no3 | 2011 atualidades A nova tendência de se integrar cuidados Versatilidade da gencitabina nos esquemas quimioterápicos História de Sucesso TUCCA traduz a solidariedade entre os próprios pacientes O médico Sidnei Epelman (presidente da TUCCA) fora questionado algumas vezes por seus pacientes sobre como as famílias dessas crianças custeavam seus tratamentos. A questão “incomodou” Dr. Epelman, que com a ajuda desses pacientes e de outros profissionais, fundou a TUCCA, inicialmente batizada de “Tumor Cerebral em Crianças e Adolescentes”. Com o tempo, a associação ampliou sua atuação para o tratamento de pacientes com todos os tipos de câncer da infância e adolescência, Versatilidade da gencitabina mas a sigla TUCCA a acompanha até hoje. nos esquemas A gencitabina é uma molécula versátil quimioterápicos utilizada em diversos protocolos quimioTUCCA traduz a solidariedade entre os próprios pacientes terápicos, até mesmo no tratamento da gestante com câncer, porém suas principais indicações são o câncer de pulmão de células não pequenas, câncer de mama metastático, adenocarcinoma de pâncreas localmente avançado ou metastático e o câncer de bexiga. Dr. Igor Morbeck, professor de Medicina Interna da Universidade Católica de Brasília e diretor do Centro de Estudos e Pesquisas Cespo, faz uma revisão sobre o tema. Uma das tendências mais recentes na medicina, com especial ênfase na oncologia, é a integração de cuidados médicos a terapias consagradas cientificamente (por exemplo, shiatsu, meditação) no tratamento. A medicina integrativa ganha cada vez mais adeptos e já está presente, até mesmo, na grade de cursos de extensão universitária em faculdades internacionalmente reconhecidas, como a Unifesp. Dr. Paulo Tarso de Lima, um dos precursores dessa prática no Brasil, é nosso entrevistado em Atualidades. Fique a par das novidades em Espaço Sandoz e também de resenhas e notícias científicas em Atualização, com destaque para a agenda de cursos que serão promovidos pela Sobrafo em 2011. Boa leitura! Os editores no3 | 2011 atualidades A nova tendência de se integrar cuidados Rua Anseriz, 27, Campo Belo 04618-050 – São Paulo, SP Fone: 11 3093-3300 www.segmentofarma.com.br [email protected] Diretor-geral: Idelcio D. Patricio Diretor executivo: Jorge Rangel Comunicações médicas: Cristiana Bravo Gerente financeira: Andréa Rangel Gerente comercial: Rodrigo Mourão Editor Científico: Ricardo Caponero CRM-SP 51.600 Editora-chefe: Daniela Barros MTb 39.311 Gerente editorial: Cristiane Mezzari Gerente de negócios: Marcela Crespi Coordenadora editorial: Fabiana de Paula Souza Diretora de criação: Renata C. Variso Peres Revisoras: Patricia Zagni e Renata Del Nero Produtor gráfico: Fabio Rangel Cód. da publicação: 12043.04.11 O conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es). Produzido por Segmento Farma Editores Ltda., sob encomenda de Sandoz, em abril de 2011. Material de distribuição exclusiva à classe médica. sumário A solidariedade é um sentimento presente de maneira recorrente quando o assunto é câncer e já foi tema de editorial da Chymion. Impossível não mencioná-la novamente, ao trazermos na História de Sucesso a TUCCA. Essa associação para crianças e adolescentes com câncer surgiu justamente da preocupação dos próprios pacientes com seus semelhantes de menor recurso financeiro. 4 11 12 16 19 matéria de capa espaço sandoz atualidades história de sucesso atualização História de sucesso indicação da gencitabina nos principais protocolos de quimioterapia Igor Morbeck 4 Oncologista clínico da Onco-Vida, Brasília-DF, professor de Medicina Interna da Universidade Católica de Brasília, diretor do Centro de Estudos e Pesquisas Oncológicas do Distrito Federal (Cespo) CRM-DF 12.068 A gencitabina é fosforilada intracelularmente pela cinase deoxitidina para gencitabina monofosfato, a qual é posteriormente fosforilada para os metabólitos ativos gencitabina difosfato e gencitabina trifosfato A gencitabina é um antimetabólito do grupo das pirimidinas capaz de inibir a síntese do DNA, por meio da inibição do DNA polimerase e do ribonucleotídeo transferase. Sua atuação é na fase S do ciclo celular. A gencitabina é fosforilada intracelularmente pela cinase deoxitidina para gencitabina monofosfato, que é posteriormente fosforilada para os metabólitos ativos gencitabina difosfato e gencitabina trifosfato. A gencitabina difosfato inibe a síntese de DNA, inibindo o ribonucleotídeo redutase, e a gencitabina trifosfato é incorporada para dentro do DNA e inibe o DNA polimerase. As principais indicações dessa droga são: carcinoma pulmonar de não pequenas células (CPNPC) localmente avançado ou metastático, câncer de pâncreas, câncer de ovário avançado e recidivado e câncer de mama metastático. As indicações sob investigação clínica ou sem registro em bula são: câncer de bexiga, doença de Hodgkin, linfoma não Hodgkin, carcinomas hepatobiliares, mesotelioma pleural maligno. A seguir vamos discutir os principais regimes de tratamento com base em gencitabina na prática diária do oncologista. Câncer de pâncreas Estudos iniciais mostravam uma baixa taxa de resposta, na ordem de 6% a 11%, em pacientes virgens de tratamento e com neoplasia pancreática avançada. Entretanto, o benefício clínico foi evidenciado mesmo em pacientes que não apresentavam resposta objetiva. Em um estudo de fase II de gencitabina (1.000 mg/m2 semanalmente por sete semanas seguidas de um descanso de uma semana e, posteriormente, a cada semana durante três semanas, seguidas por um descanso de uma semana), “o benefício clínico” foi definido como uma melhora da dor, de performance status ou peso sem nenhuma deterioração em qualquer outro fator. Embora a taxa de resposta objetiva em doentes com doença mensurável foi de apenas 11%, o benefício clínico foi observado em 27%. Com base nesses dados, o benefício clínico e a sobrevida foram utilizados como end-points primários de outro estudo clínico que incluiu 126 pacientes com câncer pancreático localmente avançado ou metastático. Nesse estudo, os pacientes foram divididos aleatoriamente para receber 5-FU (600 mg/m2 semanalmente) ou gencitabina (1000 mg/m2 semanalmente por sete semanas seguidas de uma semana de descanso, depois semanalmente por três semanas). Como resultado, a gencitabina foi significativamente associada a uma melhor resposta clínica (24% contra 5%) e maior sobrevida em um ano (18% contra 2%), embora neutropenias graus 3 e 4 foram mais frequentes no braço da gencitabina (23% contra 5%). Com base no significativo “benefício clínico” e ganho de sobrevida, a gencitabina foi aprovada para o tratamento de primeira linha do câncer de pâncreas metastático. 5 Câncer de pulmão de não pequenas células (CPNPC) Nenhum regime único demonstrou superioridade sobre os demais em pacientes com CPNPC avançado. Nesse cenário, as principais drogas são a gencitabina, os taxanos e a vinorelbina, todas em combinação com uma platina (cisplatina ou carboplatina). No maior estudo já publicado com quimioterapia em câncer de pulmão, 1.155 pacientes foram randomizados para um dos quatro esquemas: cisplatina com gencitabina, cisplatina com docetaxel, paclitaxel com carboplatina ou cisplatina com paclitaxel. As taxas de resposta global ficaram em torno de 19%, a sobrevida mediana em 7,9 meses, e as taxas de sobrevida em 1 e 2 anos foram semelhantes em todos os quatro grupos. Embora tenha havido diferenças de toxicidade entre os diferentes protocolos, os autores concluíram que nenhum dos quatro regimes de quimioterapia estudados ofereceu qualquer vantagem específica. A tabela 1 mostra o esquema de doses-padrão de gencitabina com cisplatina em CPNPC. Câncer de ovário A gencitabina é ativa em neoplasias epiteliais de ovário, tanto na doença resistente à platina quanto na doença resistente aos taxanos. Em uma série de 50 pacientes recidivados, a gencitabina (800 mg/m2 semanalmente por três em cada quatro semanas) produziu resposta objetiva em 19%, incluindo aqueles com doença refratária à platina. Em monoterapia, a gencitabina foi diretamente comparada com a doxorrubicina lipossomal peguilada em um ensaio com 195 mulheres com câncer de ovário avançado, resistente à platina. Como resultado desse estudo, não houve diferenças significativas na taxa de resposta global (6,1% versus 8,3% de gencitabina e doxorrubicina lipossomal), na sobrevida livre de progressão mediana (3,6 versus 3,1 meses) ou na sobrevida média global (12,7 versus 13,5 meses). Os autores concluíram que a gencitabina como agente único representou uma alternativa aceitável à doxorrubicina lipossomal em mulheres com câncer de ovário avançado resistente à platina. O Gynecology Oncology Group (GOG) publicou um estudo fase III com 356 mulheres com câncer de ovário recidivado pelo menos seis meses após completar o tratamento primário. Elas foram divididas aleatoriamente para receber carboplatina isolada (na dose de AUC 5) ou carboplatina (AUC 4) associada à gencitabina (1.000 mg/m2 nos dias 1 e 8). Embora a sobrevida média não tenha sido diferente (17,3 versus 18 meses, respectivamente), a terapia combinada resultou em uma taxa de resposta global significativamente maior (31% versus 47%) e uma sobrevida livre de progressão mediana de 5,8 versus 8,6 meses, favorecendo o braço da combinação de drogas. Os resultados desse estudo levaram à aprovação de gencitabina e carboplatina nas pacientes platino-sensíveis recidivadas nos Estados Unidos. Câncer de bexiga Doença metastática: A gencitabina demonstrou alto nível de atividade como agente único, em estudos iniciais não randomizados, em pacientes com carcinoma urotelial metastático. Posteriormente, a gencitabina foi Tabela 1. Protocolo de gencitabina e cisplatina em CPNPC 6 Droga Dose e via de administração Preparo Gencitabina 1.000-1.200 mg/m2, IV, D1 e D8 Diluir em 100 mL de soro fisiológico a 0,9% e infundir de 30 a 60 minutos Cisplatina 75 mg/m2, IV, D1 Diluir em 250 mL de soro fisiológico a 0,9% e infundir em 2 horas combinada com a cisplatina no regime conhecido como GC (gencitabina, 1.000 mg/m2 nos dias 1, 8, e 15; e cisplatina, 70 mg/m2 no dia 1). Nos estudos de fase II, taxas de resposta global de 40% a 50% foram observadas com o esquema GC, com respostas completas em aproximadamente 20% dos casos e sobrevida média na ordem de 12 a 14 meses. Mais recentemente, um ensaio de fase III foi realizado com 405 pacientes divididos aleatoriamente em GC ou metotrexato, doxorrubicina, vimblastina e cisplatina (MVAC). A taxa de resposta global e o tempo para progressão e sobrevida mediana foram muito semelhantes em ambos os regimes (49% versus 46%, 7,4 meses versus 7,4 e 13,8 versus 14,8 meses, respectivamente, para GC e MVAC). Entretanto, os pacientes tratados com GC apresentaram menos neutropenia graus 3 e 4, sepse e mucosite. Com base na eficácia semelhante, mas menor toxicidade, muitos consideram GC, e não MVAC, o esquema-padrão de primeira linha para pacientes com carcinoma urotelial avançado da bexiga. Adjuvância: Não há um consenso claro sobre o papel da quimioterapia adjuvante no tratamento de pacientes com câncer de bexiga localmente avançado. Os estudos clínicos randomizados que foram realizados até o momento são pequenos, foram encerrados prematuramente ou foram utilizados regimes de quimioterapia que são menos ativos que os padrões atuais para Os pacientes tratados com GC apresentaram menos neutropenia graus 3 e 4, sepse e mucosite. Com base na eficácia semelhante, mas menor toxicidade, muitos consideram GC, e não MVAC, o esquema-padrão de primeira linha para pacientes com carcinoma urotelial avançado da bexiga 7 Em média, 15% a 40% das pacientes com neoplasia avançada de mama politratadas respondem à gencitabina isolada. Combinações de gencitabina com cisplatina, vinorelbina ou taxanos têm sido associadas com taxas de resposta de 36% a 70%, mesmo em pacientes previamente tratados pacientes com doença metastática. Em nossa prática, quando indicados, utilizamos quatro ciclos de quimioterapia com MVAC ou GC, uma vez que esses regimes têm demonstrado maior atividade nos pacientes com doença metastática. Câncer de mama 8 Em média, 15% a 40% das pacientes com neoplasia avançada de mama politratadas respondem à gencitabina isolada. Combinações de gencitabina com cisplatina, vinorelbina ou taxanos têm sido associadas com taxas de resposta de 36% a 70%, mesmo em pacientes previamente tratados. Uma revisão sistemática de vários estudos com gencitabina em câncer de mama metastático concluiu que os dados disponíveis não suportam a utilização da gencitabina como opção-padrão terapêutica para a terapia de primeira linha. Para as pacientes refra- tárias a antraciclinas, um taxano associado à gencitabina pode ser uma alternativa razoável a regimes potencialmente mais tóxicos como capecitabina com docetaxel no tratamento segunda ou terceira linhas. Referências 1. Adamo V, Magno C, Spitaleri G, Garipoli C, Maisano C, Alafaci E, et al. Phase II study of gemcitabine and cisplatin in patients with advanced or metastatic bladder cancer: long-term follow-up of a 3-week regimen. Oncology. 2005;69(5):391-8. 2. Casper ES, Green MR, Kelsen DP, Heelan RT, Brown TD, Flombaum CD, et al. Phase II trial of gemcitabine (2,2’-difluorodeoxycytidine) in patients with adenocarcinoma of the pancreas. Invest New Drugs. 1994;12(1):29-34. 3. Dent S, Messersmith H, Trudeau M. Gemcitabine in the management of metastatic breast cancer: a systematic review. Breast Cancer Res Treat. 2008;108(3):319-31. 4. Lund B, Hansen OP, Theilade K, Hansen M, Neijt JP. Phase II study of gemcitabine (2’,2’-difluorodeoxycytidine) in previously treated ovarian cancer patients. J Natl Cancer Inst. 1994;86(20):1530-3. 5. Moore MJ, Tannock IF, Ernst DS, Huan S, Murray N. Gemcitabine: a promising new agent in the treatment of advanced urothelial cancer. J Clin Oncol. 1997;15(12):3441-5. 6. Mutch DG, Orlando M, Goss T, Teneriello MG, Gordon AN, McMeekin SD, et al. Randomized phase III trial of gemcitabine compared with pegylated liposomal doxorubicin in patients with platinum-resistant ovarian cancer. J Clin Oncol. 2007;25(19):2811-8. 7. Pfisterer J, Plante M, Vergote I, du Bois A, Hirte H, Lacave AJ, et al. Gemcitabine plus carboplatin compared with carboplatin in patients with platinum-sensitive recurrent ovarian cancer: an intergroup trial of the AGO-OVAR, the NCIC CTG, and the EORTC GCG. J Clin Oncol. 2006;24(29):4699-707. 8. Rha SY, Moon YH, Jeung HC, Kim YT, Sohn JH, Yang WI, et al. Gemcitabine monotherapy as salvage chemotherapy in heavily pretreated metastatic breast cancer. Breast Cancer Res Treat. 2005;90(3):215-21. 9. Rothenberg ML, Moore MJ, Cripps MC, Andersen JS, Portenoy RK, Burris HA 3rd, et al. A phase II trial of gemcitabine in patients with 5-FU-refractory pancreas cancer. Ann Oncol. 1996;7(4):347-53. 10. Schiller JH, Harrington D, Belani CP, Langer C, Sandler A, Krook J, et al. Comparison of four chemotherapy regimens for advanced non-small-cell lung cancer. N Engl J Med. 2002;346(2):92-8. Sandoz define qualidade como prioridade número um para 2011 Em carta recém-enviada a todos os colaboradores da Sandoz no mundo, Sr. Jeff George, presidente global, informa que o Sandoz Executive Committee (SEC) elegeu a qualidade como prioridade número um para este ano. Sr. George menciona que para compreender essa atitude, basta relembrar um dos tópicos da visão da Sandoz: “Seremos o principal provedor de medicamentos acessíveis e de alta qualidade, ajudando a assegurar às pessoas do mundo todo acesso à saúde por longo prazo”. Em sintonia com essa definição estratégica está o Quality Transformation Program (QTP). Lançado ano passado, o programa estabelece 12 pontos a serem trabalhados em 2011, que vão desde a implantação de sistemas tecnológicos de primeira linha para auxiliar nos processos de garantia da qualidade até a investigação minuciosa de recalls para a identificação de problemas e implantação de soluções. Essa iniciativa está sendo gerenciada pela equipe de qualidade em todo o mundo e deve ser apoiada por todos os colaboradores, independentemente da função. “Todos nós podemos contribuir com a qualidade, e nossos clientes contam com isso”, finaliza o presidente. Sandoz anuncia estudo clínico de fase II para o anticorpo monoclonal rituximabe A Sandoz anunciou no início do ano a realização do estudo clínico de fase II em pacientes para o biossimilar rituximabe, um anticorpo monoclonal indicado em diversas enfermidades, até mesmo em linfoma não Hodgkins e artrite reumatoide (AR). O estudo, que inclui indivíduos com AR, procura demonstrar a bioequivalência em relação ao produto de referência (Rituxan®/Mabthera®1) e reunirá dados farmacocinéticos, farmacodinâmicos, de eficácia e de segurança. Nos últimos anos, a Sandoz desenvolveu um processo em larga escala para a produção do biossimilar rituximabe em sua própria fábrica em Schaftenau, na Áustria. Para garantir a biossimilaridade com o produto de referência, foi conduzida uma análise funcional e físico-química com o biossimilar utilizando-se modernas técnicas bioanalíticas, seguidas de outros estudos. Os dados sugerem que o rituximabe da Sandoz é altamente comparável a seu produto de referência, justificando e permitindo o início de estudos clínicos de fase II em pacientes. Ameet Mallik, chefe global dos biofarmacêuticos Sandoz, comentou que os lançamentos da empresa são particularmente focados nos anticorpos monoclonais, segmento que, além de ser o maior, é o que mais cresce no mercado de biológicos. Fonte: Chris Lewis; Sandoz Communications: Sandoz announces phase II clinical trial for biosimilar version of leading monoclonal antibody rituximab. 1 As marcas registradas que aparecem neste texto são de propriedade da Roche, companhia farmacêutica que as detém. 11 Integrando benefícios 12 O tratamento é aliado a conceitos mais amplos de promoção da saúde, e a prevenção de doenças é soberana nessa prática médica A medicina integrativa é uma abordagem médica que acolhe de forma integral e completa o processo de cura do paciente, acolhendo-o como um todo: mente, corpo e espírito. Ela enfatiza a relação terapêutica entre a medicina convencional e as práticas da medicina complementar, lançando mão dos recursos apropriados de cada uma. Nesse contexto, médico e paciente são parceiros no processo de cura e compartilham as tomadas de decisões. Essa abordagem não rejeita as modalidades médicas convencionais nem aceita as terapias complementares como únicas opções. O tratamento é aliado a conceitos mais amplos de promo- ção da saúde, e a prevenção de doenças é soberana nessa prática médica. Nos últimos anos, os Estados Unidos, país conhecido por sua estabilidade financeira, também foram atingidos pelas oscilações econômicas mundiais e enfrentaram dificuldades internas. O sistema de saúde, responsável por elevados gastos públicos, foi significativamente afetado. É nesse momento que a medicina integrativa ganhou espaço e força, sendo encarada com mais seriedade. Uma das principais razões para isso é o preceito da medicina integrativa em deslocar o foco dos tratamentos para a promoção da saúde, por meio da valorização de cuidados com hábitos e estilos de vida, por custos muito inferiores. De acordo com o Dr. Paulo de Tarso Lima, um dos pioneiros da prática e da difusão da medicina integrativa no Brasil (autor de Medicina Integrativa: a cura pelo equilíbrio. MG Editores1), nos Estados Unidos, 44 das 125 faculdades de medicina já adotam esse modelo, executando-o tanto na prática clínica quanto nas áreas de educação e pesquisa: “em muitas outras faculdades a medicina integrativa está ganhando impulso e tornando-se cada vez mais aceita”, diz. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade. Portanto, curar é restabelecer um estado de bem-estar amplo, independentemente da presença de doença ou não No Brasil, Dr. Tarso de Lima dirige a clínica Anima Medicina Integrativa e coordena o setor de Medicina Integrativa do Centro Integrado de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein (São Paulo). A Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) oferece em sua grade o curso de extensão universitária (lato sensu) Teorias e Técnicas para Cuidados Integrativos, que é ligado à cadeira de Neurologia-Neurocirurgia. Isso indica que os brasileiros estão mostrando-se receptivos às novas abordagens. O médico explica que o sistema de saúde vigente em nosso país não previne o adoecimento, mas reage aos sintomas. “De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade. Portanto, curar é restabelecer um estado de bem-estar amplo, independentemente da presença de doença ou não”, diz ele. Eis que surge uma nova abordagem A medicina integrativa deu os primeiros passos na forma de um movimento em universidades americanas de 13 O Ministério da Saúde publicou em 2006 a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde (SUS), que determina que as unidades de saúde básicas do país passassem a oferecer de maneira sistemática à população sessões de acupuntura, consultas com homeopatas e fitoterapeutas 14 vencional. Como forma de sanar essa sua insatisfação, ele fundou o centro de medicina integrativa da Universidade do Arizona, realizando pesquisas e treinando médicos. Ele não apenas contribuiu expressivamente para a propagação desse conceito internacionalmente como foi eleito pela revista Time uma das personalidades mais influentes do mundo. Na verdade, a medicina integrativa representa uma mudança de paradigmas. Ela propõe um deslocamento gigantesco que modifica toda a prática médica, numa reação em cascata na qual o paciente é considerado o agente responsável por sua melhora. A consulta inclui atenção diferenciada, a relação médico-paciente se fortalece, e a escolha das terapias se expande. Por exemplo, ao se recuperar de uma pneumonia após ingerir antibióticos, qualquer pessoa pensaria que foram os remédios que levaram à cura. Já a medicina integrativa entenderia que o sistema imune do paciente, auxiliado pela redução de bactérias promovida pelo medicamento foi o que permitiu pesquisa no início da década de 1970. a cura. Conta o médico: “Na minha Seu apelo consistiu em seu próprio experiência como cirurgião, vi muitos conceito: sai a doença como princi- pacientes que não cicatrizavam após a pal foco de atenção e entra o paciente cirurgia. Com o contato, eu descobria (considerando-se mente, corpo e espí- que eram pessoas deprimidas, que rito), no centro do cuidado. enfrentavam problemas familiares Em 1994, o médico Andrew Weil ou algum outro distúrbio emocional. (graduado em Harvard) sentia-se in- Uma vez resolvidos esses conflitos, conformado com o atendimento con- elas cicatrizavam”. Práticas complementares à oncologia Ao ouvir o termo medicina “integrativa” pela primeira vez, muitos o remetem a “alternativa”. “Um erro”, alerta Dr. Tarso de Lima. “Definimos como alternativa a medicina que preconiza terapias que excluem o tratamento convencional. A medicina complementar, por sua vez, usa terapias e orientações médicas que, como o próprio nome enfatiza, são complementares ao tratamento convencional”. Pesquisas indicam que boa parte dos pacientes oncológicos no Brasil utiliza essas abordagens complementares ao protocolo convencional, como a acupuntura, que auxilia no alívio das náuseas provocadas pela quimioterapia. O grande problema é que a maioria dos pacientes não relata aos médicos sobre eventuais tratamentos não convencionais que possam estar realizando paralelamente à quimioterapia. Em uma revisão elaborada por Leal et al.2, eles observaram que em uma série consecutiva de cem pacientes adultos portadores de neoplasias malignas atendidos no Hospital Mario Kroeff, na cidade do Rio de Janeiro, durante o ano de 2008, 65% dos casos revelaram fazer uso de terapias complementares concomitantemente ao tratamento convencional sem o conhecimento da equipe médica. Ervas medicinais (40%) e suplementos vitamínicos (17%) foram os recursos mais utilizados por essa população. Importante lembrar que o consumo de substâncias não conhecidas pela equipe médica, ainda que “fitoterápicas”, pode gerar grandes transtornos. Pacientes com câncer geralmente buscam inúmeras alternativas como forma de alívio e até cura. Sempre tem um parente, amigo ou vizinho indicando um “remédio natural” que promete resultados espantosos. É verdade, eles podem surpreender, mas negativamente. Quando o indivíduo com câncer consome chás, extratos ou outros derivados, ao mesmo tempo em que faz um tratamento convencional, corre o risco de uma das substâncias da planta reagir com o medicamento, provocando efeitos inesperados, às vezes, perigosos. O médico Dráuzio Varella entrevistou a farmacêutica Rita Vieira em um programa de televisão3 sobre a relação entre remédios contra o câncer e plantas. Ela disse que, após uma minuciosa pesquisa, concluiu que mais da metade dos pacientes que faziam os dois tratamentos estavam sujeitos a interações medicamentosas. Um dos exemplos citados por ela é a babosa, uma planta que causa diarreia. Nessa mesma matéria, Dr. Riad Younes, que foi diretor do Hospital do Câncer de São Paulo, comenta: “Um dos sintomas que faz a gente parar de dar quimioterapia é diarreia intensa. Então, a pessoa toma babosa, não fala para o oncologista que está tomando. Aí, suspende-se a quimioterapia”. Uma solução para esse tipo de situação seria a prática dos cuidados integrativos dentro das próprias instituições de tratamento ao câncer. Dr. Tarso de Lima conta que, no hospital Albert Einstein, os pacientes são avaliados pelo grupo de medicina integrativa. Em seguida, os médicos discutem a indicação e a utilidade de inúmeras práticas terapêuticas e intervenções em seu processo de recuperação. “Também vale a pena destacar que o Instituto do Cérebro, nesse mesmo hospital, desenvolve projetos para a avaliação das práticas contemplativas (como a meditação) no processo cognitivo e emocional, utilizando a ressonância magnética funcional”, comenta o médico. Outro trabalho importante no Brasil e ressaltado por ele está sendo conduzido no Laboratório de Práticas Alternativas Complementares e Integrativas em Saúde (Lapacis), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os pesquisadores investigam o uso das práticas complementares em pacientes com diabetes e câncer e o ensino dessas modalidades nas escolas médicas, numa abordagem que une a compreensão das ciências sociais à prática médica. O Ministério da Saúde publicou em 2006 a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde (SUS), que determina que as unidades de saúde básicas do país passassem a oferecer de maneira sistemática à população sessões de acupuntura, consultas com homeopatas e fitoterapeutas. “Essa medida teve como foco estimular os cuidados preventivos com saúde e ajudar a promover maior bem-estar em pacientes de doenças crônicas”, justifica Dr. Paulo de Tarso. Essa medida injeta ânimo e perspectivas para a saúde nacional. O médico acredita que a medicina integrativa será realmente incorporada à prática médica, levando sua proposta para os consultórios e hospitais e sendo bem-sucedida na mudança da forma como a medicina é exercida. “Por esse caminho, todos sairiam ganhando e estaría mos dando os primeiros passos para uma mudança maior e efetiva no sistema de cuidados médicos”, finaliza. Referências 1. Lima T. Medicina integrativa: a cura pelo equilíbrio. São Paulo: MG editores, 2009. 2. Leal F, Schwartsmann G, Lucas H. Medicina complementar e alternativa: uma prática comum entre os pacientes com câncer. Rev Assoc Med Bras. 2008;54(6). 3. Drauzio Varella desvenda se plantas podem curar o câncer. Disponível em: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/ FANT/0,,MUL1617411-15607-404,00. html. Acessado em: 24/2/2011. 15 União solidária A 16 Médicos e pacientes se uniram em prol de crianças e jovens com câncer sem recursos financeiros para custear o tratamento. O resultado é a TUCCA, associação que há 13 anos auxilia centenas de pessoas Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer (TUCCA) foi criada em 1998, pelo oncologista pediatra Dr. Sidnei Epelman, com o objetivo de oferecer tratamento de excelência a crianças e adolescentes carentes com câncer cerebral que não tinham condições de pagar por um tratamento adequado. Tudo começou quando Dr. Epelman passou a refletir sobre perguntas feitas por pacientes e familiares, em seu consultório particular, sobre o que era feito a respeito de crianças e adoles- centes que não tinham recursos financeiros para buscar tratamento para o câncer. A questão incomodou o médico. Então, ele reuniu essas famílias, amigos, médicos, empresários, profissio- nais liberais e sua esposa, a psicanalista Dra. Claudia Epelman, e iniciaram um movimento e fundaram a TUCCA. O nome TUCCA teve origem na expressão “Tumor Cerebral em Crianças e Adolescentes”, o primeiro tipo de câncer tratado Sala de exames da associação pela associação. Isso porque o câncer para crianças e adolescentes carentes mundo todo, além de ser o tumor só- paciente ou à família. Além do trata- cerebral é, ainda hoje, um desafio no lido mais comum na infância. Em 2001, a TUCCA firmou uma parceria com o Hospital Santa Mar- celina, em Itaquera, onde foi criado o único centro oncológico-pediátrico para crianças e adolescentes na Em 2007 foi inaugurado o Ambu- com câncer, sem custo nenhum ao latório de Oncologia Pediátrica da mento, foi possível desenvolver novas tal Santa Marcelina, a nova sede da estratégias terapêuticas e trabalhos de pesquisas científicas. Na área de pesquisas científicas, a TUCCA mantém uma parceria com o International Network for Cancer TUCCA em parceira com o HospiTUCCA. O ambulatório conta com uma equipe de recreacionistas que acompanham as crianças durante o tratamento, espaços decorados para as faixas etárias atendidas, lan house, zona leste da cidade de São Paulo, Treatment and Research (INCTR), horta e cozinha experimental, além ampliando sua atuação para o tra- como instituição associada, e coloca de toda a estrutura multidisciplinar tamento de pacientes com todos os tipos de câncer infantojuvenis. em prática na periferia de São Pau- lo todas as diretrizes internacionais A escolha da região foi estratégica, da instituição. pois todos os outros centros de refe- Além do trabalho científico, o De- rência em oncologia pediátrica estão partamento de Oncologia Pediátrica ou sul da capital, não atendendo aos ceria com a TUCCA ainda desenvol- localizados nas zonas central, oeste moradores da zona leste, região de maior densidade demográfica, situa- da perto de importantes e populosos municípios da grande São Paulo. Por meio dessa parceira, foi possí- vel otimizar recursos para continuar oferecendo tratamento de excelência do Hospital Santa Marcelina em par- ve a capacitação da equipe de profis- necessária para o tratamento e a re- cuperação dos pacientes. Com isso, a TUCCA reforça seu objetivo de cuidar da criança e de seus familiares de maneira completa, durante e após o tratamento, garantindo assim o direito de alcançar todas as chances de cura possíveis, com qualidade sionais por meio de bolsas de estudo, de vida do paciente e de todos que estágios, cursos ou fóruns de discus- convivem com ele. ra, consegue realizar cada vez mais o já tratou mais de 1.300 pacientes, var a vida de cada vez mais crianças. 80%, índice até 60% acima da média sões. Assim, com toda essa estrutudiagnóstico precoce para ajudar a sal- Em 13 anos de atividade, a TUCCA atingindo taxas de cura próximas a 17 Na TUCCA, os pacientes e seus familiares recebem cuidados de maneira integral 18 brasileira, igualado somente aos da Europa e dos Estados Unidos. Na TUCCA, os pacientes e seus familiares recebem cuidados de maneira integral. Além de contar com uma equipe de dentistas, fonoaudiólogos, nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos, a TUCCA também realiza parcerias com instituições e pessoas físicas, para que as crianças e seus familiares participem de aulas de informática e culinária, por exemplo. Cerca de 30% dos pacientes atendidos na associação vêm de fora do município de São Paulo e precisam de um lugar para ficar. Para resolver esse problema, a TUCCA já encontrou um terreno ao lado do ambulatório, onde será construída a Casa de Apoio TUCCA. Para realizar a compra do espaço, a associação lançou uma campanha para arrecadar fundos. O terreno foi dividido em lotes, cada um no valor de R$ 2.500, e quem colaborar terá o nome gravado em um espaço na casa de apoio, como forma de agradecimento. Diagnóstico e tratamento A TUCCA disponibiliza exames não cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), possibilitando que o diagnóstico seja realizado de forma mais precisa e rápida. Isso acelera o início dos tratamentos adequados e, por consequência, eleva as chances de cura. Exames PET são realizados sempre que necessários e em breve a aquisição do equipamento RetCam para diagnosticar, com precisão, tumores oculares, como o retinoblastoma. Estes são exemplos da complementação oferecida pela associação, este é o objetivo da parceria. O ambulatório do departamento de oncologia pediátrica do Hospital Santa Marcelina em parceria com a TUCCA oferece gratuitamente o que há de mais moderno para o tratamento das diferentes manifestações do câncer na criança e no adolescente. A retirada dos pacientes do ambiente hospitalar e a possibilidade de oferecer um ambiente amigável e adequado proporcionam uma assistência cuidadosa e uma melhor adesão e resposta ao tratamento. Todos os medicamentos que não são fornecidos pelo SUS são providenciados pela associação. Segundo Dr. Epelman, alguns medicamentos usados no tratamento do câncer podem custar 7 mil reais e duram menos de um mês. “Já chegamos a fornecer 45 mil reais em medicamentos para uma única criança, em um período inferior a 30 dias”. Em uma sala com brinquedos, recreacionistas e paredes ilustradas, crianças e adolescentes recebem o tratamento quimioterápico separadamente de pacientes adultos e fora do ambiente hospitalar. Anualmente são realizadas mais de mil sessões de quimioterapia. Para pacientes com necessidade de enucleação (retirada do olho) ou amputação, a TUCCA oferece próteses de alta qualidade, sem fila de espera. Além do tratamento médico (e após o término), a TUCCA continua a acompanhar o paciente e sua família no retorno às atividades sociais e escolares. Nesse sentido, a associação proporciona próteses de alta qualidade, sem custos, criadas para cada paciente, de forma a minimizar as dificuldades de locomoção e de discriminação. Informações: www.tucca.org.br Fonte: Assessoria de comunicação TUCCA Pesquisas em oncologia Náusea e vômito induzidos pela quimioterapia: estudos antieméticos que impactam a prática clínica J Oncol Pharm Pract.2010;16(4):233-44. Um estudo publicado recentemente no periódico Journal of Oncology Practice [2010;16(4):233-244] revisou evidências científicas relacionadas à serotonina, à substância P, e o impacto clínico desses dois neurotransmissores na náusea e nos vômitos provocados pela quimioterapia. Os investigadores pesquisaram artigos no PubMed (publicados entre janeiro de 1968 a dezembro de 2008) restritos à língua inglesa. As palavras-chave utilizadas foram antiemético; quimioterapia oncológica; cisplatina; serotonina; substância P; neuroquinina-1 (NK1); 5-hidroxitriptamina (5-HT3). Os abstracts oriundos dos congressos da Sociedade Americana de Oncologia Clínica e da Associação Multinacional de Cuidado em Câncer (Multinational Association of Supportive Care in Cancer), durante o período de maio de 2000 a junho de 2008, também foram revisados. Dois importantes desfechos surgiram de estudos clínicos bem conduzidos com antieméticos: primeiro, evidências de que a serotonina e a substância P são os principais mediadores dos sintomas agudos e tardios; segundo, a melhora, embora não completamente, do controle de náuseas e vômitos decorrentes da quimioterapia. Os antagonistas dos receptores de serotonina tipo 3 (5HT3) e da neuroquinina-1 (NK1) são os agentes mais eficazes disponíveis atualmente para o controle da náusea e do vômito desencadeados pela quimioterapia. Na maioria dos casos, esses agentes são utilizados em associação a glucocorticoides. O uso desses três tipos de agentes está incorporado nas diretrizes atuais de prática clínica. Conhecimentos futuros sobre a base biológica e bioquímica da náusea e do vômito podem melhorar o tratamento e o controle desses efeitos adversos que são tão debilitantes ao paciente. 19 Promovendo conhecimentos em oncologia Cumprindo um de seus objetivos, que é a atualização continuada, a Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia (Sobrafo) promove, em 2011, seminários bimestrais. O primeiro do ano aconteceu em março último na capital paraense Belém. Um dos temas incluídos na programação foi a relevância da atenção farmacêutica em oncologia. São eventos curtos, com um dia de duração, mas que compilam conceitos importantes discutidos por profissionais gabaritados. O próximo terá sede em Brasília, em maio, seguido por Natal (RN, em julho), Florianópolis (SC, em setembro) e São Paulo (SP, em novembro). Para se inscrever ou obter mais informações, acesse: www. sobrafo.org.br/seminarios/?p=0. Erro de dispensação do medicamento relacionado à prescrição eletrônica J Oncol Pharm Pract. 2010;16(4):273-6. Uma das principais razões da implementação da prescrição médica eletrônica foi reduzir o erro na dispensação dos medicamentos. Entretanto, o risco ainda não foi 100% reduzido e novos tipos de erro foram detectados. O caso a seguir descreve um desses erros, envolvendo uma formulação com vincristina. A droga antineoplásica foi administrada a um paciente por via subcutânea em vez de injeção intravenosa em bolus. Como consequência a esse erro, o paciente desenvolveu um eritema cutâneo. Esse incidente resultou de um erro na programação da rota de administração do protocolo operado por um farmacêutico e por um médico. O farmacêutico, responsável pela validação da prescrição médica computadorizada e pela dispensação do medicamento, não detectou o erro. Esse caso chama a atenção para a necessidade de protocolos terapêuticos melhores. Registrados em um banco de dados, eles devem ser validados tanto pelo farmacêutico quanto pelo médico para assegurar a prescrição eletrônica, o manuseio da droga, a dispensação e administração dos fármacos antineoplásicos. Mesmo que a análise farmacêutica da prescrição tenha sido facilitada pela tecnologia, os autores encorajam o treinamento das enfermeiras e a avaliação de seus conhecimentos assim como dos farmacêuticos com o objetivo de aprender a identificar novos tipos de erro e a verificar periodicamente os protocolos. Divulgadas as atualizações nas diretrizes sobre o uso de agentes modificadores dos ossos em pacientes com câncer de mama metastático J Clin Oncol. Publicado online em 22 de fevereiro de 2011. doi: 10.1200/JCO.2010.32.5209. Oncology Times. Disponível em: http://journals.lww.com/oncology-times/blog/onlinefirst/pages/post.aspx?PostID=136. Acessado em 24/2/2011. 20 A Sociedade Americana de Oncologia Clínica (American Society of Clinical Oncology; ASCO) atualizou suas diretrizes sobre o uso de agentes modificadores dos ossos (principalmente os inibidores de osteoclasto) para prevenir e tratar complicações esqueléticas decorrentes da metástase óssea em pacientes com câncer de mama metastático. Também foram incluídas as recomendações sobre o uso do novo fármaco denosumabe, assim como infor- mações sobre osteonecrose mandibular, que pode ocorrer em situações relativamente raras em associação aos agentes modificadores dos ossos. As diretrizes atualizadas, publicadas on-line no fim de fevereiro no Jornal de Oncologia Clínica, também oferecem novas recomendações sobre o monitoramento de pacientes tratados com agentes modificadores dos ossos. Para elaborar as novas recomendações, o painel da ASCO, que estuda o uso de bifosfonatos no câncer de mama, conduziu uma revisão sistemática da literatura médica. Eles usaram os bancos de dados MEDLINE e a biblioteca Cochrane para identificar estudos relevantes publicados entre janeiro de 2003 e novembro de 2010. Os desfechos primários de interesse do grupo foram os eventos relacionados ao esqueleto e o momento em que ocorreram. Os desfechos secundários incluíram efeitos adversos e dor. As diretrizes recomendam que pacientes com câncer de mama que tenham indícios de metástase óssea sejam tratados com agentes aprovados pela US Food and Drug Administration (FDA). São eles: denosumabe, pamidronato ou ácido zoledrônico. Embora esses três medicamentos sejam inibidores de osteoclasto, o pamidronato e o ácido zoledrônico são bifosfonatos e o denosumabe é um anticorpo monoclonal que tem por alvo o receptor ativador do fator nuclear kappa-B (RANKL). O denosumabe deve ser administrado por via subcutânea, 120 mg, a cada quatro semanas; o pamidronato é intravenoso, 90 mg em um período máximo de duas horas de infusão. Uma opção a ele é o ácido zoledrônico, 4 mg, por cerca de 15 minutos, três a quatro vezes na semana. Não há evidências suficientes para demonstrar melhor eficácia de um dos agentes em relação aos outros. Nos pacientes com creatinina sérica e clearence de creatinina de mais de 60 mg/min, não é necessário fazer alterações no tempo de infusão, na dosagem ou no intervalo da administração do bifosfonato. A creatinina sérica deveria ser monitorada antes de cada dose. Todos os pacientes deveriam passar por avaliação odontológica e orientação preventiva antes do início do tratamento com agentes modificadores dos ossos. As diretrizes também recomendam que não seja iniciado o uso de agentes modificadores dos ossos na ausência de metástase óssea, a não ser que se trate de um estudo clínico. Eles alertam que um resultado anormal isolado do escaneamento ósseo, sem a confirmação radiográfica ou por ressonância magnética, não é suficiente para justificar o tratamento com esses fármacos. Catherine Van Poznak, vice-diretora do painel sobre bifosfonatos no câncer de mama, diz que essa atualização nas recomendações levou em conta os progressos recentes no controle do potencial dano ósseo no câncer de mama metastático. “Nós estabelecemos que um número crescente de inibidores de osteoclasto pode ter um efeito positivo e reduzir o risco de eventos relacionados aos ossos em mulheres com metástase óssea. Como muitos fatores devem ser considerados na escolha da terapêutica (inclusive os fatores médicos e econômicos), é importante que existam diversas opções”. Embora muitas das recomendações (revisadas pela última vez em 2003) continuem inalteradas, as diretrizes sugerem que alguns itens sejam estudados. Alguns deles são: • Duração do tratamento com agentes modificadores dos ossos e o período de intervalo entre as doses. • Desenvolvimento de um índice de risco para eventos relacionados ao esqueleto e melhores opções para estratificação de risco do paciente para esses mesmos eventos ou risco de toxicidade por agentes modificadores dos ossos. O risco individual pode ajudar a definir o momento certo de se instituir o tratamento com agentes modificadores dos ossos. • Realização de pesquisas que avaliem se as pacientes com câncer de mama estádio IV sem evidência de metástase óssea se beneficiariam dos agentes modificadores dos ossos. • Papel dos biomarcadores na escolha do tratamento e no monitoramento da eficácia do fármaco. • Compreensão sobre a dose ótima da suplementação com cálcio e vitamina D nos pacientes tratados com agentes modificadores dos ossos. 21