A Influência do Comércio Eletrônico na Percepção de Oportunidades de Negócio na Visão dos Empreendedores Autoria: Alberto de Medeiros Jr., Grazielly Esteves Rodrigues, Luiza Pereira Aniceto, Marcelo de Lima Russo, Virginia Lomonaco Nogueira Sciascia RESUMO A pesquisa natureza qualitativo-exploratória identificou os principais fatores relacionados ao comércio eletrônico que influenciam os empreendedores a perceber oportunidades de negócios virtuais. Procurou-se contemplar uma visão abrangente dos sites de varejo virtual de diferentes segmentos de atuação e de compras coletivas. Por entrevistas mediante roteiro previamente elaborado foi realizado um estudo relacionando os fundamentos teóricos explorados. A análise de dados utilizou a técnica de análise de conteúdo. Os resultados apontam a relevância do perfil dos empreendedores envolvidos na montagem do negócio, as oportunidades percebidas, bem como as particularidades apresentadas pelo comércio eletrônico, as estratégias adotadas e as tendências do mercado. 1 INTRODUÇÃO Em um ambiente global permeado pela aceleração da informação e a crescente exigência do mercado, a Internet tornou-se uma ferramenta fundamental para o comércio. Por atrair usuários diversificados e ser acessível a milhões de pessoas a qualquer momento e lugar, a rede tornou-se um palco de atrativos e oportunidades de negócios para empreendedores dispostos a inovar ou seguir tendências. O aumento do uso da banda larga, a segurança dos meios de pagamentos on-line, a troca de informação e as tecnologias inovadoras impulsionam o cenário eletrônico perante o mercado, já que há também uma mudança na forma de distribuir e consumir bens e serviços fazendo com que as pessoas possibilitem a elevação de compras pela web. Tem-se observado que o comércio eletrônico é um setor que tem despertado grande interesse dos jovens empreendedores que vêm nele grande potencial, uma vez que a quantidade de consumidores pela web tem crescido a uma taxa média de 35%, evoluindo de 9,5 milhões em 2007 para 31,9 milhões em 2011, e o faturamento aumentando de R$6,3 milhões em 2007 para R$18,7 milhões em 2011, com taxa média de crescimento de 30% (EBIT, 2012) Esse cenário possibilita a pesquisa do seguinte problema: Qual é a influência exercida pelo comércio eletrônico sobre a percepção de oportunidades de negócios virtuais, na visão dos empreendedores? Complementou-se a pesquisa com os seguintes objetivos específicos: Identificar o perfil do empreendedor virtual. Verificar os principais fatores que atraem novos empreendimentos virtuais. Analisar as barreiras de entrada para criar um negócio virtual. Reconhecer as tendências do comércio eletrônico para os novos empreendedores. Identificar quais as estratégias adotadas para se diferenciar no mercado eletrônico. 1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 Comércio Eletrônico A evolução da tecnologia impulsionou o mercado também a evoluir de forma constante. Fleury (2001, p. 17) comenta: “a difusão da Internet, que pode ser considerada uma evolução na comunicação eletrônica, iniciou uma nova tecnologia, que está alterando a forma como as pessoas e organizações vivem e interagem”. Segundo Turban e King (2004, p. 3) “por comércio eletrônico (CE, e-commerce) entende-se o processo de compra, venda e troca de produtos, serviços e informações por redes de computadores ou pela Internet”. Por e-businnes, entende-se: [...] uma definição mais ampla de CE que não inclui simplesmente a compra e venda de produtos e serviços, mas também a prestação de serviços à clientes, a cooperação com parceiros comerciais e a realização de negócios eletrônicos dentro de uma organização (TURBAN; KING, 2004, p.3). 1.1.1 Histórico do Comércio Eletrônico Na década de 1990 iniciou-se a descoberta de algumas lojas venderem seus produtos de forma inédita, mas nessa época a Internet ainda estava em fase de amadurecimento. No início de 2001 algumas empresas encontraram dificuldades para obter capital e confiança para esses novos investimentos, preocupados com o risco de retorno sobre o investimento e com o novo mercado tecnológico (SALVADOR, 2010). “No entanto, a visão conservadora aos poucos foi se diluindo pelo vasto cartel de oportunidades que o novo mecanismo de vendas oferecia tanto para os clientes quanto para os investidores” (SALVADOR, 2010, p.7). Como atrativo para compras on-line, as empresas 2 investiram em preços competitivos e a possibilidade de parcelar em várias vezes os produtos comprados, aumentando a importância do comércio virtual (SALVADOR, 2010). De acordo com Salvador (2010), o crescimento de usuários já se estabilizou em países desenvolvidos como nos Estados Unidos, Canadá e Japão, enquanto no Brasil o número cresce devido a programas de inclusão social e baixas do dólar. 1.2 Modelos de Negócio na Internet 1.2.1 Varejo Virtual Como vertente do comércio eletrônico, a loja virtual é o modelo de empresa que realiza as vendas pela Internet, tendo de inovar sempre em produtos e serviços, ter uma boa e planejada infraestrutura para crescimento num futuro próximo, gerenciando o relacionamento com os clientes, atendendo todas as expectativas (LIMEIRA, 2007). Para Felipini (2011) as lojas virtuais não diferem muito das lojas físicas quando se foca o consumidor. Esse, sempre espera ser bem atendido e encontrar o que deseja, seja onde estiver. Portanto, as lojas virtuais devem possuir sistemas práticos e rápidos para que a compra seja finalizada com sucesso. Na Internet, não é diferente, pois o visitante, embora não seja atendido por pessoas, vai interagir com o sistema de compras que também deve levá-lo a concluir a transação da forma mais agradável, rápida e fácil. Há, no entanto, um agravante: o consumidor on-line é extremamente exigente, bem informado e sabe muito bem o que quer. (FELIPINI, 2011, p.27). 1.2.2 Compras Coletivas “É um modelo de negócios que tem como principal objetivo unir compradores, pessoas físicas ou jurídicas, e então organizar um pedido com alto volume, permitindo que empresas ou pessoas passem a ter poder de negociação de grandes compradores” (DORNELAS, 2001, p.74). Nesse caso, o site que faz a intermediação dos compradores retém uma porcentagem do valor negociado. Outro modelo citado pelo autor são os Sites de Comparação “este modelo é baseado em ferramentas inteligentes especializados em coletar e comparar preços de produtos e serviços” (DORNELAS, 2001, p.75). Essas ferramentas podem realizar a busca na rede ou em banco de dados próprio. Para Felipini (2011), independentemente do modelo de negócio a ser criado, alguns aspectos devem ser previamente estudados para que o projeto tenha êxito. O principal é escolher o publico alvo que pretende atingir, e “[...] a montagem de um plano de negócios; a montagem de uma loja virtual ou, opcionalmente, a criação de um site de conteúdo; e a promoção de forma a gerar um bom fluxo de tráfego” (FELIPINI, 2011, p.24). 1.3 O empreendedor Schumpeter (1959) é um dos primeiros autores que associa o empreendedorismo ao capitalismo, para ele o empreendedor é o centro da evolução deste fenômeno, o relaciona ao crescimento econômico e enfatiza sua capacidade de inovação e transformação. Sua definição é clássica neste campo de estudo: “O empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, e pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos e materiais” (SCHUMPETER, 1959, p.72). A definição de empreendedor por McClelland (1961) é feita a partir da sua disposição de enfrentar riscos, a necessidade de geração de lucro e capacidade de organização, além de atributos de sua característica, tais como autoconfiança, otimismo, ceticismo, disposição para trabalhar com as próprias mãos e moralidade comercial. É relevante ressaltar as diferenças entre o administrador e o empreendedor, segundo Dornelas (2001) todo empreendedor de sucesso necessita ser um bom administrador, por ou3 tro lado, nem todo administrador é um empreendedor. Essas diferenças podem ser comparadas em cinco dimensões: orientação estratégia, análise das oportunidades, comprometimento dos recursos, controle dos recursos e estrutura gerencial. As etapas do processo empreendedor podem ser resumidas como se segue: (1) Despertar da motivação para a criação do próprio negócio; (2) Desenvolvimento da idéia ou processo visionário; (3) Validação da idéia; (4) Definição da escala de operação e identificação dos recursos necessários; (5)Elaboração do plano de negócio, que apresenta a formatação do empreendimento para sua negociação interna e externa; (6) Operacionalização do plano de negocio, dando-se início à empresa; (7) Consolidação e sobrevivência (SALIM et al., 2004, p.2). Para Dornelas (2001) este processo tem início quando um evento gerador de fatores que impulsionam a decisão de tornar-se empreendedor, entre eles, fatores externos, ambientais e sociais e aptidões pessoais, possibilita o início de um novo negócio. 1.4 Oportunidades de Negócio Quando uma oportunidade de negócio é identificada, o empreendedor deve fazer de tudo para não desperdiçá-la, o grande desafio está em de que maneira enxergá-la. Para Cecconello e Ajzental (2008, p. 26), as oportunidades de negócios: [...] são observáveis por meios de sinais emitidos pelo mercado ou “visualizadas” pelo empreendedor (necessidades, expectativas ou intenções por parte de compradores/ consumidores). Essas oportunidades podem ser caracterizadas de diversas formas. Quando se pensa em uma indústria, uma empresa comercial ou mesmo uma empresa de serviços, diversas são as oportunidades que podem surgir, entretanto, sua caracterização está sempre ligada a: novas funções para produtos ou serviços existentes; variação de demanda aparente, positivas ou negativas; indicadores de atratividade; perspectiva de demanda futura; outras formas de oportunidade identificadas. De acordo com Cecconello e Ajzental (2008) as oportunidades de novos negócios estão presentes nos mais variados setores, e não é difícil identificá-las quando se tem conhecimento do meio inserido. O processo caracterizado por um nível de dificuldade maior é o de escolher um setor ao acaso, identificar uma possível oportunidade e posteriormente montar um bom negócio. Todas as oportunidades de negócios requerem um bom planejamento e os fatores já apresentados devem ser muito bem estudados e levados em consideração antes do empreendedor tomar sua decisão. Quanto às oportunidades, constata-se que: Ela deve se ajustar ao empreendedor. Algo que é uma oportunidade para uma pessoa pode não ser para outra, por vários motivos (know-how, perfil individual, motivação, relações, etc.); É um alvo móvel. Se alguém a vê, ainda há tempo de aproveitála; Um empreendedor habilidoso dá forma a uma oportunidade onde outros nada veem, ou veem muito cedo ou tarde demais; Ideias não são necessariamente oportunidades (embora no âmago de uma oportunidade exista uma ideia); Há maior quantidade de ideias do que boas oportunidades de negócios (DOLABELA, 2008, p.61). Drucker (2003) aponta três fontes de oportunidades inovadoras relacionadas ao ambiente externo. A primeira delas é a mudança demográfica definida como uma fonte de oportunidades produtiva e confiável, principalmente para os empreendedores que estão dispostos a pesquisar sobre suas tendências, em geral suas consequências são fáceis de prever. A segunda fonte é a mudança em percepção, disposição e significado a qual implica em ser o primeiro. [...] o momento oportuno é essencial. Quando se exploram mudanças na percepção, “a imitação criativa” não funciona [...] Mas, principalmente por haver tanta incerteza em saber se a mudança na percepção é uma novidade passageira ou algo permanente, e quais são realmente as conseqüências, a inovação baseada na percepção deve começar pequena e ser bem específica (DRUCKER, 2003, p. 147). 4 A terceira fonte, conhecimento novo, é a principal fonte de oportunidade do espírito empreendedor, e está ligada ao conceito de inovação sob a ótica popular. Ela se diferencia nos aspectos apresentados para o empreendedor, tais como riscos, previsibilidade, desafios, tempo e controle. Tratando-se de identificação de oportunidades, Dolabela (2008) afirma que se não é fácil encontrar algum conceito de negócio que realmente irá vingar, pois existirão algumas barreiras e desafios a serem superados. A capacidade pessoal do empreendedor é o quesito fundamental para a identificação de uma oportunidade. A avaliação de uma oportunidade é uma etapa muito delicada. Durante a avaliação o empreendedor conseguirá constatar se aquilo que se pretende comercializar, seja um produto ou um serviço, irá proporcionar o retorno esperado. Deve-se estar atento às dimensões que a oportunidade pode tomar o que pode dar errado, como o empreendedor irá se adaptar a ela no que diz respeito a suas habilidades e metas e qual seria sua vantagem competitiva (HISRICH; PETERS, 2004). Além disso, fatores como; barreiras de entrada, ciclo de vida do setor observado, sazonalidade, atração pessoal quanto a oportunidades, também são de grande utilidade ao tentar identificar uma oportunidade. Felipini (2011) afirma que o individuo que tem conhecimento e competência para vender seu produto, a Internet representa uma grande oportunidade, uma vez que as pessoas estão mudando seus hábitos de consumo pela economia e conveniência proporcionada por este canal de venda. No contexto atual as oportunidades de negócios na Internet são infinitas e muito atrativas, mas ao mesmo tempo exigem determinação por parte do empreendedor. 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa foi de natureza exploratória, foram coletadas as informações necessárias para serem analisadas para se atingir os objetivos da pesquisa. Os dados foram obtidos por oito entrevistas, em oito empresas diferentes que seguiram um roteiro de perguntas semiestruturadas em profundidade, direcionadas ao objetivo da pesquisa. O entrevistador, no entanto, pôde incluir outras perguntas no decorrer da entrevista, abrangendo o debate. Foram efetuadas gravações das respostas dos entrevistados, e posteriormente as suas transcrições para análise dos dados. A amostragem foi não probabilística por conveniência a qual, segundo Malhotra (2004), é utilizada quando se necessitam selecionar entrevistados devido à sua acessibilidade. Todos utilizam o comércio eletrônico como uma oportunidade de expansão de seus negócios ou como única ferramenta de venda. A técnica utilizada para a análise foi a de conteúdo (BARDIN, 2007). As entrevistas transcritas tiveram palavras-chave (unidades de registro) selecionadas, as quais deram origem às unidades de significado, que foram, enfim agrupadas em categorias, as quais foram relacionadas com a teoria utilizada. 3. A PESQUISA 3.1 Perfil das empresas estudadas A empresa 1 atua como uma distribuidora de bebidas no mercado tradicional desde 1990. Localizada em São Paulo (SP), trabalha com mais de 750 itens, representados com exclusividade ou parceria na distribuição das maiores marcas mundiais. Sua meta principal é prover aos clientes produtos da mais alta qualidade e atendimento diferenciado. A loja virtual foi criada em 1992 com o objetivo se sobressair neste mercado, tendo como resultado uma maior aproximação do cliente. A entrevista concedida pela proprietária da distribuidora, formada em desenho industrial, de 49 anos (E1). 5 A empresa 2 foi fundada em 1981 na cidade de Jundiaí (SP), constituída por uma rede de lojas de varejo tradicional na comercialização de calçados masculinos, femininos, infantis, artigos, esportivos, equipamentos e acessórios para a prática de esportes. Com um total de 28 lojas espalhadas pelo interior do Estado de São Paulo, a loja virtual atua desde 2005 e se firmou como uma das principais empresas virtuais no ramo de calçados do país. E entrevista foi efetuada com a empreendedora, sócia e proprietária da empresa, formada em economia, de 49 anos de idade (E2). A empresa 3 é uma loja especializada nas modalidades do triathlon (corrida, ciclismo e natação) e mountain bike que iniciou suas atividades em 2003 com uma loja física em São Paulo (SP). Na loja virtual, atuante desde 2005, encontra-se uma gama completa de produtos tornando-se assim a loja deste segmento, mais completa da América do Sul.A entrevista foi concedida por um dos sócios e proprietários, de 41 anos, formado em educação física (E3). A empresa 4 é a primeira loja virtual de histórias em quadrinhos antigos, raros e esgotados da internet brasileira. Iniciou as suas atividades em 2000, hoje atende clientes em todo o Brasil e também no exterior. Seus clientes são colecionadores e aficionados por revistas em quadrinhos em geral e que têm a possibilidade de completar suas coleções graças ao acervo da loja. Em 2004 abriu a loja física em São Paulo com o intuito de se aproximar mais de seus clientes. A entrevista foi concedida pelo proprietário do empreendimento, formado em administração, de 42 anos (E4). A empresa 5 estreou no mercado de compras coletivas em agosto de 2010 com a intenção de satisfazer os desejos de compra das mulheres com ofertas diárias em artigos de moda. De forma embrionária teve a ideia de trazer grandes lojas e marcas com descontos agressivos, como uma oportunidade para atrair o público feminino. O entrevistado foi o empreendedor e sócio da empresa, publicitário, de 26 anos (E5). A empresa 6 existe desde julho de 2011 e já é o maior site de venda de cupons de desconto do Brasil. Oferece descontos em: restaurantes, produtos, saúde e beleza, viagens, e outros serviços que podem ser utilizados imediatamente, sem esperas ao contrário dos sites de compras coletivas convencionais que é necessário esperar um número mínimo de pessoas efetivarem a compra para todos terem direito ao desconto. A entrevista foi concedida pelo sócio e proprietário, de 27 anos, formado em economia e marketing (E6). A empresa 7 é um site de compras coletivas que está presente no mercado desde maio de 2011. Surgiu como um site de compras coletivas comum, onde todos os tipos de ofertas eram comercializados, mas seguiu uma tendência de mercado e logo se especializou na área de turismo. Hoje em dia possui um grande reconhecimento dentro desse mercado e é considerado o segundo maior no segmento de turismo. Tem como principal objetivo divulgar o poder da compra coletiva e estreitar a relação entre parceiros e consumidores. A entrevista foi concedida por um dos sócios e idealizadores do site, de 26 anos de idade, empreendedor e profissional da área de marketing (E7). A empresa 8 é um site que recém entrou no mercado de compras coletivas para oferecer ao seus clientes promoções e descontos nas mais variadas áreas. Uma empresa jovem de visão empreendedora que agregou a experiência de seus fundadores oriundos das áreas comercial, marketing e tecnologia e criaram essa idéia inovadora que já esta invadindo o Brasil. O objetivo do site é estreitar a relação entre anunciante e comprador. O site existe desde março de 2011 e apesar do pouco tempo de vida, possui uma grande aceitação do público. Empreendedor e universitário. Foi um dos sócios do site que respondeu às perguntas (E8). 3.2 Análise dos Resultados Nesse âmbito, o comércio eletrônico, com suas vertentes inovadoras, é tido como uma das tendências emergentes com maior potencial de inovação nos processos de negócio nas várias áreas da economia. Para Dias (2006) a Internet também teve influência na 6 vantagem competitiva, empresas que deixam de expandir suas capacidades podem perder o seu posicionamento no mercado. Tapsccott et al. (1999 apud DIAS 2006, p.118) define “outra importante consequência da Internet são as mudanças estruturais na dinâmica competitiva dos mercados e o seu impacto sobre os modelos de negócios, principalmente nos processos de produção, vendas e distribuição”. Contudo, foram encontradas divergências nos tipos de negócio das empresas estudadas e no perfil dos empreendedores entrevistados, portanto, optouse por dividir as entrevistas em dois grupos para a análise das matrizes: varejo virtual e compras coletivas. O varejo virtual surgiu como uma vertente do varejo tradicional e atingiu todos os ramos de mercado, tornando-se uma necessidade contemporânea e questão de sobrevivência. Com o desenvolvimento da Internet, as empresas encontraram um canal de comunicação abrangente, o qual os conecta tanto com clientes, parceiros e/ou fornecedores e também complementa a troca informação interna entre gerência e funcionários, facilitando tomadas de decisão. O surgimento das compras coletivas é uma tendência atual, que surgiu no Brasil no início de 2010 com um novo modelo de negócio o qual implica a venda de produtos e serviços em massa com grandes descontos como principal chamariz. Porém exige um número mínimo de clientes para atingir o volume pré-estipulado de vendas e tempo limite para compra, tendo uma política imediatista de consumo. A empresa torna-se uma intermediaria, pois há o relacionamento direto entre seus parceiros e consumidores sendo ambos seus clientes. Da análise de conteúdo sobre os dados das entrevistas realizadas, pôde-se extrair seus principais pontos chaves que foram então agrupados em unidades de significados e estas em categorias: C1- Perfil do empreendedor; C2- Atração do público-alvo; C3- Fidelização dos clientes; C4- Oportunidades do mercado virtual; C5- Barreiras e dificuldades; C6- Diferenciação dos concorrentes; C7- Meios de divulgação. Essas categorias são apresentadas nos tópicos 3.2.1 a 3.2.7. 3.2.1 Perfil do Empreendedor Para Drucker (2003), o empreendedor é aquele que transforma a mudança em uma oportunidade, reagindo e explorando-a. Além disso, proporciona a idéia de que ser empreendedor não faz parte da personalidade de um indivíduo, mas é um comportamento que o permite lidar bem frente a desafios empreendedores. No caso dos empreendedores do varejo virtual, são pessoas com experiência em varejo tradicional e sem qualquer conhecimento de e-commerce. Já no grupo de compras coletivas, os empreendedores são jovens e possuem experiência e conhecimento prévio em vendas pela Internet. Pelas oportunidades que a Internet proporciona como canal de vendas, o empreendedor poderá ter êxito se conseguir identificar um nicho de mercado ainda não explorado e tiver as características necessárias para o tipo de negócio que pretende abrir. A partir das entrevistas realizadas com os empreendedores de varejo virtual observou-se que todos estão em uma faixa etária de 41 a 49 anos e que anteriormente à loja virtual, já possuíam empreendimento no varejo tradicional, porém sem prática alguma no comércio eletrônico. E2: “Em 2005 a gente começou a ver alguns movimentos e eu vi lojas fazendo sucesso já na virtual [...] Novo canal de vendas que seria o virtual olhando para o futuro, ninguém na época no Brasil sabia o que ia acontecer porque era uma novidade” E3: “Foi aí que surgiu o e-commerce junto também com a verificação do crescimento do mercado todo e a gente acabou investindo [...] Tive várias dificuldades. Primeiro que a gente não tinha noção nenhuma do que era e-commerce no começo” E4: “Era aquela historia que parecia que tudo que você fizesse na internet ia dar certo. Você lia em jornais, revistas, etc. A internet tava começando a embalar mesmo 7 no Brasil, eu vi que isso era uma oportunidade de negocio e vi que eu tinha um produto que era viável vender pela internet” Observa-se que os empreendedores entrevistados exploraram a oportunidade do ecommerce logo em sua fase inicial, prevendo o seu futuro potencial. Porém encontraram certas dificuldades diante das incertezas que esse novo canal trazia, além da falta de conhecimento técnico em e-commerce. Em suma, o empreendedor deve ter o mínimo de conhecimento a respeito do que deseja montar, deve realizar um planejamento de como pretende montar seu novo negócio e acima de tudo deve ter um grande comprometimento com seu novo empreendimento. Só assim as oportunidades identificadas se tornarão viáveis. E2: “Na época nós contratamos também uma consultora que já tinha trabalhado no UOL, que já conhecia um pouco mais, e ela nos orientou bastante porque a gente realmente não tinha o expertise” E3: “A gente já tem uma empresa terceirizada que desenvolveu o site para nós, mas para isso nós tivemos que fazer um baita de um investimento [...] “O grande desafio nosso foi ter uma integração do estoque da loja física, com o estoque da loja site [...] Para isso tive que contratar outra empresa para integrar tanto o software da loja física com o sistema do site, e isso foi a maior complicação” Um fator fundamental considerado pelos entrevistados é o planejamento de todas as ações que precedem a abertura do varejo virtual. Tais como integração de sistemas, estoque e logística que inclui a terceirização da entrega dos produtos. Na maioria dos casos, foi necessário contratar uma empresa especializada em e-commerce para realizar o projeto. Já no caso do grupo de compras coletivas, o perfil do empreendedor difere quanto aos anteriormente citados. Observou-se que empreendedores de compras coletivas são jovens de meia idade, numa faixa etária entre 25 e 30 anos, com algum conhecimento em programação de web e sempre ligados à novas tendências. E5: “Na verdade foi seguindo uma tendência de mercado, foi em agosto de 2010 quando começou a onda de sites de compra coletiva” E6 : “Não trabalhei sempre no ramo virtual, eu sempre montei “start-ups”. Montei o start-up da TIM Brasil, montei o plano de expansão da Peugeot e montei o Groupon Brasil e agora o Cupom Now” E8: “Era uma tendência já mundial esse negocio de compras coletivas, tava no começo ainda no Brasil, dai o meu sócio ele tinha experiência na área de desenvolvimento de web e eu na área comercial” O que ficou evidente, em relação àqueles que possuem site de compras coletivas, foi a familiaridade e a dependência que os mesmos possuem da Internet. Todos os respondentes dizem-se usuários assíduos do mundo on-line. E5: “Não tentaria empreender de outra forma não abriria uma loja física, não tenho muita vontade de ter um negocio fora do mundo online, minha praia sempre foi, minha vida sempre foi internet” E7: “Eu utilizo a internet desde a hora que eu acordo ate antes de dormir. Eu sempre trabalhei e sempre gostei disso” E8: “Internet hoje em dia é tudo. É o meio de comunicação mais importante” Identificar uma oportunidade é um processo delicado e requer muita habilidade por parte do empreendedor. De nada vale identificar uma nova ideia, se não souber como desenvolver e levar essa ideia adiante em forma de um negócio. Na verdade, o segredo está em detectar uma necessidade em um segmento ainda mal explorado, além disso, conseguir ser o pioneiro na implementação da mesma. Enfim, o empreendedor deve ter o feeling para conseguir ser o primeiro a explorar estes segmentos e assim conseguir ter sucesso em seu novo empreendimento (DORNELAS, 2001). 8 Em ambos os grupos, tanto de varejo virtual quanto de compras coletivas, as questões que levaram a identificação da oportunidade ficaram divididas entre uma visão empreendedora e tendência de mercado. E1: “Eu recebi um convite do Terra para abrir uma loja virtual, eles estavam fazendo uma pesquisa, eles precisavam de uma loja de bebidas na internet” E2: “Em 2005 a gente começou a ver alguns movimentos e eu vi as lojas fazendo sucesso já no virtual [...] O fator decisivo foi estar a frente com um novo canal de vendas que seria o virtual, olhando para o futuro. Ninguém na época no Brasil sabia o que ia acontecer, porque era uma novidade” E4: “Foi combinado o espírito empreendedor mesmo, uma pontada de empreendedor no meio novo, aliado a um conhecimento de negócio que eu já tinha [...] 'Bom, já que tá tendo oportunidade legal na internet, todo mundo tá falando, eu vou tentar vender as revistas em quadrinho pela própria internet'” No caso do varejo virtual, o primeiro entrevistado foi impulsionado por terceiros que ofereceram a oportunidade, o segundo empreendedor analisou o mercado como um todo, observando as tendências internacionais e sua viabilidade no contexto nacional, já o terceiro abriu a sua loja virtual pela sobrevivência diante de seus concorrentes e o último foi por questão de necessidade e comodidade que a internet oferecia. 3.2.2 Atração do publico alvo Essa categoria envolve todos os aspectos tangíveis e intangíveis que a loja virtual oferece para atrair seus possíveis clientes. Através da análise, foi possível verificar que é imprescindível no mundo virtual passar credibilidade e segurança para os clientes, já que esses não tiveram a experiência de contato físico com o produto e não estão presentes na loja física para se assegurar na hora de transferir seus dados pessoais e bancários no ato da compra. Salvador (2010) comenta a importância de o negócio virtual ser facilmente encontrado, possuir usabilidade e ser simples e claro em suas operações desde a implementação. Para Deitel, Deitel e Steinbuhler (2004, p.25) A loja virtual “[…] combina processamento de transações, segurança, pagamento on-line e armazenamento de informações". Além disso, Reedy e Schullo (2007) consideram que, a loja virtual possui um alcance mundial e acessibilidade ininterrupta a qual os outros tipos de mídia não conseguem alcançar. E1: “O que eu busco me diferenciar é na qualidade do atendimento, porque muitos clientes ligam para perguntar, acessam o site mas não gostam de fazer a compra pela internet por questões de segurança” E2: “A partir do momento que você entregou aquela compra no prazo que você deu, entregou um produto bom, bonito, bem feitinho,você adquire naquele a credibilidade e a segurança d o seu cliente [...] No site como atrativo nos dividimos em até 10 vezes, a primeira troca é grátis ‘pois como a pessoa sabe se vai servir mesmo?’, e nas comprar acima de R$99,99 o frete é grátis que acho que é o principal chamariz” E3: “A gente tem que passar segurança. Então aqui embaixo no site você tem os selos de site blindado, seguro [...] Todas essas empresas mostram confiabilidade na empresa que somos nós [...] A gente tem outlet, produtos de frete grátis, nós temos parcelamento até 10 vezes sem juros” De acordo com os entrevistados do varejo virtual, o fundamental para atrair o seu publico alvo é a segurança durante a transação, a confiabilidade na entrega e oferecer facilidades, seja no pagamento, devolução ou entrega. Também foi citada a importância de manter um canal de comunicação direto com seus clientes a fim de passar credibilidade e tornar-se acessível. Para driblar essa falta de segurança, existem meios que asseguram o consumidor, como os selos de certificação, certificado digital e cadeados de criptografia (SALVADOR, 2010). Ao analisar o grupo de compras coletivas notou-se que a maioria das estratégias de atração do público alvo se encaixavam na categoria diferencial dos concorrentes. Isso se deve 9 a dinâmica do setor, que por ser novo e com grande número de novos entrantes, as empresas procuram atrair novos clientes por descontos agressivos e seleção das melhores marcas no seu portfólio, sempre em comparação com a concorrência. E5: “Trazer grandes lojas, grandes marcas e colocar isso com um desconto agressivo, como uma oportunidade tentadora pra atingir nosso publico alvo” E6: “[...] se diferenciar dos caras e sempre ter as melhores marcas. O cara que tem as melhores marcas, tem os melhores consumidores e por ai vai. Esse que é o negocio” E7: “O nosso produto já é um atrativo porque como a gente oferece um valor diferenciado, isso acaba se tornando uma atração” E8: “O nosso diferencial é o que seria a parte mais agressiva das promoções [...] é realmente em cima do preço” 3.2.3 Fidelização do Cliente Felipini (2011) argumenta que somente estar na rede não é suficiente, a grande vantagem competitiva é fidelizar os seus clientes. O que significa que mais importante do que atrair o público alvo é mantê-lo fiel à empresa, tornando os clientes ativos. E1: “A loja que tem que ser renovada, modernizada, os preços tem que estar sempre sendo atualizados [...] Rapidez na entrega é o que busco, uma loja em que a pessoa se sinta segura, confortável, então a gente está sempre fazendo mudanças” E2: “Nossa ideia é realmente fidelizar os nossos clientes já existentes e buscar novos [...] As pessoas tinham uma desconfiança, mas quem comprava ficava fiel porque sabia que aquela empresa ia entregar [...] e hoje se você não entrega, tem outras empresas surgindo” E4: “Se você conquista um cliente e atender bem, ele provavelmente vai ser seu cliente por um bom tempo” Os entrevistados do grupo de varejo virtual justificam que a atenção ao cliente é considerada uma vantagem competitiva a qual estimula retenção e demonstra estar alinhado com as necessidades de seu publico alvo. Também é preciso manter a loja virtual atualizada pois a internet é um meio de decisões instantâneas onde os erros fluem rapidamente. Além disso, é necessário manter o seu compromisso com o cliente, através de uma logística eficaz e qualidade no atendimento. 3.2.4 Oportunidade do Negócio Virtual Para Dornelas (2001), as oportunidades estão mais relacionadas em como o empreendedor consegue perceber determinada situação, ou seja, ele tem que saber observar detalhes que à visão de outros passariam despercebidos. Na avaliação de uma oportunidade, é de extrema importância ter o mínimo de conhecimento a respeito do negócio que se pretende montar a fim de aplicá-la corretamente. Há alguns aspectos característicos da internet que proporcionam ao negócio virtual uma grande mobilidade. Por si só, a Internet é um poderoso canal que centraliza informação e comunicação disponíveis a todos os usuários. Para Turban e King (2004) o comércio eletrônico é sem fronteiras, ou seja, quebra barreiras geográficas, amplia o leque de clientes e fornecedores, possibilita a interação e comunicação em âmbito mundial e facilita a pesquisa de preços mais adequados ao negócio. Salvador (2010, p.15) complementa “nenhuma loja no mundo físico consegue estar aberta para mais de 60 milhões de consumidores, 24 horas por dia, 7 dias por semana”. Turban e King (2004) ressaltam outro ponto forte do comércio eletrônico: a interatividade. Essa comunicação é fundamental para que haja uma entrega de valores, podendo oferecer ao cliente desde produtos customizados até atendimentos personalizados. Souza (2009, p. 52) completa “[...] consumidores e compradores têm menos tempo e mais informação, ou seja, poder. Conseqüentemente valorizam conveniência, praticidade, flexibilidade e comparam, a cada transação, propostas de valor na sua escolha [...]” 10 E2: “Se uma empresa quer existir, ela não pode só existir na loja física, ela tem que existir no mundo virtual porque é a única maneira dela aparecer como uma empresa mais respeitada, um canal de venda sério, forte e mais sólida [...] Ter uma visibilidade, foi pensando maior [...] Em termos nacionais” E3: “Então esse é o crescimento, a necessidade, é importantíssimo você estar voltado para isso. O fator é o crescente gradativo de informações” E4: “Porque muitas das vendas que se faz na loja física são graças a pessoas que viram o site e não fecharam o negócio, isso é muito comum. Então na verdade o impacto da internet possivelmente é maior do que se consegue mensurar [...]” De acordo com os entrevistados do varejo virtual, a inserção no mundo virtual, eleva a imagem da loja tradicional a outro patamar na visão de seus clientes. O impacto que a Internet proporciona é convertido em visibilidade e alcance mundial, o qual nenhum outro meio consegue atingir na mesma rapidez. Outro ponto citado é a dimensão que esse canal pode atingir, expandindo de acordo com a necessidade, o que torna o crescimento da loja virtual mais ágil, diferente de uma loja física. Ao analisar as respostas dos entrevistados de compras coletivas, constata-se que, em sua maioria, foram seguidas tendências de mercado, porém em alguns casos houve uma visão empreendedora onde ocorreu a segmentação dos sites de compras coletivas. E5: “A gente fez um estudo e detectou que 70% dos compradores virtuais de compras coletivas eram do público feminino. A gente se perguntou por que não criar um segmento focado no que as mulheres gostam [...] os serviços ofertados pelos sites de compras coletivas eram muito restritos, era muito ofertado serviços e não produtos físicos em si” E6: “No Brasil não tinha esse modelo de negocio. Nós fomos os primeiros” E7: “Justamente essa parte de focar o site, segmentar no turismo foi uma visão ainda maior porque na época ainda não tinha nenhum site que era verticalizado [...] Era uma tendência já mundial esse negocio de compras coletivas, tava no começo no Brasil [...] E justamente essa parte de focar o site, segmentar no turismo foi uma visão ainda maior porque na época ainda não tinha nenhum site que era verticalizado” Observa-se também que o fator financeiro é um importante quesito para os novos empreendedores do meio digital, onde os números são observados levados em consideração antes de se aventurar no mundo a Internet. E5: “O grande crescimento de usuários e compradores... compradores por site de ecommerce, isso ai é uma coisa que vem aumentando gradativamente a cada ano e aumentando muito. E outro ponto principal é o crescimento das classes mais baixas que vem alavancando bastante os números de faturamento de sites de e-commerce e isso foi um dos fatores mais positivos pra gente” E6: “Então tem essa coisa de tipo em um mês vender 30 mil cupons, se fosse uma loja você não conseguiria nunca. Uma única loja, num único bairro” E8: “Comecei a ir atrás, pesquisar, ver como é que era a formatação desse negócio [...] Foi basicamente pelo fato de eu poder estar girando dinheiro numa quantidade de tempo menor” O mercado de e-commerce é relativamente novo, em relação a isso, Felipini (2011) ressalta que para os empreendedores com uma visão mais moderna, os segmentos de porte pequeno ou que ainda não possuem maturidade representam uma grande oportunidade de negócio a ser explorada. 3.2.5 Barreiras e dificuldades Num ambiente o qual a concorrência não ocorre somente em âmbitos nacionais, essa análise é imprescindível, pois a acessibilidade está crescente e a falta de fronteiras existente nesse canal dificulta a logística e entrega desses produtos. Tratando-se da competitividade do ambiente de vendas on-line é preciso compreender todos os aspectos que favorecem ou não o empreendedor nesse mercado. Por mais atrati11 vos que uma loja virtual apresente, o empreendedor deve considerar que haverá desvantagens, e se essas não forem conhecidas previamente, enfrentará sérios riscos, tais como a comparabilidade dos preços e produtos oferecidos na web. O fluxo excessivo de informação e a agilidade da comunicação, tidos como oportunidades que a Internet fornece, podem ser fatais para uma empresa que é difamada na rede, além disso, a usabilidade da Internet permite que os consumidores tenham acesso a milhares de negócios on-line em apenas um click, portanto, se ele não encontrar facilmente o que deseja em uma loja virtual ou tiver dificuldades para finalizar a sua compra, rapidamente ele já terá acesso ao concorrente (FELIPINI, 2011). De acordo com Reedy e Schullo (2007), quando o uso da Internet era exclusivo para a troca de informações, a segurança era dispensável, pois dificultaria o compartilhamento, porém, com o surgimento do comércio eletrônico, a segurança na Internet passou a ser o principal motivo de desconfiança por parte dos consumidores. Salvador (2010) cita que esse receio é uma barreira comumente imposta pelo expressivo número de fraudes que ocorrem no mundo digital. Para Deitel, Deitel e Steinbuhler (2004, p.128) “há quatro requisitos fundamentais para uma operação segura e bem sucedida: privacidade, integridade, autenticação e não repudiação”. Para se obter êxito no e-commerce, é necessário que o empreendedor esteja atento a todos as características do negócio e suas implicações, não deixando passar nenhum detalhe ou falha pois, na Internet erros são rapidamente divulgados. E2: “A própria barreira foi interna, foi a credibilidade porque ninguém acreditava. Tivemos um problema com a própria direção da empresa que não acreditava [...] Falta muita tecnologia, estrutura para a gente chegar num patamar mais profissional, que possa ser mais competitivo a um nível mundial [...] Hoje a mão de obra está custando muito caro, os profissionais especializados no mundo e-commerce são caríssimos que as vezes não tem todo esse expertise aí, mas como a falta desses profissionais faz encarecer o mercado” E3: “Hoje, todos os meus concorrentes direto e indireto têm site de compras para vender para o Brasil [...] A gente já tem uma empresa terceirizada que desenvolveu o site para nós mas para isso nós tivemos que fazer um baita de um investimento [...] Contratar outra empresa para integrar tanto o software da loja física com o sistema do site e isso foi a maior complicação porque se demora muito [...] Pensar em várias coisas internas. Toda a montagem da estrutura de um site até o desenvolvimento de marketing é bem complexo” Outro fator citado pelos entrevistados de varejo virtual é o alto investimento em mão de obra especializada, que ainda necessita atingir maturidade para suprir a necessidade das empresas de e-commerce. No caso do grupo de compras coletivas, essa barreira de custos também foi apontada, principalmente no que se refere a mão-de-obra, além do investimento inicial. As demais dificuldades encontradas se referem ao caso específico do empreendedor, não é abrangente ao segmento, como por exemplo, o entrevistado 5, que não tinha aberto um negócio anteriormente e indica questões burocráticas legais e jurídicas como uma dificuldade, porém não é relevante para ser abordada na pesquisa. E5: “Como toda start up, tem um grande problema que é muito comum para esse segmento, que é a falta de verba [...] A gente viu que precisa mesmo investir, precisa mesmo de dinheiro para fazer as coisas acontecerem” E6: “O investimento inicial é alto porque você precisa contar com pessoas muito boas e esse mercado ta aquecido, então as pessoas boas tão caras. Se você pegar um bom programador é caro, se você pegar um bom cara de marketing de performance é caríssimo, a equipe de vendas é cara” 12 E8: “As principais barreiras foram principalmente na área comercial [...] formar uma equipe de vendas foi o maior desafio [...] os agregadores principalmente o Saveme subiu muito os preços, quase uns 50%” Segundo os entrevistados, a tendência para o setor de compras coletivas é que essa dificuldade de investimento aumente até que permaneça no mercado somente as empresas que tem o folego e capital para continuar investindo. E5: “A internet hoje é a grande realidade que não é mais promissora, já é mais que um boom, já passou dessa etapa e é totalmente decisiva na escolha de um novo negocio.” E6: “Não acredito que compras coletivas é só uma onda, acho que o negócio vai ser reinventado, ele vai sempre se adequando [...] vai se aperfeiçoar a cada ano [...] chegamos ao numero de 2700 sites e hoje tem 1800 mais ou menos, e aí todos partem pras mesmas premissas, que é fazer o que um fez e deu certo e imitá-lo. [...] acho que o Brasil vai ter 5 players, 5 grandes empresas que vão se manter e vão ter uns caras que vão ficar pilhando aí pra entrar na beirinha (sic) mas que nunca vão conseguir se manter porque não conseguem pagar o que eles pagam em marketing on-line, que ficou muito caro.” 3.2.6 Diferenciação dos concorrentes Reedy e Schullo (2007) reforçam a ideia de diferenciação e vantagem competitiva, já que muitos clientes confiam em empresas que possuem o seu lugar na rede. Durante a escolha da oportunidade, devem ser considerados os fatores que a interferem, e podem torná-la, ou não, mais atraente. A análise é feita em parâmetros internacionais e os fatores a serem avaliados são: sazonalidade, efeitos da situação econômica, controle governamental, disponibilidade de insumos, ciclo de vida do setor, lucratividade, mudanças que ocorrem no setor, efeitos da evolução tecnológica, grau de imunidade à concorrência, adequação às características individuais e potencial de lucro e crescimento (DOLABELA, 2008). E3: “Depende da base de contatos, de mailing que você tem, de trabalho que você vem fazendo [...] A nossa plataforma é totalmente flexível e ela acaba suprindo todas as necessidades que a gente tem, incluindo todas as ações de marketing, comprou ganhou, combos, parcerias [...] A gente tem toda uma gama por trás de ações que pode ser divulgado para os nossos clientes” E4: “A gente viu que tinha uma oportunidade também de trabalhar com a loja física, de ampliar os negócios então, ai que surgiu a loja física, foi após a inauguração da loja virtual [...] Sem a loja física não tem como você ir lá e reclamar, então a loja física é o diferencial da loja virtual” Com base no conteúdo das entrevistas de varejo virtual observa-se a importância de ter uma plataforma que atenda as necessidades da loja virtual, para que assim, ocorram às mudanças necessárias sejam essas pontuais como ações promocionais ou significativas como a expansão da loja virtual. Também foi considerado, por um dos entrevistados, como diferencial dos concorrentes, ter uma loja física além da loja virtual pois além de passar credibilidade ao cliente também se torna necessário para que haja a experiência de contato no ato da compra dependendo do grau de sensibilidade do produto ofertado. Na análise do grupo compras coletivas, as categorias diferencial dos concorrentes e fidelização dos clientes foram unidas porque como este setor começou há pouco tempo ainda não há estratégias relevantes de retenção dos consumidores, são mais fortes em atrair para determinadas ofertas. As estratégias adotadas tem o objetivo de se diferenciar dos concorrentes, para assim atrair o publico alvo, como já citado. E5: “O grande diferencial é você conseguir atender o seu negocio, você ofertar, vender e atender a demanda que geralmente é bem sazonal [...] eu acho bem importante é você estar sempre inovando” 13 Por considerarem ter as melhores marcas como atração, os empreendedores criaram alguns diferenciais em relação a concorrência para os parceiros comerciais, e os benefícios da inovação criada impacta os dois lados: consumidores e marcas. E5: “a gente selecionou 10 principais blogueiras, influenciadoras da internet para estarem falando bem da gente, pra estar divulgando nossas ofertas, e a gente acreditou que essas pessoas poderiam alavancar nossos negócios [...] isso que vem garantindo o sucesso do (Empresa 5) hoje, são essas pessoas que dão um grande aval pra gente ficar bem conceituado com o nosso publico e consequentemente isso gera uma boa audiência, gera receita.” E6: “Nosso grande sonho é que a loja de moda não tenha mais aquele off com adesivo na loja, que o off seja a gente [...] hoje você coloca uma oferta, ela fica no ar por um período mínimo de 24 horas, podendo ficar mais um tempo, e depois você compra o cupom que vale por um ou dois meses. A ideia é mudar totalmente esse paradigma, você ter um aplicativo mobile com geolocation [...] Não tem repasse nenhum ao parceiro, logo não tem divida nenhuma.” 3.2.7 Meios de divulgação Para a divulgação do varejo virtual, escolher os meios mais eficazes de atingir o público alvo desejado, e segmentá-los por sexo, região, interesses e faixa etária, faz diferença no resultado final. Anunciar nos meios direcionados ao seu público específico, escolher as palavras certas para os sites de buscas e trazer possíveis clientes são investimentos que possivelmente trarão retorno. E1: “Nós usamos e-mail marketing, já fizemos propaganda em revistas que é marketing tradicional, nós temos um perfil no Twitter e no Facebook que não está sendo tão divulgado... nós temos link patrocinado no Google também” E3: “A gente tem esse fator e a gente procura estar sempre interagindo através das nossas redes sociais, soltando e-mail marketing de novidades, de ações de promoções [...] Hoje a gente não está só com o e-commece, a gente também está com as redes sociais. Se você entrar no site, você vai que nós estamos em todas as redes sociais: Twitter, blog, Facebook, Orkut” E4: “Acho que é porque as redes sociais estão começando também sabe, mas mais pra frente terá retorno, mas dá um resultado mais do pessoal descobrir que você existe, mas não converteu muito em venda ainda [...] Faço Google Adwords, mas hoje até diminuiu bastante porque a gente está com um resultado em busca orgânica excelente, então é muito melhor, mas isso é graças a essa nova plataforma ai que ela realmente conversa bem com o Google” De acordo com os entrevistados de varejo virtual, o diferencial é focar no meio correto para atingir o público alvo. Como tendência foi citada a interatividade do site com seus clientes e foco nas redes sociais, já que grande parte dos consumidores virtuais passam um tempo significativo nessas páginas. Ao responderem à pergunta sobre as ferramentas de marketing utilizadas para divulgar os sites de compras coletivas, todos os entrevistados foram enfáticos e disseram que as mídias sociais, hoje em dia, é a forma mais eficiente de se promover um negócio digital. Observamos também que salvo ações de marketing temporárias, o maior foco de divulgação dos sites é a mídia digital. E5: “Estar sempre ligado nas mídias sociais também, hoje em dia é um fator que não se pode mais ser esquecido, tem que estar sempre conectado com as usuárias, ter uma relação bem aberta, bem verdadeira.” E6: “Nós temos um time mega guerreiro que é o FaceMedia, esses caras são tipo os campeões hoje de marketing de guerrilha online, tanto via Twitter quanto Facebook [...] A ação na televisão foi uma ação pra ganhar cadastro”/ “mas o que mais vem pra gente de marketing é Saveme e o Facebook. O Saveme é a maior alavanca pra gente, é caro mas é bom” E8: “A gente usa todas essas mídias sociais, Facebook,”/ “É só mídia digital que a gente faz. Mas é isso, é agregadores e mailing” 14 Nota-se que os entrevistados 6, 7 e 8 mencionam os agregadores de ofertas (Saveme), que nada mais são do que sites que juntam todas as ofertas dos sites de compras coletivas e possibilita que o usuário encontre todas as ofertas disponíveis no momento. Identificou-se também que alguns entrevistados utilizam de ações de marketing feitas pelos próprios usuários do site onde esses ganham alguma espécie de bônus ao contribuir. E5: “A gente tem um programa bem interessante que é um programa de bônus, que premia as nossas usuárias por indicação. É um programa de sucesso no site” E6: “Member-at-member, as pessoas poderiam divulgar uma pra outra e todo mundo ganha dinheiro com isso” 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa foi desenvolvida com o propósito de responderão seguinte problema: Qual é a influência exercida pelo comércio eletrônico sobre a percepção de oportunidades de negócios virtuais, na visão dos empreendedores? Com base no conteúdo das entrevistas realizadas, as quais foram divididas em dois grupos: varejo virtual e compras coletivas, foi possível elaborar matrizes de amarração que embasaram a análise dos resultados da presente pesquisa juntamente com o referencial teórico. A análise consistiu em identificar o perfil dos empreendedores virtuais e as duas diferenças significativas de acordo com o modelo de negócio que atuam; verificar os principais atrativos desses negócios virtuais e suas barreiras de entrada, reconhecer quais serão as tendências aplicáveis aos empreendimentos eletrônicos e por fim, identificar quais as estratégias adotadas pelos empreendedores para se diferenciar de seus concorrentes. Esses objetivos se justificam pelo rápido crescimento do comércio eletrônico nos últimos anos e o impacto que a Internet possui com o seu alto grau de acessibilidade. Antes de entrevistar os empreendedores, era presumido que o comércio eletrônico influenciava a percepção de oportunidades de negócios virtuais por sua facilidade e baixo investimento aparentes, percebidos principalmente por um usuário ativo da Internet. Entretanto observou-se que o principal fator que levou a abertura do negócio virtual foi a abrangência possibilitada pela Internet e a adaptação a nova realidade de mercado. Além disso, pode-se perceber que empreendedores com baixa participação na Internet no nível pessoal apontaram como dificuldades questões relacionadas ao conhecimento do novo ambiente de negócio, por não estarem acostumados a realidade virtual que exige ação e reação imediatas. Já os empreendedores “conectados”, em sua maioria mais jovens, estão familiarizados a essa dinâmica, não só no ambiente comercial como no seu cotidiano, e até a consideram como uma vantagem do mercado eletrônico em relação ao tradicional. Atrelado a esse argumento é possível compreender por que os sites de compras coletivas são construídos na maior parte por empreendedores mais novos. A pesquisa contribui com a teoria, já que identificou vários aspectos que os empreendedores, jovens em sua maioria e, sobretudo aqueles que desenvolvem soluções contemplando o comércio eletrônico e negócios virtuais podem e devem levar em conta quando resolvem desenvolver este tipo de empreendimento. O comércio eletrônico e as organizações virtuais e suas características marcantes como a flexibilidade, agilidade e a alta utilização da tecnologia da informação apresentam-se como uma excelente oportunidade aos empreendedores. Adicionalmente pode-se concluir que ainda existem muitos segmentos de mercado dentro do mundo digital para serem explorados. O empreendedorismo na Internet permite testes de viabilidade antes da operação de um site e mudanças constantes do negócio de acordo com o aprendizado adquirido pelo empreendedor, ou seja, é possível corrigir os erros de percurso. Em uma loja física tal flexibilidade não existe sem custos e demora da implementação. Em contrapartida, o comércio eletrônico apresenta algumas inconveniências que não são comuns ao comércio tradicional, como já citado anteriormente, porém não é aplicável considerá-las ao mercado virtual como um todo, e sim de acordo com o segmento de mercado. 15 Os resultados relatados são típicos da amostra utilizada e não permite maiores generalizações, contudo, podem ser de grande valia para novos empreendedores dos mais variados mercados. Sua continuidade deve ser então encorajada, pelo uso de amostras maiores, ou, por meio de outras técnicas de análise, como a técnica Delphi. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2007. BOLSA DE OFERTAS – Bolsa de Ofertas – Disponível em: <www.bolsadeofertas.com.br> Acessado em 18/11/2011. CECCONELLO, A.R.; AJZENTAL, A. A Construção do Plano de Negócio. São Paulo: Saraiva, 2008. DEITEL, H.M, DEITEL P.J., STEINBUHLER K. E-business e e-commerce para administradores. São Paulo: Pearson, 2004. DIAS, S.R. Gestão de Marketing. São Paulo: Saraiva, 2006. DOLABELA, F. O Segredo de Luísa. Rio de Janeiro: Sextante, 2008. DORNELAS, J.C.A. Empreendedorismo: transformando idéias em negócios. Rio de Janeiro: Campus, 2001 DRUCKER, P.F. Inovação e espírito empreendedor (entrepreneurship): prática e princípios. São Paulo: Pioneira Thomson, 2003. EBIT WebShoppers. 25. ed. Disponível em: <http://www.webshoppers.com.br>. Acessado em 05/04/2012FELIPINI, D. 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