Interesse público: conceito ambíguo na prática política brasileira Rogério Pereira da Silva e Sandra C. Rigatto O documento escrito por Edgard Rebouças trata da questão referente ao Direito à Comunicação. O autor propõe uma reflexão muito interessante ao abordar os diferentes rumos e caminhos que o Direito à Comunicação tomou nesses últimos dois séculos de conflitos políticos, econômicos e sociais. Para legitimar o Direito à comunicação os mecanismos de controle e regulamentação foram elaborados pelo Poder Público através de uma ação política procedimentos, normas, mecanismos institucionais - que propicia o relacionamento entre mídia, esfera política, mercado e público. Um sistema político está diante de complicações que podem afetar tanto a legitimidade quanto a eficácia de suas relações, quando os governantes normalmente fracassam em estabelecer políticas públicas. Ou elas não têm efeito sobre os problemas como um todo ou então as propostas vão além das possibilidades legais. (Ver a condução do Referendo sobre O Estatuto do Desarmamento, como foi conduzido pelo governo federal) O autor ainda reflete sobre a regulamentação e a regulação, ações distintas, mas conflitantes entre si. Aponta que existem várias maneiras do ser humano conviver com as regras: normas morais, leis de transito, regras burocráticas, regras gramaticais, códigos de etiqueta, regras de futebol etc., Todas as atividades da esfera pública ou privada são objetos de algum tipo, ou de vários procedimentos para que haja harmonia entre todas as partes envolvidas, qualquer que seja o processo. As comunicações estão enquadradas em categorias chamadas “monopólio natural”, no mesmo patamar dos demais serviços públicos como água, saúde, educação, energia, transporte, limpeza pública, etc. No entanto, a concepção de regulação dos serviços públicos não é um reflexo da doutrina liberal do Século XIX. Essa questão já havia sido discutida no Século IV, quando Santo Agostinho estabeleceu a interpretação do que os romanos chamavam de verum pretium - preço natural- e veio a ser chamado de preço justo – justum pretium. Entretanto, no Século XIII, Santo Tomás de Aquino, reformulou a concepção de preço justo dizendo que a relação estabelecida deveria ser vantajosa para ambas as partes. Dentro dessa perspectiva a esfera pública estabeleceu o conceito de interesse público. O conceito de interesse público é muito complexo segundo o autor, pois são interpretações diversas e conflituosas. Entretanto, o poder público pode usá-lo como um conceito de : 1) balança onde o interesse público atende a vários interesses simultâneos; 2) negociador, onde age de forma que todos os interessados entrem em um acordo; 3) intercâmbio associação de interesses, 4) objetivos nacionais ou sociais, onde os interesses particulares ficam em segundo plano e 5) paternalista que ocorre quando é estabelecido por uma única autoridade. A delimitação de políticas públicas, como discute Rebouças, Edgard, aponta muitos elementos de ordem política, econômica, social e cultural. Todos estão associados a momentos específicos da evolução histórica. No caso das políticas de comunicação, duas são as datas que marcam o contexto histórico - 1808 a chegada da Família Real Portuguesa e lançamento do jornal Correio Brasiliense e 1858 com a criação do primeiro serviço telegráfico do país ligando a capital fluminense a Petrópolis, residência de férias da Família Real Brasileira, sendo que a tradição nacionalista prevaleceu ao longo dos dois últimos séculos. Entretanto, vale ressaltar que o país tem hoje um dos mais avançados estatutos jurídicos referente às comunicações. Além de referencia direta à comunicação em seu texto constitucional, existem no país leis que regulamentam o uso de software livre, direitos autorais, lei anti-pirataria etc. Estes temas estão em consonância com varias entidades internacionais como OMC, UNESCO E TRIPS, além do CRIS,. Destaca-se no panorama brasileiro o FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação) e a ONG Tver, que combate a exibição de programas de cunho ofensivo e preconceituoso. Recentemente a REDE TV1, teve seu sinal cortado em função de uma ação judicial do MP de São Paulo contra o apresentador João Kleber e seu programa “Tarde Quente”. Outros programas estão na lista da campanha “Quem financia a baixaria é contra a cidadania”, como por exemplo os de Luciana Gimenez, com o "Superpop" (Rede TV!), e Gilberto Barros, do "Boa Noite, Brasil" (Band). Em 2005, o foco da campanha da ONG Tver está direcionado para a regulamentação da publicidade destinada à criança. Nesse sentido, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados está com um foco mais centrado nas seguintes questões: empresas que são anunciantes desses programas são responsabilizadas pelas ofensas e discriminações sofridas pelas minorias e a dignidade humana. Recentemente foi extinta a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, cujo Secretário Milmário Miranda tinha status de Ministro. Esse órgão atualmente está atrelado ao Ministério da Justiça, fato que foi criticado pelas entidades nacionais e internacionais de Direitos Humanos. Como propor , então, um novo modelo de a comunicação a um governo que não respeita suas bases eleitorais e que está alinhado com a política econômica mundial. ? Até que ponto, ao divulgar os nomes das empresas que patrocinam os programas que estão no Ranking da Baixaria, não estaríamos invadindo ou desrespeitando o direito À COMUNICAÇÃO e assim nos sujeitando a pressões do mercado interno e externo e dos grandes produtores de programas de televisão, cinema, etc. ? Como discutir TV Digital (acesso, produção, distribuição) se temos brasileiros marginalizados, excluídos, que vivem com menos de US $ 1,00 por dia, tanto nos distantes rincões quanto nos centros urbanos de nosso país? Perfil do autor 1 Mattos, Laura “TVs podem tirar do ar ícones da baixaria “ Fonte Folha On line da Folha de São Paulo dia 210 de novembro de 2005 http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u55341.shtml José Edgard Rebouças concluiu o doutorado em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo em 2003. Atualmente é bolsista da Universidade Federal de Pernambuco. Publicou 12 artigos em periódicos especializados e 32 trabalhos em anais de eventos. Possui 1 livro e 7 capítulos de livros publicados. Participou de 7 eventos no exterior e 13 no Brasil. Orientou 37 trabalhos de conclusão de curso nas áreas de Comunicação, Educação e Serviço Social. Recebeu 6 prêmios e/ou homenagens. Em suas atividades profissionais interagiu com 13 colaboradores em co-autorias de trabalhos científicos. Os termos mais freqüentes na sua produção científica, tecnológica e artísticocultural são: Jornalismo, Televisão, Indústrias culturais, América Latina, Brasil, Grupos de Mídia, Espírito Santo.