TM Rio 2016 Ernst & Young agora é EY. Desenvolvimento do gás natural no Brasil Desenvolvimento do gás natural no Brasil | 1 Índice 2 | Desenvolvimento do gás natural no Brasil 1. Contexto internacional da indústria de gás natural 4 2. Contexto atual da indústria brasileira de gás natural 10 3. Projeções da produção de gás natural no Brasil 14 4. Proposta para a indústria brasileira de gás natural 18 Desenvolvimento do gás natural no Brasil | 3 1. Contexto internacional da indústria de gás natural Neste início de século XXI, o gás natural vem ganhando cada vez mais relevância. A sua crescente participação na matriz energética mundial, o boom da produção norte-americana de gás não convencional, novas reservas descobertas na Argentina, Brasil e Austrália, o pré-sal brasileiro e a costa leste africana impulsionam um cenário de crescimento para o gás natural nos próximos anos. 1 4 | Desenvolvimento do gás natural no Brasil O grande norteador para o aumento da demanda global continuará sendo o uso do gás na geração de energia, seja para climatização, seja para energia elétrica. Também relevante, encontra-se a utilização do gás e líquidos do gás natural como matéria-prima para uso na indústria (petro) química. Outro uso que vem crescendo é o do gás natural no setor de transporte, com a substituição do diesel pelo GNL para veículos pesados e o GNC substituindo a gasolina para veículos leves, inclusive alguns modelos de carros híbridos. Os Estados Unidos estão a caminho da autossuficiência em petróleo e gás natural, o que impacta diretamente a oferta e demanda desses energéticos no mercado global e no cenário geopolítico, em especial no Oriente Médio. No gráfico 1, podemos observar que a Ásia é a região que apresenta o maior crescimento na projeção de produção de gás natural do EIA (Energy Information Administration, EUA). Esse movimento está sendo impulsionado principalmente pela Austrália, seguido pela China e pela Índia. Os dados apresentam a África em segundo lugar, com um crescimento de quase 40% no período 2013–2020, produto de investimentos programados para aquela região. 100% 5.000 90% 80% 70% 3.117 3.232 3.345 3.402 3.485 3.620 4.022 3.864 3.742 4.183 4.318 4.500 4.000 3.500 60% 3.000 50% 2.500 40% 2.000 30% 1.500 20% 1.000 10% 500 0% 2010 2011 2012 2013 2014E 2015E 2016E 2017E 2018E América do Norte Oriente Médio América Latina Ásia África Europa 2019E 2020E Global Gráfico 1 | Projeção de produção de gás natural Bm3 (bilhões de metros cúbicos) 0% Fonte: EPE Países 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 África 205,2 198,2 197,2 192,4 196,2 211,7 227,6 239,0 250,5 256,9 269,0 Ásia 493,7 496,9 500,9 521,9 557,2 615,1 647,5 679,6 719,4 752,8 776,2 Europa 975,5 1.002,9 1.045,1 1.054,9 1.062.0 1.070,1 1.081,9 1.096,5 1.122,9 1.149,7 1.168,5 América Latina 239,3 240,7 251,8 259,7 266,8 274,9 282,2 289,9 298,4 307,8 317,2 Oriente Médio 441,3 491,8 520,8 539,5 562,4 587,9 611,5 628,5 650,7 671,4 691,1 América do Norte 756,5 796,1 824,2 828,2 835,7 855,2 886,2 925,2 975,2 1.039,1 1.090,5 Desenvolvimento do gás natural no Brasil | 5 O gás natural representa 24% do consumo da energia primária no mundo, configurando-se na fonte que apresenta o maior crescimento para os próximos 20 anos. Quando pensamos no gás não convencional, há muitas incertezas sobre as possibilidades da exploração no médio e curto prazo. A regulação do upstream e as condições de licenciamento ambiental impactam diretamente a viabilidade de exploração do mesmo. Ademais, os altos investimentos em infraestrutura podem agravar esse cálculo de viabilidade. Por outro lado, os números potenciais de volumes de gás recuperáveis são elevados, sendo que a China, a Austrália e a Argentina apresentam grande potencial, além dos EUA, Canadá e México. No que se refere ao processamento e ao transporte de gás natural, a grande disponibilidade de gás no mercado está promovendo o desenvolvimento de tecnologias eficientes, como a liquefação de grande porte, a liquefação de pequeno porte, o gás comprimido, as unidades modulares e flexíveis de processamento e compressão, além de pesquisas em novas fronteiras, como o LNG Lite. Todos esses fatores refletirão na competitividade do gás natural, contrariando, no futuro, a lógica de preços estritamente regionais. O aumento gradativo do comércio mundial por meio do GNL e o início efetivo da exportação em grande volume de EUA/Canadá e Austrália tendem a mudar, na segunda metade desta década, as lógicas até agora observadas no comportamento de preços do gás natural nas diversas regiões, que tenderão a refletir muito mais as diferenças de custos logísticos para se atingir cada mercado do que exclusivamente as particularidades específicas de cada país. Esse cenário mundial que se descortina é resultante de quatro elementos intrínsecos do gás natural: é o mais “limpo” dos combustíveis fósseis, confiável, eficiente e abundante. Shale gas O shale gas no Brasil ainda se encontra numa fase embrionária. Neste ano (2014) devem começar as fases exploratórias nos campos com volumes de shale gas in situ que foram leiloados na 12ª Rodada (2013) da Agência Nacional do Petróleo (ANP). O governo sinaliza as oportunidades para o uso desses volumes na geração de energia termoelétrica nas proximidades dos potenciais poços produtores. Imagem 1 | Reservas globais de shale gas e shale oil Deve-se considerar que a combustão de gás natural emite significativamente menos dióxido de carbono (CO2) e dióxido de enxofre (SO2) do que a combustão do carvão ou petróleo. Quando usada em usinas de energia de ciclo combinado eficientes, a combustão de gás natural pode emitir menos da metade de CO2 que a combustão de carvão por unidade de produção de energia elétrica. Embora em novembro de 2013 a ANP tenha realizado o primeiro leilão (arrematados 72 blocos em cinco bacias) com foco em gás convencional e não convencional em terra, ainda existem grandes indefinições nas regras para a produção de shale gas no País. Um ponto de grande destaque dessa rodada foi a oposição de ambientalistas por conta de ainda não haver uma regulamentação clara de proteção ambiental. Por sua vez, o País precisa garantir as condições de infraestrutura básica, desde a construção de estradas para os locais de produção até a construção de ramais de gasodutos para que o gás possa chegar às eventuais térmicas. No entanto, existem algumas potenciais preocupações ambientais associadas com a produção de shale gas. O fraturamento de poços demanda grandes quantidades de água, o que, em algumas regiões do País, poderia afetar a disponibilidade de água para outros usos. Outro assunto importante é o fluido utilizado para o fraturamento hidráulico que, segundo os ambientalistas, contamina os lençóis freáticos. Para o Brasil, a experiência dos Estados Unidos poderia ser de grande utilidade, com o aprendizado dos erros e acertos norte-americanos para evitar potenciais problemas ambientais e sociais. Segundo estudo da EIA, o shale gas representa 32% das reservas tecnicamente recuperáveis consideradas em 42 países. No quadro a seguir podemos observar que o Brasil, embora esteja entre os dez principais mercados, conta com um volume de reservas bem distante das primeiras colocações (EUA e China). País Trilhões de m3 Estados Unidos 1.161 China 1.115 Argentina 802 Argélia 707 Canadá 573 México 545 Austrália 437 África do Sul 390 Rússia 285 Brasil 245 Demais países 1.535 Total 7.795 Quadro 1 | Reservas recuperáveis de shale gas Fonte: EIA/ARI Base avaliada com recursos estimados Base avaliada sem recursos estimados 6 | Desenvolvimento do gás natural no Brasil Fonte: EIA/ARI Desenvolvimento do gás natural no Brasil | 7 Essas estimativas possuem certo grau de incerteza. Porém, é sabido que os Estados Unidos recuperaram grandes volumes de shale gas em tempos reduzidos, chegando a representar 40% da sua produção de gás natural (2012). Essas experiências poderão servir como parâmetro para projetos em outras regiões, porém os parâmetros de custos locais e do tamanho dos campos terão impacto mais relevante. Gráfico 2 | Tamanho do 40 mercado de serviços para fontes não convencionais - EUA 35 Bilhões de dólares 30 25 20 15 10 5 0 2005 2006 Fraturamento hidráulico 8 | Desenvolvimento do gás natural no Brasil 2007 2008 2009 2010 Perfuração direcional 2011 2012 2013 Especialidades químicas O impacto do desenvolvimento de shale gas nos Estados Unidos manifesta-se em diferentes áreas, como na infraestrutura e mercados de trabalho, além dos esforços do governo no desenvolvimento de uma regulamentação correta. O quadro a seguir apresenta um resumo desses impactos: Infraestrutura Mercado de Trabalho Regulamentação do Governo Situação Experiência Ambiente O rápido crescimento da atividade econômica aumenta o número de trabalhadores, transientes, o apoio e as necessidades logísticas para as comunidades dentro do campo e dos locais da cadeia de suprimentos. Os campos de shale gas requerem toda a expertise disponível para sua produção e na prestação de serviços (logística, administração). O atividade de exploração de shale gas pode impactar o ar, água, terra e infraestrutura básica. Esses elementos se enquadram em diferentes leis e áreas de influência. Complicação Educação Complicações Muitas comunidades são pequenas e incapazes de lidar com o grande número de pessoas; serviços básicos tornam-se tensos ao ponto de ruptura. O ritmo da "utilização e desgaste normais dos serviços" aumenta exponencialmente. Escolas e universidades terão de concentrar-se rapidamente na formação profissional para atividades nos campos industriais e de gestão de resíduos, bem como no desenvolvimento de habilidades de engenharia e gestão. Muitos Estados e localidades manifestarão as necessidades dos cidadãos por meio de representantes locais (às vezes) mal informados. Embora essas pessoas não sejam os proprietários ou investidores dos recursos, eles têm a capacidade de influir no trabalho (sindicatos locais, organizações comunitárias). Impactos Impactos $ Impactos A pavimentação das estradas, apesar de importante, nem sempre é concluída. Alojamentos temporários podem não ficar prontos em tempo. Escassez de escolas e hospitais, que acabam sobrecarregados. Um motorista de caminhão pode ganhar entre US$ 100150 mil por ano (o mesmo que um engenheiro experiente ou um profissional com MBA em outros lugares). Várias cidades e localidades do Estado de Nova York proibiram a fratura hidráulica completamente. Os sindicatos de vários Estados negociam diretamente com as empresas de E&P para colocar pressão sobre as empresas de serviços e fornecedores. Desenvolvimento do gás natural no Brasil | 9 2. Contexto atual da indústria brasileira de gás natural Embora a história do gás natural no Brasil tenha se iniciado na década de 1950, sendo o seu principal destino o uso no setor industrial, só após os anos 80 (choque do petróleo) começaram a despontar a produção, com o desenvolvimento da Bacia de Campos e o consumo de gás natural. 2 10 | Desenvolvimento do gás natural no Brasil Já na década de 1990, na busca de alternativas, surge o Gasoduto Bolívia-Brasil como parte do programa de política energética que marcou a retomada da exploração efetiva das reservas de gás natural. Foi naquela época então que o governo brasileiro determinou a meta de elevar para 12%, até 2010, a participação do gás natural (hoje em 12,6%) na matriz energética brasileira. Por ser um setor relativamente pequeno e em crescimento, ainda é afetado por uma estrutura contratual, de logística e de produção que herdou os resíduos de um modelo monopolista (anterior à Lei do Petróleo de 1998). Essa situação deve ser enfrentada na busca de um modelo de competição, fundamental para o desenvolvimento da indústria, fortemente dependente de um gás competitivo. Gestão de investimentos custos elevados de infraestrutura Agente dominante verticalizado impede competição Falta de planejamento - visão de curto prazo Mercado de gás natural Lei do Gás ainda impede a quebra da estrutura vigente Preços não competitivos setor industrial prejudicado Dumping estrutural modelo de leilões dos excedentes Fonte: Gas Energy Esta não é uma estrutura somente visualizada na indústria de gás natural, mas reflete a situação existente no midstream e downstream do petróleo. O modelo estruturado na Lei do Petróleo de 1998 e repetido na Lei do Gás de 2009 não quebrou a estrutura monopolista existente, a não ser na exploração e produção do petróleo e gás. Mesmo a visão de uma agência reguladora fortalecida foi desestruturada nos últimos anos pela intensificação de um modelo que contaminou os preços relativos dessa indústria. Os dutos de transferência e transporte de petróleo e de derivados, os terminais de importação, exportação ou movimentação interna, as refinarias e os preços dos derivados são exemplos claros de elementos que são barreiras econômicas efetivas para a entrada de novos agentes nesse setor e que são repetidos no gás natural. Nessa indústria, a presença do agente praticamente monopolista na estrutura de produção, logística e participação na maioria das distribuidoras deriva em um controle do desenvolvimento do mercado e em uma paralisação das iniciativas dos agentes, levando ao aumento da concentração e à desistência no desenvolvimento das novas descobertas de gás não associado, Desenvolvimento do gás natural no Brasil | 11 O único setor com aumento de demanda foi o termoelétrico, sendo que este é apoiado em fortes desajustes do modelo utilizado que causam inúmeros problemas ao mercado. Gás natural não pode ser usado em mercados de dimensão tão pequena como o existente no Brasil, em complementaridade a algo aleatório, como a chuva. Esse processo levou a um profundo desajuste do setor, à inibição da nova oferta ao mercado e ao encarecimento desse energético para a indústria. O consumo de gás natural em 2013 cresceu 17,8% no Brasil, para cerca de 67,2 milhões de metros cúbicos por dia, estima a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), com a Petrobras batendo recorde de fornecimento do produto nacional ao mercado. Conforme dados do Boletim Mensal de Acompanhamento da Indústria de Gás Natural do governo federal, publicado em dezembro de 2013, o volume importado da Bolívia variou de cerca de 30 milhões a 32 milhões de metros cúbicos por dia em 2013. As cargas de GNL representam cerca de metade das importações da Bolívia, ou um terço das importações totais. 80 O mercado de gás natural aponta para um crescimento nos próximos anos no Brasil. O pré-sal, rico em gás natural associado ao petróleo, necessitará colocar no mercado o equivalente a novos 50 Mm3/d até 2020, volume superior aos atuais 43 Mm3/d de todas as outras bacias produtoras, sendo cerca de 20 Mm3/d de novos players. 16,50 16,56 17,21 32,52 41,36 18,31 30,20 2005 17,14 20,21 28,29 2004 21,22 40 21,15 50 41,86 60 16,73 70 20,37 Observa-se que o incremento nesse período ocorreu principalmente pela produção offshore (mar), que duplicou nesse período. Em terra, porém, a produção apresentou uma queda de 4%, finalizando o ano de 2013 com uma produção média diária de 20 milhões de m3. 16,84 Gráfico 3 | Histórico de produção de gás natural – milhões de m³/dia (Mm³/d) além de atrasos e desvios na comercialização do gás do pré-sal. Não é por outro motivo que o volume de gás natural consumido na indústria é praticamente o mesmo de 2007, enquanto a produção industrial bruta teve crescimento. Adicionalmente, novos volumes a serem confirmados poderão elevar a participação dos novos produtores para 25% no total de gás disponibilizado (nacional + importado), mudando drasticamente o ambiente desse setor no Brasil. As novas rodadas da ANP de 2013 incorporaram além disso novos players, ampliando o potencial de negócios no setor, levando a um cenário como o mostrado na figura a seguir. 56,43 53,89 10 49,11 20 46,34 30 0 Mar 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Fonte: ANP Terra A produção diária de gás natural no Brasil no último decênio (10 anos - 2004/2013) apresentou um crescimento de 66%, passando de uma média diária de produção de 46 milhões de m3 em 2004 para 77 milhões de m³ em 2013. Gráfico 4 | Importações de gás natural - milhões de m³/dia (Mm³/d) 43,0 45 40 29,5 30 25 20 21,1 23,4 25,5 Demanda reprimida Oferta excedente Preço inadequado Infraestrutura deficitária 27,3 26,9 Regulação desfavorável para a indústria 34,2 32,9 35 Nova oferta: Novos produtores pré-sal Monopólio do gás natural É preciso começar já a solucionar esses problemas para alavancar o crescimento industrial 22,2 15,5 15 Fonte: Gas Energy 10 5 0 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Tendo em vista a ainda baixa participação do gás natural na matriz energética nacional, pode-se afirmar que existe um grande potencial para a expansão da demanda de gás natural no Brasil. Entretanto, a realização plena desse potencial depende substancialmente de algumas mudanças na política energética do País e na estruturação de um plano para o setor do gás. Fonte: ANP 12 | Desenvolvimento do gás natural no Brasil Desenvolvimento do gás natural no Brasil | 13 3. Projeções da produção de gás natural no Brasil O setor industrial brasileiro vem apresentando um crescimento desacelerado nos últimos anos, motivado por questões de preços e infraestrutura. Contudo, espera-se que essa realidade possa mudar e o setor venha a consumir cerca de 43 milhões de m³/dia em 2022. Esse aumento representaria um crescimento em torno de 40% no consumo atual (2013). É esperado também um aumento representativo no consumo veicular. O setor de fertilizantes também apresenta uma importante representatividade no crescimento, uma vez que existem novas unidades previstas para os próximos anos. Gráfico 5 | Consumo total de gás natural milhões de m³/dia (Mm³/d) 160 140 120 Mm³/d 3 14 | Desenvolvimento do gás natural no Brasil O potencial de crescimento do mercado de gás natural no Brasil é enorme. Segundo a projeção de demanda da Gas Energy, o consumo de gás natural nos próximos oito anos crescerá cerca de 40%, totalizando um volume de 130 milhões de m³/dia em 2022, conforme revela o gráfico 5. Essa demanda prevê uma utilização média de cerca de 60% da capacidade de geração das usinas termoelétricas no Brasil. 100 80 60 40 20 0 2013 2017 Industrial (incl. cogen + MP) GNV Refino / Fertilizantes Geração térmica esperada Residencial / Comercial Geração térmica adicional 2022 Fonte: Gas Energy Produção A produção esperada de gás natural sofrerá restrições por conta de alguns fatores, como a oferta limitada de equipamentos, assim como a questão de cumprimento das exigências de conteúdo local e a falta de infraestrutura suficiente. Substanciais reservas de gás natural do Brasil e vastos recursos tecnicamente recuperáveis de shale gas sugerem um potencial significativo de crescimento ao longo da próxima década. O desenvolvimento da produção de gás associado no pré-sal terá um custo considerável, o qual pode vir a desestimular a atratividade dos investimentos das empresas produtoras. Os campos do pré-sal podem ser localizados a até 300 quilômetros da costa, resultando em custos de transporte substanciais. Há incertezas sobre o gás natural oriundo do pré-sal que será disponibilizado ao mercado, uma vez que a capacidade de reinjeção ainda é uma dúvida. Porém, a Gas Energy estima que parte significativa do gás estará no mercado a partir do início da próxima década. Desenvolvimento do gás natural no Brasil | 15 250 140 Gráfico 6 | Produção bruta de gás natural - milhões de m²/dia (Mm³/d) 120 200 Mm³/d 100 Mm³/d Gráfico 7 | Balanço oferta e demanda futura - milhões de m³/dia (Mm³/d) 80 150 100 60 50 40 0 20 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 0 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Campos em produção Campos em desenv. Libra Pré-sal ex-Libra 2019 2020 2021 2022 Blocos em expl. Fonte: Gas Energy Na projeção de produção da Gas Energy apresentada no gráfico 6, observa-se o decaimento dos campos atuais. Em contrapartida, existe a entrada de produção dos campos em desenvolvimento. Pode-se observar que o pré-sal torna-se uma fonte importante de oferta. Nesse período, os principais campos são Lula, Sapinhoá e os da cessão onerosa, como Franco e Florim. O campo de Libra tem pouca representatividade no período considerado, porém existem grandes volumes esperados para após 2022. Estima-se que o pico de produção de Libra possa atingir cerca de 40 milhões de m³/dia em 2024. Campos em produção Campos em desenv. Blocos em expl. Libra Pré-sal ex-Libra Bolívia GNL Total com despacho médio Fonte: Gas Energy O gráfico 7 apresenta o comparativo entre oferta e demanda. Nele observa-se o caráter complementar do GNL para atendimento da demanda. No gráfico está representada a capacidade máxima somada dos três terminais de recebimento (41 milhões de m³/dia). Observa-se que a importação da Bolívia se mantém relevante nos próximos anos, mas tem sua participação reduzida à medida que a produção do pré-sal aumenta. A partir de 2022, espera-se que o mercado brasileiro tenha capacidade de abastecimento da demanda (demanda termoelétrica de 60%) utilizando apenas a produção nacional. A projeção também considera uma estimativa de produção dos blocos atualmente em exploração. Contudo, é importante salientar que não se consideram nessa projeção novas rodadas nesse período, o que é pouco provável. 16 | Desenvolvimento do gás natural no Brasil Desenvolvimento do gás natural no Brasil | 17 4. Proposta para a indústria brasileira de gás natural Para olhar quais seriam as soluções estruturais para a organização de uma indústria saudável, segue um quadro referência da organização do gás natural em países relevantes: 4 18 | Desenvolvimento do gás natural no Brasil Brasil Argentina Espanha Reino Unido Estrutura da indústria comercialização Monopólio Competitiva Competitiva Competitiva Números de agentes comercializadores 01 -30 -30 Consumo per capita (m3/ha/ano - 2011) 136 1.142 696 1.278 Precificação molécula Indexado ao OC* Regulado Livres ligados aos contratos de importação via gasodutos ou GNL Livres competição Gas NBP - hub virtual Tarifas transporte Tarifa máxima Tarifa máxima Tarifa regulada Tarifa reguladas Integração ao longo da cadeia Verticalizada Desverticalizada Desverticalizada Desverticalizada Padrão Unbundling Jurídica Societária (60%) Societária Societária Marco regulatório Lei 11.909 de 2009 Lei 24.076 de 1992 A lei 34 de 1998 The Gas Act de 1995 Acesso à infraestrutura de transporte Livre acesso após período de exclusividade maior parte dutos após 2018 Livre acesso Livre acesso Livre acesso *OC: Óleo Combustível Fonte: Gas Energy Desenvolvimento do gás natural no Brasil | 19 Para uma estrutura ótima de mercado competitivo de gás natural, conforme nos mostra a experiência de outros países, uma alternatica possível seria combinar medidas tanto de ajuste regulatório, quanto de política energética, como de alguns mecanismos de indução e organização do mercado. Detalhando um pouco o que enxergamos como uma solução para a quebra do dilema “chicken and egg”, a sugestão é uma estratégia de organizar clusters-âncora de consumo de gás natural, que viabilizassem a primeira infraestrutura de gás natural dos novos produtores: • Construção de infraestrutura para trazer gás offshore (do mar) para a costa; • Dutos de transferência offshore, unidades de processamento de gás natural (UPGNs), logística de escoamento dos líquidos, dutos de transferências radiais na produção onshore; • Demanda de gás ancorada em: • Projetos térmicos a serem indicados pelo setor elétrico; • Projetos químicos e petroquímicos considerando estratégia de complexos; • Grandes projetos estruturantes (mineração, siderurgia, alumínio etc.) próximos à costa ou à produção onshore futura. • Preços de gás obtidos por intermédio de leilões com participação de vários produtores e esquemas organizados de backup de gás (solução para eventuais problemas operacionais de suprimento de gás). Fontes utilizadas: EIA: Energy Information Administration ARI: Advance Resources International MME: Ministério de Minas e Energia ANP: Agência Nacional do Petróleo O Gás Natural já ocupa uma importante participação na matriz energética brasileira, na ordem de 13%, com base no consumo do mercado veicular, o setor industrial e as termoelétricas. Cabe salientar que a maior parte das reservas está associada às de Óleo e que ambas são produzidas simultaneamente, fato que caracteriza a necessidade de que o gás natural seja produzido e consumido de forma regular, facilitando a produção de Óleo e principalmente, tornando mais viável economicamente sua produção, escoamento, tratamento e distribuição. No momento em que os membros atuantes na Indústria buscam maior integração, é oportuno que haja mais planejamento, sincronização e alinhamento de objetivos entre: (i) - Leilões de E&P; (ii) - PEMAT e (iii) - Leilões para contratação de energia, no Brasil. Quanto às ineficiências tributárias que ainda impactam negativamente, ao longo da cadeia de gás natural no Brasil, cabe ao Governo – União, Estados e Municípios, revisarem as questões de impostos incidentes nas fases de produção, transporte e distribuição. 20 | Desenvolvimento do gás natural no Brasil Desenvolvimento do gás natural no Brasil | 21 EY Auditoria | Impostos | Transações Corporativas | Consultoria Sobre a EY A EY é líder global em serviços de Auditoria, Impostos, Transações Corporativas e Consultoria. Nossos insights e os serviços de qualidade que prestamos ajudam a criar confiança nos mercados de capitais e nas economias ao redor do mundo. Desenvolvemos líderes excepcionais que trabalham em equipe para cumprir nossos compromissos perante todas as partes interessadas. Com isso, desempenhamos papel fundamental na construção de um mundo de negócios melhor para nossas pessoas, nossos clientes e nossas comunidades. No Brasil, a EY é a mais completa empresa de Auditoria, Impostos, Transações Corporativas e Consultoria, com 5.000 profissionais que dão suporte e atendimento a mais de 3.400 clientes de pequeno, médio e grande portes. Em 2012, a EY Brasil tornou-se Apoiadora Oficial dos Jogos Olímpicos Rio 2016 e fornecedora exclusiva de serviços de Consultoria para o Comitê Organizador. O alinhamento dos valores do Movimento Olímpico e da EY foi decisivo nessa iniciativa. © 2014 Ernst & Young Assessoria Empresarial Esta é uma publicação do Departamento de Marca, Marketing e Comunicação. A reprodução deste conteúdo, na totalidade ou em parte, é permitida desde que citada a fonte. ey.com.br ey.com/betterworkingworld #BetterWorkingWorld facebook | EYBrasil twitter | EY_Brasil linkedin | ernstandyoung app | ey.com.br/eyinsights Baixe o app EY Insights gratuitamente na Apple Store ou no Google Play e conheça nossos estudos e publicações.