sul, professor do curso de engenharia elétrica da mesma universidade. 1- Super importante, pois introduz o aluno no universo acadêmico, inicia e fundamenta o desenvolvimento do raciocínio analítico necessário à formação do engenheiro. 2- Para responder com um exemplo: Em Análise de Sistemas de Potência I e II se faz necessário o conhecimento sobre vários elementos fundamentais desenvolvidos no ciclo básico, como nas disciplinas de matemática básica, cálculo, eletricidade, entre outras. Para ser ainda mais específico no ex., trigonometria e números complexos são ferramentas primordiais. Contudo, em geral o aluno já não lembra muito bem, mas desenvolvendo exemplos que auxilie a resgatar tais conceitos, os mesmos correspondem com maior facilidade. 3- Como sugestão, utilizando estratégias que possam levá-lo a aplicação 182 desses conceitos em situações reais. Talvez um maior diálogo entre os responsáveis das disciplinas possam levar a tais estratégias. 4- "Sinceramente, não havia lido a quarta questão antes de responder a terceira"... Assim, considero de que atividades/projetos interdisciplinares são fundamentais no desenvolvimento das estratégias em favor de facilitar a aprendizagem. Entretanto, operacionalizar tais projetos de forma ampla, como deve ser, é o grande desafio, dadas as circunstâncias em que nos encontramos. RESPOSTAS DADAS PELO PROF MSC HELIO CÉSAR SULLEIMAN Mestre em Engenharia Civil, professor do curso de engenharia Civil na Universidade Cruzeiro do Sul (até ago/08) 1- As disciplinas do ciclo básico despertam, no aluno, o raciocínio lógico, tão importante no dia a dia profissional do engenheiro. 2- Desde o primeiro instante. O aluno deverá ser capaz de identificar determinada situação, bem como apontar possíveis soluções. No caso de Hidráulica e Saneamento, previsões populacionais (utilização de ferramentas da matemática, física, álgebra e cálculo), diagramas de pressão (cálculo), conhecimento de química, entre outros, são de fundamental importância na resolução de situações do profissional que irá atuar nessa área. 3- Talvez mostrando ao aluno sua aplicação, de forma mais direta, em várias situações do dia a dia. 4- Sem a menor sombra de dúvida. Contribui em muito no processo de aprendizado para o aluno. Ele conseguirá fechar todo o curso ao utilizar as mais diversas áreas da engenharia. No projeto integrado, o aluno é capaz de visualizar o curso de engenharia na sua totalidade. 183 ANEXO 2.2 PESQUISA COM ALUNOS 1.1 Pesquisa – atividade 1 Após a realização da atividade, foi solicitado aos 10 alunos que respondessem ao questionário sucinto sobre o trabalho proposto. O questionamento foi relativo ao problema do assassinato. 1- Como você considerou o grau de dificuldade da tarefa proposta? - muito difícil - difícil - na média - fácil - muito fácil Faça as considerações que desejar. 2- O problema proposto , embora não aplicado à sua formação, é considerado por você como: - muito interessante - interessante - na média - sem interesse Faça considerações que desejar. TURMA DE 2005 ENGENHARIA MECÂNICA 184 As respostas dadas pelos 10 alunos do 3o semestre do ciclo básico de engenharia. Os resultados foram: 1- 40% - muito difícil 30% - difícil 20% - fácil 10% - muito fácil Considerações: - Difícil para entender e colocar em ordem as temperaturas e os tempos Me confundi na escolha da temperatura e para considerar o to Resolver a equação foi fácil, o que foi difícil foi usar as condições Ficamos três dias para resolver o problema, mas deu tudo certo O problema foi muito difícil para interpretar. A resolução não. Se for pelo entendimento, considerei muito difícil, se for pelo cálculo foi fácil. Não consegui resolver sem ajuda da professora, portanto foi muito difícil 2- 70% - muito interessante 10% - interessante 20% - na média 10% - sem interesse Considerações: - Nunca me passou pela cabeça pensar que o cálculo é usado pela polícia Comecei a me sentir um CSI Estou usando o que aprendi no problema do assassinato para questões de meu trabalho na indústria para resfriamento de peças Achei dez a forma como foi passado o problema Tudo poderia ser ensinado assim. Procurei pela Internet, cansei os outros professores, mas consegui responder. A secretária do morto é muito burra Tive que usar tudo o que aprendi antes e tudo o que não aprendi também para resolver o problema. Não gostei. Poderia ter sido dado um problema de engenharia para a gente fazer. Seria muito mais útil. 185 - Perda de tempo. Prefiro resolver equação. Não gosto de problema. Turma de 2006 Engenharia Mecânica Os resultados foram: 1- 30% - muito difícil 40% - difícil 30% - fácil 0% - muito fácil Considerações: - Considero difícil a interpretação pois são muitos dados no problema. A atividade foi difícil mas valeu a pena porque tivemos que pesquisar bastante para responder. A dificuldade maior foi de interpretação, mas após termos compreendido as informações, resolver foi fácil; Tenho problemas em português, por isso fiz engenharia. Erro meu, porque só resolvemos problemas. Meu problema é interpretar. As dificuldades foram com os dados. Precisamos ler coma tenção muitas vezes. Não achei difícil resolver. Uma boa ter que pesquisar bastante para resolver o problema. Difícil de ler Médio (2 respostas) 2- 80% - muito interessante 10% - interessante 10% - na média 0% - sem interesse Considerações: - - Esta atividade me fez perceber que o cálculo não é destinado somente às coisas de engenharia. Pude perceber que podem ser usados em áreas que eu não fazia idéia de utilidade tão ampla O problema foi difícil de interpretar. Tínhamos muitas informações de temperatura. Foi necessário ler muitas vezes par interpretar certo. As condições iniciais e as outras ficaram confusas no inicio. Só depois de conversar com a professora pudemos perceber o que deveríamos fazer. 186 - - - A tarefa foi complexa, mas foi completa. Iniciamos por um problema discutido pela professora sobre a equação do Newton sobre uma xícara de café. Foi tudo discutido. Em seguida ela mostrou um trabalho feito por alunos do ano anterior em excell, com muitas coisas detalhadas em gráficos. Depois surgiu o problema do assassinato. Achei brilhante a idéia dela, pois não esperávamos receber um problema assim como desvendar um crime pelo cálculo. Achei difícil de compor as condições. Chegou um momento em que não sabia mais o que era condição inicial, de contorno, de mais nada. Foi interessante, mas muito trabalhoso. Sensacional, inesperado, surpreendente. Houve confusão no início para interpretar os dados. Depois o trabalho foi mais simples. Chegar à conclusão matemática para desvendar um crime foi excelente idéia da professora. Sou policial, mas não tenho acesso ao pessoal da polícia científica. Não esperava isso. Foi bom. Não gostei, porque prefiro resolver exercícios. Totalmente desinteressante. Problemas com aplicações em engenharia seriam mais proveitosos. 2.2 Pesquisa Atividade 2 Após a realização da atividade completa, que envolveu 4 fases, foi solicitado aos 10 alunos que respondessem ao questionário sucinto sobre o trabalho proposto. 1 Como você considerou o grau de dificuldade da tarefa proposta? - muito difícil - difícil - na média - fácil - muito fácil Faça as considerações que desejar. 2 O problema proposto , com uso de diversos assuntos tratados por outras disciplinas e de aplicação para sua formação, é considerado por você como: - muito interessante 187 - interessante - na média - sem interesse Faça considerações que desejar. TURMA DE 2005 ENGENHARIA MECÃNICA As respostas dadas pelos alunos do 3o semestre do ciclo básico de engenharia. Os resultados foram: 1- 80% - muito difícil 10% - difícil 0% - fácil 10% - muito fácil Considerações: - - Muito difíceis os problemas, precisamos de muitas orientações da professora em todos os passos. Mas são muito importantes pois são de mecânica Foi legal ver como resolver tudo com base no cálculo. Mas foram muito difíceis Precisei de muita geometria e muita álgebra, tive que buscar nos cadernos das outras matérias. Nunca tive oportunidade de resolver problemas com começo meio e fim, mesmo considerando difíceis demais Impossível compreender, acho que perdi tempo Fique super feliz por que comecei a perceber que tudo o que estou morrendo para aprender tem sentido. Entendi tudo. Foi blz 2- 30% - muito interessante 40% - interessante 20% - na média 10% - sem interesse 188 Considerações: - - - Sei que são importantes, mas foi chato demais. Demorou muito tempo para resolver tudo Pude aprender mecânica no cálculo. Pensei que isso nunca fosse acontecer Não gostei, acho que é muito mais útil resolver as equações e outros exercícios. Não gosto de problemas. Usei tudo o que aprendi até hoje. Tive que revisar muita coisa, procurei na Internet, pedi ajuda para todo mundo. Deu! Achei muito longa a atividade toda, mas valeu. Acho que engenheiro não tem paciência. Aprendi mais essa. Gostei mesmo do último problema que fala sobre perda de massa. Achei legal as “considerações teóricas” que tanto a professora fala. Foi um sucesso, mas deu muito trabalho. Quando a professora cita que o cálculo é importante para os engenheiros, a gente não acreditava. Ela demonstrou que é importante. Os problemas pareciam não ter fim. Acho que poderiam ser dados mais longe um do outro. Cansou, mas valeu pelo que aprendi. Aprendi Física no cálculo Resolvi tanta equação diferencial, integrei tanto, algebrei tanto, que acho que deu certo. TURMA DE 2006 – ENGENHARIA MECÂNICA Os resultados foram: 1- 80% - muito difícil 10% - difícil 10% - fácil 0% - muito fácil Considerações: - Foi um conjunto de problemas bastante complexo. Por isso considero difícil a tarefa Precisamos rever muitos conceitos e problemas do ano passado. Física e mecânica. Não conseguiria resolver sozinho. Muito difícil, muito demorado. Achei difícil, mas muito importante rever em cálculo o que aprendi em Física. Foi trabalhoso, mas não foi difícil. Acho que se tivesse tido isso nas outras disciplinas seria obrigado a estudar tudo a todo momento. 189 - Achei fácil, mas fui obrigado a pensar não somente no cálculo. O que tornou mais empolgante a tarefa. O Calculo é difícil, e este grupo de problemas é mais difícil ainda pois envolve as outras matérias. Mas, valeu. Difícil (3 respostas) 2- 30% - muito interessante 30% - interessante 30% - na média 10% - sem interesse Considerações: - - - - - - dizer que foi interessante é mentira. Mas dizer que é útil, é a pura verdade. São problemas chatos de serem resolvido, mas são importantes para a minha profissão. Preciso saber mecânica. Foi um trabalho muito longo. Problemas que misturam matérias exigem da gente mais atenção do que nunca. Não sei se conseguiria resolver sem auxílio da mestra. Muito interessante não foi, mas importante foi. Acho que teria mais dificuldades se não tivesse uma base boa de cálculo anterior e física do primeiro ano. Gostei demais. Foi um bombardeio crescente de problemas e resolver cada um deles com a professora nos ajudando. Mas pude notar que se o ensino é assim aplicado, com as matérias entrando uma nas outras, as coisas vão ficando claras. Gosto muito da forma como as coisas estão sendo ensinadas aqui. Sei onde uso o cálculo, sei que é ferramenta forte para a minha profissão. Aqui se aprende assim: tudo na prática. Tarefa muito trabalhosa, mas de grande utilidade para nós engenheiros (quase) Tenho muita facilidade em matemática, e consequentemente em cálculo, mas percebi que preciso de mais coisas. Tive que rever muita coisa de Física. 190 2.3- Pesquisa - atividade 3 Após a realização da atividade foi solicitado aos alunos responderem ao questionário abaixo. 1- Como você considerou o grau de dificuldade da tarefa proposta? - muito difícil - difícil - na média - fácil - muito fácil Faça as considerações que desejar. 2- O problema proposto , com uso de diversos assuntos tratados por outras disciplinas e de aplicação para sua formação, é considerado por você como: - muito interessante - interessante - na média - sem interesse Faça considerações que desejar. TURMA DE 2005 ENGENHARIA MECÂNICA Resultados 1- 30% - muito difícil 30% - difícil 10% - na média 20% - fácil 10% - muito fácil Considerações: - - achei o problema fácil de resolver (falando em cálculo), achei mais difícil a interpretação e também os conceitos de física. Os sistemas massa mola são muito importantes na engenharia mecânica. Aprendi muita física no meio do cálculo. Mas não foi tão fácil assim entender. Foi muito legal. Achei que seria muito mais difícil, mas tendo a possibilidade de tratar com os meus colegas e também com diversos professores das outras matérias, foi muito mais fácil. 191 - - Não consigo entender o motivo de tanto problema no cálculo. É mais fácil para os alunos resolverem muitos exercícios no lugar de um problema só. Achei perda de tempo. Foi difícil. Foi fácil. Depois de destrinchar o problema de MHS, resolver a equação foi fácil. Mais legal que os problemas anteriores. Mais fácil entender . O problema foi difícil, mas vale a pena o trabalho de resolver, por conta da aplicação. 2- 70% - muito interessante 20% - interessante 10% - na média 0% - sem interesse. Considerações: - - - - Este está sendo o meu melhor semestre em cálculo. Estou fazendo cálculo 2 tendo sido reprovado no cálculo 1. Fiquei inseguro no início do semestre, pq pensei que seria reprovado de novo. Vou ser aprovado, não tenho mais dúvidas, estou muito otimista, pq aprendi muito. Não sei o pq não acontece isso nas outras matérias de cálculo. Não tenho o que reclamar, aprendo 2 ou 3 matérias em uma. Até que enfim notei a utilidade da Álgebra Linear na engenharia. Agora sei o que são soluções LD e LI, também sei agora o motivo de fazer a tal da combinação linear. Sempre tive a impressão que o cálculo era só para aprender agora, passar de ano e nada mais. Sempre tive essa impressão. Agora, as coisas ficaram diferentes. Dá trabalho mais se aprende. A maioria das outras aulas poderiam ser assim: tudo aplicado, envolvendo todas as matérias. Aqui se aprende na prática Não gostei de nada nesse curso até agora. Não me serviu para nada. De todas as coisas que fizemos em cálculo, essa acho que foi a mais importante, mas a que eu mais gostei foi o problema do defunto. Aquele foi demais TURMA DE 2006 ENGENHARIA MECÂNICA 1- 20% - muito difícil 30% - difícil 30% - na média 10% - fácil 10% - muito fácil 192 Considerações - - - - - - As equações de 2a ordem são mais fáceis de resolver, e não tive dificuldade em interpretar o problema. Gostei muito, é possível aplicar este caso para circuitos elétricos, o que vem a ajudar na disciplina de eletricidade. Muito mais fácil do que a tarefa anterior, tivemos a oportunidade de brincar com sistema massa /mola sem amortecimento (nesse exercício) mas é possível entender agora os caos de amortecimento. Fácil as equações e difícil a física do assunto. Precisei estudar física, ou melhor, preciso estudar mais física. O cálculo envolvido foi muito bem aplicado pela professora. Consegui entender melhor todos o caso de física dado pela aula de cálculo. Foi mais ou menos difícil Considero todas as tarefas apresentadas pela professora bastante complexas, entretanto, a forma como as tarefas são dadas e resolvidas me levam a perceber que estou aprendendo muito e de forma aplicada Nada é simples. Tarefa complicada, mas conseguimos vencer Não acredito que estejamos num curso de engenharia para fazer coisas simples. Sendo assim acho que a tarefa foi difícil mas compreendi tudo. Se ser fácil é sinônimo de aprender, eu achei fácil. Mas tive que suar muito para isso. na média difícil 2 70% - muito interessante 10% - interessante 20% - na média 0% - sem interesse. Considerações: - - Em primeiro lugar tenho que dar parabéns pela escolha da tarefa. É possível perceber o que aprendemos e o que não aprendemos. Usei o que sabia de matemática do colégio, usei o cálculo do primeiro ano, usei a álgebra linear que nunca pensei que fosse usar, usei a física, em resumo, usei tudo. É importante fazer num exercício só toda uma revisão. Muito importante. As tarefas em cálculo tem uma tradução: nos aprendemos a resolver e depois já esperamos alguma coisa aplicada. É isso que vale a pena. Tenho amigos que estudam em outros 193 - - lugares e só sabem resolver, não sabem para que serve. Não ligam as matérias. Uma pena não ter estudado antes desta forma. Só agora entendi o que é combinação linear. Estudar cálculo neste ano é o mesmo que estudar tudo. Este ano tenho que estudar bastante, mas tenho prazer em fazer isso. Estou sentindo agora que vou ter preparo para enfrentar as disciplinas do 3o ano em diante. Sei que vou ser engenheiro, pude perceber isso nas atividades que tenho que fazer É um desafio atrás do outro. Todos nós aguardamos a chegada do próximo. Maravilhoso. Não gosto de problemas, sei resolver as equações. Não gosto das aplicadas. Acho sem interesse. 2.4 – Atividade 4 – Circuito elétrico O questionário, para essa atividade, foi: 1- De que forma as atividades interdisciplinares no semestre passado, contribuíram para o seu aprendizado? Os alunos tiveram que escolher uma das opções: totalmente satisfatória; satisfatória; não ocorreram mudanças; insatisfatória; totalmente insatisfatória. 2- Se as atividades interdisciplinares fossem utilizadas em outras disciplinas, você acredita que o seu desempenho no processo de aprendizagem seria melhorado? As opções para os alunos foram: concordo plenamente; concordo; não ocorreriam mudanças; discordo; discordo plenamente TURMA DE 2005 – ENGENHARIA MECÂNICA Foram consultados 10 alunos. 1- 30% totalmente satisfatória 50% satisfatória 10% não ocorreram mudanças 10% insatisfatória 194 0% totalmente insatisfatória 2- 40% concordo plenamente 40% concordo 0% não ocorreram mudanças 10% discordo 0% discordo plenamente Relatos pessoais - Achei a atividade muito eficiente, pois envolveu algumas disciplinas, e precisamos trabalhar em conjunto - Interessante, pois vimos os professares trabalharem em conjunto - Foi muito importante enxergar que as matérias, na realidade são uma só - Achei a atividade muito simples para três matérias - Fiquei um pouco atrapalhado, ao ter que resolver para muitos professares o mesmo problema. - Tínhamos sempre surpresas em Cálculo, mas não esperava que isso fosse ser tão ampliado. Parabéns. - Foi muito interessante, com otimização de tempo. Antes tínhamos tarefas separadas em disciplinas, e essa, além de mostrar a interdisciplinaridade, facilitou nosso trabalho. - Precisa ampliar para outras matérias 195 Turmas de 2006 – Engenharias Mecânica, Elétrica, Civil A atividade em 2006 foi destinada a um número maior de alunos, pois houve adesão de outros professores que trabalham em mais turmas, desta forma, foram 186 alunos envolvidos. 9% 1% 1% Totalmente Satisfatória Satisfatória 35% Não ocorreram mudanças Insatisfatória 54% Totalmente insatisfatória Gráfico 1: resposta dos alunos para a pergunta 1. 196 2% 5% 0% Concordo plenamente Concordo 44% Não ocorreriam mudanças Discordo 49% Discordo plemamente Gráfico 2: resposta dos alunos para a pergunta 2. Também foram colhidos alguns relatos pessoais dos alunos sobre a experiência. Abaixo estão alguns relatos de alunos que estavam no 3o semestre do curso de Engenharia Mecânica quando participaram da experiência: - - “É muito bom porque podemos juntar o conhecimento de várias matérias em um único problema.” “É muito interessante devido a possibilidade de tirarmos todas as nossas dúvidas com todos os professores.” “É importante, pois no dia-a-dia utilizamos todas as matérias como um conjunto e não individualmente.” “A interdisciplinaridade é importante pois simula uma situação mais próxima do real, como ocorre na vida profissional.” “É fundamental, pois podemos visualizar a aplicação de um mesmo conceito em várias disciplinas. Como engenheiros, vamos precisar de conceitos para resolver problemas.” “Considero uma excelente idéia, pois conceitos de várias disciplinas são englobados com a finalidade de resolver o mesmo problema.” “Um trabalho interdisciplinar é importante para a formação do engenheiro pois no mercado de trabalho vamos nos deparar com situações que envolvem conceitos de muitas disciplinas.” 197 ANEXO 3 EMENTAS DAS DISCIPLINAS Ementas das disciplinas básicas dos cursos de engenharia na Universidade Cruzeiro do Sul Estão relacionadas a seguir, as Ementas das disciplinas das disciplinas básicas do cursos de engenharia na Universidade Cruzeiro do Sul (até 2007) dos quatro primeiros semestres do curso. ÁLGEBRA LINEAR E CÁLCULO VETORIAL SÉRIE: 1 e 2 semestres CARGA: 160 h/a EMENTA Noção intuitiva de vetor. Estudo dos vetores por meio de tratamento a o geométrico e algébrico. Estudo da reta, do plano e das distâncias estruturadas sobre vetores, conduzindo à interpretação geométrica de fatos algébricos. Estudo das Cônicas. Introdução à Álgebra Linear através do estudo dos espaços vetoriais, transformações lineares, operadores lineares, vetores e valores próprios. Estudo dos números complexos. CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL I SÉRIE: 1 e 2 semestres CARGA: 160 h/a EMENTA Introdução a todo o conteúdo referente ao pré-cálculo, discutindo tópicos de a o matemática básica essenciais ao desenvolvimento da disciplina. Estudo sistematizado do cálculo diferencial e integral I enfatizando a motivação e à compreensão intuitiva do conteúdo, favorecendo o uso do cálculo como um instrumento poderoso na resolução de problemas em ciências quantitativas como a engenharia. Estudo e prática das principais metodologias e técnicas de resolução de problemas. 198 CIÊNCIAS DO AMBIENTE SÉRIE: 1a CARGA: 40 h/a EMENTA Estudo das questões ambientais e dos impactos no meio ambiente decorrentes do desenvolvimento tecnológico, do aumento populacional e da crescente demanda por recursos minerais, energéticos e hídricos, incluindo fundamentos, métodos, normas e leis aplicáveis e estudos de casos brasileiros. a o DESENHO TÉCNICO CARGA: 80 h/a SÉRIE: 1 e 2 semestres EMENTA Tamanhos e formatos de papel. Legenda. Geometria plana e figuras planas. Leitura e interpretação de desenhos. Escalas. Contagem. Introdução á teorias de projeções. Projeção ortogonal. Projeção no 3o Diedro. Perspectiva Axonométrica (cavaleira e isométrica). Vistas auxiliares, cortes e seções. Desenho assistido por computador: tela gráfica, comandos de visualização, edição e formatação de desenhos em (2D). FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL I SÉRIE: 1 e 2 semestres CARGA: 160 h/a EMENTA Estudo dos fenômenos físicos relacionados à Mecânica Newtoniana e noções a o básicas da Termodinâmica. Para tanto, dentro da Mecânica, trabalham-se os temas relacionados à cinemática e dinâmica da partícula, aos sistemas de partículas, à cinemática e dinâmica da rotação, às leis da conservação da energia e dos momentos linear e angular. Quanto às noções da Termodinâmica enfatizam-se os conceitos de calor e da primeira e segunda leis da Termodinâmica. MECÂNICA GERAL SÉRIE: 2o semestre CARGA: 80 h/a EMENTA Estática de pontos materiais. Estática de corpos rígidos. Análise estática de estruturas simples. Atrito. Cinemática do ponto material. Cinemática de corpos rígidos. 199 QUÍMICA GERAL E EXPERIMENTAL SÉRIE: 1a e 2o semestres CARGA: 80 h/a EMENTA Estudos dos conceitos, leis e teorias sobre as estruturas das substâncias, suas relações com propriedades e aplicações na vida cotidiana, em particular na estrutura dos materiais utilizados na Engenharia e os problemas ambientais. Introdução ao estudo das soluções aquosas e as reações químicas e sua relação com o dia a dia, com os processos tecnológicos e os problemas ambientais. o TÉCNICAS DE PROGRAMAÇÃO CARGA: 80 h/a SÉRIE: 3 semestre EMENTA Conceitos básicos de computação. Noções de operação de microcomputadores e equipamentos de computação. Noções de algoritmos e fundamentos de linguagens de programação. Desenvolvimento de programas, usando conceitos de entrada e saída de dados via console, variáveis e operadores. Conceitos de estrutura condicional e de repetição no desenvolvimento de algoritmos. Emprego de vetores, matrizes e funções na solução de problemas de engenharia. CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL II SÉRIE: 3a e 4o semestres CARGA: 160 h/a EMENTA Estudo das equações diferenciais ordinárias, funções de várias variáveis e integração múltipla e seu relacionamento e aplicabilidade na sua formação profissional e como instrumento de resolução de problemas das disciplinas que compõem o curso. 200 SÉRIE: 4o semestre EMENTA Introdução ao Calculo CÁLCULO NUMÉRICO CARGA: 80 h/a Numérico, discutindo os principais aspectos computacionais aplicáveis. Estudo dos métodos de solução de sistemas de equações. Estudo de métodos de ajuste de curvas. Estudo de métodos de integração numérica de funções. Estudo de métodos de resolução de equações diferenciais ordinárias. o o ELETRICIDADE CARGA: 160 h/a SÉRIE: 3 e 4 semestres EMENTA Definições de grandezas elétricas e parâmetros de circuito. Estudo e aplicação das leis fundamentais à análise de circuitos e das técnicas de análise de circuitos. Fundamentos de correntes e tensões alternadas senoidais. Princípios gerais de resolução de circuitos de corrente alternada. FENÔMENOS DE TRANSPORTE I SÉRIE: 3 e 4 semestres CARGA: 80 h/a EMENTA Apresentar Ciência de Fenômenos de Transporte partindo da definição de fluido perfeito, abordando as principais leis relativas aos fenômenos estáticos e de movimento para, num segundo momento, apoiado nesses conceitos, introduzir as principais leis que governam o movimento dos fluidos reais. o o FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL II SÉRIE: 3 e 4 semestres CARGA: 160 h/a EMENTA Cargas elétricas, Condutores e isolantes. Lei de Coulomb. Discutindo tipos de eletrização e sua condução através dos diferentes tipos de materiais. Estudo da forças entre cargas elétricas (lei de Coulomb). Campo eletrostático. Potencial elétrico. Lei de Gauss Estudo da formação de campo elétrico por cargas estáticas., o potencial elétrico gerado e o fluxo elétrico através de superfícies fechadas definido pela lei de Gauss. Capacitores. Energia Eletrostática. Polarização de dielétricos Estudo de componentes capazes de armazenar energia elétrica o aumento da capacitância em função dos tipos de dielétricos. o o 201 Campo magnético. Força magnética sobre correntes elétricas. Estudo do campo magnético, interação do campo magnético e campo elétrico. Lei Biot-Savart e Lei circuital Ampère. Fluxo magnético. Lei de Lenz e Faraday. Auto e mútua indutância. PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA SÉRIE: 3 e 4 semestres CARGA: 80 h/a EMENTA Estudo das técnicas para resolução de problemas e análise crítica dos resultados o o obtidos: estudo das medidas, gráficos, tabelas, testes estatísticos com vista às análises descritivas de pesquisa e desenvolvimento em engenharia. RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS SÉRIE: 3 e 4 semestres CARGA: 160 h/a EMENTA Tensões: definição; componentes de tensão; tensões normais e cisalhamento. o o Lei de Hooke. Tensões normais relativas à tração e compressão e à flexão. Tensões de cisalhamento relativas a força cortante e torção. Flexão geral. Deformações: definição; componentes de deformação. Deslocamento: definição; diferença entre deslocamentos e deformação. Equação diferencial da linha elástica: obtenção da equação da linha elástica. Análise das tensões e deformações. Estado de plano de tensões, tensões principais, tensões de cisalhamento máxima. Círculo de Mohr. Tensões em vasos de pressão de paredes finas. Estado plano de deformação. Critérios de resistência. Generalidades sobre dimensionamento, critérios de ruptura para materiais dúcteis e frágeis em estado plano de tensões. Teoremas de energia: energia potencial de deformação. Teoremas de Mawel e de Castigliano. Princípios dos trabalhos virtuais: cálculo de deslocamentos e reações em estruturas isostáticas. Noções de flambagem. Quadros isostáticos. 202