UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE (PPGCSA) INSTITUTO DO CÉREBRO (UFRN) DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DIFERENÇAS DE GÊNERO NA PRODUÇÃO DE ASSOCIAÇÕES LIVRES DE PALAVRAS ATRAVÉS DO CICLO SONO-VIGÍLIA Apresentado por: João Felipe de Souza Pegado Orientador: Prof. João Carlos Alchieri (PPGCSA/UFRN) Co-Orientador: Prof. Sidarta Ribeiro (ICe/UFRN) Natal, 20 de Abril de 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE (PPGCSA) INSTITUTO DO CÉREBRO (UFRN) JOÃO FELIPE DE SOUZA PEGADO DIFERENÇAS DE GÊNERO NA PRODUÇÃO DE ASSOCIAÇÕES LIVRES DE PALAVRAS ATRAVÉS DO CICLO SONO-VIGÍLIA Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciências da Saúde – PPGCSA da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde. Linha de Pesquisa: Neurociências. Orientador: Prof. João Carlos Alchieri Co-Orientador: Prof. Sidarta Ribeiro Natal, 20 de Abril de 2012 Saúde Coletiva, FICHA CATALOGRÁFICA AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Apoio ao Usuário Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN – Biblioteca Setorial do Centro de Ciências da Saúde P376d Pegado, João Felipe de Souza. Diferenças de gênero na produção de associações livres de palavras através do ciclo sono-vigília / João Felipe de Souza Pegado. – Natal, 2012. 2af. : il. Orientador: Prof. Dr. Prof. João Carlos Alchieri. Co-Orientador: Prof. Dr. Sidarta Ribeiro. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 1. Memória – Dissertação. 2. Gênero – Dissertação. 3. Associação de palavras – Dissertação. 4. Ciclo sono-vigília – Dissertação. I. Alchieri, João Carlos. II. Ribeiro, Sidarta. III. Título. RN/UF/BSA01 CDU: 612.821.2 FOLHA DE IDENTIFICAÇÃO TÍTULO: DIFERENÇAS DE GÊNERO NA PRODUÇÃO DE ASSOCIAÇÕES LIVRES DE PALAVRAS ATRAVÉS DO CICLO SONO-VIGÍLIA. Autor: João Felipe de Souza Pegado Data da defesa: 20 de abril de 2012 Banca Examinadora: Membro Externo: Profa Paula Tiba, Universidade Federal do ABC Membro Interno: Prof. John Fontenele Araújo Universidade Federal do Rio Grande do Norte Co-Orientador: Prof. Sidarta Ribeiro Universidade Federal do Rio Grande do Norte Orientador: Prof. João Carlos Alchieri Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal, 20 de Abril de 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE (PPGCSA) TERMO DE APROVAÇÃO A Banca Examinadora, constituída pelos professores abaixo listados, leram e recomendam a aprovação da dissertação de mestrado, intitulada “Diferenças de gênero na produção de associações livres de palavras, através do ciclo sono-vigília”, apresentada no dia, 20 de Abril de 2012, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde. Orientador: _______________________________________ Prof. Dr. João Carlos Alchieri Universidade Federal do Rio Grande do Norte Co-orientador: _______________________________________ Prof. Dr. Sidarta Ribeiro Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro externo: _______________________________________ Profa Dra. Paula Tiba Universidade Federal do ABC Membro interno: ________________________________________ Prof. Dr. John Fontenele Araújo Universidade Federal do Rio Grande do Norte DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais João Mariano Gomes Pegado e Maria Helena Ribeiro de Souza, que sempre acreditaram em mim e se dedicaram para me educar. Aos meus filhos Lara Lectícia, Jorge Michelle e Enrico Giusseppe. AGRADECIMENTOS Ao Grande Espírito da Vida. À Coordenação e Direção do Curso de Psicologia da Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte (UnP), Unidade Salgado Filho. Aos alunos de Psicologia da Universidade Potiguar (UnP), que participaram voluntariamente da pesquisa. Ao Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ICe/UFRN), pela disponibilização física dos equipamentos de análise. Ao Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINNELS), pela disponibilização física dos equipamentos de análise na segunda etapa desta pesquisa. . A FINEP pelo apoio financeiro (CNPq Universal). À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior (CAPES). EPÍGRAFE “Trabalhe, estude e ame como se estivesse brincando. Procure, lembre dos pontos divertidos do seu trabalho, estudo e relacionamento. Sobreponha os pontos positivos dos negativos. Mas lembre-se também que seu trabalho, estudo e relacionamento não são brincadeiras, dessas casuais, então trate-os com seriedade e responsabilidade. Exerça o paradoxo: Suave e Firme!”. Robson Feitosa SUMÁRIO RESUMO............................................................................................................... 12 ABSTRACT........................................................................................................... 13 1. INTRODUÇÃO........................................................................................... 14 2. OBJETIVO GERAL.................................................................................... 19 3. JUSTIFICATIVA......................................................................................... 20 4. MATERIAIS E MÉTODOS......................................................................... 22 4.1 WORDNET...................................................................................... 28 5. MANUSCRITO (ARTIGO 1 - no prelo)....................................................... 32 6. MANUSCRITO (ARTIGO 2 - em revisão).................................................. 42 7. COMENTÁRIOS, CRÍTICAS, E SUGESTÕES.......................................... 60 8. APÊNDICE................................................................................................. 61 9. REFERÊNCIAS GERAIS........................................................................... 62 ANEXO I Questionário Sócio Demográfico.......................................... 68 ANEXO II Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE)............ 70 ANEXO III Escala de Sonolência EPWORTH........................................ 74 ANEXO IV Folha de Tarefa V-Pré (exemplo)......................................... 75 ANEXO V Parecer de Aprovação do CEP-UFRN................................. 76 ANEXO VI Declaração de Aceite do Artigo na Revista.......................... 77 ANEXO . VII Artigo Impresso: Revista Neurobiologia.org......................... 79 LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS AP - Associação de Palavras. EEG - Eletroencefalograma; Eletroencefalografia; Eletroencefalógrafo. G1 - Grupo 1 (10 indivíduos; homens e mulheres). G2 - Grupo 2 (10 indivíduos; homens e mulheres). MRO - Fase do estado cerebral do sono de movimentos rápidos dos olhos (tradução literal em português-brasil) ou sono REM (Rapid eyes moviment) em Inglês, conhecido como sono paradoxal, por possuir uma atividade cortical muito semelhante ao estado da vigília. PSG - Polissonografia. R1 - Rodada 1 (primeiro momento experimental). R2 - Rodada 2 (segundo momento experimental). Roget- Dicionário de Peter Mark Roget, intitulado: "Thesaurus of English words and phrases". Roget chamou de "thesaurus" seu dicionário de palavras, uma vez que o termo também designa vocabulário, dicionário ou léxico. SOL - Fase do estado cerebral do sono de ondas lentas (tradução literal em português-Brasil). P.S: A sigla (N3) também é uma nomenclatura clínica para a identificação do sono de ondas lentas no Brasil; e em inglês é conhecida como SWS ou NREM. Tesauro Se origina do grego "thesaurós" e significa "tesouro ou repositório". Tesauro é uma linguagem especializada, normalizada, póscoordenada, usada com fins documentários, onde os elementos linguísticos que a compõem – termos, simples ou compostos, encontram-se relacionados entre si, sintática e semanticamente. V Vigília. - V-Pré - Vigília pré-sono V-Pós - Vigília pós-sono Wordnet Um sistema de referência léxica online cujo projeto foi inspirado em teorias psicolinguísticas atuais sobre a memória léxica humana. LISTAS DE FIGURAS FIGURA 1- Dinâmica dos Grupos Experimentais.................................... 23 FIGURA 2- Preparação do Instrumento Experimental............................. 23 FIGURA 3- Slide do desenho de aplicação da tarefa em grupo.............. 24 FIGURA 4- Folha Experimental onde o estímulo ou palavra-raiz é dado ao participante associar outras palavras.................................... 24 FIGURA 5- Slide da segunda etapa experimental................................... 25 FIGURA 6- Hipnograma Experimental..................................................... 26 FIGURA 7- Slide do programa Wordnet.................................................. 29 FIGURA 8- Ilustração da representação de uma rede semântica........... 29 FIGURA 9- Figura 1 do primeiro manuscrito: Resultados........................ 37 FIGURA 10 - Figura 1 do segundo manuscrito: Traçados de EEG............ 47 FIGURA 11 - Figura 2 - segundo manuscrito: Hipnograma........................ 49 FIGURA 12 - Figura 3 - segundo manuscrito: Gráfico................................ 50 FIGURA 13 - Figura 4 - segundo manuscrito: Gráficos dos Resultados.... 51 FIGURA 14 - Figura 5 - segundo manuscrito: Gráficos dos Resultados.... 52 FIGURA 15 - Figura 6 - segundo manuscrito: Gráfico dos Resultados...... 53 12 RESUMO Embora diversos estudos demonstrem diferenças no desempenho cognitivo, entre homens e mulheres, ainda não se sabe se essas diferenças ocorrem em tarefas que envolvam associação livre de palavras (AP). Estudos através do ciclo sono-vigília (CSV) sugerem que o sono de movimento rápido dos olhos (MRO) favoreça a flexibilidade semântica, em comparação com a vigília présono (V-Pré), o sono de ondas lentas (SOL) e a vigília pós-sono (V-Pós). O presente trabalho teve 2 objetivos: (1) Avaliar as distâncias semânticas de pares de palavras produzidas por AP, comparando homens e mulheres; (2) Avaliar distâncias semânticas em palavras produzidas por associação livre, através do CSV em adultos jovens de ambos os sexos. Para alcançar o objetivo (1), aplicamos uma tarefa de AP em 68 voluntários adultos durante a vigília (52 mulheres e 16 homens). A tarefa de AP consistiu em listar por escrito a primeira palavra pensada após visualizar outra palavra oferecida como estímulo. Para alcançar o objetivo (2), realizamos registro polissonográfico para identificar fases específicas do CSV. Os sujeitos experimentais foram então despertados (caso estivessem em sono) e foram imediatamente submetidos a uma tarefa de AP. Administrou-se a tarefa de AP a 2 grupos de 10 pessoas cada (G1 e G2). Sujeitos de G1 foram estimulados com o mesmo conjunto de palavras-raiz após despertar dos diversos estados do CSV, enquanto que sujeitos de G2 receberam conjuntos de palavras-raiz diferentes a cada estado do CSV. Na ausência de um corpus em português adequado para à mensuração de distancias semânticas, as palavras coletadas foram traduzidas para o idioma inglês, e semanticamente quantificadas em um corpus representativo e sistemático desse idioma (Wordnet). Esse procedimento retirou as polissemias típicas do português, mas preservou a macroestrutura semântica comum às duas línguas. Na vigília, verificamos que as distâncias semânticas são significativamente menores nas AP produzidas por mulheres, em comparação com as distâncias semânticas verificadas em AP realizadas por homens. Através do CSV, não foram detectadas diferenças estatisticamente significativas em G1. Em mulheres de G2, detectamos um aumento significativo das distâncias semânticas após despertar de SOL. Em contraste, homens de G2 apresentaram um aumento significativo das distâncias semânticas após despertar de MRO. Os resultados do primeiro experimento são compatíveis com a noção de que as mulheres possuem um raciocínio mais concreto do que homens. Os resultados do experimento 2 indicam que homens despertados durante o MRO apresentam AP mais flexíveis em comparação com as AP produzidas após vigília ou após despertar de SOL. Mulheres apresentaram resultados distintos, com AP mais flexível após despertar de SOL, em comparação com os outros estados. Os resultados indicam que a flexibilidade cognitiva atribuída a diferentes estados do CSV apresenta dependência de gênero. Palavras - chaves: Associação de Palavras, Ciclo sono-vigília, Memória, Gênero. 13 ABSTRACT Although several studies, have shown differences in cognitive performance between men and women, it not yet known whether these differences occur in tasks involving free association of words (WA). Studies across the sleep-wake cycle (SWC) suggest that rapid eye movement sleep (REM) favors semantic flexibility, in comparison with pre-sleep waking (Pre-WK), slow-wave sleep (SWS) and post-sleep waking (Post-WK). The present work has two aims: (1) to evaluate the semantic distances of word pairs produced by AP, comparing men and women, (2) to evaluate semantic distance in word pairs produced by free association across the SWC in young adults of both sexes. To achieve aim (1), we applied a task of WA in 68 adult volunteers during waking (52 women and 16 men). The WA task consisted of writing the first word that came to mind after viewing another word offered as a stimulus (root Word). To achieve aim (2), we performed polysomnography to identify specific stages of the SWC. The experimental subjects were then awakened (if they were asleep) and were immediately given a WA task. The task was administered to 2 groups of 10 subjects each (G1 and G2). G1 subjects were stimulated with the same set of root words after waking from various states of SWC, while G2 subjects received sets of different root words at each state of the SWC. In the absence of a Portuguese corpus suitable for the measurement of semantic distances, the words collected in our experiments were translated to English, and semantically quantified within a systematic and representative corpus of that language (Wordnet). This procedure removed the polysemies typical of Portuguese, but preserved the semantic macrostructure common to both languages. During waking, we found that semantic distances are significantly lower in WA produced by women, in comparison with the distances observed in men. Through the SWC, there were no statistically significant differences in G1. In G2 women, we detected a significant increase of semantic distances upon being awakened from SWS. In contrast, G2 men showed a significant increase in semantic distances upon being awakened from REM. The results of the first experiment are consistent with the notion that women have a more concrete reasoning than men. The results of the second experiment indicate that men awakened from REM present more flexibility in word association than when being awakened from other states. In contrast, women showed more flexible word association after being awakened from SWS, in compared with other states. The results indicate that the cognitive flexibility attributed to different states of the SWC shows gender dependency. Keywords: Words Association, Wake Sleep Cycle, Memory, Gender. 14 1. INTRODUÇÃO Em busca de compreender os processos cognitivos da mente, as palavras têm sido amplamente utilizadas por pesquisadores como ferramenta de investigação, em função da facilidade de sua manipulação e familiaridade nas atividades humanas (Janczura, 2005 apud Barsalou, 1982). Estima-se que um adulto normal tem conhecimento passivo de cerca de 50.000 palavras e, ainda assim, pode reconhecer e produzir cerca de três palavras por segundo, sem qualquer dificuldade. Um conceito central para a representação das palavras no cérebro é chamado de léxico mental que inclui informação semântica (o significado da palavra), sintática (como as palavras são combinadas para formar uma sentença) e os detalhes das formas das palavras (como são pronunciadas e qual o seu padrão de som) (Gazzaniga, 2006 p-370). O léxico mental é necessário porque sem ele, a produção lingüística seria longa e laboriosa e não poderia representar com precisão os pensamentos. Uma analogia que é frequentemente usada para ilustrar o conceito de léxico mental é a de um sofisticado dicionário (Fellbaum, 1998). As teorias sobre o léxico mental, tentam explicar os padrões e regularidades que fundamentam o conhecimento das pessoas sobre o uso das palavras. Dois tipos de tarefas têm sido usadas para fazer isso - são as tarefas de categorização semântica e de decisão lexical (Sánchez-Casas, D., & García-Albea, 1992). Para compreendermos melhor, o Léxico mental é organizado na forma de redes de informações específicas, subdividido em três níveis (Treisman, 1961). Um conjunto menor de estruturas neuronais, geralmente situadas no hemisfério esquerdo, representa os fonemas (Nível Lexema), suas combinações e as regras 15 sintáticas de ordenação destas palavras em frases (Nível Lema). Outro conjunto, também presente no hemisfério esquerdo, produz palavras a partir do nível conceitual (Costa, 2008). Uma questão importante em linguística, filosofia e ciência do cérebro, é como este conteúdo conceitual na mente desempenha um papel de mediador entre a forma da palavra e as características do seu significado (Sigman, 2001 apud Chomsky, 1988). Acreditamos que estudar como as palavras se organizam, armazena, recupera e manipula a informação no cérebro, proporciona uma ampla janela de investigação científica. Durante o discurso, seja falado ou escrito, essas tarefas são coordenadas para concatenar as idéias, o que pode gerar um repertório infinito de conceitos a partir do conhecimento de cada indivíduo. Outro fenômeno da vida cotidiana sugere que há uma ordem no espaço das palavras e é quase que um mecanismo espontâneo associarmos uma palavra por outra. Quando ouvimos uma palavra, algumas associações, na verdade, são quase inevitáveis. Quando nos confrontamos com a palavra BRANCO, todos nós, quase sempre, iremos pensar na palavra PRETO de imediato. Quando lemos uma palavra, outras palavras aparecerão naturalmente na mente, em função de suas relações semânticas, por exemplo: “neste momento escrevo a palavra VAPOR e penso imediatamente em: BARCO, MÁQUINA, TREM, MOTOR”. Ao escutar uma palavra, outras palavras aparecerão naturalmente na mente, em função de suas relações semânticas (Costa, 2008). Podemos considerar a linguagem enquanto fenômeno de um sistema complexo e um sistema adaptativo, aberto – aonde novos elementos serão agregados, fazendo com que o sistema se modifique e se auto-organize (Teixeira, 2007). Portanto, a linguagem pode ser definida como um sistema complexo e 16 dinâmico de símbolos convencionais, usados de várias maneiras para pensar e comunicar (Teixeira, 2007 apud Tabith Júnior, 2005, p.18). Segundo Vygotsky, (1987): “o pensamento verbal é um processo mental dinâmico e complexo, onde o seu desenvolvimento segue um caminho complexo e se interconectam, interagem vários elementos contendo variações abundantes e movimentos de caráter progressivo e regressivo incontáveis de caminhos ainda desconhecidos” (Paiva, 2005 apud Vygotsky, 1987). E como a linguagem oral e escrita é mediada por palavras, percorrendo apenas um destes caminhos desconhecidos para enunciar o conhecimento subjetivo, o fenômeno da linguagem pode ser considerado um sistema complexo que faz parte de outro sistema complexo ainda maior - o ambiente cérebro-mente (Teixeira, 2007). Uma das características indicativas de um sistema complexo pode ser determinada a partir da distribuição de frequência dos seus componentes a fim de classificar esta distribuição como normal ou se ela segue uma lei de potência (Teixeira apud Caldeira, 2005). Segundo Caldeira, 2005: “Têm-se a evidência da correlação entre linguagem e sistemas complexos, onde o conceito de redes complexas pode modelar a linguagem” (Teixeira, 2007). Em termos psicolinguísticos, segundo Westbury, (1998): “as palavras concretas ativam uma estrutura representada na memória com maior intensidade do que as palavras abstratas, sendo mais fáceis de acessar e lembrar, sendo menos vulneráveis a danos cerebrais do que as palavras abstratas”. 17 A concretude de uma palavra relaciona-se à experiência ou referência sensorial. Palavras concretas são mais propensas a produzir imagens mentais, por isso são mais facilmente lembradas (Nelson & Schreiber, 1992; Sadoski, 1997). De acordo com Bleasdale (1987): “Estudos sobre memória, têm corroborado que palavras concretas possuem vantagens em relação as palavras abstratas, tendo, a concretude da mesma, influenciado de forma positiva no processo de decisão lexical” (Salles, et al., 2008). Esse fato pode ser explicado pela maior probabilidade em que palavras concretas possam ser mais facilmente acessadas, devido a diferenças existentes nos mecanismos do processamento lexical em relação às palavras abstratas (Janczura et al., 2007). Para Toren (2000), estilos cognitivos possuem diferentes conceitos, mensurados desde o século XIX, como os trabalhos de Sperman (1904), onde o pressuposto teórico aponta, para uma proposta de classificação dos estilos cognitivos entre, uma inteligência rígida ou cristalina a partir de um modelo ‘fluido’ ou flexível da cognição cerebral. Já Nielson et. al., 1999, pressupõem que o sonhar é um processo que está fortemente relacionado com os movimentos oculares rápidos dos olhos, e que após o despertar deste estado, tem sido associado uma maior expressão criativa na execução de tarefas (Been, 1997). Matthew Walker (2002), investigando as diferenças na flexibilidade cognitiva e usando jogos de anagramas, durante o estágio da vigília, seguido do despertar noturno no sono de ondas lentas (SOL) e do movimento rápidos dos olhos (MRO) ou sono REM, tem-se a hipótese de que no sono MRO (existindo sonho), pode haver maior facilidade de resposta relacionada a memória (Broughton, 1982), na eficiência das capacidades cognitivas, oferecendo novas perspectivas sobre a 18 hiperassociatividade e os processos criativos, do que no estado do sono REM, onde não houve o sonho (Walker, 2002 apud Gaines, 1990; Mazzarello, 2000). Neste estudo, os pesquisadores testaram as capacidades de resolução de uma tarefa através do jogo de anagramas, e viram que elas diferem significativamente ao longo do ciclo sono-vigília. Seus resultados mostram que após o despertar de sono MRO, este estado cerebral proporciona uma vantagem de 32% sob o número de anagramas resolvidos corretamente, em comparação com o sono de ondas lentas (SOL), sendo igualmente observado na vigília. No entanto, não foram observadas diferenças significativas entre tempo de reação para a solução do problema (Walker, 2002). Já o estudo de Sara Mednick et. al., 2009 postula que o sono MRO pode facilitar a formação de novas associações cognitivas, pressupondo que o sonhar, seja um evento modificador do processamento neural, e que estas correlações no desempenho do ciclo sono-vigília (CSV) dos perfis individuais, sugere que esta fase do sono, ofereça outra condição no modo de resolver problemas em comparação com a Vigília (V) e o sono de ondas lentas (SOL), reforçando a integração dos mecanismos cerebrais, facilitado pela neuromodulação colinérgica e noradrenérgica durante o sono MRO. Sabe-se que durante a vigília, os níveis mais elevados de noradrenalina e acetilcolina inibem conexões recorrentes no neocórtex. Durante o sono MRO, no entanto, altos níveis da acetilcolina no hipocampo suprimem o feedback para o neocórtex, enquanto que os níveis mais baixos de acetilcolina e norapinefrina no neocórtex pode facilitar a dispersão da atividade dentro das áreas neocorticais (Medinik, 2009 apud Hasselmo, 1999). Isto é apoiado por evidências comportamentais de amnésia onde a ativação dessa rede associativa durante o 19 sono é atvada independente das estruturas do lobo temporal medial e pode refletir a reativação das lembranças remotas que são menos dependente do hipocampo (Medinik, 2009 apud Stickgold, 2000). Para observar parte destas questões, em nosso estudo, adotamos o método de associação livre de palavras (AP) que foi iniciado por Francis Galton em 1883, e consiste em listar, de forma escrita ou oral, as primeiras palavras que vêm à mente ao visualizar ou escutar uma palavra apresentada (Costa, 2008; Nelson et al., 2005). Sigmund Freud e Joseph Breuer foram os primeiros a utilizar associações de palavras (AP) clinicamente (Costa, 2008 apud Breuer, 1957), com pacientes portadores de transtorno depressivo e histeria. Carl Gustav Jung realizou um esforço paralelo de estudo da AP, inicialmente com viés mais básico do que clínico. Jung (1904-1907) teorizou que os sentimentos, conceitos, experiências e comportamentos, estão agrupados no inconsciente por meio de associações. Chamou a isto de “Grupos Complexos”, idealizando um método para diagnosticar diferentes patologias (Costa, 2008 apud Jung, 1904-1907). Através do método de AP aqui adotado, quantificamos as distâncias semânticas entre as palavras livremente associadas, na tarefa, analisando-as através do ciclo sono-vigilia (CSV), verificando possíveis diferenças no processamento neural cognitivo das dinâmicas psicológicas dos distintos estados cerebrais do CSV, de homens e mulheres, adultos jovens, saudáveis, e entre os gêneros (eles). 2. OBJETIVO Analisar as distâncias semânticas produzidas por Associação Livre de Palavras (AP), entre homens e mulheres através do CSV. 20 3. JUSTIFICATIVA Existe uma variedade de trabalhos publicados com listas de palavras associadas. A psicologia cognitiva e a neurolingüística, busca compreender a linguagem, entre outros temas, o conhecimento conceitual, como é o caso do estudo de Hampton e Gardiner em 1997, bem como o estudo do processamento léxico semântico, de Shelton (2001). Destacam-se também os trabalhos de Nelson, Schreiber, & McEvoy, (1992), os índices de normas associativas, como força de associação e tamanho do conjunto, que “demonstra” a forma como o conhecimento semântico é organizado e representado na memória (Macizo, 2000); os trabalhos de memória e linguagem na área da Psicologia Cognitiva, Neuropsicologia e Neurolinguística, de Rapp & Goldrick (2006); os que relacionam estes processos cognitivos, através do estudo das palavras, como é o caso, das associações de palavras para o paradigma de associados convergentes ou DRM (Deese-Roediger-McDermott) de Stein e Pergher (2001) e Pimentel (2001); as normas de associação para palavras de Janczura (1996; 2005); as normas de frequência de ocorrência de palavras, de Pinheiro (1996); e as normas de associação semântica para 88 palavras do português brasileiro, de Salles (2008). As redes hierárquicas apresentadas por Collins e Quillian (1969) é um exemplo de proposta teórica sobre a organização das redes semânticas de palavras. Contudo, os modelos de redes semânticas também têm incorporado técnicas e conceitos provenientes da área da informática e da computação (Teixeira, 2008 apud Albert & Barabási, 2004; Ferrer-i-Cancho & Solé, 2001). Estudos de análises computacionais, como a análise de grafos vêm sendo realizados sobre as associações de palavras (Steyvers & Tenenbaum, 2005). Entretanto, a utilização deste tipo de análise no fenômeno das associações é 21 ainda recente. Segundo Coronges (2007; 2009): “há poucos estudos sobre o desenvolvimento dessas associações”. Percebe-se que a variabilidade de tarefas de avaliação e os diferentes delineamentos de pesquisa têm levado a resultados distintos (Jerger, 2002; Little, 2004; Rönnlund, 2005; Sauzéon, 2004). Ao se fazer uso da tarefa de associação de palavras o panorama de resultados também tem se mostrado diversificado, pois não apontam diferenças entre os gêneros, embora demonstrem diferenças em relação às idades (Burke & Peters, 1996; Hirsh & Tree, 2001; Macizo et al., 2000) (Teixeira, 2007). Embora a literatura aponte diferenças específicas entre as diversas habilidades cognitivas, não há elementos concretos, por exemplo, de diferenciação entre os sexos, tanto em relação ao Fator G (que é um fator quantitativo, comum e presente em todas as funções cognitivas do homem - o raciocínio e a inteligência); bem como em testes de raciocínio numérico, capacidades verbais e visuo-espaciais (Flores-Mendonza, 2000). Não encontramos estudos que correlacionam de fato o estudo das associações de palavras com os distintos estados cerebrais do ciclo sono-vigília. Não obstante, como não conhecemos se existem diferenças cognitivas entre homens e mulheres, através de um teste direto de associação livre de palavras (AP), adaptado ao modelo de Galton (1879; 1883) por Costa (2008), tornamos possível esta investigação. Observar possíveis dinâmicas psicológicas do pensamento através da AP, medidas e categorizadas entre palavras concretas e abstratas, durante o ciclo sono-vigília (CSV), sob a hipótese de observar possíveis diferenças nestas dinâmicas. Como permanecia por ser feito um teste direto de AP, o presente trabalho estabeleceu um banco de dados gerado das distâncias 22 semânticas entre as palavras, para avaliar e quantificar a existência de alguma diferença. 4. MATERIAIS E MÉTODOS Para atingir o objetivo proposto nesta pesquisa, utilizamos a metodologia de associação livre de palavras, aplicada em grupo de indivíduos sadios e individualmente. A análise dos dados foi quantificada por um sistema estatístico de redes semânticas, chamado Wordnet, como parâmetro para que pudéssemos medir as possíveis diferenças nas dinâmicas psicológicas já mencionadas. Na primeira etapa da pesquisa, aplicamos uma tarefa de AP em 68 voluntários adultos (52 mulheres e 16 homens), recrutados aleatoriamente em uma instituição de ensino superior, do Rio Grande do Norte-RN, Brasil, a Universidade Potiguar (UNP), mediante interesse dos mesmos. Dessas amostras independentes, conseguimos formar 17 grupos de 4 indivíduos cada (entre homens e mulheres). A tarefa de AP consistiu em listar por escrito a primeira palavra pensada após visualizar outra palavra oferecida como estímulo, em uma folha de papel, contendo 24 espaços para serem listadas com as associações do grupo formado. Em resumo, a sequencia do experimento foi à seguinte: 1) Os voluntários leram uma palavra-raiz (método organizado por costa, 2008); 2) escreveram a primeira palavra que lhes veio à mente; 3) quando cada voluntário terminou de escrever sua resposta no espaço adequado, as folhas foram passadas para o vizinho em sentido horário e assim sucessivamente até que todos os espaços de cada coluna fossem preenchidos, completando uma rodada, ou seja, a palavra associada pelo primeiro indivíduo serviu de estímulo-raiz para 23 seu vizinho e assim sucessivamente (em torno de uma mesa). Foram coletadas 3.264 associações de palavras compreendendo substantivos, adjetivos, advérbios, pronomes e verbos. Palavras compostas e nomes próprios foram excluídos e considerados margem de erro. FIGURA. 1 Modelo do Desenho Experimental aplicado a 68 sujeitos divididos em 17 grupos de N4 indivíduos na Vigília (V). Sujeito N1, N2, N3, N4, homens e mulheres, recebem uma tarefa de associação de palavras em duas rodadas (R1 e R2) que acontece em sentido horário ao redor de uma mesa. São associadas 48 palavras por indivíduo, totalizando a coleta de 192 palavras por grupo, gerando um total de 3264 palavras associadas. 24 FIGURA. 2 Preparação do Instrumento Experimental: pegamos uma folha de papel A4, dobramos ao meio, verticalmente. Em cada lado da folha, temos 24 espaços para serem preenchidos pelas associações de palavras. Acima de todos os espaços, uma palavraraiz é oferecida como estímulo aos voluntários. Cada participante do grupo recebe uma folha dentro de um envelope, que será revelada ao início da tarefa. 25 FIGURA. 3 Exemplo real da dinâmica dos grupos experimentais ao resolverem a tarefa de associação livre de palavras. Espaço físico cedido pela instituição (Universidade) sediadora da primeira etapa da pesquisa (UNP). FIGURA. 4 Folhas experimentais em que o estímulo ou palavra-raiz é dado ao participante associar outras palavras que lhes vem a mente. 26 Na segunda etapa experimental, determinamos um desenho experimental para a aplicação da tarefa em conjunto com a monitoração por eletroencefalografia (EEG), que nos permitiu monitorar o ciclo sono-vigília do indivíduo. Delineamos o experimento, aplicando uma tarefa de AP em todas as fases do ciclo sono-vigília, da seguinte forma: 1º) A primeira tarefa foi aplicada na vigília pré-sono do sujeito (V-Pré); 2º) Logo após 10 minutos de permanência do sujeito no primeiro sono de ondas lentas (SOL); 3º) Após 10 minutos de permanência no sono MRO (movimentos rápidos dos olhos ou sono paradoxal; sono REM); 4º) No término do ciclo-sono do indivíduo, cronometramos os primeiros 30 minutos do despertar total do sono (Pós-Sono), onde o mesmo permaneceu sob a monitoração do EEG, como medida para se certificar de que realmente o sujeito continua acordado de fato, após uma noite de sono, caracterizando a vigília pós-sono (V-Pós). 2ª. ETAPA EXPERIMENTAL EEG PRÉ-SONO / SWS / REM / PÓS-SONO Voluntário FIGURA. 5 Exemplo da segunda etapa experimental, onde o sujeito dormindo, está sendo monitorado por eletroencefalografia (EEG). Durante o ciclo sono-vigília (CSV), fases do sono são interrompidas pelo despertar e aplicadas tarefa de AP. 27 1° Tarefa Vigília Pré-sono (V-Pré) V 4° Tarefa Vigília Pós-sono (V-Pós) s ono REM 30 min V-Pós REM 3° Tarefa N1 - N2 - 2° Tarefa 1° SWS3 SWS3 10 min FIGURA. 6 Representação “hipnográfica” do momento exato da aplicação da tarefa (estabelecida pelo grupo) ou desenho de aplicação da tarefa experimental no CSV. Primeira tarefa de associação de palavras aplicada no pré-sono (V-Pré); Segunda tarefa aplicada após 10 minutos de permanência no primeiro sono de ondas lentas (SOL3) do sujeito; Terceira tarefa aplicada após 10 minutos de permanência do sujeito no sono MRO; Quarta tarefa aplicada após 30 minutos do despertar total do sono (V-Pós). A segunda fase experimental os indivíduos não precisaram ler os estímulos de palavras e logo após listá-las, como os sujeitos dos grupos da primeira etapa procederam, mas ao invés disto, ouviram as palavras-estímulo, e imediatamente emitiram verbalmente como resposta, a primeira palavra associada que lhes viesse à mente. Os indivíduos permaneceram deitados em quarto escuro, no laboratório do sono, sem precisar se mexer ou mudar a postura de repouso. Apenas confirmaram seu despertar para a realização da tarefa. Dos 68 participantes da primeira etapa experimental (vigília em grupo), 20 sujeitos, entre homens e mulheres, se predispuseram voluntariamente a participar da segunda etapa da pesquisa (ciclo sono-vigília). Todos os voluntários, antes de receberem a primeira tarefa, responderam um questionário clínico chamado “Escala de sonolência de Epworth” na vigília Pré-sono (Tabela 1 em Material Suplementar do Manuscrito 2; Modelo em Anexo), composta por uma série de perguntas-chave, que são amplamente utilizadas para ver como o sono afeta a vida diária, através da probabilidade de adormecer em determinadas situações. 28 4.1 WORDNET Com o advento da computação, permitiu-se avançar no estudo quantitativo das associações de palavras, priorizando a proximidade semântica através da extração das regularidades estatísticas de co-ocorrências desses palavras num corpus textual (Lund et al., 1996; Speck, 1994). Na ausência de um corpus em português adequado para a mensuração das distancias semânticas, as palavras coletadas (dados experimentais) foram traduzidas do português para o idioma inglês, e semanticamente quantificadas em um corpus representativo e sistemático desse idioma o “Wordnet”. Este modelo de rede semântica foi desenvolvida a partir de 1985 na Universidade de Princeton por George Miller e colegas (Fellbaum, 1998; Miller, 1995) e é de certa forma análoga ao Dicionário de Roget (Dodebei, 2002), mas foi inspirada na teoria moderna da psicolinguística. O Wordnet é um tesauro - também conhecido como dicionário de ideias afins. É uma lista de palavras com significados semelhantes, dentro de um domínio específico de conhecimento (Currás, 1995), disponível por enquanto apenas para a língua inglesa, contendo substantivos, verbos, adjetivos e advérbios. A classe dos substantivos, sem dúvida a mais numerosa, é organizada em classes de substantivos sinônimos. É um sistema público, que supre essa necessidade de estabelecimento do significado preciso, ou semântico, para conceitos simbolizados. Por volta de outubro de 1998, o sistema continha mais de 91600 conjuntos de sinônimos. Atualmente, a rede contém mais de 120.000 formas de palavras as palavras simples e colocações e mais de 99.000 significados de palavras. A ligação básica na rede está entre as formas da palavra e os significados da 29 palavra. Várias formas de palavras estão conectadas ao vértice do significado de uma simples palavra se às formas da palavra são sinônimas. Uma forma da palavra é conectada a vários significados se ela é uma polissemia (é a qualidade da palavra que tem mais de um significado – por ex: a palavra manga), (Navega, 2004). A forma da palavra pode estar conectada através de uma variedade de relações tais como antônimos. Os vértices que contém o significado da palavra estão conectados com relações tais como, hiperônimos/hipônimos (a derivação hierárquica das palavras, por ex: Pau-Brasil é uma árvore) e merônimos (as “partes” associadas ao sentido de uma palavra - por ex: pássaro tem pena). Apesar, destas relações, serem direcionadas, elas podem ter duas ou mais direções, ou seja, uma palavra pode levar à outra (Navega, 2004). Essas relações, juntamente com os conjuntos de sinônimos, formam um grafo de relacionamentos que é usado para definir a semântica de cada conceito, e as relações entre conceitos distintos (Miller, 1990). Esse sistema está sendo muito usado como apoio a processamento semântico de informação, como por exemplo, em interfaces que utilizem linguagem natural para permitir a comunicação cérebro máquina (Teixeira, 2008). A base de dados do sistema é fixa, e para incluir nela novos termos relativos, por exemplo, a novas áreas de aplicação, é necessário que os autores do sistema original gerem todos os arquivos novamente, a partir dos arquivos originais, incluindo os novos termos. Ou seja, em termos práticos, é impossível usar o sistema em aplicações que não sejam exclusivamente de processamento da língua inglesa. Isso limita seu uso numa grande variedade de situações em que seria útil e factível utilizá-lo. Nesta relação o sistema Wordnet mostra a hierarquia da palavra como um nome. O programa também mostra todos os 30 significados que o nome possui e para cada um deles existe uma frase explicativa entre parênteses. O Wordnet permite que o usuário conheça diversos tipos de relações entre o termo procurado e outros termos diversos e a hierarquia semântica da palavra é apenas uma destas relações. FIGURA. 7 Imagem da tela de um computador, mostrando a janela do programa WNconnect 1.7.1 realizando uma associação de palavra como exemplo: à direita 1º) calcula as relações semânticas entre os significados léxicos de cada palavras; 2º) calcula todas as redes semânticas, formada por ‘nodos’; 3º) o número de ‘nodos’ visitados em um único caminho é a frequência da distancia semântica entre uma palavra a outra. 4º) quantifica as soluções ou caminhos percorridos que conectam uma palavra a outra, em forma de grafos (no canto esquerdo da tela). 31 FIGURA. 8 Ilustração como exemplo, da representação de uma rede semântica da normalidade mental. Fonte: Coelho, 2005. 32 5. MANUSCRITO No 1 (Publicado) DIFERENÇAS COGNITIVAS ENTRE HOMENS E MULHERES NA PRODUÇÃO DE ASSOCIAÇÕES LIVRES DE PALAVRAS 1,2,4 Pegado, J.F., 1,3,4 Mota-Rolim, S.A.,1,3 Ribeiro, S.,* 2 Alchieri, J.C. 1 - Instituto do Cérebro, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN. 2 - Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde, UFRN. 3 - Programa de Pós Graduação em Psicobiologia, UFRN. 4 - Laboratório do Sono do Hospital Universitário Onofre Lopes, UFRN. *Autor de Correspondência. Resumo Introdução: Embora diversos estudos demonstrem diferenças no desempenho cognitivo, entre homens e mulheres, ainda não se sabe se essas diferenças ocorrem em tarefas que envolvam associação livre de palavras (AP). Objetivo: Avaliar as distâncias semânticas de palavras produzidas por AP entre homens e mulheres. Método: Aplicamos uma tarefa de AP em 68 voluntários adultos (52 mulheres e 16 homens). A tarefa de AP consistiu em listar por escrito a primeira palavra pensada após visualizar outra palavra oferecida como estímulo. Na ausência de um corpus em português adequado para à mensuração de distancias semânticas, as palavras coletadas foram traduzidas para o idioma inglês, e semanticamente quantificadas em um corpus representativo e sistemático desse idioma (Wordnet). Esse procedimento retirou as polissemias típicas do português, mas preservou a macroestrutura semântica comum às duas línguas. Resultados: Na vigília, verificamos que as distâncias semânticas são significativamente menores nas AP produzidas por homens, em comparação com as distâncias semânticas verificadas em AP realizadas por mulheres. Conclusão: Os resultados são compatíveis com a noção de que as mulheres possuem um raciocínio mais abstrato do que homens. Palavras-Chave: distância semântica, diferença de gênero e wordnet. 33 1. Introdução O método de associação livre de palavras (AP) foi criado por Francis Galton em 1883, e consiste em listar, de forma escrita ou oral, as primeiras palavras que vêm à mente ao visualizar ou escutar uma palavra apresentada (1). Quando lemos uma palavra, outras palavras aparecerão naturalmente na mente, em função de suas relações semânticas, por exemplo: “neste momento escrevo a palavra VAPOR e penso imediatamente em: BARCO, MÁQUINA, TREM, MOTOR” (2). Sigmund Freud e Joseph Breuer foram os primeiros a utilizar a AP clinicamente em pacientes com transtorno de depressão e histeria (3). Carl Jung realizou um esforço paralelo de estudo da AP, inicialmente com viés mais básico do que clínico. Jung teorizou que os sentimentos, conceitos, experiências e comportamentos, estão agrupados no inconsciente por meio de associações. Chamou a isto de “Grupos Complexos”, idealizando um método para diagnosticar diferentes patologias (1, apud 24). Desde então, a AP tem sido amplamente utilizada pela psicologia, para compreender a organização do pensamento humano. Em décadas recentes, o advento da computação permitiu avançar no estudo quantitativo das AP. Um avanço importante foi a possibilidade de calcular regularidades estatísticas de co-ocorrência de palavras em grandes bases de dados linguísticos, gerando espaços semânticos de alta dimensionalidade a partir de matrizes de co-ocorrência lexical (4). A principal premissa desse método é que a proximidade semântica entre duas palavras pode ser extraída das regularidades estatísticas de co-ocorrências dessas palavras num corpus textual. Vizinhos próximos no espaço destas co-ocorrências correspondem a significados semelhantes e menor tempo de reação numa tarefa de associação semântica (4). O corpus textual mais utilizado em pesquisa é o Wordnet, um banco de dados em inglês desenvolvido ao longo de várias décadas por George Miller (6). No Wordnet, as palavras estão agrupadas em conjuntos de sinônimos para distintos conceitos, que por sua vez estão interligados por relações semânticas e lexicais. O Wordnet contém mais de 166.000 formas de palavras. A conexão fundamental na rede ocorre entre as formas da palavra e os significados da mesma. A forma da palavra pode estar conectada através de uma variedade de relações tais como 34 sinônimos e antônimos. Os vértices que contêm o significado da palavra estão conectados na relação com hiperônimos, hipônimos e merônimos (7; 9). Uma investigação pioneira da estrutura do Wordnet revelou que a retirada das ligações polissêmicas, isto é, das relações com múltiplos significados, altera a estrutura do tipo “mundo pequeno” que caracteriza a linguagem natural, aumentando as distancias semânticas entre as palavras (26). Mais recentemente, um experimento foi realizado para investigar quantitativamente a relação entre associação livre de palavras e texto escrito (8). Outro experimento teve por base um jogo de associação de palavras implementado na internet, em que a palavra associada por um jogador servia de raiz para uma nova associação de outro jogador. Os pesquisadores verificaram que as associações naturalmente realizadas pelos jogadores possuem características estatísticas de lei de potencia, indicando que associações semânticas distantes (e, portanto raras) são mais frequentes do que o esperado se o processo fosse aleatório (2; 10). Um dos conceitos centrais para a representação das palavras no cérebro é um léxico mental sem conteúdo fixo, pois velhas palavras podem ser esquecidas e novas palavras precisam ser aprendidas. O léxico mental é organizado na forma de redes de informações específicas para formas de palavras (nível lexema), para as propriedades gramaticais das palavras (nível lema) e as especificações semânticas das palavras ou nível conceitual (11). A denominação ‘léxico mental’ foi utilizada pela primeira vez por Anne Marie Triesman em 1961, para designar um estoque de conhecimento, funcionando como um dicionário mental, que permite o acesso às formas escritas e orais de palavras e seus significados (5). No léxico mental, a aprendizagem perceptual, a codificação e a recordação de informações aprendidas, estão envolvidas numa seleção de entradas adequadas que transmitem informações sobre o estímulo, que são discriminados pela interação entre diversas áreas do córtex e da modulação de circuitos intrínsecos, por meio de conexões de retroalimentação. Anomalias nessas interações estão associadas com distúrbios de comportamento, incluindo a esquizofrenia (12). Segundo Walker (13), pacientes com patologias no lobo frontal apresenta dificuldades na resolução de problemas durante a vigília, sugerindo que esta habilidade depende dessa região. O estudo aqui apresentado avalia possíveis diferenças no processamento neural cognitivo entre homens e mulheres através de AP. Na literatura, testes de 35 quociente de inteligência (QI) mostram que as diferenças entre homens e mulheres são mínimas (14; 15). Embora existam diferenças específicas entre as diversas habilidades cognitivas, não há elementos de diferenciação entre os sexos, tanto em relação ao fator g (inteligência geral), como em testes de raciocínio numérico, capacidades verbais e visuo-espaciais (15; 16; 17). Não obstante, ainda não se investigou se existem diferenças de gênero na AP. O experimento descrito nesse artigo teve o propósito de investigar diretamente essa questão. 2. Materiais e Métodos 2.1 Participantes Foram investigados 68 indivíduos saudáveis, graduandos de Psicologia em uma instituição de ensino superior do Rio Grande do Norte (RN) – Brasil, com idade entre 18 e 43 anos (23,9 ± 5,7). Este estudo obteve anuência do Comitê de Ética em Pesquisa UFRN (CEP 009/10-P). Não houve relato de ocorrências clínicas como distúrbios do sono esquizofrenia transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) dentre outros transtornos psicopatológicos que pudessem restringir a participação do voluntário na pesquisa. 2.2 Tarefa de Associação Livre de Palavras (AP) A tarefa de AP foi uma adaptação presencial do método desenvolvido por Costa (1). Foram formados 17 grupos de 4 pessoas, dispostas uniformemente ao redor de uma mesa redonda. A tarefa foi realizada em duas rodadas (R1 e R2) em sentido horário. Cada rodada foi composta por 4 tarefas, uma para cada participante, impressas em papel ofício. Cada folha continha duas colunas com 24 espaços delimitados para se listar a associação de palavra. A folha foi dobrada verticalmente ao meio, contendo uma coluna em cada lado da dobra (frente e verso). No primeiro espaço da coluna, uma palavra-raiz foi inicialmente escrita e escondida do voluntário por um envelope, sendo revelada pelo pesquisador no início da tarefa. Os 23 espaços restantes foram preenchidos por cada membro do 36 grupo sucessivamente, sendo que, a AP listada pelo antecessor ao seu vizinho, torna-se palavra-raiz para o próximo indivíduo do grupo. Em resumo, a sequência do experimento foi à seguinte: 1) Os voluntários leram uma palavra-raiz; 2) escreveram a primeira palavra que lhes veio à mente; 3) quando cada voluntário terminou de escrever sua resposta no espaço adequado, as folhas foram passadas para o vizinho em sentido horário e assim sucessivamente até que todos os espaços de cada coluna foram preenchidos, completando uma rodada. Foram coletadas 3.264 associações de palavras compreendendo substantivos, adjetivos, advérbios, pronomes e verbos. Palavras compostas, nomes próprios e palavras iguais ao estímulo dado na tarefa, foram desconsideradas. 2.3 Análise da distância semântica e estatística Devido à inexistência de um corpus textual em português capaz de fornecer medidas acuradas de distância semântica, todas as palavras coletadas em AP foram traduzidas para o idioma inglês a fim de terem suas distâncias semânticas quantificadas em um corpus representativo e sistemático desse idioma, o Wordnet. Esse procedimento retira as polissemias típicas do português, mas preserva a macroestrutura semântica comum às duas línguas. Para calcular a distância semântica, dividimos o parâmetro 1 (único caminho lexical representado pelo grafo formado entre as palavras) por X (números de nodos lexicais visitados) baseado na referência de Jaap Kamps, Maarten Marx, Robert J. Mokken, and Maarten de Rijke em 2004 (25). Os dados obtidos no “WNconnect 1.7.1”, foram analisados por meio do software GraphPadPrism 5.0, em análise estatística não paramétrica (Teste Mann-Whitney bicaudal, p < 0,05) para duas amostras de populações independentes, observando possíveis diferenças entre elas. 37 3. Resultados Verificou-se a inexistência de diferenças significativas entre as distâncias semânticas das palavras produzidas por associação livre entre as rodadas R1 e R2 para os homens (p = 0,1206) embora seja possível observar na (Fig.1 a) que estas distâncias sejam sutilmente maiores em R1 com relação a R2 (R1>R2). Entre as mulheres (Fig.1 b), observamos que a AP em R1 é semelhante a R2 (p = 0,4567). Ao parearmos a R1 dos homens com a R1 das mulheres, notamos que as distâncias semânticas das palavras têm um valor estatisticamente significativo (R1<R1; p = 0,0394; Fig. 1 c;). E entre a R2 dos homens em comparação com a R2 das mulheres vemos (R2<R2; p = 0,0363; Fig.1 d). a) b) Vigília (Homens) Vigília (Mulhres) 0.03 Dist. Semântica Dist. Semântica 0.03 0.02 0.01 0.02 0.01 0.00 0.00 R1 R1 R2 c) d) Vigília (R1) Vigília (R2) 0.03 0.02 Dist. Semântica 0.03 Dist. Semântica R2 p = 0.0394 0.01 0.00 0.02 p = 0.0363 0.01 0.00 Homens Mulheres Homens Mulheres Figura 1 – Distâncias semânticas entre as associações livres de palavras comparando R1 com R2 entre os homens e entre as mulheres (Fig. a; Fig. b; e entre os gêneros na R1, Fig. C; e na R2, Fig. d). 38 4. Discussão Observamos uma distância semântica significativamente menor nas associações de palavras produzidas pelos homens, em comparação com as mulheres na R1 e R2 (Fig. 1c e Fig. 1d). Na repetição da tarefa de AP (R1 seguida de R2, Fig. 1a,b), o resultado sugere um mesmo padrão nas distâncias semânticas entre as palavras produzidas pelos homens e pelas mulheres. Já nas figuras. 1.c e 1d observamos que as associações livres produzidas pelas mulheres são mais abstratas, em contraste com os homens que realizaram AP mais concretas (18). A hipótese principal sustenta que palavras mais concretas são processadas mais rapidamente do que palavras abstratas (19) em diversas tarefas tanto de memória quanto de linguagem. Assim, nosso resultado sugere que as mulheres associam palavras através de um raciocínio mais abstrato e menos concreto do que os homens. De acordo com Guillem et al. (17) “Os homens e as mulheres utilizam estratégias diferentes para desempenhar as mesmas funções cognitivas nem pior nem melhor, mas de modo diferente”. Essas diferenças de processamento cognitivo podem ser explicadas sob o prisma das teorias evolutivas, que defendem diferentes funções sociais dos gêneros para a melhor adaptação ao ambiente. Assim, tem sido sugerido que enquanto as mulheres usam várias partes do cérebro para resolverem determinadas tarefas, os homens realizam processamento cognitivo de modo neuroanatomicamente menos distribuído (20; 21). Pesquisas sobre as possíveis diferenças nas habilidades cognitivas entre homens e mulheres não verificam que os homens tenham maior aptidão matemática e científica do que as mulheres. Eventuais diferenças tendem a ser pequenas e são resultantes principalmente de diferentes estratégias e escolhas (15). Parte da comunidade científica entende que não há atualmente evidência que aponte para diferenças biológicas inatas da mente entre homens e mulheres; são as crenças culturais e sociais que contribuem principalmente para estas diferenças (20; 22; 23). Homens e mulheres estão predispostos a partir do nascimento a aprender coisas diferentes: crianças do sexo masculino aprendem mais, por exemplo, sobre as relações mecânicas dos objetos, enquanto que bebês do sexo feminino 39 tendem a aprender mais sobre as pessoas, emoções e relações pessoais (14; 16). Embora crianças mais velhas mostrem reduzidas diferenças nos perfis cognitivos, estas são complexas e sutis. Não se verifica, por exemplo, que as mulheres sejam mais expressivas quanto as características verbais, enquanto os homens espaciais (14). Essas diferenças tendem a ser pequenas e elas se originam principalmente da estratégia de diferentes escolhas. As diferenças de perfis individuais entre os sexos não conotam uma vantagem masculina ou feminina na aprendizagem, seja em matemática avançada, habilidades para representar e identificar objetos, número e espaço. Elas dependem, sobretudo, das capacidades funcionais individuais presentes desde o início da vida (16). O fato de não ter sido possível quantificar os dados correlatos diretamente em português, limitou nossa investigação e deve ser mencionada. Planejamos construir um corpus representativo em português para medir distâncias semânticas e comparar resultados com o presente estudo, obtido no Wordnet após tradução, um procedimento que reduz a ocorrências de polissemias. 5. Conclusão Podemos concluir que o método de associação livre de palavras evocadas espontaneamente revela diferentes estratégias entre homens e mulheres. As mulheres apresentaram características de um raciocínio mais abstrato do que os homens na realização de tarefas por associação livre de palavras. Este aspecto está fundamentado na distância semântica significativamente maior nas redes associativas da mulheres, enquanto que os homens apresentam uma menor distância semântica entre as palavras, sugerindo maior concretude na construção do pensamento. 6. Agradecimentos A Nathália Maria Lemos e Gleyson Paulo pela ajuda inicial na realização dos experimentos. À Coordenação e Direção do curso de Psicologia da Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte (UNP-RN); aos alunos de Psicologia da UNP-RN que participaram voluntariamente da pesquisa; a Lara 40 Lectícia de Souza Pegado por colaboração nas análises estatísticas; a John Fontenele Araujo e Paula Tiba por suas críticas construtivas. 7. Suporte FINEP 01.06.1092.00, CNPq Universal 481506/2007-1. 8. Referências 1. Costa, ME. Una Metrica para la Asociacion de palavras: Jung not dead. Tesis de licenciatura em Ciencias Físicas, Faculdade de Ciências Exactas y Naturales, UBA, 2008. 2. Costa, ME., Bonomo, F., Sigman, M. Scale-invariant transition probabilities in free word association trajectories. Front Integr Neurosci 2009, (Pt 3):19. 3. Breuer, J., Freud, S. Studies on Hysteria (Strachey, J., Trans). New York: Basic Books. (Original work published 1895), 1957. 4. Lund, K., Burgess, C. 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MANUSCRITO No 2 (em revisão) FREE ASSOCIATION OF WORDS AFTER SPECIFIC STAGES OF SLEEPWAKE CYCLE PRESENTS GENDER DIFFERENCES 1,2,3 Pegado, JF., 1.3Mota-Rolim,SA.,2Alchieri, JC.,1Ribeiro, S.* 1 - Brain Institute, Federal University of Rio Grande do Norte, UFRN. 2 - Graduate Program in Health Sciences, UFRN. 3 - International Institute of Neuroscience of Natal Edmond and Lily Safra (ELS-IINN). * Author for correspondence ABSTRACT Introduction: Studies of cognitive performance across the sleep-wake cycle (SWC) suggest that slow-wave sleep (SWS) and rapid-eye-movement sleep (REM) have distinct “inertial” influences on the mental processing of subjects engaged on psychophysical tasks immediately after being awoken from sleep. Objective: Here we aimed to evaluate semantic distances produced by free associations of words (WA) in young adults of both sexes, awoken after specific stages of the SWC. Method: We used polysomnography to identify SWC stages from overnight recordings. A WA task was applied during pre-sleep waking (WKPre), after SWS (first quartile of the night), after REM (last quartile of the night), and during post-sleep waking (WK-Post). The task was administered to two groups of 10 subjects each (G1 and G2), including both men (n=10) and women (n=10). The WA task consisted of responding verbally to the first word that came to mind after listening to a root word offered as a stimulus. Words were recorded with a MP3 device. G1 subjects were stimulated with the same set of root words after being awoken from the different SWC stages,, while G2 subjects received different root words for each SWC stage. In the absence of a corpus in Portuguese suited for the measurement of semantic distances, the words collected by WA were converted to their canonical forms, translated into English, and the semantic distances between them were quantified in a representative corpus of that language (Wordnet). Results: Significant differences were found among males in both G1 and G2, while only G2 revealed differences among females. For males in G1, WK-Post associations were significantly smaller than those in the WK-Pre and REM samples. For males in G2, a very different profile was observed: semantic distances were significantly larger in the SWS and WK-Post groups. Females showed very different profiles. In G1 we observed stability across the SWC, with no statistically significant differences between samples; in G2 we verified a trend of gradual increase across SWC stages, with a near-significant increase of semantic distances in the WK-Post group(p=0.06). When comparing men and women of G2, we observed significant gender differences in WK-Pre, SWS and REM. Conclusion: Men and women showed marked differences in the semantic distances obtained for each condition and SWC stage considered. The results indicate that cognitive flexibility 1) varies substantially across the different states of the SWC, and 2) shows gender dependence. 43 Key Words: sleep-wake cycle, word association, cognitive flexibility, memory, gender. ASSOCIAÇÃO LIVRE DE PALAVRAS APÓS FASES ESPECÍFICAS DO CICLO SONO-VIGÍLIA APRESENTA DIFERENÇAS DE GÊNERO 1,2,3 Pegado, J.F., 1,3 Mota-Rolim, S.A., 2 Alchieri, J.C., * 1 Ribeiro, S. 1 - Instituto do Cérebro, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN. 2 - Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, UFRN. 3- Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS). * Autor de Correspondência Resumo Introdução: Estudos sobre o desempenho cognitivo através do ciclo sono-vigília (CSV) sugerem que o sono de ondas lentas (SOL) e o sono de movimento rápido dos olhos (MRO) têm distintas influências "inerciais" sobre o processamento mental dos sujeitos envolvidos em tarefas psicofísicas imediatamente após serem despertados do sono. Objetivo: Tivemos como objetivo avaliar distâncias semânticas entre pares de palavras produzidas por associações livres (AP), por adultos jovens de ambos os sexos despertados depois de fases específicas do CSV. Método: Foram utilizados registros polissonográficos para identificar as fases do CSV durante a noite. Uma tarefa de AP foi aplicada durante a vigília présono (V-Pré), após SOL (primeiro quartil da noite), depois de MRO (último quartil da noite), e na vigília pós-sono (V-Pós). A tarefa foi administrada a dois grupos de 10 indivíduos em cada grupo (G1 e G2), incluindo tanto os homens (n=10) quanto mulheres (n=10). A tarefa de AP consistiu em responder verbalmente a primeira palavra que veio à mente depois de ouvir uma palavra-raiz oferecida como estímulo. As palavras foram registradas com um gravador MP3. Sujeitos do G1 foram estimulados com o mesmo conjunto de palavras-raiz depois de terem sido acordados após distintas fases do CVS, enquanto os sujeitos do G2 receberam palavras-raiz diferentes para cada fase do CSV. Na ausência de um corpus em Português adequado para a mensuração de distâncias semânticas, as palavras coletadas por AP foram convertidas para suas formas canônicas, traduzidas para o idioma Inglês, e as distâncias semânticas entre elas foram quantificadas em um corpus representativo dessa língua (WordNet). Resultados: Entre os homens foram encontradas diferenças significativas tanto em G1 quanto em G2, enquanto entre as mulheres apenas G2 revelou quaisquer diferenças. Para o sexo masculino em G1, associações V-Pós foram significativamente menores que as das amostras V-Pré e MRO. Para o sexo masculino em G2, um perfil muito diferente foi observado: as distâncias semânticas foram significativamente maiores nos grupos SOL e V-Pós. As mulheres apresentaram perfis muito diferentes. Em G1 observou-se estabilidade em todo o CSV, sem diferenças estatisticamente significativas entre as amostras. Em G2 verificamos uma tendência de aumento gradual através do CSV, com um aumento quase significativo (p=0,06) das distâncias semânticas no grupo V-Pós. Ao comparar homens e mulheres do G2, foram observadas diferenças significativas entre os sexos em V-Pré, SOL e MRO. Conclusão: Homens e mulheres apresentaram 44 diferenças marcantes nas distâncias semânticas obtidas para cada condição e estágio do CSV. Os resultados indicam que a flexibilidade cognitiva: 1) varia substancialmente entre os diferentes estados do CSV, e 2) mostra dependência de gênero. Palavras-Chave: ciclo sono-vigília, cognitiva, memória, gênero. 1. associação de palavras, flexibilidade Introdução Quando dormirmos, passamos pelos estágios N1 e N2 até atingir de o sono de ondas lentas (SOL), caracterizado por uma diminuição significativa da frequência das oscilações corticais detectadas por eletroencefalografia (2). O estado do sono subsequente é o sono de movimento rápido dos olhos (MRO), caracterizado por ondas eletroencefalográficas de alta frequência e baixa amplitude (semelhantes às observadas na vigília), com movimentos rápidos dos olhos e a prevalência de relatos de sonhos após o despertar (3), bem como por uma criatividade na execução de tarefas psicológicas após o sono (4). Diferenças no desempenho cognitivo através do ciclo sono-vigília (CSV) sugerem que o sono MRO favoreça a flexibilidade semântica, em comparação com a vigília e o SOL (1). Acredita-se o MRO promova insights pela ativação de redes associativas, permitindo ao cérebro estabelecer ligações novas e potencialmente úteis entre ideias não relacionadas. Outro ponto importante é que essa característica não seria por conta de melhorias na memória seletiva. (5) Uma das funções cerebrais mais suscetíveis de alterações através do CSV é a linguagem, que tem como substrato neural um conjunto de circuitos neurais responsáveis pela representação dos fonemas e suas combinações, das regras sintáticas de ordenação das palavras em frases, bem como da produção de palavras a partir do nível conceitual (especificações semânticas). A denominação ‘léxico mental’ foi utilizada pela primeira vez por Ann Triesman (6) para designar o estoque de conhecimentos que funciona como um dicionário mental, permitindo o acesso às formas escritas e orais de palavras e seus significados (7; 19). Ao escutar uma palavra, outras aparecerão naturalmente na mente, em função de suas relações semânticas (8). Esses sistemas reúnem palavras em frases destinadas a serem proferidas ou escritas, em reação a um estímulo linguistico externo (uma palavra ouvida ou um texto lido), por exemplo. 45 É impossível acessar o léxico mental de um sujeito experimental adormecido, mas é possível realizar tal acesso durante a vigília em sujeitos despertados de fases específicas do sono. Tal procedimento se baseia na noção de que existe uma considerável inércia entre distintos estados cerebrais globais, de forma que uma mesma pessoa despertada de fase distintas do sono terá processamentos lexicais diversos, dependendo da fase de sono que precedeu a vigília. Utilizando esse procedimento através do CSV para a realização de um teste de resolução de anagramas, Walker e colaboradores (1) corroboraram a hipótese de que no MRO há maior facilidade de realizar associações distantes, de baixa probabilidade. Os participantes foram despertados durante uma das fases do CSV e imediatamente testados na resolução de anagramas (grupos de palavras compostas pelos mesmos pedaços rearranjados). Quando despertados durante o MRO, os sujeitos apresentaram muito mais facilidade para resolver os anagramas que quando despertados do SOL. O experimento sugere que o MRO favorece um processamento cognitivo mais flexível que o SOL (1). Mednick e colaboradores (9) corroboraram tais achados ao observarem um aumento das associações remotas após o MRO, numa tarefa em que os indivíduos produzem uma palavra que está associada a outras três correspondentes. O teste de associações remotas (RAT) avalia a capacidade dos indivíduos identificarem associações entre palavras que não são normalmente associadas. A flexibilidade diz respeito a capacidade do sujeito apresentar diferentes tipos de respostas a um dado problema. Assim, o que importa, não é tanto o número de respostas produzidas, mas sim a sua variedade. Outra forma de avaliar a dinâmica lexical é através da tarefa de associação livre de palavras (AP), introduzida por Francis Galton em 1883 e adotada como método de grande importância clínica pela Psicanálise (10 apud 16; 17; 18). A tarefa de AP “consiste em listar de forma escrita ou oral, as primeiras palavras que vêm à mente ao visualizar ou escutar uma palavra apresentada” (11). Dessa forma, a tarefa de AP tem sido usada como umaferramenta para investigar a organização do pensamento humano (10). Em um estudo prévio de AP em indivíduos adultos e saudáveis, utilizando palavras-raiz apresentadas durante a vigília, observamos que as distâncias semânticas produzidas por mulheres são significativamente maiores do que as produzidas por homens (12). Por esta razão, demos continuidade a este estudo 46 prévio, investigando possíveis diferenças na flexibilidade cognitiva das dinâmicas psicológicas dos diversos estados cerebrais que constituem o CSV, através da mensuração de distâncias semânticas em uma tarefa de AP realizada após períodos de V, SOL e MRO. No presente estudo, avaliamos homens e mulheres em duas situações distintas: 1º) utilizando um mesmo conjunto de palavras-raiz para todas as fases do CSV; 2º) utilizando palavras-raiz distintas a cada fase do CSV. 2. Materiais e Métodos 2.1 Participantes Foram investigados 20 indivíduos saudáveis com idade entre 18 e 43 anos (23,9 ± 5,7), sendo 10 homens e 10 mulheres, alunos de graduação em Psicologia da Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte - Brasil. O experimento foi realizado com a anuência do Comitê de Ética em Pesquisada UFRN (CEP 009/10-P). Todos os voluntários selecionados se declararam isentos de ocorrências clínicas como distúrbios do sono, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar ou qualquer outro transtorno psicopatológico. Dois grupos foram formados com 10 integrantes cada: O grupo 1 (G1) teve 4 homens e 6 mulheres, enquanto o grupo 2 (G2) incluiu 6 homens e 4 mulheres. 2.2 Registro do CSV Os voluntários foram investigados individualmente por duas noites consecutivas, sendo a primeira noite utilizada para a adaptação às condições experimentais e a segunda noite utilizada para a coleta de dados experimentais. Os participantes foram submetidos a polissonografia (PSG) utilizando um eletroencefalógrafo (EEG) BrainNet 36 canais da marca EMSA. Na noite de adaptação, os voluntários preencheram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e um Questionário de Informações Sócio-Demográficas. Na noite experimental, responderam antes da primeira tarefa, a Escala de sonolência de Epworth. 47 Na noite experimental os indivíduos foram despertados do SOL e subsequentemente do MRO para realização da AP. Adequamos este procedimento de acordo com o cronotipo de cada indivíduo, ou seja, o mesmo dormia na hora que lhe era mais conveniente, sendo despertado após adentrar SOL no primeiro quartil da noite, e subsequentemente no MRO, no último quartil da noite. Traçados de eletroencefalograma e oculograma representativos de V, SOL e MRO, são apresentados na Figura 1a; a Fig. 1b mostra um espectrograma representativo; na Fig. 1c temos a mesma época representada pela ativação elétrica cortical nos escalpos e na Fig. 1d a amplitude da frequência normalizada dos estados cerebrais. 1a) VIGÍLIA SOL MRO 1b) Espectrograma do trecho vigilia 80 60 40 20 120 10 80 60 40 20 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 Espectrograma do trecho REM 40 30 20 10 0 10 20 30 40 50 Frequência /Hz 10 Frequência /Hz Frequência /Hz Espectrograma do trecho SWS 60 50 40 30 20 10 0 10 20 30 40 50 120 120 30 20 10 0 10 20 30 40 50 10 80 60 40 20 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 Tempo Tempo Tempo 1c) MRO 1d) 2 1. 8 1. 6 1. 4 1. 2 1 08 06 04 02 0 VIGÍLIA SOL MRO VIGÍLIA 1.5 SOL MRO VIGÍLIA 1.5 SOL MRO 1.5 1 1 1 0.5 0.5 0.5 0 0 0 2 1. 8 1. 6 1. 4 1. 2 1 08 06 04 02 0 VIGÍLIA SOL MRO Potência de Theta Normalizada SOL Potência de Delta Normalizada Potência de Alfa Normalizada VIGÍLIA 2 1. 8 1. 6 1. 4 1. 2 1 08 06 04 02 0 VIGÍLIA SOL MRO Figura 1 - a) Traçados de eletroencefalograma e oculograma (dois traçados mais inferiores) durante épocasde 00:01:00 min. na vigília (V), SOL e MRO; b) Espectrograma 48 representativo das mesmas épocas mostradas na Fig.1a; tempo em minuto; c) Representação topográfica da potência do sinal de EEG na banda de frequencia; d) as frequencias normalizadas destas ativações de acordo com distintas bandas de frequencia. 2.3 Tarefa de Associação Livre de Palavras (AP) Os voluntários foram informados de que na noite experimental iriam ser acordados por duas vezes durante o sono, para realizar uma tarefa de AP. Nessa tarefa, cada voluntário ouviu 24 palavras-raiz na vigília pré-sono (V-Pré), após o despertar do SOL e do MRO, bem como na vigília pós-sono (V-Pós). Aos voluntários foi solicitado que realizassem associações livres de palavras através da fala, sem precisar se mexer ou mudar de posição, voltando ao repouso após cada interrupção do sono. Os indivíduos do G1 receberam estímulos de 24 palavras repetidas, gerando um total de 960 associações de palavras (AP) nos distintos estados cerebrais do CSV, enquanto que os indivíduos de G2 receberam 24 palavras diferentes a cada estado cerebral, num total de 96 estímulos diferentes ao longo do CSV, produzindo também, 960 AP do início ao fim do ciclosono. Foram coletadas 1.920 palavras associadas ao estímulo-resposta. No grupo que recebeu estímulos repetidos nas fases do CSV, os sujeitos evocaram significativamente ao longo do CSV, palavras associadas nas fases anteriores. No grupo que recebeu estímulos de palavras diferentes, mantinham-se distintas as associações dadas como resposta, a cada fase do CSV. 2.4 Análise da distância semântica e tratamento estatístico Devido à carência de um corpus textual em português capaz de prover medidas confiáveis de distância semântica, todas as palavras coletadas no presente estudo foram traduzidas para o idioma inglês a fim de terem suas distâncias semânticas quantificadas em um corpus representativo e sistemático desse idioma, o Wordnet (13). Esse procedimento eliminou as polissemias, preservando a macroestrutura semântica comum às duas línguas (10). Os dados obtidos no “WNconnect 1.7.1” (programa de acesso ao Wordnet), foram analisados por meio do software GraphPadPrism 5.0, através de estatística nãoparamétrica (Teste Mann-Whitney bicaudal, p < 0,05) para duas amostras de 49 populações independentes (Homens e Mulheres) observando possíveis diferenças entre elas. 2.5 Desenho Experimental A Fig. 2 apresenta o desenho experimental, que ilustra temporalmente o momento em que aplicamos a tarefa de AP no decorrer do CSV de cada participante. Houve execução da tarefa na V-Pré, após 10 minutos no primeiro ciclo do SOL, após 10 minutos no último MRO da noite, e 30 minutos após o despertar da manhã (V-Pós). 1° Tarefa Vigília Pré-sono (V-Pré) V 4° Tarefa Vigília Pós-sono (V-Pós) s ono MRO 30 m in V-Pós MRO 3° Tarefa N1 - N2 - 2° Tare fa 1° SOL 3 SOL 310 m in Figura 2 - Desenho experimental da aplicação de cada tarefa no ciclo sono-vigília. Entre os grupos G1 e G2, em média, o tempo aproximado dessas intervenções (Fig. 3A) foi de 2hs e 15min para a aplicação da tarefa de V-Pré à SOL; 5hs e 45min para V-Pré a MRO; 7hs 30min de V-Pré à V-Pós; 4hs de SOL à MRO; 5hs e 35min para SOL à V-Pós; 2hs e 35min de MRO à V-Pós. O horário exato de cada intervenção por indivíduo foi dependente do relógio biológico de cada sujeito. Já o tempo médio do sono (Fig. 3B) foi de 1h e 45min de V-Pré a SOL; 5hs e 55min de V-Pré a MRO; 7hs e 50min de V-Pré a V-Pós; 4hs e 05min de SOL a MRO; 6hs de SOL a V-Pós; 2hs e 25min de MRO a V-Pós. 50 a) Tempo Médio Tarefa b) Tempo Médio Sono 10 Tempo(h) MédioTempo (hs) CSV 1) 6) 1:45m 2:25m 8 5) 6:00hs 6 4 4) 4:05m 2) 5:55m 3) 7:50m 2 1 V-Pré / SOL 3 2 V-Pré / REM 3 V-Pré / V-Pós 4 SWS-3 / REM 5 SOL 3- / V-Pós 6 REM / V-Pós 0 1 2 1 2 1 1 1 1 G G G2 G G2 G G G G2 G G2 P PG O O s) s) s) s) L3 L3 O O ) ó R ) ó O R s R R s Pó (Pó P O P M ó ( S ( ó M M ( M S - (P (P - V -V V V-V V L3 L3 V V -V -V V VRO RO SO SO L3 L3 M M SO SO Figura 3 - a) Intervalo de tempo médio entre a realização do início da tarefa nos diferentes estados do CSV, entre os grupos de palavras repetidas G1e não repetidas G2; b) Representação do Tempo Médio de permanência em cada fase do sono dos indivíduos de ambos os grupos. 3. Resultados 3.1 Distância Semântica Inicialmente, observamos que entre os homens do G1, há diferenças significativas entre V(Pré) e V(Pós) e entre o MRO e V(Pós), na Fig. 4a. Entre as mulheres do G1 na Fig. 4b, não observamos nenhuma diferença significativa. Quando comparamos homens e mulheres deste grupo, em V-Pré as mulheres (Fig. 4b) apresentaram uma distância semântica em suas associações de palavras semelhante às dos homens (Fig. 4a). Em SOL encontramos uma diferença não significativa entre SOL das mulheres (Fig. 4b) <SOL dos homens (Fig. 4a). Em MRO e V-Pós, não detectamos diferenças significativas. Na Fig. 4c, os homens do G2 apresentam distâncias semânticas com diferenças significativas: V-Pré<SOL (p = 0.01), V-Pré<V-Pós (p = 0.01), SOL<V-Pós (p = 0.03), MRO<V-Pós (p = 0.05). Já as mulheres do G2 (Fig. 4d), apresentaram uma tendência quase significativa a diferenças entre V-Pré e V-Pós (V-Pré<V-Pós, p = 0.06), e entre SOL e V-Pós (SOL<V-Pós, p = 0.06). 51 a) G1 (H) (palavras repetidas) b) 0.06 * 0.04 p = 0.03 * p = 0.04 0.02 Dist. semânticas 0.06 0.04 0.02 R O G2 (M) (palavras diferentes) * c) M V( Pr é) ) V( Pó s R O M SO L V( Pr é) G2 (H) (palavras diferentes) V( Pó s) 0.00 0.00 SO L Dist. semânticas G1 (M) (palavras repetidas) d) p = 0.01 * p = 0.03 * p = 0.05 * 0.06 Dist. semânticas 0.04 0.02 0.00 x p = 0.06 x 0.04 p = 0.06 0.02 ) V( Pó s R O M SO L Ó S P R O M SO L V( Pr é) 0.00 V( Pr é) Dist. semânticas 0.06 Figura. 4 – Distâncias semânticas das AP’s durante os diferentes estados do CSV, (a) homens, (b) mulheres, do grupo que desempenhou a tarefa com palavras repetidas (G1); (c) homens e (d) mulheres do grupo que desempenhou a tarefa com palavras diferentes (G2). Comparando os gêneros entre o grupo G1 não encontramos diferenças significativas. No G2, verificamos que há diferenças significativas na distância semântica entre as palavras entre homens e mulheres (Fig. 5a) em V-Pré (p = 0.02), na Fig. 5b em SOL (p = 0.05) e na Figura 5c em MRO (p = 0.001). 52 V(Pré) - H x V(Pré) - M G2 0.06 Dist. semânticas 0.06 0.04 * p = 0.02 0.02 * p = 0.05 0.04 0.02 0.00 0.00 V( é Pr )- M -H ) SO L é Pr V( -H -M Dist. semânticas SWS - H x SWS - M G2 b) SO L a) REM - H x REM - M G2 c) Dist. semânticas 0.06 0.04 * p = 0.001 0.02 0.00 RO M -H RO M -M Figura. 5 – Diferenças significativas das distâncias semânticas obtidas por AP entre homens e mulheres em G2; a) Vigília pré-sono; b) MRO; c) Vigília pós-sono (V-Pós). 3.1.1 Evocação das palavras repetidas Em outra análise (Fig. 6), quantificamos a repetição de palavras após o estímulo inicial de 240 palavras-raiz que foram repetidas no decorrer do CSV, onde pudemos constatar que a cada estado cerebral subsequente a vigília V-Pré, houve um aumento gradual de repetição dessas palavras iniciais: de 240 palavras-raiz dadas como estímulo, foram repetidas 98 palavras em SOL, 143 em MRO e 198 em V-Pós. 53 Número de Palavras-Raiz Repetição das palavras-raiz no ciclo sono-vigília 300 200 100 ós -P V SO L M R O V -P ré 0 Figura 6– Número de palavras repetidas no G1 através do CSV. 4. Discussão 4.1 Distância semântica através do ciclo sono-vigília Investigamos se existe alguma diferença nas distâncias semânticas entre palavras livremente associadas após o despertar de diferentes estados do CSV (Fig. 2). Observamos inicialmente o G1, que recebeu palavras-raiz repetidas durante o CSV, e o nosso método de análise encontrou diferenças significativas entre as associações dos homens entre V-Pré e V-Pós (V-Pré>V-Pós), e entre MRO e V-Pós (MRO>V-Pós). Entre as mulheres deste grupo, não detectamos nenhuma diferença significativa, com distâncias semânticas mantendo-se estáveis em qualquer fase do CSV. Quando comparamos homens e mulheres deste grupo através do CSV (Fig. 4a; Fig. 4b), também não encontramos diferenças significativas,. No G2, aplicamos uma tarefa de AP com estímulos de palavras-raiz diferentes (não repetidas) para cada fase do CSV. Neste grupo, os homens (Fig. 4c) apresentam distâncias semânticas significativamente maiores entre V-Pré e SOL (SOL>V-Pré); V-Pré e V-Pós (V-Pós>V-Pré); SOL e V-Pós (V-Pós>SOL); MRO e V-Pós (V-Pós>MRO). Já as mulheres do G2 (Fig. 4d) apresentam uma tendência significativa entre V-Pré e V-Pós (V-Pós>V-Pré); SOL e V-Pós (VPós>SOL), aumentando as distâncias semânticas gradativamente ao longo do 54 CSV. Quando comparamos os gêneros do G2, na Fig.5 a.c, as distâncias semânticas das palavras associadas pelas mulheres são maiores em V-Pré > VPré dos homens, e no MRO mulheres >MRO dos homens. Na Fig. 5b as distâncias semânticas das mulheres se tornam menores em SOL<SOL dos homens. Na V-Pré do CSV, tanto os homens como as mulheres replicam os resultados científicos anteriormente descritos sem nossa pesquisa (12), na vigília em grupo, sugerindo que as questões evolutivas podem ter exercido influências significativas na maneira pelo qual o pensamento das mulheres esteja se apresentando mais abstrato e menos concreto do que os homens. Também se observa em nossos resultados, que no MRO as distâncias semânticas são semelhantes a V-Pré. Isso pode ser explicado pelo fato do padrão de ativação cerebral da vigília e do MRO serem relativamente parecidos (ondas de alta frequência e baixa amplitude). Quanto maiores é as distâncias semânticas entre às palavras, mais abstrata é a relação entre o significado léxico delas, sugerindo nestes resultados, sob os parâmetros psicolinguísticos, um raciocínio mais abstrato entre as mulheres em comparação com os homens. Semanticamente, quanto maior o número de processos cognitivos for necessário para conectar dois significados ou encadear dois sentidos, maior a tendência de afastamento entre eles, ou seja, a estrutura argumental da construção em que a palavra se insere, quanto mais dessemelhantes são as construções maior o afastamento semântico percebido (13). Os homens, por sua vez, demonstram neste estudo, associações de palavras com distâncias semanticas mais próximas do significado da ‘entidade’ palavra-estímulo, ou seja, apresentam maior concretude em suas AP, sendo assim, “quanto maior for a regularidade dos processos cognitivos, menor é a sensação de afastamento gerada entre elas (13). Mednick e colaboradores em 2009, observaram que o MRO reforça a formação de redes associativas na integração de informações não-associadas, em comparação com o sono não MRO, reforçandoa hipótese de que o cérebro é capaz de registrar inconscientemente o estímulo dado anteriormente (associação remota) (9), o que reforça nossos resultados na Fig. 6 onde observamos a evocação crescente da memória ao longo do CSV.Já outros autores, chegaram a conclusão de que o MRO facilita a resolução de problemas e a criatividade com o uso de informação prévia: Walker e colaboradores (1), através de tarefas por 55 anagramas aplicadas nos diferentes estados do CSV, observaram que quando os sujeitos são acordados após o MRO, o desempenho nessa tarefa era melhor do que nas fases de vigília e sono não MRO. Dessa forma, corroboram que a neurofisiologia do MRO está associada a um estado cerebral mais “flexível” (receptivo e/ou fluído) para o processamento cognitivo na resolução de tarefas que envolvem mecanismos relacionados a criatividade, o que acontece principalmente quando há relatos de sonhos. No entanto, em nosso estudo, vemos que após o MRO as mulheres do G2 produziram distâncias semânticas entre AP, significativamente maior que os homens do G2 (Fig. 5c) e sutilmente maior em MRO (mulheres) >MRO (homens) do G1 (Fig. 4b), sugerindo que o MRO também facilite a formação de redes associativas na integração de informações lexicais, flexibilizando a formação cognitiva de um raciocínio mais abstrato-criativo. Com relação a diferença de padrão de ativação cerebral entre a vigília e o SOL, sabe-se que a vigília é caracterizada por ritmos de alta frequência e baixa amplitude, e que o SOL é caracterizado por oscilações de baixa frequência e alta amplitude (3; 14).A distância semântica das AP’s produzidas em SOL, tanto no G1 como no G2, é menor para as mulheres em relação aos homens, porém no G2, elas são significativamente menores.Dessa forma, essa diferença significativa na distância semântica produzida nesses dois estados, pode ser explicada pela diferença do padrão de ativação neural, ou seja, o processamento cognitivo na realização da tarefavaria de acordo com o estado cerebral em que a mesma é realizada, com diferenças entre os gêneros. 4.2 Evocação das palavras repetidas Outra variável que pode influenciar o desempenho em tarefas de linguagem é a memória, e consequentemente, a relação de proximidade de padrão cognitivo-comportamental entre os estados em que a memória foi adquirida e evocada. O G1, que recebeu palavras-raiz iguais nos diferentes estados do CSV, lembraram das primeiras associações (adquiridas em V-Pré) e evocaram boa parte das mesmas nos outros estados investigados (Fig. 6). Nesse grupo, observamos que o número de palavras repetidas no CSV (98 palavras) foi 56 menor que no MRO (143 palavras), que foi menor que na V-Pós (198 palavras) (Fig. 5). Tais modelos integrativos de processamento de memória têm sido sugeridas em vários contextos (1). Walker e colaboradores em 2010, propuseram que existe um estágio de pós-codificação em primeiro lugar, que pode ocorrer preferencialmente durante o SOL, consolidando novas memórias episódicas, mantendo representações individuais dessas memória separadamente. Em contraste, potencialmente a fase do MRO, conteria a evolução das memórias em ricas redes associativas, mapeamento o passado e possivelmente o futuro, num processo que exigeria uma transformação em nível de sistema cooperativo de memórias (15). Nossos resultados sugerem que quanto mais próximo o estado cerebral em que a memória foi lembrada do estado em que a mesma foi adquirida, maior a facilidade na evocação das mesmas. Esse efeito supera a tendência de um maior esquecimento com o passar do tempo. Além de preservar ou reforçar lembranças, o MRO parece facilitar a assimilação e a generalização das memórias individuais de uma maneira que otimiza sua utilidade. 4.3 Limitações do trabalho e perspectivas Erros na interpretação linguistica da tradução entre os idiomas (do inglês para o português) talvez sejam a principal limitação do presente trabalho. Porém, como o Wordnet tem propriedades globais comuns para muitos sistemas autoorganizados (11), tornou-se possível a realização da nossa investigação. Dessa forma, para futuras investigações científicas, planejamos construir um corpus representativo em português. Outro aspecto metodológico que poderia ter limitado nossa pesquisa, foi o fato de interromper o repouso do indivíduo naquele intervalo de tempo de um determinado estado cerebral (Fig. 2), dificultando a continuidade temporal fisiológica dos processos relacionados ao sono. Porém, se tal constatação ocorresse, geraria um controle negativo como variável da nossa observação científica. No entanto, alguns voluntários após serem despertados, conseguiram realizar as tarefas, e logo após o término das mesmas retornaram ao sono 57 naturalmente. Outros indivíduos avançaram a um estágio seguinte daquele em que se encontravam na hora em que foram acordados. A interrupção do sono pode ter atuado como uma variável independente na estatística por grupo. Apesar dessas diferenças individuais nas respostas, o padrão do tempo de sono dos grupos em geral foi homogêneo (Fig. 3). 5. Conclusão No presente trabalho, concluímos que através da tarefa por AP, aplicada no CSV, as mulheres produzem distâncias semânticas maiores do que os homens, sugerindo um pensamento mais abstrato do que os homens. Este padrão é replicado na vigília em grupo anteriormente descrito por nosso grupo (12). Antes do repouso, os homens e as mulheres replicam o mesmo padrão de processamento cognitivo descrito na vigília em grupo. Este resultado pode ser explicado por diferenças evolutivas, porém complementares, no papel social dos gêneros. . 6. Agradecimentos A Dayane Ferro e Luciana Rocha (UFRN) pela ajuda inicial na realização dos experimentos. À Coordenação e Direção do Curso de Psicologia da Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte (UNP-RN); aos alunos de Psicologia da UNP-RN que participaram voluntariamente da pesquisa; À Coordenadora do Programa de Pós-Graduação das Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGCSA/UFRN), Prof. Dra. Técia Maranhão; Ao aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Sérgio Arthuro Mota Rolim, por sua participação colaboração científica. 58 7. Referências 1. Walker, MP., Conor LJ., Hobson, A., Stickgold, R. Cognitive flexibility across the sleep–wake cycle: REM-sleep enhancement of anagram problem solving. Cogn Brain Res 2002, (Pt 14): 317-324. 2. Rechtschaffen, A., Kales, A. Manual of standardized terminology, techniques, and scoring system for sleep stages of human subjects. Brain Research Institute, UCLA, Los Angeles, 1968. 3. Aserinsky, E. & Kleitman, N. Regularly Occurring Periods of Eye Motility, and Concomitant Phenomena, During Sleep. 118:273-274, Science, 1953. 4. Been, H. Dreams: the convergence of neurobiologic and psychoanalytic perspectives, J. Am. Acad. Psychoanalytic. 25: 639-654,1997. 5. Libben, G. Disorders of Lexis. In: Stemmer, B.; Whitaker, H. A. 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Sigman, M., Cecchi, G. Global organization of the Wordnet lexicon, Proc Natl Acad Sci USA 2002,99 (3): 1742–1747. 12. Pegado, JF., Mota-Rolim, SA., Alchieri, JI., Ribeiro, S. Diferenças cognitivas entre homens e mulheres na produção de associações livres de palavras no ciclo sono-vigília. Revista de Neurobiologia2011, vol. 74:3 no prelo. 13. Silva, AS. O mundo dos sentidos em português. Coimbra: Almedina, 2006. 14. Navega, SC. Manipulação semântica de Textos Os projetos Wordnet e LSA. Publicado no Infoimage, Agosto, 2004. 15. Walker, MP., Stickgold, R. Overnight alchemy: sleep-dependent memory evolution. Nat. Rev. Neurosci.2010, 11: 218. 16. Breuer, J., Freud, S. Studies on Hysteria (Strachey, J., Trans).New York: Basic Books. (Original work published 1895), 1957. 17. Freud, S. (1893-1895). Estudos sobre a histeria. Obras completas, ESB, v. II. Rio de Janeiro: Imago, 1969. 18. Jung, CG. Studies in Word Association. In. London: Routledge & K. Paul. 1904-1907. 59 19. Sousa, LB., Gabriel, R. Léxico Mental: abordagem psico e neurolinguísticas. Anais do IX Encontro do CELSUL, Palhoça, SC., Universidade do Sul de Santa Catarina, 2010. 8. Material Suplementar (Manuscrito 2) 8.1 Escala de sonolência de Epworth Obtivemos uma média de 33% em nenhuma chance de cochilar, 25% com pequena chance de cochilar, 06% com moderada chance de cochilar e 33% dos participantes apresentaram alta chance de cochilar. Quest / Alter Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Média A0 62.5% 25% 50% 62.5% 25% 37% 37% 25% 33% A1 12.5% 25% 12.5% 25% 37.5% 25% 25% 25% 25% A2 12.5% 0% 12.5% 0% 25% 0% 12.5% 12.5% 06% A3 12.5% 50% 25% 12.5% 12.5% 37.5% 25% 37.5% 33% Tabela.1 Alternativas: A0 = nenhum chance de cochilar (33%); A1 = pequena chance de cochilar (25%); A2 = moderada chance de cochilar (06%); A3 = alta chance de cochilar (33%). 60 6. COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E SUGESTÕES. Em nosso anteprojeto inicial, pesquisas bibliográficas incentivaram um projeto piloto, tornando-o um tema relevante para a literatura científica (Sigman, 2002; Costa, 2008; 2009; Walker, 2002; 2010; Mednick, 2009), por se tratar de um tema pouco explorado cientificamente, incentivando nossa iniciativa de realizar este estudo, o que resultou em dois artigos científicos, um já publicado (Pegado et al., 2011), e outro, submetido, aguardando o aceite da revista. Este trabalho é uma pesquisa original no território nacional brasileiro, que marca ensaia o início de uma contribuição científica relevante. Conseguimos cumprir todas as metas experimentais organizadas em nosso cronograma de ação. Planejamos dar seguimento a este estudo, comparando os resultados aqui descritos, aplicando a mesma tarefa de AP a indivíduos portadores de algum transtorno psicopatológico, dependentes químicos e indivíduos usuários do chá de Ayahuasca (substância licita em contexto religioso no Brasil), ampliando o leque do conhecimento sobre os mecanismos cognitivos da mente. Costa et al., (2009) descreve que o método de associação de palavras, tem sido utilizada como veículo para compreender a organização do pensamento, humano. Sugerimos que futuros trabalhos, nesta linha de pesquisa sejam realizados com indivíduos portadores de psicopatologias como a esquizofrenia, depressão, distúrbios de sono, dependência química, entre outros, para que possamos ter uma visão mais abrangente através dos diferentes estados cerebrais e mecanismos psicológicos, com potenciais ganhos para o diagnóstico e tratamento de desordens mentais, por exemplo. Também preconizamos pesquisas longitudinais de AP com crianças sadias, a fim de melhor compreender a ontogênese da mente humana. 61 APÊNDICE: PRODUÇÃO CIENTÍFICA RELACIONADA À DISSERTAÇÃO I. Apresentação de Pôster: "Cognitive differences between men and women in the production of free associations of words” Pegado, J.F., Mota-Rolim, S.A., Ribeiro, S.,*Alchieri, J.C. no “XIX Simpósio sobre o Cérebro - Cérebro e Tecnologia: Novos desafios” - Auditório Jorge Lobo - Centro das Ciencias da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco (CCS/UFPE), dias 17 e 18 de Novembro de 2011. II. Apresentação de Pôster: “Cognitive differences between men and women in the production of free associations of words” Pegado, J.F., Mota-Rolim, S.A., Ribeiro, S.,*Alchieri, J.C no "III Simpósio em Psicobiologia - Cérebro: Desafios sem Fronteiras" - Auditório dos Répteis – Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CB/UFRN), 24, 25 e 26 de novembro de 2011. III. Publicação do Artigo Científico - DIFERENÇAS COGNITIVAS ENTRE HOMENS E MULHERES NA PRODUÇÃO DE ASSOCIAÇÕES LIVRES DE PALAVRAS. Pegado, J.F., Mota-Rolim, S.A., Ribeiro, S.,*Alchieri, J.C. REVISTA NEUROBIOLOGIA, vol. 74:3 de 2011, in press. 62 7. REFERÊNCIAS GERAIS 1. Albert, R., & Barabási, AL. Statistical mechanics of complex networks. Reviews of Modern Physics, 74: 47-97, 2004. 2. Barsalou, LW. Frames, concepts, and conceptual fields. In Frames, Fields, and Contrasts: New Essays in Semantic and Lexical Organization Lehrer, A. and Kittay, E. F., eds., pp. 21-74. L. Erlbaum, Hillsdale, N.J.E., 1992. 3. Been, H. Dreams: the convergence of neurobiologic and psychoanalytic perspectives, J. Am. Acad. Psychoanalytic. 25: 639-654, 1997. 4. Bleasdale, F.A. Concreteness-dependent associative priming: Separate lexical organization for concrete and abstract words. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory e Cognition, 13: 582-594, 1987. 5. Breuer, J. Freud, S. Strachey, J. 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Tesis de licenciatura em Ciencias Físicas, Faculdade de Ciências Exactas y Naturales, UBA, 2008. 13. Costa, ME., Bonomo, F., Sigman, M. Scale-invariant transition probabilities in free word association trajectories. Front Integr Neurosci 3:19, 2009. 14. Currás, E. Tesauros: linguagens terminológicas. Brasília: IBICT p.286, 1995. 15. Dodebei, VLD. Tesauro: linguagem de representação da memória documentária. Niterói: Intertexto, Rio de Janeiro: Interciência, 2002. 16. Ferrer-i-Cancho, R., & Solé, RV. The small world of human language. Proceedings of The Royal society of London. Series B: Biological Sciences, 268(1482), 2261-2265, 2001. 17. Fellbaum, C.; WordNet: an electronic lexical database. 1ª edição; Cambridge, Massachusetts, EUA, 1998. 18. Flores, MC. Diferenças intelectuais entre homens e mulheres: uma breve revisão da literatura. Psicólogo em Formação, n. 4, p. 25-34, 2000. 19. Gaines, R., Price-Willias, D. Dream images as a technique for the study of creative processes. Percept. 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Salk Institute for Biological Studies, La Jolla, CA, 2009. 35. Miller GA., Beckwith R., Fellbaum CD., Gross D., Miller K. WordNet: An online lexical database. Int. J. Lexicograph. 3, 4, pp. 235–244, 1990. 65 36. Navega, SC. Manipulação semântica de Textos Os projetos Wordnet e LSA. Publicado no Infoimage, agosto de 2004. 37. Nielsen, TA. Mentation during sleep: the NREM/REM distinction in R. Lydic, H.A. Baghdoyan (Eds.), Handbook of Behavioral State Control: Cellular and Molecular Mechanisms, CRC Press, Boca Raton, FL, pp. 101–128, 1999. 38. Nelson, DL., Schreiber, TA., McEvoy, CL. Processing implicit and explicit representations. Psychological Review, 99: 322-348. 1992. 39. Nelson, DL., Schreiber, TA. Word concreteness and word structure as independent determinants as recall. Journal of Memory and Language, 31: 237-260, 1992. 40. Pegado, JF., Mota-Rolim, SA., Alchieri, JI., Ribeiro, S. Diferenças cognitivas entre homens e mulheres na produção de associações livres de palavras no ciclo sono-vigília. Revista de Neurobiologia vol. 74:3 no prelo, 2011. 41. Pimentel, E. Paradigma Deese-Roediger-McDermott: Efeito da Evocação Prévia e Tipo de Tarefa de Memória Vol. 27 n. 3, pp. 315-325, 2011. 42. Pinheiro, AM. Contagem de frequência de ocorrência de palavras expostas a crianças na faixa pré-escolar e séries iniciais do 1º grau [software]. São Paulo: associação Brasileira de Dislexia, 1996. 43. Rönnlund, M., Nyberg, L., Bäckman, L., & Nilsson, LG. Stability, Growth, and Decline in adult Life span Development of Declarative Memory: CrossSectional and Longitudinal data From a Population-Based Study. Psychology and aging, 2(1), 3-18, 2005. 44. Rapp, B. & Goldrick, M. Speaking words: Contributions of cognitive neuropsychological research. Cognitive Neuropsychology, 23 (1), 39-73, 2006. 45. Sadoski, M., Willson, VL., Holcomb, A. & Boulware-Gooden, R. Verbal and Nonverbal Predictors of Spelling Performance. Journal of Literacy Research, 36(4): 461-478, 2004. 66 46. Salles, JF., Holderbaum, CS., Becker, N., Rodrigues, JC., Liedtke, FV., Zibetti, M. R. & Piccoli, L. F. Normas de Associação semântica para 88 palavras do português brasileiro, Psico, 39(3): 260-268, 2008. 47. Sánchez-Casas, RM., Davis, CW. and García-Albea, JE. Bilingual lexical processing: exploring the cognate-noncognate distinction. European Journal of Cognitive Psychology 4, 293–310, 1992. 48. Sauzéon, H., Lestage, P., Raboutet, C., NKaoua, B., & Claverie, B., Verbal fluency output in children aged 7-16 as a function of the production criterion: qualitative analysis of clustering switching processes, and semantic network exploitation. Brain and Language, 89: 192-202, 2004. 49. Sigman, M., Cecchi, GA. Global organization of the Wordnet lexicon. Proc Natl Acad Sci U S A, 99 (3):1742-7, February, 2002. 50. Shelton, JR., & Margolis, RB. The organization of semantic memory. In B. Rapp, What deficits Reveal about the Human Mind/Brain: a handbook of Cognitive Neuropsychology (pp. 423-443). Philadelphia: Psychology Press, 2001. 51. Spearman, C. General Intelligence Objectively Determined and Measured. American Journal of Psychology 15:201-293, 1904. 52. Speck WA., 'History and computing: some reflections on the past decade', History and Computing, 6 (1): 28–32. 1994. 53. Stein, L., & Perger, JK. Criando falsas memórias em adultos por meio de palavras associadas. Psicologia: Reflexão e Crítica, 19 (2), 166-176, 2001. 54. Steyvers, M., & Tenenbaum, JB The large-scale structure of semantic networks: statistical analyses and a model of semantic growth. Cognitive science, 29(1), 41-78, 2005. 55. Stickgold, R. et al. Replaying the game: hypnagogic images in normals and amnesics. Science 290:350–353, 2000. 56. Teixeira, GM. Redes semânticas em discursos orais:uma proposta metodológica baseada na psicologia cognitiva utilizando redes complexas. Dissertacão (Mestrado). Fundação Visconde de Cairu, Salvador, 2007. 67 57. Tabith A.J. Distúrbios do desenvolvimento da linguagem: aspectos foniátricos. Fórum, Rio de Janeiro: INES, v. 12, 2005. 58. Treisman AM. Attention and Speech, D. Phil. thesis. Oxford University, 1961. 59. Toren, P. Sadeh, M. Wolmer, L. Eldar, S. Koren, S. Weizman, N.R. reciprocal discharge by two brainstem neuronal groups, Science 189 Laor, Neurocognitive correlates of anxiety disorders in children: a55–58. preliminary report, J. Anxiety Disord. 14: 239–247, 2000. 60. Vigotsky, LS. Pensamento e Linguagem. Trad. Jefferson Luis Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1987. 61. Walker, MP., Conor LJ., Hobson, A., Stickgold, R. Cognitive flexibility across the sleep–wake cycle: REM-sleep enhancement of anagram problem solving. Cognitive Brain Research 14: 317-324, 2002. 62. Walker, MP., Stickgold, R. Overnight alchemy: sleep-dependent memory evolution. Nat. Rev. Neurosci. 11: 218. 2010. 68 ANEXO I Questionário de Informações Sócio-Demográficas Nome: ___________________________________________Data: _____/_____/2011 Data de Nascimento: _____/_____/_____ Telefone Fixo: ___________________ Celular: ____________________ /_____________________ /______________________ E-mail: _________________________________________________________________ RG ______________________CIC___________________________________________ Naturalidade: _____________________________ Sexo: ( ) masculino ( ) feminino Estado civil? 1[ ] Solteiro 3[ ] Viúvo 2[ ] Casado/ vivendo com o parceiro 4[ ] Divorciado ou separado/ desquitada Filhos? 1[ ] Nenhum 3[ ] Dois 2[ ] Um 4[ ] Mais de dois Nível educacional? 1[ ] Analfabeto / Primário incompleto 3[ ] Ginasial completo/ Colegial incompleto 5[ ] Superior completo 2[ ] Primário completo / Ginasial incompleto 4[ ] Colegial completo / Superior incompleto 6[ ] Pós-graduação Profissão?________________________________________________________________ Você exerce sua profissão atualmente? 1[ ] Sim Se sim, quantas horas por dia você trabalha? 2[ ] Não 3[ ] Estou afastado ______________________________________ Renda familiar: ( ) Até 01 Salário mínimo ( ) 04-10 Salários ( ) 1-2 Salários mínimos ( ) 2-3 Salário mínimo ( ) Acima de 10 salários Por favor, informe se em sua casa/apartamento existem e estão funcionando em ordem os seguintes ITENS e a QUANTIDADE que possui? 69 Indique qual o grau de instrução do chefe da família? Saneamento básico: _________________________________________________________ Religião (praticante, simpatizante, crenças): ____________________________________ 70 ANEXO II UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Esclarecimentos - Este é um convite para você participar da pesquisa: DISTÂNCIAS SEMANTICAS NA PRODUÇÃO DE PALAVRAS POR ASSOCIAÇÃO LIVRE: no Ciclo sono-vigília, que é coordenada por João Felipe de Souza Pegado, Prof. Sidarta Tollendal Gomes Ribeiro e Prof. João Carlos Alchieri. - Sua participação é voluntária, o que significa que você poderá desistir a qualquer momento, retirando seu consentimento, sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou penalidade. - Essa pesquisa procura estabelecer um banco de dados das relações semânticas entre a formação de palavras produzidas por associação livre, afim de, quantificar e entender os distintos modos da flexibilidade cognitiva do funcionamento cerebral, a partir dos estados mentais: a vigília, sono de ondas lentas (SOL) e sono dos movimentos rápidos dos olhos (MRO) ou sono paradoxal e/ou sono REM. - Segundo Walker (2002): “flexível ou fluido” são os processos cognitivos, considerados fundamentais para resolver problemas, como capacidade criativa, aprendizagem, memória, dentre outros, e que exigem um determinado meio Neurofisiológico, onde o pressuposto teórico é que o sono MRO ou REM, se caracteriza por um processamento psicológico mais flexível, com maior liberdade associativa. Entretanto, permanece por ser feito um teste direto desta teoria, utilizando como tarefa a associação livre de palavras. - Caso você decida, em aceitar este convite, você, será submetido (a) ao(s) seguintes procedimentos: Os dados serão coletados em 17 grupos de 4 participantes cada, nas dependências da Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte – UNP, em que: 1) cada participante recebe a cada rodada, uma palavra escrita, 2) escreve a 1ª palavra que pensou ao ler a palavra escrita, e 3) passa essa palavra para um participante vizinho. Uma palavra inicial é dada a cada participante, para deflagrar a tarefa, que prossegue por 2 rodadas para a associação de 71 três palavras. Na 2ª etapa do experimento, os mesmos voluntários, irão individualmente para as dependências do Laboratório de Neurofisiologia do Sono do IINN-ELS (Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra), onde serão realizadas semelhantes tarefas, já desenvolvidas, com a diferença de que você será monitorado por polissonagrafia computadorizada (EEG BrainNet 36 canais), sendo devidamente acompanhado por pesquisadores e monitores envolvidos com a pesquisa. - Os riscos envolvidos com sua participação são: Por se tratar de um protocolo que utiliza entrevistas (anamnese), questionários e tarefas escritas e verbais, além de métodos consagrados, seguros e não invasivos e indolores (Polissonografia), a metodologia oferece risco mínimo aos sujeitos da pesquisa. O aparelho de eletroencefalografia utilizado para o registro polissonográfico, foi projetado e construído segundo as normas para equipamentos eletromédicos – prescrições gerais de segurança, IEC 601-1 e normas de coleta, sendo amplamente utilizado no Brasil para estudos clínicos, por atender às normas de segurança vigentes para o estudo de seres humanos. Estes procedimentos asseguram total segurança nos métodos científicos aplicados neste experimento, sem nenhum método invasivo ou de natureza outra que venha a lhe prejudicar em qualquer instância de sua vida em geral. Caso, qualquer procedimento tomado, não for de seu agrado ou de seu livre consentimento, providências serão tomadas para minimizar qualquer desconforto ou manifestação que se reporte ao andamento da pesquisa. - Você terá os seguintes benefícios decorrentes desta pesquisa: Possível diagnóstico inicial de sintomas diretamente associados a distúrbios do sono, obtido através da análise dos questionários e polissonografia, entretanto, os investigadores desse projeto não são treinados para realizar diagnósticos, e os exames realizados nesse estudo não são otimizados para encontrar anormalidades: quando isso ocorrer, um médico neurologista será consultado para verificar se o achado merece posterior investigação. Nesse caso, os investigadores entrarão em contato com o médico, bem como com o voluntário, para informá-los do achado. A decisão de como proceder, frente a um achado anormal, com relação à realização de mais exames ou do tratamento, cabe somente ao voluntário e ao seu médico, como enfatiza o protocolo para experimentos envolvendo neuroimagem funcional da Universidade de Stanford (Illes, et al., 2003). Você estará contribuindo para o entendimento dos mecanismos neurocognitivos relacionados ao funcionamento do processamento neural. Os benefícios decorrentes dessa pesquisa, para o participante, são relevantes às contribuições de caráter científico em questão, e da experiência subjetiva com os procedimentos científicos entre a instituição, pesquisadores e voluntários. 72 - Todas as informações obtidas serão sigilosas. Na 2ª etapa da pesquisa, você será monitorado integralmente por vídeo imagem, que serão sincronizados com os registros polissonográficos do EEG (eletroencefalógrafo) ao mesmo tempo e gravados no sistema do banco de dados do Laboratório de Neurofisiologia do Sono. Seu nome não será identificado em nenhum momento. Os dados serão guardados em local seguro e a divulgação dos resultados será feita de forma a não identificar os voluntários. - Se você tiver algum gasto que seja devido à sua participação na pesquisa, você será ressarcido, caso solicite. Em qualquer momento, se você sofrer algum dano comprovadamente decorrente desta pesquisa, você terá direito a indenização. Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa, poderá perguntar diretamente para João Felipe de Souza Pegado (Pesquisador-Colaborador da Pesquisa), no endereço Rua: Prof. Luciano Francisco de Oliveira, 2460 ou pelo telefone 84 40080003 e/ou 84 94088926. - Dúvidas a respeito da ética dessa pesquisa poderão ser questionadas ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN no endereço Praça do Campus Universitário, Lagoa Nova. Caixa Postal 1666, CEP 59072-970 Natal/RN ou pelo telefone (84) 3215-3135. Consentimento Livre e Esclarecido Declaro minha autorização a todos os procedimentos desta pesquisa, bem como a compreensão dos seus objetivos, como ela será realizada, os riscos e benefícios envolvidos. Concordo em participar voluntariamente da pesquisa: DISTÂNCIAS SEMANTICAS NA PRODUÇÃO DE PALAVRAS POR ASSOCIAÇÃO LIVRE: no Ciclo sono-vigília. Participante da pesquisa: Nome: assinatura 73 Pesquisador Responsável: Prof. Sidarta Ribeiro ___________________________________________________ assinatura Rua: Prof. Luciano Oliveira, 2460 Candelária – Natal/RN - Tel: 84 4008.0003 Comitê de ética e Pesquisa Praça do Campus Universitário, Lagoa Nova. Caixa Postal 1666, CEP 59072-970 Natal/RN ou pelo telefone (84) 3215-3135. 74 ANEXO III ESCALA DE SONOLÊNCIA DE EPWORTH Qual possibilidade de você cochilar ou adormecer nas seguintes situações? Situações Chance de cochilar - 0 a 3 1. Sentado e lendo 2. Vendo televisão 3. Sentado em lugar público sem atividades como sala de espera, cinema, teatro, igreja 4. Como passageiro de carro, trem ou metro andando por 1 hora sem parar 5. Deitado para descansar a tarde 6. Sentado e conversando com alguém 7. Sentado após uma refeição sem álcool 8. No carro parado por alguns minutos no durante trânsito Total 0 - nenhuma chance de cochilar. 1 - pequena chance de cochilar. 2 - moderada chance de cochilar. 3 - alta chance de cochilar. Dez ou mais pontos – sonolência excessiva que deve ser investigada. Fonte - Johns MW. Sleep 1991; 14: 540- 5 Enviada pelo Dr Luiz Fernando F. Pereira. MG Incluída no site em junho de 2007 75 ANEXO IV 76 ANEXO V 77 ANEXO VI REVISTA NEUROBIOLOGIA NEUROBIOLOGIA JOURNAL www.neurobiologia.org DECLARAÇÃO Declaramos para os devidos fins que o artigo original intitulado: Diferenças cognitivas entre homens e mulheres na produção de associações livres de palavras, de autoria de Pegado, J.F., Mota-Rolim, S.A., Ribeiro, S. e Alchieri, J.C., foi aceito para publicação na REVISTA NEUROBIOLOGIA, vol. 74:3 de 2011, in press. O referido é verdade e dou fé. Recife/Pe, 13 de outubro de 2011. ________________________________________ Prof. Dr. Carlos Augusto Carvalho de Vasconcelos Editor Assistente 78 ANEXO VII Revisão DIFERENÇAS COGNITIVAS ENTRE HOMENS E MULHERES NA PRODUÇÃO DE ASSOCIAÇÕES LIVRES DE PALAVRAS COGNITIVE DIFFERENCES BETWEEN MEN AND WOMEN IN THE PRODUCTION OF FREE ASSOCIATIONS OF WORDS 1,2,4 Pegado, J.F., 1,3,4 Mota-Rolim, S.A.,1,3 Ribeiro, S.,* 2 Alchieri, J.C. RESUMO Introdução: Embora diversos estudos demonstrem diferenças no desempenho cognitivo, entre homens e mulheres, ainda não se sabe se essas diferenças ocorrem em tarefas que envolvam associação livre de palavras (AP). Objetivo: Avaliar as distâncias semânticas de palavras produzidas por AP entre homens e mulheres. Método: Aplicamos uma tarefa de AP em 68 voluntários adultos (52 mulheres e 16 homens). A tarefa de AP consistiu em listar por escrito a primeira palavra pensada após visualizar outra palavra oferecida como estímulo. Na ausência de um corpus em português adequado para à mensuração de distancias semânticas, as palavras coletadas foram traduzidas para o idioma inglês, e semanticamente quantificadas em um corpus representativo e sistemático desse idioma (Wordnet). Esse procedimento retirou as polissemias típicas do português, mas preservou a macro-estrutura semântica comum às duas línguas. Resultados: Na vigília, verificamos que as distâncias semânticas são significativamente menores nas AP produzidas por homens, em comparação com as distâncias semânticas verificadas em AP realizadas por mulheres. Conclusão: Os resultados são compatíveis com a noção de que as mulheres possuem um raciocínio mais abstrato do que homens. PALAVRAS-CHAVE: distância semântica, diferença de gênero e wordnet. Brain Institute, Federal University of Rio Grande do Norte, UFRN. Graduate Program in Health Sciences, UFRN. 3 Graduate Program in Psychobiology, UFRN. 4 Sleep Laboratory of Hospital Academic Onofre Lopes, UFRN 1 2 * Author for correspondence. ____________________________________________________________________________ 173 NEUROBIOLOGIA, 74(3-4) jul./dez., 2011 ___________________________________________ ABSTRACT Introduction: Although several studies have shown differences in cognitive performance between men and women, it is not yet known whether these differences occur in tasks involving the free word association (WA). Objective: To compare the semantic distances between word pairs produced by WA between men and women. Method: We applied a WA task in 68 adult volunteers (52 women and 16 men). The WA task consisted of writing the first word that came to mind after viewing another word offered as a stimulus. In the absence of a corpus in Portuguese, suitable for the measurement of semantic distances, word were translated to English and the semantic distance between each pair of stimulus-associated word was quantified in a systematic and representative English corpus (Wordnet). This procedure removed the polysemies typical of Portuguese, but preserved the semantic macro-structure common to both languages. Results: We found that semantic distances of WA produced by men were significantly smaller than the distances observed in WA produced by women. Conclusion: The results are consistent with the notion that women have a more abstract reasoning than men. KEY WORDS: semantic distance, gender difference, wordnet. INTRODUÇÃO O método de associação livre de palavras (AP) foi criado por Francis Galton em 1883, e consiste em listar, de forma escrita ou oral, as primeiras palavras que vêm à mente ao visualizar ou escutar uma palavra apresentada (1). Quando lemos uma palavra, outras palavras aparecerão naturalmente na mente, em função de suas relações semânticas, por exemplo: “neste momento escrevo a palavra VAPOR e penso imediatamente em: BARCO, MÁQUINA, TREM, MOTOR” (2). Sigmund Freud e Joseph Breuer foram os primeiros a utilizar a AP clinicamente em pacientes com transtorno de depressão e histeria (3). Carl Jung realizou um esforço paralelo de estudo da AP, inicialmente com viés mais básico do que clínico. Jung teorizou que os sentimentos, conceitos, experiências e comportamentos estão agrupados no inconsciente por meio de associações. Chamou a isto de “Grupos Complexos”, idealizando um método para diagnosticar diferentes patologias (24). Desde então, a AP tem sido amplamente utilizada pela psicologia, para compreender a organização do pensamento humano. Em décadas recentes, o advento da computação permitiu avançar no estudo quantitativo das AP. Um avanço importante foi a possibilidade de calcular regularidades estatísticas de co-ocorrência de palavras em grandes bases de dados linguísticos, gerando espaços semânticos de alta dimensionalidade a partir de matrizes de co-ocorrência lexical (4). A principal premissa desse método é que a proximidade semântica entre duas palavras pode ser extraída das regularidades estatísticas de co-ocorrências dessas palavras num corpus textual. Vizinhos próximos no espaço destas co-ocorrências correspondem a significados semelhantes e menor tempo de reação numa tarefa de associação semântica (4). O corpus textual mais utilizado em pesquisa é o Wordnet, um banco de dados em inglês desenvolvido ao longo de várias décadas por George Miller (6). No Wordnet, as palavras estão agrupadas em conjuntos de sinônimos para distintos conceitos, que por sua vez estão interligados por relações semânticas e lexicais. O Wordnet contém mais de 166.000 formas de palavras. A conexão fundamental na rede ocorre entre as formas da palavra e os significados da mesma. A forma da palavra pode estar conectada através de uma variedade de relações tais como 174 ___________________________________________________________________________ _________________________________________________________________ Pegado, J.F.; et al. sinônimos e antônimos. Os vértices que contêm o significado da palavra estão conectados na relação com hiperônimos, hipônimos e merônimos (7; 9). Uma investigação pioneira da estrutura do Wordnet revelou que a retirada das ligações polissêmicas, isto é, das relações com múltiplos significados, altera a estrutura do tipo “mundo pequeno” que caracteriza a linguagem natural, aumentando as distancias semânticas entre as palavras (26). Mais recentemente, um experimento foi realizado para investigar quantitativamente a relação entre associação livre de palavras e texto escrito (8). Outro experimento teve por base um jogo de associação de palavras implementado na internet, em que a palavra associada por um jogador servia de raiz para uma nova associação de outro jogador. Os pesquisadores verificaram que as associações naturalmente realizadas pelos jogadores possuem características estatísticas de lei de potencia, indicando que associações semânticas distantes (e, portanto raras) são mais frequentes do que o esperado se o processo fosse aleatório (2; 10). Um dos conceitos centrais para a representação das palavras no cérebro é um léxico mental sem conteúdo fixo, pois velhas palavras podem ser esquecidas e novas palavras precisam ser aprendidas. O léxico mental é organizado na forma de redes de informações específicas para formas de palavras (nível lexema), para as propriedades gramaticais das palavras (nível lema) e as especificações semânticas das palavras ou nível conceitual (11). A denominação ‘léxico mental’ foi utilizada pela primeira vez por Anne Marie Triesman em 1961, para designar um estoque de conhecimento, funcionando como um dicionário mental, que permite o acesso às formas escritas e orais de palavras e seus significados (5). No léxico mental, a aprendizagem perceptual, a codificação e a recordação de informações aprendidas estão envolvidas numa seleção de entradas adequadas que transmitem informações sobre o estímulo, que são discriminados pela interação entre diversas áreas do córtex e da modulação de circuitos intrínsecos, por meio de conexões de retroalimentação. Anomalias nessas interações estão associadas com distúrbios de comportamento, incluindo a esquizofrenia (12). Segundo Walker (13), pacientes com patologias no lobo frontal apresentam dificuldades na resolução de problemas durante a vigília, sugerindo que esta habilidade depende dessa região. O estudo aqui apresentado avalia possíveis diferenças no processamento neural cognitivo entre homens e mulheres através de AP. Na literatura, testes de quociente de inteligência (QI) mostram que as diferenças entre homens e mulheres são mínimas (14; 15). Embora existam diferenças específicas entre as diversas habilidades cognitivas, não há elementos de diferenciação entre os sexos, tanto em relação à inteligência geral, como em testes de raciocínio numérico, capacidades verbais e visuo-espaciais (15; 16; 17). Não obstante, ainda não se investigou se existem diferenças de gênero na AP. O experimento descrito nesse artigo teve o propósito de investigar diretamente essa questão. MATERIAIS E MÉTODOS Participantes Foram investigados 68 indivíduos saudáveis, graduandos de Psicologia em uma instituição de ensino superior do Rio Grande do Norte (RN) – Brasil, com idade entre 18 e 43 anos (23,9 ± 5,7). Este estudo obteve anuência do Comitê de Ética em Pesquisa UFRN (CEP 009/10-P). Não houve relato de ocorrências clínicas como distúrbios do sono esquizofrenia transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) dentre outros transtornos psicopatológicos que pudessem restringir a participação do voluntário na pesquisa. Tarefa de Associação Livre de Palavras (AP) A tarefa de AP foi uma adaptação presencial do método desenvolvido por Costa (1). Foram formados ____________________________________________________________________________ 175 NEUROBIOLOGIA, 74(3-4) jul./dez., 2011 ___________________________________________ 17 grupos de 4 pessoas, dispostas uniformemente ao redor de uma mesa redonda. A tarefa foi realizada em duas rodadas (R1 e R2) em sentido horário. Cada rodada foi composta por 4 tarefas, uma para cada participante, impressas em papel ofício. Cada folha continha duas colunas com 24 espaços delimitados para se listar a associação de palavra. A folha foi dobrada verticalmente ao meio, contendo uma coluna em cada lado da dobra (frente e verso). No primeiro espaço da coluna, uma palavra-raiz foi inicialmente escrita e escondida do voluntário por um envelope, sendo revelada pelo pesquisador no início da tarefa. Os 23 espaços restantes foram preenchidos por cada membro do grupo sucessivamente, sendo que, a AP listada pelo antecessor ao seu vizinho, torna-se palavra-raiz para o próximo indivíduo do grupo. Em resumo, a seqüência do experimento foi a seguinte: 1) Os voluntários leram uma palavraraiz; 2) escreveram a primeira palavra que lhes veio à mente; 3) quando cada voluntário terminou de escrever sua resposta no espaço adequado, as folhas foram passadas para o vizinho em sentido horário e assim sucessivamente até que todos os espaços de cada coluna foram preenchidos, completando uma rodada. Foram coletadas 3.264 associações de palavras compreendendo substantivos, adjetivos, advérbios, pronomes e verbos. Palavras compostas, nomes próprios e palavras iguais ao estímulo dado na tarefa, foram desconsideradas. Análise da distância semântica e estatística Devido à inexistência de um corpus textual em português capaz de fornecer medidas acuradas de distância semântica, todas as palavras coletadas em AP foram traduzidas para o idioma inglês a fim de terem suas distâncias semânticas quantificadas em um corpus representativo e sistemático desse idioma, o Wordnet. Esse procedimento retira as polissemias típicas do português, mas preserva a macro-estrutura semântica comum às duas línguas. Para calcular a distância semântica, dividimos o parâmetro 1 (único caminho lexical representado pelo grafo formado entre as palavras) por X (número de nodos lexicais visitados) baseado em (25). Os dados obtidos no “WNconnect 1.7.1”, foram analisados por meio do software GraphPadPrism 5.0, em análise estatística não paramétrica (Teste Mann-Whitney bi-caudal, p < 0,05) para duas amostras de populações independentes, observando possíveis diferenças entre elas. RESULTADOS Verificou-se a inexistência de diferenças significativas entre as distâncias semânticas das palavras produzidas por associação livre entre as rodadas R1 e R2 para os homens (p = 0,1206). Entre as mulheres (Fig.1b), também observamos que a AP em R1 é semelhante à AP em R2 (p = 0,4567). Entretanto, ao parearmos a R1 dos homens com a R1 das mulheres, notamos que as distâncias semânticas das palavras apresentam diferenças estatisticamente significativo (p = 0,0394; Fig. 1c). O mesmo foi observado para R2 (p = 0,0363; Fig.1d). DISCUSSÃO Observamos uma distância semântica significativamente menor nas associações de palavras produzidas pelos homens, em comparação com as mulheres, tanto na R1 e R2 (Fig. 1c e Fig. 1d). Na repetição da tarefa de AP (R1 seguida de R2, Fig. 1a,b), o resultado sugere um mesmo padrão nas distâncias semânticas entre as palavras produzidas pelos homens e pelas mulheres. Já nas figuras. 1.c e 1d observamos que as associações livres produzidas pelas mulheres são mais abstratas, em contraste com os homens que realizaram AP mais concretas (18). A hipótese principal sustenta que palavras mais concretas são processadas mais rapidamente do que palavras abstratas (19) em diversas tarefas tanto de memória quanto de linguagem. Assim, nosso resultado 176 ___________________________________________________________________________ _________________________________________________________________ Pegado, J.F.; et al. Figura 1 – Distâncias semânticas entre as associações livres de palavras comparando R1 com R2 entre homens (a) e mulheres (b); ou comparando entre os gêneros na R1 (c) e na R2 (d). sugere que as mulheres associam palavras através de um raciocínio mais abstrato (menos concreto) do que os homens. De acordo com Guillem et al. (17) “Os homens e as mulheres utilizam estratégias diferentes para desempenhar as mesmas funções cognitivas nem pior nem melhor, mas de modo diferente”. Essas diferenças de processamento cognitivo podem ser explicadas sob o prisma das teorias evolutivas, que defendem diferentes funções sociais dos gêneros para a melhor adaptação ao ambiente. Assim, tem sido sugerido que enquanto as mulheres usam várias partes do cérebro para resolverem determinadas tarefas, os homens realizam processamento cognitivo de modo neuroanatomicamente menos distribuído (20; 21). Pesquisas sobre as possíveis diferenças nas habilidades cognitivas entre homens e mulheres não verificam que os homens tenham maior aptidão matemática e científica do que as mulheres. Eventuais diferenças tendem a ser pequenas e são resultantes principalmente de diferentes estratégias e escolhas (15). Parte da comunidade científica entende que não há atualmente evidência que aponte para diferenças biológicas inatas da mente entre homens e mulheres; são as crenças culturais e sociais que contribuem principalmente para estas diferenças (20; 22; 23). ____________________________________________________________________________ 177 NEUROBIOLOGIA, 74(3-4) jul./dez., 2011 ___________________________________________ Homens e mulheres estão predispostos a partir do nascimento a aprender coisas diferentes: crianças do sexo masculino aprendem mais, por exemplo, sobre as relações mecânicas dos objetos, enquanto que bebês do sexo feminino tendem a aprender mais sobre as pessoas, emoções e relações pessoais (14; 16). Embora crianças mais velhas mostrem reduzidas diferenças nos perfis cognitivos, estas são complexas e sutis (14). Essas diferenças tendem a ser pequenas e se originam principalmente da estratégia de diferentes escolhas. As diferenças de perfis individuais entre os sexos não conotam uma vantagem masculina ou feminina na aprendizagem, seja em matemática avançada, habilidades para representar e identificar objetos, número e espaço. Elas dependem, sobretudo, das capacidades funcionais individuais presentes desde o início da vida (16). O fato de não ter sido possível quantificar os dados diretamente em português limitou nossa investigação e deve ser mencionado. Planejamos construir um corpus representativo em português para medir distâncias semânticas e comparar resultados com o presente estudo, obtido no Wordnet após tradução, um procedimento que reduz a ocorrências de polissemias. CONCLUSÃO Podemos concluir que o método de associação livre de palavras evocadas espontaneamente revela diferentes estratégias entre homens e mulheres. As mulheres apresentaram características de um raciocínio mais abstrato do que os homens na realização de tarefas por associação livre de palavras. Este aspecto está fundamentado na distância semântica significativamente maior nas redes associativas da mulheres, enquanto que os homens apresentam uma menor distância semântica entre as palavras, sugerindo maior concretude na construção do pensamento. AGRADECIMENTOS A Nathália Maria Lemos e Gleyson Paulo pela ajuda inicial na realização dos experimentos. À Coordenação e Direção do curso de Psicologia da Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte (UNP-RN); aos alunos de Psicologia da UNP-RN que participaram voluntariamente da pesquisa; a Lara Lectícia de Souza Pegado por colaboração nas análises estatísticas; a John Fontenele Araujo e Paula Tiba por suas críticas construtivas. SUPORTE FINEP 01.06.1092.00, 481506/2007-1. CNPq Universal REFERÊNCIAS 1. Costa, ME. Una Metrica para la Asociacion de palavras: Jung not dead. Tesis de licenciatura em Ciencias Físicas, Faculdade de Ciências Exactas y Naturales, UBA, 2008. 2. Costa, ME., Bonomo, F., Sigman, M. 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