PRAD CIDADE MINEIRA
PLANO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS PELA MINERAÇÃO
CIDADE MINEIRA – CARBONÍFERA METROPOLITANA
MÓDULO
I
–
IDENTIFICAÇÃO
E
EMPREENDIMENTO
CARACTERIZAÇÃO
DO
1. EMPRESA DE MINERAÇÃO RESPONSÁVEL PELA ÁREA
Razão Social: CARBONÍFERA METROPOLITANA SA
CNPJMF: 83.647.917/0006-14 Inscrição Estadual: 250.877.260
Endereço: Estrada Geral s/n - Forquilha
Município: Treviso
Estado: SC
Fone/Fax: 48 34690001
2. EMPRESA RESPONSÁVEL PELA ELABORAÇÃO DO PRAD
Nome: Geológica Engenharia e Meio Ambiente Ltda
CNPJ: 03.461.392/0001-84
Endereço: Rua Desembargador Pedro Silva, 540/609
Município: Criciúma
Fone/Fax: (048) 34371763
Responsável Técnico (RT): Eng.° Leo Antonio Rübensam
Equipe Técnica: listagem na página 55
Estado: SC
3. LEGISLAÇÃO PERTINENTE/REGULAMENTAÇÃO APLICÁVEL
FEDERAL: Decreto-lei n° 227, de 28.02.1967; Dec. n° 62.934, de
02.07.68; Decreto Federal n°97.632/89; Lei nº 9.605 de 12/02/98;
NRM nº 21 (DNPM – Portaria 237, de 18/10/01)
RESOLUÇÃO CONAMA: 357 de 17 de março de 2005
ESTADUAL: 14.250 de 05/06/81; Lei 13557/2005
MUNICIPAL: Lei n°2.508 de 27.12.1990; Lei nº 2.974, de 30/08/94
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4. LOCALIZAÇÃO DA(S) ÁREA(S) IMPACTADA(S) A SER(EM)
RECUPERADA(S)
Denominação
Localização
Bairro Cidade Mineira
Local: Bairro Cidade Mineira e Imperatriz
Município: Criciúma / SC
Bairro: Cidade Mineira e Bairro Imperatriz
Vias de Acesso
Carta IBGE Folha: Criciúma Escala: 1/50000
Ortofotomontagem: 2940 1R1 e 1R3.Escala:
Plotagem
1:5000
Plantas Diversas
Bacia Hidrográfica.
Bacia do Rio Araranguá, Sub-bacia Rio Mãe Luzia
(sub-bacia)
Micro-bacia Rio Sangão
Nome e endereço do Área totalmente urbanizada
proprietário do solo:
Complementos:
5. CARACTERIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO
Substância mineral explotada
Camada minerada/outros
Relação estéril /minério
Método de lavra
Capacidade instalada
Produção anual e vida útil
Obras complementares
Caracterização do estéril
Caracterização físico-química e
mineralógica do rejeito
Área titulada:
Área lavrada:
Área a recuperar/recuperada:
Área não abrangida pela proposta:
Carvão mineral
Barro Branco E Irapuá
Céu aberto
15 ha
-
3
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6.
HISTÓRICO
DA
COMPLEMENTARES:
ÁREA
E
OUTRAS
INFORMAÇÕES
A área foi minerada a céu aberto por empresa empreiteira (Emprecal
Empreiteira Carbonífera Ltda) contratada na oportunidade pela
Carbonífera União Ltda, com interveniência da Carbonífera Metropolitana
AS, entre os anos de 1982 e 1987 sendo que o carvão foi beneficiado no
lavador da Mina União, e os rejeitos depositados no depósito de rejeito
da Mina União.
A região foi parcialmente recuperada com serviços de terraplanagem
para suavização dos terrenos, em alguns pontos foram depositados
rejeitos para regularização topográfica de terrenos. Após a recuperação
foi projetada a urbanização da área através de projeto arquitetônico
contratado pela Prefeitura Municipal de Criciúma.
Hoje a área encontra-se totalmente urbanizada impossibilitando
praticamente a implantação de medidas corretivas para redução dos
impactos provocados pela lixiviação dos rejeitos que ali se encontram.
7. LICENÇAS /AUTORIZAÇÕES:
Licença Ambiental FATMA nº:
objeto/recuperação, tipo, data de
emissão e validade.
Licença Ambiental IBAMA nº:
Processo DNPM nº:
Licença da Prefeitura
Registro DNPM (opcional):
TAC/ACP/outros (opcional)
Complementações:
Não identificada.
Inexistente
2.901/38
Inexistente
Ação Civil Pública n° 93.8000533 -4
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MÓDULO II – CRONOGRAMAS
Cronograma Físico-Financeiro em anexo.
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MÓDULO III – DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA ÁREA
A área estudada, pertencente à Carbonífera Metropolitana S/A, localiza-se entre
bairros Cidade Mineira e Cidade Mineira Nova, município de Criciúma - SC,
micro-bacia do rio Maina, contribuinte da sub-bacia do rio Sangão, que deságua
sub-bacia do rio Mãe Luzia, o qual, por sua vez, integra a Bacia Hidrográfica do
Araranguá.
os
na
na
rio
A referida área foi, durante algumas décadas, minerada a céu aberto e em subsolo
para a extração de carvão. A figura 1 ilustra a área de estudo para efeito de
Diagnóstico Ambiental (DIA) e de Projeto de Recuperação Ambiental (PRAD).
Figura 1 – Localização das áreas no bairro Cidade Mineira
A área contabiliza, no total, cerca de 15 hectares de área minerada a céu aberto e
parte com depósito de rejeito disseminado. Por outro lado, a área encontra-se
atualmente totalmente urbanizada. Os terrenos pertencem a terceiros que residem
nos bairros supramencionados.
O levantamento das características geológicas-geotécnicas possibilitou o
reconhecimento das condições físicas da área, identificando-se as áreas fontes de
contaminação. Nessa fase, considerou-se o aspecto relativo à espessura da camada
de rejeito, aos riscos de solapamento e de desmoronamento de taludes, às
inundações e aos problemas associados à subsidência.
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PRAD CIDADE MINEIRA
A descrição da hidrogeologia considerou o aqüífero freático e profundo,
relacionando-os com as águas superficiais. Neste campo, considerou-se natureza,
geometria, litologia, estrutura, profundidade, recarga, relação entre os aqüíferos
(freático e profundo) e relação entre as águas superficiais com os aqüíferos.
1 – Aspectos do Meio Físico
1.1 – Características do Clima e do Ar
No município de Criciúma não há estação meteorológica. Como a estação de
Urussanga dista apenas 16 km da divisa de Criciúma, baseou-se nos dados aí
coletados para o levantamento climático do município.
A Estação Meteorológica de Urussanga é relativamente bem equipada e com dados
de levantamentos que ultrapassam a 75 anos. Implica que os dados médios têm
certa confiabilidade. Estudos têm demonstrado que esta confiabilidade dos
levantamentos aumenta quando a amostragem abrange mais de um século.
Segundo o sistema de classificação climático de Köeppen, a região carbonífera se
enquadra no clima do grupo C – mesotérmico – uma vez que as temperaturas
médias do mês mais frio estão abaixo dos 18ºC e acima de 3ºC e neste grupo, ao
tipo (f) sem estação seca distinta, pois não há índices pluviométricos mensais
inferiores a 60 mm. Quanto à altitude da região, o clima se distingue por subtipo de
verão (a) com temperaturas médias nos meses mais quentes de 28ºC.
Os dados históricos obtidos junto a Estação Meteorológica de Urussanga indicam
um índice pluviométrico médio histórico de 1474,9 mm.
O regime pluviométrico da região pode ser definido da seguinte maneira: os meses
de setembro a março representam as maiores médias mensais, e os meses de abril
a agosto representam as médias mensais menores.
As temperaturas mais elevadas foram registradas para meses de janeiro (23,8ºC) e
fevereiro (23,4º) e a média mais baixa no mês de julho (14ºC).
Os meses de temperatura mais elevada são dezembro, janeiro e fevereiro, os meses
mais frios são junho, julho e agosto. A temperatura média anual nas estações
meteorológicas foram 18,3ºC e 19ºC respectivamente e, a diferença entre a
temperatura de verão e a de inverno está em torno de 10ºC.
A direção predominantemente dos ventos é nordeste (NE) com 14,9% das
ocorrências e em segundo lugar de sudeste (SE) com 12,4% das ocorrências. O
período de calmarias perfaz 49,3%.
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1.2 – Geologia
1.2.1 – Geologia Regional
Na área do município de Criciúma afloram rochas sedimentares e ígneas intrusivas e
extrusivas, as quais fazem parte da seqüência gonduânica da borda leste da Bacia
do Paraná, e sedimentos quaternários, abundantes junto aos cursos d’água. Na
porção correspondente à bacia do rio dos Porcos, situada ao sul da cidade de
Criciúma, ocorrem depósitos síltico-arenosos de origem flúvio-lagunar. A tabela 1, a
seguir, sintetiza a coluna estratigráfica da área do município de Criciúma.
A Formação Rio Bonito e a Formação Palermo são as unidades estratigráficas de
maior expressão no município de Criciúma. Ocupam aproximadamente dois terços
da área total, sendo o restante, um terço, representado pelas litologias das
formações Irati, Estrada Nova, Rio do Rasto, Serra Geral e Depósitos FlúvioLagunares ou Depósitos Aluviais.
i) Granitóides tardi a pós-tectônicos – Granitóides Pedras
Essas rochas graníticas praticamente não afloram na área do município, com
exceção de uma pequena porção situada no bairro Demboski. São identificadas nas
sondagens realizadas para prospecção de carvão executadas em diversos locais do
município.
Trata-se de uma rocha granítica de cor rósea, granulação média à grossa, textura
porfirítica ou porfiróide, constituída principalmente de quartzo, plagioclásio, feldspato
potássico e biotita. Como mineral acessório ocorre titanita, apatita, zircão e opacos.
É aparentemente isótropa e, freqüentemente, recortada por veios aplíticos ou
pegmatíticos.
ii) Formação Rio do Sul
A exemplo do que acontece com as rochas graníticas, as litologias da Formação Rio
do Sul também não afloram na área correspondente ao município de Criciúma. São
identificadas nas sondagens realizadas para prospecção de carvão.
Litologicamente é constituída de uma intercalação rítmica de siltitos e folhelhos
cinza-escuro e cinza-claro, com laminação fina, plano-paralela e fissilidade elevada.
Disseminados caoticamente nesta seqüência várvica, ocorrem seixos pingados.
É freqüente, na sua porção basal, a presença de camadas areno-conglomeráticas
que, quando intemperizadas, confundem-se com rochas alteradas do embasamento.
Subordinadamente há, também, espessas camadas de diamectitos, com abundante
matriz argilosa, de cor cinza-escuro ou esverdeado, que engloba seixos ou blocos
de rochas graníticas.
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Tabela 1 – Coluna estratigráfica da área do município de Criciúma. Adaptada de Krebs
(2004).
TERMINOLOG AMBIENTE/FORMAÇÃO
IA
Sedimentos argilosos, argilo-arenosos, arenosos e
conglomeráticos depositados junto às calhas ou planícies
dos rios.
Sistema Laguna-Barreira III e IV
Depósitos
FlúvioLagunares
Areias síltico-argilosas, com restos de vegetais, cascalhos
depósitos biodetríticos
Grupo São Bento
Serra Geral
Derrames basálticos, soleiras e diques de diabásio de cor
escura, com fraturas conchoidais. O litotipo preferencial é
equigranular fino a afanítico, eventualmente porfirítico.
Notáveis feições de disjunção colunar estão presentes.
Rio do Rasto
Siltitos castanho-avermelhados
arenitos finos avermelhados.
Estrada Nova
Palermo
Grupo Guatá
Inferior/Superior
Permiano
PALEOZÓICO
Irati
Membro Siderópolis
Rio Bonito
Membro Paraguaçu
Superior
Grupo
Itararé
Inferior
Membro Triunfo
PRÉCAMBRIANO
DESCRIÇÃO LITOLÓGICA
Depósitos
Aluvionares
Atuais
Grupo Passa Dois
Pleistoceno
Superior
Superior
Inferior
Inferior
QUATERNÁRIO
Cretáceo
Jurássic
o
Triássico
MESOZÓICO
CENOZÓICO
Holoceno
IDADE
Rio do Sul
Granitóides tardi a pós tectônicos
com
intercalações
de
Argilitos folhelhos e siltitos intercalados com arenitos finos,
cor violácea.
Nos folhelhos, argilitos e siltitos cinza-escuro a violóaceos
ocorrem concreções de marga.
Folhelhos e siltitos pretos, folhelhos pirobetuminosos e
margas calcáreas.
Siltitos cinza-escuros, siltitos arenosos cinza-claro,
interlaminados, bioturbados, com lentes de arenito fino na
base.
Arenitos cinza-claro, finos a médios, quartzosos, com
intercalações de siltitos carbonosos e camadas de carvão
Siltitos cinza-escuro, com laminação ondulada, intercalado
com arenitos finos.
Arenitos cinza-claro, quartzosos ou feldspáticos, sigmoidais.
Intercala siltitos.
Folhelhos e siltitos várvicos com seixos pingados, arenitos
quartzosos e arenitos arcoseanos, diamectitos e
conglomerados. A nível de afloramento, constitui espessa
seqüência rítmica.
Granitóides de cor cinza-avermelhado, granulação média a
grossa, textura porfirítica ou porfiróide, constituídos
principalmente por quartzo, plagioclásio, feldspato potássico
e biotita. Como acessório, ocorre titanita, apatita, zircão e
opacos. São aparentemente isótropos e recortados por
veios aplíticos ou pegmatíticos.
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PRAD CIDADE MINEIRA
iii) Formação Rio Bonito
A Formação Rio Bonito aflora na porção norte do município, junto à mancha urbana,
na porção noroeste, ao longo do vale do rio Sangão, e na porção nordeste, ao longo
dos vales dos rios Ronco D`água e Linha Anta.
Mühlmann et al. (1974) realizaram a revisão estratigráfica da Bacia do Paraná e
subdividiram a Formação Rio Bonito em três membros: Triunfo, Paraguaçu e
Siderópolis.
Krebs (2004), através de correlações litofaciológicas, com informações dos perfis
litológicos dos furos de sonda, individualizou em mapa, pela primeira vez, o Membro
Siderópolis em três seqüências litofaciológicas na área da bacia hidrográfica do rio
Araranguá, quais sejam Seqüência Inferior, Seqüência Média e Seqüência Superior.
O trabalho do referido autor voltou-se para o estudo hidrogeológico da área
correspondente à bacia hidrográfica do rio Araranguá. Por este motivo, no presente
trabalho optou-se por utilizar informações geológicas e estruturais disponibilizadas
por Krebs (2004).
O Membro Triunfo, que constitui a porção basal da referida formação, é
representado por arenitos esbranquiçados, finos a médios, localmente grossos,
moderadamente selecionados, com matriz argilosa. Intercalam siltitos e folhelhos de
coloração cinza-escuro. As camadas possuem geometria sigmoidal e estão
relacionadas a processos flúvio-deltaicos. Elas apresentam contato gradacional com
as litologias da Formação Rio do Sul.
O Membro Paraguaçu caracteriza-se por uma sedimentação predominantemente
pelítica, constituída de intercalação rítmica de siltitos e folhelhos com intercalações
de camadas de arenitos muito finos, quartzosos, micáceos, com laminação paralela
e ondulada. Apresenta também freqüentes bioturbações. Esta sedimentação é
eminentemente transgressiva e caracteriza o afogamento do delta do Membro
Triunfo.
O Membro Siderópolis constitui um espesso pacote de arenitos, com intercalações
de siltitos, folhelhos carbonosos e carvão.
Na sua porção basal e média, os arenitos possuem geralmente cor cinza-amarelado,
textura média, localmente grossa, são moderadamente classificados, com grãos
arredondados a subarredondados de quartzo e, raramente, feldspato. Possuem
abundante matriz quartzo-feldspática. As camadas apresentam espessuras
variáveis, desde alguns centímetros até mais de metro, geometria lenticular ou
tabular e a estruturação interna é constituída por estratificação acanalada, de médio
e grande porte. Na porção basal do Membro Siderópolis, ocorre uma espessa
camada de carvão, denominada Camada Bonito.
Na porção média, intercaladas nessa seqüência arenosa, ocorrem, principalmente,
camadas de siltito e folhelho carbonoso. As intercalações de camadas de carvão são
muito subordinadas. No terço superior do Membro Siderópolis, ocorrem arenitos
finos a médios, cor cinza-claro, bem retrabalhados, com grãos bem arredondados,
quartzosos, com ou sem matriz silicosa. Estes arenitos apresentam geometria
lenticular e a estruturação interna das camadas é formada por estratificação
ondulada, com freqüentes “hummockys”, que evidenciam retrabalhamento por
ondas. Neste intervalo ocorre a mais importante camada de carvão existente na
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PRAD CIDADE MINEIRA
Formação Rio Bonito, denominada Camada Barro Branco. Além dessa, em locais
isolados, ocorre outra camada de carvão chamada Irapuá.
A interrelação das diferentes unidades de fácies identificadas nos Membros
Siderópolis e Triunfo sugerem um ambiente de depósito relacionado a um sistema
lagunar e deltaico, influenciado por rios e ondas. A presença de cordões litorâneos,
evidenciada pelo arenito de cobertura da camada de carvão Barro Branco, que
apresenta freqüentes estruturas tipo “micro-hummocky”, indica que este ambiente
lagunar/deltaico era periodicamente invadido pelo mar. Por outro lado, a persistência
de fácies predominantemente pelíticas no Membro Paraguaçu sugerem a atuação
de correntes de maré.
iv) Formação Palermo
A Formação Palermo ocupa a maior parte da área deste município, aflorando de
maneira contínua ao longo da encosta do Morro da Cruz e Morro Cechinel. Ocupa
quase toda a porção central do município e aflora em ambas as encostas dos
morros Esteves e Albino até ser encoberta por sedimentos quaternários ao sul.
A Formação Palermo, que caracteriza o início do evento transgressivo, é constituída
de um espesso pacote de ritmitos, com interlaminação de areia-silte e argila, com
intenso retrabalhamento por ondas. A alternância de tonalidades claras e escuras
evidencia a intercalação de leitos arenosos e síltico-argilosos, respectivamente.
A análise dos perfis de sondagem para carvão realizado por Krebs (2004),
demonstra claramente que há um decréscimo de areia da base para o topo desta
formação. As camadas, cuja espessura é variável, apresentam, caracteristicamente,
laminação plano-paralela, ondulada ou lenticular. Na base, são freqüentes as
estruturas de fluidização e bioturbação. Na porção média e superior predominam
estruturas do tipo “micro-hummocky”.
A espessura total dessa formação, na região de Criciúma e Forquilhinha, de acordo
com a correlação dos perfis de sondagens realizados na área da Mina B por Krebs
et. al. (1982), é da ordem de 92m.
A presença de fácies areno-pelíticas intercaladas bem como a freqüência de
estruturas tipo “micro-hummocky”, bioturbação e estruturas de fluidização, sugerem
um ambiente marinho raso, com intensa ação de ondas e atuação de
microorganismos. Este evento marca o início da transgressão marinha que afogou o
ambiente deltaico/lagunar da Formação Rio Bonito.
v) Formação Irati
A Formação Irati aflora continuamente ao longo dos morros Esteves e Albino, na
porção centro-sul do município. De maneira subordinada aflora também ao longo de
uma estreita faixa situada na encosta superior do Morro Cechinel. É afetada por
uma intrusão de diabásio que ocorre sob a forma de sill, o qual consome grande
parte desta formação. A influência térmica provocada pela colocação do sill alterou
suas características em termos de cor e dureza, evidenciando-se geralmente forte
quebramento e redução acentuada da espessura.
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PRAD CIDADE MINEIRA
Comumente os afloramentos são muito decompostos. Variam de siltitos cinza-escuro
e pretos a folhelhos pirobetuminosos com laminação paralela bem desenvolvida.
Leitos e lentes de calcário impuro podem ser constatados no terço superior desta
formação.
A presença de litofácies pelíticas ricas em matéria orgânica, com laminação fina
plano-paralela e presença de calcário impuro, sugere um ambiente marinho calmo,
com águas mais profundas.
vi) Formação Estrada Nova
A Formação Estrada Nova ocorre de maneira subordinada em uma pequena faixa
situada na encosta superior do Morro da Cruz, na porção oeste, e também ao sul da
BR 101, na área de nascente do rio dos Porcos.
Do ponto de vista litológico, na sua porção inferior compreende uma seqüência
constituída por folhelhos, argilitos e siltitos cinza-escuro a pretos. Quando
intemperizados, eles têm cores cinza-claro a cinza-esverdeado e avermelhados, com
tons amarelados. Normalmente são maciços ou possuem uma laminação planoparalela incipiente. Às vezes são micáceos. Localmente, contêm lentes e
concreções calcíferas, com formas elipsoidais e dimensões que podem alcançar até
1,5m de comprimento por 50cm de largura.
Sua porção superior é constituída por argilitos, folhelhos e siltitos cinza-escuro e
esverdeados, ritmicamente intercalados com arenitos muito finos, cinza-claro.
Quando alteradas, estas rochas mostram cores diversificadas em tons violáceos,
bordôs e avermelhados. Comumente apresentam lentes e concreções carbonáticas.
A predominância de litofácies pelíticas, a presença de calcário, a laminação planoparalela ou ondulada indicam um ambiente marinho plataformal.
vii) Formação Rio do Rasto
Ocorre somente em uma pequena porção no extremo sul do município, na encosta
superior do Morro Mãe Luzia.
Litologicamente é constituído por lentes de arenitos finos, avermelhados,
intercalados em siltitos e argilitos arroxeados. O conjunto mostra também cores em
tonalidades verdes, chocolate, amareladas e esbranquiçadas. Suas principais
estruturas sedimentares são as estratificações cruzadas acanaladas, laminação
plano-paralela e de corte e preenchimento. As camadas de arenito apresentam
geometria sigmoidal ou tabular e possuem geralmente espessuras superiores a
50cm, podendo alcançar em alguns casos mais de 2m.
A intercalação de camadas arenosas com estruturação interna, constituída
principalmente por estratificação acanalada e camadas com geometria sigmoidal,
sugere um fácies progradante, inicialmente relacionado a um sistema deltaico.
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PRAD CIDADE MINEIRA
viii) Formação Serra Geral
A Formação Serra Geral se faz representar por um sill de diabásio de extensão
regional, inserido ao nível da Formação Irati. Aflora no topo dos morros da Cruz,
Cechinel, Esteves e Albino. Ocorre ainda no extremo sul da área do município, em
cotas mais baixas, à margem direita do rio dos Porcos. Tem espessura média de
30m e sustenta a topografia por efeito da resistência diferencial aos processos de
intemperismo e erosão, desenhando uma forma de relevo do tipo mesa.
Litologicamente se constitui por variedades de granulação muito fina a afanítica, de
coloração cinza-escuro a preta, com eventuais passagens para fácies porfiríticas.
Notáveis feições de disjunção colunar estão presentes.
Petrograficamente são muito homogêneos, com pequenas variações composicionais
entre basaltos e basaltos granofíricos. Em essência, constituem uma trama com
plagioclásios (40 - 60%), tipo Anortita 30-50, e proporções menores de
clinopiroxênios (augita-pigeonita). Como minerais subordinados podem apresentar
hornblenda basáltica, quartzo-intersticial e matriz vítrea ou micrográfica a quartzo e
feldspato potássico. Entre os acessórios estão magnetita esqueletal, opacos e
apatita acicular. Carbonatos, zeolitas, epidoto, sericita e clorita são produtos de
alteração.
ix) Depósitos de Leques Aluviais
Ao longo da encosta inferior do vale do rio dos Porcos e ao longo do vale de alguns
tributários pela margem esquerda do rio Sangão, em seu médio curso, ocorrem
depósitos de leques aluviais. Nestes locais, os depósitos são pouco espessos,
atingindo
raramente
espessuras
superiores
a
3m.
Constituem-se
predominantemente por seixos, grânulos e areia grossa. Apresentam geometria
tabular ou lenticular e as camadas de cascalho e areia encontram-se amalgamadas.
A estruturação interna é constituída principalmente de imbricação dos seixos de
gradação normal.
x) Depósitos Flúvio-lagunares com Retrabalhamento Eólico
Os depósitos flúvio-lagunares ocorrem na porção sul do município, ao longo das
planícies dos rios Sangão e dos Porcos. Do ponto de vista litofaciológico, ocorrem
depósitos com espessura de alguns metros, essencialmente argilosos, cinza-escuro
ou com cores veriegadas, em tons de amarelo-avermelhado. Geralmente
apresentam plasticidade média a alta. Intercalam-se intervalos areno-argilosos ou
arenosos de cores mais claras. A estrutura sedimentar mais freqüente é a laminação
plano-paralela, evidenciada pela alternância de tonalidades.
Verificou-se que na porção superior da planície do rio dos Porcos ocorrem depósitos
arenosos, constituídos de areias finas a médias, cinza-claro. Estes depósitos são
pouco espessos, raramente ultrapassando 1m. Sua origem deve estar relacionada à
ação eólica sobre as barreiras litorâneas que ocorrem nas proximidades. Abaixo há
um espesso pacote de material argiloso com cores variegadas, explotado pelos
oleiros de Içara para a fabricação de tijolos e telhas. A estes depósitos atribui-se
origem fluvial relacionada a processos de transbordamento. Abaixo deste intervalo
13
PRAD CIDADE MINEIRA
estratigráfico, encontram-se argilas escuras com restos de matéria orgânica que
podem corresponder aos depósitos de fundo lagunar.
xi) Depósitos Aluviais
Os Depósitos Aluviais ocorrem com freqüência ao longo das planícies aluviais dos
principais cursos d`água presentes neste município, onde os vales são mais abertos
e afloram rochas pelíticas nas encostas dos morros. Os depósitos aluviais
resultantes são mais expressivos e predominantemente argilosos ou areno-sílticoargilosos. O material apresenta geralmente plasticidade média e cores variadas,
principalmente em tons de cinza-amarelado.
1.2.2 - Geologia Local
A descrição das características geológicas na área de pesquisa levou em
consideração a interpretação de ortofoto e visitas in loco, o que possibilitou o
reconhecimento e o mapeamento das unidades geológicas.
Segundo relato de moradores, em décadas passadas a extração de carvão nessa
região foi realizada em subsolo, tendo sido uma porção da área minerada a céu
aberto. Na faixa que circunda as margens do rio Sangão desde a avenida
Assembléia de Deus até o leito do rio Maina, situado à montante da área, o carvão
foi extraído a céu aberto. Dessa porção em diante (sentido leste a oeste) a
mineração ocorreu em subsolo.
Nessa região afloram rochas da Formação Palermo (figura 2) e também ocorrem
litologias pertencente à Formação Rio Bonito. Em alguns tributários pela margem
esquerda do rio Sangão (porção leste da área), ocorrem pequenos depósitos
aluviais.
Figura 2 - Afloramento de rochas da Formação Palermo. Julho de 2006
14
PRAD CIDADE MINEIRA
Do ponto de vista litológico, a Formação Palermo caracteriza-se por apresentar um
espesso pacote de ritmitos, com interlaminação de areia-silte e argila, com intenso
retrabalhamento por ondas. A alternância de tonalidades claras e escuras evidencia
a intercalação de leitos arenosos e síltico-argilosos, respectivamente. Localmente,
verifica-se que as litologias adquirem uma tonalidade avermelhada devido a
intrusões de diabásio. De acordo com a ortofoto (figura 1) e segundo relato de
moradores, uma grande porção desta área foi totalmente encoberta por pilhas de
rejeito piritoso, ali depositadas durante as atividades de mineração, em décadas
passadas, quando da lavra a céu aberto.
As figuras 3 e 4 ilustram a espessura das pilhas de rejeito depositadas, por terceiros
em ambas as margens do rio Sangão, de aproximadamente 5 m. O rejeito
depositado possui diferentes granulometrias, variando de grosso a ultrafinos.
Figura 3 e 4 – Rejeito depositado na margem esquerda e direita do rio Sangão (sentido
norte-sul). Julho de 2006
À montante da área, na margem direita do rio Maina, pode-se observar que a
espessura da camada de rejeito é de aproximadamente 3m (figura 5). Nota-se a
presença de resíduos depositados em ambas as margens do rio Maina.
15
PRAD CIDADE MINEIRA
Figura 5 – Rejeito depositado na margem direita do rio Maina (sentido norte-sul). Julho de
2006
É importante salientar que na época a lavra a céu aberto era realizada por um
sistema que acarretava a inversão das camadas. Realizava-se um corte da
cobertura até o veio de carvão, introduzindo as camadas da superfície do solo no
fundo das cavas e expondo as rochas associadas ao carvão em profundidade,
nesse caso, relacionado à camada Barro Branco. As diversas camadas que ficavam
sobre o carvão (estéreis) eram retiradas e depositadas temporariamente em solo
não minerado, paralelamente ao corte feito, procedendo-se, na seqüência, à
extração do carvão. O carvão era levado às usinas de beneficiamento para
concentração do mineral e o rejeito retornava às áreas mineradas e era depositado
em cada corte, no espaço deixado pela lavra do corte anterior (Machado, Peruffo e
Lima, 1984; FEPAM, 2002).
Ainda com base nos relatos de moradores, quase toda a margem esquerda do rio
Sangão, até uns 300 m de distância em direção ao bairro Cidade Mineira Nova,
apresenta susceptibilidade a alagamentos e inundações, principalmente pelo fato de
as residências estarem situadas próximas às margens do rio e na faixa de APP Área de Preservação Permanente.
Pode-se observar que as estradas e as residências foram construídas sobre os
depósitos de rejeito piritoso (figura 6).
16
PRAD CIDADE MINEIRA
Figura 6 - Detalhe da estrada e residências construídas sobre os depósitos de rejeitos. Julho
de 2006
Com relação à área minerada em subsolo, as observações realizadas na ortofoto e
em visita a campo indicam a existência de um dique de diabásio aflorando próximo a
uma área verde no bairro Cidade Mineira Nova. Em quase toda essa faixa não há
evidência de rejeito piritoso depositado em superfície, pois as residências estão
construídas em solo silte-argiloso do afloramento da Formação Palermo.
Por outro lado, encontram-se depósitos de rejeito piritoso sob as residências numa
faixa entre a margem esquerda (sentido norte-sul) da rótula na avenida Assembléia
de Deus e o campo de futebol, que se estende por quase toda a avenida de asfalto.
1.3 – Características Geotécnicas Identificação dos Processos Erosivos
A descrição dos processos geotécnicos visa a identificar as principais áreas de risco
ambiental, com enfoque em processos de escorregamento, erosão, estabilidade de
taludes, assoreamento e percolação de fluído por meio de solos contaminados.
Neste contexto, visando a identificar as principais áreas de risco ambiental nas duas
áreas pesquisadas, realizou-se, a partir da interpretação da ortofoto e de visitas in
loco, o reconhecimento dos principais processos erosivos atuantes.
As condições naturais de um determinado terreno como, por exemplo, alta
declividade e tipo de solo, agravadas pela falta de cobertura vegetal e de sistemas
de drenagem (crista, meia encosta e pé-de-talude) para escoamento das águas
torrenciais, aceleram os processos erosivos, os quais podem evoluir para a
formação de sulcos erosivos a voçorocas. Essas alterações na superfície do terreno
prejudicam as atividades locais, trazendo conseqüências para diversas áreas e
17
PRAD CIDADE MINEIRA
contribuindo, por exemplo, para o escorregamento de solos, o abatimento de
encosta, o solapamento de margens e o assoreamento de córregos e rios.
Como parte do diagnóstico ambiental, serão identificados os principais processos
erosivos atuantes na área de estudo, com destaque para a direção do fluxo das
águas e a fase de evolução da erosão.
Serão ainda identificadas as pilhas de rejeito desnudas e as estradas e taludes onde
existe maior probabilidade de impactos por precipitação pluviométrica, os quais,
ligados à intensa infiltração de água, são expostos a deslizamentos dos rejeitos
sobretudo nas áreas cujos terrenos são inclinados.
Como a área de estudo se encontra totalmente urbanizada, os problemas
relacionados a processos erosivos são encontrados principalmente nas margens dos
rios Sangão e Maina e nas estradas e áreas alagáveis.
Na figura 7, pode-se observar uma drenagem superficial com lançamento de esgoto
doméstico. Essa área é muito susceptível a inundações e a alagamentos freqüentes.
Figura 7 – Drenagem superficial para escoamento das águas pluviais e esgoto doméstico.
Julho de 2006
A presença de rejeito exposto nas margens dos córregos, associado ao lançamento
de águas servidas (esgoto doméstico), tem promovido a contaminação da qualidade
das águas. Estes resíduos são carreados pelo leito do córrego em direção ao rio
Sangão (figura 4).
Da mesma forma, os rejeitos desnudos, encontrado nas estradas não pavimentadas,
nas residências e próximos às margens das estradas pavimentadas (figuras 8A e
8B), é susceptível aos efeitos do intemperismo, que pela lixiviação o transporta e o
sedimenta no leito dos rios.
18
PRAD CIDADE MINEIRA
A
B
Figura 8 – A: rejeito depositado próximo às margens da estrada; B: rejeito depositado ao
longo das margens das estradas. Julho de 2006
O maior agravante na área é a inexistência de cobertura vegetal na faixa marginal
(30 metros) dos rios Maina e Sangão, definida em lei como Área de Preservação
Permanente (APP). A não-observância dessa faixa de proteção está provocando,
em diversos locais, a formação de sulcos erosivos nos taludes desnudos, cuja
conseqüência são problemas de assoreamento no leito, que associados à baixa
declividade resultam freqüentes inundações.
1.4 – Hidrogeologia
Do ponto de vista hidrogeológico, ocorrem na área dois intervalos aqüíferos
distintos. Um mais superficial, correspondente ao aqüífero freático, relacionado aos
depósitos aluviais, pilhas de rejeito e solos de alteração da Formação Rio Bonito, e o
outro correspondente ao aqüífero profundo, relacionado às rochas do topo da
Formação Rio Bonito.
i) Aqüífero Profundo
•
Caracterização hidrogeológica
Litologicamente é constituído por arenitos finos a médios, quartzosos, bem
selecionados, porosos e permeáveis. Subordinadamente ocorrem arenitos médios a
grossos, feldspáticos, com matriz areno-argilosa, com aspecto maciço. No terço
inferior deste intervalo aqüífero, já nas proximidades do intervalo estratigráfico da
camada de carvão Barro Branco, ocorrem arenitos com laminação grossa que
intercalam siltitos e folhelhos de cores escuras.
Logo acima da referida camada de carvão, ocorre geralmente uma camada de siltito
carbonosos, de cor cinza-escuro e com aspecto maciço. As camadas de arenito
apresentam espessuras variadas, desde alguns centímetros até metros.
Considerando as informações geológicas, pode-se constatar que este sistema
aqüífero é extenso, com geometria tabular ou lenticular e com regime de fluxo livre
ou confinado.
19
PRAD CIDADE MINEIRA
Tendo em vista que em toda a área estudada, o substrato é constituído por rochas
areníticas correspondente ao intervalo aqüífero, a recarga se processa de maneira
direta, a partir das precipitações e infiltração nas rochas areníticas.
Considerando os aspectos geológicos e estruturais, bem como informações de
pontos d’águas visitados por ocasião dos trabalhos de campo, foi possível verificar
que o sentido de fluxo na área estudada se processa de norte para sul.
•
Vulnerabilidade natural e riscos de contaminação
Na área estudada, este intervalo aqüífero é aflorante. Este condicionamento indica
que a vulnerabilidade natural é alta.
Com relação ao risco de contaminação, constata-se que praticamente toda a área
estudada já está urbanizada e com edificações. Constata-se também que uma
significativa porção desta área, principalmente aquela posicionada nas proximidades
do rio Sangão, está coberta com rejeito piritoso. Estes fatos indicam que o risco de
contaminação às cargas contaminantes de superfície é alto.
•
Características hidroquímicas
Antes de se abordarem as características hidroquímicas das águas deste sistema é
importante que se comentem alguns fatores que influenciam direta ou indiretamente
sua qualidade.
Inicialmente cabe ressaltar que a Formação Rio Bonito contém entre suas litologias
importantes camadas de carvão, desde há muito tempo lavradas. A natureza
predominantemente arenosa de seus litótipos confere-lhe uma boa potencialidade
como aqüífero. Porém, o fato de ela abrigar minas a céu aberto e minas de subsolo
bem como pilhas de rejeito piritoso alteram suas características como aqüífero.
Outro fator a ser considerado relaciona-se aos aspectos geológicos e estruturais.
Sabe-se que nesta formação geológica são freqüentes as variações laterais e
verticais de fácies litológicas (Krebs, 2004). O referido autor demonstrou também
que no âmbito desta formação ocorrem freqüentes falhas geológicas, as quais
provocam basculamento dos blocos rochosos. Muitas vezes estas falhas encaixam
diques de diabásio. Todos estes fatores interferem no comportamento
hidrogeológico desta formação assim como nos aspectos hidroquímicos de suas
águas. Pelo exposto, pôde-se constatar que é difícil se definir uma assinatura
hidrogeoquímica padrão para as águas desta formação.
ii) Aqüífero freático
•
Caracterização hidrogeológica
Na área estudada, o aqüífero freático relaciona-se aos solos residuais que se
desenvolvem sobre as litologias da Formação Rio Bonito. Na porção situada próximo
ao rio Sangão onde houve mineração de carvão a céu aberto, o aqüífero freático
está contido nas pilhas de rejeito dispostas aleatoriamente.
20
PRAD CIDADE MINEIRA
A recarga se processa de maneira direta, a partir das precipitações de sua infiltração
nos solos residuais e nas pilhas de rejeito. O sentido de fluxo deste aqüífero se
processa em sentido do rio Sangão, isto é de noroeste para sudeste.
O mapa com os pontos de monitoramento (anexo) ilustra o sentido de fluxo do
freático, e do aqüífero profundo respectivamente.
•
Vulnerabilidade natural e riscos de contaminação
A vulnerabilidade natural e riscos de contaminação são altos, devido ao fato dos
solos serem porosos e permeáveis, e existirem várias fontes de contaminação em
superfície, como por exemplo, esgoto doméstico, lançamento de águas servidas, e
pilhas de rejeitos.
1.5 – Recursos Hídricos Superficiais
1.5.1 – Bacia Hidrográfica Estudada
A área de estudo, denominada genericamente de bairro Cidade Mineira, encontra-se
inserida na sub-bacia do Rio Sangão. O Rio Sangão situa-se entre os paralelos
28036’ e 28050’ Sul e entre os meridiano 49020’ e 49028’ Oeste (Greenwich), na
região Sul do Estado de Santa Catarina.
.Abrange uma área de 298,38 km² e desenvolve-se no sentido Norte-Sul. A
cabeceira se situa próxima à cidade de Siderópolis, basicamente na divisa dos
municípios de Criciúma e Siderópolis, numa altitude aproximadamente de 300
metros.
O Rio Sangão desemboca no rio Mãe Luzia, nas proximidades de Forquilhinha, onde
atinge uma cota aproximada de 30 metros.
No seu desenvolvimento se apresenta muito sinuoso, tendo uma extensão
aproximada de 48,20 km. Entre os afluentes do rio Sangão, se destacam o rio
Maina, pela margem direita, e o rio Criciúma, pela margem esquerda, além de outras
contribuições de menor porte.
A importância desses afluentes, além do porte da área drenada, está relacionada ao
grau de poluição de suas águas, resultado da degradação ambiental provocada
pelas atividades de mineração de carvão e pelos esgotos domésticos e industriais
da região.
1.5.2 – Diagnóstico dos Recursos Hídricos Superficiais
Tem como finalidade diagnosticar a qualidade das águas superficiais que se
encontram locados no Mapa de Monitoramento de Qualidade das Águas Superficiais
em anexo.
A seleção dos pontos de coleta foi realizada após análise das ortofotos (DNPM,
2002), expedições de campo e levantamento de dados existentes. Esta seleção de
21
PRAD CIDADE MINEIRA
pontos considerou toda a extensão da micro bacia estudada considerando todas as
áreas estudadas não importanto as responsabilidades a quem cabem os passivos
ambientais identificados, pois estes encontram-se correlacionados por suas
posições geográficas em relação ao fluxo hídrico superficial e provavelmente
subsuperficialmente também.
Um conjunto de variáveis ambientais foi selecionado para melhor descrever a
qualidade das águas na área estudada, relacionado-se essa qualidade com a
poluição gerada pelas atividades humanas, neste estudo especificamente a de
mineração.
O Quadro 1 apresenta essas variáveis bem como o método analítico adotado e o
respectivo limite de detecção.
As análises de águas foram realizadas nos laboratórios do Instituto de Pesquisas
Ambientais e Tecnológicas – IPAT da Universidade do Extremo Sul Catarinense –
UNESC, com base nas metodologias sugeridas no Standard Methods for
Examination of the Water e Wastewater (EATON, CLESCERI e GREENBERG,
1995).
Quadro 1 – Variáveis ambientais selecionadas para descrever a qualidade das águas
superficiais das áreas de estudo, método de análise e limite detectável
adotados pelo laboratório de águas do IPAT/UNESC.
Indicador Ambiental
Unidades de medida
pH
Mínimo Detectável
Método de análise
0,1
Pontenciométrico
Acidez Total (mg.L-1 CaCO3)
0,5
Titulométrico à pH 8,3
Sulfato Solúvel (mg.L-1)
10
Turbidimétrico
Ferro Total (mg.L-1)
0,02
Espectrofotômetro absorção
atômica
Manganês (mg.L-1)
0,01
Espectrofotômetro absorção
atômica
a) Justificativa para Escolha dos Parâmetros Mínimos Selecionados
•
pH: o pH de um rio é fortemente influenciado pelo lançamento de
efluentes industriais. Na região carbonífera, os rios apresentam-se
geralmente ácidos, devido às influencias das atividades ligadas à
mineração e ao beneficiamento de carvão mineral. É restritivo à vida
aquática.
•
Ferro Total: a presença de ferro é um incoveniente que deve ser
evitado, uma vez que este parâmetro propicia o desenvolvimento de
ferro-bactérias, que conferem à água de corpos receptores cores
avermelhadas e odores fétidos.
Os incovenientes da utilização industrial ou doméstica desta água são a
formação de manchas ferruginosas em louças ou nos produtos
22
PRAD CIDADE MINEIRA
industrializados, o sabor conferido a produtos alimentícios, além da
obstrução de tubulações.
Na região carbonífera, a elevada concentração de ferro nos corpos
receptores deve-se também, às atividades ligadas à mineração do
carvão.
• Manganês: assim como o ferro, o manganês provoca sabor
desagradável em bebidas e, em concentrações superiores a 0,15 mg/l,
ocasiona manchas e incrustações em tecidos e equipamentos. Para
águas de abastecimento publico recomenda-se uma concetração
máxima de 0,1 mg/l.
O manganês provém da poluição de origem industrial ou decorrente da
lixiviação de minérios que contêm este parâmetro. Junto às camadas de
carvão são freqüentes os nódulos de óxidos de ferro e manganês, o que,
conseqüentemente, faz com que este metal se apresente nos recursos
hídricos contaminados pela extração e beneficiamento de carvão
mineral.
• Sulfatos: o sulfato está amplamente distribuído na natureza e pode
estar presente nas águas em diferentes concentrações.
As drenagens de minas de carvão, comuns nesta região, contribuem
com altas concentrações de sulfato, em virtude da oxidação do enxofre
presente na pirita. Este parâmetro também pode provocar a formação de
ácido sulfúrico, reduzindo o pH dos corpos d’água.
O sulfato acelera os processo corrosivos sobre alguns metais. Portanto,
quando para fins industriais, o controle da concentração deste parâmetro
deve ser rigoroso.
Em áreas rurais, o sulfato pode ter origem nos fertilizantes que
contenham enxofre na sua formulação e a lixiviação por efeito das
chuvas sobre estas áreas carreia este produto para os corpos d’água. O
sulfato também tem origem no ciclo do enxofre proveniente da matéria
orgânica.
Para a discussão e análise dos dados, os resultados obtidos em cada uma das
estações monitoradas foram comparados à literatura pertinente e à Resolução n.
357/05 do CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente. Essa Resolução
dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu
enquadramento e estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes.
Seu Art. 42 dispõe que enquanto os estados não efetivarem o enquadramento, as
águas doces serão consideradas como de Classe 2.
Dessa forma, enquanto o Estado de Santa Catarina não efetivar o enquadramento
de suas águas como determina o CONAMA, as águas interiores, com salinidade
inferior a 0,5 partes por mil, ou águas doces, serão consideradas como águas de
Classe 2.
Nesse estudo as águas superficiais (rios e córregos) são comparadas às águas de
Classe 2 enquanto as drenagens oriundas dos depósitos de rejeitos e bocas de
minas abandonadas , será comparada aos padrões de lançamento de efluentes.
23
PRAD CIDADE MINEIRA
A Tabela 2 apresenta padrões de qualidade para as águas doces de Classe 2 e os
padrões para lançamento de efluentes, segundo essa Resolução, nos parâmetros
analisados. Apresentam-se na mesma tabela os limites mínimo detectáveis
aplicados pelo laboratório de análise de águas e efluentes do IPAT/UNESC.
o
Tabela 2 – Limites fixados pela Resolução n. 357/05 do CONAMA para águas doces de Classe 2 e
emissões de efluentes líquidos.
Padrão de Qualidade
Padrão Emissão
Classe II
Efluentes
Detectável
pH
6a9
5a9
0,1 mg.L
temperatura
Na
inferior 40º C
0,5º C
Ferro Total
0,3 mg.L Fe
Manganês
0,1 mg.L Mn
Sulfato
250 mg.L SO4
Parâmetros
-1
-1
-1
-1
1,0 mg.L Mn
na
(1)
-1
15,0 mg.L Fe
-1
Limite Mínimo
(2)
-1
0,02 mg.L
-1
0,01 mg.L
-1
2 mg.L
na: não se aplica; (1) limite detectável pelo método adotado no laboratório do IPAT/UNESC; (2)
refere-se à determinação de manganês solúvel
b) Metodologia
Para compreender melhor a ação da mineração de carvão na bacia do rio Sangão,
adotaram-se 16 pontos de amostragens, sendo 8 pontos no rio Sangão, codificados
de RS01, RS02, RS03 ,RS07, RS09, RS10, RS11 ,RS12 e RS13; 4 pontos no rio
Maina, codificados de RM04, RM05, RM06 e Rm16; e um ponto no rio Criciúma,
codificado de RC08, além de 2 pontos de drenagem codificados de DR 14 e DR 15.
Figura 9 – Coleta no ponto RS07 na área de rejeitos no bairro Cidade Mineira, Criciúma,SC.
24
PRAD CIDADE MINEIRA
O Quadro 2 traz a descrição e as coordenadas dos pontos amostrados nessa área,
representados no Mapa de Monitoramento da Qualidade das Águas, em anexo.
Quadro 2 – Localização das estações de monitoramento na área de influência
Código Coordenadas UTM
Descrição dos Pontos de Coleta
Leste
Norte
RS01
0654137
6833782
Rio Sangão em sua nascente, localizada na subida do morro que
dá acesso ao município de Siderópolis
RS02
0656432
6832734
Rio Sangão a montante da unidade mineira São Geraldo na
localidade de são Jorge, município de Siderópolis..
RS03
0655954
6829299
Rio Sangão próximo á ponte na Rod. SC-445 junto ao trevo de
acesso ao bairro Laranjinha, no município de Criciúma.
RM04
0651710
6829048
Rio Maina próximo á sua nascente no distrito de Rio Maina,
município de Criciúma..
RM05
0652395
6828941
Afluente do rio Maina apósá montante da ára degradada no bairro
Vila Visconde próximo ao trevo de acesso ao distrito de Caravágio.
RM06
0653100
6827329
Rio maina próximo a ponte no bairro macarini no distrito de Rio
Maina, município de Criciúma
RS07
0654748
6825779
Rio Sangão após confluência com o rio maina, no bairro Boa Vista
,município de Criciúma.
RC08
0656566
6825534
Rio Criciúma, a montante da área degradada COCALIT, no bairro
Paraíso, município de Criciúma.
RS09
0654603
6824076
Rio Sangão próximo á ponte da Rodovia que liga a UNESC ao
bairro Santa Luzia em Criciúma.
RS10
0655589
6820225
Rio Sangão próximio á ponte de ferro da Estrada Tereza Cristina,
no interior da área degradada da antiga ICC.
RS11
0653497
6820082
Lagoa contribuinte do rio Sangão no interior da área da
Cooperminas no bairro Santa Líbera em Forquilhinha.
RS12
0653622
6818983
Drenagem no interior da área de rejeitos da Carbonífra Belluno no
bairro Sangão, município de Forquilhinha.
RS13
0653684
6818101
Rio Sangão próximo á ponte na Rod. SC446 no Bairro Sangão,
município de Criciúma.,
DR14
0654156
6829863
Drenagem oriunda da área degradada no bairro metropol em
Criciúma
DR15
0652611
6828735
Drenagem da área degradada
RM16
0652600
6828696
Rio Maina á jusante da localidade de Vila Visconde no distrito de
Rio Maina, Criciúma, após a drenagem da área degradada
25
PRAD CIDADE MINEIRA
c) Coleta das Amostras
As amostras foram coletadas em recipientes diferenciados, segundo o tipo de
análise a ser efetuada. Cada recipiente foi devidamente etiquetado, para perfeita
identificação do ponto amostrado, e acondicionado em caixas de isopor, até serem
entregues no laboratório.
As técnicas de coleta e preservação das amostras seguem a NBR 9898, de Jun/87,
conforme resumido no quadro a seguir.
Quadro 3 – Metodologia utilizada na coleta das amostras, onde, v: vidro e p: polietileno ou
polipropileno.
Parâmetro
Frasco
Preservação
Prazo
Metais
V ou P
Adicionar HNO3 até pH <2
6 meses
pH
V ou P
Refrigerar a 4ºC
24 horas
Sulfatos
V ou P
PH <8; refrigerar a 4ºC
7 dias
d) Análises Laboratoriais
Todas as amostras coletadas foram analisadas no laboratório conveniado entre a
FATMA, Fundação do Meio Ambiente, e UNESC, Universidade do Extremo Sul
Catarinense, instalado na Universidade, em Criciúma.
A Tabela 3 apresenta os resultados analíticos nos pontos amostrados na área de
estudo para os indicadores pH, acidez, Ferro Total, Manganês e Sulfato. As coletas
foram realizadas nos dias 03.08.06.
26
PRAD CIDADE MINEIRA
Tabela 3 – Dados de temperatura, pH, acidez, ferro total, manganês e sulfatos das águas superficiais
na área de influência da área, Criciúma, SC.
Código
Temperatura
água ºC
pH
Acidez
-1
mg.L
Ferro total
-1
mg.L
Manganês
-1
mg.L
Sulfatos
-1
mg.L
RS01
20,2
7,3
4,9
0,37
<0,01
<10
RS02
19
3,0
460,7
73,52
3,86
613
RS03
20
2,9
945,9
135,93
4,26
1063
RM04
20,2
7,6
3,9
0,20
<0,01
<10
RM05
20,0
2,8
1705
309,95
4,64
1930
RM06
20,0
3,1
774,4
197,53
5,08
1161
RS07
20,0
2,9
823,4
145,86
3,98
1082
RC08
20,0
6,5
30,6
6,45
0,75
114
RS09
20,0
2,9
588,1
110,71
3,13
768
RS10
20,0
3,0
666,5
131,76
3,63
424
RS11
20,0
6,0
11,8
0,58
0,16
138
RS12
20,0
3,2
1480,1
298,89
6,80
1804
RS13
20,0
3,0
622,4
114,81
3,55
824
DR14
22,0
2,7
1127,2
87,85
5,00
1385
DR15
21,0
2,5
4156,6
821,2
2,43
4303
RM16
22,0
2,7
2146,6
352,28
4,03
2163
e) Discussão dos Resultados
Para melhor se descrever a situação encontrada na área de estudo, foram
necessários alguns dados obtidos no Projeto de Monitoramento da Qualidade das
Águas da Bacia Carbonífera Santa Catarina, realizado em convênio com CNPq,
DNPM, SIECESC, UNESC e UNISUL.
A Tabela 4 apresenta os resultados pH, acidez, ferro total, manganês e sulfatos nos
pontos AR 30, AR 52, AR 53, AR 54 e AR 76.
Tabela 4 – Dados de temperatura, pH, acidez, ferro total, manganês e sulfatos.
Código
pH
acidez
-1
Ferro total
-1
Manganês
-1
mg.L
mg.L
mg.L
Sulfatos
-1
mg.L
AR30
2,9
358
49,38
2,05
487
AR52
2,7
1200
181,37
3,76
1426
AR53
2,8
760
131,27
2,95
975
AR54
2,7
636
184,82
2,91
1118
AR76
2,8
844
145,56
3,81
1140
Média de dez amostragens realizadas(IPAT/UNESC, 2004)
27
PRAD CIDADE MINEIRA
Com relação aos pontos selecionados do projeto de monitoramento da Qualidade
das Águas da Bacia Carbonífera Santa Catarina – Bacia do Rio Araranguá
(IPAT/UNESC, 2004 ) tem-se os resultados para pH e acidez.
A média de 10 amostragens no ponto AR 30, a montante da área de estudo, aponta
os valores de pH 2,9 e acidez 359 mg.L-1, enquanto o ponto AR 76 a jusante da área
de estudo, também no rio Sangão, foi de 2,8 para ph e 145,56 mg.L-1 para a acidez.
Para esses indicadores de qualidade das águas amostradas no rio Sangão, rio
Maina e Criciúma encontraram-se as seguintes amplitudes de variação:
• pH 2,5 (DR15) a 7,6 (RM04);
• acidez: 3,9 (RM04) a 4.156,6 mgCaCO3.L-1 (no ponto DR15).
Em relação aos pontos amostrados no projeto de monitoramento da Qualidade das
águas da Bacia do Rio Araranguá (IPAT/UNESC, 2004 ) tem-se os valores de ferro
total, manganês e sulfatos.
A tabela 5 apresenta os valores médios obtidos em dez campanhas de amostragem
realizada no referido projeto.
Tabela 5 – Concentração de ferro total, manganês e sulfatos no rio Sangão.Média de 10 amostragens
campanhas de monitoramento (IPAT/UNESC, 2004)
Código
Ferro total
-1
mg.L
Manganês
-1
mg.L
Sulfatos
-1
mg.L
AR30
49,38
2,05
487
AR52
181,37
3,76
1426
AR53
131,27
2,95
975
AR54
184,82
2,91
1118
AR76
145,56
3,81
1140
Os resultados obtidos servem para reafirmar o que já se comentou anteriormente, ou
seja, o comprometimento do rio Sangão, em decorrência das atividades de
mineração ocorridas ao longo do seu curso em décadas passadas, além dos
passivos ambientais existentes.
Os resultados obtidos nos parâmetros ferro total, manganês e sulfatos, nas estações
de amostragens para o referido estudo realizado em 06.08.2006 apontam os
seguintes resultados:
•
para ferro total encontrou-se as seguintes amplitudes 0,20 mg.L-1 (no ponto
RM04) a 821,2 mg.L-1 (no ponto DR15 );
•
para manganês os valores variaram < 0,01 (no ponto RS01 ) a 6,80 ( no ponto
RS12);
•
Os valores de sulfatos apresentaram também uma amplitude significativa,
variando entre <10 a 4.303 mg.L-1. .
28
PRAD CIDADE MINEIRA
f) Conclusão
O sistema hídrico está comprometido de tal forma que o abastecimento das
comunidades com água potável se aproxima dos níveis críticos, face aos mananciais
remanescentes disponíveis.
O rio Sangão também se encontra seriamente comprometido em praticamente toda
a sua extensão, chegando nas proximidades da área de estudo em desacordo com
o que estabelece a Resolução do CONAMA 357/05 como condições e padrões para
águas de Classe II. Dessa forma, o principal curso d’água que drena a área de
estudo, o rio Sangão, assim como seus afluentes que cortam esta área, encontra-se
degradado nos quatro pontos de monitoramento aqui considerados.
Esta sub-bacia tributária do rio Mãe Luzia é identificada como a mais poluída da
região carbonífera do Estado de Santa Catarina.
A quase totalidade desta degradação ambiental é devido à intensa lavra,
beneficiamento e deposição desordenada de rejeitos que ali se desenvolveram.
Os esgotos domésticos lançados sem qualquer tratamento nos dois principais
afluentes do rio Sangão, rios Maina e Criciúma, principalmente na área urbanizada
de Criciúma, associados a outras atividades industriais, contribuem com elevado
percentual na carga poluidora.
1.5.3 – Memória Fotográfica
29
PRAD CIDADE MINEIRA
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PRAD CIDADE MINEIRA
2 – Aspectos do Meio Biótico
A vegetação marginal aos corpos de água tem recebido, nos últimos anos, atenção
especial de diversos pesquisadores devido à importância que apresentam
especialmente para os corpos de água. A denominação dessa vegetação apresentase bastante rica, em função mais provavelmente, da ampla distribuição e dos
diferentes ambientes em que ocorre em todo território nacional. Dentre as
denominações mais freqüentes para as formações arbóreas, estão, mata ciliar,
floresta de galeria, mata aluvial ou ripária. (OLIVEIRA FILHO et al., 1995).
Dentre as inúmeras citações relacionadas à importância das matas ciliares estão,
manutenção do equilíbrio do ecossistema aquático, diversidade florística e estrutura
genética de suas populações. A vegetação natural desempenha ainda papel
fundamental para o equilíbrio dos ecossistemas, uma vez que abastecem os lençóis
freáticos, contribuem para minimização dos efeitos erosivos sobre o solo, refugiam
animais silvestres, além de serem importantes fontes de energia para a população.
Logo, a sua retirada deve ter critérios e ser bem controlada nos mais variados
ambientes (GUTBERLET, 1996).
No entanto, no Sul de Santa Catarina o processo de degradação dos recursos
naturais tornou-se alarmante e provavelmente irreversível, já que em algumas
regiões a vegetação foi suprimida para extração do carvão mineral e expansão das
áreas agrícolas e pecuárias, restando apenas formações secundárias, em diferentes
estádios sucessionais (SANTOS, 1997).
A degradação ambiental provocada por todas as etapas envolvidas na extração de
carvão, atua negativamente na qualidade ambiental sob diversos aspectos. Os
recursos hídricos, o solo e a qualidade do ar sofrem influência direta destas
atividades, contribuindo intensamente para o desaparecimento da fauna e flora dos
ecossistemas (BORTOT; ZIM-ALEXANDRE, 1995).
A contaminação das águas subterrâneas e superficiais em Criciúma se mantém em
constante atividade devido a três fatores de grave importância: nas bacias
hidrográficas dos rios Araranguá, Tubarão e Urussanga, encontram-se depositados
mais de 370 milhões de metros cúbicos de rejeitos e estéreis oriundos da indústria
carbonífera; as águas não aproveitadas nos circuitos de beneficiamento de carvão e
rejeitos terminam infiltrando-se nas bacias de decantação ou mesmo contaminando
diretamente os recursos hídricos da região; nessa vazão, não estão incluídos os
volumes e calculos de drenagem ácida geradas por minas abandonadas ou
paralisadas sem as devidas medidas de impermeabilização ou qualquer tipo de
tratamento dos efluentes (CETEM; CANMET, 2000).
Na área de estudo, as principais fontes de geração da drenagem ácida são os
depósitos de rejeitos, estéreis ou concentrados de sulfetos expostos às intempéries.
A presente área de estudo encontra-se ainda totalmente urbanizada, restando
apenas áreas próximas ao rio Sangão, o qual encontra-se comprometida
praticamente em toda a sua extensão pela mineração de carvão.
38
PRAD CIDADE MINEIRA
2.1 – Metodologia
O estudo da flora envolveu reconhecimento e descrição da vegetação presente na
área do empreendimento, localizado na Cidade Mineira, Criciúma.
Para o estudo qualitativo da vegetação utilizou-se o Método Expedito por
caminhamento (FILGUEIRAS et al., 1994), percorrendo algumas ruas da área de
estudo, onde atualmente encontra-se totalmente urbanizada e margens do rio
Sangão entre as coordenadas 655.080/6.824.919 e 654.743/6.825.750.
Foram utilizadas fotografias aéreas 1:20.000 coloridas (fotointerpretação), obtidas
em aerolevantamento no ano 2002, as quais foram compiladas por profissionais da
Geológica em uma única carta geo-referenciada. De posse desta carta foi realizado
um trabalho de campo visando reconhecimento prévio da vegetação do local. Para a
realização do presente estudo, elaborou-se ainda uma ficha constando das
seguintes informações: nomes científico e popular das espécies identificadas e
família botânica. As informações serviram de base para elaboração de tabelas
relativas a duas categorias (nativas e exóticas). No estudo florístico, a apresentação
das famílias seguiu-se as propostas de Tryon e Tryon (1982) para Pteridophyta e
Cronquist (1988) para Magnoliophyta. Os nomes científicos, bem como sua autoria,
foram confirmados de acordo com The International Plant Names Index (IPNI).
2.2 – Resultados
Na área de estudo foram identificadas 29 famílias, constando de 53 espécies
arbustivo-arbóreas, entre as ruas da área de estudo.
Tabela 2 – Relação das espécies amostradas no levantamento florístico, entre as ruas da
área de estudo, Cidade Mineira, Criciúma.
Família
Nome científico
Nome popular
EXÓTICA
ANACARDIACEAE
Mangifera indica L.
mangueira
APOCINACEAE
Nerium oleander L.
espirradeira
APOCINACEAE
Plumeria rubra L.
jasmim-manga
Archontophoenix cunninghamii H. Wendl. &
ARECACEAE
seafortia
Drudi
ARECACEAE
Caryota urens L.
palmeira
ARECACEAE
Livistona australis (R.Br.).Mart.
falsa-latania
jacarandáBIGNONIACEAE
Jacaranda mimosiifolia Don.
mimoso
BIGNONIACEAE
Spathodea campanulata P. Beauv.
espatódea
CAESALPINIACEAE
Bauhinia variegata L.
pata-de-vaca
CAESALPINIACEAE
Cassia fistula L.
cassia imperial
CAESALPINIACEAE
Delonix regia (Bojer ex Hook.) Raf.
flamboyant
CAESALPINIACEAE
Tipuana tipu (Benth.) Kuntze
tipuana, tipa
CASUARINACEAE
Casuarina cunninghamiana Miq.
casuarina
COMBRETACEAE
Terminalia catappa
sete-copas
cipresteCUPRESSACEAE
Cupressus lusitanica Mill.
mexicano
39
PRAD CIDADE MINEIRA
CUPRESSACEAE
DILLENIACEAE
EUPHORBIACEAE
Cupressus sempervirens L.
Dillenia indica Blanco
Euphorbia cotinifolia L.
EUPHORBIACEAE
Aleurites moluccana (L.) Willd.
LAURACEAE
LYTHRACEAE
MAGNOLIACEAE
MALVACEAE
MELIACEAE
MORACEAE
MORACEAE
MYRTACEAE
MYRTACEAE
MYRTACEAE
MYRTACEAE
OLEACEAE
PLATANACEAE
PROTEACEAE
RUTACEAE
SCROPHULARIACEAE
THEACEAE
ANACARDIACEAE
Persea americana Mill.
Lagerstroemia indica L.
Michelia champaca L.
Hibiscus rosa-sinensis L.
Melia azedarach L.
Fícus benjamina L.
Ficus elastica Roxb.
Eucaliptus saligna Sm.
Psidium guajava L.
Syzygium cuminni (L.) Skeels
Syzygium jambos (L.) Alston
Ligustrum lucidum W.T.Aiton
Platanus acerifolia (Aiton) Willd.
Grevillea robusta A. Cunn. ex R. Br.
Citrus sinensis Osbeck
Paulownia fortune (Seem.) Hemsl.
Camelia japonica L.
NATIVA
Schinus terebinthifolius Raddi
ARAUCARIACEAE
Araucaria angustifolia (Bert.) Kuntze
ARECACEAE
ARECACEAE
BIGNONIACEAE
BIGNONIACEAE
BOMBACACEAE
CAESALPINIACEAE
CAESALPINIACEAE
CAESALPINIACEAE
CECROPIACEAE
EUPHORBIACEAE
MELASTOMATACEAE
MIMOSACEAE
MIMOSACEAE
MORACEAE
SAPINDACEAE
Euterpe edulis Mart.
Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassm.
Tabebuia avellanedae Lor. ex Griseb.
Tabebuia umbellata (Sond.) Sandwith
Chorisia speciosa St. Hill.
Senna multijuga (L.C.Rich.) Irwin &Barneby
Schizolobium parahyba (Vell.) Blake
Senna macranthera (Collad.) Irwin et Barn.
Cecropia glaziovi Sneth.
Alchornea glandulosa Poepp.& Endl.
Tibouchina sellowiana (Cham.) Cogn.
Inga marginata Willd.
Mimosa bimucronata (DC.) O. Kuntze
Ficus enormis Mart. ex Miq.) Miq.
Matayba elaeagnoides Radlk.
cipreste-italiano
flor-de-abril
leiteiro-vermelho
nogueira de
iguape
abacateiro
extremosa
magnólia-amarela
hibisco
cinamomo
figueira-benjamin
falsa-seringueira
eucalipto
goiaba
jambolão
jambo-amarelo
alfeneiro
plátano
grevílea
laranjeira
kiri
camélia
aroeira
pinheiro-doparaná
palmito
jerivá
ipê-roxo
ipê-amarelo
paineira
aleluia
guapuruvú
fedegoso
embaúba
tanheiro
quaresmeira
ingá-feijão
Maricá
gameleira
camboatá-branco
40
PRAD CIDADE MINEIRA
Do total de espécies amostradas, 36 ou 68% são representados por espécies
exóticas e apenas 17 ou 32% por nativas (figura 9).
32%
Exóticas
Nativas
68%
Figura 9 – Relação das espécies exóticas e nativas amostrada na área de estudo, Cidade
Mineira, Criciúma
Dentre as espécies exóticas é evidente o maior número de indivíduos Ligustrum
lucidum W.T.Aiton (alfeneiro) e Melia azedarach L. (cinamomo) nas ruas e casas da
presente área de estudo (figura 10).
Figura 10 – Aspecto geral de Ligustrum lucidum (A) e Melia azedarach (B), espécies estas,
com maior representatividade na área de estudo.
41
PRAD CIDADE MINEIRA
Já no entorno do rio Sangão, em uma área de 985 metros de extensão foram
amostradas principalmente espécies herbáceas representadas por Axonopus
compressus (Sw.) P. Beauv. (sempre-verde), Andropogon bicornis L. (capim-rabode-burro), Melinis minutiflora P. Beauv. (capim-gordura), Paspalum saurae (Parodi)
Parodi (pensacola), Bambusa sp. (bambu), Brachiaria sp. (capim), Pityrogramma
calomelanos (Linn.) Link (avenca-branca), Pteridium aquilinum (L.) Kuhn
(samambaia-das-taperas) Achyrocline satureioides (DC.) Lam. (marcela-do-mato),
Baccharis spp. (carqueja), Vernonia scorpioides (Lamarck) Persoon (erva-sãosimão) e Musa sp. (bananeira) (figura 11).
Entre os arbustos, destacou-se Ricinus communis L. (mamona). As árvores foram
representadas principalmente por Mimosa bimucronata (DC.) O. Kuntze (marica) e
Eucalyptus saligna Sm. (eucalipto) (figura 12).
Nas figuras 11 e 12, é possível observar claramente a drenagem ácida formada em
virtude da oxidação da pirita contida nos rejeitos do beneficiamento do carvão
mineral, com forte coloração vermelho-laranja, decorrente da alta concentração em
íons Fe3+.
Figura 11 – Aspecto geral de Pteridium aquilinum e Andropogon bicornis no entorno da
margem do rio Sangão, Cidade Mineira, Criciúma.
42
PRAD CIDADE MINEIRA
Figura 12 – Aspecto geral de Mimosa bimucronata e Eucalyptus saligna desenvolvendo-se
em rejeito do beneficiamento do carvão mineral no entorno da margem do rio Mãe Luzia,
Cidade Mineira, Criciúma.
3 – Aspectos Sócio-econômicos Locais
A antiga Cidade Mineira constituía uma importante vila operária de trabalhadores
das diversas minas de carvão situadas entre o Metropol, Rio Maina, Santa Luzia,
Sangão e Mina União. À medida que a mineração foi deixando estas áreas
degradadas e a urbanização foi evoluindo, muitos loteamentos foram instalados
sobre rejeitos de carvão aterrados. O próprio poder público utilizava-se dos rejeitos
do carvão para fazer aterros e ”pavimentar” ruas e em áreas mais carentes.
A antiga vila mineira apresenta atualmente, uma densa urbanização composta
basicamente de residências de classe média baixa, havendo comércio pouco
expressivo e uma forte expansão industrial que vem favorecendo a economia local.
No entorno dos atuais bairros: Cidade Mineira, Mineira Nova, Mineira Velha,
Imperatriz, São Francisco, Mina União e Santa Augusta, existem grandes áreas
degradadas em processo de recuperação, margeando o rio Sangão, que cruza toda
a área, recebendo o aporte de águas ácidas das áreas ainda não recuperadas e os
efluentes domésticos das áreas urbanizadas.
O quadro de degradação ambiental vem apresentando melhoras em função das
recuperações ambientais em andamento, porém, é preciso analisar a degradação
social que vem se instalando nas áreas mais carentes, em função da baixa renda e
escolaridade, levando a um aumento do tráfico de drogas, roubos e violência.
•
Localização e caracterização
O Bairro Imperatriz situa-se na margem direita do rio Sangão, no município de
Criciúma, entre os bairros Mineira Nova e a Mineira Velha, ao norte do acesso ao
aeroporto Diomício Freitas.
43
PRAD CIDADE MINEIRA
O bairro estende-se da Avenida Caeté, que inicia na SC – 446, próximo ao trevo do
Aeroporto, até a Ferrovia Tereza Cristina, sendo cortado ao meio pelo rio Sangão.
A Avenida Caeté, onde inicia o bairro imperatriz, liga a Avenida Universitária (SC –
446) a Avenida Luiz Lazarin, tendo lojas, lanchonetes, agropecuária e ponto de
ônibus. Já a parte do bairro entre a avenida e o rio, é exclusivamente residencial,
havendo duas oficinas e mercearias, apenas. Na margem esquerda do rio, a
ocupação apresenta melhor padrão e mais infra-estrutura, seguindo até a Ferrovia
Teresa Cristina.
O foco desta análise são três áreas de aproximadamente 5 hectares cada uma
aproximadamente, situadas entre a avenida Caeté e o rio Sangão (na margem
direita) atualmente ocupadas por população de baixa renda. Não há sinais de
rejeitos de mineração nas áreas ocupadas, pois foram aterradas, porém, ao longo do
rio nota-se a presença de rejeitos de carvão que fornecem um aporte de águas
ácidas.
O entorno do bairro, constituído de áreas residenciais e áreas degradadas de
mineração em processo de recuperação ambiental, vem se configurando num
distrito industrial com a presença de metalúrgicas, tecelagens e indústrias químicas.
A primeira área fica entre a Rua Arcângelo Meller (sul), rua Lourenço Zanete (norte)
e o Rio Sangão (leste). À medida que a ocupação se aproxima do rio, separada
deste por uma via marginal de 15, as edificações e a infra-estrutura ficam mais
precárias. As quadras e os lotes são assimétricos tendo menos de 300m²,
estendendo-se ao longo de vielas sinuosas, caracterizando uma área invadida. As
ruas são esburacadas, sem calçadas ou drenagem, o que causa transtorno aos
moradores, pois a maioria não possuir automóveis. O posteamento é antigo, de
madeira e o esgoto é encaminhado diretamente ao rio. As edificações não seguem
nenhuma especificação urbanística e as ruas não tem denominação.
Figura 13 – Ocupação a 15 metros do Rio Sangão
A segunda área fica entre as ruas Osvaldo Gomes (Sul) e Luis Manoel Rodrigues
(norte) e as ruas 575 (oeste) e 579 (leste). Esta área também apresenta
44
PRAD CIDADE MINEIRA
características de invasão pela disposição caótica das edificações, falta de divisão
de lotes e falta de estrutura urbanística. Neste trecho há uma ocupação mais forte
da margem do rio, após uma via marginal, havendo residências a menos de 10
metros do rio. Há uma ponte ligando à outra margem que também integra o bairro
Imperatriz, porém, possuindo áreas urbanizadas com ruas calçadas, lotes
regularizados e residências de melhor padrão, apesar do esgoto também ser
destinado ao rio.
Figura 14 – Edificações nas margens do rio Sangão, que recebe lixo e esgoto desta área
Figura 15 – Ponte sobre o Rio Sangão na rua Osvaldo Gomes
A terceira área fica entre as ruas 775 (sul) e Alexandre Mondai (norte). É constituída
de seis quadras urbanizadas, com ruas calçadas e lotes alinhados, porém, próximo
ao rio existem áreas invadidas. Segundo os moradores, é o único loteamento regular
desta área, tendo sido as demais áreas invadidas. As residências de classe média
baixa apresentam melhor padrão em relação aos casebres da beira rio e das áreas
invadidas.
45
PRAD CIDADE MINEIRA
Figura 16 – Ruas calçadas e casas de melhor padrão no loteamento regular
Figura 17 – Estradas esburacadas e sem drenagem da parte invadida contrastam com o
calçamento e as bocas de lobo do loteamento regular
•
Aspectos demográficos
Existem aproximadamente 400 residências na área analisada, estimando-se, de
acordo com a amostragem realizada, uma população de aproximadamente 1500
pessoas, sendo que o espaço encontra-se praticamente saturado em relação à
ocupação. O número é expressivo para o tamanho da área, devido às características
dos lotes, de tamanho reduzido e baixa renda da população, que em geral, indica
altos índices populacionais com elevado número de jovens e crianças como se
verificou no local.
Um aspecto que chama atenção no local é o elevado número de igrejas evangélicas,
havendo seis estabelecimentos religiosos em apenas 15 quadras. Uma parcela
46
PRAD CIDADE MINEIRA
elevada da população negra do local habita as residências próximas ao rio,
indicando um padrão de exclusão social da população negra nas áreas mais
carentes do município.
Outro dado importante relatado pelos moradores é o fato de que a área foi invadida
em época de eleição há mais de uma década, sendo que os moradores atuais, em
geral, não são os mesmos que se estabeleceram inicialmente no local. Com a
invasão do lote e sua valorização, invasor pode vendê-lo e obter uma nova moradia
mais digna, sendo que este ciclo se repete até hoje, havendo vários lotes à venda.
•
Aspectos sócio-econômicos
A população é constituída por mineiros aposentados, donas de casa, pedreiros,
empregadas domésticas, catadores de papelão e metal, prestadores de serviços e
funcionários dos estabelecimentos locais.
O setor secundário vem crescendo, o que para os moradores representa uma
perspectiva de renda e infra-estrutura melhor na comunidade. Os trabalhadores que
ficam na comunidade distribuem-se nos estabelecimentos comerciais e industriais,
ou realizando serviços informais e os demais se deslocam para outras localidades
diariamente para trabalhar. Há um alto índice de desemprego de jovens e adultos
gerado pela baixa escolaridade, o que estimula as invasões em busca de uma virtual
segurança para a família.
•
Infra-estrutura
O acesso até a comunidade se dá através da Avenida Caeté, que é asfaltada e tem
linhas de ônibus. Algumas ruas da área analisada são pavimentadas com lajota,
constituindo os loteamentos regularizados e com melhor renda e estrutura. O
restante das vias é de chão batido e sem drenagem, sendo algumas, sinuosas e
estreitas, nas áreas invadidas.
Existem linhas regulares de transporte coletivo e grande parte dos moradores não
possui veículo próprio.
Os serviços públicos, como os postos de saúde, se encontram nos bairros próximos
e as crianças estudam nas escolas da Mina União e da Cidade Mineira. Há no bairro
apenas estabelecimentos comerciais de pequeno porte, incluindo farmácia,
mercado, lojas, bares, oficinas e ferro-velho.
•
Abastecimento de água
O abastecimento de água fica a cargo da CASAN de Criciúma, que atende todas as
residências, às vezes com mangueiras vindas da casa vizinha. Não há utilização de
poços artesianos ou fontes naturais. Não há rede de esgoto, sendo que os resíduos
são enviados para fossas e sumidouros individuais ou são destinados diretamente
no rio Sangão.
47
PRAD CIDADE MINEIRA
Figura 18 – Tubulação da CASAN cruzando a área
•
Uso do Solo
Não há qualquer utilização da terra para fins de cultivo ou criação de animais, pois a
área encontra-se com uma ocupação residencial quase saturada, havendo poucos
imóveis desocupados.
No entorno da área, devido ao histórico de degradação, a ocupação é densa e não
há atividade agrícola, com exceção de uma propriedade localizada no inicio da
Avenida Caeté onde há plantio de milho. Nas demais áreas não residenciais a
implantação de indústrias vem se expandindo, havendo grandes áreas recuperadas
ou em processo de recuperação que podem ser destinadas a esta atividade.
48
PRAD CIDADE MINEIRA
MÓDULO IV – IMPACTOS AMBIENTAIS
Fontes de Poluição
Uma das características peculiares do rejeito de carvão são as variações nas
concentrações em enxofre, ocasionadas pelos diferentes tipos de rejeito e de
granulometria. Este material quando depositado de forma desordenada, sem
controle ambiental, é exposto ao oxigênio e à umidade, o que gera condições
propícias à oxidação dos minerais presentes, em particular da pirita. A lixiviação
gerada forma águas ácidas, comumente conhecidas por Drenagem Ácida de Mina
(DAM) - ricas em metais como ferro, manganês e zinco, além de outros elementos
menores ou traços.
Dessa forma, pode-se considerar que dois aspectos assumem importância quando
da avaliação dos impactos ambientais causados pela geração de DAM. O primeiro é
o fato de que o impacto não fica restrito à área minerada, podendo contaminar os
recursos hídricos e alcançar áreas circunvizinhas ao empreendimento. O segundo é
o de que a reação química envolvida no processo é extremamente lenta, podendo o
fenômeno persistir durante anos, mesmo depois de esgotado o depósito mineral
(Alexandre e Krebs, 1995; Mendonça et al, 2002).
Partindo-se deste pressuposto, serão identificadas as principais fontes de poluição
encontradas na área estudada, junto ao bairro denominado de Cidade Mineira.
• Depósitos de Rejeitos Disseminados
O rejeito de carvão depositado na área de estudo se constitui de folhelho carbonoso
e pirita, com coloração cinza-escuro a preta. O rejeito apresenta-se em pequenos
blocos, com granulometria de 1 cm a 10 cm, caracterizando-se como resíduo
proveniente de processos de beneficiamento de carvão mineral. Encontra-se
depositado pelas estradas, no leito do rio Maina e Sangâo e sob os terrenos das
residências em toda área urbana estudada. Trata-se, sem dúvida, da principal fonte
de poluição presente nas três áreas.
Segundo relato de moradores, em décadas passadas a extração de carvão nessa
região foi realizada em subsolo, tendo sido uma porção da área minerada a céu
aberto. Na faixa que circunda as margens do rio Sangão desde a avenida
Assembléia de Deus até o leito do rio Maina, situado à montante da área, o carvão
foi extraído a céu aberto. Dessa porção em diante (sentido leste a oeste) a
mineração ocorreu em subsolo.
• Drenagem Ácida de Mina – DAM
A qualidade da DAM é determinada pela presença de sulfetos que, expostos às
condições atmosféricas, são oxidados, gerando acidez. A quantidade potencial de
geração de acidez depende da quantidade total e do tipo de sulfeto presente (Mello
e Abrahão, 1998; Borma e Soares, 2002; Progesc, 1995).
49
PRAD CIDADE MINEIRA
A alteração da qualidade da água pode ocorrer pela lixiviação do material piritoso ou
estéreis e pela erosão do solo. Quando o material piritoso entra em contato com a
água, ele oxida-se e forma sulfato ferroso, o que reduz o pH e prejudica a vida
aquática.
No caso da área estudada, a coloração das águas do rio Maina e do Sangão
(Figuras 3, 4 e 5) indica a presença de metais dissolvidos em meio aquoso,
principalmente por existirem outras áreas degradadas pela mineração de carvão
situadas à montante. Por outro lado, a presença significativa de rejeito com diferente
granulometria depositado próximo às margens dos rios, na porção que circunda a
área de estudo, bem como nas estradas e sob as residências, deve estar
contribuindo para degradar a qualidade das águas.
• Resíduos e Efluentes Domésticos
A disposição desordenada de resíduos domésticos e, principalmente, de esgotos
domésticos a céu aberto como visto nas margens e no leito do rio Maina a montante
e do Sangão no próprio bairro, contribuem para a degradação da qualidade das
águas superficiais e principalmente por serem vetores de doenças contagiosas.
50
PRAD CIDADE MINEIRA
MÓDULO
V
–
PROPOSIÇÃO
DE
COMPENSATÓRIAS
MEDIDAS
MITIGADORAS
E
Por se tratar de uma área urbana densamente habitada com suas ruas
pavimentadadas, com casas de alvenaria ou mistas em sua maioria, não existe
possibilidade de realizar-se a retirada dos rejeitos espalhados sob os terrenos
habitados. Nota-se ainda o bom estado de conservação dos jardins da maioria das
habitações locais. Neste sentido, sugere-se que se mantenham as residências
existentes como estão, bem como a conservação da pavimentação asfáltica da
maioria das vias urbanas locais. Porém, sugere-se o monitoramento das drenagens
superficiais e subsuperfícies para acompanhamento das modificações dos recursos
hídricos desta região.
51
PRAD CIDADE MINEIRA
MÓDULO VI - AÇÕES DE RECUPERAÇÃO
Por se tratar de uma área urbana densamente habitada com suas ruas
pavimentadadas, com casas de alvenaria ou mistas em sua maioria, não existe
possibilidade de realizar-se a retirada dos rejeitos espalhados sob os terrenos
habitados. Nota-se ainda o bom estado de conservação dos jardins da maioria das
habitações locais. Neste sentido, sugere-se que se mantenham as residências
existentes como estão, bem como a conservação da pavimentação asfáltica da
maioria das vias urbanas locais. Porém, sugere-se o monitoramento das drenagens
superficiais e subsuperfícies para acompanhamento das modificações dos recursos
hídricos desta região.
As residências dentro da faixa de APP – Áreas de Preservação Permanente deverão
ter um programa governamental (municipal/estadual) para suas remoções.
52
PRAD CIDADE MINEIRA
MÓDULO VII – PROGRAMA DE MONITORAMENTO
O programa de acompanhamento ambiental aqui proposto está relacionado ao
cadastramento de possíveis fraturas, subsidências, surgências de água de mina,
bocas de minas entre outros problemas relacionados à extração de carvão, bem
como à caracterização atual dos recursos hídricos e o acompanhamento dos
parâmetros ao longo de um período de cinco anos.
O acompanhamento da evolução da qualidade das águas subterrâneas é de grande
importância para a avaliação da contribuição das fontes poluidoras superficiais e
subsuperficiais na degradação dos recursos hídricos subterrâneos. Assim, prevê-se
a instalação de 6 (seis) piezômetros no aqüífero freático e de outros 4 (quatro) no
aqüífero profundo, conforme tabela 3 a seguir e ilustrado no mapa com os pontos de
monitoramento em anexo.
O monitoramento das águas subterrâneas deverá ser realizado com freqüência
semestral e por período indeterminado. Os parâmetros de qualidade são os
previstos na Resolução 357/2005 e no Decreto Estadual 14.250/1981.
Cabe salientar que a coleta das amostras deverá se dar no dia seguinte após o
esvaziamento do poço por bombeamento, para se promover, dessa forma, uma
amostragem representativa da qualidade real da água do aqüífero.
Na construção dos piezômetros deverão ser coletados testemunhos de sondagem
para a caracterização química e mineralógica do rejeito. As amostras deverão ser
classificadas segundo a NBR 10004 – Resíduos sólidos.
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Tabela 6 – Localização das estações de monitoramento dos recursos hídricos
Código Coordenadas UTM
Descrição dos Pontos de Coleta
Leste
Norte
RS01
0654137
6833782
Rio Sangão em sua nascente, localizada na subida do morro que dá
acesso ao município de Siderópolis
RS02
0656432
6832734
Rio Sangão a montante da unidade mineira São Geraldo na
localidade de são Jorge, município de Siderópolis..
RS03
0655954
6829299
Rio Sangão próximo á ponte na Rod. SC-445 junto ao trevo de
acesso ao bairro Laranjinha, no município de Criciúma.
RM04
0651710
6829048
Rio Maina próximo á sua nascente no distrito de Rio Maina,
município de Criciúma..
RM05
0652395
6828941
Afluente do rio Maina apósá montante da ára degradada no bairro
Vila Visconde próximo ao trevo de acesso ao distrito de Caravágio.
RM06
0653100
6827329
Rio maina próximo a ponte no bairro macarini no distrito de Rio
Maina, município de Criciúma
RS07
0654748
6825779
Rio Sangão após confluência com o rio maina, no bairro Boa Vista
,município de Criciúma.
RC08
0656566
6825534
Rio Criciúma, a montante da área degradada COCALIT, no bairro
Paraíso, município de Criciúma.
RS09
0654603
6824076
Rio Sangão próximo á ponte da Rodovia que liga a UNESC ao bairro
Santa Luzia em Criciúma.
RS10
0655589
6820225
Rio Sangão próximio á ponte de ferro da Estrada Tereza Cristina, no
interior da área degradada da antiga ICC.
RS11
0653497
6820082
Lagoa contribuinte do rio Sangão no interior da área da
Cooperminas no bairro Santa Líbera em Forquilhinha.
RS12
0653622
6818983
Drenagem no interior da área de rejeitos da Carbonífra Belluno no
bairro Sangão, município de Forquilhinha.
RS13
0653684
6818101
Rio Sangão próximo á ponte na Rod. SC446 no Bairro Sangão,
município de Criciúma.,
DR14
0654156
6829863
Drenagem oriunda da área degradada no bairro Metropol em
Criciúma
DR15
0652611
6828735
Drenagem da área degradada
RM16
0652600
6828696
Rio Maina á jusante da localidade de Vila Visconde no distrito de Rio
Maina, Criciúma, após a drenagem da área degradada
PZP 10
0654278
6826401
Piezômetro profundo montante Cidade Mineira
PZP 11
0654123
6825913
Piezômetro profundo montante Cidade Mineira
PZP 12
0654106
6825325
Piezômetro profundo centro Cidade Mineira
PZP 13
0654479
6824834
Piezômetro profundo jusante Cidade Mineira
PZF 02
0653881
6826015
Piezômetro freático Cidade Mineira
PZF 01
0654192
6826130
Piezômetro Freático Cidade Mineira
PZF 03
0654495
6825794
Piezômetro Freático Cidade Mineira
PZF 05
0653741
6825213
Piezômetro Freático Cidade Mineira
PZF 04
0654439
6825279
Piezômetro Freático Cidade Mineira
PZF 06
0654667
6825121
Piezômetro Freático Cidade Mineira
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Equipe Técnica
A empresa de consultoria contratada, Geológica Engenharia e Meio Ambiente Ltda,
devidamente registrada no CREA/SC sob n.° 053.263-0 e junto ao IBAMA sob n.o
4/42/2000/000005-9 na Categoria n.o 5002 – Consultoria Técnica Ambiental – Classe
6.0 Pessoa Jurídica, constituiu a equipe multidisciplinar composta pelos seguintes
profissionais:
Rafael de Souza Lopes – Geólogo
Leo Antonio Rübensam – Engenheiro de Minas
Eduardo Pereira Krebs – Engenheiro Ambiental
Nadja Rigoni Medeiros – Engenheira Sanitarista e Ambiental
Alecsandro Schardosim Klein - Biólogo, M.Sc.
José Ricardo Albuquerque Vaz – Engenheiro Agrônomo
Carlos Alberto Lopes – Químico Industrial
Jadna Scussel Dalmolin – Engenheira Civil
Consultor convidado: Geólogo Dr. Antônio José Jornada Krebs (Hidrogeologia)
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PRAD CIDADE MINEIRA
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