BIODIESEL DE GIRASSOL EM MICROTRATORES MONOCILÍNDRICOS: EMISSÕES, CONSUMO ESPECÍFICO E CONSEQUÊNCIAS DO SEU USO PARA O MOTOR Anderson Favero Porte Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental Mestrado Anderson Favero Porte BIODIESEL DE GIRASSOL EM MICROTRATORES MONOCILÍNDRICOS: EMISSÕES, CONSUMO ESPECÍFICO E CONSEQUÊNCIAS DO SEU USO PARA O MOTOR Santa Cruz do Sul, janeiro de 2008. Anderson Favero Porte BIODIESEL DE GIRASSOL EM MICROTRATORES MONOCILÍNDRICOS: EMISSÕES, CONSUMO ESPECÍFICO E CONSEQUÊNCIAS DO SEU USO PARA O MOTOR Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Tecnologia Ambiental da Universidade de Santa Cruz do Sul como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Tecnologia Ambiental. Orientadora: Profa. Dra Rosana de Cássia Souza Schneider Santa Cruz do Sul, janeiro de 2008. Anderson Favero Porte BIODIESEL DE GIRASSOL EM MICROTRATORES MONOCILÍNDRICOS: EMISSÕES, CONSUMO ESPECÍFICO E CONSEQUÊNCIAS DO SEU USO PARA O MOTOR Esta dissertação foi submetida ao Programa de Pós Graduação em Tecnologia Ambiental da Universidade de Santa Cruz do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Tecnologia Ambiental. Dra Rosana de Cassia Souza Schneider Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC Orientadora Dr. Carlos Antônio da Costa Tillmann Universidade Federal de Pelotas - UFPEL Dr. Ademar Michels Universidade Federal de Santa Maria - UFSM Dr. Jorge André Ribas Moraes Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC AGRADECIMENTOS À Deus, pelas oportunidades ao longo da minha existência e por estar ao meu lado em todos os momentos. À minha companheira Graciele, por existir; por estar ao meu lado, por suportar minhas crises de ansiedade; e por acreditar em mim... sempre! Aos meus pais e minha irmã, por estarem sempre comigo, mesmo há distância. Aos meus sogros, João e Gelsa, por me incentivaram a buscar esta meta. Aos meus amigos: Olga, David, Dayana e Lívia, pelas palavras de incentivo e por fazerem parte desta etapa. À Universidade de Santa Cruz do Sul, por ter oportunizado a realização do mestrado. À Professora Rosana de Cassia Souza Schneider, minha orientadora, por ter aceitado o desafio de me orientar e pelas oportunidades geradas ao longo do curso. Ao Professor Carlos Antônio da Costa Tillmann, por ter acreditado e por estar comigo ao longo do curso, sempre, mesmo há distância. A todos os professores e funcionários do Programa de Pós Graduação em Tecnologia Ambiental – Mestrado, por terem participado desta caminhada. À Vanessa e ao Vagner, meus colegas de mestrado, pelos momentos vividos ao longo destes dois anos. Ao Departamento de Engenharia, Arquitetura e Ciências Agrárias, em especial, ao Professor Helio Nonnenmacher, pela oportunidade de realização de estágio-docência durante o mestrado. 6 À Tramontini Implementos Agrícolas LTDA, por toda participação nos testes à campo, sem os quais este trabalho não teria ocorrido. Em especial, aos Engenheiros Luiz Fernando e Pedro, pela colaboração constante ao longo dos testes. À Schultz Técnica Comercial, em especial, ao Gilberto e sua equipe, pelo suporte nas avaliações dos motores. Ao Instituto de Química da UFRGS, em especial, ao professor Renato Cataluña Veses e à Eliana Weber de Menezes, por terem colaborado com os testes de emissões atmosféricas. Ao Charles Schimuneck, pela colaboração com as análises do óleo lubrificante. Aos agricultores, senhores Seloí, João e Vilmar, que gentilmente cederam os seus microtratores para serem avaliados. Aos professores Ademar Michels e Jorge André Ribas Moraes, membros da banca examinadora, pelas importantes contribuições feitas ao trabalho. “Os desafios não são difíceis por que tentamos; é por não tentarmos que são difíceis.” (Sêneca) DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais, pelas escolhas que fizeram em suas vidas em prol da minha, e por acreditarem no meu sucesso. Especialmente, à minha companheira Graciele, que esteve ao meu lado ao longo deste período, suportando minhas inquietações e me dando o estímulo necessário para que eu pudesse superar as adversidades. À todos que, de alguma forma, colaboraram para a realização deste sonho. “Fui à floresta por que queria viver profundamente; fui à floresta por que queria sugar a essência da vida, eliminar tudo que não era vida e não, ao morrer, descobrir que não vivi.” (Thoreau) RESUMO A utilização de biocombustíveis para substituição dos derivados de petróleo em motores endotérmicos é uma alternativa para buscar a redução dos efeitos nocivos que o uso destes combustíveis causa ao meio ambiente. Todavia, para que a substituição, parcial ou total, por biocombustíveis seja técnica e economicamente viável, inúmeras avaliações têm sido conduzidas a fim de se verificar o real benefício que esta mudança é capaz de promover. Na região do Vale do Rio Pardo, onde está situado o município de Santa Cruz do Sul, a agricultura baseia-se fundamentalmente no cultivo de fumo, que utiliza, como principal fonte de potência, microtratores equipados com motores monocilíndricos ciclo diesel. Desta forma, buscou-se avaliar as emissões atmosféricas produzidas por este tipo de motor, utilizando diferentes misturas de diesel e biodiesel (diesel, B2, B10, B20, B50 e B100). Paralelamente, também foi avaliado o consumo específico de combustível para cada mistura testada. Por fim, avaliaram-se, a campo, três microtratores que utilizaram diferentes misturas de combustível (B2, B20 e B100). Os resultados mostraram que um aumento do percentual de biodiesel na mistura reduz significativamente as emissões de material particulado e aumenta consideravelmente as emissões de NO. Não foi observada nenhuma correlação entre a quantidade de biodiesel usada na mistura e as emissões de CO e CO2. Em termos de consumo específico de combustível, foi verificado uma elevação constante do consumo para um aumento no percentual de biodiesel utilizado. Por fim, as avaliações a campo mostraram que misturas com até 20% de biodiesel não comprometem o desempenho e a manutenção dos motores. Porém, verificou-se que o biodiesel puro danifica a camisa do cilindro e promove, por conseqüência, a contaminação do óleo do carter. Palavras – chave: Biodiesel, microtratores, emissões atmosféricas. ABSTRACT The use of biofuels for substituting petroleum sub products in endothermic engines is an alternative to diminish the harmful effects in the environment caused by the usage of this fuel. However, for an economical and technical viable partial or total substitution, innumerable evaluations have been conducted in order to verify the real benefit that this change is capable to promote. On the region of Vale do Rio Pardo, where is located the city of Santa Cruz do Sul, agriculture is based basically on tobacco culture, that uses, as main source of power, micro tractors equipped with one-cylinder diesel cycle engines. With that, the scope was to evaluate the atmospheric emissions produced by this type of engine, using different mixtures of diesel and biodiesel (diesel, B2, B10, B20, B50 and B100). Parallel to that, it was also evaluated the specific fuel consumption for each tested mixture. Finally, the field research had analyzed three micro tractors which had used different fuel mixtures (B2, B20 and B100). The results had shown that an increase on the percentage of biodiesel in the mixture reduces the emissions of particulate matter significantly and increases the emissions of NO considerably. No correlation was observed between the used amount of biodiesel in the mixture and the emissions of CO and CO2. In terms of specific fuel consumption, it was verified a constant increase in the consumption when the percentage of biodiesel grown. Finally, the field evaluations had shown that mixtures up to 20% of biodiesel do not compromise the performance and the maintainability of the engines. However, it was verified that pure biodiesel damages the wall of the cylinder and promotes, by consequence, the contamination of the carter oil. Key words: Biodiesel, micro tractors and atmospheric emissions. 11 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Representação esquemática do processo de obtenção de biodiesel. “Rota Metílica” ................................................................................................ 27 Figura 2 - Reação de transesterificação de óleos vegetais..................................... 28 Figura 3 - Oleaginosas cultivadas em cada região do país. Fonte: ABIOVE .......... 35 Figura 4 - Microtrator Tramontini acoplado à carreta .............................................. 50 Figura 5 - Emissões de NO em função da mistura diesel / biodiesel utilizada ........ 56 Figura 6 - Emissões de CO2 em função da mistura diesel / biodiesel utilizada....... 58 Figura 7 - Emissões de material particulado em função da mistura diesel/biodiesel utilizada .......................................................................................................... 59 Figura 8 - Consumo específico de combustível em função da mistura diesel biodiesel utilizada. .......................................................................................... 60 Figura 9 - Teste de pulverização de um bico injetor (B100).................................... 63 Figura 10 - A)– Camisa com brunimento; B) – Camisa sem brunimento............... 65 Figura 11 - Espectro no Infravermelho do óleo lubrificante ................................... 66 Figura 12 - A) filtro de combustível (B100) B) Água copo do filtro (B20)............... 68 Figura 13 - Desgaste (frisos) na parte superior do elemento da bomba de combustível .................................................................................................... 69 Figura 14 - Bronzinas dos microtratores após o término dos testes...................... 69 Figura 15 - Bicos injetores após as 200h de teste................................................. 70 Figura 16 - Comparação dos bicos injetores ......................................................... 70 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Propriedades físico químicas de biodiesel e diesel............................. 30 Tabela 2 - Propriedades físico químicas do biodiesel metílico e biodiesel etílico. 31 Tabela 3 - Emissão de poluentes em função do ciclo motor. ............................... 32 Tabela 4 - Caracterização do biodiesel utilizado na pesquisa.............................. 55 Tabela 5 - Consumo específico de combustível (g/kWh) em termos percentuais 61 Tabela 6 - Medições feitas nos motores em função da mistura usada ................ 64 Tabela 7 - Deposição de carvão no topo dos cilindros / cabeçote de válvulas .... 71 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 15 Objetivos................................................................................................................... 17 Objetivos Específicos ............................................................................................... 17 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................... 18 1.1 Fontes de energia e impactos ambientais ..................................................... 18 1.2 Óleo diesel..................................................................................................... 19 1.2.1 Características ..............................................................................................19 1.2.2 Impactos ambientais do óleo diesel ..............................................................21 1.2.3 Perspectivas para o futuro ............................................................................22 1.3 Combustíveis renováveis – biodiesel............................................................. 25 1.3.1 Definição.......................................................................................................25 1.3.2 Histórico........................................................................................................25 1.3.3 Processo de obtenção (metílico / etílico) ......................................................26 1.3.4 Características do biodiesel..........................................................................29 1.3.5 Benefícios sociais, econômicos e ambientais ...............................................32 1.3.6 Biodiesel no Brasil ........................................................................................34 1.4 Motores diesel ............................................................................................... 35 1.4.1 Definição e classificação...............................................................................35 1.4.2 Componentes ...............................................................................................36 1.4.3 Princípio de funcionamento – ciclo diesel .....................................................38 1.4.4 Combustão no motor diesel ..........................................................................39 1.4.5 Sistemas de combustão................................................................................40 1.4.5.1 Descrição do sistema de injeção ...................................................................................... 41 1.4.5.2 Componentes do sistema mecânico de injeção ............................................................... 42 1.4.6 Sistema de lubrificação.................................................................................42 1.4.6.1 Características e componentes do sistema...................................................................... 42 1.4.6.2 Óleo lubrificante ................................................................................................................ 43 1.4.7 2 Sistema de arrefecimento .............................................................................43 MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................. 45 2.1 Caracterização do biodiesel de girassol ........................................................ 46 2.2 Avaliação das emissões atmosféricas do biodiesel de girassol..................... 48 2.3 14 Consumo específico de combustível ............................................................. 49 2.4 Avaliação do uso de misturas diesel/biodiesel em campo ............................. 49 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................... 54 3.1 Caracterização do biodiesel........................................................................... 54 3.2 Emissões atmosféricas .................................................................................. 56 3.3 Consumo específico de combustível ............................................................. 60 3.4 Ensaios a campo com microtratores.............................................................. 62 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 73 TRABALHOS FUTUROS.......................................................................................... 74 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 75 ANEXOS................................................................................................................... 80 ANEXO A – Planilha de acompanhamento 1 ........................................................... 81 ANEXO B – Planilha de acompanhamento 2 ........................................................... 82 ANEXO C – caracterização das condições iniciais dos microtratores ...................... 83 Dissertação de Mestrado – Anderson F. Porte – Mestrado em Tecnologia Ambiental 14 INTRODUÇÃO Durante os últimos anos, o governo brasileiro vem incentivando o uso de fontes alternativas de energia em substituição aos combustíveis fósseis, largamente usados para movimentar a frota veicular em todo o planeta nos dias de hoje. Algumas razões para este incentivo são econômicas, como a perspectiva de escassez de petróleo nas próximas décadas, que tornará este produto mais caro, enquanto outras são ambientais, como o aquecimento global, acelerado pela poluição atmosférica gerada nas mais diferentes fontes (veículos automotores, indústria e queimadas). Diante deste cenário, o Brasil é favorecido por que possui uma imensa área cultivável, com capacidade de produção das mais diferentes culturas de oleaginosas, como o pinhão manso, a mamona, a soja, o girassol, o dendê, entre outros, todas com potencial para produção de energia. Além disso, muitas das oleaginosas utilizadas na produção de biodiesel podem ser produzidas em pequenas propriedades rurais, como a mamona e o girassol, o que passa a ser uma alternativa de renda para a agricultura familiar ou em localidades isoladas. No Rio Grande do Sul, estão sendo desenvolvidos estudos sobre a cultura do girassol para produção de óleo. Na região do Vale do Rio Pardo, onde a economia é baseada no cultivo e no beneficiamento de fumo, o cultivo de girassol para produção de biodiesel é uma alternativa de renda a mais para os fumicultores, que podem equilibrar a sua renda utilizando a terra disponível para o cultivo desta oleaginosa. Além disso, diante do recente advento da Convenção–Quadro, referente à cultura de fumo, a produção de biodiesel é uma alternativa a ser considerada para a diversificação econômica de municípios da região. 16 Em termos de poluição gerada nos veículos automotores, a principal alternativa que pode ser adotada é a substituição total ou parcial de combustíveis de origem fóssil (diesel e gasolina) por combustíveis de origem vegetal (biodiesel e álcool). Já na década de 80, motivado pela alta nos preços do petróleo na época, iniciou-se um processo de substituição de gasolina por álcool de cana de açúcar, através do Proálcool. Atualmente, o fator econômico aliado às questões ambientais cada vez mais notadas, faz com que a bioenergia para movimentação da frota brasileira e mundial volte a ser o foco de estudos em todas as regiões do Brasil. Todavia, torna-se necessário uma avaliação da viabilidade do uso destes biocombustíveis, puros ou misturados com combustíveis fósseis, em termos de operacionalidade, manutenção e rendimento dos motores, além dos parâmetros ambientais, como emissões atmosféricas e uso dos recursos naturais disponíveis para produção dos mesmos. Dissertação de Mestrado – Anderson F. Porte – Mestrado em Tecnologia Ambiental 17 Objetivos A presente pesquisa visou estudar, sob diferentes aspectos, a utilização de biodiesel de girassol em microtratores agrícolas, monocilíndricos, com sistema direto de injeção de combustível. Objetivos Específicos Avaliar o desempenho a campo de diferentes formulações diesel / biodiesel, em termos de operacionalidade e manutenção dos equipamentos, bem como avaliar as consequências do uso destas formulações para os motores. Avaliar as emissões atmosféricas resultantes da queima de diferentes formulações em motores monocilíndricos. Avaliar o consumo específico de combustível para diferentes formulações em motores monocilíndricos. Dissertação de Mestrado – Anderson F. Porte – Mestrado em Tecnologia Ambiental 1 1.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Fontes de energia e impactos ambientais Em todo o mundo, observa-se o aumento crescente no consumo de energia para os mais diversos fins – alimentação, aquecimento, transportes. Contudo, nas últimas décadas, o crescimento populacional e o estilo de vida das pessoas acelerou o desgaste de diversas fontes de energia, pois a energia é um prérequisito essencial para o desenvolvimento sócio-econômico de uma região (ALMEIDA & CLUA, 2005). Isso acabou acarretando em um desequilíbrio no reabastecimento destas fontes de energia, em especial, do petróleo, indicando, segundo Subramanian et al (2005), que tais reservas serão totalmente consumidas durante os próximos 40 anos. Conforme Almeida & Clua (2005), no período de 1980 à 2001, o consumo de energia na Améria Latina cresceu 82%, algo em torno de 2,9% ao ano. Neste período, a região se tornou menos dependente de combustíveis fósseis, principalmente devido ao declíneo do consumo de petróleo e ao uso mais intenso de hidroeletricidade. Segundo Camargo et al (2002), no Brasil, o sistema energético origina sérios problemas ambientais em função da grande importância dos combustíveis fósseis. Portanto, é essencial dar mais ênfase à eficiência energética e ao uso de energias renováveis, o que não só é possível em termos econômicos, como também é desejável do ponto de vista ambiental. Neste contexto, o Brasil encontra-se numa situação privilegiada em comparação à grandes potências, uma vez que os combustíveis fósseis representam 58% do consumo de energia no Brasil, enquanto 19 nos países da OECD (Organization for Economic Co-operation and Development) eles representam 81% (CAMARGO et al, 2002). Este cenário favorece o cultivo de oleaginosas para fins energéticos, apoiado pelas questões financeiras, sociais e ambientais, pois diferentes culturas desenvolvidas nas cinco regiões do Brasil podem servir de matéria prima para geração de biocombustíveis. 1.2 Óleo diesel 1.2.1 Características O óleo diesel é um combustível obtido a partir do refino do petróleo. É uma mistura formada por hidrocarbonetos e compostos minoritários que contém enxofre, nitrogênio e oxigênio em baixas concentrações. É um produto inflamável, de alta volatilidade, razoavelmente tóxico e com odor característico. Segundo a Petrobrás (2006), é o derivado propulsor do refino do petróleo, correspondendo à 34% do volume do barril de petróleo no Brasil. Este combustível é a fonte de energia dos motores de ciclo diesel. Porém, uma vez que o óleo diesel é uma mistura de inúmeras substâncias, muitas avarias do motor ocorrem em função da qualidade do diesel utilizado. Desde os primeiros veículos diesel produzidos, sempre houve a preocupação com o combustível usado. Inicialmente, por uma questão meramente financeira, buscando o melhor rendimento do motor, e mais recentemente, buscando minimizar os impactos ambientais causados pelas emissões na queima deste combustível. Atualmente, no Brasil, são utilizados dois tipos de óleo diesel, basicamente diferenciados pelo teor de enxofre presente em sua composição: óleo diesel metropolitano, com teor máximo de enxofre de 0,2%, e óleo diesel rural, com teor máximo de enxofre de 0,3% (SOTREQ, 2006). Esta diferença na composição acarreta em diferentes propriedades do combustível. Segundo Sotreq (2006), as seguintes propriedades do combustível afetam a operação de um motor do ciclo diesel: Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 20 - Peso específico: é a relação entre o peso de um volume fixo do combustível e o peso do mesmo volume de água, tomado como padrão. Combustíveis com elevado peso específico oferecem maior energia para o motor. Esta característica do combustível está relacionada com seu poder de lubrificação e com a formação de depósitos na câmara de combustão. - Viscosidade: é a resistência que um determinado fluído oferece ao fluxo. Está relacionada com o peso específico (maior peso específico, maior viscosidade). Combustíveis mais viscosos apresentam maior capacidade de lubrificação (formam uma película mais espessa) mas, em contra partida, oferecem problemas para uma queima completa devido à dificuldade de atomização no momento da injeção de combustível. Isto pode acarretar em carbonização interna do cilindro, pistão e anéis. Por outro lado, combustíveis pouco viscosos atomizam com maior facilidade mas apresentam menor poder de lubrificação, o que pode acelerar o desgaste no sistema de injeção, pistões e cilindros. - Ponto de névoa: é a temperatura abaixo da qual ocorre o surgimento de ceras e parafinas, presentes no combustível, em forma de névoa. Esta característica é importante, pois esta névoa pode provocar o entupimento do filtro de combustível. - Ponto de fluidez: é a temperatura na qual um fluído deixa de escoar ou começa a solidificar-se. O conhecimento desta informação é importante, pois afeta o funcionamento do motor em baixas temperaturas. - Índice de cetano: está relacionado com a qualidade da ignição, que afeta a partida e aceleração do motor. É um índice calculado a partir da densidade e da temperatura de destilação de 50% do fluído. Além disso, também é importante saber se, no combustível, há presença dos seguintes componentes: - Água: pode causar avarias na bomba injetora de combustível. - Sedimentos: são ferrugens, escamas ou sujeira presentes no combustível que podem promover o desgaste no sistema de injeção ou o entupimento dos bicos e filtros de combustível. - Borra e fibras: diminuem a vida útil do filtro de combustível ou exigem limpezas constantes, em função do seu entupimento. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 21 - Enxofre: diminui a vida útil do motor. Durante a queima do combustível, o vapor d’água gerado reage com os óxidos de enxofre, gerando ácido sulfúrico, que ataca as superfícies metálicas dos cilindros, pistões e anéis. Além disso, em termos de emissões, o enxofre pode combinar-se com o oxigênio no momento da queima, formando óxidos de enxofre, que além de favorecerem a formação de particulados, também colaboram para a formação de chuva ácida, quando lançados na atmosfera. - Vanádio: acelera a corrosão das superfícies metálicas mais quentes, como válvulas de exaustão. - Sódio e cloreto de sódio: em contato com o vanádio, o sódio forma compostos que se fundem em temperaturas normais de funcionamento do motor, acelerando a corrosão dos cilindros, pistões, válvulas e anéis. - Gomas e resinas: provenientes da oxidação do combustível durante seu armazenamento ou processamento, as gomas ou resinas se depositam ao longo do sistema de injeção, afetando as tolerâncias dimensionais das partes móveis deste conjunto e provocando o entupimento do filtro de combustível. - Finos catalíticos (alumínio e silício): provenientes do processo de obtenção do óleo diesel, estas substâncias causam desgaste abrasivo acelerado nas partes internas no motor, como: bombas, injetores, anéis, pistões e cilindros. 1.2.2 Impactos ambientais do óleo diesel Por ser obtido a partir do petróleo, o óleo diesel apresenta já no seu processo de obtenção um impacto ambiental negativo referente ao uso de recursos naturais, neste caso, não renováveis. Além disso, durante a sua utilização nos motores endotérmicos para as mais diversas finalidades, a queima do óleo diesel apresenta outro impacto ambiental negativo promovido pelas emissões atmosféricas liberadas por estes motores. Automóveis, ônibus, caminhões emitem diariamente grandes quantidades de CO, NOx, HC e outros poluentes na atmosfera. Ao serem liberados, estes poluentes se dispersam na atmosfera, podendo ocorrer em maiores ou menores Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 22 concentrações em função das condições meteorológicas, da sua origem (combustível) e dos padrões de emissão (GOKHALE & KHARE, 2006). Alguns países já possuem algumas estratégias para controlar e/ou reduzir estas emissões. É o caso, por exemplo, da China, onde algumas medidas foram introduzidas para regular a construção de estradas e o planejamento do tráfego, além do controle das emissões em veículos novos e já em uso, melhorias na qualidade do combustível e incentivos fiscais. Além destas medidas, um programa adequado de inspeção e manutenção veicular voltado para as emissões atmosféricas poderia reduzir significativamente os índices de emissões de CO e HC na China, segundo estudo da Universidade de Tsinghua (FAIZ et al. 2005). No Brasil, o problema é verificado com maior intensidade das regiões metropolitanas. A alta concentração de indústrias, associada ao grande fluxo de veículos acarreta numa grande quantidade de hidrocarbonetos, materiais particulados e outros compostos lançados na atmosfera. Em casos extremos, como no inverno, além da conseqüência ambiental, há um acréscimo nos problemas respiratórios em função da presença destes elementos na atmosfera, o que é função da dificuldade de dispersão destes poluentes agravada pelas baixas temperaturas. Segundo Martins (2002), em pesquisa realizada no final da década passada, os índices de O3, CO e material particulado na cidade de São Paulo ultrapassaram os limites anuais nos anos 1996, 1997 e 1998 e houve um elevado número de casos de problemas respiratórios existentes na região no mesmo período. 1.2.3 Perspectivas para o futuro Diante do panorama atual de poluição nas grandes cidades, tornou-se necessária a busca por alternativas para redução dos índices de poluição. Especificamente no caso do óleo diesel, no Brasil, as principais tentativas para controle e redução da poluição provocada por este combustível tratam do uso de combustíveis alternativos, como o biodiesel, adição de etanol ao diesel, ou ainda, combinação de biodiesel/etanol/diesel. Além disso, com relação às emissões de Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 23 material particulado, há ainda a possibilidade de adição de compostos organometálicos ao diesel, princípio básico de funcionamento dos catalisadores de oxidação para motores diesel. Pode-se citar também, programas de inspeção e manutenção veicular, visando manter a frota atual dentro dos limites de emissão estabelecidos na legislação (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB, 2005). Muitos estudos têm apontado para o fato de que a queima do biodiesel, puro ou misturado ao diesel, pode reduzir as emissões de CO, material particulado, HC e compostos de enxofre, além de relatar também o aumento nas emissões de NOx e frações orgânicas solúveis (BAGLEY et al, 1998, citado por PINTO et al., 2005). No Brasil, em função da biodiversidade do país, o biodiesel poderá ser obtido a partir de oleaginosas como a soja, a mamona e o girassol, ou ainda, do sebo de animais ou do óleo residual de frituras. Meher et al (2004) testaram biodiesel de óleo de algodão, soja e girassol, puros e misturados com diesel em diferentes percentuais, em um motor diesel monocilíndrico, variando a rotação entre 1000 e 4500 rpm. Concluíram que a quantidade de fumaça emitida pelas misturas B10 e B20 para as várias fontes é inferior à quantidade emitida pelo diesel puro, diminuindo ainda mais conforme aumenta o percentual de biodiesel na mistura. Ao contrário, para os óleos vegetais “in natura” a quantidade de fumaça é maior para as misturas diesel – óleo vegetal quando comparadas com a quantidade gerada pelo diesel puro. Ainda, a quantidade de fumaça aumenta conforme aumenta a quantidade de óleo vegetal na mistura. Além disso, reduções significativas nas emissões de material particulado podem ser obtidas a partir da adição de biodiesel ao diesel. Diante disso, o Governo Federal vem incentivando a produção deste biocombustível. Atualmente, todo diesel comercial do país tem 2% de biodiesel em sua composição (mistura denominada B2). A perspectiva é de que, a partir de 2013, todo o diesel usado no Brasil tenha 5% de biodiesel incorporado em sua composição (mistura B5). Com relação ao etanol, pode-se afirmar que a sua adição ao diesel traria benefícios com relação às emissões atmosféricas. Porém, devido a fatores de ordem técnica, como octanagem do etanol e a sua baixa solubilidade no diesel Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 24 tornam inviável o uso desta mistura. Diante disso, surge a possibilidade de associar biodiesel e etanol para adicioná-los ao diesel. Em termos de biocombustíveis no Brasil, esta passa a ser uma alternativa interessante, pois o biodiesel facilita a solubilidade do etanol no diesel. Além disso, impulsiona a produção destes biocombustíveis no país. Shi et al. (2006) mostraram em seu estudo que uma mistura com 5% de etanol (pureza de 99,7%), 20% de biodiesel de soja e 75% de diesel apresentou redução nas emissões de material particulado e hidrocarbonetos da ordem de 40% a plena carga, para diferentes rotações. Porém, o mesmo estudo se mostrou não conclusivo para emissões de CO, além de indicar um pequeno aumento nas emissões de NOx (da ordem de 10%, a plena carga, para rotação de 2000rpm) e compostos carbonílicos. Isso indica que ainda são necessárias pesquisas para a redução deste impacto utilizando catalisadores oxidativos em baixas temperaturas ou conversores catalíticos. Os catalisadores oxidativos são estruturas cerâmicas que não retém os particulados, mas agem sobre os HC presentes na fase de vapor que se condensariam, tornando-se parte do particulado (MARTINS, 2002). Já os conversores catalíticos são conhecidos pela sua ação na gaseificação do carvão. Algumas empresas, porém, já lançaram no mercado mundial catalisadores oxidativos a baixa temperatura que também eliminam NOx e obtiveram resultados satisfatórios, como redução das emissões de HC e CO superiores à 50% além de elevados índices de redução também para material particulado (ENGELHARD, 2005). Com relação à frota de automóveis que circula atualmente no Brasil, é válido lembrar ainda a importância de programas de inspeção e manutenção veicular. Em São Paulo, a CETESB criou na década de 90 um conjunto de propostas técnicas que deram origem ao Programa de Inspeção Veicular Ambiental (PIV). A meta é de ainda reduzir 20% das emissões de CO e HC e 30% das emissões de material particulado. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 25 1.3 Combustíveis renováveis – biodiesel 1.3.1 Definição O biodiesel é um combustível renovável derivado de óleos vegetais, como girassol, mamona, soja, babaçu e demais oleaginosas, ou de gorduras animais. É usado em motores de ciclo diesel, em qualquer concentração de mistura com o diesel, reduzindo as emissões dos motores, sendo por isso, chamado de um combustível de queima limpa. Quimicamente, é um combustível composto de mono-alquil-ésteres de ácidos graxos de cadeia longa, derivados de óleos vegetais ou de gorduras animais e designado B100 (BIODIESELBR, 2006). 1.3.2 Histórico Os biocombustíveis vêm sendo pesquisados e produzidos em laboratórios há vários anos. Brandes (1838) obteve propenal, um aldeído gerado da dupla desidratação do glicerol, quando destilou óleo de côco. Mailhe (1922) empregou catalisadores ácidos para auxiliar a transformação de óleos vegetais em hidrocarbonetos. Wattermann & Perquin (1924), aplicaram o processo Bergius de síntese de hidrocarbonetos por hidrogenação de carvão a alta pressão de H2 ao óleo vegetal e obtiveram uma conversão quase total destes hidrocarbonetos. A obtenção de combustíveis alternativos a partir da transformação catalítica de óleos vegetais é uma possibilidade promissora, originária das crises mundiais do petróleo, ocorridas em 1973 e 1978, que apresenta a vantagem sobre as demais fontes de energia por não esgotar o solo e não agredir o meio ambiente (GONZALEZ et al. 2000). Porém, no período compreendido entre a Segunda Guerra e a crise do petróleo, em 1973, pouco se estudou este tipo de combustível, em função do baixo custo de obtenção de petróleo e da produção dos combustíveis fósseis (GONZALEZ et al. 2000). Todavia, a elevação de preço do barril de petróleo no Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 26 oriente médio, ocorrida entre os anos de 1973 e 1974, fez com que os biocombustíveis voltassem a ganhar importância no cenário econômico mundial. No Brasil, o pioneiro do uso de biocombustíveis foi o Conde Francisco de Matarazzo nos anos 60, quando as Indústrias Matarazzo utilizavam álcool para remover as impurezas do óleo obtido a partir do café, o que gerava um produto que hoje é chamado biodiesel (BIODIESELBR, 2006). Recentemente, os biocombustíveis vêm ganhando mais espaço no cenário econômico brasileiro. Primeiramente, com o Proalcool, na década de 80, houve um forte incentivo para a produção de combustível a partir da cana de açúcar, a fim de substituir parte da gasolina da frota nacional. Desde o ano de 2003, o Probiodiesel vem desenvolvendo a cadeia produtiva do biodiesel obtido a partir de óleos vegetais e/ou residuais (Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT, 2005). 1.3.3 Processo de obtenção (metílico / etílico) O biodiesel é definido pela National Biodiesel Board (1998), como o derivado mono-alquil éster de ácidos graxos de cadeia longa, proveniente de fontes renováveis, como óleos vegetais, cuja utilização está associada à substituição de combustíveis fósseis em motores de ignição por compressão – motores de ciclo diesel. Diversos estudos demonstraram que a obtenção destes ésteres a partir de óleo de colza, canola, girassol, soja e palma (dendê) é ecologicamente recomendável, sobretudo porque apresenta menor combustão incompleta do que os hidrocarbonetos e menor emissão de monóxido de carbono, materiais particulados, óxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio e fuligem (OBREGÓN, 2004). O processo de produção de biodiesel é composto das seguintes etapas: preparação da matéria-prima, reação de transesterificação, separação de fases, recuperação e desidratação do álcool, destilação da glicerina e purificação desse combustível renovável (BIODIESELBR, 2006). A Figura 1 é a representação esquemática do processo de obtenção de biodiesel. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 27 Óleos vegetais Gorduras reaproveitáveis Correção da acidez Transesterificação Metanol + KOH ou NaOH Glicerina crua Biodiesel cru Glicerina refinada Refino Recuperação do metanol Glicerina Biodiesel Figura 1 - Representação esquemática do processo de obtenção de biodiesel. “Rota Metílica” Neste processo, há certos inconvenientes que o dificultam e podem comprometer a qualidade do produto final, como o elevado consumo energético, a difícil recuperação do glicerol, o catalisador que necessita ser removido do produto, o efluente alcalino gerado que necessita tratamento e os ácidos graxos e água que interferem na reação (MEHER et al, 2004). A reação de síntese, geralmente empregada a nível industrial, utiliza uma razão molar óleo:álcool de 1:6 na presença de 0,4% de hidróxido de sódio ou de potássio, porque o meio básico apresenta melhor rendimento e menor tempo de reação do que o meio ácido. Por outro lado, o excesso de agente transesterificante (álcool primário) faz-se Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 28 necessário devido ao caráter reversível da reação (COSTA NETO et al. 2000). A Figura 2 ilustra esta reação. O CH3 O O H3C 7 7 7 4 7 4 + 3 CH3OH O O NaOH CH3 O O H3C O H3C CH3 O 7 CH3 O 7 OH 4 + H3C O HO OH O 7 CH3 7 4 Figura 2 - Reação de transesterificação de óleos vegetais Freedman & Butterfield (1986), demonstraram que a alcoólise com metanol é tecnicamente mais viável do que a alcoólise com etanol, particularmente se esse corresponde ao etanol hidratado, cujo teor em água (4-6%) retarda a reação. A utilização de etanol anidro na reação diminui este inconveniente, o que não significa solução para o problema de separação da glicerina do meio de reação, o que pode ser feito por simples decantação no caso da síntese do éster metílico. A separação de fases tem por objetivo assegurar a pureza do produto final de acordo com as especificações. Segundo a União Européia, o teor de ácidos graxos livres, álcool, glicerina e água devem ser mínimos, de modo que a pureza do biodiesel seja superior à 96,5%. Após separadas as fases, a fase de fundo contém água e álcool e deve ser submetida a um processo de evaporação. Os vapores de água e álcool são, a seguir, liquefeitos em um condensador. Da mesma forma, o álcool residual é recuperado da fase de topo. Após essa recuperação, o álcool ainda contém água e deve ser desidratado. Essa desidratação é normalmente feita por destilação (BIODIESELBR, 2006). Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 29 Caso a reação de transesterificação seja incompleta ou a purificação seja insuficiente, o biodiesel produzido pode ficar contaminado com glicerol livre e retido, triglicerídeos e álcool. A presença de contaminantes pode ser prejudicial para os motores e para o meio ambiente. Os ésteres deverão ser lavados por centrifugação e, posteriormente, desumidificados ou podem ser tratados com adsorventes. 1.3.4 Características do biodiesel Com os recentes aumentos no preço do petróleo e a incerteza sobre a sua disponibilidade futura, o interesse pelo uso de biocombustíveis em motores diesel vem aumentando (DEMIRBAS, 2003 citado por BOZBAS, 2005). Porém, uma vez que uma das maiores vantagens do uso de biodiesel é o fato de não ser necessário alterações significativas nos motores de ciclo diesel, é de fundamental importância o conhecimento das características físicas e químicas deste tipo de combustível. O biodiesel apresenta características muito semelhantes ao óleo diesel obtido do petróleo, o que permite o seu uso em motores diesel sem grandes modificações na estrutura do motor e, uma vez que o carbono presente nele provém do CO2 atmosférico, as emissões de CO deste combustível contribuem muito menos para o aquecimento global, quando comparado com o óleo diesel. McComrmick & Graboski (2001) correlacionaram algumas variáveis como número de cetanos e densidade de biodiesel proveniente de diversas fontes com emissões de NOx e material particulado, e concluíram que misturas com maiores valores de viscosidade apresentam maiores valores para emissões de NOx. Eles também observaram que quanto maior for o número de cetanos da mistura, menor é a emissão de NOx. Finalmente, observaram que as emissões de material particulado não são afetadas pela variação de viscosidade ou número de cetanos do combustível até certo valor, a partir do qual ocorre um pico deste tipo de emissão. Goodrum & Eiteman (1996) citados por Villarreyes et al (2007) indicam a densidade, a viscosidade dinâmica, tensão superficial, calor específico e pressão de vapor como sendo as propriedades mais importantes para definição da Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 30 eficiência da combustão. Já Flores-Luque (1987) citado por Villarreyes et al (2007) delimitaram o estudo à densidade, viscosidade dinâmica e tensão superficial, através da combinação destas propriedades em 5 grupos que caracterizam a eficiência da combustão (parâmetros indicativos) ou em 5 funções combinadas, como segue: A = µ/ρ, define a viscosidade cinemática do combustível; B = σ/µ, indica se o jato de combustível se desintegra no momento correto; C = σ/ρ, assim como o parâmetro anterior, também indica se o jato de combustível se desintegra no momento correto; D = σ²/µρ, indica a distribuição e o tamanho (diâmetro) das gotículas de combustível no momento da atomização; E = µ²/σρ, indica as condições da injeção do combustível para desintegração antes da ignição; Onde: µ = viscosidade dinâmica do combustível ρ = densidade do combustível σ = tensão superficial do combustível Bozbas (2005) afirma que o biodiesel tem características físicas muito próximas das características do óleo diesel mineral. Balat e Demirbas (2003) citados por Bozbas (2005) apresentam um comparativo entre as características do biodiesel e do óleo diesel convencional, mostrado na Tabela 1. Tabela 1 - Propriedades físico químicas de biodiesel e diesel. Propriedades Densidade (kg/l) N° cetanos Ponto de névoa (K) Ponto de fluidez (K) Ponto de fulgor (K) Enxofre (wt %) Cinzas (wt %) N° iodo Viscosidade cinemática, 313 K Poder calorífico superior, MJ/kg Fonte: Bozbas, 2005 Biodiesel 0,87 - 0,89 46 - 70 262 - 289 258 - 286 408 - 423 0 - 0,0024 0,002 - 0,01 60 -135 3,7 - 5,8 39,3 - 39,8 Diesel 0,84 - 0,86 47 - 55 256 - 265 237 - 243 325 - 350 0,004 - 0,01 0,006 - 0,01 1,9 - 3,8 45,3 - 46,7 Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 31 Em termos de ponto de névoa e ponto de fluidez é possível observar na Tabela 1 que praticamente não há diferenças. Porém, o mesmo não acontece com o número de cetanos, viscosidade cinemática e poder calorífico, onde as diferenças já se mostram mais significativas. Bozbas (2005) afirma ainda que a viscosidade do biodiesel passa a ser um problema em temperaturas inferiores à 0°C, e sugere o uso de aquecedores no interior do tanque de combustível, o que tornaria mais fácil a ignição. Um fator relevante na produção do biodiesel é o álcool utilizado na reação, como mostra a Tabela 2, que compara as propriedades do biodiesel metílico de soja e o biodiesel etílico de soja, em termos de propriedades físico-químicas: Tabela 2 - Propriedades físico químicas do biodiesel metílico e biodiesel etílico. Combustível PCI (kJ/kg) Densidade específica Viscosidade (x10-² m²/s Número de a 40°C) (ASTM D-613) Óleo diesel n° 2 B20 etílico de soja 43319,36 42094,15 0,85 0,8562 2,6 3,05 (estimada) 45 46,3 B20 metílico de soja 42000 0,857 2,82 47,3 0,8853 4,08 50,9 0,881 4,41 48,2 B100 metílico de 37184 soja B100 etílico de soja 37193,3 cetanos Fonte: Grabosky, citado em BUENO, 2003. Destaca-se na Tabela 2 o acréscimo de aproximadamente 25% para a viscosidade do biodiesel etílico de soja frente ao biodiesel obtido a partir do metanol, que se mostra ainda maior quando se compara o biodiesel etílico com o diesel mineral puro. De acordo com a norma ASTM (American Society for Testin and Materials) D-445, o valor máximo da viscosidade à 40°C de um combustível para motores diesel é de 4,1 10-2 m² s-1. Diante disso, Bueno (2003) afirma que a influência desta propriedade sob a dinâmica do jato combustível, além de sua mistura com o ar durante a operação do motor, irá proporcionar ligeiras alterações no processo de queima. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 32 1.3.5 Benefícios sociais, econômicos e ambientais O uso de biodiesel em máquinas agrícolas traz não apenas benefícios na área ambiental, com a redução de emissões de poluentes, mas também nos campos social e econômico. Em termos ambientais, os poluentes resultantes da combustão do óleo diesel, segundo Xavier (2003), são uma complexa mistura de combinações orgânicas e inorgânicas, composta de gases (HC’s, NOx, CO, CO2, SO2), materiais na fase líquida (HC’s e SO4) e na fase sólida (C). Os materiais sólidos são formações de carbono com diâmetro na faixa de 100 a 300nm agregados a outros compostos como sulfatos e água, variando em função do óleo lubrificante utilizado, da qualidade do diesel e das condições de operação do motor (MARTINS, 2002). E são estes materiais sólidos os maiores poluentes dos motores de ciclo diesel, conforme mostra a tabela 3. Tabela 3 - Emissão de poluentes em função do ciclo motor. Ciclo CO(ppm) HC(ppm) NOx(ppm) SOx(ppm) MP(ppm) Otto 20-200 10-50 10-60 0,1-1 0,1-0,4 Diesel 3-30 0,5-10 5-20 0,5-5 1-10 Fonte: Braun et al (2003) Várias alternativas são encontradas na literatura, no sentido de buscar minimizar os impactos negativos causados pela poluição dos veículos movidos à óleo diesel. Muitos pesquisadores têm mostrado que as emissões de material particulado, hidrocarbonetos não queimados, monóxido de carbono e enxofre são significativamente inferiores quando se utiliza biodiesel puro ou misturas diesel biodiesel como combustível (RAMADHAS et al, 2005), como já foi citado anteriormente neste trabalho. Teles et al (2006) testaram uma mistura B20, proveniente de óleo de soja, em uma frota cativa para avaliação das emissões com uso de B20 em comparação com diesel mineral e observaram que os veículos movidos a B20 apresentaram uma redução de 18% na opacidade da fumaça em relação ao diesel. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 33 Silva (2004) pesquisou o uso de óleo de dendê “in natura” em motores de ciclo diesel e observou que os níveis de emissões ficam dentro dos parâmetros atualmente encontrados para motores diesel, com a vantagem de ser biomassa com emissão de enxofre e de incremento para o efeito estufa nulas. Corrêa & Arbilla (2006) testaram diesel puro e as misturas B2, B5 e B20 de biodiesel obtido por transesterificação de óleo de mamona usando etanol e hidróxido de potássio (catalisador) em um motor ciclo diesel, novo, com 6 cilindros em linha e injeção direta, a fim de monitorar as emissões de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA). Foram monitorados 12 HPA’s que, em comparação com as emissões do diesel, apresentaram uma redução de 2,7% para B2, 6,3% para B5 e 17,2 para B20. Isto demonstra a capacidade que o biodiesel, quando utilizado de forma adequada, apresenta no sentido de minimizar as emissões causadoras do efeito estufa na atmosfera, sendo esta uma razão a mais para incentivar o desenvolvimento desta tecnologia. Nos campos social e econômico, o biodiesel tem um importante papel, pois, uma vez que muitas oleaginosas capazes de fornecer matéria prima para produção de biodiesel podem ser plantadas em pequenas áreas, favorece a agricultura familiar, diminuindo o êxodo das famílias para as cidades em busca de outras fontes de renda. Kubota (2003) citado por Soranso (2006) afirma que a produção de matéria prima para ser utilizada na fabricação de biocombustíveis pode ser uma importante forma de gerar empregos e renda em áreas carentes do Brasil e que necessitam de alternativas econômicas para a população local, além de ser um importante produto para exportação e independência energética nacional. Para Alves (2003), o Brasil, por possuir um extenso território tropical, se credencia como nação com maior potencial de energia renovável do planeta. Porém, a adoção sistemática de tecnologias externas aos trópicos tem trazido a exclusão social e a submissão do nosso povo, deixando em troca altos índices de degradação ambiental e nos desviando de nossa verdadeira vocação: a de sermos a maior potência energética do planeta. Segundo a BIODIESELBR (2006), Estudos desenvolvidos pelos Ministérios do Desenvolvimento Agrário, Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Integração Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 34 Nacional e das Cidades mostram que, a cada 1% de substituição de óleo diesel por biodiesel produzido com a participação da agricultura familiar, podem ser gerados cerca de 45 mil empregos no campo, com uma renda média anual de aproximadamente R$4.900,00 por emprego. Admitindo-se que para um emprego no campo são gerados três empregos na cidade, seriam criados, então, 180 mil empregos. Outro enfoque importante é a aplicação integral dos subprodutos adquiridos nas diversas fases dos processos industriais de obtenção da matéria prima oleaginosa. Estes subprodutos podem ser usados tanto para ração animal (exceto o biodiesel do óleo de mamona), indústrias farmacêuticas, quanto para o uso direto em caldeiras, gerando mais empregos, o que é um dos grandes problemas nacionais da atualidade (SOUZA, 2005). 1.3.6 Biodiesel no Brasil No Brasil, há diversas experiências sobre o uso de biodiesel, oriundo de óleos novos e usados, puros ou misturados ao diesel. Porém, apenas em 1998, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) publicou a Resolução n° 180, sobre a necessidade de realização de testes pré-aprovados para homologação de combustíveis não especificados (OLIVEIRA & COSTA, 2002). Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais – ABIOVE, o Brasil possui condições de solo e clima para a produção competitiva de oleaginosas em todo seu território, conforme mostra a Figura 3. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 35 Figura 3 - Oleaginosas cultivadas em cada região do país. Fonte: ABIOVE De acordo com relatórios do MCT, o Brasil é o segundo maior produtor e exportador mundial de óleo de soja, e pode tornar-se gradualmente um importante produtor e consumidor de biodiesel, acrescido da oportunidade de utilização de outros óleos vegetais típicos das diferentes regiões. Segundo o próprio MCT, a disponibilidade de produção de biodiesel a partir de soja concentra-se nas regiões centro-oeste e sul, com uma capacidade instalada de esmagamento de soja de 32,4 milhões de ton/ano (informações referentes ao ano de 2002). Porém, estudos já demonstram a viabilidade do cultivo de girassol na região sul e sudeste, além de palma no norte e mamona e palma na região nordeste, todas para fins de produção de biocombustíveis. 1.4 Motores diesel 1.4.1 Definição e classificação Os motores de ciclo diesel são motores de combustão interna que transformam a energia calorífica desenvolvida pela combustão da mistura ar/óleo Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 36 diesel em energia mecânica, com a qual se faz girar a árvore de manivelas (virabrequim), cujo movimento é transmitido para as rodas motrizes (VALLES, 1954). Segundo Giacosa (1980), os motores de ciclo diesel são motores nos quais a combustão se realiza a pressão constante, segundo um ciclo que leva o nome de seu descobridor, Rudolph Diesel. De acordo com Pinheiro et al (1998), os motores diesel podem ser classificados da seguinte maneria: Diesel Lento - trabalham a uma rotação de 400 a 800 RPM. Estes motores por possuírem grandes dimensões são empregados onde a relação peso potência não é importante, como nas embarcações marítimas, motores estacionários, etc. Diesel normal - São os motores cujas rotações de trabalho variam de 800 a 2000 RPM. Diesel veloz - Motores de rotações maiores que 2000 RPM. Este tipo de motor vem sendo ultimamente muito utilizado nos automóveis de passeio. 1.4.2 Componentes Os principais elementos que compõem um motor diesel são descritos conforme segue: - Cilindro: o cilindro é o componente dentro do qual desliza o pistão. É no interior do cilindro que ocorrem as etapas de compressão de ar e expansão dos gases produzidos pela combustão do óleo diesel. Na parte superior do cilindro, localiza-se o que se chama de “câmara de combustão”, ou seja, o espaço limitado pelo cilindro, pistão e tampa do motor, onde ocorre a combustão da mistura ar-combustível. O cilindro é normalmente fundido, podendo receber uma camisa interna de um material mais resistente, a fim de facilitar a sua manutenção, quando ocorre desgaste (GIACOSA, 1980). - Pistão: o pistão é o elemento deslizante, localizado dentro do cilindro, responsável pela compressão do ar no interior da câmara de combustão. Ele suporta a pressão gerada pela combustão da mistura ar-combustível, Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 37 transmitindo energia para o virabrequim através da biela. Para garantir a estanqueidade da câmara de combustão, o pistão é ranhurado na sua face lateral para receber, nestas ranhuras, os anéis elásticos de vedação. Estes anéis, por sua vez, são segmentos metálicos de seção retangular, cortados em um ponto e, normalmente, estão presentes em número de 3, sendo o anel inferior para evitar que o óleo lubrificante suba para a câmara de combustão (chamado anel raspador de óleo) e os outros dois para vedar a câmara de combustão. O pistão, normalmente, é feito de ligas de alumínio e magnésio, para suportar a pressão e o rápido movimento alternativo ao qual está submetido. Já os anéis são produzidos a partir de ligas metálicas contendo silício e titânio. - Pino: serve para acoplar o pistão com a parte superior da biela. Está submetido a um esforço muito grande porque suporta toda a pressão dos gases produzidos pela combustão do óleo diesel e a transmite à biela (VALLES, 1954). - Biela: este é o elemento que transforma o movimento alternativo do pistão em movimento rotativo, transmitindo-o para o virabrequim. Em função dos esforços ao qual está submetido, o corpo da biela usualmente apresenta seção transversal em duplo T. Em sua parte superior, na superfície de contato com o pino, a biela é revestida com um anel de bronze. Já na parte inferior, a superfície de contato com o virabrequim é revestida com metal anti-fricção. - Virabrequim ou árvore de manivelas: recebe o trabalho útil do pistão, transmitido pela biela, transmitindo o movimento aos demais elementos do motor (distribuição, resfriamento, lubrificação). O virabrequim é feito de aço especial NiCr estampado a partir de uma peça somente, para minimizar a ocorrência de trincas ou falhas no material (VALLES, 1954). Deve-se observar o perfeito balanceamento estático e dinâmico desta peça. - Bloco do motor: é a estrutura de ferro fundido que contém as partes móveis do motor, oferece apoio ao virabrequim e no qual está embutido o cilindro. Em sua parte inferior, o bloco é fechado pelo carter – reservatório de óleo lubrificante – e na parte superior, pelo cabeçote de válvulas. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 38 - Cabeçote de válvulas: é uma espécie de tampa do motor, contra a qual o pistão comprime o ar admitido no interior do cilindro (PROVENZA, 1960). É no cabeçote que se localiza a câmara de combustão, os assentos das válvulas e do injetor de combustível, dos dutos de admissão e descarga além dos canais de circulação da água de arrefecimento do motor. - Volante: disco, relativamente pesado, preso ao virabrequim, montado na parte traseira deste para garantir a inércia do motor. - Válvulas de admissão e descarga: localizadas no cabeçote, tem as funções de permitir a entrada de ar no cilindro e descarregar os gases gerados da queima da mistura ar combustível, respectivamente. - Eixo de comando de válvulas: é acionado pelo virabrequim através de uma correia e tem a finalidade de abrir e fechar as válvulas de admissão e descarga nos tempos corretos, através de ressaltos que elevam o conjunto tucho/haste/balancim abrindo as válvulas no momento oportuno (PROVENZA, 1960). Além destes elementos, existem outros componentes no motor diesel, chamados “componentes auxiliares” que fazem parte dos sistemas de alimentação, lubrificação e arrefecimento. Porém, estes elementos serão citados e descritos quando forem abordados tais sistemas. 1.4.3 Princípio de funcionamento – ciclo diesel Os motores de ciclo diesel podem ser motores de dois tempos ou quatro tempos, em função do número de giros que o virabrequim realiza para completar um ciclo. Nos motores de dois tempos, um ciclo é completado por uma volta do virabrequim. Já nos motores de quatro tempos, aos quais este estudo se dedica, um ciclo é completado a cada dois giros do virabrequim (ARTOMNOV et al, 1976, citado em SILVEIRA, 2004). Como o próprio nome já define, estes motores obedecem ao ciclo diesel, são alimentados por meio de injeção direta ou indireta de combustível e tem seu funcionamento dividido em quatro etapas, conforme segue: Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 39 - Admissão: na fase de admissão, a válvula de descarga encontra-se fechada, o pistão encontra-se no ponto morto superior e ocorre a abertura da válvula de admissão. O pistão desloca-se do ponto morto superior até o ponto morto inferior, promovendo a admissão de ar, proveniente dos dutos de admissão, após ter sido filtrado, até o enchimento do cilindro. Ocorre então o fechamento da válvula de admissão. - Compressão: nesta fase, o pistão desloca-se do ponto morto inferior até o ponto morto superior, com as válvulas de admissão e descarga fechadas, promovendo a compressão do ar admitido na etapa anterior. O ar quando sujeito a esta compressão sofre um aumento de temperatura que será tanto maior quanto maior for a taxa de compressão. Pouco antes de o pistão atingir o ponto morto superior, a pressão do ar no interior do cilindro pode atingir valores que variam de 65 à 130Kgf/cm² e sua temperatura pode chegar até 600°C. A taxa de compressão do ar num motor de ciclo diesel está entre 16:1 e 24:1 (PINHEIRO et al, 1998). - Combustão / expansão: na etapa de combustão, o combustível é fortemente comprimido e pulverizado para o interior da câmara de combustão. Ao entrar em contato com o ar, sob alta pressão e elevada temperatura, o combustível inflama e explode, promovendo a expansão da mistura ar/combustível, empurrando fortemente o pistão para o ponto morto inferior. - Descarga: pouco antes de o pistão atingir o ponto morto inferior, ocorre a abertura da válvula de escape, por onde começam a sair os gases provenientes da queima da mistura ar/combustível. Após atingir o ponto morto inferior, o pistão retoma o movimento ascendente, empurrando estes gases para fora do cilindro. Quando o pistão atinge o ponto morto superior, ocorre o fechamento da válvula de admissão e um novo ciclo reinicia. 1.4.4 Combustão no motor diesel O processo de combustão nos motores do ciclo diesel se dá através do contato entre as gotículas de combustível que são injetadas à alta pressão na Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 40 câmara de combustão, onde o ar se encontra comprimido e aquecido a uma temperatura em torno de 600°C. Esta injeção de combustível ocorre através do bico injetor de combustível, pouco antes de o pistão atingir o ponto morto superior (PMS). Este adiantamento, aliado ao formato da câmara de combustão e ao adequado jato de combustível fornecem uma melhor mistura entre as gotículas de combustível e o ar necessário, garantindo assim uma boa combustão (PEREIRA, 2004). 1.4.5 Sistemas de combustão Sistema de injeção direta: sistema em que o combustível é injetado diretamente sobre a cabeça do pistão, por meio de um bico injetor com vários orifícios, direcionados de forma a garantir a melhor mistura ar / combustível em relação ao formato da câmara de combustão. Sistema de injeção indireta: neste sistema, há uma antecâmara separada da câmara principal de combustão por meio de um estreitamento. Nesta antecâmara, ocorre a injeção do combustível, que queima parcialmente naquela região. Esta queima parcial gera uma sobre-pressão que sopra a mistura inflamada para a câmara principal, de forma violenta, onde ocorre a queima do restante do combustível. Este sistema apresenta maiores perdas de calor, mas em contrapartida, gera menos gases poluidores no escapamento, uma vez que a queima é mais completa. Sistemas de injeção atuais: Os sistemas de injeção modernos utilizados para motores ciclo diesel são Unit injectors, Common Rail Systems e Bombas Rotativas de Alta Pressão. Kegl (2006) realizou uma análise numérica do processo de injeção de misturas diesel/biodiesel com o objetivo de avaliar o impacto em termos de emissões atmosféricas e concluiu que, mantendo a performance do motor dentro de limites aceitáveis, é possível reduzir estas emissões ajustando corretamente o momento e o tempo de atuação da bomba de combustível em função da mistura utilizada. O mesmo autor apresenta como justificativa o fato de que as principais características da injeção são a pressão de injeção (pressão de Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 41 injeção em um sistema mecânico de injeção aumenta com o aumento do percentual de biodiesel no diesel), duração e tempo de injeção (tempo entre a entrega de combustível pela bomba e a injeção de combustível na câmara de combustão diminui com o aumento do percentual de biodiesel no diesel), abastecimento e taxa de injeção. 1.4.5.1 Descrição do sistema de injeção Atualmente, a grande maioria dos motores de ciclo diesel utiliza o sistema de injeção controlado eletronicamente, denominado Common Rail. Segundo Villanova (2004), o Common Rail (CR) é um sistema de gerenciamento eletrônico que permite a injeção direta de combustível na quantidade e no tempo exato, eliminando o uso da bomba injetora convencional. Conta com uma Unidade de Controle Eletrônico (ECU) que administra as informações captadas pelos sensores do motor, gerencia os sinais dos atuadores e monitora o funcionamento de todo o conjunto. A partir desses dados, a unidade determina a quantidade e momento da injeção, sendo que cada unidade injetora alimenta um cilindro. Já o sistema de injeção mecânico consta de um elemento mecânico acionado por uma cremalheira, que fornece uma quantidade definida de combustível de acordo com a rotação e carga do motor (SANTOS, 2005). A injeção do combustível é dividida em duas etapas, denominadas pré-injeção e injeção principal, ambas sendo funções da rotação e da carga do motor. Segundo Benvenutti (2005), o sistema de injeção do motor pode sofrer grandes avarias quando submetido ao uso de biodiesel. Ele afirma ainda que os modos de falha típicos do sistema de injeção neste caso são: - Formação de depósitos, causada por precipitação de produtos de envelhecimento do biodiesel. - Resinificação (aderência), causada por produtos de polimerização. - Corrosão (ácido fórmico) de aço e metais não ferrosos. - Formação de sabão (sais metálicos da corrosão por ácido fórmico). Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 42 1.4.5.2 Componentes do sistema mecânico de injeção Bomba injetora: a pressão e dosagem de combustível em cada cilindro são feitas por meio de uma bomba de pistão acionada pela árvore de cames, que impulsiona o combustível até o bico injetor. Alguns motores têm uma bomba para cada cilindro e outros têm uma só bomba que distribui o combustível para todos os cilindros. Bicos injetores: estes elementos estão instalados no cabeçote e têm a finalidade de pulverizar o combustível em forma de névoa no interior da câmara de combustão. Possuem uma agulha no seu interior, que se levanta no momento da injeção, em função da pressão na linha de combustível e cujo retorno é realizado por ação de uma mola. Uma pequena quantidade de combustível retorna ao sistema de alimentação, pois é utilizada para remover calor e lubrificar as partes móveis dos bicos. 1.4.6 Sistema de lubrificação Trata-se do conjunto de elementos responsáveis pela lubrificação das partes móveis do motor. 1.4.6.1 Características e componentes do sistema Segundo a Catterpillar, fabricante de máquinas pesadas, os sistemas de lubrificação dos motores diesel são normalmente dimensionados para um volume 2 a 3 litros de óleo lubrificante por litro de cilindrada do motor, a fim de garantir uma correta lubrificação nas partes móveis do motor, bem como auxiliar o sistema de arrefecimento a manter o motor trabalhando dentro de condições satisfatórias, em termos de temperatura. Os elementos que compõem este sistema são: - Cárter, localizado na parte inferior do motor. É o reservatório de óleo lubrificante, com capacidade adequada à potência do motor. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 43 - Bomba de circulação forçada, normalmente tipo engrenagem. Responsável pelo bombeamento do óleo lubrificante para todas as partes móveis do motor. - Regulador de pressão: válvula próxima à bomba, que regula a pressão do sistema. - Trocador de calor do óleo lubrificante: responsável pelo arrefecimento do óleo, que retorna aquecido do motor. - Filtros, que na maioria dos casos, são do tipo cartucho de papel descartável, devendo ser trocados a cada troca do óleo lubrificante. - Sensores de pressão, manômetros e pressostatos, que servem como dispositivos auxiliares do sistema. 1.4.6.2 Óleo lubrificante A principal característica que o óleo lubrificante deve ter é a viscosidade apropriada para o uso, considerando-se o meio em que será empregado e a temperatura de trabalho. Isso deve-se ao fato de que o meio e a temperatura de trabalho afetarão as propriedades físico-químicas do lubrificante, o que terá impacto no correto funcionamento do motor. Silva (2004) testou óleos vegetais “in natura” em motores diesel e observou teores elevados de Fe, Pb, Cu e Al no óleo lubrificante utilizado, quando o tempo de funcionamento ultrapassa as 250 horas. Além disso, não evidenciou contaminação do óleo lubrificante por óleo de dendê. É importante salientar também que a composição química do óleo lubrificante afeta diretamente o desempenho do motor, uma vez que estes óleos apresentam, normalmente, teores de aditivos, como anticorrosivos, detergentes, dispersantes e preventivos contra a fuligem, dependendo do uso a que se destinam. 1.4.7 Sistema de arrefecimento Sistema cuja função principal é manter a temperatura do motor dentro dos limites considerados adequados para o seu bom funcionamento. Para isso, geralmente, é utilizada a água como fluído para remoção do calor do motor. A fim Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 44 de garantir melhor desempenho do sistema, especialmente, em condições adversas, são aplicados aditivos na água, como por exemplo, anti-congelantes e anti-oxidantes. O sistema consiste, basicamente, de uma válvula termostática, que é controlada pela variação da temperatura do motor. Em altas solicitações, quando a temperatura do motor tende a elevar-se demasiadamente, entra em funcionamento uma ventoinha, para melhorar a troca térmica no trocador de calor. Com relação à água utilizada para o arrefecimento do motor, esta deve ser livre de agentes químicos corrosivos, para eliminar a formação de incrustrações nas tubulações. Além disso, também é importante que o pH da água esteja entre 8,0 e 9,5. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 45 2 MATERIAIS E MÉTODOS Os testes realizados ao longo da pesquisa objetivaram estudar alguns aspectos distintos da utilização de biocombustíveis em microtratores agrícolas. O primeiro aspecto foi ambiental, onde se procurou determinar as emissões atmosféricas para diferentes misturas diesel/biodiesel, a fim de se avaliar o impacto da adição de biodiesel em cada tipo de emissão. O segundo aspecto estudado foi o aspecto operacional do uso de misturas diesel/biodiesel em microtratores, em pequenas propriedades rurais, a fim de avaliar a viabilidade técnica e operacional da utilização destas misturas na região do Vale do Rio Pardo. Por fim, avaliou-se também o consumo específico de combustível para diferentes percentuais de mistura. Para todas as avaliações, foi utilizado o mesmo tipo de biodiesel (origem de óleo de girassol, via rota metílica), produzido em uma única batelada. A caracterização deste biodiesel foi realizada no TECPAR - Instituto de Tecnologia do Paraná – Divisão de Biocombustíveis e no Laboratório de Oleoquímica (LAOL) da Unisc. A determinação da taxa de emissão quanto à CO, CO2, NO e material particulado foi realizada no Laboratório de Combustíveis da UFRGS. Quanto aos testes a campo com o uso do biodiesel de girassol, foram utilizados três microtratores e a avaliação dos motores contou com a participação da Tramontini Implementos Agrícolas e da Schultz Técnica Comercial. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 46 2.1 Caracterização do biodiesel de girassol Os métodos e normas usadas na determinação de cada parâmetro são listados abaixo: - Determinação do aspecto: visual. - Determinação da densidade: método do densímetro, segundo NBR – 7.148 / 01. Este teste compreende a relação entre a massa específica do diesel a 20°C (g cm-³) e a massa específica da água a 4°C (g cm-³). - Determinação do ponto de entupimento de filtro a frio: realizado segundo NBR – 14.747 / 01. É definido como a maior temperatura em que o combustível, quando resfriado, não flui através de um filtro padronizado, ou leva mais de 60 segundos para passar através deste filtro (GARCIA et al, 2006). - Determinação da estabilidade à oxidação: de acordo com a norma EN – 14.112 / 01. Visa verificar a formação de compostos de oxidação em uma amostra exposta a um fluxo de ar (10 litros/h) a 110°C (LUTTERBACH et al, 2006). - Determinação da corrosividade na lâmina de cobre: NBR – 14.359 / 05. Este teste indica o potencial de corrosividade do combustível, no que se refefe às partes metálicas e confeccionadas em ligas de cobre, que se encontram presentes nos sistemas de combustível dos veículos e equipamentos. - Determinação da viscosidade cinemática à 40°C: NBR – 10.441 / 02. Tratase da medida da resistência oferecida pelo combustível ao seu escoamento. Seu controle é importante para garantir uma boa atomização do combustível. - Determinação do teor de água e sedimentos – método da centrifugação, NBR – 14.647 / 01. Este ensaio visa determinar a presença, no combustível, de água (proveniente do processo de produção do combustível, de depósitos mal vedados ou ainda de condensações internas) e sedimentos, que são constituídos por ferrugem e borras. - Determinação do teor de cinzas sulfatadas: NBR – 6.294 / 04. Determina o teor de resíduos inorgânicos, não combustíveis, gerados durante a queima de uma amostra de combustível. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 47 - Determinação do micro resíduo de carbono: ASTM D – 4.530 / 85. Mede a formação de coque a partir de produtos com tendência a degradação térmica sob condições de pirólise e altas temperaturas. - Determinação da destilação à vácuo: ASTM – 1.160 / 03. Este ensaio é usado para separação de solventes que possam estar presentes no combustível, através de uma trompa d’água como fonte de vácuo e banho-maria para aquecimento. - Determinação do teor de metais por Inductive Coupled Plasma (ICP) – Optical Emission Spectrometry (OES): Ca, Na, K, Mg – EN – 14.107 / 02; - Determinação do ponto de fulgor – método vaso fechado Pensky Martens – NBR – 14.598 / 00. Este método visa a determinação do ponto de fulgor para combustíveis através da colocação de uma amostra em uma cuba de ensaio, fechada, sob aquecimento lento e constante, com a introdução de uma chama, em intervalos regulares, até a ocorrência do lampejo. - Determinação da contaminação total – EN – 12.662 / 98. - Determinação do índice de acidez – ANP (ABNT NBR 14448). - Determinação do índice de iodo – EN 14213. - Determinação do índice de saponificação. - Determinação do índice de refração – AOCS (TP 1a- 64). O índice de refração é um meio de caracterizar se uma amostra de óleo e de biodiesel foram alteradas. Para este teste utilizou-se um refratômetro de Abbe a temperatura de 25oC. Colocou-se duas gotas do óleo no prisma do refratômetro e visualizou-se índice de refração. As análises foram realizadas em triplicatas. - Determinação do índice de peróxido - Espectroscopia no infravermelho – Para realização da espectrometria na região do infravermelho (IV) foi utilizado um espectrofotômetro Nicolet Magna 550 com transformada de Fourier, onde a superfície de seleneto de zinco cobriu-se com amostra. As análises foram realizadas em duplicata. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 48 2.2 Avaliação das emissões atmosféricas do biodiesel de girassol Esta etapa da pesquisa buscou determinar o impacto do uso de biodiesel nas emissões de materiais particulados, NO, CO e CO2. Em paralelo a estes ensaios, também foi avaliado o consumo específico de combustível para diferentes misturas diesel/biodiesel, a fim de verificar o impacto do uso de biodiesel neste parâmetro. Os ensaios de emissões atmosféricas e consumo específico foram realizados no Laboratório de Combustíveis do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em um motor/gerador diesel Toyama, estacionário, 4 tempos, com injeção direta de combustível. O motor operou com rotação fixa de 3600rpm e tensão de saída de 240V. A energia produzida pelo gerador foi dissipada em um banco de resistências com potência de 1800W. As especificações técnicas do motor estão descritas a seguir: Modelo: T 70F Tipo: Monocilindro, 4 tempos, injeção direta de combustível Sistema de refrigeração: a ar forçado Diâmetro x Curso mm: 78 x 62 Cilindrada L: 0.296 Rotação nominal rpm: 3000-3600 Potência nominal kW (HP): 4.0 (5.4)- 4.4 (6.0) Velocidade média do pistão m/s: 6.2 - 7.44 Pressão efetiva média kPa (kgf/cm2): 540.5 (5.52)- 496.6 (5.07) Relação de consumo de combustível g/kW.h (g/HP.h): 208 à 292 (206 à 215) Taxa de compressão: 11 Os resultados das emissões de NO foram obtidos por reação de quimiluminescência LD = 0,001%. Os resultados das emissões de CO e CO2 foram obtidos por cromatografia gasosa TCD LD = 0,01%. Já o material particulado foi determinado por análise gravimétrica em função do volume do gás amostrado a 300°C. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 49 2.3 Consumo específico de combustível O consumo específico de combustível (g/kWh) foi obtido através da razão entre a vazão mássica de combustível que alimenta o motor pela potência dissipada pelo gerador num banco de resistências. A vazão mássica de combustível foi determinada utilizando-se uma célula de carga, cujo sinal elétrico em função do tempo foi obtido continuamente através de um sistema de aquisição de dados computadorizado. A medida da potência dissipada no banco de resistências foi determinada pelo produto da voltagem e da amperagem, as quais foram obtidas através da aquisição de seus respectivos sinais elétricos, multiplicados pelos seus fatores de conversão. Os resultados obtidos correspondem a média de, no mínimo 5 ensaios, para o diesel e suas formulações. Cada ensaio teve a duração de 10 minutos. 2.4 Avaliação do uso de misturas diesel/biodiesel em campo Para a avaliação em campo, foram utilizadas três misturas diesel/biodiesel: B2 (2% de biodiesel), B20 (20% de biodiesel) e B100 (100% biodiesel) em três microtratores da mesma marca e em condições de uso. Buscou-se, nesta etapa, avaliar a operacionalidade dos microtratores com cada mistura de combustível, observando-se, especialmente, dificuldade de partida a frio, uma vez que o período em que o equipamento é mais utilizado corresponde ao inverno, desempenho a campo com relação à perda ou ganho de potência e vibrações excessivas do microtrator, assim como avaliar o desgaste dos componentes do sistema de injeção e compressão. Os microtratores utilizados foram da marca Tramontini, modelo GN 18 - PE, com as seguintes características técnicas: - modelo do Motor: TR18R - PE – Partida elétrica - tipo monocilíndrico diesel, com injeção direta de combustível - potência veicular CV (KW)/RPM: 18 (12,8) /2.200 - sistema de arrefecimento: Radiador e água selada - capacidade de Água (usar aditivo): 5,5 Litros Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 50 - capacidade tanque combustÍvel: 14 Litros Diesel - óleo do cárter: 2,5 Litros (SAE 15 W 40) - óleo do filtro de ar: 0,2 Litros (SAE 15 W 40) Os equipamentos cedidos para o teste pertencem à agricultores da cidade de Passo do Sobrado, município localizado à 10km de Santa Cruz do Sul. A realização dos testes em microtratores justifica-se pelo fato de que, na região do Vale do Rio Pardo, a grande maioria da população rural vive do cultivo de fumo. Uma vez que o cultivo do fumo se dá em pequenas propriedades rurais, a principal fonte de potência utilizada pelos agricultores são os microtratores, por serem máquinas de pequeno porte, capazes de atender às operações básicas desta cultura, que são: roçar o campo para o preparo da terra (trabalho realizado com a roçadora acoplada ao microtrator) e recolher e transportar o fumo da lavoura até o secador, com o auxílio da carreta acoplada ao microtrator, conforme Figura 4. Figura 4 - Microtrator Tramontini acoplado à carreta No início dos testes, os três microtratores apresentavam aproximadamente, o mesmo número de horas trabalhadas, variando entre 600h e 650h de uso. Todos eram usados nas mesmas operações agrícolas e, em geral, ainda não haviam Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 51 apresentado problemas de ordem técnica que pudessem ter alguma relação com o tipo de combustível usado. Os microtratores foram testados por um período aproximado de 200h. Esta quantidade de horas representa o tempo médio de uso dos equipamentos para cada safra de fumo, tendo sido iniciados os testes no mês de abril de 2007 e finalizados em outubro do mesmo ano. Segundo histórico obtido junto ao fabricante dos microtratores, registrado através de um questionário inicial, conforme mostra o Anexo A, em conjunto com as informações dos próprios agricultores, durante a entre-safra de fumo (período que corresponde aos meses de novembro à fevereiro), os tratores são usados eventualmente, para carregar alguns materiais na propriedade, totalizando em torno de 50h de uso, razão pela qual este período não foi considerado para a pesquisa. Para as avaliações nos testes a campo, os agricultores também preencheram periodicamente um formulário (Anexo B). Antes de se iniciar os testes, cada microtrator foi recolhido pelo fabricante para ser feita uma reforma inicial objetivando eliminar qualquer discrepância existente entre os microtratores, fruto do seu uso anterior aos testes, evitando assim interferências nos resultados finais, especialmente, em termos de contaminação do combustível no motor. Para tanto, a reforma nos motores constou da substituição dos seguintes itens: - elemento da bomba injetora - válvula de recalque da bomba injetora - elemento do bico injetor - elemento do filtro de combustível - junta da bomba injetora - junta do cabeçote - junta da tampa de válvulas - junta do coletor de escape - junta do coletor de admissão - 3,5 litros de óleo lubrificante SAE 15w40 (foi coletada uma amostra de óleo antes de iniciar os testes, para avaliação inicial). Além das substituições realizadas, foram feitos serviços de limpeza do sistema de injeção, limpeza e revisão nos cabeçotes e coletores, regulagem das Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 52 válvulas de admissão e escape e regulagem do ponto de injeção. No Anexo C está o registro fotográfico dos motores dos microtratores antes da reforma feita pelo fabricante, caracterizando as condições iniciais dos motores. Para os testes a campo, as misturas de combustível foram preparadas no Laboratório de Preparação de Biodiesel da Universidade de Santa Cruz do Sul, em proporções volumétricas. O biodiesel utilizado na mistura foi o mesmo utilizado para a realização das análises de emissões atmosféricas. Já o óleo diesel utilizado foi adquirido na rede comercial, proveniente de um único fornecedor. O combustível previamente preparado era levado periodicamente para os agricultores, em intervalos aproximados de 2 semanas. Para tanto, utilizou-se galões de 20 litros e 50 litros, previamente limpos. Durante estas visitas, era anotado o horímetro de cada trator, assim como era discutido com os usuários o desempenho do equipamento com o combustível que estava sendo testado. Para avaliação do grau de contaminação do motor e do óleo lubrificante, os microtratores foram encaminhados até a Schultz Técnica Comercial após os testes, onde foram abertos. Foi seguida a metodologia de análise sugerida por Martins (2004), que compreende à análise visual e metrológica do sistema de compressão e injeção de combustível, filtro do óleo, bico injetor, topo do êmbolo, câmara de combustão, anéis e cilindro. Para avaliação do grau de carbonização nos motores, foi feita uma raspagem no topo dos cilindros e nos cabeçotes de válvulas. O material raspado foi pesado para comparação entre os três microtratores. Com relação à avaliação do grau de contaminação do óleo lubrificante, foram recolhidas amostras deste óleo após 100h e 200h de cada microtrator e analisadas por espectroscopia no infravermelho em um espectrofotômetro Magna 550 da Nicolet, sendo o ensaio realizado em duplicata para cada amostra, com resolução de 4 cm-1 e 32 scans de varredura em um acessório de refletância total atenuado horizontal (HATR) com cristal Seleneto de Zinco (ZnSe). A amostra foi colocada sobre todo o cristal, onde foram observadas as bandas características para cada espectro produzido. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 53 A avaliação do sistema de injeção constou, além da análise visual, de um teste de estanqueidade e pressão, a fim de avaliar possíveis vazamentos ou perda de pressão do bico injetor após os testes. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 3 3.1 RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização do biodiesel A Tabela 4 mostra os parâmetros para a caracterização do biodiesel de girassol utilizado nos testes. Com base nesta Tabela pode-se observar que a densidade do biodiesel está bastante próxima à densidade do diesel mineral e do valor recomendado pela ANP, de 858 kg/m³. Além disso, outra propriedade de grande importância para o funcionamento do motor, a viscosidade, ficou dentro dos limites estabelecidos pela ANP, que são de 2cSt à 5,4cSt. Estas propriedades terão impacto direto sobre a qualidade da pulverização de combustível na câmara de combustão dos motores, influenciando no desempenho do motor. Salienta-se ainda o valor obtido para o teor de água e sedimentos, que foi 100% maior do que o estabelecido pela ANP, o que implica na presença de água ou sedimentos no biodiesel, ainda oriundos do seu processo produtivo ou provenientes da sua armazenagem no Laboratório de Preparação de Biodiesel da UNISC. Isto acarretará, provavelmente, problemas no sistema de injeção do motor, o que ficará evidenciado na seção referente à análise dos microtratores à campo. Os demais resultados indicados na tabela 6 ficaram dentro dos valores pré-estabelecidos ou são parâmetros de pouca influência para os testes. 55 Tabela 4 - Caracterização do biodiesel utilizado na pesquisa Ensaios Resultados Especificação Aspecto Apresenta Límpido e isento de turbidez impurezas 882,8 858 Densidade* à 20°C; kg/m³ Ponto de entupimento de filtro a frio*; °C -15 Anotar Estabilidade à corrosão à 110°C*; h 1,0 6 (mín) 1b 1 (máx) 4,454 Anotar Teor de água e sedimentos ; % volume 0,1 0,05 (máx) Teor de cinzas sulfatadas*; % massa 0,012 0,02 (máx) Micro resíduo de carbono*; % massa 0,02 0,1 (máx) Ponto de fulgor*; °C 103 100 (mín) Teor de sódio + Potássio*; mg/kg Não * Corrosividade ao cobre ; 3h à 50°C * Viscosidade cinemática ; mm²/s (cSt) * detectado 10 (máx) (<2,0) * Teor de cálcio + magnésio ; mg/kg (Cálcio) 1,0 + Anotar (Magnésio) 1,0 * Teor de fósforo ; mg/kg 11 Anotar Índice de acidez; mgKOH/g 1,04 ±0,05 0,80 (máx) Índice de iodo; mgKOH/g 122,83 ± 9,79 130 (máx) Índice de saponificação; mgKOH/g 246,34 ± 0,69 186-194 Índice de refração; ºD 1,460 ± 0,00 1,467-1,469 Índice de peróxido; meq/Kg 0,060 ± 0,00057 10 (máx) * Resolução ANP n° 42 Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 56 3.2 Emissões atmosféricas Primeiramente, cabe salientar que os resultados dos testes, para todas as misturas, não indicaram presença de CO, ficando abaixo de 0,01%. Em termos de emissões de NO, os resultados mostraram um acréscimo destas emissões com o aumento percentual de biodiesel na mistura, conforme Figura 5. Emissões NO 70 61 60 Emissão NO (ppm) 50 43 40 32 35 38 38 30 20 10 0 Diesel B2 B10 B20 B50 B100 Combustível Figura 5 - Emissões de NO em função da mistura diesel / biodiesel utilizada Pode-se observar que, de zero à 50% de biodiesel na mistura, há um incremento de 34,37% nas emissões de NO. Além disso, os testes indicaram um incremento de emissões de NO de 90,62% para biodiesel puro em relação ao diesel mineral puro. Segundo Zhang & Boehman (2007), as causas do aumento das emissões de óxidos de nitrogênio em função do uso de biodiesel não estão totalmente esclarecidas. Os mesmos autores sugerem que o avanço ou atraso da injeção de combustível e a presença de nitrogênio e compostos oxigenados no biodiesel são fatores que podem ser associados ao acréscimo deste tipo de emissão. Uma vez que não foi feita qualquer alteração nos intervalos (avanço e atraso) de injeção dos Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 57 microtratores antes ou durante os testes, a segunda hipótese seria mais provável para explicar o aumento das emissões de NO. Pois, uma vez que o ar admitido para a câmara de combustão é o ar atmosférico, com elevado percentual de nitrogênio na sua composição, a presença deste elemento no combustível aliado a outros compostos oxigenados, mesmo em pequenas proporções, acarretaria em maior formação de NO no momento da queima. O resultado concorda com o demonstrado por Teles et al. (2006), que identificaram uma pequena variação entre as emissão de NOx de motores ciclo diesel funcionando, em campo, com diesel mineral e com 20% de biodiesel de soja. Também Szybist et al. (2006) testaram misturas diesel / biodiesel nas proporções de 100% diesel (B0), 20% biodiesel para 80% diesel (B20) e 100% biodiesel (B100) e encontraram uma pequena variação nas emissões de NOx da mistura B20 para B0 (inferior à 1%). Porém, da mesma forma, evidenciaram um aumento de aproximadamente 10,5% nas emissões de NO2 quando comparou B100 com B0. O resultado também se assemelha ao obtido por Canakci (2006), que testou biodiesel de óleo de soja (B100) em um motor estacionário e obteve um acréscimo de 11,2% nas emissões de NO quando comparado às emissões do mesmo motor utilizando dois tipos diferentes de óleo diesel mineral puro. Com relação às emissões de CO2, os resultados mostraram uma varição muito baixa em função da adição de biodiesel na mistura, conforme é mostrado na Figura 6. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 58 Emissões CO2 10 9 Emissão CO2 (% vol) 8 7 6,4 6,4 6,4 Diesel B2 B10 6,4 6,5 6,4 B20 B50 B100 6 5 4 3 2 1 0 Combustível Figura 6 - Emissões de CO2 em função da mistura diesel / biodiesel utilizada Este resultado pode ser comparado com o teste realizado por Usta (2004), que comparou diesel mineral com uma mistura com 17,5% de biodiesel e encontrou a mesma estabilidade na emissão de CO2 quando o motor trabalhou a plena carga. Pereira et al. (2006) analisaram um motor estacionário monocilíndrico funcionando com misturas diesel/biodiesel de soja e observaram uma variação na emissão de CO2 de 1,38% (diesel puro) para 1,77% (75% de biodiesel na mistura), indicando também pouca variação nas emissões de CO2 em função da presença de biodiesel. No entanto, esta emissão de CO2 é proveniente de uma fonte renovável e será posteriormente capturada durante a fotossíntese da planta de girassol. Isto significa então, uma redução do CO2 emitido a partir da queima do óleo diesel mineral. Uma vez que o CO2 é um dos gases que impactam o aquecimento global, a emissão de CO2 proveniente do biodiesel passa a ser um aspecto favorável em termos ambientais. Para emissões de particulados, os resultados mostraram que as emissões deste tipo de material mantém-se razoavelmente estáveis para misturas com até 10% de biodiesel. Isto pode ser justificado pela formação de óxidos de enxofre, gerados no motor a partir da queima do combustível, com alto percentual de diesel mineral, pois segundo Pitanguy (2004), estes óxidos participam da formação do Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 59 particulado. A partir de 10% de biodiesel, com a redução da quantidade de diesel na mistura, reduz-se também a formação destes óxidos, o que justifica a redução de material particulado observada a partir daí, como mostra a Figura 7. Arkoudeas et al (2002) encontraram resultados semelhantes para baixas concentrações de biodiesel na mistura, afirmando que os melhores resultados em termos de redução aparecem para percentuais mais elevados de biodiesel na mistura, em função da drástica redução de enxofre e da adição do oxigênio presente naturalmente na composição do biodiesel. Observa-se então, uma redução de 54,9% nas emissões de material particulado, quando se compara B100 com o diesel mineral puro. Porém, já com 20% de adição de biodiesel na mistura, que é uma quantidade intermediária quando se compara as diversas emissões geradas, é possível observar uma considerável redução de 22,4% nas emissões de material particulado. Emissões MP à 300°C 70 62 60 60 58 Emissões MP 50 45 38 40 30 21 20 10 0 Diesel B2 B10 B20 B50 B100 Combustível Figura 7 - Emissões de material particulado em função da mistura diesel/biodiesel utilizada Estes resultados concordam com Reyes e Sepúlveda (2006), que testaram misturas diesel / biodiesel a partir de óleo de salmão e observaram uma redução de 50% nas emissões de material particulado quando compararam o mesmo motor Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 60 diesel trabalhando com biodiesel puro e diesel mineral puro. Kozerski e Hess (2006) também observaram uma redução acentuada nas emissões de material particulado, quando testaram B100, B20 e diesel mineral puro em uma frota de ônibus. Neste caso, a redução de emissões de particulado foi de 72% para B100 e de 15,9% para B20, em comparação com diesel mineral puro. 3.3 Consumo específico de combustível Paralelamente às análises de emissões atmosféricas, também foi realizado o estudo do consumo específico de combustível para as diversas misturas testadas. O motor testado foi o mesmo utilizado para a análise de emissões. Com isso, obtevese a Figura 8, que mostra um acréscimo do consumo específico de combustível de acordo com o aumento do percentual de biodiesel na mistura. Consumo específico de combustível 430 425 420 Consumo (g/kWh) 410 400 400 390 384 380 374 377 380 370 360 350 340 Diesel B2 B10 B20 B50 B100 Combustível Figura 8 - Consumo específico de combustível em função da mistura diesel biodiesel utilizada. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 61 O mesmo resultado está apresentado, em termos percentuais, na Tabela 5. Tabela 5 - Consumo específico de combustível (g/kWh) em termos percentuais Combustível Média (g/kWh) % Diesel 374 B2 377 0,80 B10 380 1,60 B20 384 2,67 B50 400 6,95 100 425 13,64 A Figura 8 mostra que para até 20% de biodiesel na mistura, o acréscimo no consumo de combustível é pequeno (10g/kWh, o que representa um aumento de 2,67% no consumo de combustível). Isto é um aspecto positivo para a utilização de biodiesel nos próximos anos, uma vez que a perspectiva de mistura a ser usada no ano de 2013 no Brasil é de 5% de biodiesel para 95% de diesel. A partir de 20% de biodiesel na mistura, o gráfico apresenta um forte incremento, chegando a um acréscimo 51g/kWh, o que representa um aumento de 13,64% no consumo de combustível. Isto demonstra a necessidade de alterações no motor para garantir um consumo mais próximo do diesel mineral para a mesma potência gerada. Um resultado semelhante também foi demonstrado a campo, por Lopes et al. (2005), que relataram um aumento no consumo específico de 7% e 18% para um trator funcionando com misturas B50 e B100, respectivamente, quando comparado com o consumo específico do mesmo trator usando diesel mineral. Também Canakci (2006) evidenciou um aumento de 13,8% no consumo específico de combustível quando comparou um motor estacionário ciclo diesel funcionando com diesel puro e com B100. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 62 3.4 Ensaios a campo com microtratores Durante os ensaios a campo, os proprietários dos microtratores não identificaram nenhuma alteração no seu funcionamento que pudesse comprometer o uso das formulações propostas. Isto ficou evidenciado através dos questionários preenchidos durante o período de testes, cujo modelo é mostrado no Anexo B. A única dificuldade encontrada foi mencionada pelo proprietário do microtrator que utilizou B100. Este microtrator apresentou dificuldade de partida em dias frios, o que passa a ser um inconveniente, uma vez que o inverno é rigoroso na região. Isso indica a necessidade de adaptar os microtratores a esta condição de operação, para utilizar o B100. Uma possível alternativa seria a introdução de um sistema de préaquecimento no tanque de combustível, a fim de mantê-lo, internamente, a uma temperatura superior à ambiente nos dias frios. Após o uso a campo por 200h, os microtratores foram transportados para a Schultz Técnica Comercial onde os seus motores foram abertos para análise. A avaliação do sistema de injeção dos três microtratores mostrou que todos (B2, B20 e B100) apresentavam pulverização normal ao término dos testes. Entretanto, mostraram que houve uma pequena perda de pressão nos sistemas de injeção dos microtratores que utilizaram B20 e B100 (mantiveram-se em torno de 170bar, quando o recomendado pelo fabricante é 180bar). Mesmo assim, não foi identificado vazamentos no bico injetor, o que pode ser comprovado através do teste de estanqueidade realizado em bancada para os bicos injetores dos três microtratores, como mostra a Figura 9. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 63 Figura 9 - Teste de pulverização de um bico injetor (B100) Baseado no trabalho de Villarreyes et al (2007), que afirmam que a viscosidade do combustível afeta sua vaporização e pulverização na câmara de combustão, o resultado dos testes é considerado normal mesmo para B100, pois a viscosidade cinemática do biodiesel utilizado era de 4,454cSt, o que está dentro dos padrões estabelecidos pela ANP. As avaliações feitas nos componentes internos dos motores indicaram pouco desgaste da camisa e do pistão. Porém, ficou evidenciada uma folga excessiva entre pontas de anéis. Além disso, no microtrator que utilizou B100, também foi observado um desgaste na face superior do primeiro anel de compressão. Segundo Tomanik (2000), este é o anel sujeito às maiores cargas de velocidade, pressão e temperatura. Desta forma, supõe-se que este desgaste na sua face superior seja resultante da sobre-pressão gerada na parte superior do pistão, proveniente da maior área de queima da mistura ar combustível. Esta, por sua vez, pode ser associada à maior densidade do biodiesel em relação ao diesel mineral, que, segundo Cardoso et al (2006) está diretamente ligada ao teor energético total Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 64 contido em uma determinada massa ou volume de combustível, razão pela qual as maiores discrepâncias foram observadas no microtrator que trabalhou com B100. Com relação à folga entre ponta de anéis, esta pode resultar, após um número maior horas de uso do microtrator, em perda de compressão, redução da eficiência de queima e maior consumo de óleo lubrificante que será arrastado para a câmara de compressão durante o movimento do pistão. A tabela 6 ilustra as medições realizadas. Tabela 6 - Medições feitas nos motores em função da mistura usada Componente Camisa do cilindro Pistão Folga (ponta de anéis) B100 100,02 99,85 0,80 Medidas (mm) B20 B2 100,04 100,01 99,85 99,90 0,80 0,65 Valor padrão 100 99,90 0,30 – 0,50 Além disso, a camisa do microtrator que operou com B100 perdeu o brunimento, ficando com aspecto polido e espelhado. Isto pode ser verificado nas Figuras 10a e 10b, que mostram respectivamente, uma camisa nova (com o brunimento) e a camisa do microtrator que usou B100 (após os testes, sem o brunimento). Isto indica lubrificação deficiente nesta superfície, que pode ter como origem a degradação do lubrificante em função da sua contaminação por biodiesel, oriunda da folga excessiva observada entre ponta de anéis. Salienta-se ainda que, de acordo com a caracterização mostrada na Tabela 6, o biodiesel apresenta elevado teor de água e sedimentos, o que também pode ter favorecido o desgaste observado na camisa. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 65 A Figura 10 - B A)– Camisa com brunimento; B) – Camisa sem brunimento. Segundo Tomanik (2000), este desgaste, denominado desgaste de deslizamento, identifica-se por uma superfície polida que se apresenta após o desgaste e ocorre sob certas condições em que as pressões hidrodinâmicas desenvolvidas não são capazes de manter as superfícies separadas e, consequentemente, parte da carga passa a ser suportada pelas asperezas presentes nestas superfícies. Diante disso, a probabilidade de contaminação de óleo lubrificante por biodiesel, assim como a passagem de óleo lubrificante para a câmara de combustão, aumenta consideravelmente. Isso ficou comprovado nos gráficos apresentados na Figura 11, que mostram a presença de biodiesel no óleo lubrificante neste microtrator, já com 100h e 200h de uso. Para os demais microtratores, as análises também indicaram presença de biodiesel no lubrificante. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 66 Figura 11 - Espectro no Infravermelho do óleo lubrificante Nos gráficos mostrados na Figura 11, percebe-se a presença de carbonila (destaque em azul), um grupo funcional existente nos óleos e ésteres, em todos os espectros, o que indica a presença de biodiesel no óleo lubrificante. Além disso, o gráfico da Figura 11 correspondente a 100h de uso do microtratror abastecido com B100 apresenta uma oscilação no comprimento de onda entre 3300 e 4000, característica de contaminação por OH. Esta contaminação sugere a presença de água no combustível, quer seja proveniente do seu processo de obtenção, quer seja pelo seu armazenamento incorreto, que permitiu a formação de umidade. Esta presença de água confere, então, com os sinais de desgaste observados nos elementos das bombas injetoras. Com relação à contaminação do óleo lubrificante por biocombustível, Maziero & Corrêa (2005) testaram óleo bruto de girassol com a intenção de observar 200h de Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 67 uso em um motor diesel. Porém, o teste foi interrompido com 60h de uso em função da alta contaminação do óleo lubrificante, que apresentava viscosidade muito elevada, forte presença de produtos de oxidação e fuligem, queda acentuada de reservas alcalinas além de elevado teor de chumbo, indicando possível desgaste em casquilhos. Segundo Soares et al (2000), que testaram óleo de dendê em motores diesel, em testes de curta duração, a contaminação do óleo lubrificante provocada pelo biodiesel pode ser suprida simplesmente trocando-se o óleo num intervalo inferior de tempo. Sendo assim, o custo de manutenção aumenta, porém, utilizandose um óleo lubrificante mais viscoso ou de especificação mais nobre, este custo volta a cair. Segundo Silva (2006), misturas com até 10% volume de biodiesel não causam variação significante na concentração de elementos e nas propriedades físico-químicas do lubrificante. A Valtra, fabricante de tratores agrícolas, testou misturas B5 e B20 por 18 meses e concluiu que o consumo horário de um trator usando B20 equivale ao consumo horário do mesmo trator usando diesel mineral. Além disso, a Valtra não identificou qualquer contaminação no óleo lubrificante nas máquinas abastecidas por biodiesel. Segundo a própria Valtra, isso comprova que não há desgastes anormais dos componentes do motor. Segundo a Storck Biodiesel (2008), se a viscosidade do óleo é extremamente excessiva, como no caso dos óleos vegetais, ocorrerá uma má pulverização no cilindro, reduzindo a eficiência da atomização e promovendo a contaminação do óleo lubrificante e a produção de fumaça preta. O motor funciona, mas pode apresentar problemas ao longo do período de uso, e seu desempenho pode ficar prejudicado. A inspeção visual mostrou, ainda, uma pequena contaminação do filtro de combustível do motor que utilizou B100, como mostra Figura 12A, e também um pequeno resíduo de água no interior do copo do filtro de combustível do motor que trabalhou com B20 (Figura 12B). No motor que trabalhou com B2, estas contaminações não foram evidenciadas. Estes resultados, segundo Benvenutti (2005) indicam boa qualidade do biodiesel utilizado, em termos de ausência de íons alcalinos ou alcalino-terrosos, porém, confirma a presença de água no biodiesel, Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 68 conforme foi evidenciado na sua caracterização (100% acima do limite aceitável pela ANP), conforme Tabela 6. A Figura 12 - B A) filtro de combustível (B100) B) Água copo do filtro (B20) Foi identificada certa opacidade no elemento da bomba injetora do microtrator que trabalhou com B100. Além disso, os elementos das bombas dos três microtratores apresentaram desgaste na sua parte superior (frisos), que pode ter sido provocado pela presença de água no combustível (PITANGUY, 2004), o que prejudicou a lubrificação naquela região de elevada pressão (Figura 13). Isto concorda com os resultados obtidos por Benvenutti (2005), que também identificou desgaste excessivo e formação de ferrugem no eixo da bomba rotativa de alta pressão. Neste mesmo trabalho, Benvenutti (2005) identificou ainda a presença de depósitos em alguns componentes do sistema de injeção, formados a partir de sais de ácidos de envelhecimento do combustível com íons metálicos, resultantes da corrosão e desgaste. Além disso, Pitanguy (2004) avaliou diversas amostras de óleo diesel que estava sendo usado em campo em diversos estados brasileiros e concluiu que o contaminante mais crítico para o diesel no Brasil é a presença de umidade, provavelmente, proveniente do ar atmosférico que entra em contato com o combustível ao longo do seu processo produtivo, durante seu transporte e estocagem ou durante sua utilização. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 69 Figura 13 - Desgaste (frisos) na parte superior do elemento da bomba de combustível Nos motores que utilizaram B2 e B20, foi visualizado um friso muito profundo na bronzina da biela, provocado provavelmente por impureza ou material sólido dentro do óleo lubrificante. A Figura 14 mostra as condições das bronzinas dos três microtratores após os testes. O virabrequim dos motores não chegou a ser afetado, continuando com sua superfície lisa. B100 Figura 14 - B20 B2 Bronzinas dos microtratores após o término dos testes Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 70 Em termos de carbonização do motor, a análise visual não mostrou nenhuma formação excessiva de carvão no pistão, cabeçote de válvulas ou bicos injetores, que pudessem comprometer o desempenho do motor. Entretanto, a Figura 15 mostra o detalhe da formação de carvão nos bicos injetores. Bico injetor (B2) Figura 15 - Bico injetor (B20) Bico injetor (B100) Bicos injetores após as 200h de teste. A Figura 16 mostra ainda uma comparação entre o bico injetor novo e o bico carbonizado após 200h de uso de biodiesel puro. Figura 16 - Comparação dos bicos injetores Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 71 Segundo a fabricante de máquinas pesadas Catterpillar, a carbonização pode causar deformação do pistão, desgaste nas camisas, anéis presos e depósitos no motor. Porém, como foi apresentado anteriormente, nenhuma destas caracterizações se fez presente nos motores, o que confirma a baixa formação deste tipo de contaminação. Benvenutti (2005) afirma ter sido provado que glicerídeos e carbonato de sódio (Na2CO3) estão presentes nos depósitos de biodiesel e que o carbonato de sódio é formado na câmara de combustão a partir da queima do combustível. Teixeira (2005) confirma que o resíduo de carbono indica a tendência de um combustível formar depósitos de carbono nos motores e que estes se alojam nos bicos injetores e em outras partes do motor, reduzindo assim sua vida útil. Diante disso, a pequena carbonização evidenciada nos bicos sugere pouca presença destes compostos no biodiesel utilizado. Além disso, a raspagem feita na parte superior do pistão e no cabeçote de válvulas, mostrada na tabela 7, seguida de pesagem, mostrou uma variação no acúmulo de carvão no topo do pistão e no cabeçote de válvula dos microtratores em função do combustível utilizado. Tabela 7 - Deposição de carvão no topo dos cilindros / cabeçote de válvulas Misturas usadas Carvão gerado (g) Desvio percentual em relação ao motor que usou B2 B2 1,5318 0 B20 1,6062 4,8% B100 1,9228 +25,5% Os resultados desta tabela mostram uma maior quantidade de carbonização (ou fuligem) presente no motor que utilizou B100. Isto pode ser explicado pela maior viscosidade do biodiesel, que interfere na formação do jato na câmara de combustão. Segundo Varde (1984) citado em Machado (2003), ângulos de cone de jato menores, no momento da injeção de combustível, indicam a menor distribuição deste na câmara de combustão, resultando em pior atomização e sugerindo pior Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC 72 rendimento de combustão. O mesmo autor afirma que uma atomização pobre aliada à baixa penetração do jato de combustível conduz a um incremento na formação de fuligem. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental– Anderson F. Porte – UNISC CONSIDERAÇÕES FINAIS Após os testes realizados, pôde-se concluir que misturas com maiores percentuais de biodiesel em sua formulação favorecem a redução de emissões de MP, porém, aumentam as emissões de NO. Ainda em termos ambientais, percebese que o uso de biodiesel de girassol favorece a redução do aquecimento global através da redução de emissões de CO2 provenientes de fontes não renováveis. Observou-se um aumento gradual do consumo específico de combustível, com o aumento do teor de biodiesel na mistura combustível, sugerindo a necessidade de modificações nos motores para uso de biodiesel. Por fim, conclui-se que as formulações B2 e B20 não provocaram danos aos motores, ao passo que a formulação B100 provocou desgastes e contaminação do óleo lubrificante, diante do que se recomenda maiores estudos à respeito do uso de biodiesel de girassol puro em microtratores. TRABALHOS FUTUROS - Estudo econômico do uso de B20. - Impactos do uso de biodiesel de girassol em microtratores em testes de longa duração (mais de 1000h). - Avaliação da degradação das propriedades do óleo lubrificante em função da mistura diesel/biodiesel utilizada para longos períodos de utilização (mais de 1000h). - Avaliação da interferência das condições de armazenamento do biodiesel no seu desempenho a campo. - Possibilidades de redução de emissões de NO para misturas com alto percentual de biodiesel na sua formulação. - Estudo do desgaste das partes móveis do motor em função do uso de diferentes percentuais de biodiesel na mistura. - Estudo da relação existente entre a densidade e a viscosidade do combustível e a eficiência de queima. REFERÊNCIAS ALMEIDA, S. C. A., CLUA, E. W. G; Perspectivas do uso da biomassa para geração descentralizada de energia no Mercosul. Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia. Brasil, 2005. ALVES, A. 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Porte – Mestrado em Tecnologia Ambiental ANEXOS ANEXO A – PLANILHA DE ACOMPANHAMENTO 1 UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL MESTRADO 1a PLANILHA DE ACOMPANHAMENTO DE TESTES DE BIODIESEL EM CAMPO 1) Há quanto tempo o seu trator é utilizado? 2) Para que o seu trator é usado? Em que tipo de terreno é usado (plano, acidentado, etc)? 3) Quantas vezes seu trator precisou de manutenção em 2006? 4) O que foi feito nestas manutenções? 5) Qual o óleo lubrificante que você usa no trator? 6) De quanto em quanto tempo você trocava óleo lubrificante do trator antes de começar os testes com biodiesel? 7) Que tipo de problemas seu trator costuma apresentar (por exemplo, dificuldade de partida do motor, falta de força, entupimento dos bicos, etc)? 8) De quanto em quanto tempo você abastece o seu trator? ANEXO B – PLANILHA DE ACOMPANHAMENTO 2 UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL MESTRADO 2a PLANILHA DE ACOMPANHAMENTO DE TESTES DE BIODIESEL EM CAMPO Data: __________________ Proprietário__________________________ 1. Qual o número do contador do trator quando você iniciou o trabalho? 2. O trator teve dificuldades para ligar? SIM ( ) 3. Isso acontecia antes de usar biodiesel? SIM ( NÃO ( ) ) NÃO ( ) 4. O trator está perdendo “força” depois que começou a usar biodiesel? SIM ( ) NÃO ( ) 5. O trator está ganhando “força” depois que começou a usar biodiesel? SIM ( ) NÃO ( ) 6. O trator precisou de manutenção hoje? SIM ( 7. Você abasteceu o trator hoje? SIM ( ) ) NÃO ( NÃO ( ) ) 8. Quantos litros de combustível você abasteceu? 9. Qual o número do contador do trator quando você terminou o trabalho? OBSERVAÇÕES: anote neste espaço algum comentário sobre o dia de trabalho de hoje, se houve manutenção, que tipo de manutenção, se há algum problema com o combustível, se está atrapalhando o seu trabalho, etc. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ANEXO C – CARACTERIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES INICIAIS DOS MICROTRATORES Condições dos microtratores antes da reforma inicial Detalhe da carbonização do elemento, pelo uso de óleo Bico injetor contaminado pelo uso do óleo diesel Cabeçote carbonizado pelo uso de óleo diesel 84 Contaminação do filtro de combustível Carbonização do pistão Detalhe do microtrator desmontado durante reforma inicial Dissertação de Mestrado – Anderson F. Porte – Mestrado em Tecnologia Ambiental Livros Grátis ( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download: Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo