SILVA, M.A.P. et al. Avaliação eletrônica do leite de ovelhas da raça Santa Inês. PUBVET,
Londrina, V. 3, N. 25, Art#624, Jul3, 2009.
PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.
Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/texto.php?id=624>.
Avaliação eletrônica do leite de ovelhas da raça Santa Inês
Marco Antônio Pereira da Silva1; Miguel Joaquim Dias2; Fernando Augusto
Fernandes Corrêa3; Renata Rodrigues Tiarine3; Julliane Carvalho Barros4;
Priscila Alonso dos Santos1; Edmar Soares Nicolau2
1. Prof. Dr. Instituto Federal Goiano – Campus Rio Verde, Rodovia Sul Goiana,
Km 01, Zona Rural, Caixa Postal 66, CEP – 75.901-970, Rio Verde – GO.
2. Prof. Dr. Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás
3. Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária da Escola de Veterinária da
Universidade Federal de Goiás
4. Acadêmica do Curso de Engenharia de Alimentos do Instituto Federal Goiano
– Campus Rio Verde
RESUMO
O objetivo da pesquisa foi avaliar através de análise eletrônica a composição
centesimal e a CCS do leite de ovelhas da raça Santa Inês. As ovelhas eram
mantidas no Setor de Caprinos e Ovinos da Escola de Veterinária da
Universidade Federal de Goiás. As análises foram realizadas no Laboratório de
Qualidade do Leite do Centro de Pesquisa em Alimentos da Escola de
Veterinária da Universidade Federal de Goiás. Foram ordenhadas 27 ovelhas da
raça Santa Inês. A ordenha foi realizada com o uso de ordenhador humano, os
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cordeiros foram afastados da mãe na véspera da ordenha. As amostras foram
coletadas diretamente em frascos esterilizados contendo conservante Bronopol
(IDF-FIL, 1995). Os frascos foram transportados para o laboratório em caixa
isotérmica contendo gelo. A CCS do leite de ovelhas foi realizada através de
citometria de fluxo pelo equipamento Fossomatic 5000 BasicÒ (Foss Electric
A/S. Hillerod, Denmark) e a composição centesimal foi determinada através da
absorção diferencial de ondas infravermelhas pelos componentes do leite
utilizando-se o equipamento Milkoscan 4000Ò (Foss Electric A/S. Hillerod,
Denmark). A análise estatística foi realizada de acordo com o pacote estatístico
R (2005). Os resultados da avaliação eletrônica da composição centesimal e
CCS do leite de ovelhas da raça Santa Inês foram semelhantes aos observados
por outros pesquisadores.
Palavras-chave: células somáticas; leite ovino; proteína.
Electronic evaluation of the ewes milk of the race Santa Inês
ABSTRACT
The objective of the research was to evaluate the composition and the CCS of
the milk of Santa Inês ewes. The sheep were of Setor de Caprinos e Ovinos of
the Escola de Veterinária of the Universidade Federal de Goiás. The analyses
were conducted in Laboratório de Qualidade do Leite of the Centro de Pesquisa
em Alimentos of the Escola de Veterinária of the Universidade Federal de
Goiás. Were milked 27 Santa Inês ewes. The samples were collected in bottles
with bronopol (IDF-FIL, 1995). The bottles were carried in isothermal box
contend ice. The SCC was carried through by the Fossomatic 5000 BasicÒ and
the composition for the Milkoscan 4000Ò. The analysis statistics was carried
through by statistical package R (2005). The results of the electronic
evaluation of centesimal composition and SCC of the ewes milk of the race
Santa Inês were similar to the observed for other researchers.
Key-words: somatic cells; ewe milk; protein.
SILVA, M.A.P. et al. Avaliação eletrônica do leite de ovelhas da raça Santa Inês. PUBVET,
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1 INTRODUÇÃO
A criação de ovinos tem se destacado como uma atividade de grande
potencial para investimentos no Brasil. Desde que sejam criados em condições
adequadas, pode-se obter bons resultados com a exploração desses animais.
Nas regiões Sudeste e Sul do país são mais comuns as raças lanadas, já
nas demais regiões as raças deslanadas são as mais exploradas, por se
adaptarem melhor a temperaturas mais elevadas. A raça Santa Inês tem sido
utilizada nos programas de melhoramento genético do Centro-Oeste brasileiro,
devido a fácil adaptação às condições de cerrado.
De acordo com BUENO et al. (2006), a raça Santa Inês é desprovida de
lã, as ovelhas pesam entre 50 e 60 kg e os machos ao redor de 100 kg, a
coloração não é uniforme, com pelagens variadas, como vermelha, castanha e
malhada de branco e de preto. Esses animais possuem aptidão para a
produção de carne e pele, sendo que nos últimos anos alguns pesquisadores
têm despertado para a exploração leiteira.
Raças com maior aptidão leiteira têm sido utilizadas em programas de
cruzamentos com raças nativas ou raças com aptidão para a produção de
carne, com a finalidade de formar fêmeas mestiças, com uma produção de
leite superior (SÁ & SÁ, 1999). Segundo HASSAN (1995), o cruzamento de
raças nativas com raças de elevada produção, seja ela de carne ou de leite, é o
método mais rápido para melhorar a eficiência do rebanho.
Na pesquisa realizada por RIBEIRO et al. (2007), ovelhas da raça Santa
Inês apresentaram alta produção de leite e duração da lactação elevada, sendo
que o leite produzido apresentou composição química satisfatória e bom
rendimento para fabricação de queijos finos.
Considerando
a
possibilidade
dos
resultados
obtidos
expressarem
informações rápidas e relevantes sob a composição do leite, a presente
pesquisa teve como objetivo a avaliação eletrônica da composição centesimal e
da CCS do leite de ovelhas da raça Santa Inês, e comparando os resultados
com os obtidos por outros pesquisadores.
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2 MATERIAL E MÉTODOS
As ovelhas utilizadas no projeto eram mantidas no Setor de Caprinos e
Ovinos da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás. As análises
foram realizadas no Laboratório de Qualidade do Leite do Centro de Pesquisa
em Alimentos da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás. A
pesquisa foi conduzida no período de 01 a 15 de julho de 2007.
2.1 Coleta das amostras
Para a realização da pesquisa 27 ovelhas da raça Santa Inês no primeiro
mês
de
lactação
foram
ordenhadas
completa
e
ininterruptamente
em
condições assépticas. Para adaptação a rotina de ordenha as ovelhas foram
ordenhadas cinco vezes antes da coleta. A ordenha foi feita utilizando-se
ordenhador humano, sendo os cordeiros afastados da mãe na véspera da
ordenha.
Embora as ovelhas fossem de idades diferentes, nenhuma apresentava
sintomas de mastite clínica. Após o descarte dos primeiros jatos em caneca de
fundo escuro, as amostras foram coletadas diretamente em frascos estéreis
contendo o conservante Bronopol segundo a International Dairy Federation
(IDF-FIL, 1995). Os frascos foram transportados em caixa isotérmica contendo
gelo e mantidos na temperatura de 4ºC até o momento da análise.
2.2 Análises laboratoriais
Para a realização das análises as amostras foram previamente aquecidas
em banho-maria à temperatura de 40ºC por 15 minutos para dissolução da
gordura (BUENO, 2004).
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2.2.1 Composição centesimal
A composição centesimal (proteína, gordura, lactose, sólidos totais) foi
determinada através da absorção diferencial de ondas infravermelhas pelos
componentes do leite utilizando-se o equipamento Milkoscan 4000Ò (Foss
Electric
A/S.
Hillerod,
Denmark).
Os
resultados
do
extrato
seco
desengordurado (ESD) foram obtidos através da diferença do extrato seco
total (EST) e teor de gordura.
2.2.2 Contagem de células somáticas
A contagem de células somáticas (CCS) foi realizada através de
citometria de fluxo pelo equipamento Fossomatic 5000 BasicÒ (Foss Electric
A/S. Hillerod, Denmark).
2.3 Análise estatística
A análise estatística foi realizada de acordo com o pacote estatístico R
(2005) utilizando-se os procedimentos para estatística descritiva, sendo os
resultados
obtidos
comparados
com
os
valores
obtidos
por
outros
pesquisadores.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1 estão os resultados da análise estatística nas amostras de
leite de ovelhas da raça Santa Inês. Considerando que a raça Santa Inês não é
tradicionalmente leiteira e existem poucas pesquisas evidenciando a qualidade
do leite de ovelhas, foram utilizadas diferentes raças na discussão dos
resultados obtidos na presente pesquisa.
De acordo com BENCINI & PULINA (1997), o ambiente, a raça, idade da
ovelha, estágio da lactação, número de cordeiros, técnicas de ordenha, estado
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sanitário, infecções de úbere, manejo do rebanho e nível nutricional durante a
gestação e lactação contribuem para as variações na produção e na qualidade
do leite de ovelhas. Segundo ZEPPENFELD et al. (2007), a alimentação influi
na produção e composição do leite ovino, sendo que com uma menor relação
volumoso: concentrado obtém-se uma maior produção de leite.
TABELA 1 – Resultados médios, valor mínimo, máximo e desvio padrão de
amostras de leite de ovelhas da raça Santa Inês.
Parâmetros
Média
Valor
Valor
Desvio
mínimo
máximo
padrão
Gordura (%)
5,75
2,88
8,47
1,73
Proteína (%)
5,30
3,96
6,64
0,80
Lactose (%)
4,23
3,05
5,01
0,50
EST (%)
16,03
12,33
19,93
2,29
ESD (%)
10,28
8,83
12,22
0,91
900
41
6876
1592
CCS
CS/mL)
(x
1000
O teor de gordura variou de 2,88 a 8,47% com valor médio de 5,75%. O
resultado médio obtido na presente pesquisa foi maior que o observado por
RIBEIRO et al. (2007), ao avaliarem a composição do leite de ovelhas da raça
Santa Inês sem tratamento com ocitocina (4,96%), no entanto, quando houve
a aplicação de ocitocina o resultado médio de gordura foi maior (5,84%) que o
observado na presente pesquisa. Na pesquisa realizada por SÁ et al., (2005)
estudando a influência do fotoperíodo na composição do leite de ovelhas
Bergamácia, os resultados obtidos para o teor de gordura, foram menores que
os da presente pesquisa, com o fotoperíodo longo e curto as médias foram de
5,57% e 5,21% respectivamente.
Na pesquisa realizada por RIBEIRO et al. (2004) ao avaliarem o uso da
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ocitocina na composição do leite de ovelhas Hampshire Down o resultado
médio (7,4%) obtido para o teor de gordura foi bem mais elevado que o
observado nesta pesquisa. Valor médio bem abaixo do observado na presente
pesquisa foi obtido por SOUZA et al. (2005) que foi de 3,5% para ovinos da
raça Corriedale. Aos sete, 30 e 60 dias de lactação BRITO et al., (2006)
obtiveram resultados médios de gordura de 4,90; 5,99 e 5,26%, para ovelhas
da raça Lacaune, observa-se que aos 30 dias de lactação o teor de gordura foi
maior que o da presente pesquisa.
Dos componentes do leite o teor de gordura é o nutriente que apresenta
maior oscilação. As variações da gordura se devem principalmente a mudanças
na dieta dos animais, no entanto, MOTTA (2000) não verificou diferença
significativa entre os animais que receberam concentrado comparados aos que
não receberam concentrado.
O resultado médio do teor de proteína total foi de 5,30%, sendo que os
resultados variaram de 3,96 a 6,64%. Resultados menores que os observados
nesta pesquisa foram obtidos por SÁ et al. (2005), que foram de 4,94 e 4,90%
para fotoperíodo longo e curto respectivamente, RIBEIRO et al. (2004),
encontraram média de 4,3%. BRITO et al. (2006), aos sete, 30, 60 e 140 dias
de lactação de ovelhas da raça Lacaune obtiveram média de 4,23; 4,27; 4,30 e
5,04% respectivamente.
Embora para o teor de proteína total o desvio padrão tenha sido baixo,
de acordo com FREDEEN (1996), os componentes do leite que mais variam em
função da alimentação do animal são a gordura e proteína, que respondem por
até 50% das variações.
A média do teor de lactose foi de 4,23% com os resultados variando de
3,05 a 5,01%. Valores maiores foram observados por SÁ et al. (2005) que
obtiveram média de 4,91% e BRITO et al. (2006) cujos valores foram de 4,69;
5,04; 4,74 e 4,56% aos sete, 30, 60 e 140 dias de lactação respectivamente.
Resultados menores (3,8%) foram observados por RIBEIRO et al. (2004)
estudando ovelhas da raça Hampshire Down.
O teor de lactose apresentou o menor desvio padrão, dentre os
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componentes avaliados. Segundo FREDEEN (1996), a lactose é pouco
influenciada por fatores nutricionais, estando relacionada com a produção de
leite.
A média do EST foi de 16,03% com valor mínimo de 12,33% e máximo
de 19,93%, esses resultados diferem do obtido por GUERRA et al. (2007), que
foi de 17,87%. RIBEIRO et al., (2007) obtiveram resultado semelhante ao da
presente pesquisa para o teor de EST que foi de 16,18% para ovelhas sem
aplicação de ocitocina, para o tratamento com ocitocina o EST foi maior
(17,40%). Resultados próximos aos desse experimento também foi observado
por SÁ et al. (2005) que obtiveram média de 16,63 e 16,21% para fotoperíodo
curto e longo respectivamente. Os resultados obtidos por BRITO et al. (2006)
foram de 15,42; 16,26; 15,54 e 17,81% aos sete, 30, 60 e 140 dias de
lactação respectivamente para ovelhas da raça Lacaune.
De acordo com HASSAN (1995), à medida que a produção de leite
diminui ao longo da lactação, os teores de gordura e sólidos totais aumentam.
Segundo RIBEIRO et al. (2007), o uso de ocitocina exógena no momento
da ordenha interferiu na quantidade e na qualidade do leite produzido e não
influenciou a persistência da lactação, sendo recomendado para animais não
adaptados à rotina de ordenha. Embora na presente pesquisa os animais
tenham sido ordenhados sem o uso de ocitocina os resultados obtidos foram
compatíveis com os resultados apresentados por outros pesquisadores.
Os valores mínimo e máximo do ESD foram de 8,83 e 12,22%
respectivamente, sendo que a média foi de 10,28%. Os resultados obtidos por
RIBEIRO et al. (2007) foram de 11,22 e 11,57% para ovelhas Santa Inês
tratadas sem e com ocitocina respectivamente, sendo esses valores maiores
que o resultado médio obtido na presente pesquisa. Ao pesquisar a composição
físico-química do leite de ovelhas da raça Lacaune BRITO et al., (2006)
obtiveram média de ESD de 10,50; 10,21; 10,28 e 10,74% aos sete, 30, 60 e
140 dias de lactação, sendo que aos sete e 140 dias o ESD foi ligeiramente
maior e aos 30 e 60 dias os resultados foram semelhantes ao obtido na
presente pesquisa.
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A média da CCS foi de 900 mil CS/mL, com valor mínimo de 41 mil
CS/mL e valor máximo de 6876 mil CS/mL. O resultado médio da CCS da
presente pesquisa foi maior que os resultados obtidos por BRITO et al. (2006)
que foram de 231 mil CS/mL, 50 mil CS/mL, 198 mil CS/mL e 207 mil CS/mL
aos sete, 30, 60 e 140 dias de lactação.
Não existe legislação específica para monitorar a qualidade do leite ovino
produzido no Brasil, de acordo com EL-MASANNAT (1987), o limite de células
somáticas considerado normal é de 1,0 x 106 células/mL. O resultado médio
obtido na presente pesquisa ressalta a necessidade de medidas profiláticas
para controlar a incidência de mastite no rebanho. O fato do desvio padrão ter
sido maior que a média mostra a existência de grande variabilidade da CCS no
rebanho.
É importante obter informações relacionadas à qualidade do leite ovino
devido a maior porcentagem de sólidos totais quando comparado com as
demais espécies, proporcionando, bons rendimentos na fabricação de queijos
finos, e despontando como uma atividade capaz de agregar valor aos
pequenos produtores.
4 CONCLUSÕES
Os teores de gordura e EST do leite de ovelhas da raça Santa Inês
apresentaram maior variação em relação aos demais componentes do leite,
para o teor de lactose a variação foi menor. São necessárias medidas
profiláticas para corrigir a alta incidência de mastite no rebanho.
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