UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE (PPGCSA)
INSTITUTO DO CÉREBRO (UFRN)
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
DIFERENÇAS DE GÊNERO NA PRODUÇÃO DE ASSOCIAÇÕES
LIVRES DE PALAVRAS ATRAVÉS DO CICLO SONO-VIGÍLIA
Apresentado por: João Felipe de Souza Pegado
Orientador: Prof. João Carlos Alchieri (PPGCSA/UFRN)
Co-Orientador: Prof. Sidarta Ribeiro (ICe/UFRN)
Natal, 20 de Abril de 2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE (PPGCSA)
INSTITUTO DO CÉREBRO (UFRN)
JOÃO FELIPE DE SOUZA PEGADO
DIFERENÇAS DE GÊNERO NA PRODUÇÃO DE ASSOCIAÇÕES
LIVRES DE PALAVRAS ATRAVÉS DO CICLO SONO-VIGÍLIA
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciências da Saúde – PPGCSA
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
– UFRN, como requisito para a obtenção do
título de Mestre em Ciências da Saúde.
Linha
de
Pesquisa:
Neurociências.
Orientador: Prof. João Carlos Alchieri
Co-Orientador: Prof. Sidarta Ribeiro
Natal, 20 de Abril de 2012
Saúde
Coletiva,
FICHA CATALOGRÁFICA
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,
PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Apoio ao Usuário
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN – Biblioteca Setorial do Centro de Ciências da Saúde
P376d
Pegado, João Felipe de Souza.
Diferenças de gênero na produção de associações livres de
palavras através do ciclo sono-vigília / João Felipe de Souza Pegado.
– Natal, 2012.
2af. : il.
Orientador: Prof. Dr. Prof. João Carlos Alchieri.
Co-Orientador: Prof. Dr. Sidarta Ribeiro.
Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) – Programa de
Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
1. Memória – Dissertação. 2. Gênero – Dissertação. 3.
Associação de palavras – Dissertação. 4. Ciclo sono-vigília –
Dissertação. I. Alchieri, João Carlos. II. Ribeiro, Sidarta. III. Título.
RN/UF/BSA01
CDU: 612.821.2
FOLHA DE IDENTIFICAÇÃO
TÍTULO: DIFERENÇAS DE GÊNERO NA PRODUÇÃO DE ASSOCIAÇÕES
LIVRES DE PALAVRAS ATRAVÉS DO CICLO SONO-VIGÍLIA.
Autor: João Felipe de Souza Pegado
Data da defesa: 20 de abril de 2012
Banca Examinadora:
Membro Externo: Profa Paula Tiba,
Universidade Federal do ABC
Membro Interno: Prof. John Fontenele Araújo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Co-Orientador: Prof. Sidarta Ribeiro
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Orientador: Prof. João Carlos Alchieri
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Natal, 20 de Abril de 2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE (PPGCSA)
TERMO DE APROVAÇÃO
A Banca Examinadora, constituída pelos professores abaixo listados, leram
e recomendam a aprovação da dissertação de mestrado, intitulada
“Diferenças de gênero na produção de associações livres de palavras,
através do ciclo sono-vigília”, apresentada no dia, 20 de Abril de 2012, como
requisito para a obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde.
Orientador:
_______________________________________
Prof. Dr. João Carlos Alchieri
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Co-orientador:
_______________________________________
Prof. Dr. Sidarta Ribeiro
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Membro externo:
_______________________________________
Profa Dra. Paula Tiba
Universidade Federal do ABC
Membro interno:
________________________________________
Prof. Dr. John Fontenele Araújo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais João Mariano Gomes Pegado e Maria Helena
Ribeiro de Souza, que sempre acreditaram em mim e se dedicaram para me
educar.
Aos meus filhos Lara Lectícia, Jorge Michelle e Enrico Giusseppe.
AGRADECIMENTOS
Ao Grande Espírito da Vida.
À Coordenação e Direção do Curso de Psicologia da Universidade Potiguar do
Rio Grande do Norte (UnP), Unidade Salgado Filho.
Aos alunos de Psicologia da Universidade Potiguar (UnP), que participaram
voluntariamente da pesquisa.
Ao Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(ICe/UFRN), pela disponibilização física dos equipamentos de análise.
Ao Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINNELS), pela disponibilização física dos equipamentos de análise na segunda etapa
desta pesquisa.
.
A FINEP pelo apoio financeiro (CNPq Universal).
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior (CAPES).
EPÍGRAFE
“Trabalhe, estude e ame como se estivesse brincando.
Procure, lembre dos pontos divertidos do seu trabalho, estudo e
relacionamento. Sobreponha os pontos positivos dos negativos. Mas
lembre-se também que seu trabalho, estudo e relacionamento não são
brincadeiras, dessas casuais, então trate-os com seriedade e
responsabilidade. Exerça o paradoxo: Suave e Firme!”.
Robson Feitosa
SUMÁRIO
RESUMO............................................................................................................... 12
ABSTRACT........................................................................................................... 13
1.
INTRODUÇÃO........................................................................................... 14
2.
OBJETIVO GERAL.................................................................................... 19
3.
JUSTIFICATIVA......................................................................................... 20
4.
MATERIAIS E MÉTODOS......................................................................... 22
4.1
WORDNET...................................................................................... 28
5.
MANUSCRITO (ARTIGO 1 - no prelo)....................................................... 32
6.
MANUSCRITO (ARTIGO 2 - em revisão).................................................. 42
7.
COMENTÁRIOS, CRÍTICAS, E SUGESTÕES.......................................... 60
8.
APÊNDICE................................................................................................. 61
9.
REFERÊNCIAS GERAIS........................................................................... 62
ANEXO
I
Questionário Sócio Demográfico.......................................... 68
ANEXO
II
Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE)............ 70
ANEXO
III
Escala de Sonolência EPWORTH........................................ 74
ANEXO
IV
Folha de Tarefa V-Pré (exemplo)......................................... 75
ANEXO
V
Parecer de Aprovação do CEP-UFRN................................. 76
ANEXO
VI
Declaração de Aceite do Artigo na Revista.......................... 77
ANEXO
.
VII
Artigo Impresso: Revista Neurobiologia.org......................... 79
LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AP
-
Associação de Palavras.
EEG -
Eletroencefalograma; Eletroencefalografia; Eletroencefalógrafo.
G1
-
Grupo 1 (10 indivíduos; homens e mulheres).
G2
-
Grupo 2 (10 indivíduos; homens e mulheres).
MRO -
Fase do estado cerebral do sono de movimentos rápidos dos olhos
(tradução literal em português-brasil) ou sono REM (Rapid eyes
moviment) em Inglês, conhecido como sono paradoxal, por possuir
uma atividade cortical muito semelhante ao estado da vigília.
PSG -
Polissonografia.
R1
-
Rodada 1 (primeiro momento experimental).
R2
-
Rodada 2 (segundo momento experimental).
Roget-
Dicionário de Peter Mark Roget, intitulado: "Thesaurus of English
words and phrases". Roget chamou de "thesaurus" seu dicionário de
palavras, uma vez que o termo também designa vocabulário,
dicionário ou léxico.
SOL -
Fase do estado cerebral do sono de ondas lentas (tradução literal
em português-Brasil). P.S: A sigla (N3) também é uma nomenclatura
clínica para a identificação do sono de ondas lentas no Brasil; e em
inglês é conhecida como SWS ou NREM.
Tesauro
Se origina do grego "thesaurós" e significa "tesouro ou repositório".
Tesauro é uma linguagem especializada, normalizada, póscoordenada, usada com fins documentários, onde os elementos
linguísticos que a compõem – termos, simples ou compostos,
encontram-se relacionados entre si, sintática e semanticamente.
V
Vigília.
-
V-Pré -
Vigília pré-sono
V-Pós -
Vigília pós-sono
Wordnet
Um sistema de referência léxica online cujo projeto foi inspirado em
teorias psicolinguísticas atuais sobre a memória léxica humana.
LISTAS DE FIGURAS
FIGURA
1-
Dinâmica dos Grupos Experimentais.................................... 23
FIGURA
2-
Preparação do Instrumento Experimental............................. 23
FIGURA
3-
Slide do desenho de aplicação da tarefa em grupo.............. 24
FIGURA
4-
Folha Experimental onde o estímulo ou palavra-raiz é dado ao
participante associar outras palavras.................................... 24
FIGURA
5-
Slide da segunda etapa experimental................................... 25
FIGURA
6-
Hipnograma Experimental..................................................... 26
FIGURA
7-
Slide do programa Wordnet.................................................. 29
FIGURA
8-
Ilustração da representação de uma rede semântica........... 29
FIGURA
9-
Figura 1 do primeiro manuscrito: Resultados........................ 37
FIGURA
10 -
Figura 1 do segundo manuscrito: Traçados de EEG............ 47
FIGURA
11 -
Figura 2 - segundo manuscrito: Hipnograma........................ 49
FIGURA
12 -
Figura 3 - segundo manuscrito: Gráfico................................ 50
FIGURA
13 -
Figura 4 - segundo manuscrito: Gráficos dos Resultados.... 51
FIGURA
14 -
Figura 5 - segundo manuscrito: Gráficos dos Resultados.... 52
FIGURA
15 -
Figura 6 - segundo manuscrito: Gráfico dos Resultados...... 53
12
RESUMO
Embora diversos estudos demonstrem diferenças no desempenho
cognitivo, entre homens e mulheres, ainda não se sabe se essas diferenças
ocorrem em tarefas que envolvam associação livre de palavras (AP). Estudos
através do ciclo sono-vigília (CSV) sugerem que o sono de movimento rápido dos
olhos (MRO) favoreça a flexibilidade semântica, em comparação com a vigília présono (V-Pré), o sono de ondas lentas (SOL) e a vigília pós-sono (V-Pós). O
presente trabalho teve 2 objetivos: (1) Avaliar as distâncias semânticas de pares
de palavras produzidas por AP, comparando homens e mulheres; (2) Avaliar
distâncias semânticas em palavras produzidas por associação livre, através do
CSV em adultos jovens de ambos os sexos. Para alcançar o objetivo (1),
aplicamos uma tarefa de AP em 68 voluntários adultos durante a vigília (52
mulheres e 16 homens). A tarefa de AP consistiu em listar por escrito a primeira
palavra pensada após visualizar outra palavra oferecida como estímulo. Para
alcançar o objetivo (2), realizamos registro polissonográfico para identificar fases
específicas do CSV. Os sujeitos experimentais foram então despertados (caso
estivessem em sono) e foram imediatamente submetidos a uma tarefa de AP.
Administrou-se a tarefa de AP a 2 grupos de 10 pessoas cada (G1 e G2). Sujeitos
de G1 foram estimulados com o mesmo conjunto de palavras-raiz após despertar
dos diversos estados do CSV, enquanto que sujeitos de G2 receberam conjuntos
de palavras-raiz diferentes a cada estado do CSV. Na ausência de um corpus em
português adequado para à mensuração de distancias semânticas, as palavras
coletadas foram traduzidas para o idioma inglês, e semanticamente quantificadas
em um corpus representativo e sistemático desse idioma (Wordnet). Esse
procedimento retirou as polissemias típicas do português, mas preservou a
macroestrutura semântica comum às duas línguas. Na vigília, verificamos que as
distâncias semânticas são significativamente menores nas AP produzidas por
mulheres, em comparação com as distâncias semânticas verificadas em AP
realizadas por homens. Através do CSV, não foram detectadas diferenças
estatisticamente significativas em G1. Em mulheres de G2, detectamos um
aumento significativo das distâncias semânticas após despertar de SOL. Em
contraste, homens de G2 apresentaram um aumento significativo das distâncias
semânticas após despertar de MRO. Os resultados do primeiro experimento são
compatíveis com a noção de que as mulheres possuem um raciocínio mais
concreto do que homens. Os resultados do experimento 2 indicam que homens
despertados durante o MRO apresentam AP mais flexíveis em comparação com
as AP produzidas após vigília ou após despertar de SOL. Mulheres apresentaram
resultados distintos, com AP mais flexível após despertar de SOL, em
comparação com os outros estados. Os resultados indicam que a flexibilidade
cognitiva atribuída a diferentes estados do CSV apresenta dependência de
gênero.
Palavras - chaves: Associação de Palavras, Ciclo sono-vigília, Memória, Gênero.
13
ABSTRACT
Although several studies, have shown differences in cognitive performance
between men and women, it not yet known whether these differences occur in
tasks involving free association of words (WA). Studies across the sleep-wake
cycle (SWC) suggest that rapid eye movement sleep (REM) favors semantic
flexibility, in comparison with pre-sleep waking (Pre-WK), slow-wave sleep (SWS)
and post-sleep waking (Post-WK). The present work has two aims: (1) to evaluate
the semantic distances of word pairs produced by AP, comparing men and
women, (2) to evaluate semantic distance in word pairs produced by free
association across the SWC in young adults of both sexes. To achieve aim (1), we
applied a task of WA in 68 adult volunteers during waking (52 women and 16
men). The WA task consisted of writing the first word that came to mind after
viewing another word offered as a stimulus (root Word). To achieve aim (2), we
performed polysomnography to identify specific stages of the SWC. The
experimental subjects were then awakened (if they were asleep) and were
immediately given a WA task. The task was administered to 2 groups of 10
subjects each (G1 and G2). G1 subjects were stimulated with the same set of root
words after waking from various states of SWC, while G2 subjects received sets of
different root words at each state of the SWC. In the absence of a Portuguese
corpus suitable for the measurement of semantic distances, the words collected in
our experiments were translated to English, and semantically quantified within a
systematic and representative corpus of that language (Wordnet). This procedure
removed the polysemies typical of Portuguese, but preserved the semantic macrostructure common to both languages. During waking, we found that semantic
distances are significantly lower in WA produced by women, in comparison with
the distances observed in men. Through the SWC, there were no statistically
significant differences in G1. In G2 women, we detected a significant increase of
semantic distances upon being awakened from SWS. In contrast, G2 men showed
a significant increase in semantic distances upon being awakened from REM. The
results of the first experiment are consistent with the notion that women have a
more concrete reasoning than men. The results of the second experiment indicate
that men awakened from REM present more flexibility in word association than
when being awakened from other states. In contrast, women showed more flexible
word association after being awakened from SWS, in compared with other states.
The results indicate that the cognitive flexibility attributed to different states of the
SWC shows gender dependency.
Keywords: Words Association, Wake Sleep Cycle, Memory, Gender.
14
1. INTRODUÇÃO
Em busca de compreender os processos cognitivos da mente, as palavras
têm sido amplamente utilizadas por pesquisadores como ferramenta de
investigação, em função da facilidade de sua manipulação e familiaridade nas
atividades humanas (Janczura, 2005 apud Barsalou, 1982). Estima-se que um
adulto normal tem conhecimento passivo de cerca de 50.000 palavras e, ainda
assim, pode reconhecer e produzir cerca de três palavras por segundo, sem
qualquer dificuldade. Um conceito central para a representação das palavras no
cérebro é chamado de léxico mental que inclui informação semântica (o
significado da palavra), sintática (como as palavras são combinadas para formar
uma sentença) e os detalhes das formas das palavras (como são pronunciadas e
qual o seu padrão de som) (Gazzaniga, 2006 p-370).
O léxico mental é necessário porque sem ele, a produção lingüística seria
longa e laboriosa e não poderia representar com precisão os pensamentos. Uma
analogia que é frequentemente usada para ilustrar o conceito de léxico mental é a
de um sofisticado dicionário (Fellbaum, 1998). As teorias sobre o léxico mental,
tentam explicar os padrões e regularidades que fundamentam o conhecimento
das pessoas sobre o uso das palavras. Dois tipos de tarefas têm sido usadas para
fazer isso - são as tarefas de categorização semântica e de decisão lexical
(Sánchez-Casas, D., & García-Albea, 1992).
Para compreendermos melhor, o Léxico mental é organizado na forma de
redes de informações específicas, subdividido em três níveis (Treisman, 1961).
Um conjunto menor de estruturas neuronais, geralmente situadas no hemisfério
esquerdo, representa os fonemas (Nível Lexema), suas combinações e as regras
15
sintáticas de ordenação destas palavras em frases (Nível Lema). Outro conjunto,
também presente no hemisfério esquerdo, produz palavras a partir do nível
conceitual (Costa, 2008). Uma questão importante em linguística, filosofia e
ciência do cérebro, é como este conteúdo conceitual na mente desempenha um
papel de mediador entre a forma da palavra e as características do seu
significado (Sigman, 2001 apud Chomsky, 1988). Acreditamos que estudar como
as palavras se organizam, armazena, recupera e manipula a informação no
cérebro, proporciona uma ampla janela de investigação científica.
Durante o discurso, seja falado ou escrito, essas tarefas são coordenadas
para concatenar as idéias, o que pode gerar um repertório infinito de conceitos a
partir do conhecimento de cada indivíduo. Outro fenômeno da vida cotidiana
sugere que há uma ordem no espaço das palavras e é quase que um mecanismo
espontâneo associarmos uma palavra por outra. Quando ouvimos uma palavra,
algumas associações, na verdade, são quase inevitáveis. Quando nos
confrontamos com a palavra BRANCO, todos nós, quase sempre, iremos pensar
na palavra PRETO de imediato. Quando lemos uma palavra, outras palavras
aparecerão naturalmente na mente, em função de suas relações semânticas, por
exemplo: “neste momento escrevo a palavra VAPOR e penso imediatamente em:
BARCO, MÁQUINA, TREM, MOTOR”. Ao escutar uma palavra, outras palavras
aparecerão naturalmente na mente, em função de suas relações semânticas
(Costa, 2008).
Podemos considerar a linguagem enquanto fenômeno de um sistema
complexo e um sistema adaptativo, aberto – aonde novos elementos serão
agregados, fazendo com que o sistema se modifique e se auto-organize (Teixeira,
2007). Portanto, a linguagem pode ser definida como um sistema complexo e
16
dinâmico de símbolos convencionais, usados de várias maneiras para pensar e
comunicar (Teixeira, 2007 apud Tabith Júnior, 2005, p.18).
Segundo Vygotsky, (1987):
“o pensamento verbal é um processo mental dinâmico e complexo, onde o
seu desenvolvimento segue um caminho complexo e se interconectam,
interagem vários elementos contendo variações abundantes e movimentos
de caráter progressivo e regressivo incontáveis de caminhos ainda
desconhecidos” (Paiva, 2005 apud Vygotsky, 1987).
E como a linguagem oral e escrita é mediada por palavras, percorrendo
apenas um destes caminhos desconhecidos para enunciar o conhecimento
subjetivo, o fenômeno da linguagem pode ser considerado um sistema complexo
que faz parte de outro sistema complexo ainda maior - o ambiente cérebro-mente
(Teixeira, 2007). Uma das características indicativas de um sistema complexo
pode ser determinada a partir da distribuição de frequência dos seus
componentes a fim de classificar esta distribuição como normal ou se ela segue
uma lei de potência (Teixeira apud Caldeira, 2005). Segundo Caldeira, 2005:
“Têm-se a evidência da correlação entre linguagem e sistemas complexos, onde o
conceito de redes complexas pode modelar a linguagem” (Teixeira, 2007).
Em termos psicolinguísticos, segundo Westbury, (1998):
“as palavras concretas ativam uma estrutura representada na memória
com maior intensidade do que as palavras abstratas, sendo mais fáceis de
acessar e lembrar, sendo menos vulneráveis a danos cerebrais do que as
palavras abstratas”.
17
A concretude de uma palavra relaciona-se à experiência ou referência
sensorial. Palavras concretas são mais propensas a produzir imagens mentais,
por isso são mais facilmente lembradas (Nelson & Schreiber, 1992; Sadoski,
1997). De acordo com Bleasdale (1987): “Estudos sobre memória, têm
corroborado que palavras concretas possuem vantagens em relação as palavras
abstratas, tendo, a concretude da mesma, influenciado de forma positiva no
processo de decisão lexical” (Salles, et al., 2008). Esse fato pode ser explicado
pela maior probabilidade em que palavras concretas possam ser mais facilmente
acessadas, devido a diferenças existentes nos mecanismos do processamento
lexical em relação às palavras abstratas (Janczura et al., 2007).
Para Toren (2000), estilos cognitivos possuem diferentes conceitos,
mensurados desde o século XIX, como os trabalhos de Sperman (1904), onde o
pressuposto teórico aponta, para uma proposta de classificação dos estilos
cognitivos entre, uma inteligência rígida ou cristalina a partir de um modelo ‘fluido’
ou flexível da cognição cerebral. Já Nielson et. al., 1999, pressupõem que o
sonhar é um processo que está fortemente relacionado com os movimentos
oculares rápidos dos olhos, e que após o despertar deste estado, tem sido
associado uma maior expressão criativa na execução de tarefas (Been, 1997).
Matthew Walker (2002), investigando as diferenças na flexibilidade cognitiva e
usando jogos de anagramas, durante o estágio da vigília, seguido do despertar
noturno no sono de ondas lentas (SOL) e do movimento rápidos dos olhos (MRO)
ou sono REM, tem-se a hipótese de que no sono MRO (existindo sonho), pode
haver maior facilidade de resposta relacionada a memória (Broughton, 1982), na
eficiência das capacidades cognitivas, oferecendo novas perspectivas sobre a
18
hiperassociatividade e os processos criativos, do que no estado do sono REM,
onde não houve o sonho (Walker, 2002 apud Gaines, 1990; Mazzarello, 2000).
Neste estudo, os pesquisadores testaram as capacidades de resolução de
uma tarefa através do jogo de anagramas, e viram que elas diferem
significativamente ao longo do ciclo sono-vigília. Seus resultados mostram que
após o despertar
de
sono MRO, este estado cerebral proporciona uma
vantagem de 32% sob o número de anagramas resolvidos corretamente, em
comparação com o sono de ondas lentas (SOL), sendo igualmente observado na
vigília. No entanto, não foram observadas diferenças significativas entre tempo
de reação para a solução do problema (Walker, 2002).
Já o estudo de Sara Mednick et. al., 2009 postula que o sono MRO pode
facilitar a formação de novas associações cognitivas, pressupondo que o sonhar,
seja um evento modificador do processamento neural, e que estas correlações no
desempenho do ciclo sono-vigília (CSV) dos perfis individuais, sugere que esta
fase do sono, ofereça outra condição no modo de resolver problemas em
comparação com a Vigília (V) e o sono de ondas lentas (SOL), reforçando a
integração dos mecanismos cerebrais, facilitado pela neuromodulação colinérgica
e noradrenérgica durante o sono MRO.
Sabe-se que durante a vigília, os níveis mais elevados de noradrenalina e
acetilcolina inibem conexões recorrentes no neocórtex. Durante o sono MRO, no
entanto, altos níveis da acetilcolina no hipocampo suprimem o feedback para o
neocórtex, enquanto que os níveis mais baixos de acetilcolina e norapinefrina no
neocórtex pode facilitar a dispersão da atividade dentro das áreas neocorticais
(Medinik, 2009 apud Hasselmo, 1999). Isto é apoiado por evidências
comportamentais de amnésia onde a ativação dessa rede associativa durante o
19
sono é atvada independente das estruturas do lobo temporal medial e pode refletir
a reativação das lembranças remotas que são menos dependente do hipocampo
(Medinik, 2009 apud Stickgold, 2000). Para observar parte destas questões, em
nosso estudo, adotamos o método de associação livre de palavras (AP) que foi
iniciado por Francis Galton em 1883, e consiste em listar, de forma escrita ou oral,
as primeiras palavras que vêm à mente ao visualizar ou escutar uma palavra
apresentada (Costa, 2008; Nelson et al., 2005).
Sigmund Freud e Joseph Breuer foram os primeiros a utilizar associações
de palavras (AP) clinicamente (Costa, 2008 apud Breuer, 1957), com pacientes
portadores de transtorno depressivo e histeria. Carl Gustav Jung realizou um
esforço paralelo de estudo da AP, inicialmente com viés mais básico do que
clínico. Jung (1904-1907) teorizou que os sentimentos, conceitos, experiências e
comportamentos, estão agrupados no inconsciente por meio de associações.
Chamou a isto de “Grupos Complexos”, idealizando um método para diagnosticar
diferentes patologias (Costa, 2008 apud Jung, 1904-1907). Através do método de
AP aqui adotado, quantificamos as distâncias semânticas entre as palavras
livremente associadas, na tarefa, analisando-as através do ciclo sono-vigilia
(CSV), verificando possíveis diferenças no processamento neural cognitivo das
dinâmicas psicológicas dos distintos estados cerebrais do CSV, de homens e
mulheres, adultos jovens, saudáveis, e entre os gêneros (eles).
2. OBJETIVO

Analisar as distâncias semânticas produzidas por Associação Livre de
Palavras (AP), entre homens e mulheres através do CSV.
20
3. JUSTIFICATIVA
Existe uma variedade de trabalhos publicados com listas de palavras
associadas. A psicologia cognitiva e a neurolingüística, busca compreender a
linguagem, entre outros temas, o conhecimento conceitual, como é o caso do
estudo de Hampton e Gardiner em 1997, bem como o estudo do processamento
léxico semântico, de Shelton (2001). Destacam-se também os trabalhos de
Nelson, Schreiber, & McEvoy, (1992), os índices de normas associativas, como
força de associação e tamanho do conjunto, que “demonstra” a forma como o
conhecimento semântico é organizado e representado na memória (Macizo,
2000); os trabalhos de memória e linguagem na área da Psicologia Cognitiva,
Neuropsicologia e Neurolinguística, de Rapp & Goldrick (2006); os que relacionam
estes processos cognitivos, através do estudo das palavras, como é o caso, das
associações de palavras para o paradigma de associados convergentes ou DRM
(Deese-Roediger-McDermott) de Stein e Pergher (2001) e Pimentel (2001); as
normas de associação para palavras de Janczura (1996; 2005); as normas de
frequência de ocorrência de palavras, de Pinheiro (1996); e as normas de
associação semântica para 88 palavras do português brasileiro, de Salles (2008).
As redes hierárquicas apresentadas por Collins e Quillian (1969) é um
exemplo de proposta teórica sobre a organização das redes semânticas de
palavras. Contudo, os modelos de redes semânticas também têm incorporado
técnicas e conceitos provenientes da área da informática e da computação
(Teixeira, 2008 apud Albert & Barabási, 2004; Ferrer-i-Cancho & Solé, 2001).
Estudos de análises computacionais, como a análise de grafos vêm sendo
realizados sobre as associações de palavras (Steyvers & Tenenbaum, 2005).
Entretanto, a utilização deste tipo de análise no fenômeno das associações é
21
ainda recente. Segundo Coronges (2007; 2009): “há poucos estudos sobre o
desenvolvimento dessas associações”. Percebe-se que a variabilidade de tarefas
de avaliação e os diferentes delineamentos de pesquisa têm levado a resultados
distintos (Jerger, 2002; Little, 2004; Rönnlund, 2005; Sauzéon, 2004). Ao se fazer
uso da tarefa de associação de palavras o panorama de resultados também tem
se mostrado diversificado, pois não apontam diferenças entre os gêneros, embora
demonstrem diferenças em relação às idades (Burke & Peters, 1996; Hirsh &
Tree, 2001; Macizo et al., 2000) (Teixeira, 2007).
Embora a literatura aponte diferenças específicas entre as diversas
habilidades
cognitivas,
não
há
elementos
concretos,
por
exemplo,
de
diferenciação entre os sexos, tanto em relação ao Fator G (que é um fator
quantitativo, comum e presente em todas as funções cognitivas do homem - o
raciocínio e a inteligência); bem como em testes de raciocínio numérico,
capacidades verbais e visuo-espaciais (Flores-Mendonza, 2000).
Não encontramos estudos que correlacionam de fato o estudo das
associações de palavras com os distintos estados cerebrais do ciclo sono-vigília.
Não obstante, como não conhecemos se existem diferenças cognitivas entre
homens e mulheres, através de um teste direto de associação livre de palavras
(AP), adaptado ao modelo de Galton (1879; 1883) por Costa (2008), tornamos
possível esta investigação. Observar possíveis dinâmicas psicológicas do
pensamento através da AP, medidas e categorizadas entre palavras concretas e
abstratas, durante o ciclo sono-vigília (CSV), sob a hipótese de observar possíveis
diferenças nestas dinâmicas. Como permanecia por ser feito um teste direto de
AP, o presente trabalho estabeleceu um banco de dados gerado das distâncias
22
semânticas entre as palavras, para avaliar e quantificar a existência de alguma
diferença.
4. MATERIAIS E MÉTODOS
Para atingir o objetivo proposto nesta pesquisa, utilizamos a metodologia
de associação livre de palavras, aplicada em grupo de indivíduos sadios e
individualmente. A análise dos dados foi quantificada por um sistema estatístico
de redes semânticas, chamado Wordnet, como parâmetro para que pudéssemos
medir as possíveis diferenças nas dinâmicas psicológicas já mencionadas.
Na primeira etapa da pesquisa, aplicamos uma tarefa de AP em 68
voluntários adultos (52 mulheres e 16 homens), recrutados aleatoriamente em
uma instituição de ensino superior, do Rio Grande do Norte-RN, Brasil, a
Universidade Potiguar (UNP), mediante interesse dos mesmos. Dessas amostras
independentes, conseguimos formar 17 grupos de 4 indivíduos cada (entre
homens e mulheres). A tarefa de AP consistiu em listar por escrito a primeira
palavra pensada após visualizar outra palavra oferecida como estímulo, em uma
folha de papel, contendo 24 espaços para serem listadas com as associações do
grupo formado. Em resumo, a sequencia do experimento foi à seguinte: 1) Os
voluntários leram uma palavra-raiz (método organizado por costa, 2008); 2)
escreveram a primeira palavra que lhes veio à mente; 3) quando cada voluntário
terminou de escrever sua resposta no espaço adequado, as folhas foram
passadas para o vizinho em sentido horário e assim sucessivamente até que
todos os espaços de cada coluna fossem preenchidos, completando uma rodada,
ou seja, a palavra associada pelo primeiro indivíduo serviu de estímulo-raiz para
23
seu vizinho e assim sucessivamente (em torno de uma mesa). Foram coletadas
3.264
associações
de
palavras
compreendendo
substantivos,
adjetivos,
advérbios, pronomes e verbos. Palavras compostas e nomes próprios foram
excluídos e considerados margem de erro.
FIGURA. 1 Modelo do Desenho Experimental aplicado a 68 sujeitos divididos em 17
grupos de N4 indivíduos na Vigília (V). Sujeito N1, N2, N3, N4, homens e mulheres,
recebem uma tarefa de associação de palavras em duas rodadas (R1 e R2) que
acontece em sentido horário ao redor de uma mesa. São associadas 48 palavras por
indivíduo, totalizando a coleta de 192 palavras por grupo, gerando um total de 3264
palavras associadas.
24
FIGURA. 2 Preparação do Instrumento Experimental: pegamos uma folha de papel A4,
dobramos ao meio, verticalmente. Em cada lado da folha, temos 24 espaços para serem
preenchidos pelas associações de palavras. Acima de todos os espaços, uma palavraraiz é oferecida como estímulo aos voluntários. Cada participante do grupo recebe uma
folha dentro de um envelope, que será revelada ao início da tarefa.
25
FIGURA. 3 Exemplo real da dinâmica dos grupos experimentais ao resolverem a
tarefa de associação livre de palavras. Espaço físico cedido pela instituição
(Universidade) sediadora da primeira etapa da pesquisa (UNP).
FIGURA. 4 Folhas experimentais em que o estímulo ou palavra-raiz é dado ao
participante associar outras palavras que lhes vem a mente.
26
Na segunda etapa experimental, determinamos um desenho experimental
para
a
aplicação
da
tarefa
em
conjunto
com
a
monitoração
por
eletroencefalografia (EEG), que nos permitiu monitorar o ciclo sono-vigília do
indivíduo. Delineamos o experimento, aplicando uma tarefa de AP em todas as
fases do ciclo sono-vigília, da seguinte forma: 1º) A primeira tarefa foi aplicada na
vigília pré-sono do sujeito (V-Pré); 2º) Logo após 10 minutos de permanência do
sujeito no primeiro sono de ondas lentas (SOL); 3º) Após 10 minutos de
permanência no sono MRO (movimentos rápidos dos olhos ou sono paradoxal;
sono REM); 4º) No término do ciclo-sono do indivíduo, cronometramos os
primeiros 30 minutos do despertar total do sono (Pós-Sono), onde o mesmo
permaneceu sob a monitoração do EEG, como medida para se certificar de que
realmente o sujeito continua acordado de fato, após uma noite de sono,
caracterizando a vigília pós-sono (V-Pós).
2ª. ETAPA EXPERIMENTAL
EEG
PRÉ-SONO / SWS / REM / PÓS-SONO
Voluntário
FIGURA. 5 Exemplo da segunda etapa experimental, onde o sujeito dormindo, está
sendo monitorado por eletroencefalografia (EEG). Durante o ciclo sono-vigília (CSV),
fases do sono são interrompidas pelo despertar e aplicadas tarefa de AP.
27
1° Tarefa Vigília Pré-sono (V-Pré)
V
4° Tarefa Vigília Pós-sono (V-Pós)
s ono REM
30 min V-Pós
REM 3° Tarefa
N1
-
N2
-
2° Tarefa
1° SWS3
SWS3 10 min
FIGURA. 6 Representação “hipnográfica” do momento exato da aplicação da tarefa
(estabelecida pelo grupo) ou desenho de aplicação da tarefa experimental no CSV.
Primeira tarefa de associação de palavras aplicada no pré-sono (V-Pré); Segunda tarefa
aplicada após 10 minutos de permanência no primeiro sono de ondas lentas (SOL3) do
sujeito; Terceira tarefa aplicada após 10 minutos de permanência do sujeito no sono
MRO; Quarta tarefa aplicada após 30 minutos do despertar total do sono (V-Pós).
A segunda fase experimental os indivíduos não precisaram ler os estímulos
de palavras e logo após listá-las, como os sujeitos dos grupos da primeira etapa
procederam, mas ao invés disto, ouviram as palavras-estímulo, e imediatamente
emitiram verbalmente como resposta, a primeira palavra associada que lhes
viesse à mente. Os indivíduos permaneceram deitados em quarto escuro, no
laboratório do sono, sem precisar se mexer ou mudar a postura de repouso.
Apenas confirmaram seu despertar para a realização da tarefa. Dos 68
participantes da primeira etapa experimental (vigília em grupo), 20 sujeitos, entre
homens e mulheres, se predispuseram voluntariamente a participar da segunda
etapa da pesquisa (ciclo sono-vigília). Todos os voluntários, antes de receberem a
primeira tarefa, responderam um questionário clínico chamado “Escala de
sonolência de Epworth” na vigília Pré-sono (Tabela 1 em Material Suplementar do
Manuscrito 2; Modelo em Anexo), composta por uma série de perguntas-chave,
que são amplamente utilizadas para ver como o sono afeta a vida diária,
através da probabilidade de adormecer em determinadas situações.
28
4.1
WORDNET
Com o advento da computação, permitiu-se avançar no estudo quantitativo
das associações de palavras, priorizando a proximidade semântica através da
extração das regularidades estatísticas de co-ocorrências desses palavras num
corpus textual (Lund et al., 1996; Speck, 1994). Na ausência de um corpus em
português adequado para a mensuração das distancias semânticas, as palavras
coletadas (dados experimentais) foram traduzidas do português para o idioma
inglês, e semanticamente quantificadas em um corpus representativo e
sistemático desse idioma o “Wordnet”. Este modelo de rede semântica foi
desenvolvida a partir de 1985 na Universidade de Princeton por George Miller e
colegas (Fellbaum, 1998; Miller, 1995) e é de certa forma análoga ao Dicionário
de
Roget (Dodebei,
2002),
mas foi
inspirada
na
teoria
moderna
da
psicolinguística. O Wordnet é um tesauro - também conhecido como dicionário de
ideias afins. É uma lista de palavras com significados semelhantes, dentro de um
domínio específico de conhecimento (Currás, 1995), disponível por enquanto
apenas para a língua inglesa, contendo substantivos, verbos, adjetivos e
advérbios. A classe dos substantivos, sem dúvida a mais numerosa, é organizada
em classes de substantivos sinônimos. É um sistema público, que supre essa
necessidade de estabelecimento do significado preciso, ou semântico, para
conceitos simbolizados.
Por volta de outubro de 1998, o sistema continha mais de 91600 conjuntos
de sinônimos. Atualmente, a rede contém mais de 120.000 formas de palavras as palavras simples e colocações e mais de 99.000 significados de palavras. A
ligação básica na rede está entre as formas da palavra e os significados da
29
palavra. Várias formas de palavras estão conectadas ao vértice do significado de
uma simples palavra se às formas da palavra são sinônimas. Uma forma da
palavra é conectada a vários significados se ela é uma polissemia (é a qualidade
da palavra que tem mais de um significado – por ex: a palavra manga), (Navega,
2004). A forma da palavra pode estar conectada através de uma variedade de
relações tais como antônimos. Os vértices que contém o significado da palavra
estão conectados com relações tais como, hiperônimos/hipônimos (a derivação
hierárquica das palavras, por ex: Pau-Brasil é uma árvore) e merônimos (as
“partes” associadas ao sentido de uma palavra - por ex: pássaro tem pena).
Apesar, destas relações, serem direcionadas, elas podem ter duas ou mais
direções, ou seja, uma palavra pode levar à outra (Navega, 2004).
Essas relações, juntamente com os conjuntos de sinônimos, formam um
grafo de relacionamentos que é usado para definir a semântica de cada conceito,
e as relações entre conceitos distintos (Miller, 1990). Esse sistema está sendo
muito usado como apoio a processamento semântico de informação, como por
exemplo, em interfaces que utilizem linguagem natural para permitir a
comunicação cérebro máquina (Teixeira, 2008).
A base de dados do sistema é fixa, e para incluir nela novos termos
relativos, por exemplo, a novas áreas de aplicação, é necessário que os autores
do sistema original gerem todos os arquivos novamente, a partir dos arquivos
originais, incluindo os novos termos. Ou seja, em termos práticos, é impossível
usar o sistema em aplicações que não sejam exclusivamente de processamento
da língua inglesa. Isso limita seu uso numa grande variedade de situações em
que seria útil e factível utilizá-lo. Nesta relação o sistema Wordnet mostra a
hierarquia da palavra como um nome. O programa também mostra todos os
30
significados que o nome possui e para cada um deles existe uma frase explicativa
entre parênteses. O Wordnet permite que o usuário conheça diversos tipos de
relações entre o termo procurado e outros termos diversos e a hierarquia
semântica da palavra é apenas uma destas relações.
FIGURA. 7 Imagem da tela de um computador, mostrando a janela do programa
WNconnect 1.7.1 realizando uma associação de palavra como exemplo: à direita 1º)
calcula as relações semânticas entre os significados léxicos de cada palavras; 2º) calcula
todas as redes semânticas, formada por ‘nodos’; 3º) o número de ‘nodos’ visitados em um
único caminho é a frequência da distancia semântica entre uma palavra a outra. 4º)
quantifica as soluções ou caminhos percorridos que conectam uma palavra a outra, em
forma de grafos (no canto esquerdo da tela).
31
FIGURA. 8 Ilustração como exemplo, da representação de uma rede semântica da
normalidade mental. Fonte: Coelho, 2005.
32
5. MANUSCRITO No 1 (Publicado)
DIFERENÇAS COGNITIVAS ENTRE HOMENS E MULHERES
NA PRODUÇÃO DE ASSOCIAÇÕES LIVRES DE PALAVRAS
1,2,4
Pegado, J.F., 1,3,4 Mota-Rolim, S.A.,1,3 Ribeiro, S.,* 2 Alchieri, J.C.
1 - Instituto do Cérebro, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN.
2 - Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde, UFRN.
3 - Programa de Pós Graduação em Psicobiologia, UFRN.
4 - Laboratório do Sono do Hospital Universitário Onofre Lopes, UFRN.
*Autor de Correspondência.
Resumo
Introdução: Embora diversos estudos demonstrem diferenças no desempenho
cognitivo, entre homens e mulheres, ainda não se sabe se essas diferenças
ocorrem em tarefas que envolvam associação livre de palavras (AP). Objetivo:
Avaliar as distâncias semânticas de palavras produzidas por AP entre homens e
mulheres. Método: Aplicamos uma tarefa de AP em 68 voluntários adultos (52
mulheres e 16 homens). A tarefa de AP consistiu em listar por escrito a primeira
palavra pensada após visualizar outra palavra oferecida como estímulo. Na
ausência de um corpus em português adequado para à mensuração de distancias
semânticas, as palavras coletadas foram traduzidas para o idioma inglês, e
semanticamente quantificadas em um corpus representativo e sistemático desse
idioma (Wordnet). Esse procedimento retirou as polissemias típicas do português,
mas preservou a macroestrutura semântica comum às duas línguas. Resultados:
Na vigília, verificamos que as distâncias semânticas são significativamente
menores nas AP produzidas por homens, em comparação com as distâncias
semânticas verificadas em AP realizadas por mulheres. Conclusão: Os
resultados são compatíveis com a noção de que as mulheres possuem um
raciocínio mais abstrato do que homens.
Palavras-Chave: distância semântica, diferença de gênero e wordnet.
33
1.
Introdução
O método de associação livre de palavras (AP) foi criado por Francis
Galton em 1883, e consiste em listar, de forma escrita ou oral, as primeiras
palavras que vêm à mente ao visualizar ou escutar uma palavra apresentada (1).
Quando lemos uma palavra, outras palavras aparecerão naturalmente na mente,
em função de suas relações semânticas, por exemplo: “neste momento escrevo a
palavra VAPOR e penso imediatamente em: BARCO, MÁQUINA, TREM,
MOTOR” (2). Sigmund Freud e Joseph Breuer foram os primeiros a utilizar a AP
clinicamente em pacientes com transtorno de depressão e histeria (3). Carl Jung
realizou um esforço paralelo de estudo da AP, inicialmente com viés mais básico
do que clínico. Jung teorizou que os sentimentos, conceitos, experiências e
comportamentos, estão agrupados no inconsciente por meio de associações.
Chamou a isto de “Grupos Complexos”, idealizando um método para diagnosticar
diferentes patologias (1, apud 24). Desde então, a AP tem sido amplamente
utilizada pela psicologia, para compreender a organização do pensamento
humano.
Em décadas recentes, o advento da computação permitiu avançar no
estudo quantitativo das AP. Um avanço importante foi a possibilidade de calcular
regularidades estatísticas de co-ocorrência de palavras em grandes bases de
dados linguísticos, gerando espaços semânticos de alta dimensionalidade a partir
de matrizes de co-ocorrência lexical (4). A principal premissa desse método é que
a proximidade semântica entre duas palavras pode ser extraída das regularidades
estatísticas de co-ocorrências dessas palavras num corpus textual. Vizinhos
próximos no espaço destas co-ocorrências correspondem a significados
semelhantes e menor tempo de reação numa tarefa de associação semântica (4).
O corpus textual mais utilizado em pesquisa é o Wordnet, um banco de dados em
inglês desenvolvido ao longo de várias décadas por George Miller (6). No
Wordnet, as palavras estão agrupadas em conjuntos de sinônimos para distintos
conceitos, que por sua vez estão interligados por relações semânticas e lexicais.
O Wordnet contém mais de 166.000 formas de palavras. A conexão fundamental
na rede ocorre entre as formas da palavra e os significados da mesma. A forma
da palavra pode estar conectada através de uma variedade de relações tais como
34
sinônimos e antônimos. Os vértices que contêm o significado da palavra estão
conectados na relação com hiperônimos, hipônimos e merônimos (7; 9).
Uma investigação pioneira da estrutura do Wordnet revelou que a retirada
das ligações polissêmicas, isto é, das relações com múltiplos significados, altera a
estrutura do tipo “mundo pequeno” que caracteriza a linguagem natural,
aumentando as distancias semânticas entre as palavras (26). Mais recentemente,
um experimento foi realizado para investigar quantitativamente a relação entre
associação livre de palavras e texto escrito (8). Outro experimento teve por base
um jogo de associação de palavras implementado na internet, em que a palavra
associada por um jogador servia de raiz para uma nova associação de outro
jogador. Os pesquisadores verificaram que as associações naturalmente
realizadas pelos jogadores possuem características estatísticas de lei de
potencia, indicando que associações semânticas distantes (e, portanto raras) são
mais frequentes do que o esperado se o processo fosse aleatório (2; 10).
Um dos conceitos centrais para a representação das palavras no cérebro é
um léxico mental sem conteúdo fixo, pois velhas palavras podem ser esquecidas
e novas palavras precisam ser aprendidas. O léxico mental é organizado na forma
de redes de informações específicas para formas de palavras (nível lexema), para
as propriedades gramaticais das palavras (nível lema) e as especificações
semânticas das palavras ou nível conceitual (11). A denominação ‘léxico mental’
foi utilizada pela primeira vez por Anne Marie Triesman em 1961, para designar
um estoque de conhecimento, funcionando como um dicionário mental, que
permite o acesso às formas escritas e orais de palavras e seus significados (5).
No léxico mental, a aprendizagem perceptual, a codificação e a recordação
de informações aprendidas, estão envolvidas numa seleção de entradas
adequadas que transmitem informações sobre o estímulo, que são discriminados
pela interação entre diversas áreas do córtex e da modulação de circuitos
intrínsecos, por meio de conexões de retroalimentação. Anomalias nessas
interações estão associadas com distúrbios de comportamento, incluindo a
esquizofrenia (12). Segundo Walker (13), pacientes com patologias no lobo frontal
apresenta dificuldades na resolução de problemas durante a vigília, sugerindo que
esta habilidade depende dessa região.
O estudo aqui apresentado avalia possíveis diferenças no processamento
neural cognitivo entre homens e mulheres através de AP. Na literatura, testes de
35
quociente de inteligência (QI) mostram que as diferenças entre homens e
mulheres são mínimas (14; 15). Embora existam diferenças específicas entre as
diversas habilidades cognitivas, não há elementos de diferenciação entre os
sexos, tanto em relação ao fator g (inteligência geral), como em testes de
raciocínio numérico, capacidades verbais e visuo-espaciais (15; 16; 17). Não
obstante, ainda não se investigou se existem diferenças de gênero na AP. O
experimento descrito nesse artigo teve o propósito de investigar diretamente essa
questão.
2.
Materiais e Métodos
2.1
Participantes
Foram investigados 68 indivíduos saudáveis, graduandos de Psicologia em
uma instituição de ensino superior do Rio Grande do Norte (RN) – Brasil, com
idade entre 18 e 43 anos (23,9 ± 5,7). Este estudo obteve anuência do Comitê de
Ética em Pesquisa UFRN (CEP 009/10-P). Não houve relato de ocorrências
clínicas como distúrbios do sono esquizofrenia transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH) dentre outros transtornos psicopatológicos que pudessem
restringir a participação do voluntário na pesquisa.
2.2
Tarefa de Associação Livre de Palavras (AP)
A tarefa de AP foi uma adaptação presencial do método desenvolvido por
Costa (1). Foram formados 17 grupos de 4 pessoas, dispostas uniformemente ao
redor de uma mesa redonda. A tarefa foi realizada em duas rodadas (R1 e R2)
em sentido horário. Cada rodada foi composta por 4 tarefas, uma para cada
participante, impressas em papel ofício. Cada folha continha duas colunas com 24
espaços delimitados para se listar a associação de palavra. A folha foi dobrada
verticalmente ao meio, contendo uma coluna em cada lado da dobra (frente e
verso). No primeiro espaço da coluna, uma palavra-raiz foi inicialmente escrita e
escondida do voluntário por um envelope, sendo revelada pelo pesquisador no
início da tarefa. Os 23 espaços restantes foram preenchidos por cada membro do
36
grupo sucessivamente, sendo que, a AP listada pelo antecessor ao seu vizinho,
torna-se palavra-raiz para o próximo indivíduo do grupo.
Em resumo, a sequência do experimento foi à seguinte: 1) Os voluntários
leram uma palavra-raiz; 2) escreveram a primeira palavra que lhes veio à mente;
3) quando cada voluntário terminou de escrever sua resposta no espaço
adequado, as folhas foram passadas para o vizinho em sentido horário e assim
sucessivamente até que todos os espaços de cada coluna foram preenchidos,
completando uma rodada. Foram coletadas 3.264 associações de palavras
compreendendo substantivos, adjetivos, advérbios, pronomes e verbos. Palavras
compostas, nomes próprios e palavras iguais ao estímulo dado na tarefa, foram
desconsideradas.
2.3
Análise da distância semântica e estatística
Devido à inexistência de um corpus textual em português capaz de
fornecer medidas acuradas de distância semântica, todas as palavras coletadas
em AP foram traduzidas para o idioma inglês a fim de terem suas distâncias
semânticas quantificadas em um corpus representativo e sistemático desse
idioma, o Wordnet. Esse procedimento retira as polissemias típicas do português,
mas preserva a macroestrutura semântica comum às duas línguas. Para calcular
a distância semântica, dividimos o parâmetro 1 (único caminho lexical
representado pelo grafo formado entre as palavras) por X (números de nodos
lexicais visitados) baseado na referência de Jaap Kamps, Maarten Marx, Robert J.
Mokken, and Maarten de Rijke em 2004 (25). Os dados obtidos no “WNconnect
1.7.1”, foram analisados por meio do software GraphPadPrism 5.0, em análise
estatística não paramétrica (Teste Mann-Whitney bicaudal, p < 0,05) para duas
amostras de populações independentes, observando possíveis diferenças entre
elas.
37
3.
Resultados
Verificou-se a inexistência de diferenças significativas entre as distâncias
semânticas das palavras produzidas por associação livre entre as rodadas R1 e
R2 para os homens (p = 0,1206) embora seja possível observar na (Fig.1 a) que
estas distâncias sejam sutilmente maiores em R1 com relação a R2 (R1>R2).
Entre as mulheres (Fig.1 b), observamos que a AP em R1 é semelhante a R2 (p =
0,4567). Ao parearmos a R1 dos homens com a R1 das mulheres, notamos que
as distâncias semânticas das palavras têm um valor estatisticamente significativo
(R1<R1; p = 0,0394; Fig. 1 c;). E entre a R2 dos homens em comparação com a
R2 das mulheres vemos (R2<R2; p = 0,0363; Fig.1 d).
a)
b)
Vigília (Homens)
Vigília (Mulhres)
0.03
Dist. Semântica
Dist. Semântica
0.03
0.02
0.01
0.02
0.01
0.00
0.00
R1
R1
R2
c)
d)
Vigília (R1)
Vigília (R2)
0.03
0.02
Dist. Semântica
0.03
Dist. Semântica
R2
p = 0.0394
0.01
0.00
0.02
p = 0.0363
0.01
0.00
Homens
Mulheres
Homens
Mulheres
Figura 1 – Distâncias semânticas entre as associações livres de palavras comparando R1
com R2 entre os homens e entre as mulheres (Fig. a; Fig. b; e entre os gêneros na R1,
Fig. C; e na R2, Fig. d).
38
4.
Discussão
Observamos uma distância semântica significativamente menor nas
associações de palavras produzidas pelos homens, em comparação com as
mulheres na R1 e R2 (Fig. 1c e Fig. 1d). Na repetição da tarefa de AP (R1
seguida de R2, Fig. 1a,b), o resultado sugere um mesmo padrão nas distâncias
semânticas entre as palavras produzidas pelos homens e pelas mulheres. Já nas
figuras. 1.c e 1d observamos que as associações livres produzidas pelas
mulheres são mais abstratas, em contraste com os homens que realizaram AP
mais concretas (18). A hipótese principal sustenta que palavras mais concretas
são processadas mais rapidamente do que palavras abstratas (19) em diversas
tarefas tanto de memória quanto de linguagem. Assim, nosso resultado sugere
que as mulheres associam palavras através de um raciocínio mais abstrato e
menos concreto do que os homens.
De acordo com Guillem et al. (17) “Os homens e as mulheres utilizam
estratégias diferentes para desempenhar as mesmas funções cognitivas nem pior
nem melhor, mas de modo diferente”. Essas diferenças de processamento
cognitivo podem ser explicadas sob o prisma das teorias evolutivas, que
defendem diferentes funções sociais dos gêneros para a melhor adaptação ao
ambiente. Assim, tem sido sugerido que enquanto as mulheres usam várias
partes do cérebro para resolverem determinadas tarefas, os homens realizam
processamento cognitivo de modo neuroanatomicamente menos distribuído (20;
21).
Pesquisas sobre as possíveis diferenças nas habilidades cognitivas entre
homens e mulheres não verificam que os homens tenham maior aptidão
matemática e científica do que as mulheres. Eventuais diferenças tendem a ser
pequenas e são resultantes principalmente de diferentes estratégias e escolhas
(15). Parte da comunidade científica entende que não há atualmente evidência
que aponte para diferenças biológicas inatas da mente entre homens e mulheres;
são as crenças culturais e sociais que contribuem principalmente para estas
diferenças (20; 22; 23).
Homens e mulheres estão predispostos a partir do nascimento a aprender
coisas diferentes: crianças do sexo masculino aprendem mais, por exemplo,
sobre as relações mecânicas dos objetos, enquanto que bebês do sexo feminino
39
tendem a aprender mais sobre as pessoas, emoções e relações pessoais (14;
16). Embora crianças mais velhas mostrem reduzidas diferenças nos perfis
cognitivos, estas são complexas e sutis. Não se verifica, por exemplo, que as
mulheres sejam mais expressivas quanto as características verbais, enquanto os
homens espaciais (14). Essas diferenças tendem a ser pequenas e elas se
originam principalmente da estratégia de diferentes escolhas. As diferenças de
perfis individuais entre os sexos não conotam uma vantagem masculina ou
feminina na aprendizagem, seja em matemática avançada, habilidades para
representar e identificar objetos, número e espaço. Elas dependem, sobretudo,
das capacidades funcionais individuais presentes desde o início da vida (16). O
fato de não ter sido possível quantificar os dados correlatos diretamente em
português, limitou nossa investigação e deve ser mencionada. Planejamos
construir um corpus representativo em português para medir distâncias
semânticas e comparar resultados com o presente estudo, obtido no Wordnet
após tradução, um procedimento que reduz a ocorrências de polissemias.
5.
Conclusão
Podemos concluir que o método de associação livre de palavras evocadas
espontaneamente revela diferentes estratégias entre homens e mulheres. As
mulheres apresentaram características de um raciocínio mais abstrato do que os
homens na realização de tarefas por associação livre de palavras. Este aspecto
está fundamentado na distância semântica significativamente maior nas redes
associativas da mulheres, enquanto que os homens apresentam uma menor
distância semântica entre as palavras, sugerindo maior concretude na construção
do pensamento.
6.
Agradecimentos
A Nathália Maria Lemos e Gleyson Paulo pela ajuda inicial na realização
dos experimentos. À Coordenação e Direção do curso de Psicologia da
Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte (UNP-RN); aos alunos de
Psicologia da UNP-RN que participaram voluntariamente da pesquisa; a Lara
40
Lectícia de Souza Pegado por colaboração nas análises estatísticas; a John
Fontenele Araujo e Paula Tiba por suas críticas construtivas.
7.
Suporte
FINEP 01.06.1092.00, CNPq Universal 481506/2007-1.
8.
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42
6. MANUSCRITO No 2 (em revisão)
FREE ASSOCIATION OF WORDS AFTER SPECIFIC STAGES OF SLEEPWAKE CYCLE PRESENTS GENDER DIFFERENCES
1,2,3
Pegado, JF., 1.3Mota-Rolim,SA.,2Alchieri, JC.,1Ribeiro, S.*
1 - Brain Institute, Federal University of Rio Grande do Norte, UFRN.
2 - Graduate Program in Health Sciences, UFRN.
3 - International Institute of Neuroscience of Natal Edmond and Lily Safra (ELS-IINN).
* Author for correspondence
ABSTRACT
Introduction: Studies of cognitive performance across the sleep-wake cycle
(SWC) suggest that slow-wave sleep (SWS) and rapid-eye-movement sleep
(REM) have distinct “inertial” influences on the mental processing of subjects
engaged on psychophysical tasks immediately after being awoken from sleep.
Objective: Here we aimed to evaluate semantic distances produced by free
associations of words (WA) in young adults of both sexes, awoken after specific
stages of the SWC. Method: We used polysomnography to identify SWC stages
from overnight recordings. A WA task was applied during pre-sleep waking (WKPre), after SWS (first quartile of the night), after REM (last quartile of the night),
and during post-sleep waking (WK-Post). The task was administered to two
groups of 10 subjects each (G1 and G2), including both men (n=10) and women
(n=10). The WA task consisted of responding verbally to the first word that came
to mind after listening to a root word offered as a stimulus. Words were recorded
with a MP3 device. G1 subjects were stimulated with the same set of root words
after being awoken from the different SWC stages,, while G2 subjects received
different root words for each SWC stage. In the absence of a corpus in Portuguese
suited for the measurement of semantic distances, the words collected by WA
were converted to their canonical forms, translated into English, and the semantic
distances between them were quantified in a representative corpus of that
language (Wordnet). Results: Significant differences were found among males in
both G1 and G2, while only G2 revealed differences among females. For males in
G1, WK-Post associations were significantly smaller than those in the WK-Pre and
REM samples. For males in G2, a very different profile was observed: semantic
distances were significantly larger in the SWS and WK-Post groups. Females
showed very different profiles. In G1 we observed stability across the SWC, with
no statistically significant differences between samples; in G2 we verified a trend
of gradual increase across SWC stages, with a near-significant increase of
semantic distances in the WK-Post group(p=0.06). When comparing men and
women of G2, we observed significant gender differences in WK-Pre, SWS and
REM. Conclusion: Men and women showed marked differences in the semantic
distances obtained for each condition and SWC stage considered. The results
indicate that cognitive flexibility 1) varies substantially across the different states of
the SWC, and 2) shows gender dependence.
43
Key Words: sleep-wake cycle, word association, cognitive flexibility, memory,
gender.
ASSOCIAÇÃO LIVRE DE PALAVRAS APÓS FASES ESPECÍFICAS DO CICLO
SONO-VIGÍLIA APRESENTA DIFERENÇAS DE GÊNERO
1,2,3
Pegado, J.F., 1,3 Mota-Rolim, S.A., 2 Alchieri, J.C., * 1 Ribeiro, S.
1 - Instituto do Cérebro, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN.
2 - Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, UFRN.
3- Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS).
* Autor de Correspondência
Resumo
Introdução: Estudos sobre o desempenho cognitivo através do ciclo sono-vigília
(CSV) sugerem que o sono de ondas lentas (SOL) e o sono de movimento rápido
dos olhos (MRO) têm distintas influências "inerciais" sobre o processamento
mental dos sujeitos envolvidos em tarefas psicofísicas imediatamente após serem
despertados do sono. Objetivo: Tivemos como objetivo avaliar distâncias
semânticas entre pares de palavras produzidas por associações livres (AP), por
adultos jovens de ambos os sexos despertados depois de fases específicas do
CSV. Método: Foram utilizados registros polissonográficos para identificar as
fases do CSV durante a noite. Uma tarefa de AP foi aplicada durante a vigília présono (V-Pré), após SOL (primeiro quartil da noite), depois de MRO (último quartil
da noite), e na vigília pós-sono (V-Pós). A tarefa foi administrada a dois grupos de
10 indivíduos em cada grupo (G1 e G2), incluindo tanto os homens (n=10) quanto
mulheres (n=10). A tarefa de AP consistiu em responder verbalmente a primeira
palavra que veio à mente depois de ouvir uma palavra-raiz oferecida como
estímulo. As palavras foram registradas com um gravador MP3. Sujeitos do G1
foram estimulados com o mesmo conjunto de palavras-raiz depois de terem sido
acordados após distintas fases do CVS, enquanto os sujeitos do G2 receberam
palavras-raiz diferentes para cada fase do CSV. Na ausência de um corpus em
Português adequado para a mensuração de distâncias semânticas, as palavras
coletadas por AP foram convertidas para suas formas canônicas, traduzidas para
o idioma Inglês, e as distâncias semânticas entre elas foram quantificadas em um
corpus representativo dessa língua (WordNet). Resultados: Entre os homens
foram encontradas diferenças significativas tanto em G1 quanto em G2, enquanto
entre as mulheres apenas G2 revelou quaisquer diferenças. Para o sexo
masculino em G1, associações V-Pós foram significativamente menores que as
das amostras V-Pré e MRO. Para o sexo masculino em G2, um perfil muito
diferente foi observado: as distâncias semânticas foram significativamente
maiores nos grupos SOL e V-Pós. As mulheres apresentaram perfis muito
diferentes. Em G1 observou-se estabilidade em todo o CSV, sem diferenças
estatisticamente significativas entre as amostras. Em G2 verificamos uma
tendência de aumento gradual através do CSV, com um aumento quase
significativo (p=0,06) das distâncias semânticas no grupo V-Pós. Ao comparar
homens e mulheres do G2, foram observadas diferenças significativas entre os
sexos em V-Pré, SOL e MRO. Conclusão: Homens e mulheres apresentaram
44
diferenças marcantes nas distâncias semânticas obtidas para cada condição e
estágio do CSV. Os resultados indicam que a flexibilidade cognitiva: 1) varia
substancialmente entre os diferentes estados do CSV, e 2) mostra dependência
de gênero.
Palavras-Chave: ciclo sono-vigília,
cognitiva, memória, gênero.
1.
associação
de
palavras,
flexibilidade
Introdução
Quando dormirmos, passamos pelos estágios N1 e N2 até atingir de o sono
de ondas lentas (SOL), caracterizado por uma diminuição significativa da
frequência das oscilações corticais detectadas por eletroencefalografia (2). O
estado do sono subsequente é o sono de movimento rápido dos olhos (MRO),
caracterizado por ondas eletroencefalográficas de alta frequência e baixa
amplitude (semelhantes às observadas na vigília), com movimentos rápidos dos
olhos e a prevalência de relatos de sonhos após o despertar (3), bem como por
uma criatividade na execução de tarefas psicológicas após o sono (4). Diferenças
no desempenho cognitivo através do ciclo sono-vigília (CSV) sugerem que o sono
MRO favoreça a flexibilidade semântica, em comparação com a vigília e o SOL
(1). Acredita-se o MRO promova insights pela ativação de redes associativas,
permitindo ao cérebro estabelecer ligações novas e potencialmente úteis entre
ideias não relacionadas. Outro ponto importante é que essa característica não
seria por conta de melhorias na memória seletiva. (5)
Uma das funções cerebrais mais suscetíveis de alterações através do CSV
é a linguagem, que tem como substrato neural um conjunto de circuitos neurais
responsáveis pela representação dos fonemas e suas combinações, das regras
sintáticas de ordenação das palavras em frases, bem como da produção de
palavras a partir do nível conceitual (especificações semânticas). A denominação
‘léxico mental’ foi utilizada pela primeira vez por Ann Triesman (6) para designar o
estoque de conhecimentos que funciona como um dicionário mental, permitindo o
acesso às formas escritas e orais de palavras e seus significados (7; 19). Ao
escutar uma palavra, outras aparecerão naturalmente na mente, em função de
suas relações semânticas (8). Esses sistemas reúnem palavras em frases
destinadas a serem proferidas ou escritas, em reação a um estímulo linguistico
externo (uma palavra ouvida ou um texto lido), por exemplo.
45
É impossível acessar o léxico mental de um sujeito experimental
adormecido, mas é possível realizar tal acesso durante a vigília em sujeitos
despertados de fases específicas do sono. Tal procedimento se baseia na noção
de que existe uma considerável inércia entre distintos estados cerebrais globais,
de forma que uma mesma pessoa despertada de fase distintas do sono terá
processamentos lexicais diversos, dependendo da fase de sono que precedeu a
vigília. Utilizando esse procedimento através do CSV para a realização de um
teste de resolução de anagramas, Walker e colaboradores (1) corroboraram a
hipótese de que no MRO há maior facilidade de realizar associações distantes, de
baixa probabilidade. Os participantes foram despertados durante uma das fases
do CSV e imediatamente testados na resolução de anagramas (grupos de
palavras compostas pelos mesmos pedaços rearranjados). Quando despertados
durante o MRO, os sujeitos apresentaram muito mais facilidade para resolver os
anagramas que quando despertados do SOL. O experimento sugere que o MRO
favorece um processamento cognitivo mais flexível que o SOL (1). Mednick e
colaboradores (9) corroboraram tais achados ao observarem um aumento das
associações remotas após o MRO, numa tarefa em que os indivíduos produzem
uma palavra que está associada a outras três correspondentes. O teste de
associações remotas (RAT) avalia a capacidade dos indivíduos identificarem
associações entre palavras que não são normalmente associadas. A flexibilidade
diz respeito a capacidade do sujeito apresentar diferentes tipos de respostas a um
dado problema. Assim, o que importa, não é tanto o número de respostas
produzidas, mas sim a sua variedade.
Outra forma de avaliar a dinâmica lexical é através da tarefa de associação
livre de palavras (AP), introduzida por Francis Galton em 1883 e adotada como
método de grande importância clínica pela Psicanálise (10 apud 16; 17; 18). A
tarefa de AP “consiste em listar de forma escrita ou oral, as primeiras palavras
que vêm à mente ao visualizar ou escutar uma palavra apresentada” (11). Dessa
forma, a tarefa de AP tem sido usada como umaferramenta para investigar a
organização do pensamento humano (10).
Em um estudo prévio de AP em indivíduos adultos e saudáveis, utilizando
palavras-raiz apresentadas durante a vigília, observamos que as distâncias
semânticas produzidas por mulheres são significativamente maiores do que as
produzidas por homens (12). Por esta razão, demos continuidade a este estudo
46
prévio, investigando possíveis diferenças na flexibilidade cognitiva das dinâmicas
psicológicas dos diversos estados cerebrais que constituem o CSV, através da
mensuração de distâncias semânticas em uma tarefa de AP realizada após
períodos de V, SOL e MRO. No presente estudo, avaliamos homens e mulheres
em duas situações distintas: 1º) utilizando um mesmo conjunto de palavras-raiz
para todas as fases do CSV; 2º) utilizando palavras-raiz distintas a cada fase do
CSV.
2.
Materiais e Métodos
2.1
Participantes
Foram investigados 20 indivíduos saudáveis com idade entre 18 e 43 anos
(23,9 ± 5,7), sendo 10 homens e 10 mulheres, alunos de graduação em
Psicologia da Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte - Brasil. O
experimento foi realizado com a anuência do Comitê de Ética em Pesquisada
UFRN (CEP 009/10-P). Todos os voluntários selecionados se declararam isentos
de ocorrências clínicas como distúrbios do sono, transtorno de déficit de atenção
e hiperatividade, depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar ou qualquer outro
transtorno psicopatológico. Dois grupos foram formados com 10 integrantes cada:
O grupo 1 (G1) teve 4 homens e 6 mulheres, enquanto o grupo 2 (G2) incluiu 6
homens e 4 mulheres.
2.2
Registro do CSV
Os voluntários foram investigados individualmente por duas noites
consecutivas, sendo a primeira noite utilizada para a adaptação às condições
experimentais e a segunda noite utilizada para a coleta de dados experimentais.
Os participantes foram submetidos a polissonografia (PSG) utilizando um
eletroencefalógrafo (EEG) BrainNet 36 canais da marca EMSA. Na noite de
adaptação, os voluntários preencheram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido e um Questionário de Informações Sócio-Demográficas. Na noite
experimental, responderam antes da primeira tarefa, a Escala de sonolência de
Epworth.
47
Na noite experimental os indivíduos foram despertados do SOL e
subsequentemente
do
MRO
para
realização
da
AP.
Adequamos
este
procedimento de acordo com o cronotipo de cada indivíduo, ou seja, o mesmo
dormia na hora que lhe era mais conveniente, sendo despertado após adentrar
SOL no primeiro quartil da noite, e subsequentemente no MRO, no último quartil
da noite. Traçados de eletroencefalograma e oculograma representativos de V,
SOL e MRO, são apresentados na Figura 1a; a Fig. 1b mostra um espectrograma
representativo; na Fig. 1c temos a mesma época representada pela ativação
elétrica cortical nos escalpos e na Fig. 1d a amplitude da frequência normalizada
dos estados cerebrais.
1a)
VIGÍLIA
SOL
MRO
1b)
Espectrograma do trecho vigilia
80
60
40
20
120
10
80
60
40
20
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
Espectrograma do trecho REM
40
30
20
10
0
10
20
30
40
50
Frequência /Hz
10
Frequência /Hz
Frequência /Hz
Espectrograma do trecho SWS
60
50
40
30
20
10
0
10
20
30
40
50
120
120
30
20
10
0
10
20
30
40
50
10
80
60
40
20
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
Tempo
Tempo
Tempo
1c)
MRO
1d)
2
1. 8
1. 6
1. 4
1. 2
1
08
06
04
02
0
VIGÍLIA
SOL
MRO
VIGÍLIA
1.5
SOL
MRO
VIGÍLIA
1.5
SOL
MRO
1.5
1
1
1
0.5
0.5
0.5
0
0
0
2
1. 8
1. 6
1. 4
1. 2
1
08
06
04
02
0
VIGÍLIA
SOL
MRO
Potência de Theta Normalizada
SOL
Potência de Delta Normalizada
Potência de Alfa Normalizada
VIGÍLIA
2
1. 8
1. 6
1. 4
1. 2
1
08
06
04
02
0
VIGÍLIA
SOL
MRO
Figura 1 - a) Traçados de eletroencefalograma e oculograma (dois traçados mais
inferiores) durante épocasde 00:01:00 min. na vigília (V), SOL e MRO; b) Espectrograma
48
representativo das mesmas épocas mostradas na Fig.1a; tempo em minuto; c)
Representação topográfica da potência do sinal de EEG na banda de frequencia; d) as
frequencias normalizadas destas ativações de acordo com distintas bandas de
frequencia.
2.3
Tarefa de Associação Livre de Palavras (AP)
Os voluntários foram informados de que na noite experimental iriam ser
acordados por duas vezes durante o sono, para realizar uma tarefa de AP. Nessa
tarefa, cada voluntário ouviu 24 palavras-raiz na vigília pré-sono (V-Pré), após o
despertar do SOL e do MRO, bem como na vigília pós-sono (V-Pós). Aos
voluntários foi solicitado que realizassem associações livres de palavras através
da fala, sem precisar se mexer ou mudar de posição, voltando ao repouso após
cada interrupção do sono. Os indivíduos do G1 receberam estímulos de 24
palavras repetidas, gerando um total de 960 associações de palavras (AP) nos
distintos estados cerebrais do CSV, enquanto que os indivíduos de G2 receberam
24 palavras diferentes a cada estado cerebral, num total de 96 estímulos
diferentes ao longo do CSV, produzindo também, 960 AP do início ao fim do ciclosono. Foram coletadas 1.920 palavras associadas ao estímulo-resposta. No grupo
que recebeu estímulos repetidos nas fases do CSV, os sujeitos evocaram
significativamente ao longo do CSV, palavras associadas nas fases anteriores. No
grupo que recebeu estímulos de palavras diferentes, mantinham-se distintas as
associações dadas como resposta, a cada fase do CSV.
2.4
Análise da distância semântica e tratamento estatístico
Devido à carência de um corpus textual em português capaz de prover
medidas confiáveis de distância semântica, todas as palavras coletadas no
presente estudo foram traduzidas para o idioma inglês a fim de terem suas
distâncias semânticas quantificadas em um corpus representativo e sistemático
desse idioma, o Wordnet (13). Esse procedimento eliminou as polissemias,
preservando a macroestrutura semântica comum às duas línguas (10). Os dados
obtidos no “WNconnect 1.7.1” (programa de acesso ao Wordnet), foram
analisados por meio do software GraphPadPrism 5.0, através de estatística
nãoparamétrica (Teste Mann-Whitney bicaudal, p < 0,05) para duas amostras de
49
populações
independentes
(Homens
e
Mulheres)
observando
possíveis
diferenças entre elas.
2.5
Desenho Experimental
A Fig. 2 apresenta o desenho experimental, que ilustra temporalmente o
momento em que aplicamos a tarefa de AP no decorrer do CSV de cada
participante. Houve execução da tarefa na V-Pré, após 10 minutos no primeiro
ciclo do SOL, após 10 minutos no último MRO da noite, e 30 minutos após o
despertar da manhã (V-Pós).
1° Tarefa Vigília Pré-sono (V-Pré)
V
4° Tarefa Vigília Pós-sono (V-Pós)
s ono MRO
30 m in V-Pós
MRO 3° Tarefa
N1
-
N2
-
2° Tare fa
1° SOL 3
SOL 310 m in
Figura 2 - Desenho experimental da aplicação de cada tarefa no ciclo sono-vigília.
Entre os grupos G1 e G2, em média, o tempo aproximado dessas
intervenções (Fig. 3A) foi de 2hs e 15min para a aplicação da tarefa de V-Pré à
SOL; 5hs e 45min para V-Pré a MRO; 7hs 30min de V-Pré à V-Pós; 4hs de SOL à
MRO; 5hs e 35min para SOL à V-Pós; 2hs e 35min de MRO à V-Pós. O horário
exato de cada intervenção por indivíduo foi dependente do relógio biológico de
cada sujeito. Já o tempo médio do sono (Fig. 3B) foi de 1h e 45min de V-Pré a
SOL; 5hs e 55min de V-Pré a MRO; 7hs e 50min de V-Pré a V-Pós; 4hs e 05min
de SOL a MRO; 6hs de SOL a V-Pós; 2hs e 25min de MRO a V-Pós.
50
a) Tempo Médio Tarefa
b) Tempo Médio Sono
10
Tempo(h)
MédioTempo (hs) CSV
1)
6)
1:45m
2:25m
8
5)
6:00hs
6
4
4)
4:05m
2)
5:55m
3)
7:50m
2
1
V-Pré / SOL 3
2
V-Pré / REM
3
V-Pré / V-Pós
4
SWS-3 / REM
5
SOL 3- / V-Pós
6
REM / V-Pós
0
1 2
1 2
1
1
1
1
G
G G2
G G2
G G
G G2
G G2
P PG
O O
s) s)
s) s)
L3 L3
O
O
)
ó
R
)
ó
O
R
s
R R
s
Pó (Pó
P
O
P
M
ó
(
S
(
ó
M
M
(
M
S
- (P (P
- V -V
V V-V V
L3 L3
V V
-V -V
V VRO RO
SO SO
L3 L3
M
M
SO SO
Figura 3 - a) Intervalo de tempo médio entre a realização do início da tarefa nos
diferentes estados do CSV, entre os grupos de palavras repetidas G1e não repetidas G2;
b) Representação do Tempo Médio de permanência em cada fase do sono dos
indivíduos de ambos os grupos.
3.
Resultados
3.1
Distância Semântica
Inicialmente, observamos que entre os homens do G1, há diferenças
significativas entre V(Pré) e V(Pós) e entre o MRO e V(Pós), na Fig. 4a. Entre as
mulheres do G1 na Fig. 4b, não observamos nenhuma diferença significativa.
Quando comparamos homens e mulheres deste grupo, em V-Pré as mulheres
(Fig. 4b) apresentaram uma distância semântica em suas associações de
palavras semelhante às dos homens (Fig. 4a). Em SOL encontramos uma
diferença não significativa entre SOL das mulheres (Fig. 4b) <SOL dos homens
(Fig. 4a). Em MRO e V-Pós, não detectamos diferenças significativas. Na Fig. 4c,
os
homens
do
G2
apresentam
distâncias
semânticas
com
diferenças
significativas: V-Pré<SOL (p = 0.01), V-Pré<V-Pós (p = 0.01), SOL<V-Pós (p =
0.03), MRO<V-Pós (p = 0.05). Já as mulheres do G2 (Fig. 4d), apresentaram uma
tendência quase significativa a diferenças entre V-Pré e V-Pós (V-Pré<V-Pós, p =
0.06), e entre SOL e V-Pós (SOL<V-Pós, p = 0.06).
51
a)
G1 (H)
(palavras repetidas)
b)
0.06
*
0.04
p = 0.03
*
p = 0.04
0.02
Dist. semânticas
0.06
0.04
0.02
R
O
G2 (M)
(palavras diferentes)
*
c)
M
V(
Pr
é)
)
V(
Pó
s
R
O
M
SO
L
V(
Pr
é)
G2 (H)
(palavras diferentes)
V(
Pó
s)
0.00
0.00
SO
L
Dist. semânticas
G1 (M)
(palavras repetidas)
d)
p = 0.01
*
p = 0.03
*
p = 0.05
*
0.06
Dist. semânticas
0.04
0.02
0.00
x
p = 0.06
x
0.04
p = 0.06
0.02
)
V(
Pó
s
R
O
M
SO
L
Ó
S
P
R
O
M
SO
L
V(
Pr
é)
0.00
V(
Pr
é)
Dist. semânticas
0.06
Figura. 4 – Distâncias semânticas das AP’s durante os diferentes estados do CSV, (a)
homens, (b) mulheres, do grupo que desempenhou a tarefa com palavras repetidas (G1);
(c) homens e (d) mulheres do grupo que desempenhou a tarefa com palavras diferentes
(G2).
Comparando os gêneros entre o grupo G1 não encontramos diferenças
significativas. No G2, verificamos que há diferenças significativas na distância
semântica entre as palavras entre homens e mulheres (Fig. 5a) em V-Pré (p =
0.02), na Fig. 5b em SOL (p = 0.05) e na Figura 5c em MRO (p = 0.001).
52
V(Pré) - H x V(Pré) - M G2
0.06
Dist. semânticas
0.06
0.04
*
p = 0.02
0.02
*
p = 0.05
0.04
0.02
0.00
0.00
V(
é
Pr
)-
M
-H
)
SO
L
é
Pr
V(
-H
-M
Dist. semânticas
SWS - H x SWS - M G2
b)
SO
L
a)
REM - H x REM - M G2
c)
Dist. semânticas
0.06
0.04
*
p = 0.001
0.02
0.00
RO
M
-H
RO
M
-M
Figura. 5 – Diferenças significativas das distâncias semânticas obtidas por AP entre
homens e mulheres em G2; a) Vigília pré-sono; b) MRO; c) Vigília pós-sono (V-Pós).
3.1.1 Evocação das palavras repetidas
Em outra análise (Fig. 6), quantificamos a repetição de palavras após o
estímulo inicial de 240 palavras-raiz que foram repetidas no decorrer do CSV,
onde pudemos constatar que a cada estado cerebral subsequente a vigília V-Pré,
houve um aumento gradual de repetição dessas palavras iniciais: de 240
palavras-raiz dadas como estímulo, foram repetidas 98 palavras em SOL, 143 em
MRO e 198 em V-Pós.
53
Número de Palavras-Raiz
Repetição das palavras-raiz
no ciclo sono-vigília
300
200
100
ós
-P
V
SO
L
M
R
O
V
-P
ré
0
Figura 6– Número de palavras repetidas no G1 através do CSV.
4.
Discussão
4.1
Distância semântica através do ciclo sono-vigília
Investigamos se existe alguma diferença nas distâncias semânticas entre
palavras livremente associadas após o despertar de diferentes estados do CSV
(Fig. 2). Observamos inicialmente o G1, que recebeu palavras-raiz repetidas
durante o CSV, e o nosso método de análise encontrou diferenças significativas
entre as associações dos homens entre V-Pré e V-Pós (V-Pré>V-Pós), e entre
MRO e V-Pós (MRO>V-Pós). Entre as mulheres deste grupo, não detectamos
nenhuma diferença significativa, com distâncias semânticas mantendo-se estáveis
em qualquer fase do CSV. Quando comparamos homens e mulheres deste grupo
através do CSV (Fig. 4a; Fig. 4b), também não encontramos diferenças
significativas,.
No G2, aplicamos uma tarefa de AP com estímulos de palavras-raiz
diferentes (não repetidas) para cada fase do CSV. Neste grupo, os homens (Fig.
4c) apresentam distâncias semânticas significativamente maiores entre V-Pré e
SOL (SOL>V-Pré); V-Pré e V-Pós (V-Pós>V-Pré); SOL e V-Pós (V-Pós>SOL);
MRO e V-Pós (V-Pós>MRO). Já as mulheres do G2 (Fig. 4d) apresentam uma
tendência significativa entre V-Pré e V-Pós (V-Pós>V-Pré); SOL e V-Pós (VPós>SOL), aumentando as distâncias semânticas gradativamente ao longo do
54
CSV. Quando comparamos os gêneros do G2, na Fig.5 a.c, as distâncias
semânticas das palavras associadas pelas mulheres são maiores em V-Pré > VPré dos homens, e no MRO mulheres >MRO dos homens.
Na Fig. 5b as distâncias semânticas das mulheres se tornam menores em
SOL<SOL dos homens. Na V-Pré do CSV, tanto os homens como as mulheres
replicam os resultados científicos anteriormente descritos sem nossa pesquisa
(12), na vigília em grupo, sugerindo que as questões evolutivas podem ter
exercido influências significativas na maneira pelo qual o pensamento das
mulheres esteja se apresentando mais abstrato e menos concreto do que os
homens. Também se observa em nossos resultados, que no MRO as distâncias
semânticas são semelhantes a V-Pré. Isso pode ser explicado pelo fato do padrão
de ativação cerebral da vigília e do MRO serem relativamente parecidos (ondas
de alta frequência e baixa amplitude).
Quanto maiores é as distâncias semânticas entre às palavras, mais
abstrata é a relação entre o significado léxico delas, sugerindo nestes resultados,
sob os parâmetros psicolinguísticos, um raciocínio mais abstrato entre as
mulheres em comparação com os homens. Semanticamente, quanto maior o
número de processos cognitivos for necessário para conectar dois significados ou
encadear dois sentidos, maior a tendência de afastamento entre eles, ou seja, a
estrutura argumental da construção em que a palavra se insere, quanto mais
dessemelhantes são as construções maior o afastamento semântico percebido
(13).
Os homens, por sua vez, demonstram neste estudo, associações de
palavras com distâncias semanticas mais próximas do significado da ‘entidade’
palavra-estímulo, ou seja, apresentam maior concretude em suas AP, sendo
assim, “quanto maior for a regularidade dos processos cognitivos, menor é a
sensação de afastamento gerada entre elas (13).
Mednick e colaboradores em 2009, observaram que o MRO reforça a
formação de redes associativas na integração de informações não-associadas,
em comparação com o sono não MRO, reforçandoa hipótese de que o cérebro é
capaz de registrar inconscientemente o estímulo dado anteriormente (associação
remota) (9), o que reforça nossos resultados na Fig. 6 onde observamos a
evocação crescente da memória ao longo do CSV.Já outros autores, chegaram a
conclusão de que o MRO facilita a resolução de problemas e a criatividade com o
uso de informação prévia: Walker e colaboradores (1), através de tarefas por
55
anagramas aplicadas nos diferentes estados do CSV, observaram que quando os
sujeitos são acordados após o MRO, o desempenho nessa tarefa era melhor do
que nas fases de vigília e sono não MRO. Dessa forma, corroboram que a
neurofisiologia do MRO está associada a um estado cerebral mais “flexível”
(receptivo e/ou fluído) para o processamento cognitivo na resolução de tarefas
que envolvem mecanismos relacionados a criatividade, o que acontece
principalmente quando há relatos de sonhos.
No entanto, em nosso estudo, vemos que após o MRO as mulheres do G2
produziram distâncias semânticas entre AP, significativamente maior que os
homens do G2 (Fig. 5c) e sutilmente maior em MRO (mulheres) >MRO (homens)
do G1 (Fig. 4b), sugerindo que o MRO também facilite a formação de redes
associativas na integração de informações lexicais, flexibilizando a formação
cognitiva de um raciocínio mais abstrato-criativo.
Com relação a diferença de padrão de ativação cerebral entre a vigília e o
SOL, sabe-se que a vigília é caracterizada por ritmos de alta frequência e baixa
amplitude, e que o SOL é caracterizado por oscilações de baixa frequência e alta
amplitude (3; 14).A distância semântica das AP’s produzidas em SOL, tanto no
G1 como no G2, é menor para as mulheres em relação aos homens, porém no
G2, elas são significativamente menores.Dessa forma, essa diferença significativa
na distância semântica produzida nesses dois estados, pode ser explicada pela
diferença do padrão de ativação neural, ou seja, o processamento cognitivo na
realização da tarefavaria de acordo com o estado cerebral em que a mesma é
realizada, com diferenças entre os gêneros.
4.2
Evocação das palavras repetidas
Outra variável que pode influenciar o desempenho em tarefas de
linguagem é a memória, e consequentemente, a relação de proximidade de
padrão cognitivo-comportamental entre os estados em que a memória foi
adquirida e evocada. O G1, que recebeu palavras-raiz iguais nos diferentes
estados do CSV, lembraram das primeiras associações (adquiridas em V-Pré) e
evocaram boa parte das mesmas nos outros estados investigados (Fig. 6). Nesse
grupo, observamos que o número de palavras repetidas no CSV (98 palavras) foi
56
menor que no MRO (143 palavras), que foi menor que na V-Pós (198 palavras)
(Fig. 5).
Tais modelos integrativos de processamento de memória têm sido
sugeridas em vários contextos (1). Walker e colaboradores em 2010, propuseram
que existe um estágio de pós-codificação em primeiro lugar, que pode ocorrer
preferencialmente durante o SOL, consolidando novas memórias episódicas,
mantendo representações individuais dessas memória separadamente. Em
contraste, potencialmente a fase do MRO, conteria a evolução das memórias em
ricas redes associativas, mapeamento o passado e possivelmente o futuro, num
processo que exigeria uma transformação em nível de sistema cooperativo de
memórias (15).
Nossos resultados sugerem que quanto mais próximo o estado cerebral em
que a memória foi lembrada do estado em que a mesma foi adquirida, maior a
facilidade na evocação das mesmas. Esse efeito supera a tendência de um maior
esquecimento com o passar do tempo. Além de preservar ou reforçar lembranças,
o MRO parece facilitar a assimilação e a generalização das memórias individuais
de uma maneira que otimiza sua utilidade.
4.3
Limitações do trabalho e perspectivas
Erros na interpretação linguistica da tradução entre os idiomas (do inglês
para o português) talvez sejam a principal limitação do presente trabalho. Porém,
como o Wordnet tem propriedades globais comuns para muitos sistemas autoorganizados (11), tornou-se possível a realização da nossa investigação. Dessa
forma, para futuras investigações científicas, planejamos construir um corpus
representativo em português.
Outro aspecto metodológico que poderia ter limitado nossa pesquisa, foi o
fato de interromper o repouso do indivíduo naquele intervalo de tempo de um
determinado estado cerebral (Fig. 2), dificultando a continuidade temporal
fisiológica dos processos relacionados ao sono. Porém, se tal constatação
ocorresse, geraria um controle negativo como variável da nossa observação
científica. No entanto, alguns voluntários após serem despertados, conseguiram
realizar as tarefas, e logo após o término das mesmas retornaram ao sono
57
naturalmente. Outros indivíduos avançaram a um estágio seguinte daquele em
que se encontravam na hora em que foram acordados. A interrupção do sono
pode ter atuado como uma variável independente na estatística por grupo. Apesar
dessas diferenças individuais nas respostas, o padrão do tempo de sono dos
grupos em geral foi homogêneo (Fig. 3).
5.
Conclusão
No presente trabalho, concluímos que através da tarefa por AP, aplicada
no CSV, as mulheres produzem distâncias semânticas maiores do que os
homens, sugerindo um pensamento mais abstrato do que os homens. Este
padrão é replicado na vigília em grupo anteriormente descrito por nosso grupo
(12). Antes do repouso, os homens e as mulheres replicam o mesmo padrão de
processamento cognitivo descrito na vigília em grupo. Este resultado pode ser
explicado por diferenças evolutivas, porém complementares, no papel social dos
gêneros.
.
6.
Agradecimentos
A Dayane Ferro e Luciana Rocha (UFRN) pela ajuda inicial na realização
dos experimentos. À Coordenação e Direção do Curso de Psicologia da
Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte (UNP-RN); aos alunos de
Psicologia da UNP-RN que participaram voluntariamente da pesquisa; À
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação das Ciências da Saúde da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGCSA/UFRN), Prof. Dra. Técia
Maranhão; Ao aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em
Psicobiologia do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, Sérgio Arthuro Mota Rolim, por sua participação colaboração científica.
58
7.
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19. Sousa, LB., Gabriel, R. Léxico Mental: abordagem psico e neurolinguísticas.
Anais do IX Encontro do CELSUL, Palhoça, SC., Universidade do Sul de
Santa Catarina, 2010.
8.
Material Suplementar (Manuscrito 2)
8.1
Escala de sonolência de Epworth
Obtivemos uma média de 33% em nenhuma chance de cochilar, 25% com
pequena chance de cochilar, 06% com moderada chance de cochilar e 33% dos
participantes apresentaram alta chance de cochilar.
Quest / Alter
Q1
Q2
Q3
Q4
Q5
Q6
Q7
Q8
Média
A0
62.5%
25%
50%
62.5%
25%
37%
37%
25%
33%
A1
12.5%
25%
12.5%
25%
37.5%
25%
25%
25%
25%
A2
12.5%
0%
12.5%
0%
25%
0%
12.5%
12.5%
06%
A3
12.5%
50%
25%
12.5%
12.5%
37.5%
25%
37.5%
33%
Tabela.1
Alternativas: A0 = nenhum chance de cochilar (33%); A1 = pequena
chance de cochilar (25%); A2 = moderada chance de cochilar (06%); A3 = alta chance de
cochilar (33%).
60
6.
COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E SUGESTÕES.
Em nosso anteprojeto inicial, pesquisas bibliográficas incentivaram um
projeto piloto, tornando-o um tema relevante para a literatura científica (Sigman,
2002; Costa, 2008; 2009; Walker, 2002; 2010; Mednick, 2009), por se tratar de um
tema pouco explorado cientificamente, incentivando nossa iniciativa de realizar
este estudo, o que resultou em dois artigos científicos, um já publicado (Pegado et
al., 2011), e outro, submetido, aguardando o aceite da revista.
Este trabalho é uma pesquisa original no território nacional brasileiro, que
marca ensaia o início de uma contribuição científica relevante. Conseguimos
cumprir todas as metas experimentais organizadas em nosso cronograma de
ação. Planejamos dar seguimento a este estudo, comparando os resultados aqui
descritos, aplicando a mesma tarefa de AP a indivíduos portadores de algum
transtorno psicopatológico, dependentes químicos e indivíduos usuários do chá
de Ayahuasca (substância licita em contexto religioso no Brasil), ampliando o
leque do conhecimento sobre os mecanismos cognitivos da mente.
Costa et al., (2009) descreve que o método de associação de palavras, tem
sido utilizada como veículo para compreender a organização do pensamento,
humano. Sugerimos que futuros trabalhos, nesta linha de pesquisa sejam
realizados com indivíduos portadores de psicopatologias como a esquizofrenia,
depressão, distúrbios de sono, dependência química, entre outros, para que
possamos ter uma visão mais abrangente através dos diferentes estados
cerebrais e mecanismos psicológicos, com potenciais ganhos para o diagnóstico
e tratamento de desordens mentais, por exemplo. Também preconizamos
pesquisas longitudinais de AP com crianças sadias, a fim de melhor compreender
a ontogênese da mente humana.
61
APÊNDICE: PRODUÇÃO CIENTÍFICA RELACIONADA À DISSERTAÇÃO
I.
Apresentação de Pôster: "Cognitive differences between men and women
in the production of free associations of words” Pegado, J.F., Mota-Rolim,
S.A., Ribeiro, S.,*Alchieri, J.C. no “XIX Simpósio sobre o Cérebro - Cérebro
e Tecnologia: Novos desafios” - Auditório Jorge Lobo - Centro das Ciencias
da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco (CCS/UFPE), dias 17 e
18 de Novembro de 2011.
II.
Apresentação de Pôster: “Cognitive differences between men and women
in the production of free associations of words” Pegado, J.F., Mota-Rolim,
S.A., Ribeiro, S.,*Alchieri, J.C no "III Simpósio em Psicobiologia - Cérebro:
Desafios sem Fronteiras" - Auditório dos Répteis – Centro de Biociências
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CB/UFRN), 24, 25 e 26
de novembro de 2011.
III.
Publicação do Artigo Científico - DIFERENÇAS COGNITIVAS ENTRE
HOMENS E MULHERES NA PRODUÇÃO DE ASSOCIAÇÕES LIVRES DE
PALAVRAS. Pegado, J.F., Mota-Rolim, S.A., Ribeiro, S.,*Alchieri, J.C.
REVISTA NEUROBIOLOGIA, vol. 74:3 de 2011, in press.
62
7.
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palavras associadas. Psicologia: Reflexão e Crítica, 19 (2), 166-176, 2001.
54. Steyvers, M., & Tenenbaum, JB The large-scale structure of semantic
networks: statistical analyses and a model of semantic growth. Cognitive
science, 29(1), 41-78, 2005.
55. Stickgold, R. et al. Replaying the game: hypnagogic images in normals and
amnesics. Science 290:350–353, 2000.
56. Teixeira, GM. Redes semânticas em discursos orais:uma proposta
metodológica baseada na psicologia cognitiva utilizando redes complexas.
Dissertacão (Mestrado). Fundação Visconde de Cairu, Salvador, 2007.
67
57. Tabith A.J. Distúrbios do desenvolvimento da linguagem: aspectos foniátricos.
Fórum, Rio de Janeiro: INES, v. 12, 2005.
58. Treisman AM. Attention and Speech, D. Phil. thesis. Oxford University, 1961.
59. Toren, P. Sadeh, M. Wolmer, L. Eldar, S. Koren, S. Weizman, N.R. reciprocal
discharge by two brainstem neuronal groups, Science 189 Laor,
Neurocognitive correlates of anxiety disorders in children: a55–58.
preliminary report, J. Anxiety Disord. 14: 239–247, 2000.
60. Vigotsky, LS. Pensamento e Linguagem. Trad. Jefferson Luis Camargo. São
Paulo: Martins Fontes, 1987.
61. Walker, MP., Conor LJ., Hobson, A., Stickgold, R. Cognitive flexibility across
the sleep–wake cycle: REM-sleep enhancement of anagram problem
solving. Cognitive Brain Research 14: 317-324, 2002.
62. Walker, MP., Stickgold, R. Overnight alchemy: sleep-dependent memory
evolution. Nat. Rev. Neurosci. 11: 218. 2010.
68
ANEXO I
Questionário de Informações Sócio-Demográficas
Nome: ___________________________________________Data: _____/_____/2011
Data de Nascimento: _____/_____/_____
Telefone Fixo: ___________________
Celular: ____________________ /_____________________ /______________________
E-mail: _________________________________________________________________
RG ______________________CIC___________________________________________
Naturalidade: _____________________________
Sexo: ( ) masculino
( ) feminino
Estado civil?
1[ ] Solteiro
3[ ] Viúvo
2[ ] Casado/ vivendo com o parceiro
4[ ] Divorciado ou separado/ desquitada
Filhos?
1[ ] Nenhum
3[ ] Dois
2[ ] Um
4[ ] Mais de dois
Nível educacional?
1[ ] Analfabeto / Primário incompleto
3[ ] Ginasial completo/ Colegial incompleto
5[ ] Superior completo
2[ ] Primário completo / Ginasial incompleto
4[ ] Colegial completo / Superior incompleto
6[ ] Pós-graduação
Profissão?________________________________________________________________
Você exerce sua profissão atualmente? 1[ ] Sim
Se sim, quantas horas por dia você trabalha?
2[ ] Não
3[ ] Estou afastado
______________________________________
Renda familiar:
( ) Até 01 Salário mínimo
( ) 04-10 Salários
( ) 1-2 Salários mínimos
( ) 2-3 Salário mínimo
( ) Acima de 10 salários
Por favor, informe se em sua casa/apartamento existem e estão funcionando em ordem os
seguintes ITENS e a QUANTIDADE que possui?
69
Indique qual o grau de instrução do chefe da família?
Saneamento básico:
_________________________________________________________
Religião (praticante, simpatizante, crenças):
____________________________________
70
ANEXO II
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Esclarecimentos
- Este é um convite para você participar da pesquisa: DISTÂNCIAS SEMANTICAS NA PRODUÇÃO
DE PALAVRAS POR ASSOCIAÇÃO LIVRE: no Ciclo sono-vigília, que é coordenada por João Felipe
de Souza Pegado, Prof. Sidarta Tollendal Gomes Ribeiro e Prof. João Carlos Alchieri.
-
Sua participação é voluntária, o que significa que você poderá desistir a qualquer
momento, retirando seu consentimento, sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou penalidade.
-
Essa pesquisa procura estabelecer um banco de dados das relações semânticas entre a
formação de palavras produzidas por associação livre, afim de, quantificar e entender os distintos
modos da flexibilidade cognitiva do funcionamento cerebral, a partir dos estados mentais: a
vigília, sono de ondas lentas (SOL) e sono dos movimentos rápidos dos olhos (MRO) ou sono
paradoxal e/ou sono REM.
-
Segundo Walker (2002): “flexível ou fluido” são os processos cognitivos, considerados
fundamentais para resolver problemas, como capacidade criativa, aprendizagem, memória,
dentre outros, e que exigem um determinado meio Neurofisiológico, onde o pressuposto teórico
é que o sono MRO ou REM, se caracteriza por um processamento psicológico mais flexível, com
maior liberdade associativa. Entretanto, permanece por ser feito um teste direto desta teoria,
utilizando como tarefa a associação livre de palavras.
-
Caso você decida, em aceitar este convite, você, será submetido (a) ao(s) seguintes
procedimentos: Os dados serão coletados em 17 grupos de 4 participantes cada, nas
dependências da Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte – UNP, em que: 1) cada
participante recebe a cada rodada, uma palavra escrita, 2) escreve a 1ª palavra que pensou ao ler
a palavra escrita, e 3) passa essa palavra para um participante vizinho. Uma palavra inicial é dada
a cada participante, para deflagrar a tarefa, que prossegue por 2 rodadas para a associação de
71
três palavras. Na 2ª etapa do experimento, os mesmos voluntários, irão individualmente para as
dependências do Laboratório de Neurofisiologia do Sono do IINN-ELS (Instituto Internacional de
Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra), onde serão realizadas semelhantes tarefas, já
desenvolvidas, com a diferença de que você será monitorado por polissonagrafia
computadorizada (EEG BrainNet 36 canais), sendo devidamente acompanhado por pesquisadores
e monitores envolvidos com a pesquisa.
-
Os riscos envolvidos com sua participação são: Por se tratar de um protocolo que utiliza
entrevistas (anamnese), questionários e tarefas escritas e verbais, além de métodos consagrados,
seguros e não invasivos e indolores (Polissonografia), a metodologia oferece risco mínimo aos
sujeitos da pesquisa. O aparelho de eletroencefalografia utilizado para o registro polissonográfico,
foi projetado e construído segundo as normas para equipamentos eletromédicos – prescrições
gerais de segurança, IEC 601-1 e normas de coleta, sendo amplamente utilizado no Brasil para
estudos clínicos, por atender às normas de segurança vigentes para o estudo de seres humanos.
Estes procedimentos asseguram total segurança nos métodos científicos aplicados neste
experimento, sem nenhum método invasivo ou de natureza outra que venha a lhe prejudicar em
qualquer instância de sua vida em geral. Caso, qualquer procedimento tomado, não for de seu
agrado ou de seu livre consentimento, providências serão tomadas para minimizar qualquer
desconforto ou manifestação que se reporte ao andamento da pesquisa.
-
Você terá os seguintes benefícios decorrentes desta pesquisa: Possível
diagnóstico inicial de sintomas diretamente associados a distúrbios do sono, obtido através da
análise dos questionários e polissonografia, entretanto, os investigadores desse projeto não são
treinados para realizar diagnósticos, e os exames realizados nesse estudo não são otimizados para
encontrar anormalidades: quando isso ocorrer, um médico neurologista será consultado para
verificar se o achado merece posterior investigação. Nesse caso, os investigadores entrarão em
contato com o médico, bem como com o voluntário, para informá-los do achado. A decisão de
como proceder, frente a um achado anormal, com relação à realização de mais exames ou do
tratamento, cabe somente ao voluntário e ao seu médico, como enfatiza o protocolo para
experimentos envolvendo neuroimagem funcional da Universidade de Stanford (Illes, et al.,
2003). Você estará contribuindo para o entendimento dos mecanismos neurocognitivos
relacionados ao funcionamento do processamento neural. Os benefícios decorrentes dessa
pesquisa, para o participante, são relevantes às contribuições de caráter científico em questão, e
da experiência subjetiva com os procedimentos científicos entre a instituição, pesquisadores e
voluntários.
72
-
Todas as informações obtidas serão sigilosas. Na 2ª etapa da pesquisa, você será
monitorado integralmente por vídeo imagem, que serão sincronizados com os registros
polissonográficos do EEG (eletroencefalógrafo) ao mesmo tempo e gravados no sistema do banco
de dados do Laboratório de Neurofisiologia do Sono. Seu nome não será identificado em nenhum
momento. Os dados serão guardados em local seguro e a divulgação dos resultados será feita de
forma a não identificar os voluntários.
-
Se você tiver algum gasto que seja devido à sua participação na pesquisa, você será
ressarcido, caso solicite. Em qualquer momento, se você sofrer algum dano comprovadamente
decorrente desta pesquisa, você terá direito a indenização. Você ficará com uma cópia deste
Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa, poderá perguntar diretamente
para João Felipe de Souza Pegado (Pesquisador-Colaborador da Pesquisa), no endereço Rua:
Prof. Luciano Francisco de Oliveira, 2460 ou pelo telefone 84 40080003 e/ou 84 94088926.
-
Dúvidas a respeito da ética dessa pesquisa poderão ser questionadas ao Comitê de Ética
em Pesquisa da UFRN no endereço Praça do Campus Universitário, Lagoa Nova. Caixa Postal 1666,
CEP 59072-970 Natal/RN ou pelo telefone (84) 3215-3135.
Consentimento Livre e Esclarecido
Declaro minha autorização a todos os procedimentos desta pesquisa, bem como a
compreensão dos seus objetivos, como ela será realizada, os riscos e benefícios envolvidos.
Concordo em participar voluntariamente da pesquisa: DISTÂNCIAS SEMANTICAS NA PRODUÇÃO
DE PALAVRAS POR ASSOCIAÇÃO LIVRE: no Ciclo sono-vigília.
Participante da pesquisa:
Nome:
assinatura
73
Pesquisador Responsável:
Prof. Sidarta Ribeiro
___________________________________________________
assinatura
Rua: Prof. Luciano Oliveira, 2460 Candelária – Natal/RN - Tel: 84 4008.0003
Comitê de ética e Pesquisa
Praça do Campus Universitário, Lagoa Nova. Caixa Postal 1666, CEP 59072-970 Natal/RN ou pelo
telefone (84) 3215-3135.
74
ANEXO III
ESCALA DE SONOLÊNCIA DE EPWORTH
Qual possibilidade de você cochilar ou
adormecer nas seguintes situações? Situações
Chance de cochilar - 0 a 3
1. Sentado e lendo
2. Vendo televisão
3. Sentado em lugar público sem atividades como sala de espera, cinema, teatro, igreja
4. Como passageiro de carro, trem ou metro andando por 1 hora sem parar
5. Deitado para descansar a tarde
6. Sentado e conversando com alguém
7. Sentado após uma refeição sem álcool
8. No carro parado por alguns minutos no durante trânsito
Total
0 - nenhuma chance de cochilar.
1 - pequena chance de cochilar.
2 - moderada chance de cochilar.
3 - alta chance de cochilar.
Dez ou mais pontos – sonolência excessiva que deve ser investigada.
Fonte - Johns MW. Sleep 1991; 14: 540- 5
Enviada pelo Dr Luiz Fernando F. Pereira. MG
Incluída no site em junho de 2007
75
ANEXO IV
76
ANEXO
V
77
ANEXO VI
REVISTA NEUROBIOLOGIA
NEUROBIOLOGIA JOURNAL
www.neurobiologia.org
DECLARAÇÃO
Declaramos para os devidos fins que o artigo original
intitulado:
Diferenças
cognitivas
entre
homens
e
mulheres na produção de associações livres de
palavras, de autoria de Pegado, J.F., Mota-Rolim, S.A.,
Ribeiro, S. e Alchieri, J.C., foi aceito para publicação na
REVISTA NEUROBIOLOGIA, vol. 74:3 de 2011, in press. O
referido é verdade e dou fé.
Recife/Pe, 13 de outubro de 2011.
________________________________________
Prof. Dr. Carlos Augusto Carvalho de Vasconcelos
Editor Assistente
78
ANEXO VII
Revisão
DIFERENÇAS COGNITIVAS ENTRE HOMENS E
MULHERES NA PRODUÇÃO DE ASSOCIAÇÕES LIVRES
DE PALAVRAS
COGNITIVE DIFFERENCES BETWEEN MEN
AND WOMEN IN THE PRODUCTION OF FREE
ASSOCIATIONS OF WORDS
1,2,4
Pegado, J.F.,
1,3,4
Mota-Rolim, S.A.,1,3 Ribeiro, S.,* 2 Alchieri, J.C.
RESUMO
Introdução: Embora diversos estudos demonstrem diferenças no desempenho cognitivo, entre homens e mulheres,
ainda não se sabe se essas diferenças ocorrem em tarefas que envolvam associação livre de palavras (AP).
Objetivo: Avaliar as distâncias semânticas de palavras produzidas por AP entre homens e mulheres. Método:
Aplicamos uma tarefa de AP em 68 voluntários adultos (52 mulheres e 16 homens). A tarefa de AP consistiu
em listar por escrito a primeira palavra pensada após visualizar outra palavra oferecida como estímulo. Na
ausência de um corpus em português adequado para à mensuração de distancias semânticas, as palavras
coletadas foram traduzidas para o idioma inglês, e semanticamente quantificadas em um corpus representativo
e sistemático desse idioma (Wordnet). Esse procedimento retirou as polissemias típicas do português, mas
preservou a macro-estrutura semântica comum às duas línguas. Resultados: Na vigília, verificamos que as
distâncias semânticas são significativamente menores nas AP produzidas por homens, em comparação com as
distâncias semânticas verificadas em AP realizadas por mulheres. Conclusão: Os resultados são compatíveis
com a noção de que as mulheres possuem um raciocínio mais abstrato do que homens.
PALAVRAS-CHAVE: distância semântica, diferença de gênero e wordnet.
Brain Institute, Federal University of Rio Grande do Norte, UFRN.
Graduate Program in Health Sciences, UFRN.
3
Graduate Program in Psychobiology, UFRN.
4
Sleep Laboratory of Hospital Academic Onofre Lopes, UFRN
1
2
*
Author for correspondence.
____________________________________________________________________________ 173
NEUROBIOLOGIA, 74(3-4) jul./dez., 2011 ___________________________________________
ABSTRACT
Introduction: Although several studies have shown differences in cognitive performance between men and
women, it is not yet known whether these differences occur in tasks involving the free word association (WA).
Objective: To compare the semantic distances between word pairs produced by WA between men and women.
Method: We applied a WA task in 68 adult volunteers (52 women and 16 men). The WA task consisted of
writing the first word that came to mind after viewing another word offered as a stimulus. In the absence of
a corpus in Portuguese, suitable for the measurement of semantic distances, word were translated to English
and the semantic distance between each pair of stimulus-associated word was quantified in a systematic and
representative English corpus (Wordnet). This procedure removed the polysemies typical of Portuguese, but
preserved the semantic macro-structure common to both languages. Results: We found that semantic distances
of WA produced by men were significantly smaller than the distances observed in WA produced by women.
Conclusion: The results are consistent with the notion that women have a more abstract reasoning than men.
KEY WORDS: semantic distance, gender difference, wordnet.
INTRODUÇÃO
O método de associação livre de palavras (AP)
foi criado por Francis Galton em 1883, e consiste
em listar, de forma escrita ou oral, as primeiras
palavras que vêm à mente ao visualizar ou escutar
uma palavra apresentada (1). Quando lemos uma
palavra, outras palavras aparecerão naturalmente na
mente, em função de suas relações semânticas, por
exemplo: “neste momento escrevo a palavra VAPOR
e penso imediatamente em: BARCO, MÁQUINA,
TREM, MOTOR” (2). Sigmund Freud e Joseph Breuer
foram os primeiros a utilizar a AP clinicamente em
pacientes com transtorno de depressão e histeria (3).
Carl Jung realizou um esforço paralelo de estudo
da AP, inicialmente com viés mais básico do que
clínico. Jung teorizou que os sentimentos, conceitos,
experiências e comportamentos estão agrupados
no inconsciente por meio de associações. Chamou
a isto de “Grupos Complexos”, idealizando um
método para diagnosticar diferentes patologias (24).
Desde então, a AP tem sido amplamente utilizada
pela psicologia, para compreender a organização
do pensamento humano.
Em décadas recentes, o advento da
computação permitiu avançar no estudo quantitativo
das AP. Um avanço importante foi a possibilidade de
calcular regularidades estatísticas de co-ocorrência
de palavras em grandes bases de dados linguísticos,
gerando espaços semânticos de alta dimensionalidade
a partir de matrizes de co-ocorrência lexical (4). A
principal premissa desse método é que a proximidade
semântica entre duas palavras pode ser extraída das
regularidades estatísticas de co-ocorrências dessas
palavras num corpus textual. Vizinhos próximos
no espaço destas co-ocorrências correspondem a
significados semelhantes e menor tempo de reação
numa tarefa de associação semântica (4). O corpus
textual mais utilizado em pesquisa é o Wordnet, um
banco de dados em inglês desenvolvido ao longo de
várias décadas por George Miller (6). No Wordnet,
as palavras estão agrupadas em conjuntos de
sinônimos para distintos conceitos, que por sua vez
estão interligados por relações semânticas e lexicais.
O Wordnet contém mais de 166.000 formas de
palavras. A conexão fundamental na rede ocorre
entre as formas da palavra e os significados da
mesma. A forma da palavra pode estar conectada
através de uma variedade de relações tais como
174 ___________________________________________________________________________
_________________________________________________________________ Pegado, J.F.; et al.
sinônimos e antônimos. Os vértices que contêm o
significado da palavra estão conectados na relação
com hiperônimos, hipônimos e merônimos (7; 9).
Uma investigação pioneira da estrutura
do Wordnet revelou que a retirada das ligações
polissêmicas, isto é, das relações com múltiplos
significados, altera a estrutura do tipo “mundo
pequeno” que caracteriza a linguagem natural,
aumentando as distancias semânticas entre as
palavras (26). Mais recentemente, um experimento
foi realizado para investigar quantitativamente a
relação entre associação livre de palavras e texto
escrito (8). Outro experimento teve por base um
jogo de associação de palavras implementado
na internet, em que a palavra associada por um
jogador servia de raiz para uma nova associação
de outro jogador. Os pesquisadores verificaram
que as associações naturalmente realizadas pelos
jogadores possuem características estatísticas de lei
de potencia, indicando que associações semânticas
distantes (e, portanto raras) são mais frequentes do
que o esperado se o processo fosse aleatório (2; 10).
Um dos conceitos centrais para a representação
das palavras no cérebro é um léxico mental sem
conteúdo fixo, pois velhas palavras podem ser
esquecidas e novas palavras precisam ser aprendidas.
O léxico mental é organizado na forma de redes de
informações específicas para formas de palavras
(nível lexema), para as propriedades gramaticais das
palavras (nível lema) e as especificações semânticas
das palavras ou nível conceitual (11). A denominação
‘léxico mental’ foi utilizada pela primeira vez por
Anne Marie Triesman em 1961, para designar um
estoque de conhecimento, funcionando como um
dicionário mental, que permite o acesso às formas
escritas e orais de palavras e seus significados (5).
No léxico mental, a aprendizagem perceptual,
a codificação e a recordação de informações
aprendidas estão envolvidas numa seleção de
entradas adequadas que transmitem informações
sobre o estímulo, que são discriminados pela interação
entre diversas áreas do córtex e da modulação
de circuitos intrínsecos, por meio de conexões de
retroalimentação. Anomalias nessas interações
estão associadas com distúrbios de comportamento,
incluindo a esquizofrenia (12). Segundo Walker (13),
pacientes com patologias no lobo frontal apresentam
dificuldades na resolução de problemas durante
a vigília, sugerindo que esta habilidade depende
dessa região.
O estudo aqui apresentado avalia possíveis
diferenças no processamento neural cognitivo entre
homens e mulheres através de AP. Na literatura, testes
de quociente de inteligência (QI) mostram que as
diferenças entre homens e mulheres são mínimas (14;
15). Embora existam diferenças específicas entre as
diversas habilidades cognitivas, não há elementos
de diferenciação entre os sexos, tanto em relação
à inteligência geral, como em testes de raciocínio
numérico, capacidades verbais e visuo-espaciais (15;
16; 17). Não obstante, ainda não se investigou se
existem diferenças de gênero na AP. O experimento
descrito nesse artigo teve o propósito de investigar
diretamente essa questão.
MATERIAIS E MÉTODOS
Participantes
Foram investigados 68 indivíduos saudáveis,
graduandos de Psicologia em uma instituição de
ensino superior do Rio Grande do Norte (RN) –
Brasil, com idade entre 18 e 43 anos (23,9 ± 5,7).
Este estudo obteve anuência do Comitê de Ética
em Pesquisa UFRN (CEP 009/10-P). Não houve
relato de ocorrências clínicas como distúrbios do
sono esquizofrenia transtorno de déficit de atenção
e hiperatividade (TDAH) dentre outros transtornos
psicopatológicos que pudessem restringir a
participação do voluntário na pesquisa.
Tarefa de Associação Livre de Palavras (AP)
A tarefa de AP foi uma adaptação presencial do
método desenvolvido por Costa (1). Foram formados
____________________________________________________________________________ 175
NEUROBIOLOGIA, 74(3-4) jul./dez., 2011 ___________________________________________
17 grupos de 4 pessoas, dispostas uniformemente ao
redor de uma mesa redonda. A tarefa foi realizada
em duas rodadas (R1 e R2) em sentido horário. Cada
rodada foi composta por 4 tarefas, uma para cada
participante, impressas em papel ofício. Cada folha
continha duas colunas com 24 espaços delimitados
para se listar a associação de palavra. A folha foi
dobrada verticalmente ao meio, contendo uma coluna
em cada lado da dobra (frente e verso). No primeiro
espaço da coluna, uma palavra-raiz foi inicialmente
escrita e escondida do voluntário por um envelope,
sendo revelada pelo pesquisador no início da tarefa.
Os 23 espaços restantes foram preenchidos por
cada membro do grupo sucessivamente, sendo que,
a AP listada pelo antecessor ao seu vizinho, torna-se
palavra-raiz para o próximo indivíduo do grupo.
Em resumo, a seqüência do experimento foi
a seguinte: 1) Os voluntários leram uma palavraraiz; 2) escreveram a primeira palavra que lhes veio
à mente; 3) quando cada voluntário terminou de
escrever sua resposta no espaço adequado, as folhas
foram passadas para o vizinho em sentido horário
e assim sucessivamente até que todos os espaços
de cada coluna foram preenchidos, completando
uma rodada. Foram coletadas 3.264 associações
de palavras compreendendo substantivos, adjetivos,
advérbios, pronomes e verbos. Palavras compostas,
nomes próprios e palavras iguais ao estímulo dado
na tarefa, foram desconsideradas.
Análise da distância semântica e estatística
Devido à inexistência de um corpus textual em
português capaz de fornecer medidas acuradas de
distância semântica, todas as palavras coletadas em
AP foram traduzidas para o idioma inglês a fim de
terem suas distâncias semânticas quantificadas em
um corpus representativo e sistemático desse idioma,
o Wordnet. Esse procedimento retira as polissemias
típicas do português, mas preserva a macro-estrutura
semântica comum às duas línguas. Para calcular a
distância semântica, dividimos o parâmetro 1 (único
caminho lexical representado pelo grafo formado
entre as palavras) por X (número de nodos lexicais
visitados) baseado em (25). Os dados obtidos no
“WNconnect 1.7.1”, foram analisados por meio do
software GraphPadPrism 5.0, em análise estatística
não paramétrica (Teste Mann-Whitney bi-caudal,
p < 0,05) para duas amostras de populações
independentes, observando possíveis diferenças
entre elas.
RESULTADOS
Verificou-se a inexistência de diferenças
significativas entre as distâncias semânticas das
palavras produzidas por associação livre entre as
rodadas R1 e R2 para os homens (p = 0,1206).
Entre as mulheres (Fig.1b), também observamos que
a AP em R1 é semelhante à AP em R2 (p = 0,4567).
Entretanto, ao parearmos a R1 dos homens com a R1
das mulheres, notamos que as distâncias semânticas
das palavras apresentam diferenças estatisticamente
significativo (p = 0,0394; Fig. 1c). O mesmo foi
observado para R2 (p = 0,0363; Fig.1d).
DISCUSSÃO
Observamos uma distância semântica
significativamente menor nas associações de palavras
produzidas pelos homens, em comparação com as
mulheres, tanto na R1 e R2 (Fig. 1c e Fig. 1d). Na
repetição da tarefa de AP (R1 seguida de R2, Fig.
1a,b), o resultado sugere um mesmo padrão nas
distâncias semânticas entre as palavras produzidas
pelos homens e pelas mulheres. Já nas figuras. 1.c e
1d observamos que as associações livres produzidas
pelas mulheres são mais abstratas, em contraste
com os homens que realizaram AP mais concretas
(18). A hipótese principal sustenta que palavras mais
concretas são processadas mais rapidamente do que
palavras abstratas (19) em diversas tarefas tanto de
memória quanto de linguagem. Assim, nosso resultado
176 ___________________________________________________________________________
_________________________________________________________________ Pegado, J.F.; et al.
Figura 1 – Distâncias semânticas entre as associações livres de palavras comparando R1 com R2 entre homens (a) e
mulheres (b); ou comparando entre os gêneros na R1 (c) e na R2 (d).
sugere que as mulheres associam palavras através de
um raciocínio mais abstrato (menos concreto) do que
os homens.
De acordo com Guillem et al. (17) “Os homens
e as mulheres utilizam estratégias diferentes para
desempenhar as mesmas funções cognitivas nem pior
nem melhor, mas de modo diferente”. Essas diferenças
de processamento cognitivo podem ser explicadas
sob o prisma das teorias evolutivas, que defendem
diferentes funções sociais dos gêneros para a melhor
adaptação ao ambiente. Assim, tem sido sugerido
que enquanto as mulheres usam várias partes do
cérebro para resolverem determinadas tarefas, os
homens realizam processamento cognitivo de modo
neuroanatomicamente menos distribuído (20; 21).
Pesquisas sobre as possíveis diferenças nas
habilidades cognitivas entre homens e mulheres
não verificam que os homens tenham maior aptidão
matemática e científica do que as mulheres. Eventuais
diferenças tendem a ser pequenas e são resultantes
principalmente de diferentes estratégias e escolhas
(15). Parte da comunidade científica entende que não
há atualmente evidência que aponte para diferenças
biológicas inatas da mente entre homens e mulheres;
são as crenças culturais e sociais que contribuem
principalmente para estas diferenças (20; 22; 23).
____________________________________________________________________________ 177
NEUROBIOLOGIA, 74(3-4) jul./dez., 2011 ___________________________________________
Homens e mulheres estão predispostos a
partir do nascimento a aprender coisas diferentes:
crianças do sexo masculino aprendem mais, por
exemplo, sobre as relações mecânicas dos objetos,
enquanto que bebês do sexo feminino tendem a
aprender mais sobre as pessoas, emoções e relações
pessoais (14; 16). Embora crianças mais velhas
mostrem reduzidas diferenças nos perfis cognitivos,
estas são complexas e sutis (14). Essas diferenças
tendem a ser pequenas e se originam principalmente
da estratégia de diferentes escolhas. As diferenças
de perfis individuais entre os sexos não conotam uma
vantagem masculina ou feminina na aprendizagem,
seja em matemática avançada, habilidades para
representar e identificar objetos, número e espaço.
Elas dependem, sobretudo, das capacidades
funcionais individuais presentes desde o início da
vida (16). O fato de não ter sido possível quantificar
os dados diretamente em português limitou nossa
investigação e deve ser mencionado. Planejamos
construir um corpus representativo em português para
medir distâncias semânticas e comparar resultados
com o presente estudo, obtido no Wordnet após
tradução, um procedimento que reduz a ocorrências
de polissemias.
CONCLUSÃO
Podemos concluir que o método de associação
livre de palavras evocadas espontaneamente revela
diferentes estratégias entre homens e mulheres.
As mulheres apresentaram características de um
raciocínio mais abstrato do que os homens na
realização de tarefas por associação livre de
palavras. Este aspecto está fundamentado na
distância semântica significativamente maior nas
redes associativas da mulheres, enquanto que os
homens apresentam uma menor distância semântica
entre as palavras, sugerindo maior concretude na
construção do pensamento.
AGRADECIMENTOS
A Nathália Maria Lemos e Gleyson Paulo
pela ajuda inicial na realização dos experimentos.
À Coordenação e Direção do curso de Psicologia
da Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte
(UNP-RN); aos alunos de Psicologia da UNP-RN
que participaram voluntariamente da pesquisa; a
Lara Lectícia de Souza Pegado por colaboração nas
análises estatísticas; a John Fontenele Araujo e Paula
Tiba por suas críticas construtivas.
SUPORTE
FINEP 01.06.1092.00,
481506/2007-1.
CNPq
Universal
REFERÊNCIAS
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palavras: Jung not dead. Tesis de licenciatura em
Ciencias Físicas, Faculdade de Ciências Exactas y
Naturales, UBA, 2008.
2. Costa, ME., Bonomo, F., Sigman, M. Scale-invariant
transition probabilities in free word association
trajectories. Front Integr Neurosci 2009, (Pt 3):19.
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J., Trans). New York: Basic Books. (Original work
published 1895), 1957.
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