Couv-Portugais 06/11/2002 9:54 Page 2 ★ ★★ ★ ★ ★ ★ ★ ★ ★★ ★ Comissão Europeia GUIA PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO DAS ÁGUAS RESIDUAIS ADAPTADOS A PEQUENAS E MÉDIAS AGLOMERAÇÕES (500-5.000 HABITANTES EQUIVALENTES) Aplicação da Directiva 91/271 do Conselho, de 21 de Maio de 1991, relativa ao tratamento das águas residuais urbanas 06/11/2002 INTRODUÇà O Couv-Portugais 9:54 Page 3 ”Ponta-de-lança” da política ambiental da Europa, o desenvolvimento sustentável implica para os seres humanos a necessidade de controlar as suas descargas domésticas e urbanas, na medida do possível, mediante técnicas naturais e económicas em energia. A Directiva " Águas Residuais Urbanas " de 21 de Maio de 1991 e, mais recentemente, a Directiva-Quadro sobre a água vieram lembrar a necessidade de um tratamento apropriado destas descargas para cumprir o objectivo de um bom estado ecológico das nossas águas. Nos anos 70, a França dotou-se de uma política ambiciosa de saneamento urbano e rural, apoiada financeiramente pelas Agences de l’Eau (Agências da Água) dispondo actualmente de 15 500 estações de tratamento, das quais mais de 6 000 têm um tamanho inferior a 2 000 equivalentes de população. Estas estações são, em geral, equipadas com processos extensivos de tratamento devido aos seus reduzidos condicionalismos técnicos e financeiros e à sua boa integração ambiental. A grande variedade das suas características locais faz da França um campo de experimentação em praticamente todas as situações existentes na Europa de um ponto de visto climático e geográfico, bem como no que diz respeito às características dos solos. Pela sua parte, a Direcção-Geral do Ambiente da Comissão Europeia pretende beneficiar dessa experiência e dela retirar os instrumentos de aconselhamento destinados a pequenas aglomerações, bem como, de experiências similares realizadas na União Europeia, algumas de entre elas apoiadas no âmbito de operações LIFE-Ambiente. A ideia da valorização dessas experiências, através de uma colaboração entre a Direcção-Geral do Ambiente da Comissão e, do lado francês, a Direcção da Água do Ministério da Ecologia e Desenvolvimento Sustentável e as Agências da Água, nasceu durante a recente presidência francesa. O presente documento representa o resultado do trabalho desde então realizado. Formulamos votos que o presente guia possa constituir uma ajuda útil para os autarcas e para os responsáveis dos serviços técnicos das pequenas e médias aglomerações europeias para que possam assim fundamentar as suas escolhas nas melhores bases técnicas e financeiras possíveis, com uma preocupação de integração ecológica e de desenvolvimento sustentável. Assim, consideramos que o presente documento poderá, à semelhança de outros, ilustrar o espírito do 6º Programa Comunitário de Acção em Matéria de Ambiente 2001-2010: " O Nosso Futuro, a Nossa Escolha " Prudencio PERERA Bernard BAUDOT Director Qualidade do Ambiente e dos Recursos Naturais Comissão Europeia Director da Água Ministério da Ecologia e Desenvolvimento Sustentável Informações suplementares sobre a União Europeia estão disponíveis na Internet através do servidor Europa (http://europa.eu.int). Pode encontrar uma ficha bibliográfica no fim deste documento. Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, 2001 ISBN 92-894-1690-4 © Departamento Internacional da Água Esta publicação não pode ser reproduzida nem traduzida, no todo ou em parte, sem prévia autorização do Editor. Printed in France – Impresso em papel branqueado sem cloro. INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:15 Page 1 Pa g e ◗ PARA QUE SERVE ESTE GUIA? SUMÁRIO ◗ O QUADRO REGULAMENTAR E O INCENTIVO DADO PELA UNIÃO EUROPEIA PARA A CONSTRUÇÃO DE INFRA-ESTRUTURAS DE RECOLHA E TRATAMENTO DAS ÁGUAS RESIDUAIS URBANAS. ➜ ➜ Prazos Resultados a atingir para cumprir os requisitos da Directiva ◗ TÉCNICAS DISPONÍVEIS PARA SATISFAZER AS PRESCRIÇÕES DA DIRECTIVA ➜ Técnicas 4 Técnicas extensivas 8 9 9 ➜ ◗ PROCESSOS EXTENSIVOS: INFORMAÇÃO TÉCNICA ➜ Culturas assentes em suporte fino ▲ Funcionamento: mecanismos em jogo ▲ Infiltração-percolação sobre leito de areia ▲ Filtros plantados com escoamento vertical ▲ Filtros plantados de caniços com escoamento horizontal ➜ Culturas livres ▲ Funcionamento: mecanismos em jogo ▲ Lagunagem natural ▲ Lagunagem arejada 16 ◗ CONCLUSÕES: ELEMENTOS DE APRECIAÇÃO PARA ESCOLHAS TÉCNICAS 23 Recapitulação dos diferentes sistemas extensivos ➜ Qualidade das descargas ➜ Vantagens e inconvenientes: recapitulação ➜ Importância do factor climático ➜ Árvore de decisão ➜ Custos ➜ Uma vantagem dos processos extensivos: a contribuição paisagística 23 23 24 25 25 26 26 27 27 ➜ ◗ ANEXOS : CASOS DE ESTUDO Infiltração-percolação: um caso particular, as instalações de Mazagon : (Espanha) ➜ 3 3 4 intensivas convencionais ▲ Leitos bacterianos ▲ Discos biológicos ▲ Lamas activadas ▲ Vantagens e inconvenientes dos diferentes sistemas intensivos ➜ 2 3 ➜ Infiltração-percolação: uma instalação convencional : Souillac Paille-Basse (França – Departamento de Lot) 29 Filtros plantados com escoamento vertical: caso de NEA Madytos – Modi : 30 ➜ Sistema híbrido : (filtros plantados com escoamento vertical e filtros plantados com escoamento horizontal) : caso de Oaklands Park, Newnham-on-Severn, Gloucestershire (Reino Unido) 32 ➜ Lagunagem natural : as instalações de Vauciennes (França – Oise) 34 ➜ Lagunagem arejada : as instalações de Adinkerke (Bélgica) 36 ◗ GLOSSÁRIO 38 40 (Grécia) ◗ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Jean-Marc BERLAND (OIEau) e Paul COOPER (Consultor independente) asseguraram a redacção do presente guia. Jean-Antoine FABY (OIEau), Pascal MAGOAROU (Comissão Europeia) e Jean DUCHEMIN (Comissão Europeia) asseguraram o acompanhamento científico e técnico do presente trabalho e proporcionaram contribuições pontuais. Jörg Max Schau (Consultor de Engenharia) colaborou na tradução técnica. Vitória SILVA (Instituto da Água) validou a versão portuguesa do presente Guia. INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:15 Page 2 PARA QUE SERVE ESTE GUIA? PARA QUE SERVE ESTE GUIA? 2 Uma das funções da Comissão é ajudar os responsáveis técnicos das aglomerações com um e.p. entre 500 e 5 000 (equivalente de população - ver Glossário) na aplicação da Directiva 91/271 do Conselho, de 21 de Maio de 1991 relativa ao tratamento das águas residuais urbanas (ver Glossário), daqui até ao fim de 2005. Com efeito, as aglomerações com um e.p. inferior a 2 000 que dispõem de um sistema colector devem também implementar um tratamento apropriado [Artigo 7.o da Directiva " Águas Residuais Urbanas " (ver Glossário)]. Torna-se indispensável uma acção de sensibilização e de informação, na medida em que as autoridades locais envolvidas, responsáveis pela concretização dos projectos, dispõem de estruturas, equipamentos e capacidades organizativas inferiores às das aglomerações maiores. A Direcção-Geral do Ambiente da Comissão favorece o desenvolvimento e a realização de dispositivos extensivos adequados para estas aglomerações, nomeadamente, mediante o instrumento financeiro LIFE-Ambiente. O objectivo deste instrumento é facilitar a aplicação da Directiva através do desenvolvimento de acções de demonstração e de tecnologias inovadoras adaptadas aos problemas ambientais a resolver. Além disso, a Direcção-Geral do Ambiente promove a divulgação destas técnicas favorecendo os conselhos e as trocas de informações técnicas. Este guia e o desenvolvimento de meios de ajuda tais como os fundos estruturais e os fundos de coesão são exemplos disso. O presente documento só aborda sumariamente as técnicas intensivas e examina, antes de tudo, as técnicas extensivas de tratamento. Estas últimas ocupam, por definição, maior superfície que os processos intensivos convencionais concebidos para as grandes aglomerações. No entanto, os custos de investimento dos processos extensivos são regra geral, inferiores e as condições de exploração mais leves, flexíveis e menos consumidoras de energia. Finalmente, estas técnicas requerem menos mão-de-obra e pessoal menos especializado que as técnicas intensivas. As técnicas extensivas podem ser aplicadas nas várias configurações europeias que não ultrapassem alguns milhares de equivalentes de população. Ao ler o presente documento, é necessário ter presente que as técnicas aqui tratadas não podem ser utilizadas para capacidades superiores a 5 000 e.p., a não ser a título excepcional. Após uma recapitulação dos objectivos a cumprir pelas pequenas e médias aglomerações (ver Glossário) e uma apresentação rápida dos diferentes sistemas chamados intensivos, passaremos a descrever mais pormenorizadamente as várias técnicas extensivas. PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:15 Page 3 O QUADRO REGULAMENTAR E O INCENTIVO DADO PELA UNIÃO EUROPEIA PARA A CONSTRUÇÃO DE INFRA-ESTRUTURAS DE RECOLHA E TRATAMENTO DAS ÁGUAS RESIDUAIS URBANAS. Prazos A Directiva 91/271/CEE do Conselho, de 21 de Maio de 1991, relativa ao tratamento de águas residuais urbanas (ver Glossário) constitui uma trave-mestra da política ambiental da União europeia. Uma das principais disposições da Directiva é a obrigação para as aglomerações (ver Glossário) de implementar um sistema colector (ver Glossário) das águas residuais obrigatoriamente ligado a um sistema de tratamento das mesmas águas. As obrigações devem ser cumpridas de maneira progressiva.Trata-se de equipar : o mais tardar até 31 de Dezembro de 1998, as aglomerações com um e. p. superior a 10 000 que lancem efluentes em zonas sensíveis ; o mais tardar até 31 de Dezembro de 2000, as aglomerações com um e. p. superior a 15 000 que não lancem efluentes em zonas sensíveis ; o mais tardar até 31 de Dezembro de 2005, as aglomerações com um e. p. entre 10 000 e 15 000 que não lancem efluentes em zonas sensíveis e as aglomerações com um e.p. entre 2 000 e 10 000 que lancem os efluentes em águas doces ou estuários. No que diz respeito ao prazo de 2005, a Directiva obriga as aglomerações com um e. p. entre 2 000 e 10 000 que lancem efluentes em zonas sensíveis, (águas doces ou estuários) e com um e.p. entre 2 000 e 15 000 que não lancem efluentes em zonas sensíveis, a implementar um sistema colector e um tratamento secundário (ver Glossário). Para além disso, a obrigação de implementar um sistema de tratamento não se restringe às aglomerações com um e.p. superior a 2 000. Com efeito, a Directiva estabelece que as descargas das aglomerações de dimensão inferior a 2 000 e.p., que lancem efluentes em águas doces ou estuários e de dimensão inferior a 10 000 e.p. que lancem efluentes em águas costeiras devem ser sujeitas a um tratamento apropriado quando existir uma rede de recolha. , o mais tardar até 31 de Dezembro de 2005. Contudo, a Directiva permite, quando não se justificar a instalação de um sistema colector, quer porque não apresenta interesse para o ambiente, quer porque os seus custos são excessivos, implementar sistemas de tratamento individuais ou outros sistemas apropriados assegurando um nível idêntico de protecção do ambiente. Resultados a atingir para cumprir os requisitos da Directiva Os requisitos da Directiva " Águas Residuais Urbanas " para as descargas das aglomerações com um e.p. superior a 2 000 podem ser resumidos da seguinte maneira. Quadro 1: Requisitos para as descargas provenientes das estações de tratamento de águas residuais urbanas sujeitas às disposições da Directiva de 21 de Maio de 1991(1) Parâmetros Concentração Carência bioquímica de 25 mg/l O2 oxigénio sem nitrificação (3) [CBO5 a 20 °C (ver Glossário] Percentagem mínima de redução(2) 70-90 % Carência química de oxigénio [CQO (ver Glossário)] 125 mg/l O2 75 % Total das matérias sólidas em suspensão [TSS (ver Glossário)] 35 mg/l(3) 35 mg/l em regiões montanhosas para as aglomerações com um e.p. superior a 10 000. 60 mg/l em regiões montanhosas para as aglomerações com um e.p. entre 2 000 e 10 000. 90 %(3) 90 % em regiões montanhosas para as aglomerações com um e.p. superior a 10 000. 70 % em regiões montanhosas para as aglomerações com um e.p. entre 2 000 e 10 000. (1) Serão aplicados os valores de concentração ou a percentagem de redução. (2) Redução em relação à carga de afluente. (3) Este requisito é facultativo. PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 3 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:16 Page 4 Existe uma excepção para a lagunagem. Com efeito, as análises das descargas provenientes deste tipo de instalações devem ser realizadas sobre amostras filtradas. Contudo, a concentração total de matérias sólidas em suspensão nas amostras de água não filtradas não deve ultrapassar 150 mg/l. Quadro 2: Requisitos para as descargas provenientes das estações de tratamento de águas residuais urbanas efectuadas em zonas sensíveis sujeitas a eutrofização (ver Glossário)(1) Parâmetros Concentração Fósforo total 2 mg/l (e.p. entre 10 000 e 100 000) Azoto total 15 mg/l (e.p. entre 10 000 e 100 000) (3) Percentagem mínima de redução(2) (4) (4) 80 % 70-80 % (1) Consoante as condições locais, pode-se aplicar apenas um parâmetro ou os dois.Além disso, é possível aplicar os valores de concentração ou a percentagem de redução. (2) Redução em relação à carga do afluente. (3) Por “azoto total”, entende-se a soma do teor total de azoto determinado pelo método de Kjeldahl (azoto orgânico e amoniacal) com o teor de azoto contido nos nitratos e o teor de azoto contido nos nitritos. (4) Estes valores de concentração são médias anuais. No entanto, para o azoto, podem-se utilizar médias diárias desde que se demonstre que o nível de protecção assim obtido é o mesmo. Neste último caso, a média diária não poderá ultrapassar 20mg/l de azoto total para todas as amostras, quando a temperatura do efluente no reactor biológico for superior ou igual a 12 °C. Alternativamente ao critério da temperatura, poderá ser utilizado um critério de limitação do tempo de funcionamento que atenda às condições climáticas locais. TÉCNICAS DISPONÍVEIS PARA SATISFAZER AS PRESCRIÇÕES DA DIRECTIVA Técnicas intensivas convencionais As técnicas mais avançadas para as estações de tratamento das águas urbanas são os processos biológicos intensivos. Tais tratamentos baseiam-se na localização em áreas reduzidas e na intensificação dos processos de transformação e de destruição das matérias orgânicas que se podem observar no meio natural. Utilizam-se três tipos de processos : leitos bacterianos e discos biológicos; lamas activadas; biofiltração ou filtração biológica acelerada. ▲ Leitos bacterianos O princípio de funcionamento de um leito bacteriano consiste em fazer escoar as águas residuais, previamente decantadas, sobre uma massa de materiais porosos ou cavernosos que serve de suporte para os microrganismos depuradores (bactérias) (ver diagrama infra). Prétraitement Leito bacteriano Sprinkler Enchimento Orifícios de arejamento Grades Decantador secundário Descarga 4 O arejamento é realizado por tiragem natural ou por ventilação forçada.Trata-se de insuflar o oxigénio necessário ao bom funcionamento das bactérias aeróbias.As matérias poluentes contidas na água e o oxigénio do ar dispersam-se em contracorrente através do filme biológico até aos microrganismos responsáveis pelo processo de degradação. O filme biológico contém bactérias aeróbias na superfície e bactérias anaeróbias perto do fundo. Os subprodutos e o gás carbónico resultantes do processo de degradação são evacuados nos fluidos líquidos e gasosos (Satin M., Belmi S – 1999). Recirculação Figura 1: Diagrama de uma estação de tratamento com um leito bacteriano (de acordo com a página Internet de Cartel - http://www.oieau.fr/ rubrica guide des services) PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:16 Page 5 Quadro 3: O dimensionamento dos leitos bacterianos realiza-se da seguinte forma (Ficha técnica FNDAE n° 22): Objectivo de descarga Tipo de enchimento Carga orgânica máxima (kg CBO5/m3.dia) Altura mínima de material (m) Carga hidráulica mínima (m/h) Taxa mínima de recirculação ≤ 35 mg CBO5/l Tradicional 0,7 2,5 1 2 Plástico 0,7 4 2,2 2 Tradicional 0,4 2,5 0,7 2,5 Plástico 0,4 5 1,8 2,5 ≤ 25 mg CBO5/l ▲ Discos biológicos Outra técnica que utiliza culturas fixas é constituída por discos biológicos rotativos (ver diagrama infra). Os microrganismos desenvolvem-se e formam um filme biológico depurador à superfície dos discos. Sendo os discos semi-submersos, a rotação permite a oxigenação da biomassa fixada. Com este tipo de instalação convém assegurar; a fiabilidade mecânica da armação (transmissão de arranque progressivo, boa fixação do suporte no eixo) ; o dimensionamento da superfície dos discos (este deve ser efectuado com margens de segurança importantes). Ar (oxigenação) Pré-tratamento Decantador secundário Decantador primário digestor Discos biológicos Adsorção Recirculação Descargas Figura 2: Diagrama de uma estação de tratamento com um disco biológico (de acordo com a página Internet de Cartel - http://www.oieau.fr/ rubrica guide des services) Figura 3: Esquema do princípio de um disco biológico. Quadro 4: O dimensionamento dos discos biológicos efectua-se da seguinte forma (Ficha técnica FNDAE n° 22) : Objectivo de descarga Carga orgânica a aplicar (após decantação primária) ≤ 35 mg CBO5/l ≤ 25 mg CBO5/l 9 g CBO5/m2.dia 7 g CBO5/m2.dia Assim, aplicando uma carga orgânica de 9 g CBO5/m2/dia para um processo típico para um e.p. de 1 000, a área total útil é de 3 900 m2. Outros processos com culturas fixas, tais como os biofiltros, são mais adaptados às aglomerações de maior dimensão, dispondo de grandes meios técnicos e humanos e onde exista uma grande pressão urbanística. Por conseguinte, estes processos não serão aqui detalhados PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 5 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:16 Page 6 ▲ Lamas activadas O princípio das lamas activadas pretende intensificar os processos de auto-depuração que ocorrem nos meios naturais (ver diagrama infra). TANQUES DE AREJAMENTO DECANTADOR SECUNDÁRIO Pré-tratamento Arejador Água tratada Descarga Recirculação Extracção das lamas Figura 4: Diagrama de um sistema de lamas activadas – arejamento prolongado (de acordo com a página Internet de Cartel - http://www.oieau.fr/ rubrica guide des services) O tratamento por " lamas activadas " realiza-se misturando e agitando as águas residuais brutas com lamas activadas líquidas, bacteriologicamente muito activas. A degradação aeróbia dos poluentes realiza-se pela mistura íntima dos microrganismos depuradores e dos efluentes a tratar. A seguir, separam-se as fases " águas tratadas " e " lamas depuradoras " (Agences de l’Eau – 1999). Uma instalação deste tipo envolve as seguintes etapas : tratamentos preliminares e eventualmente primários; tanque de activação (ou tanque de arejamento); decantador secundário com recuperação de uma parte das lamas; eliminação das águas tratadas; digestores das lamas excedentes provenientes dos decantadores O dimensionamento do tanque de arejamento efectua-se da seguinte forma, no caso de arejamento prolongado (Ficha técnica FNDAE n° 22) : Carga mássica : ≤ 0,1 kg CBO5/kg SST/d; Carga volúmica : ≤ 0,35 kg CBO5/m3/d; Concentração das lamas : 4 a 5 g MS/l; Tempo de retenção : cerca de 24 horas; Necessidades em O2 : na ordem de 1,8 kg O2/kg CBO5 eliminada; Potência de brassagem 30 à 40 W/m3 para arejadores de superfície de tipo turbina ; 3 à 10 W/m3 para agitadores 10-20 W/m3 para sistemas de arejamento com bolhas de ar finasr. Uma lama activada com arejamento prolongado permite eliminar 95% da CBO5. 6 PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:16 Page 7 ▲ Vantagens e inconvenientes dos diferentes processos intensivos Quadro 5:Vantagens e inconvenientes dos processos intensivos (de acordo com a página Internet de Cartel - http://www.oieau.fr/ rubrica guide des services) Leito bacteriano e disco biológico Vantagens Inconvenientes economia de consumo energético; simplicidade de funcionamento, necessitando menos manutenção e controlo comparado com a técnica de lamas activadas; boa decantabilidade das lamas; menor sensibilidade às variações de carga e às toxinas do que as lamas activadas; geralmente adequado às pequenas aglomerações; resistência ao frio (os discos estão sempre protegidos por coberturas ou por um pequeno edifício). adequado a todas as dimensões de aglomeração (salvo as mais pequenas); boa eliminação do conjunto dos parâmetros de poluição (SST, CQO, CBO5, N por nitrificação e desnitrificação); adequado à protecção dos meios receptores sensíveis; lamas (ver Glossário) em parte estabilizadas; facilidade de aplicação de uma remoção simultânea dos fosfatos ; rendimento geral mais fraco que um processo por lamas activadas. (Isto decorre principalmente das práticas antigas de concepção. Um dimensionamento mais realista deve permitir alcançar qualidades de águas tratadas satisfatórias); custos de investimento relativamente elevados (que podem ser superiores cerca de 20% em relação a um processo por lamas activadas); necessidade de um pré-tratamento eficaz; sensibilidade à colmatagem; grande dimensão da construção se objectivos de remoção do azoto forem impostos.Lama activada custos de investimento relativamente elevados; grande consumo de energia; necessidade de pessoal especializado e de um controlo regular; sensibilidade às sobrecargas hidráulicas; decantabilidade das lamas por vezes difícil de controlar; grande produção de lamas que devem ser concentradas. Nota: O fraco rendimento microbiológico dos processos intensivos (coeficiente de remoção entre 10 e 100, ao contrário dos coeficientes entre 100 e 10 000 para os processos extensivos por alguns filtros de areia ou por lagoas), pode revelar-se problemático em caso de uso sanitário das águas a jusante (água potável ou balnear, irrigação, conquicultura...). Nestes casos, é por vezes preferível escolher um processo extensivo ou utilizar as técnicas intensivas apenas para o tratamento final, incluindo as grandes capacidades de vários milhares de e.p. (ver Árvore de decisão, pág. 36 As vantagens destas técnicas são de tal ordem, que são utilizadas com sucesso pela maior parte das aglomerações.. Uma outra vantagem, nomeadamente para as lamas activadas, decorre do facto de estas técnicas serem objecto de pesquisas avançadas por parte dos grandes grupos envolvidos na gestão das águas e de se encontrarem facilmente publicações pormenorizadas relativas ao dimensionamento e às inovações, permitindo assim melhorar os rendimentos, no que respeita a tal ou tal parâmetro. No entanto, se forem respeitadas as regras de dimensionamento já mencionadas, os leitos bacterianos e os discos biológicos, constituem de facto técnicas especificamente adequadas às pequenas aglomerações, na medida em que os seus custos de exploração são menos elevados: consumo de energia muito reduzido (até cinco vezes menos, em relação a um processo por lamas activadas), necessidade reduzida de pessoal para a exploração deste tipo de estação rústica... Estas técnicas podem ser utilizadas em combinação com processos extensivos. Salienta-se, em particular, que as estações utilizando processos com um disco biológico ou um leito bacteriano, completados por uma lagoa de decantação final, podem permitir obter descargas de excelente qualidade (eliminação dos nutrientes, importante remoção dos microrganismos patogénicos). No presente documento, não iremos mais adiante na pormenorização dos processos intensivos e passaremos a descrever técnicas menos conhecidas, ou seja, as técnicas extensivas de tratamento. Além disso, sendo o presente documento dedicado ao tratamento para as aglomerações e industrias ligadas a sistemas colectores, não trataremos aqui as técnicas específicas de tratamento individual (fossas sépticas com dispersão no solo ou leito filtrante, fossa de acumulação...). PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 7 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:16 Page 8 Técnicas extensivas ▲ Técnicas a desenvolver As técnicas chamadas extensivas, que vamos passar a descrever em pormenor no presente documento, são processos que realizam o tratamento com o auxilio de culturas fixas sobre suporte fino ou ainda, mediante culturas livres, mas com utilização da energia solar para a produção de oxigénio por fotossíntese. O funcionamento deste tipo de instalação, sem energia eléctrica, é possível, salvo para a lagunagem arejada, para a qual uma fonte de energia é necessária para alimentação dos arejadores ou dos equipamentos de insuflação de ar. Estas técnicas distinguem-se, também, das técnicas previamente mencionadas, pelo facto de as cargas de superfície aplicadas serem muito reduzidas. Estas técnicas foram desenvolvidas em diferentes países para aglomerações de dimensão geralmente inferior à 5 000 e.p. É o caso, em particular, da França, com lagoas naturais, da Baviera, com um tipo de lagunagem natural de concepção bastante diferente da francesa ou ainda do Reino Unido, com filtros horizontais (zonas húmidas artificiais). Por biofilme sobre suporte sólido Por culturas livres (areia ou solo filtrante) A divulgação destas técnicas para as aglomerações com dimensão superior a 500 e.p. pode ser encarada mediante algumas precauções que precisaremos. O presente documento deve portanto impulsionar esta divulgação e contribuir para a demonstração da pertinência das técnicas extensivas, no cumprimento das prescrições da Directiva " Águas Residuais Urbanas ". Após uma descrição geral do funcionamento das culturas fixas e das culturas livres, passaremos a descrever, em pormenor, as técnicas extensivas conforme o seguinte plano : Culturas fixas Infiltração-percolação; Filtro plantado com escoamento vertical; Filtro plantado com escoamento horizontal. Culturas livres: Lagunagem natural; Lagunagem com macrófitas; Lagunagem arejada. Sistemas mistos. 1,5 a 3 m3 de material por e.p. (algas + bactérias em água) (lagunagem) 8 a 12 m3 de água por e.p. Figura 5:Tratamento " natural " extensivo das águas residuais O tratamento e o papel da vegetação nas zonas húmidas artificiais Os sistemas de tratamento por zonas húmidas artificiais reproduzem os processos depuradores dos ecossistemas (Wetzel, 1933). A grande heterogeneidade e diversidade das plantas, dos solos e dos tipos de escoamento das águas origina uma grande variedade de dispositivos possíveis : sistemas de escoamento por debaixo da superfície do solo (filtros plantados com escoamento horizontal ou vertical); sistemas de escoamento de águas livres de superfície (ver lagunagens naturais); menos frequentemente, a irrigação de sistemas vegetalizados (por ex.: salgueiros); de talhadias de curta rotação, para afinar o tratamento com uma última filtração. Para todas as zonas húmidas artificiais, temos os seguintes diferentes mecanismos depuradores : Mecanismos físicos: filtração através de meios porosos e de sistemas radiculares (ver mecanismos em culturas fixas); sedimentação de SST e de colóides em lagoas ou pântanos (ver mecanismos em culturas livres) , 8 PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO Mecanismos químicos: precipitação de compostos insolúveis ou co-precipitação com compostos insolúveis (N, P); adsorção sobre um substrato, consoante as características do suporte aplicado ou pelas plantas (N, P, metais); decomposição por processos de radiação U.V. (vírus e bactérias), de oxidação e de redução (metais). Mecanismos biológicos : Mecanismos biológicos decorrentes do desenvolvimento bacteriano livre ou fixo permitem a degradação das matérias orgânicas, uma nitrificação em zonas aeróbias e uma desnitrificação (ver Glossário) em zonas anaeróbias. Com os sistemas com camada de água livre o tratamento biológico resulta de processos aeróbios perto da superfície da água, eventualmente anaeróbios perto dos depósitos profundos. O desenvolvimento de algas fixas ou em suspensão na água (fitoplâncton) produz por fotossíntese o oxigénio necessário às bactérias aeróbias e fixa uma parte dos nutrientes (efeito "lagunagem ") . INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:16 Page 9 INFORMAÇÃO TÉCNICA Culturas fixas sobre suporte fino ▼ Funcionamento: mecanismos em jogo Os processos de tratamento por culturas fixas sobre suporte fino consistem em fazer escoar a água a tratar através de vários leitos independentes. Os dois mecanismos principais são : Filtração superficial : os sólidos em suspensão (SST) são retidos à superfície do leito filtrante e, com eles, uma parte da poluição orgânica (CQO – partículas) ; Oxidação : o meio granular constitui um reactor biológico, um suporte de grande área específica, sobre o qual se vão fixar e desenvolver as bactérias aeróbias responsáveis pela oxidação da poluição dissolvida (CQO dissolvida, azoto orgânico e amoniacal). O arejamento é assegurado pela : convecção produzida pela deslocação da superfície de água ; difusão do oxigénio a partir da superfície dos filtros e canais de arejamento, através do meio poroso. A oxidação da matéria orgânica é acompanhada por um desenvolvimento bacteriano que deve ser regulado a fim de impedir a colmatação biológica interna no leito filtrante e a libertação ocasional da biomassa, fenómenos inevitáveis uma vez que as cargas aplicadas são importantes.A auto-afinação da biomassa é conseguida através da alimentação alternada dos vários leitos independentes. Durante as fases de inactividade (ou de não-alimentação), o desenvolvimento das bactérias assim colocadas numa situação de carência reduz-se ao mínimo pela predação, desidratação... Estes períodos de inactividade não devem ser muito prolongados, para não prejudicar o recomeço rápido dos processos depuradores numa nova fase de alimentação. A situação mais frequente para os processos " culturas fixas sobre suporte fino " é de 3 leitos, cada um alimentado durante 3 a 4 dias consecutivos. A gestão controlada do desenvolvimento bacteriano evita a necessidade de instalar um equipamento específico de separação água + lama. As instalações para culturas fixas sobre suporte fino são concebidas sem decantador final. O dispositivo de alimentação das unidades de infiltração deve assegurar uma distribuição uniforme do efluente (assegurando a utilização da totalidade da área disponível) e a homogeneidade das cargas hidráulicas (ver Glossário) unitárias. A alimentação pode ser realizada por submersão temporária (ou por aspersão) utilizando um tanque que permita um esvaziamento rápido mediante o uso de vários meios (sifão, bombas...). Esta alimentação sequencial também permite a manutenção de uma elevada concentração de oxigénio dentro do filtro graças à difusão de ar entre dois esvaziamentos consecutivos. O leito filtrante é geralmente constituído por areia (quer se trata de areia importada ou de areia proveniente das dunas locais existentes).A areia deve corresponder a alguns requisitos precisos a fim de encontrar um compromisso entre o risco de colmatação (areia demasiada fina) e o escoamento demasiado rápido (areia demasiada grossa). As areias cujas características se apresentam seguidamente, à luz dos actuais conhecimentos, (Liénard et al., 2000), correspondem ao melhor compromisso possível. Importa salientar que o não respeito desses limites poderia prejudicar a vida útil das instalações. Características das areias : areia de sílica ; areia lavada ; d10 ccompreendido entre 0,25 mm e 0,40 mm; CU [coeficiente de uniformidade, (ver Glossário)] compreendido entre 3 e 6; Teor de finos inferior a 3%. ▼ Infiltração-percolação através de leito de areia Princípio de funcionamento Canal de repartição do efluente Canal de repartição do efluente Saída de drenagem Areia Gravilha Saída de drenagem Dreno Géomembrane Drain Figura 6: Infiltração-percolação estanque e drenada (Agences de l'Eau, 1993) PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 9 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:16 Page 10 Alimentação Drenos de recolha Alimentação Membrana impermeável Areia Solo existente impermeável Figura 7: Sistema drenado sobre solo existente impermeável (Agences de l'Eau, 1993) Solo existente permeável Figura 8: Sistema drenado por um leito drenante com impermeabilização por meio de uma membrana impermeável (Agences de l'Eau, 1993) A infiltração-percolação das águas residuais é um processo de tratamento por filtração biológica aeróbia sobre um meio granular fino.A água é distribuída sucessivamente sobre várias unidades de infiltração. As cargas hidráulicas são de várias centenas de litros por metro quadrado de leito filtrante por dia. A água a tratar é distribuída de maneira uniforme sobre a superfície do filtro que não está coberto.A área de distribuição das águas encontra-se ao ar livre e visível. Outra variante interessante de tratamento pelo solo é constituída por filtros de areia horizontais ou verticais enterrados. Estas tecnologias, principalmente utilizadas em situações de tratamento individual, permitem um tratamento autónomo válido para agrupamentos de algumas centenas de habitantes equivalentes. No caso de um filtro de areia vertical enterrado, é necessário prever um dimensionamento de 3,5 m2/hab. e uma alimentação com baixa pressão Critérios de dimensionamento Uma estação na qual o principal meio de tratamento das águas residuais é a infiltração-percolação deve comportar: um pré-tratamento, uma instalação de decantação (no caso de aglomerados de algumas centenas de h.e., pode ser utilizada uma grande fossa séptica de uso colectivo), um tanque de armazenamento, um sistema de repartição entre os tanques, um dispositivo de alimentação, os leitos filtrantes e a restituição no lençol freático ou a descarga. Os leitos de infiltração-percolação em areia devem seguir o seguinte método de dimensionamento (Ficha técnica FNDAE n° 22) : Área = 1,5 m2/h.e. (quer se trate de um leito drenado ou não) Nota: os filtros de areias verticais enterrados e drenados podem ser interessantes para as mais pequenas instalações (individuais e grupo autónomo) que apenas necessitam de 3 m2/hab. em vez de 1,5 m2/hab para a filtração ao ar livre. Cálculo da espessura Se a remoção bacteriana não for um dos objectivos da instalação, é suficiente uma espessura de leito filtrante de 80 cm. Instalação de MAZAGON (Espanha) capacidade de 1.700 h.e. (fotografia : F. BRISSAUD) No caso em que se pretenda também a remoção dos microrganismos patogénicos através da infiltração-percolação, a espessura do leito filtrante depende do grau de descontaminação esperado.A curva apresentada a seguir indica a relação entre a remoção dos coliformes fecais em função da carga hidráulica (h) e da espessura do leito filtrante quando se tratar de areia (Etude Inter Agences n° 9, 1993). Quando o maciço for constituído de areia natural existente, a relação entre a sua espessura e a descontaminação é mais difícil de calcular e torna-se preferível recorrer a laboratórios para obter uma correcta caracterização da areia e das suas capacidades de descontaminação. O número de unidades depende : Figura 9: Remoção dos coliformes fecais em função da carga da área total do maciço filtrante; hidráulica (H em m/dia) e da espessura do maciço filtrante da área máxima da unidade de infiltração compatível com uma repartição uniforme do efluente da mesma dia unidade. m/ 2 , 0 Aplicação = H Na medida do possível, as paredes das fossas devem ser verticais a fim de permitir que o percurso vertical da água seja rigorosamente igual à espessura de toda a área do maciço filtrante. A altura das bordas livres (margens acima da zona de infiltração) deve ser de aproximadamente 30 cm. Devem ser instaladas descargas de superfície de segurança, para enfrentar emergências e poder desviar os caudais excedentes para um meio receptor ou outros tanques menos cheios. 10 Os taludes das margens dos tanques podem estar protegidos por placas de betão, estaca-pranchas alcatroadas, betão projectado ou ainda mediante uma cobertura vegetal. PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO ia m/d 0,4 = H H= /dia 0,6 m Espessura do maciço filtrante (m) Figura 9: Remoção dos coliformes fecais em função da carga hidráulica (H em m/dia) e da espessura do maciço filtrante INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:16 Page 11 Exploração Quadro 6: Exploração de uma instalação de infiltração-percolação Tarefas Observações Manutenção corrente (em cada 3 ou 4 dias) Acompanhamento regular Inspecções mensais ou em cada 2 meses Outras operações de manutenção Manobra das comportas; Limpeza das grades; Controlo do grau de colmatação da superfície das unidades de infiltração, eventualmente da altura de água sobre a área de infiltração; Tempo de desaparecimento da lâmina de água; Nas instalações não gravíticas, controlo do caudal das bombas; Manter um livro de bordo, com todas as tarefas realizadas, as medições de caudal (canal Parchal, tempo de funcionamento das bombas) a fim de ter um bom conhecimento dos caudais e permitir a elaboração de relatórios de funcionamento. Observações visuais, bom escoamento das águas, aspecto dos efluentes; Remoção dos flutuantes (decantador-digestor), nível das lamas (lagoa anaeróbia ou decantador-digestor); Regulação de nível, alturas de água máximas no reservatório, dispositivos de alimentação (sifões, drenos, etc.); Comportas ou dispositivos de repartição; Escavação por erosão e manutenção do nivelamento das áreas de infiltração; Saída de drenagem da estação (sistemas drenados) e qualidade das descargas; Funcionamento dos aspersores (sprinkler) e limpeza mensal. Manutenção dos dispositivos electromecânicos (1 a 2 vezes /ano); Ceifa das margens e dos aterros em volta dos maciços; No termo das fases de secagem, as acumulações orgânicas são reduzidas a flocos que podem ser facilmente removidos das areias e que devem ser recolhidos e evacuados em aterros conforme uma frequência a definir empiricamente; em cada 3 ou 4 anos, convém mudar os 5 a 10 primeiros cm de areia; Esvaziamento das lamas do decantador-digestor ( 1 a 2 vezes / ano) ou das lagoas de decantação (1 a 2 vezes / ano) ou ainda das fossas sépticas de uso colectivo (uma vez em cada 3 ou 4 anos); Análises regulares de teores em nitratos da descarga dão uma boa indicação do estado de funcionamento da estação (*). (*) O funcionamento óptimo de um filtro com escoamento vertical produz nitratos e qualquer diminuição de concentração à saída (à escala da semana ou do mês) indica uma carência de oxigénio e portanto uma degradação do tratamento. Este acompanhamento pode ser facilmente efectuado com um papel indicador. Rendimento Este sistema permite alcançar excelentes resultados de eliminação (em concentrações) : CBO5 inferior a 25mg/l; CQO inferior a 90mg/l; SST inferior a 30mg/l; Nitrificação quase completa; Desnitrificação limitada neste tipo de instalação. Na sua versão " tratamento individual ", o tratamento pelo solo pode resultar em alguma remoção do azoto. Um estudo realizado pela Direction Départementale des Affaires Sanitaires et Sociales de Loire-Atlantique em 1993 permitiu observar que se podia remover 40% do azoto (ou mais) com a ajuda de um filtro vertical de areia. Esta redução pode chegar aos 50% no caso de se utilizar um filtro horizontal de areia (Cluzel F. – 1993). Fósforo: redução importante durante 3 a 4 anos (60-70%), seguida de uma redução limitada e mesmo negativa após 8-10 anos (Duchemin J. - 1994); Possibilidade de eliminação dos microrganismos de origem fecal sob condição de se dispor de uma altura de material suficiente e de que o funcionamento hidráulico seja sem encaminhamento preferencial (redução microbiana de 1/1 000 para 1m de espessura). Vantagens técnicas resultados excelentes com a CBO5, a CQO e os SST; nitrificação importante; muito menor área necessária do que para uma lagoa sem arejamento; capacidade de descontaminação interessante. Inconvenientes técnicos necessidade de uma instalação de decantação primária eficaz; riscos de colmatagem a ter em conta (é portanto essencial utilizar uma areia lavada e de boa granulometria); necessidade de dispor de grandes quantidades de areia, o que pode significar investimentos importantes se não houver uma origem nas proximidades da estação; adequação limitada às sobrecargas hidráulicas. PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 11 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:16 Page 12 ▼ Filtros de plantas com escoamento vertical Princípio de funcionamento Os filtros são escavações estanques em relação ao solo, revestidas de camadas sucessivas de gravilha ou de areia de granulometria variável conforme a qualidade das águas residuais a tratar. Ao contrário da infiltração-percolação já mencionada, o afluente bruto é distribuído directamente, sem decantação primária, sobre a superfície do filtro. O escoamento efectua-se através do filtro onde é objecto de um tratamento físico (filtração), químico (adsorção, complexação...) e biológico (biomassa fixa sobre suporte fino).As águas tratadas são drenadas. Os filtros são alimentados com águas residuais a partir de descargas provenientes de um reservatório. Para um mesmo nível, a área de filtração é dividida em várias unidades o que permite estabelecer uma periodicidade das fases de alimentação e de inactividade. O princípio depurador decorre do desenvolvimento de uma biomassa aeróbia fixa sobre um solo reconstituído (ver: capítulo relativo às culturas fixas sobre suporte fino). O oxigénio é fornecido por convecção e difusão.A incorporação de oxigénio pelo sistema radicular das plantas é, neste caso, irrelevante tendo em conta as necessidades (Armstrong, 1979). FILTRO VERTICAL: ALIMENTAÇÃO INTERMITENTE COM AREJAMENTO PELA SUPERFÍCIE Entrada do afluente bruto Gravilha fina Gravilha grossa 80 cm Tampa de arejamento Tubo de drenagem Seixo O processo compreende : Câmara de grades ; um primeiro nível de filtros radiculares verticais; um segundo nível de filtros radiculares verticais. Descarga das águas tratadas Figura 10: corte transversal de um filtro de plantas com escoamento vertical (fonte: CEMAGREF) Critérios de dimensionamento O dimensionamento dos filtros verticais foi calculado empiricamente determinando-se as cargas orgânicas superficiais diárias limites aceitáveis (20 a 25 g CBO5 m-2.d-1 de área total plantada). A dimensão do primeiro nível é prevista para receber cerca de 40 g CBO5 m-2.dia-1 , o que representa 60% da área total, ou seja, cerca de 1.2 m2/h.e. Para uma rede unitária ou parcialmente unitária, o dimensionamento do primeiro nível deve chegar a 1,5 m2/h.e. (Agence de l'eau, 1999). Este nível é dividido num número de filtros múltiplo de 3, o que permite obter períodos de inactividade de 2/3 do tempo Em geral, a área do segundo nível representa 40% da área total, ou seja, cerca de 0,8 m2/h.e. Para este nível, o tempo de inactividade necessário é igual ao tempo de operação, requerendo assim a instalação de um número de filtros múltiplo de 2 e igual a 2/3 do número de filtros utilizados para o primeiro nível (ver esquema seguinte). 1° nivel 2° nivel Figura 11: Esquema de concepção dos primeiro e segundo níveis. Aplicação Alimentação A velocidade de alimentação do afluente bruto deve ser superior à velocidade de infiltração a fim de assegurar uma boa repartição do afluente. Os depósitos acumulados à superfície contribuem para diminuir a permeabilidade (ver Glossário) intrínseca do material e melhoram portanto a repartição do efluente. Os pés dos vegetais furam a camada dos depósitos acumulados, limitando assim a colmatação de superfície e permitindo a entrada de água em vários pontos. Material O material que constitui o primeiro nível é composto de várias camadas de gravilha. A camada activa é uma gravilha com uma granulometria de 2-8 mm com uma espessura de cerca de 40 cm. As gravilhas das camadas inferiores têm uma granulometria intermédia (10-20 mm) e a camada drenante é de gravilha de 20-40 mm. O segundo nível, onde os riscos de colmatagem são menores, afina o tratamento. É composto por uma camada de areia (ver infiltração-percolação) com uma altura de pelo menos 30 cm. 12 Descarga A camada inferior de gravilha 20-40 mm assegura a drenagem do efluente. Utilizam-se de preferência drenos em material plástico rígido providos com entalhes largos, já que estes são pouco sensíveis à colmatagem. Cada dreno está ligado a uma chaminé de arejamento. PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:16 Page 13 Plantação Em teoria, podem ser utilizadas várias espécies de plantas (Scirpus spp, Typha...), mas o caniço do tipo Phragmites australis é o mais utilizado nos climas temperados (Brix, 1987) devido à sua resistência às condições que irão encontrar (longo período de submersão do filtro, períodos secos, altas taxas de matérias orgânicas) e o crescimento rápido do sistema radicular e dos rizomas. A densidade de plantação é de 4 plantas/ m2. Concepção Escolha dos terrenos Os condicionalismos do local são os seguintes: Disponibilidade de terrenos : A área necessária para uma instalação deste tipo torna por vezes impossível a sua instalação para pequenas e médias aglomerações, submetidas a uma importante pressão urbanística. Relevo : Um declive na ordem de 3 a 4 metros entre as extremidades a montante e jusante permite alimentar os filtros por gravidade (recorrendo a sifões sem consumo de energia). Para os aglomerados com dimensões próximas de 3000/4000 h.e., a instalação de bombas pode tornar-se necessária. Exploração A manutenção destes sistemas não necessita nenhuma qualificação particular, mas obriga o responsável das operações a efectuar visitas frequentes e regulares. Quadro 7 : Exploração de filtros de plantas com escoamento vertical Tarefas Fréquence Observations Deservagem No primeiro ano Remoção manual das ervas daninhas (Kadlec et al. – 2000). Esta operação já é necessária uma vez estabelecida a predominância. Ceifa 1 / ano (Outono) Ceifa e remoção dos caniços.A sua eliminação permite evitar a sua acumulação à superfície dos filtros.A fim de reduzir o tempo de manutenção, os caniços podem eventualmente ser queimados desde que a estanquidade do filtro não seja assegurada por uma geomembrana e se os tubos de alimentação forem em ferro fundido (Liénard et al, 1994). Acompanhamento e manutenção regular 1 / trimestre 1 / semana Manutenção corrente 1 a 2 / semana Limpar o sifão de alimentação do primeiro nível com um jacto de água sob pressão. Análises regulares dos nitratos no efluente dão uma boa indicação do estado de funcionamento da estação (*). Limpar as grades. Verificar regularmente o bom funcionamento dos equipamentos electromagnéticos e detectar as avarias o mais rapidamente possível. Manobra das comportas. 1 / semana Outras operações de manutenção Cada visita Manter um livro de bordo, com todas as tarefas realizadas, as medições de caudal (canal Parchal, tempo de funcionamento das bombas) a fim de ter um bom conhecimento dos fluxos e permitir a elaboração de relatórios de funcionamento. (*) O funcionamento óptimo de um filtro com escoamento vertical produz nitratos e qualquer diminuição de concentração à saída (à escala da semana ou do mês) indica uma carência de oxigénio e portanto uma degradação do tratamento. Este acompanhamento pode ser facilmente efectuado com um papel indicador. Rendimento CBO5 ≤ 25 mg/l CQO ≤ 90 mg/l SST ≤ 30 mg/l NTK : ≤ 10 mg/l em geral, com picos não ultrapassando 20 mg/l Fósforo: Redução normalmente fraca (depende da capacidade de adsorção do substrato e da idade da instalação) Microrganismos patogénicos: eliminação limitada (redução de 1/10 a 1/100). Vantagens técnicas Facilidade de operação e baixos custos de exploração. Nenhum consumo energético quando a topografia o permitir; Possibilidade de tratar as águas residuais domésticas brutas; Gestão das lamas reduzida ao mínimo; Boa adaptação às variações sazonais de população. Inconvenientes técnicos Necessidade de regularidade na exploração, ceifa anual das partes aéreas dos caniços, deservagem manual antes da predominância dos caniços; Utilizar este processo para capacidades superiores a 2 000 h.e. continua a ser muito delicado devido aos problemas ligados ao controlo hidráulico e aos custos em relação aos processos convencionais.A concepção de um sistema para dimensões superiores apenas pode ser encarada com uma análise completa, no que diz respeito à adaptação dos critéde OAKLANDS PARK (Reino Unido) – rios de dimensionamento e aos condicionalismos decorrentes da instalação capacidade: 65 p.e. (fotografia: Paul COOPER). necessidade do controlo hidráulico; Risco de presença de insectos ou de roedores. PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 13 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:17 Page 14 ▼ Filtros de plantas com escoamento horizontal Princípio de funcionamento Nos filtros com escoamento horizontal, o leito filtrante está quase totalmente saturado de água. O afluente é distribuído sobre toda a largura e a altura do leito por um sistema repartidor colocado numa extremidade da lagoa ; a seguir, flui principalmente no sentido horizontal através do substrato. A maior parte do tempo, a alimentação efectua-se em contínuo já que a carga orgânica produzida é pouca. A descarga realiza-se por um dreno colocado na extremidade oposta do leito, no fundo e enterrado numa vala preenchida de pedras drenantes. Este tubo está ligado a um sifão que permite regular a altura da descarga, e portanto a altura da água no leito, de maneira a que este fique saturado durante a alimentação. Deve-se manter o nível da água aproximadamente 5 cm abaixo da superfície do material. Com efeito, a água não deve circular acima da superfície, o que interromperia a cadeia de tratamento; por consequência, não há superfície livre de água e assim não existe o risco de proliferação de insectos. Critérios de dimensionamento Para determinar a área necessária, os valores empíricos abaixo indicados fornecem os resultados de tratamento esperados (Vymazal et al., 1998) : Para concentrações iniciais da ordem de 150 a 300 mg.l-1 de CBO5, as áreas plantadas são de cerca de 5 m2/h.e. em tratamento secundário que corresponde a Kcbo=0,1m/d ; Para concentrações entre os 300 e os 600 mg.l-1 de CBO5, concentrações que correspondem melhor às concentrações normais das águas residuais urbanas correntes, parece preferível optar pela prática Dinamarquesa que consiste em dimensionar o filtro para 10 m2/h.e ; Para o tratamento de efluentes de redes pluviais (Cooper – 1196), a área requerida é de 0,5 m2/h.e. A secção do filtro deve ser calculada por um gabinete de estudos e depende da permeabilidade inicial do material escolhido (1 a 3.10-3 m .s-1). A profundidade do filtro deve ser igual à profundidade máxima de penetração das raízes. Esta profundidade é de 60 cm para os Phragmites (Marsteiner, 1996). Não foi confirmada a hipótese de uma melhoria notável da condutibilidade hidráulica inicial após o intenso desenvolvimento radicular dos caniços, tanto em densidade, como em profundidade (Boon – 1986). De facto, o aumento da condutibilidade hidráulica inicial devido ao desenvolvimento radicular é parcialmente compensado pela acumulação de SST e de matéria orgânica (Cooper – 1996). É pois FILTRO HORIZONTAL: ALIMENTAÇÃO CONTÍNUA importante que o suporte Entrada das águas escolhido tenha uma perdecantadas meabilidade de 1 à 3.10-3 m .s-1. A maior parte dos Nível de água solos está portanto excluída, devendo-se em substituição utilizar a gravilha 60 cm Pedra drenante de alimentação Areia grossa ou gravilha fina Pedra drenante de descarga Descarga das águas tratadas Figura 11: corte transversal de um filtro de plantas com escoamento horizontal (Fonte: CEMAGREF) Aplicação Compartimentação Para dimensões superiores a 500 m2, o fraccionamento em várias unidades de tamanho mais reduzido favorecerá a manutenção da instalação e melhorará a repartição hidráulica. Declive A superfície do leito é horizontal. O fundo do leito deverá ter um declive para permitir o esvaziamento completo do filtro. No entanto, este declive não deve permitir que as raízes ao nível da saída sequem. Uma variação da profundidade do leito igual a 10% da altura do material à entrada é suficiente (Kadlec, R.H. et al. - 2000).. Materiais Originalmente, o processo foi desenvolvido utilizando o solo existente no local, procurando simultaneamente atingir no final uma condutibilidade hidráulica de 3.10-3m s-1. Numerosos filtros foram concebidos partindo da hipótese de que a condutibilidade hidráulica iria aumentando com o desenvolvimento radicular. Na sequência de algumas más experiências, preconiza-se actualmente a utilização de gravilhas lavadas, com granulometrias distintas conforme a qualidade das águas afluentes (3-6, 5-10, 6-12 mm) (Vymazal - 1998). 14 Vegetação A variedade mais utilizada é o caniço Phragmites Australis devido à sua velocidade de crescimento, ao seu desenvolvimento radicular e à sua resistência às condições de saturação do solo. A plantação pode realizar-se a partir de sementes, de rebentos ou de rizomas com uma densidade na ordem de 4 por m2. PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:17 Page 15 Concepção Escolha dos terrenos Os condicionalismos para uma instalação deste tipo são os seguintes : Necessidade de grandes áreas de terreno ; Relevo: uma diferença de nível de 1 metro entre o ponto de alimentação da futura estação e o ponto de descarga permite alimentar os filtros por gravidade. O declive necessário não é importante devido ao escoamento horizontal. Características do solo do fundo do filtro: se o solo for argiloso, a estanquidade natural pode ser alcançada por simples compactação (condutibilidade exigida: 1.10-8m.s-1). No caso contrário, é necessária a colocação de uma geomembrana impermeável. Exploração A manutenção destes sistemas não necessita de nenhuma qualificação particular, mas obriga o responsável das operações a efectuar visitas frequentes e regulares. Na faixa de populações que nos interessa, é contudo preciso pensar na manutenção dos equipamentos de decantação primária (remoção das lamas) e do nível de tratamento biológico, no caso do filtro de plantas assegurar um tratamento terciáriole filtre assurerait un traitement tertiaire. Quadro 8 : Exploração dos filtros plantados com escoamento horizontal Tarefa Frequência Observações Manutenção das instalações de pré-tratamento Regulação do nível de saida 1 / semana O objectivo é assegurar o seu bom funcionamento e que não se verifiquem descargas demasiado importantes de SST que possam provocar uma colmatação. O ajuste regular do nível de saída de água permite evitar os escoamentos de superfície. Para estações importantes (> 500 m3d-1), a verificação do nível de saída pode exigir uma visita diária. 1 / semana A hidráulica deste tipo de processo constitui um ponte chave. Convém verificar a boa distribuição do afluente no filtro. A limpeza do dispositivo de alimentação deve ser prevista aquando da concepção. Vegetação 1º ano Deservagem Durante o primeiro ano (e eventualmente durante o segundo), convém efectuar uma deservagem manual das ervas daninhas a fim de não prejudicar o desenvolvimento dos caniços (Kadlec R.H. et al., 2000). Esta operação também pode realizar-se submergindo ligeiramente a superfície do filtro (10 cm) em detrimento dos rendimentos de tratamento (Cooper – 1996). Uma vez estabelecida a predominância dos caniços, esta operação já não é necessária. Ceifa Outras operações de manutenção desnecessária Cada visita A ausência de escoamento de superfície permite evitar a ceifa.A vegetação morta não prejudica a hidráulica dos filtros e, além disso, constitui um isolamento térmico do filtro Manter um livro de bordo, com todas as tarefas realizadas, as medições de caudal (canal Parchal, tempo de funcionamento das bombas) a fim de ter um bom conhecimento dos caudais e permitir a elaboração dos relatórios funcionamento. Rendimento Em termos de rendimento de remoção de CBO5 , para concentrações de entrada entre 50 a 200 mg/l e para um dimensionamento de 3 a 5 m2/h.e., filtros com escoamento de tipo horizontal e revestidos de gravilha alcançam rendimentos na ordem de 70 a 90%. Estas concentrações são, no entanto, demasiada fracas para serem consideradas representativas de uma água residual urbana, razão pela qual parece mais prudente seguir o exemplo dinamarquês. Com efeito, 80 instalações dinamarquesas, dimensionadas para cerca de 10 m2//h.e., atingem rendimentos da ordem de 86% para a CBO5 e os SST, de 37% para o azoto total e de 27% para o fósforo total (Cooper – 1996). De uma forma geral, pode-se afirmar que, em tratamento secundário, a nitrificação é limitada, mas a desnitrificação é muito boa. Os rendimentos relativamente ao fósforo dependem do tipo de solo utilizado, mas são relativamente fracos. Vantagens técnicas Consumo de energia reduzido; Não precisa de um declive importante para assegurar o escoamento por gravidade; Não é preciso pessoal de manutenção muito qualificado; Boa reacção às variações de carga. Inconvenientes técnicos Área exigida importante (tal como para lagoas); Uma instalação para aproximadamente 4 000 h.e. só pode ser considerada, desde que seja realizado um estudo sério sobre as condições de adaptação dos critérios de dimensionamento e o domínio do funcionamento hidráulico. PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 15 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:29 Page 16 Culturas em suspensão ▲ Funcionamento: princípios em jogo O processo de depuração por ”culturas em suspensão” baseia-se no desenvolvimento de uma cultura bacteriana, principalmente de tipo aeróbia. Conforme o processo, o oxigénio provém de diferentes fontes. Uma vez a cultura bacteriana desenvolvida, ela é separada da água mediante um mecanismo de sedimentação numa instalação específica (caso mais frequente – decantador final, lagoa de decantação, …). ▲ Lagoas sem arejamento (lagoas de estabilização) Princípio de funcionamento A depuração é assegurada graças a um longo tempo de retenção, em várias lagoas estanques dispostas em série. O número de lagoas mais frequentemente encontrado é de 3. No entanto, a utilização de uma configuração com 4 ou mesmo 6 lagoas permite conseguir um maior grau de desinfecção. O mecanismo básico em que se baseiam as lagoas sem arejamento é a fotossíntese.A camada superior de água das lagoas está exposta à luz, o que permite o desenvolvimento de algas que produzem o oxigénio necessário ao desenvolvimento e à manutenção das bactérias aeróbias. Estas bactérias são responsáveis pela decomposição da matéria orgânica. O dióxido de carbono produzido pelas bactérias, bem como os sais minerais contidos nas águas residuais, facilitam a multiplicação das algas. Obtém-se assim uma proliferação de duas populações interdependentes: as bactérias e as algas, também chamadas " micrófitas ". Este ciclo funciona em auto-manutenção enquanto o sistema receber energia solar e matéria orgânica. No fundo do tanque, onde a luz não penetra, são as bactérias anaeróbias que degradam os sedimentos provenientes da decantação da matéria orgânica. A este nível libertam-se anidrido carbónico e metano. Luz Radiação solar Entrada Vento Saída O2 Superfície O2 atmosférico O2 Águas tradadas O2 + Algas Bactérias aeróbias protozoárias CO2 Matéria biodegradável orgânica solúvel Matéria sedimentável orgânica e inorgânica solúvel e insolúvel 1m CH4 CO2 NH3 Bactérias anaeróbias facultativas Zona anaeróbia Fundo Figura 12: Os mecanismos em jogo nas lagoas sem arejamento. (Fonte: Agences de l’eau, CTGREF) Critérios de dimensionamento Uma lagoa sem arejamento é geralmente composta por várias lagoas estanques ou " lagoas de micrófitas " funcionando em série. Número de lagoas É frequente instalar três lagoas, o que permite assegurar um bom nível de fiabilidade no funcionamento para a remoção da matéria orgânica. Os rendimentos mais elevados, no que diz respeito à desinfecção, só são alcançados com uma maior compartimentação (até seis lagoas em série). . O papel respectivo das diferentes lagoas é o seguinte: a primeira assegura, acima de tudo, a redução da carga poluente que contém carbono; a segunda assegura a redução do azoto e do fósforo; a terceira afina o tratamento e fiabiliza o sistema em caso de uma disfunção numa lagoa a montante ou durante uma operação de manutenção. A carga superficial diária aplicada é da ordem de 4,5 g CBO5 por m2 de área total, o que corresponde a uma superfície de água da ordem de 10 à 15 m2/h.e. (Vuillot et al. – 1987). 16 PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:29 Page 17 A baixa carga aplicada implica que os efluentes permaneçam durante muito tempo nos tanques. Na ausência de águas pluviais, o tempo de retenção situa-se à volta de 70 dias. Nos climas quentes e secos, (países do sul da Europa), estas áreas podem ser reduzidas a metade, atendendo a que a temperatura acelera os processos biológicos e a evaporação aumenta o tempo de retenção (ver Radoux M., Cadelli D., Nemcova M., Ennabili A., Ezzahri J.,Ater M. - 2000). Por esta razão, os volumes a tratar num dado momento são totalmente diferentes dos volumes descarregados para o meio natural.A fim de assegurar o bom funcionamento hidráulico das instalações (e de detectar as eventuais infiltrações de águas a partir do lençol freático ou, ao contrário, de fugas), é importante ter a possibilidade de comparar os caudais a montante e jusante mediante dispositivos adequados (medidores de caudal ou tempo de funcionamento das bombas). Concepção da primeira lagoa É utilizado com êxito o valor de 6 m2/h.e., que corresponde a uma carga superficial nominal de cerca 8,3 g CBO5/m2 e por dia. Para as instalações destinadas a uma população variável, e em condições soalheiras e de calor, o dimensionamento pode ser efectuado baseando-se na frequência máxima do mês de ponta. A forma da lagoa não deve favorecer o crescimento bacteriano em detrimento do desenvolvimento das algas. O equilíbrio entre as duas populações deve ser respeitado para que o fornecimento de oxigénio seja sempre suficiente. Para isso, será preferível optar por um lagoa de forma compacta em vez de uma forma demasiado longitudinal.A relação L/l < 3 é utilizada na França (ver esquema seguinte). A profundidade da lagoa deve permitir: evitar o crescimento de vegetais superiores; a penetração da luz e a oxigenação de uma grande parte do volume. Portanto, a altura deve ser de 1 metro (±0,2 m). No entanto, com o fim de facilitar a limpeza do cone de acumulação dos depósitos que se desenvolve habitualmente junto ao ponto de alimentação, pode-se considerar aí uma zona de maior profundidade. Esta área, com uma altura suplementar de 1 metro no máximo, pode ocupar algumas dezenas de m2 e deve sempre ser acessível a partir da margem ou a partir de uma passadeira construída para esse efeito. Concepção da segunda e da terceira lagoa Estas duas lagoas devem ter dimensões semelhantes e a área total das duas extensões de água deve ser igual a 5m2/h.e. A altura da água deve ser de 1 metro (± 0,2 m).A sua forma pode variar em função, nomeadamente, dos condicionalismos topográficos e dos aspectos a respeitar a fim de obter uma boa integração na paisagem Pré-tratamento dos afluentes brutos Deve-se colocar uma câmara de grades antes da zona de tratamento nas instalações de maiores dimensões. Para as instalações previstas para menos de 500 h.e., é possível utilizar uma barreira flutuante (desengordurador grosseiro) submergida em 30 a 40 cm, que permite reter os sólidos flutuantes à entrada da primeira lagoa Espaço necessário A escolha do terreno é condicionada pela dimensão da superfície total do sistema de lagoas. A área da lagunagem inclui as extensões de água e os espaços envolventes que devem ser concebidos para permitir uma fácil manutenção. É preciso, por exemplo, cerca de 15 m2/h.e. de superfície total para construir os 4 400 m2 das lagoas necessárias ao tratamento das águas residuais produzidas por 400 h.e., o que requer portanto um terreno de 0,6 hectares (ver esquema seguin). I L 2,5 m2/EH 2,5 m2/EH 6 m /EH 2 Circulação da água Figura 13: Área total de uma lagoa sem arejamento (Agence de l’Eau Seine-Normandie, CEMAGREF – 1998) Localização. A instalação deve estar situada num ponto baixo, num lugar onde os ventos dominantes favoreçam o arejamento da camada superficial de água. No caso de existirem terrenos mais impermeáveis (silt/argilas) numa localização de cota superior, deve-se considerar a possibilidade de se recorrer a uma bombagem. Não se devem encontrar árvores a menos de 10 metros das lagoas, uma vez que as raízes podem criar caminhos preferenciais ao nível dos diques. Além disso, a queda de folhas na lagoa pode gerar uma sobrecarga orgânica bem como um risco de obstrução das instalações de intercomunicação. O terreno dever ser de tipo silto-argiloso. Acima de tudo, o subsolo não deve ser cársico e não deve apresentar fissuras. Topografia O terreno deve ser escolhido por forma a permitir um escoamento gravítico para o meio receptor. Deve-se também escolher um lugar necessitando o mínimo de obras de terraplanagem. Finalmente, devem ser eliminados os terrenos exageradamente inclinados, devido aos riscos de desabamento, de erosão e de alimentação pela lagoa de captação (após chuvas fortes, uma lagoa de captação demasiado inclinada poderá dar origem a um súbito e forte aumento do caudal das águas pluviais). PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 17 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:29 Page 18 Aplicação Terraplanagem O declive dos diques construídos com solos impermeáveis naturais deve respeitar uma relação H/l de pelo menos 1/2,5 a fim de : limitar a acção erosiva das ondas; facilitar a manutenção corrente; permitir o acesso a todas as lagoas das máquinas de limpeza. Para prevenir a erosão provocada pelas ondas e eventualmente as deteriorações devidas aos roedores, é útil pôr relva nas margens antes do enchimento com água ou de utilizar lajetas , geogrades ou qualquer outro material de protecção das margens. Os diques devem ser construídos por compactações de sucessivas camadas de 15 a 20 cm, a fim de assegurar um assentamento homogéneo até ao " coração do aterro ". A compactação da soleira deve ser efectuada após a dos diques. A colocação de uma geomembrana é possível, mas apresenta o inconveniente de aumentar o custo de investimento da instalação. Nestas circunstâncias, o declive dos diques poderá ser maior (até 1/1,5), reduzindo assim a área total das instalações. Devem-se prever ligações com sifões entre os tanques a fim de reter os hidrocarbonetos e as lentilhas de água. É preferível instalar uma derivação (by-pass) fixo em cada tanque a fim de facilitar as operações de esvaziamento e de limpeza. A última fase da realização é o enchimento rápido com água limpa das diferentes lagoas a fim de verificar qual a permeabilidade obtida evitando o risco das terras de construção da instalação secarem, verificar a estanquidade e favorecer o estabelecimento do ecossistema (incluindo a vegetação das margens). Podem ocorrer cheiros desagradáveis nas mudanças de estações do ano (ligados ao fenómeno de anaerobiose) se o efluente presente na primeira lagoa se apresentar demasiado concentrado. É possível resolver esta situação fazendo recircular a água da primeira lagoa ou diluindo o afluente mediante dispositivos de descarga de correntes de varrer na rede. A fim de prevenir a falta de estanquidade das lagoas, é imperativo proceder a um estudo prévio pedológico e hidrogeológico. Exploração O quadro que se segue apresenta uma descrição precisa das tarefas a realizar. Quadro 9: Exploração das lagoas Tarefa 18 Frequência Observações Controlo geral – pontos a controlar: 1 / semana presença de roedores; obstrução dos equipamentos de inter-comunicação; desenvolvimento de lentilhas de água; bom escoamento da água; ausência de substâncias flutuantes; cor da água; ausência de cheiros; estado dos diques A visita de controlo deve ser efectuada percorrendo todos os diques, método que tem a vantagem de prevenir a instalação de roedores. Manutenção das instalações depré-tratamento 1 / semana Trata-se de impedir a colocação em carga da rede ou do by-pass dos efluentes e evitar os maus cheiros ; Corte de relva nos diques, nas margens e da cintura vegetal (ou pastagem de carneiros) 2 a 4 / ano O objectivo é manter o acesso aos corpos de água, de limitar a instalação de roedores e o desenvolvimento de larvas de insectos e de controlar o estado das margens. Limpeza parcial do cone de sedimentação (entrada da primeira lagoa ) 1 a 2 / ano Deve ser realizada por bombagem. Limpeza das lagoas Em cada 5 a 10 anos, conforme a carga efectivamente recebida na primeira lagoa, e em cada 20 anos para as lagoas seguintes Deve ser realizada quando o volume de lama atingir os 30% do volume do tanque. Dois métodos de limpeza são habitualmente utilizados: por máquinas de movimentação de terras, após o esvaziamento da lagoa. Isto implica a presença de um by-pass fixo em cada tanque; por bombagem, sem esvaziamento prévio, chamada " limpeza debaixo de água ". PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO Além disso, os métodos de luta contra as lentilhas de água são preventivos (sedentarização de patos) ou curativos (remoção dos vegetais, p. ex. mediante tábuas flutuantes). INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:29 Page 19 Rendimento Os rendimentos, calculados com base na redução de matéria orgânica, alcançam mais de 75% o que corresponde a uma concentração em CQO de 125 mg/l no efluente filtrado. Além disso, a quantidade de água tratada, e portanto o caudal descarregado, é muitas vezes reduzido no Verão (-50%) devido à evapotranspiração. As concentrações de azoto total no ponto de descarga são muito baixas no Verão, mas podem atingir várias dezenas de mg/l (expresso em N) no Inverno. A redução do fósforo é notável durante os primeiros anos (≥ 60%), e diminui para atingir um rendimento nulo ao fim de aproximadamente 20 anos. Esta diminuição deve-se à libertação do fósforo a partir das lamas acumuladas no fundo.As condições iniciais são restabelecidas mediante a limpeza do fundo das lagoas (quando o meio receptor for sensível ao fósforo, esta limpeza deverá ser executada ao fim de 10 anos e não ao fim dos habituais 20 anos) A desinfecção é importante, particularmente no Verão (redução > 10 000). Este rendimento está ligado ao tempo de retenção prolongado do afluente (cerca de 70 dias para um tratamento completo), à competição biológica e às radiações ultravioletas solares. Vantagens Se o declive for favorável, não se verifica qualquer consumo de energia; A exploração é simples, mas se a limpeza geral não for realizada regularmente, os rendimentos da lagoa baixam de maneira notável; Elimina uma grande parte dos nutrientes: fósforo e azoto (no Verão); Muito boa eliminação dos microrganismos patogénicos no Verão (4-5 logs), boa no Inverno (3 logs); Boa reacção às fortes variações de carga hidráulica; Nenhuma construção pesada; os trabalhos de construção civil são simples e reduzidos; Boa integração na paisagem; Equipamento com carácter pedagógico, para iniciação em ciências da natureza Ausência de poluição acústica; As lamas provenientes da limpeza são bem estabilizadas (salvo as lamas junto à entrada da primeira lagoa) e fáceis de dispersar num solo agrícola. Inconvenientes técnicos Área exigida importante; Custo de investimento muito dependente das características do subsolo. No caso de terrenos arenosos ou instáveis, é preferível renunciar a este tipo de lagoas; Rendimentos em termos de matéria orgânica removida são inferiores aos processos intensivos. No entanto, a matéria orgânica descarregada efectua-se sob a forma de algas, o que é menos prejudicial para a oxigenação do meio receptor a jusante, do que a matéria orgânica dissolvida. Além do mais, o caudal descarregado no Verão (evapotranspiração), período menos favorável para os rios, é baixo, pelo que a redução do caudal descarregado acaba por ser uma vantagem nesta época do ano; Qualidade da água descarregada varia conforme a estação do ano. ▲ Lagoas de macrófitas As lagoas de macrófitas reproduzem zonas húmidas naturais com uma superfície de água livre e tentam valorizar os processos naturais destes ecossistemas. São pouco utilizadas na Europa, mas são frequentemente utilizadas nos Estados Unidos para tratamentos terciários a seguir a uma lagoa sem arejamento, a lagoas facultativas ou a lagoas arejadas. Este processo é geralmente utilizado com vista a melhorar o tratamento (em termos de CBO5 ou SST) ou de afiná-lo (nutrientes, metais...). Nota-se, no entanto, que a utilização de uma lagoa de micrófitas permite obter melhores resultados e a sua manutenção é mais fácil. . PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 19 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:29 Page 20 ▲ Lagoas arejadas Princípio de funcionamento Descrição geral No caso das lagoas arejadas, a oxigenação é realizada mecanicamente por um arejador de superfície ou por injecção de ar. Este princípio só se diferencia das lamas activadas pela ausência de sistema de reciclagem das lamas ou de extracção das lamas em contínuo. O consumo de energia nos dois processos é, para as mesmas capacidades, comparável (1,8 a 2 kW/kg CBO5 eliminada). Principais mecanismos em jogo Na lagoa de arejamento, as águas a tratar estão em presença de microrganismos que vão consumir e digerir os nutrientes provenientes da poluição a eliminar. Estes microrganismos são principalmente bactérias e fungos (equiparáveis aos presentes nas estações com lamas activadas). Na lagoa de decantação, as matérias em suspensão constituídas pelas acumulações de microrganismos e de partículas retidas, são decantadas produzindo as lamas. Estas lamas são bombeadas regularmente ou removidas da lagoa quando representarem um volume demasiado importante. Este processo de decantação realiza-se numa simples lagoa de decantação, ou ainda melhor, em duas lagoas que possam ser utilizadas separadamente, permitindo assim realizar as limpezas, quando necessárias. Nas lagoas arejadas verificam-se os seguintes efeitos numa população bacteriana sem recirculação: uma baixa densidade de bactérias e um tempo de tratamento importante para conseguir o nível de qualidade exigido; uma floculação pouco importante das bactérias, o que obriga à instalação de uma lagoa de decantação de dimensões correspondentes. Descarga Entrada Rio 3 m3 por hab. equiv. 3 m3 por hab. equiv. 0,3 a 0,5 m3 por hab. equiv. Figura 14: Esquema de princípio de uma lagoa arejada (segundo Agences Financières de l’Eau, CTGREF) Critérios de dimensionamento Escolha dos terrenos Deve-se prever uma área compreendida entre 1,5 a 3 m2 por habitante equivalente . Lagoas de arejamento Quadro 10 : Critérios de dimensionamento para as lagoas arejadas Parâmetros Critérios de dimensionamento Tempo de permanência 20 dias (o tempo de retenção reduz–se de facto a cerca de quinze dias após alguns anos de funcionamento devido ao volume ocupado pela deposição das matérias em suspensão => portanto, não se deve procurar reduzir este tempo de retenção aquando do dimensionamento). Volume 3 m3 por utente. Profundidade 2 a 3,50 m com arejadores de superfície (as turbinas de 4 kW correspondem a profundidades na ordem de 2,5 m, as de 5,5 kW são usadas para profundidades entre 2,5 e 3 m). > 4 m possível com injectores de ar 20 Forma do tanque Quadrangular com um arejador central Potência específica de arejamento As necessidades de oxigénio são de aproximadamente 2 kg O2 / kg CBO5. Para reduzir os depósitos a um volume que não prejudique o tratamento e prevenir a formação de algas microscópicas, é necessário sobredimensionar os arejadores e utilizar uma potência entre 5 e 6 W/m3. Em funcionamento, é sempre possível reduzir o tempo de operação destes arejadores em relação aos tempos de operação dos arejadores de menor potência, o que permite diminuir os custos adicionais de funcionamento. PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:29 Page 21 Lagoas de decantação Quadro 11 : Critérios de dimensionamento para as lagoas de decantação Parâmetros volume Forma da lagoa Critérios de dimensionamento 0,6 a 1 m3 por habitante equivalente (2 tanques de 0,3 a 0,5 m3/e.p. ) Quadrangular com uma relação largura / comprimento igual a 1/2 ou 1/3 Profundidade 2 m a fim de deixar um metro de água livre antes da remoção das lamas. Profundidade 2 a 3 m com arejadores de superfície. A utilização de duas lagoas de decantação permite o funcionamento de modo alternado facilitando a remoção das lamas, operação esta que deve ser realizada em cada dois anos. Aplicação Ao contrário das lagoas não arejadas, é preferível assegurar a impermeabilização por uma geomembrana a fim de limitar os riscos de degradação das margens devido às ondas produzidas pela água em movimento. No caso de se recorrer a terras naturais impermeáveis, convém instalar sobre as margens materiais que assegurem uma protecção contra a erosão provocada pelas ondas (betão projectado, geogrades + plantação de juncos). A vida útil da instalação depende dessas medidas. Qualquer que seja o modo de construção escolhido, deverão colocar-se lajes de protecção contra a erosão por escavação por debaixo dos arejadores. Exploração As diferentes tarefas de manutenção e conservação são enumeradas no seguinte quadro Quadro 12 : Exploração das lagoas arejadas Tarefa Frequência Observações Limpeza das instalações 1 / semana de pré-tratamento (grades + barreira flutuante de protecção) / Inspecção geral das lagoas Remoção das lamas das lagoas de decantação Regulação, programação do arejamento 1 / semana / Corte das ervas aquáticas, ceifa 2 a 5 / ano / Verificação e leitura 1 / semana dos contadores / Manutenção do livro de bordo / 1 vez em cada 2 anos em carga nominal 2 / ano 1 / semana A primeira limpeza só é necessária após 3 ou 4 anos de funcionamento. Operação mais complexa, que implica uma verificação do novo equilíbrio biológico no tanque após cada regulação. Rendimento O nível de qualidade do efluente é bom em termos de matéria orgânica: mais de 80% de redução. Para os nutrientes, a eliminação fica limitada à assimilação bacteriana e é na ordem de 25-30%. O processo adapta-se facilmente à adição de reagentes físico-químicos com vista a eliminar os ortofosfatos. Vantagens técnicas Este processo é particularmente tolerante para com numerosos factores que geralmente provocam graves disfunções nos processos convencionais de tratamento: grandes variações das cargas hidráulicas e/ou orgânicas; afluentes muito concentrados; desequilíbrios de nutrientes nos afluentes (causa de aumento de matérias filamentosas nas lamas activadas); tratamentos conjuntos de efluentes domésticos e industriais biodegradáveis; boa integração na paisagem; lamas estabilizadas; limpeza das lamas apenas de dois em dois anos. Inconvenientes técnicos qualidade média das descargas, para todos os parâmetros; presença de equipamentos electromecânicos necessitando uma manutenção por mão de obra especializada: poluição acústica devido à presença do sistema de arejamento; forte consumo de energia PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 21 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:30 Page 22 SISTEMAS COMBINADOS [ASSOCIAÇÃO DE PROCESSOS EXTENSIVOS (CULTURAS FIXAS OU EM SUSPENSÃO)] A associação de vários sistemas naturais, em culturas livres ou fixas, em série ou em paralelo, é por vezes aplicada a fim de adaptar o tratamento a um objectivo específico (qualidade da descarga, integração das águas pluviais, afluente de tipo particular...). Para o tratamento principal, as experiências ainda são poucas e os seus rendimentos reais difíceis de avaliar. Alguns estudos (Radoux M. et al. - 2000) sobre MHEA‚ (Mosaicos Hierarquizados de Ecossistemas Artificiais) demonstram potencialidades interessantes sem definir critérios de dimensionamento. A utilização de filtros verticais e horizontais em série parece ser uma solução interessante para permitir um tratamento mais completo do azoto e do fósforo conforme o tipo de suporte utilizado (Cooper – 1996). Uma primeira fase recorrendo a filtros verticais permite uma boa redução dos SST, da CBO5, bem como, uma nitrificação quase completa. Uma segunda fase de filtros horizontais afina o tratamento sobre os SST, a CBO5, e permite uma desnitrificação, bem como, uma adsorção do fósforo se o suporte escolhido tiver as características adequadas. Configurações mais complexas são frequentemente utilizadas para afinar tratamentos secundários ou terciários. Após tratamentos de tipo lagoas com arejamento ou lagoas sem arejamento, a utilização de lagoas de macrófitas emergentes permitirá eliminar o risco de descargas temporárias de qualidade medíocre. 22 PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO Sistemas de lagoas facultativas seguidas de lagoas de macrófitas emergentes são frequentemente utilizadas para o tratamento das águas pluviais (Strecker et al. – 1992). Quando a população atingir um valor próximo de 4 000 h.e., convém proceder a uma boa comparação dos custos de investimento e de gestão com os processos reputados mais intensivos. Deve–se ter em conta os encargos de gestão decorrentes das grandes superfícies em causa. Inúmeras configurações são possíveis conforme a vontade de reproduzir os vários sistemas naturais de zonas húmidas. Convém no entanto lembrar que o aumento da complexidade de uma estação de tratamento deste tipo faz-se à custa da cada vez menor simplicidade da sua exploração, sendo este o objectivo frequentemente mais procurado.Além disso, o estado actual dos conhecimentos científicos sobre o funcionamento das zonas húmidas incita geralmente a tentar simplificar a configuração a fim de controlar melhor o grau de tratamento. INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:30 Page 23 CONCLUSÕES: ELEMENTOS DE APRECIAÇÃO PARA OPÇÕES TÉCNICAS Recapitulação dos diferentes processos As tecnologias de tratamento correspondentes à expressão " processos extensivos " estão sumariamente resumidas no quadro seguinte, que mostra, para algumas, a necessidade de se prever um tratamento primário (ver Glossário) a montante, e que outras, se adequam exclusivamente para tratamento final (ou terciário). Quadro 13 : As técnicas de tratamento extensivas Processo convencional Tratamento primário Tratamento secundário Tratamento terciário Infiltração – percolação Decantador digestor Infiltração - percolação Filtros de plantas com escoamento vertical Necessário (filtros de plantas com escoamento vertical* podem ser utilizados para assegurar o tratamento primário) Decantador digestor Filtros de plantas com escoamento vertical (1º nível) Lagoas não arejadas 1ª lagoa 2ª lagoa 3º tanque de lagunagem Lagoas de macrófitas Desaconselhado Desaconselhado Um ou vários tanques Lagoas arejadas Lagoa arejada + lagoa de decantação Lagoa de decantação final Sistemas mistos, 1ª lagoa, 2ª lagoa Infiltração - percolação Lagoa arejada + lagoa de decantação Infiltração - percolação Filtros de plantas com escoamento horizontal por exemplo... Filtros de plantas com escoamento vertical (2º nível) Filtros de plantas com escoamento horizontal Filtros de plantas com escoamento vertical + Filtros de plantas com escoamento horizontal * Filtros com gravilha em vez de areia (ver estudo de caso da NEA Maytos – Modi pág. 30) A maior parte destas tecnologias asseguram uma eliminação notável de um dos parâmetros característicos do tratamento terciário (azoto, fósforo ou microrganismos atestando uma contaminação fecal) conforme os vários níveis considerados e detalhados no quadro 14 seguinte. Qualidade das descargas Quadro 14 : Eficácia dos processos extensivos conforme os parâmetros (*cf. glossário) Parâmetros MO* NTK* N Global* P total* Descontaminação bacteriológica Infiltração - percolação Sim Sim Não Não Só com dimensionamento específico Filtros de plantas com escoamento vertical Sim Sim Não Não Não Filtros de plantas com escoamento horizontal Sim Má desnitrifi- Boa desnitri- Não cação ficação Não Lagoas sem arejamento Média Sim Sim Sim, os primeiros anos Sim Lagoas de macrófitas Média Sim Sim Sim, os primeiros anos Sim Lagoas arejadas Média Média Não Não Não PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 23 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:30 Page 24 Vantagens e inconvenientes: recapitulação A opção final tomar-se-á tendo em conta as vantagens e os inconvenientes das diferentes tecnologias, apresentados sucintamente no seguinte quadro : Quadro 15 : Recapitulação das vantagens e inconvenientes dos processos extensivos Processo Vantagens Inconvenientes Infiltraçãopercolação em areias Excelentes resultados relativamente a CBO5, a CQO, os SST e nitrificação avançada; Área necessária muito menor que para uma lagoa sem arejamento; Capacidade de descontaminação interessante. Facilidade de operação e baixos custos de exploração. Nenhum consumo de energia quando a topografia o permitir; Tratamento das águas residuais domésticas brutas; Gestão reduzida ao mínimo para depósitos orgânicos retidos nos filtros do 1° nível; Boa adaptação às variações sazonais de população Filtros de plantas com escoamento vertical Filtros de plantas com escoamento horizontal Necessidade de uma instalação de decantação primária eficaz; Risco de colmatação a gerir; Necessidade de dispor de grandes quantidades de areia; Adaptação limitada às sobrecargas hidráulicas. Exploração regular, ceifa anual das partes aéreas dos caniços, deservagem manual antes da predominância dos caniços se estabelecer; A utilização deste processo para capacidades superiores a 2 000 h.e.. continua a ser muito delicada dado os problemas ligados ao controlo hidráulico e custos semelhantes aos dos processos convencionais; Risco de presença de insectos ou de roedores; Consumo de energia reduzido; Área exigida importante, partes envolventes Ausência de poluição acústica e boa incluídas. Na ordem de 10 m2/h.e. (equiparável integração na paisagem; à superfície de uma lagoa sem arejamento). Não é preciso uma qualificação avançada Uma instalação para dimensões de 2 000 à 15 para assegurar a manutenção; 000 h.e. só pode ser encarada na condição de Boa reacção às variações de carga. que seja realizado um estudo cuidado sobre as condições de adaptação dos critérios de dimensionamento e do controlo hidráulico. Lagoas sem arejamento Lagoas arejadas Se o declive for favorável, não há consumo de energia; A exploração é simples, mas se a limpeza global não for realizada regularmente, os rendimentos da lagoa diminuem de forma notável; Remoção da maior parte dos nutrientes: fósforo e azoto (no Verão); Qualidade da descarga limitada e boa eliminação dos microrganismos patogénicos no Verão; Boa reacção às fortes variações de carga hidráulica; Nenhuma construção civil pesada; os trabalhos de engenharia civil são simples; Boa integração na paisagem; Bom instrumento pedagógico (iniciação às ciências da natureza); Ausência de poluição acústica; As lamas provenientes da limpeza são bem estabilizadas, salvo as lamas da entrada da primeira lagoa. 24 Tolerância para com variações importantes das cargas hidráulicas e/ou orgânicas; Tolerância para com afluentes muito concentrados; Tolerância a desequilíbrios de nutrientes nos afluentes (causa de aumento de matérias filamentosas nas lamas activadas); Tratamentos conjuntos de efluentes domésticos e industriais biodegradáveis. Boa integração na paisagem; Lamas estabilizadas. PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO Área exigida importante (10 m2/e.p.); Custo de investimento muito dependente das características do subsolo. Em presença de um terreno arenoso ou instável, é preferível renunciar a este tipo de lagoas; Rendimentos em termos de matéria orgânica eliminada inferiores aos processos intensivos. No entanto, a matéria orgânica é descarregada sob a forma de algas, o que é menos prejudicial para a oxigenação do meio receptor a jusante, do que a matéria orgânica dissolvida; Qualidade da descarga variável conforme as estações do ano; Domínio limitado do equilíbrio biológico e dos processos depuradores. Qualidade média da descarga para todos os parâmetros; Presença de equipamentos electromecânicos necessitando uma manutenção por mão de obra especializada: Poluição acústica ligada à presença do sistema de arejamento; Forte consumo energético. INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:30 Page 25 Importância do factor climático Será sempre a adaptabilidade das características dos diferentes processos às condições locais que deverá levar os órgãos de decisão a tomar uma decisão. Nesta perspectiva, dever-se-ão estudar mais em pormenor as capacidades de adaptação dos diferentes processos a diversas condições climáticas. Os filtros verticais podem aguentar períodos de formação de gelo à superfície sem grande perda de qualidade do tratamento. Contudo, sendo a alimentação alternada, períodos prolongados de gelo, na ausência de uma protecção térmica proporcionada pela neve, podem prejudicar o funcionamento hidráulico do filtro e, por conseguinte, a qualidade do tratamento. Um isolamento com palha pode evitar os efeitos de uma geada demasiado forte (Wallace et al – 2000, Brix – 1998). No entanto, não foram observadas grandes diferenças de rendimento entre as várias estações do ano em numerosas instalações na Dinamarca. Os filtros horizontais aguentam facilmente períodos prolongados de congelamento.Vários factores contribuem para o isolamento térmico das águas das baixas temperaturas exteriores: neve, caniços cortados e mantidos à superfície e, para os períodos mais críticos da retenção do gelo, a camada de ar retida debaixo da camada de gelo à superfície do filtro. Os rendimentos podem, no entanto, revelar-se mais baixos do que nas condições de Verão. Em condições climáticas extremas, convém ter em conta um factor de segurança aquando do dimensionamento destas instalações. Os sistemas de lagoas de macrófitas são sensíveis às temperaturas da água. A cinética das reacções de decomposição diminui no caso de a temperatura baixar. No que diz respeito às lagoas de micrófitas, observa-se que o processo de fotossíntese pode continuar, mesmo debaixo de um ou dois centímetros de gelo. No dimensionamento das lagoas de macrófitas, a constante de degradação é dependente da temperatura. Não obstante, a variabilidade dos caudais e das concentrações em função das estações do ano torna difícil a interpretação do efeito da temperatura. O ciclo do azoto é o mais sensível aos efeitos da temperatura. Curiosamente, os efeitos sobre a CBO5 são menos evidentes e alimentam vários debates (Kadlec, R.H. et al – 2000). Em compensação, os SST não são afectados pela temperatura. O tempo de retenção nas lagoas varia em função das condições climáticas e portanto afecta indirectamente os rendimentos esperados.A forte evapotranspiração que se verifica durante a estação quente pode aumentar consideravelmente o tempo de retenção e, por consequência, o rendimento. Desaconselha-se a implantação de lagoas arejadas em zonas com um clima extremamente frio Qualquer que seja o processo escolhido, em condições climáticas extremas, convirá ter em conta um factor de segurança aquando do dimensionamento. Está ainda por realizar um estudo complementar para determinar com mais precisão esse factor De facto, o espaço disponível e a permeabilidade do solo, mais do que as condições climáticas, são os principais factores determinantes para a escolha destas tecnologias. Diagrama de decisão Para a escolha de um processo de tratamento, pode-se utilizar o seguinte diagrama de decisão: Sim (8 - 15 m2/hab) Superfície disponível Não (Menos de 1 m2/hab) Limitada (2 - 5 m2/hab) Sistema extensivo ou misto Sistema híbrido: l Filtro biológico + lagoa final; l Disco biológico + lagoa final; Ou l lagoa arejada + lagoa final; l filtro vertical de areia drenado (pequenas unidades) Sistema intensivo + tratamento terciário quando necessário (nutrientes / microbiologia) Não Solo permeável Sim Infiltração percolação ou filtros* Lagoa sem arejamento de micrófitas ou Filtros de plantas horizontais Jean Duchemin Comissão Europeia - 2001 *filtro vertical quando se procurar a eliminação do NH4+ e dos microrganismos (sem acção sobre NO3-) ; filtro vertical + filtro horizontal ou só filtro horizontal se se pretender uma desnitrificação. O risco de uma concentração elevada em NH4+ ao nível da descarga é então mais importante Figura 15 : Diagrama de decisão PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 25 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:30 Page 26 Custos Os dados apresentados no quadro seguinte derivam de experiências francesas e são, antes de tudo, válidas e comprovadas para esta mesma zona geográfica. Quadro 16: custos (em EURO líquido de imposto) relativos a uma estação para 1 000 habitantes (Fonte: ficha técnica FNDAE n.° 22 – 1998) Lamas activadas Filtros biológicos Discos biológicos Lagoas c/ Lagoas s/ Decantador-digesarejamento arejamento tor + infiltração percolação Decantador-digestor + filtro de plantas Investimento 230 000 (+30%) 180 000 (+50%) 220 000 (+45%) 130 000 (+50%) 120 000 (+60%) 190 000 (+50%) 190 000 (+35%) Funcionamento (incl. energia) => Custo anual em EURO/ano 11 500 7 000 7 000 6 500 4 500 6 000 5 500 Outra fonte, indica custos sensivelmente diferentes para os processos intensivos, já que o custo de investimento para as lamas activadas, bem como, para os filtros biológicos se situa na ordem dos 155 000 EURO (ver Agence de l’Eau Seine-Normandie – 1999). Estes últimos números, no entanto, provêm de dados fornecidos pelos construtores, enquanto que os dados do quadro anterior provêem de inquéritos no terreno a partir dos quais foram comparados e analisados os custos de 10 a 16 estações utilizando sempre o mesmo processo. Uma terceira fonte (ver Alexandre O, Grand d’Esnon – 1998) fornece valores para uma estação de tratamento com um dimensionamento compreendido entre 2 000 e 15 000 h.e., do tipo arejamento prolongado com tratamento do azoto e eventualmente do fósforo. O preço de construção de uma estação deste tipo, após a realização de um concurso público, foi de 120-140 EURO /h.e. O total da operação, que inclui a direcção das obras, os diferentes estudos preliminares, o processo de autorização de descarga, os estudos de valorização das lamas e resíduos, é da ordem de 150 EURO / h.e. Se se aceitar a hipótese de um sobredimensionamento normal de 15 a 20%, uma estação de depuração com uma capacidade compreendida entre 2 000 e 15 000 h.e. custa 185 EURO/h.e.. A construção civil, avaliada em 92,5 EURO/h.e. amortiza-se em 20 anos. O equipamento electromecânico, avaliado em 92,5 EURO / h.e., amortiza-se em 12 anos. Como se pode observar com os exemplos acima referidos, os números podem variar sensivelmente consoante as fontes, embora o objecto em causa seja o mesmo (construção de uma estação na França). Isto vem confirmar que, querer fazer uma comparação dos custos entre as diferentes tecnologias extensivas ao nível europeu, continua a ser uma tarefa muito delicada.Vários estudos permitem avançar que as estações alemãs são, com capacidade equivalente, 20 a 30% mais caras que as francesas, devido ao custo da construção, ao material utilizado e aos factores de segurança utilizados (ver Berland J.M.,1994). Ao contrário, os custos na Grécia ou em Portugal são menos elevados que na França, devido a um custo menor da construção civil. Além disso, o contexto local pode gerar diferentes custos suplementares ao nível do investimento (terraplanagem em zona granítica, colocação de uma geomembrana devido à permeabilidade do solo, ausência de areias nas proximidades...). Por tudo isso, considera-se pelo menos arriscado apresentar regras gerais neste campo. É possível, em compensação, afirmar que a exploração dos diferentes sistemas extensivos é mais simples e, por conseguinte, menos dispendiosa que a operação dos sistemas intensivos, nomeadamente no que diz respeito ao custo energético e ao custo decorrente da gestão das lamas. Aqui reside a grande vantagem destes sistemas, que, para além disso, não necessitam de uma mão-de-obra especializada. Convém todavia lembrar que, em nenhum caso, se pode negligenciar a realização das tarefas requeridas, sob pena de ver os rendimentos das instalações caírem de maneira espectacular (ver quadro 15). Em termos globais, a utilização dos processos extensivos, para uma capacidade equivalente, deveria permitir realizar uma economia média de 20 a 30% sobre os custos de investimento e de 40 a 50% sobre os custos de funcionamento, em comparação com os correspondentes sistemas intensivos de tratamento. Uma vantagem dos processos extensivos: contribuição paisagística e uma iniciação nas ciências da natureza. 26 As estações de tratamento são habitualmente construídas em áreas periurbanas e, por conseguinte, nas periferias das grandes cidades. Nestas zonas, a paisagem é frequentemente objecto de críticas devido à concentração urbanística e à predominância do betão. O facto de se optar por um processo extensivo, que não gera poluição acústica e apresenta qualidades paisagísticas evidentes, poderá ser aceite mais facilmente do que no caso da construção de uma estação compacta convencional, que poderia ser encarada como um incómodo suplementar. Além disso, as zonas húmidas (lagoas, canaviais) recriadas com estes processos atraem frequentemente uma fauna aquática interessante, o que favorece as acções A lagoa de Rochefort Sur Mer (França) pedagógicas nas escolas e nas popula– capacidade de 28.000 p.e. (Fotografia L.P.O.) ções dos arredores. PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:30 Page 27 CASOS DE ESTUDO Infiltração percolação : um caso particular, a instalação de Mazagon (Espanha). ▲ Em termos gerais A instalação trata as águas residuais de Mazagon, aldeia turística situada sobre a costa atlântica do sul da Espanha.A população da aldeia é de 850 habitantes no Inverno e aumenta fortemente no Verão para chegar aos 20 000 h.e. A estação de tratamento piloto apenas trata uma parte desta poluição e foi concebida para uma capacidade média de 1 700 h.e. Observe-se que neste caso apenas se pretende realizar um tratamento parcial, o que justifica o sub- dimensionamento preconizado no presente documento (1,5 m2/ hab) e que foi validado sobre um certo número de instalações existentes. ▲ Descrição do projecto A instalação compreende um decantador de 170 m3, um tanque de armazenamento e três pares de lagoas de infiltração situadas nas dunas. Cada unidade de infiltração ocupa um área de 200 m2. Trata-se de um sistema sem drenagem. O lençol freático encontra-se entre 5,1 e 6,6 metros de profundidade conforme os tanques. Lagoas de infiltração Estrada de Mazagon Tanque de armazenamento Conduta de alimentação das lagoas Tratamento primário Desarenação Tratamento preliminar 50 m Figura 16: Esquema da instalação (V. Mottier, F. Brissaud, P. Nieto and Z. Alamy – 2000) Águas residuais Cerca de 1100 m3 de águas residuais são dispersas em cada descarga do tanque. Cada descarga realiza-se sobre um par de lagoas de infiltração. As descargas são comandadas por comportas manuais. Uma descarga de alimentação de águas residuais para uma unidade de infiltração demora entre 40 e 50 minutos, o que corresponde a um caudal e 130 m3/h. Só se efectua uma descarga por unidade de infiltração por dia. As águas residuais distribuem-se sobre os filtros por meio de canais de repartição (condutas furadas). As amostras foram realizadas a 30, 60, 100, 150 et 200 centímetros de profundidade mediante câmaras de colheita deliberadamente instaladas para esse efeito. instalação de Mazagon (Espagne) PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 27 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:30 Page 28 ▲ Resultados Importa salientar que o efluente não se distribui de uma maneira homogénea sobre a superfície de infiltração. Metade da superfície está submersa após cinco minutos de distribuição dos efluentes, 75% após 12 minutos e 90% após 21 minutos. Observa-se a mesma heterogeneidade após o fim da alimentação. Este inconveniente deve-se a : uma distribuição pelas condutas não uniforme; uma alimentação demasiado longa em relação à superfície de infiltração e à permeabilidade da areia; desigualdades de altura do nível da superfície de infiltração, apesar das frequentes operações de igualização. Como consequência disto, verifica-se uma grande heterogeneidade das cargas efectivamente aplicadas ao nível da superfície da unidade de infiltração. 95% do volume da descarga ultrapassou os dois metros de profundidade, duas horas após o início da alimentação. A velocidade de percolação situa-se entre 1,1 e 2m/h ▲ Rendimento Parâmetros químicos convencionais Os rendimentos medidos relativamente aos diferentes parâmetros químicos clássicos são os seguintes. Quadro 17 : Rendimento da instalação Rendimentos na Primavera (1993) – valor médio de quatro descargas CQO (mgO2/l) NH4 (mgN/l) NO2 (mgN/l) NO3 (mgN/l) Efluente 279 31,5 0,02 2,3 Água tratada 36 0,5 0,08 28,2 Rendimento do tratamento 87% 98% Rendimentos no Verão (1993) – valor médio de três descargas Efluente 408 53,8 0,02 3,0 Água tratada 35 0,3 0,14 32,4 Rendimento do tratamento 91% 99% A CQO foi reduzida de 90% e mais de 98% de N-NH4 foram oxidados. Os rendimentos relativos a CQO e ao NH3 são portanto excelentes. No entanto, estes dados resultam de apenas uma campanha de colheitas que demorou cinco meses (de Março a Agosto de 1993), o que não permite verificar se os rendimentos se mantiveram a longo prazo. Desinfecção No que diz respeito à desinfecção, os rendimentos foram calculados relativamente aos coliformes totais, aos coliformes fecais e aos estreptococos fecais. As médias foram calculadas a partir de medições realizadas sobre sete sequências. A taxa de redução é expressa da seguinte maneira : ∆m = log (Ci/C0) O resultado é expresso em unidade log. (U log.). com Ci = número de microrganismos na água residual C0 = número de microrganismos na água filtrada Esta taxa de redução é de 1,2 U log. para os coliformes totais, 1,6 U log. para os coliformes fecais e 1,3 U log para os estreptococos fecais.. Esta taxa de redução é de 1,2 U log. para os coliformes totais, 1,6 U log. para os coliformes fecais e 1,3 U log para os estreptococos fecais. A desinfecção é portanto limitada para um processo de infiltração sobre areia. Isso deve-se principalmente à granulometria da areia utilizada, que é relativamente grossa e às irregularidades deste material. Os rendimentos sobre este tipo de parâmetros até são menores que os alcançados pelos processos compactos convencionais (lamas activadas, leitos bacterianos...). ▲ Referências bibliográficas relativas à infiltração percolação de Mazagon (Espanha) V. Mottier, F. Brissaud, P. Nieto and Z.Alamy – 2000 wastewater treatment by infiltration percolation: a case study, in Water Science and Technology,Vol. 41, P.P. 77-84. 28 PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:30 Page 29 Infiltração-percolação: uma instalação clássica: o caso de Souillac Paille-Basse (França – Departamento de Lot) ▲ Em termos gerais O objectivo do tratamento é a protecção do aquífero cársico.A população servida na altura da medição dos rendimentos (1993) era de 900 h.e. e era principalmente sazonal. A rede de saneamento é uma rede separativa e o caudal diário é de 100 m3 / dia, em caudal de ponta. ▲ Descrição do projecto A instalação é composta por: Pré-tratamento: bomba dilaceradora; Decantador-digestor (capacidade: 1 200e.p.); Alimentação: por descargas de 17 ou 34 m3, conforme a capacidade da lagoa em serviço; alimentação por bombagem a 40 m3/h. As bombas são comandadas por bóias; a distribuição entre as lagoas é comandada manualmente; a repartição sobre as lagoas é sucessivamente a seguinte; configuração inicial: 3 pontos de alimentação por lagoa, com equi-repartição por extravasamento; configuração definitiva: 2 pontos de alimentação por sub-lagoa. Lagoas : configuração inicial: 2 lagoas de 400 m2 cada; configuração definitiva: compartimentação das lagoas em sub-unidades de 130 ou 200 m2. leito filtrante. Areia calibrada (d10 = 0,21 mm ; coeficiente de uniformidade = 2,4), espessura: 0,80 m. Camada drenante: 20 a 40 cm de gravilha. Descarga : infiltração no local sobre o lençol freático. Funcionamento : Alimentação por descargas de 0,13 ou 0,26 m na configuração inicial e de 0,085 ou 0,17 m na configuração definitiva. A duração dos períodos de funcionamento é extremamente variável, de 1 dia a quase 1 mês. Em geral, apenas uma lagoa está em funcionamento; Lâmina de água diária sobre a lagoa em operação: h = 50 cm / d. ▲ Rendimento Quadro 18 : Rendimento da instalação Efluentes decantados (saída de decantador) Efluentes percolados (descarga) SST (mg/l) 117 20 a 36 CQO (mg/l) 580 201 a 282 263 54 a 120 NTK (mg/l) 112 53 a 75 N-NO3 (mg/l) >1 Coliformes fecais / 100 ml 2.10 CBO5 (mg/l) 70* a 1 7 6.106 à 2.107 * média influenciada por alguns valores excepcionalmente fortes. A carga poluente dos efluentes decantados é de tal ordem que a sua oxidação só é possível na condição de se aplicarem cargas hidráulicas diárias máximas de 15 cm/d. Dado que as cargas aplicadas são de 3 a 5 vezes superiores, a oxidação é parcial. A solução reside numa mudança de sub-lagoa para cada nova descarga; para isso, seria necessário um equipamento mais sofisticado (comportas motorizadas telecomandadas). Cargas hidráulicas elevadas ou até muito elevadas aplicadas num leito filtrante pouco espesso não permitem alcançar um nível elevado de descontaminação. ▲ Referências bibliográficas relativas à infiltração percolação de Souillac Paille-Basse Brissaud F. – 1993, Epuration des eaux usées urbaines par infiltration percolation: état de l’art et études de cas, Etude Inter Agences n°9, Agences de l’Eau, Ministère de l’Environnement, Paris. PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 29 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:30 Page 30 Filtros de plantas com escoamento vertical, a experiência de NEA Madytos – Modi (Grécia) ▲ Em termos gerais Em 1991, por iniciativa da Comissão Europeia, foi iniciado na Grécia, nas autarquias de NEA MADYTOS – MODI um programa de avaliação das estações de tratamento do tipo filtros de plantas com escoamento vertical. O dimensionamento foi efectuado na base das experiências inglesas (Montgomery Watson, University of Portsmouth, Camphill Water) e francesas (Société d’Ingénierie Nature et Technique, SINT), tendo como principais objectivos demonstrar: a eficácia do tratamento com o mínimo de equipamentos electromecânicos; a boa integração do processo no seu ambiente; o desenvolvimento de interesses e de uma responsabilização local para o saneamento; a redução dos custos de investimento e de manutenção; a possibilidade de reutilização local das lamas e do efluente tratado. Esta estação é uma das maiores estações do tipo filtros de plantas com escoamento vertical existentes no mundo. A sua capacidade é de 3 500 h.e.. Entrou em funcionamento em Junho de 1995 e foi objecto de um acompanhamento cuidadoso do seu funcionamento e dos rendimentos obtidos durante 2 anos, o que não permite tirar conclusões consistentes referentes aos rendimentos a longo prazo. ▲ Descrição do projecto A totalidade do caudal passa por uma grade automática, podendo ser desviado para uma grade de limpeza manual. Tratamento primário Foram realizados dois sistemas de pré-tratamento primário distintos a fim de verificar os seus rendimentos: O processo A recebe cerca de 2/3 do caudal num decantador-digestor. As lamas são enviadas sobre leitos de secagem das lamas (filtros verticais segundo Liénard et al. – 1995). O processo B recebe cerca de 1/3 do caudal. É composto por 4 filtros verticais dimensionados para 0,6 m2/h.e., ou seja, uma superfície de 620 m2. Funcionam aos pares com uma alternância semanal. Tratamento secundário Esta fase é composta por dois conjuntos de filtros verticais. As águas decantadas do caudal A são enviadas, por um sifão, para um primeiro conjunto de 8 filtros verticais, com uma área total de 1 360 m2 dimensionados para 0,6 m2/h.e.. Seis dos 8 filtros recebem as águas simultaneamente e os 2 restantes estão em inactividade. As águas do caudal B, provenientes da primeira fase, são enviadas para 2 filtros dimensionados para 0,3 m2/h.e. com uma área total de 340 m2. Funcionam com uma alternância semanal. A segunda fase recebe a totalidade das águas provenientes das etapas precedentes. Trata-se de 6 filtros verticais dimensionados para 0,35 m2/h.e. com uma área total de 1 170 m2. Quatro são alimentados simultaneamente e 2 estão em inactividade. Quadro 19 : Rendimento da instalação Caudal B Primeira fase Caudal B Segunda fase etapa 1 Caudal A Segunda fase etapa 1 Caudal A+B Segunda fase etapa 2 Dimensionamento (m2/h.e.) 0,6 0,3 0,6 0,35 Área total (m ) 620 340 1360 1170 4 2 8 6 2*140 + 2*170 170 170 195 Areia (m) - 0,15 0,15 0,15 Gravilha fina (m) 0,70 0,60 0,60 0,60 Gravilha grossa (m) 0,10 0,10 0,10 0,10 Camada drenante (m) 0,15 0,15 0,15 0,15 2 Número de filtros Área por filtros (m ) 2 Altura do substrato Tratamento terciário Duas lagoas situadas a jusante dos filtros têm por função reduzir o número de microrganismos patogénicos a fim de as águas poderem ser reutilizadas para a irrigação.As duas lagoas têm características idênticas: 1,5 a 2 m de profundidade para um volume de armazenamento total de 4 500 a 7 000 m3. 30 PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:31 Page 31 ▲ Aplicação Caudal de entrada Impermeabilização Pré-tratamento (desbaste) Sendo a permeabilidade do solo inadequada, a impermeabilização foi assegurada por meio de betão, atendendo a que na Grécia, a realização de tal operação recorrendo a geomembranas seria mais cara. 4 leitos de secagem das lamas (560 m2) Decantadordigestor 4 filtros verticais (620 m2) 8 filtros verticais (1 360 m2) 2 filtros verticais (340 m2) Materiais Os diferentes materiais de enchimento (gravilhas lavadas, areias, seixos para a drenagem) foram encontrados localmente. ▲ Rendimento Os rendimentos obtidos durante os dois anos de observação indicam uma importante diminuição da CBO5 da CQO, dos SST, bem como, uma nitrificação activa. Quadro 20: Rendimentos médios dos dois anos de estudo (Final report programme Life) 6 filtros verticais (1 170 m2) Figura 17: Esquema do processo (Montgomery Watson – 1997) Parâmetros Entrada Saída Filtros Verticais Valores mínimos CBO5 (mg/l) 516 17 5,7 CQO (mg/l) 959 58 24,9 SST (mg/l) 497 5 1,1 NH4 (mg/l) 80 4,7 0,75 N-NO3 (mg/l) 2,6 44,9 24 P-PO4 (mg/l) 66 Coliformes totais (cfu/100ml) 8,8.10 6,1.10 (4,2.10 nas lagoas) 689 Coliformes fecais (cfu/100ml) 2,3.10 2,1.10 (8,6.10 nas lagoas) 285 44 7 7 18,8 5 4 5 4 Mais especificamente, para as diferentes etapas do processo, podemos observar o seguinte: Tratamento primário fossa Imhoff (A) e filtros verticais (B) Os rendimentos obtidos nos processos A e B demonstram o interesse da alimentação dos filtros verticais com águas residuais brutas. Os rendimentos médios são de 74 a 90% para os SST, 50 a 80% para a CBO5 e 12,5 a 37,5% para o NH4+ , para os caudais A e B respectivamente. O funcionamento sem recurso à decantação primária permite evitar custos suplementares devidos à gestão das lamas decantadas, o que, neste caso, obrigou à construção de leitos de secagem das lamas. Aliás, o efluente apresenta-se bem oxigenado à saída dos filtros, o que favorece as fases seguintes do tratamento. Tratamento secundário, etapa 1: A eficiência do tratamento relativamente à matéria orgânica e aos SST leva a que as concentrações à saída sejam da ordem de 20 mg/l para a CBO5 e os SST. A concentração em O2 dissolvido aumenta nos dois processos, mantendo-se a diferença proveniente da primeira etapa. Tratamento secundário, etapa 2: Os dois caudais são misturados antes desta etapa. A redução dos SST e da CBO5 a níveis da ordem de 5 a 10 mg/l é acompanhada de uma nitrificação quase completa (NH4+ª 0). Observam-se concentrações da ordem de 45 mg/l em N-NO3. A desnitrificação fica portando limitada já que só se alcança os 40%. ▲ Conclusão A qualidade do efluente à saída dos filtros no que diz respeito à CQO, à CBO5 e aos SST cumpre as recomendações europeias (< 25 mg/l em CBO5 e 35 mg/l em SST). A alimentação com águas residuais brutas na primeira fase de filtração é preferível, não só pela qualidade do tratamento que se obtém, como pela redução dos custos de primeiro investimento. Os filtros permitem uma muito boa nitrificação. As variações na qualidade do tratamento (Montgomery Watson – 1997) são inerentes às variações das cargas, das temperaturas e da actividade de fotossíntese ligada às diferentes estações do ano. No entanto, os filtros assumem perfeitamente a função de zona tampão e a qualidade da descarga é mais ou menos constante durante o decorrer do ano. Este tipo de estação reage muito bem às variações de cargas e de temperaturas. ▲ Referências bibliográficas relativas aos filtros de plantas com escoamento vertical de NEA Madytos – Modi (Grécia) Montgomery W., (1997), Demonstration project in the treatment of domestic wastewater with constructed wetlands. Stage II – Monitoring of Maintenance. Final report. LIFE95\UK\A13\GR\181\THE. Liénard A., Duchène Ph., Gorini D. (1995), A study of activated sludge dewatering in experimental reed-planted or unplanted sludge drying beds.Wat. Sci.Tech., 32 (3), pp 251-261. PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 31 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:31 Page 32 Sistema híbrido (filtros de plantas com escoamento vertical e filtros de plantas com escoamento horizontal): caso de Oaklands Park, Newnham-on-Severn, Glouces (Reino Unido) ▲ Em termos gerais Este sistema híbrido foi construído em Julho de 1989 para servir a localidade de Camphill Village Trust na periferia de Newnham, no estuário do rio Severn (Inglaterra ocidental). O movimento de Camphill é uma organização caritativa internacional que constrói e gere centros de acolhimento para pessoas desfavorecidas. As comunidades de Camphill praticam a agricultura biológica. Desde a construção deste primeiro sistema em 1989, muito outras instalações deste tipo foram implantadas noutras comunidades de Camphill e organizações caritativas similares. ▲ Descrição do projecto O sistema de Oaklands Park foi inicialmente concebido para servir 98 h.e., mas na realidade trata apenas as águas residuais correspondentes a 65 h.e. O sistema que se pode observar no esquema seguinte apresenta duas séries de filtros verticais, alimentados intermitentemente, com uma área total de 63 mm2, seguidos de dois conjuntos de filtros horizontais, alimentados em contínuo, com uma área total de 28 m2.A área total utilizada é apenas de 1,4 m2/h.e. O esquema em corte que se apresenta a seguir mostra a estrutura dos filtros verticais utilizados no primeiro e segundo conjunto de filtros. Cada filtro é alimentado durante 1 a 2 dias e seguidamente deixado em inactividade durante cerca de 10 dias. Isso permite a secagem dos filtros entre as alimentações e impede a colmatagem pela biomassa depuradora. A alimentação é controlada manualmente por membros da comunidade. Os filtros horizontais são alimentados em contínuo. Fossa séptica Figura 18 : Sistema híbrido de Oakland Park (Cooper et al., 1996) Caudal = 9,8 m3/j 6 filtros verticals plantados de Phragmites (6 x 8 m2) alimentados por intermitância Fase 1 (filtro vertical) 3 filtros (3 x 5 m2) Schoenoplectus - Iris Phragmites fase 2 (filtro vertical) Fossa séptica Cascata Fase 3 (filtro vertical ou horizontal) Iris Reciclagem Acorus carex Sparganium Schoenoplectus Fase 4 filtro horizontal 20 m2 Tanque de estabilização (90 m2) Typha Descarga Fase 5 Oaklands Park (Royaume-Uni) Condutas Drena Areia britada Gravilha paquena lavada 6 mm Gravilha redonda lavada 12 mm Gravilha redonda lavada 30-60 mm Descarga Declive de 1 % 32 Géotêxtil Rede de drenos agricolas PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO Pedras grossas Figura 19: Corte dos níveis de filtros verticais INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:31 Page 33 ▲ Rendimentos Uma síntese dos rendimentos provenientes de 47 medições realizadas entre Agosto de 1989 e Março de 1990 é apresentada seguidamente (Bryan e Findlater / WRc – 1991, Cooper et al. – 1996 e Cooper – 2001). Quadro 21: Rendimentos do sistema misto de Oakland Park (valores médios de 47 medições realizadas entre Agosto de 1989 e Março de 1990) Parâmetros, mg / litro Afluente Fase I Fase II Fase III Fase IV Fase V CBO5 285 57 14 15 7 11 SST 169 53 17 11 9 21 NH4 50,5 29,2 14,0 15,4 11,1 8,1 NO3 + NO2 1,7 10,2 22,5 10,0 7,2 2,3 Ortofosfato 22,7 22,7 16,9 14,5 11,9 11.2 Fase I 6 filtros verticais utilizados por intermitência (rotação => 1 em funcionamento, 5 em inactividade) Fase II 3 filtros verticais utilizados por intermitência (rotação => 1 em funcionamento, 2 em inactividade) Fase III 1 filtro horizontal Fase IV 1 filtro horizontal Fase V Tanque de estabilização Uma segunda série de medições teve lugar durante o período entre Dezembro de 1990 e Agosto de 1991. Os resultados destas análises confirmam os valores apresentados no quadro anterior. A eliminação da CBO5 e das matérias em suspensão nos filtros verticais é satisfatória e permite cumprir as normas de descarga da directiva " águas residuais urbanas ". Observa-se uma certa deterioração da água tratada na fase da lagoa no que diz respeito à CBO5 e aos SST. Isto é devido ao crescimento de algas que aumentam a CBO5 e produzem sólidos em suspensão. A redução dos ortofosfatos et de NH4+ é igualmente muito fraca nesta fase . A nitrificação é muito forte nas fases com filtros verticais. Isso pode deduzir-se da redução dos NH4N e do aumento concomitante dos NO3- + NO2-. Contudo, a fase II não permite alcançar uma nitrificação completa. Observam-se aumentos significativos dos compostos azotados NO3+ + NO2- nos filtros verticais e a seguir uma diminuição nas fases III e IV apesar da concentração relativamente fraca em CBO5. Isto parece indicar que existem mecanismos de desnitrificação na fase dos filtros horizontais, amplificados pelo longo período de retenção que caracteriza estas fases. Verifica-se uma desnitrificação na fase dos dois filtros verticais onde a soma dos compostos NO3- + NO2- + NH4+ é menos importante (36,5 mg N / litro) que a concentração em NH4+ entrando no sistema (50,5 mg N / litro). A medição da concentração em NH4+ do efluente subestima provavelmente a carga real em azoto do efluente. Com efeito, as águas residuais contêm ureia (proveniente da urina), que pode demorar 20 horas antes de ser hidrolizada em NH3 e não é detectada pelo método analítico que permite medir os NH4+.A verdadeira carga em poluição azotada situar-se-ia então à volta de 70 – 100 mg N / litro. Esta primeira experiência de sistema misto foi portanto um êxito. Ficou assim demonstrado que a utilização combinada de filtros horizontais e verticais permite reduzir a CBO5 a 20 mg/l, os SST a 30 mg/l e obter uma nitrificação substancial. ▲ Referências bibliográficas relativas ao sistema híbrido de Oaklands Park Bryan D and Findlater B C, (1991),The modified Max Planck Institute Process- a review of the operation of a vertical flow Reed Bed Treatment System at Oaklands Park,WRc Report UC 1264,WRc Swindon, R. U. Burka U and Lawrence P C (1990),A new community approach to wastewater treatment with higher plants. pp 359371 in P F Cooper and B C Findlater (Editors), Constructed Wetlands in Water Pollution Control, Pergamon Press, Oxford, R. U. Cooper P F, Job G D, Green M B and Shutes R B E (1996), Reed Beds and Constructed Wetlands for Wastewater Treatment.pp206 WRc Publications, Medmenham, Marlow, Buckinghamshire, R. U. Cooper P F (2001), Nitrification and denitrification in Hybrid Constructed Wetland systems. Chapter 12 in Transformations in Natural and Constructed Wetlands ,Vymazal, J (Editor)to be published by Backhuys Publishers, Leiden, The Netherlands in February,2001 from paper presented at workshop of the same name held at Trebon, República Checa. Seidel K (1978), Gewässerreinigung durch höhere Pflanzen, Zeitschrift Garten und Landschaft, H1, pp9-17 PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 33 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:31 Page 34 Lagoas sem arejamento: caso da instalação de Vauciennes (França – Departamento de Oise). ▲ Em termos gerais As lagoas sem arejamento natural de Vauciennes são constituídas por três lagoas em série, cuja ordem é a seguinte: uma lagoa de micrófitas; uma lagoa de macrófitas; uma lagoa mista. Os rendimentos desta instalação foram meticulosamente acompanhados de Outubro de 1981 a Julho de 1991 pelo SATESE de Oise e o CEMAGREF, a pedido da Agence de l’Eau Seine-Normandie (Schetrite S. – 1994). ▲ Descrição do projecto O dimensionamento caracteriza-se pelos parâmetros seguintes: capacidade nominal: 1 000 equivalentes de população; caudais diários: 150 m3/ dia; caudais de ponta: 24,5 m3/ h; carga diária: 54 kg CBO5 / dia. A rede de drenagem das águas residuais é, numa parte, semi-separativa (equipada com descarregadores de tempestade) e, noutra parte, separativa. Grelha manuel Medição de caudal Área : 5 000 m2 Profundidade : 1,1 mx 1ª lagoa de micrófitas Área : 5 500 m2 Profundidade : 0,5 m 2ª lagoa de macrófitas Área : 3 750 m2 Profundidade : 0,4 à 1 m 3ª lagoa mista Medição de caudal Figura 20 : Lagoas de Vauciennes ▲ Rendimento Os rendimentos, calculados a partir dos valores médios provenientes de 11 campanhas de medições realizadas entre Outubro de 1981 e Julho de 1991, são apresentados seguidamente Quadro 22 : Rendimento das instalações CBO5 (mg/l) CQO (mg/l) SST (mg/l) Azoto Kjedhal (mg/l) NH4 (mg/l) Fósforo total (mg/l) Concentrações médias das águas brutas 175 546 302 55 38 20 Concentrações médias do efluente de saída -* 83,6 34,7 13,9 9 4,6 * a CBO5 foi calculada em amostras recolhidas à saída das três lagoas até à 6ª campanha de medições (Abril de 1985).Tendo em conta as incertezas sobre os valores obtidos (presença de algas, de lentilhas de água...), não mais foi medida para além desta data. É para evitar, nomeadamente, este tipo de incidente que a directiva " águas residuais urbanas " precisa que as análises das descargas provenientes deste tipo de instalações devem ser efectuadas sobre amostras filtradas 34 PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:31 Page 35 Após o arranque, os rendimentos médios da CQO e dos SST aumentam progressivamente e mantêm-se dentro de limites relativamente estáveis a partir da 3ª campanha de medições, ou seja, entre 60 e 90% e 70 a 95% para os SST. Os maus rendimentos dos primeiros meses devem-se à baixa de carga das instalações (apenas 15 a 20% na terceira campanha). Os rendimentos relativos ao azoto total verificados no período estival são notavelmente estáveis, qualquer que seja a carga à entrada (rendimento = 70%). Não se observa uma degradação do tratamento para este mesmo período durante os dez anos de acompanhamento. No Inverno, os rendimentos relativos ao azoto total decrescem de maneira contínua com o decorrer dos anos (60 a 10%).As concentrações à saída dependem da carga admitida pelas instalações. Nota-se, no entanto, que em Janeiro de 1990, as lagoas ainda recebem apenas 26% da sua carga nominal. Durante o Inverno, os rendimentos de eliminação do azoto total são em média de 50% para as instalações habitualmente submetidas a cargas mais elevadas. Portanto, pode-se afirmar que o tratamento das cargas em azoto diminui progressivamente durante os meses do Inverno. Os rendimentos de eliminação do fósforo total decrescem regularmente desde a primeira campanha de medições. Passaram de 75% em 1981 para 30% em Janeiro de 1990 e isso, independentemente da estação do ano. No entanto, durante a última campanha de medições, em Julho de 1991, os rendimentos pareceram excepcionalmente bons (81% em Julho de1991 contra 32% em Janeiro de 1990).A hipótese mais provável para explicar este súbito aumento de rendimento prende-se com o aparecimento recente de uma cobertura de lentilhas de água que captariam, na sua fase de crescimento, uma grande quantidade do fósforo presente na água. No que diz respeito aos aspectos bacteriológicos, as reduções médias situam-se todas ao nível de 4 unidades log. e não manifestam uma tendência significativa para diminuir quando as radiações solares decrescem. ▲ Referências bibliográficas relativas às lagoas sem arejamento de Vauciennes Collectif (1984), Synthèse du fonctionnement du lagunage naturel de Vauciennes (Oise), CEMAGREF, SATESE de l’Oise, Agence de l’Eau Seine Normandie, Paris. Schetrite S. (1994), Etude synthétique du fonctionnement du lagunage naturel de vauciennes (Oise): Octobre 81 à juillet 91, CEMAGREF, SATESE de l’Oise, Agence de l’Eau Seine Normandie, Paris PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 35 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:31 Page 36 Lagoas com arejamento: caso da instalação de Adinkerke (Bélgica). ▲ Em termos gerais Adinkerke situa-se na região belga da Flandres.A estação de tratamento desta povoação é uma lagoa arejada. O arejamento efectua-se por injecção de ar. Embora os princípios biológicos em jogo sejam os mesmos, a concepção deste tipo de instalação é sensivelmente diferente daquela apresentada nas fichas técnicas com utilização de arejadores. De um ponto de vista energético, a principal diferença com outros sistemas de lagoas com arejamento é a baixa capacidade instalada. Por isto, não apresentaremos em pormenor o dimensionamento desta instalação, cuja técnica não é representativa da maior parte das instalações actualmente em funcionamento. ▲ Descrição do projecto A estação é constituída por três lagoas em série, as duas primeiras arejadas e a terceira, a lagoa de acabamento final (lagoa de decantação). O esquema seguinte mostra as diferentes lagoas e os seus equipamentos. By-pass à estação Pré-tratamento (desbaste) Estação de bombagem (2 x) By-pass à primeira lagoa Primeira lagoa : lagoa arejada Injecção de ar Legenda : Uma lagoa de micrófitas (fotografia: Sociedade AQUAFIN) Segunda lagoa : lagoa arejada Injecção de ar Terceira lagoa : lagoa de decantação Descarga no meio receptor Figura 21: Lagoas com arejamento de Adinkerke Características dos equipamentos Quadro 23: características dos equipamentos 36 Número Tipo Dimensão Bombas para águas residuais 2 Bombas submersas Caudal : 2 x 40m3/h Bacias de lagunagem 2 Lagoas com arejamento Volume total 4000 m3 Tempo de retenção Área total 100 horas 1.812 m3 Dispositivos de arejamento 4 Injecção de ar Tanque de clarificação 1 Rectangular PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO / Área : Volume : Profundidade : 490 m2 490 m3 1m INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:32 Page 37 Concepção O dimensionamento das instalações corresponde aos seguintes valores: carga em CBO = 37 kg CBO5/dia; carga hidráulica = 300 m3/ dia; caudal máximo = 1.400 m3/dia. ▲ Rendimento Os rendimentos, calculados relativamente aos valores médios provenientes de 18 medições realizadas em 1999, são apresentados no seguinte quadro. Quadro 24 : Rendimento das instalações Águas residuais afluentes: valor médio para 1999 em mg / l Descarga da estação para o meio receptor: valor médio para 1999 em mg / l Rendimento da instalação (em %) CBO5 CQO Sólidos em suspensão Azoto total Fósforo total 245,7 744,9 409,5 76,5 11,1 12,6 76,7 22,3 50,2 1,5 94,9% 89,7% 94,6% 34,4% 86,5% Estes resultados demonstram que este processo, com utilização de injecção de ar, permite perfeitamente alcançar os valores prescritos na directiva " águas residuais urbanas ". ▲ Referências bibliográficas relativas às lagoas com arejamento de Adinkerke Dados fornecidos pela Sociedade AQUAFIN (Organismo da região flamenga que concebe, financia, realiza e explora a infra-estrutura supra-municipal para o tratamento das águas residuais urbanas. PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 37 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:32 Page 38 GLOSSÁRIO Aglomeração : qualquer área em que a população e/ou as actividades económicas se encontrem suficientemente concentradas para que se proceda à drenagem das águas residuais urbanas e à sua condução para uma estação de tratamento de águas residuais ou um ponto de descarga final. Azoto Total Kjedahl (NTK) : Soma do azoto orgânico e do azoto amoniacal. Lamas : as lamas residuais, tratadas ou não, provenientes de estações de tratamento de águas residuais urbanas. Carga Hidráulica : peso h de uma coluna de água de altura H acima de um nível de referência, expressa em metros de coluna de água. Coeficiente de Uniformidade (CU) CU = d60/d10 Com: d10 = diâmetro na curva cumulativa para o qual 10% da areia está mais fina. d60 = diâmetro na curva cumulativa para o qual 60% da areia está mais fina. O CU é portanto um índice de uniformidade ou, ao contrário, de irregularidade da distribuição do tamanho das partículas. Se CU<2, a granulometria é considerada uniforme. Se 2<CU<5, a areia é heterogénea, mas a granulometria é considerada densa, já que ainda pertence à família das areias CBO5 : CQO : 38 A carência bioquímica de oxigénio é uma medição das matérias orgânicas biodegradáveis. Corresponde à quantidade de oxigénio dissolvido na água necessária à oxidação biológica dessas matérias orgânicas. Esta medição é efectuada em ensaios normalizados de cinco dias, daqui a abreviatura CBO5. A carência química de oxigénio é uma outra medição da concentração da matéria orgânica e inorgânica contida numa água. Mede-se após oxidação química intensa e representa a concentração de oxigénio necessária à oxidação da totalidade das matérias orgânicas. Desnitrificação : conversão dos nitratos em nitritos e a seguir em N2O ou em azoto. A desnitrificação das águas residuais urbanas ocorre principalmente na fase do tratamento terciário e é parcial ou totalmente realizada por depuração microbiológica. Águas residuais industriais : todas as águas residuais provenientes de instalações utilizadas para todo o tipo de comércio ou indústria que não tenham origem doméstica ou provenientes de escoamentos pluviais. Águas residuais domésticas : águas residuais de serviços e instalações residenciais e essencialmente provenientes do metabolismo humano e de actividades domésticas. Águas residuais urbanas : águas residuais domésticas ou a mistura de águas residuais domésticas com águas residuais industriais e/ou águas de escoamento pluvial. Eutrofização : enriquecimento do meio aquático com nutrientes, sobretudo compostos de azoto e/ou fósforo, que provoca o crescimento acelerado de algas e de formas superiores de plantas aquáticas, perturbando o equilíbrio biológico e a qualidade das águas em causa. Habitante equivalente (h.e.) : carga orgânica biodegradável com uma carência bioquímica de oxigénio de cinco dias (CBO 5) igual a 60 gramas de oxigénio por dia. SST (Sólidos Suspensos Totais) : total das partículas minerais e/ou orgânicas contidas dentro de uma água natural ou poluída. Permeabilidade : capacidade do solo ou de um substrato rochoso em permitir a infiltração das águas para camadas mais profundas. Sistema de drenagem : sistema de condutas de recolha e condução das águas residuais urbanas. Tratamento apropriado : tratamento de águas residuais urbanas por qualquer processo e/ou sistema de depuração que permita que as águas receptoras, após a descarga, satisfaçam os objectivos de qualidade que estejam conformes com as disposições da presente e das demais directivas comunitárias. Tratamento primário : tratamento das águas residuais urbanas por um processo físico e/ou químico que envolva a decantação das partículas sólidas em suspensão, ou por outro processo em que a CBO5 das águas recebidas seja reduzida em, pelo menos, 20% antes da descarga e o total de partículas sólidas em suspensão das águas recebidas seja reduzido em, pelo menos, 50%. PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:32 Tratamento secundário: Page 39 tratamento das águas residuais urbanas por um processo envolvendo geralmente um tratamento biológico com decantação secundária ou outro processo em que sejam respeitados os requisitos constantes do Quadro 25: Requisitos para as descargas das estações de tratamento de águas residuais urbanas sujeitas ao disposto nos artigos 4.o e 5.o da directiva U.E.. Serão aplicados os valores de concentração ou a percentagem de redução Parâmetros Concentração Carência bioquímica de oxigénio (CBO5 a 20 °C) sem nitrificação (2) Percentagem de redução mínima (1) Método de medição de referência 40 nos casos previstos no §º 2 do artigo 4. ° Amostra homogeneizada não filtrada, não decantada. Determinação do oxigénio dissolvido antes e depois da incubação de cinco dias a 20 °C ± 1 °C, em completa ausência de luz.Adição de um inibidor de nitrificação. Amostra homogeneizada não filtrada, não decantada. Dicromato de potássio. 25 mg/l O2 70-90 Carência química de oxigénio (CQO) 125 mg/l O2 75 Sólidos suspensos totais 35 mg/l (3) 90 (3) 35 nos casos previstos no § 2 do artigo 4.o (h.e.. superior a 10 000) 90 nos casos previstos no § 2 do artigo 4.o (h.e. superior a 10 000) 60 nos casos previstos no 70 nos casos previstos no § 2 do artigo 4.o (h.e. de 2 § 2 do artigo 4. ° 000 a 10 000) (h.e. entre 2 000-10 000) - Filtração de uma amostra representativa através de um filtro de membrana de 0,45 µm. Secagem a 105 °C e pesagem. - Centrifugação de uma amostra representativa (durante pelo menos cinco minutos a uma aceleração média de 2 800 a 3 200 g), secagem a 105 °C e pesagem. (1) Redução em relação à carga de afluente. (2) O parâmetro pode ser substituído por outro: carbono orgânico total (COT) ou carência total de oxigénio (CTO), se for possível estabelecer uma relação entre a CBO5 e o parâmetro de substituição. (3) Este requisito é facultativo. As análises das descargas provenientes de lagoas serão efectuadas com amostras filtradas; no entanto, a concentração do total de partículas sólidas em suspensão em amostras de água não filtradas, não poderá exceder 150 mg/l. Tratamento terciário : a expressão " tratamento terciário " pode designar vários tipos de tratamentos ou diferentes funções com vista a alcançar um nível de tratamento de qualidade superior ao que se poderia normalmente esperar de um tratamento secundário. O tratamento terciário pode pretender uma remoção mais elevada para os parâmetros convencionais, como as matérias em suspensão, ou ainda, para alguns parâmetros com uma baixa taxa de remoção num tratamento secundário, como é o caso do fósforo. PROCESSOS EXTENSIVOS DE TRATAMENTO 39 INTERIEURE-Portugais 06/11/2002 10:32 Page 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS : 40 ● Agence de l’Eau Seine-Normandie (1999), Guides des procédés épuratoires intensifs proposés aux petites collectivités, Nanterre. ● Agences de bassins (1979), Lagunage naturel et lagunage aéré: procédés d’épuration des petites collectivités, CTGREF d’Aix en Provence. ● Agences de l’eau (1996), Conception des stations d’épuration: les 50 recommandations, Etude Inter Agences n° 45, 1996, 56 p. ● Alexandre O., Grand d’Esnon (1998), Le coût des services d’assainissement ruraux. Evaluation des coûts d’investissement et d’exploitation, in TSM n°7/8 – juillet-août 1998 – 93°année ● Almasi A., Pescod M. B. (1996),Wastewater treatment mechanisms in anoxic stabilisation ponds,Water Sciences and Technologies, 125-132. ● Armstrong (1979), aeration in higher plants, Adv. in Bot. 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Estas últimas ocupam, por definição, maiores superfícies que os processos intensivos convencionais concebidos para as grandes aglomerações. No entanto, os custos de investimento dos processos extensivos são, regra geral, inferiores e as condições de exploração mais simples, mais flexíveis, comportando menos gastos de energia. Finalmente, estas tecnologias requerem menos mão-de-obra e pessoal menos especializado que as tecnologias intensivas. Estas tecnologias podem ser aplicadas nas várias configurações europeias que não excedam uns milhares de habitantes equivalentes.Ao ler o presente documento, é preciso ter presente, que as tecnologias aqui tratadas não podem ser utilizadas para capacidades superiores a 5 000 h.e., a não ser em circunstâncias excepcionais. Após uma recapitulação dos objectivos a cumprir pelas pequenas e médias aglomerações e uma apresentação rápida dos diferentes sistemas chamados intensivos, são descritas, mais em pormenor, as seguintes tecnologias: infiltração percolação; filtros de plantas com escoamento vertical; filtros de plantas com escoamento horizontal; lagoas sem arejamento; KH-39-01-861-D-C RESUMO Couv-Portugais lagoas com arejamento; combinação de diferentes processos extensivos. A fim de ajudar na escolha de um processo, uma comparação destas diferentes técnicas é efectuada com base nos seguintes critérios: qualidade das descargas; vantagens e inconvenientes; área disponível; permeabilidade do solo; adaptabilidade dos processos às condições climáticas; custos. Europäische Kommission http://europa.eu.int Direction de l’Eau http://www.environnement.gouv.fr SERVIÇO DAS PUBLICAÇÕES DAS COMUNIDADES EUROPEIAS L-2985 Luxemburg http://www.eaufrance.tm.fr O f f i c e International de l'Eau http://www.oieau.org http://www.cemagref.fr Concepção gráfica: Faurbourg communication 33.5.55.79.54.00. Maqueta : F. RANSONNETTE - OIEau Paris 33.3.1.44.90.88.60 ★ ★★ ★ ★ ★ ★ ★ ★ ★★ ★