QUEDAS EM CRIANÇAS E JOVENS:
UM ESTUDO RETROSPETIVO (2000-2013)
— Reedição, revista e adaptada —
RELATÓRIO FINAL – Novembro de 2014
I – Enquadramento e objetivos
Na Europa todos os anos morrem 1500 crianças e jovens entre os 0 e os 19 anos na sequência de
uma queda. Apesar de não ser a maior causa de morte nestas faixas etárias, é uma causa frequente
de incapacidade, com um risco significativo de sequelas a longo prazo, e muito provavelmente o
acidente com maior número de hospitalizações e impacto nas atividades do dia-a-dia das famílias.
Calcula-se que, por cada criança que morre na sequência de uma queda, 4 ficam com incapacidades
permanentes, 37 são internadas e 690 pessoas faltam ao trabalho ou à escola (OMS, 2004).
Em Portugal, as quedas são a maior causa de idas às urgências (ADÉLIA, 2006-2008) e de
internamentos, representando 4% das mortes acidentais com crianças e jovens (APSI, 2012).
De acordo com a OMS, até 90% das mortes por quedas poderiam ser evitadas na Europa. A criação e
manutenção de ambientes e produtos seguros para as crianças e jovens são fundamentais para a
redução da sua exposição ao risco de quedas graves.
Com o objetivo de caracterizar as quedas nas crianças e jovens, e promover um conhecimento mais
aprofundado das suas consequências e condições em que ocorrem, a APSI realizou um estudo
retrospetivo sobre este mecanismo de acidente no período de 2000 a 2009 (publicado em 2011), que
agora atualiza a partir da análise de dados disponibilizados por diferentes organismos. Para além do
seu impacto, em termos da mortalidade (INE) e internamentos (ACSS), foi possível, a partir da análise
de dados do ADÉLIA relativos a alguns dos anos em estudo (INSA) e da recolha de casos divulgados
na imprensa (APSI), identificar alguns dos padrões de ocorrência deste tipo de acidentes (local do
acidente, atividade no momento do acidente, parte do corpo lesionada, produtos envolvidos). Este
conhecimento mais específico é essencial para uma boa definição de estratégias de prevenção, assim
como para o estabelecimento de prioridades de intervenção.
II – Metodologia
O presente estudo sobre quedas em crianças e jovens em Portugal teve como base a análise da
informação referente a mortalidade, entre 2000 e 2012; internamentos, entre 2000 e 2013; idas às
urgências, entre 2003 e 2013 e casos de quedas registados pela imprensa, entre 2000 e 2013. Esta
informação foi cedida, respetivamente, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), pela
Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) e pelo Observatório Nacional de Saúde (ONSA) do
Instituto Ricardo Jorge (Sistema ADÉLIA, Acidentes Domésticos e de Lazer, Informação Actualizada).
Os casos relatados na imprensa foram recolhidos pela APSI.
A unidade de análise é a queda acidental que inclui as quedas sofridas pelas crianças e jovens de
forma não intencional. O universo de estudo são as crianças e jovens entre os 0 e os 18 anos, sendo
que, no caso da mortalidade e por não ser possível desagregar os 19 anos, os dados apresentados
incluem esta idade.
A análise e caracterização das quedas tiveram em conta a informação disponível sobre diversas
variáveis explícitas nas diferentes fontes de dados (INE, ACSS, ADÉLIA, APSI).
A partir de 2002, a classificação dos dados referentes à mortalidade passou a utilizar uma codificação
diferente e, como tal, optou-se por fazer a análise global de mortes considerando todos os anos
1
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UM ESTUDO RETROSPETIVO (2000-2013)
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(2000-2012) e a análise específica considerando apenas os dados a partir de 2002. Desta forma, os
dados relativos à mortalidade cuja causa foi a queda acidental foram caracterizados segundo as
variáveis: sexo, grupo etário, tipo de queda e tipo de lesão associada à queda.
Os dados do ACSS resultam de duas extrações: os dados entre 2000 e 2008 foram extraídos a 23 de
Maio de 2012 e os dados entre 2009 e 2013 a 23 de Outubro de 2014. Estes permitiram analisar e
caracterizar os internamentos por queda não intencional entre 2000 e 2013 segundo as variáveis:
sexo, grupo etário e tipo de queda.
A análise dos dados recolhidos pelo ADÉLIA (respeitantes a 54.889 idas às urgências, entre 2003 e
20131) foi realizada de acordo com as seguintes variáveis: sexo, grupo etário, local de ocorrência,
atividade desenvolvida durante o acidente, tipo de lesão e parte do corpo lesionada.
No estudo dos casos dos recortes de imprensa foram analisados os acidentes por queda registados
na imprensa nacional no período de 2000 a 2013 e foram caracterizados segundo as variáveis: sexo,
grupo etário, zona do país, tipo de queda, local de ocorrência, atividade desenvolvida durante o
acidente, produtos envolvidos no acidente, produtos causadores da lesão, tipo de lesão e parte do
corpo lesionada. As notícias na imprensa referentes a quedas foram selecionadas e comparadas
entre si para se retirar o máximo de informação possível sobre o acidente.
A análise de dados do ADÉLIA e dos casos recolhidos na imprensa, apesar de não serem
representativos do universo de estudo, permite identificar alguns dos padrões de ocorrência deste
tipo de acidentes (local do acidente, atividade no momento do acidente, parte do corpo lesionada,
produtos envolvidos). Este conhecimento mais aprofundado, que não surge nos dados referentes à
mortalidade e internamento, é essencial para uma boa definição de estratégias de prevenção, assim
como para o estabelecimento de prioridades de intervenção. Por esta razão, este estudo reúne e
analisa de forma complementar as diferentes fontes de dados.
Em traços gerais, os dados do ADÉLIA e o estudo do registo de imprensa da APSI corroboram as
tendências encontradas no que diz respeito ao sexo, idade das crianças e tipo de queda associada.
Para efeitos de elaboração das conclusões, considerou-se sempre a fonte de dados com maior
representatividade e/ou fiabilidade.
III – Resultados
1 - Quedas em crianças e jovens até aos 19 anos – Mortalidade
Entre 2000 e 2012 (INE) 109 crianças morreram em consequência de uma queda, de acordo com a
seguinte distribuição:
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
20
15
15
13
8
9
6
5
6
5
4
2
1
(CID 9: 880-884, 887, 888/CID-10: W06, W13-W19, INE)
Entre 2002 e 2012 (INE) das 74 crianças que morreram por quedas:
o 77% eram do sexo masculino e 23% do sexo feminino.
o 34% tinham idades entre os 15 e 19 anos; 31% entre os 0 e os 4 anos e 19% entre os 5 e os 9
anos e 16% entre os 10 e os 14 anos.
Estes dados não representam todas as idas às urgências mas apenas as registadas nos serviços de urgência da rede de
hospitais e centros de saúde do Serviço Nacional de Saúde que integram o sistema ADELIA.
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2
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o 46% foram devido a uma queda de altura elevada:
 Destas, 22 crianças (13 do sexo masculino e 9 do sexo feminino) morreram por uma
queda de/ou para fora de edifícios ou outras estruturas. 9 ocorreram em crianças entre o
0 e os 4 anos, 7 em crianças entre os 5 e os 9 anos e 3 crianças entre os 10 e 14 anos e
entre os 15 e 19 anos.
 12 crianças morreram por outras quedas de altura elevada. Nesta categoria encontram-se
as mortes por queda de leito, queda de árvore, queda de penhasco, mergulho ou salto
para a água causando outro traumatismo que não o afogamento ou submersão e “outras
quedas de altura elevada”.
o Desconhece-se o tipo de queda associado à morte da criança em 51% dos casos.
Distribuição percentual de mortes por tipo de queda 2002 e 2012 (INE)
Tipo de Queda
Subtotal
W13 – Queda de, ou para fora
Queda de
de, edifícios ou outras estruturas
altura
W06, W14, W15, W16, W17 –
elevada
Outras quedas de altura elevada
Queda do
W18 – Outras quedas no mesmo
mesmo nível
nível
Total de mortes cujo tipo de queda é conhecido
Queda
W 19 – Queda sem especificação
desconhecida
Total de mortes cujo tipo de queda é desconhecido
22
(65%)
12
(35%)
2
(100%)
% do Tipo de
Queda
Conhecido
% do Tipo de
Queda
Desconhecido
34
(94%)
34
(46%)
2
(6%)
36
2
(3%)
38
(100%)
Total de mortes
38
(51%)
38
74
(CID-10: W06, W13-W19, INE)
o O tipo de lesão associada à mortalidade por queda é, maioritariamente, a lesão traumática
intracraniana (43%), a lesão traumática múltipla não especificadas (18%) e fraturas do crânio
e dos ossos da face (9%).
2 - Quedas em crianças e jovens até aos 18 anos – Internamentos
Entre 2000 e 2013 (ACSS) registaram-se em Portugal Continental 60 705 internamentos por queda
em crianças e jovens até aos 18 anos, de acordo com a seguinte distribuição:
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
5906 5981 6080 5715 4933 4767 4414 3483 3562 3314 3220 3165 3089 3076
(CID 9: E880-E888, ACSS)
Numa análise mais específica dos internamentos por queda verificou-se que:
o
69% das crianças são do sexo masculino e 31% do sexo feminino.
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o
As crianças com idades entre os 5 e os 9 anos (29%) e os 0 e os 4 anos (28%) registaram uma
maior percentagem de internamentos, seguidas das crianças com idades entre os 10 e 14 anos
(26%).
Número e percentagem de internamentos por grupo etário entre 2000 e 2013 (ACSS)
Grupo etário
0-4
5-9
10-14
15-18
Total
17128
17279
15961
10337
Percentagem
28%
29%
26%
17%
(CID 9: E880-E888, ACSS)
o
No total de internamentos cujo tipo de queda é conhecido (32% do total), as quedas de altura
elevada (E880 a E884) são responsáveis pelo maior número de internamentos em crianças e
jovens até aos 18 anos (64%). Nas quedas de altura elevada, a categoria "outras quedas de
altura elevada” (65%), as quedas de um edifício ou outra estrutura (18%) e as quedas de
escadas ou degraus (13%) são as responsáveis pelo maior número de internamentos. Nas
quedas no mesmo nível as que originam mais internamentos são as por escorregão ou
tropeção (68%).
o
Em 68% dos internamentos não se conhece o tipo de queda associada.
Distribuição percentual de internamentos por tipo de queda 2000 e 20013 (ACSS)
Tipo de Queda
Subtotal
E880 – Queda de escadas ou
1648
degraus
(13%)
Queda de
E881 – Queda de escadote ou
154
altura
andaime
(1%)
elevada
E882 – Queda de um edifício ou
2218
outra estrutura
(18%)
E883 – Queda em buraco ou outra
348
abertura na superfície
(3%)
E884 – Outras quedas de altura
8189
elevada
(65%)
Queda no
E885 – Queda no mesmo nível –
4784
mesmo nível escorregar ou tropeçar
(68%)
E886 – Queda no mesmo nível –
2243
colisão ou empurrão
(32%)
Total de internamentos cujo tipo de queda é conhecido
Queda
E887 – Fractura de causa não
2718
desconhecida específica
(7%)
E888 – Outra queda não
38.403
específica
(93%)
Total de internamentos cujo tipo de queda é desconhecido
Total de internamentos
% do Tipo de
Queda
Conhecido
% do Tipo de
Queda
Desconhecido
12557
(21%)
12557
(64%)
7027
(36%)
19584
7027
(11%)
41121
(68%)
41121
60705
(CID 9: E880-E888, ACSS)
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A análise do tipo de queda nas várias idades permite observar que:
o
o
o
o
o
O internamento por queda de escadas ou degraus, de escadotes ou andaimes e “outras”
quedas de um nível para o outro é mais elevado no grupo etário dos 0 aos 4 anos.
O internamento por queda de um edifício ou outra estrutura ocorre maioritariamente nas
faixas etárias dos 0 aos 4 anos e dos 5 aos 9 anos.
O internamento por queda em buraco ou outra abertura na superfície é maior frequente entre
os 15 e os 18 anos.
O internamento por queda no mesmo nível (escorregar ou tropeçar) é mais elevado nas idades
dos 5 aos 9.
O internamento por queda no mesmo nível (colisão ou empurrão) é mais frequente nas idades
entre os 10 aos 14 anos e os 15 aos 18 anos.
Distribuição percentual de internamentos por tipo de queda e grupo etário 2000 e 2013 (ACSS)
Tipo de Queda
E880 – Queda de escadas ou
degraus
Queda de
E881 – Queda de escadote ou
altura
andaime
elevada
E882 – Queda de um edifício ou
outra estrutura
E883 – Queda em buraco ou outra
abertura na superfície
E884 – Outras quedas de um nível
para outro
Queda no
E885 – Queda no mesmo nível –
mesmo nível
escorregar ou tropeçar
E886 – Queda no mesmo nível –
colisão ou empurrão
Queda
E887 – Fratura de causa não
desconhecida específica
E888 – Outra queda não
especificada
Total de internamentos por queda
0-4
5-9
10-14
15-18
Total
774
(47%)
72
(47%)
650
(29%)
47
(14%)
4105
(50%)
1075
(22%)
99
(5%)
303
(11%)
10000
(26%)
17128
389
(24%)
29
(19%)
630
(28%)
62
(18%)
2018
(25%)
1628
(34%)
345
(15%)
633
(23%)
11545
(30%)
17279
303
(18%)
28
(18%)
529
(24%)
113
(32%)
1264
(15%)
1370
(29%)
917
(41%)
965
(36%)
10472
(27%)
15961
182
(11%)
25
(16%)
409
(19%)
126
(36%)
802
(10%)
711
(15%)
882
(39%)
817
(30%)
6383
(17%)
10337
1648
154
2218
348
8189
4784
2243
2718
38403
60705
(CID 9: E880-E888, ACSS)
3 - Quedas em crianças e jovens até aos 18 anos – Idas às urgências
A análise dos dados recolhidos pelo ADÉLIA, respeitantes a 54.889 idas às urgências entre 2003 e
2013, na sequência de uma queda acidental, permite verificar que:
o
60% eram crianças do sexo masculino, 40% crianças do sexo feminino.
o
31,5% das crianças tinham idade compreendida entre os 0 e os 4 anos; 27% entre os 5 e os 9
anos, 31,5% entre os 10 e os 14 anos e 10% entre os 15 e os 18 anos.
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Distribuição percentual dos acidentes por queda por grupo etário (ADÉLIA)
6
o
41% dos acidentes ocorreram em casa, 35% em locais de educação/ensino, 8% em áreas de
transporte, 5% ao ar livre e em área desportiva (exequo) e 3% em área de diversão e
entretenimento.
Distribuição percentual dos acidentes por queda pelo local de ocorrência (ADÉLIA)
A análise conjunta do local de ocorrência da queda por grupo etário indica que:
o Em casa e nas áreas de serviço e comércio as quedas ocorreram em maior percentagem nas
crianças com idades entre os 0 e os 4 anos (58%, 62%, respetivamente).
o Nos locais de educação/ensino, nas áreas desportivas e ao ar livre em crianças entre os 10 e os
14 anos (51%, 46% e 34%, respetivamente).
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o
o
Nas áreas de transporte houve mais quedas acidentais com crianças entre os 5 e 9 anos e os 10
e 14 anos (33%).
Nas áreas de diversão e entretenimento em crianças entre os 5 e os 9 anos (38%).
No que diz respeito à atividade desenvolvida na altura do acidente, bem como, ao tipo de lesões e
parte do corpo mais afectada, a análise dos dados recolhidos pelo ADÉLIA, permitiu ainda observar
que:
o
53% das crianças desenvolviam atividades de lazer na altura da queda, 12% desporto/exercício
físico, 5% atividade educativa e 3% atividade vital. 23% desenvolviam outro tipo de atividade
ou atividade desconhecida.
Distribuição percentual dos acidentes por queda por atividade desenvolvida (ADELIA)
o 42% das crianças sofreram contusões ou hematomas, 16% concussões, 12% esfolamentos e
12% ferida aberta. Em 16% dos casos não é especificado o tipo de lesão associado à queda.
o 54% das crianças que sofreram lesões na cabeça tinham entre os 0 e os 4 anos, 37% das que
sofreram lesões no tronco entre os 10 e 14 anos e 46% das que sofreram lesões nos
membros tinham entre os 10 e 14 anos.
o Os membros foram a parte do corpo mais afetada (43%), seguidos da cabeça (35%) e do
tronco (13%). 3% das crianças sofreram lesões múltiplas (em várias partes do corpo).
4 - Estudo de casos de quedas recolhidos em recortes de imprensa (2000 a 2013)
Entre 2000 e 2013 registaram-se na imprensa 168 acidentes por quedas em crianças e jovens até aos
18 anos, sendo que:
o 57% ocorreram em crianças do sexo masculino e 29% em crianças do sexo feminino; em 14%
dos casos desconhece-se o sexo da criança.
o 78% das quedas ocorreram em crianças com idade até aos 9 anos de idade. Mais
especificamente 46% em crianças entre os 0 e os 4 anos, 32% em crianças entre os 5 e 9
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anos. Verificaram-se menos acidentes por quedas entre os 10 e 14 anos (19%) e entre os 15 e
os 18 anos de idade (4%). Em 2% dos registos desconhece-se a idade da criança.
Distribuição percentual dos acidentes por queda por grupo etário (Recortes de Imprensa)
8
o
A casa é o local onde se registaram mais acidentes por queda (51%), seguido dos acidentes ao
ar livre (12%), nas áreas de transporte (10%), nos locais de educação/ensino (17%), e em áreas
de diversão ou entretenimento (4%). 7% dos registos não identificam o local de ocorrência do
acidente.
Distribuição percentual dos acidentes por queda por local de ocorrência (Recortes de Imprensa)
QUEDAS EM CRIANÇAS E JOVENS:
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o
o
o
81% das quedas são de altura elevada e 9% são quedas no mesmo nível. Em 10% dos registos
não é mencionado o tipo de queda.
Das quedas de altura elevada, 47% ocorreram de um edifício ou outra estrutura, 9% quedas
em buracos ou outras aberturas (ex: poços, abertura de contentor ao nível do solo, buraco em
obras, caixa de escoamento de águas aberta, …) e 7% foram quedas em/ou de escadas ou
similares. 18% foram outras quedas de altura elevada (ex: cavalo, postes de AT, falésia, carro,
equipamentos desportivos e parque infantil),
As quedas ao mesmo nível são quedas por escorregão, tropeção, colisão e empurrão (4.5%) ou
quedas de equipamento de uso individual com rodas (4.5%).
Distribuição dos acidentes por tipo de queda (Recortes de Imprensa)
o
o
o
o
As quedas de outro nível em escadas ou similares e as quedas no mesmo nível são mais
frequentes em crianças com idades entre os 5 os 9 anos (n=6 e n=5, respetivamente).
As quedas de edifício ou outra estrutura são mais frequentes em crianças dos 0 aos 4 anos
(n=50). E as quedas em buracos ou outras aberturas similares também mas com bastante
menor expressão (n=5).
As outras quedas de um nível para o outro ocorrem maioritariamente nas faixas etárias dos 10
aos 14 anos (n= 12) e dos 5 aos 9 anos (n=7).
As quedas de equipamento de uso individual com rodas em crianças entre os 10 e os 14 anos
(n=5).
Ao analisar o tipo de queda e o local onde ocorreu o acidente podemos verificar que:
o
o
o
51% das quedas ocorreram em casa sendo que as mais frequentes são as quedas de edifício ou
outra estrutura (n=69), as quedas de escadas (n=6) e as quedas em buraco ou outra abertura
(n=5).
As outras quedas de um nível para o outro são mais frequentes ao ar livre (n=9) e em áreas de
transporte (n=9).
As quedas ao mesmo nível ocorrem maioritariamente na escola (n=4).
9
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Quanto à atividade no momento do acidente:
o
36% das crianças estavam a desenvolver uma atividade de lazer quando ocorreu o acidente e
3% desenvolviam uma atividade vital/básica e 2,5% uma atividade educativa ou de
desporto/exercício físico. 5% realizava uma outra atividade e em cerca de metade dos registos
(51%) não é especificada a atividade que a criança desenvolvia na altura do acidente.
Distribuição percentual dos acidentes por queda por atividade desenvolvida (Recortes de Imprensa)
Já no tipo de lesão e partes do corpo afetadas na sequência de uma queda:
o As lesões mais frequentes são as fraturas (12%), as contusões (10%) e as
escoriações/esfolamentos (9%).
o A cabeça é a parte do corpo mais lesionada (27%), seguida dos membros (10%). Em 18% dos
acidentes registados as crianças lesionaram várias partes do corpo e em 39% dos registos não é
identificada a parte do corpo lesionada.
Distribuição percentual dos acidentes por queda por parte do corpo lesionada (Recortes de Imprensa)
10
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Uma análise dos produtos envolvidos nos acidentes por queda permite observar que as varandas e as
janelas de edifícios são os produtos que aparecem mais vezes associados às quedas (40%), logo
seguidas dos buracos ou outras aberturas (9%), escadas (7%), muro (6%), bicicleta (3%) e
teto/telhado/terraço (4%). Em 13% dos acidentes não é referido o produto envolvido no acidente
Produto envolvido no Acidente (Recortes de Imprensa)
Produto
Escada
Varanda/Janela
Teto/Telhado/Terraço
Banco/Cadeira
Slide
Baloiço
Berço/Cama
Bicicleta
Carro/TCC/Trator
Insuflável
Buraco ou outra abertura
Bola
Cavalo
Falésia/Morro/Ravina
Muro
Ponte
Pavimento
Pessoa
Blocos de Cimento
Poste de Alta Tensão
Produto Não Especificado
Sem Resposta
Total
Frequência
11
66
7
1
1
1
2
8
4
2
15
2
1
3
9
1
2
4
1
2
22
3
165
Percentagem
6,7
40
4,2
0,6
0,6
0,6
1,2
4,8
2,4
1,2
9,1
1,2
0,6
1,8
5,5
0,6
1,2
2,4
0,6
1,2
13,3
1,9
100,0
Quanto aos produtos que causaram a lesão foi possível verificar que os pavimentos, no geral,
representam 76% dos produtos causadores da lesão, dos quais 47% dizem respeito a pavimentos de
estrada, rua ou passeio. Em 11% dos casos não é especificado o produto causador da lesão.
Produto causador da Lesão (Recortes de Imprensa)
Produto
Pavimento Espaços Jogo e Recreio/Escola
Pavimento Ajardinado/Vegetação
Pavimento Estrada/Passeio/Rua
Pavimento Naturais/Materiais Soltos
Solo
Pavimento Não Especificado
Carro
Fios/Ferros/Obras
Degraus
Fundo de Buraco ou outra abertura/poço
Árvore
Lareira
Produto Não Especificado
Blocos de Cimento
Precipício
Sem Resposta
Total
Frequência
3
5
78
9
8
23
1
2
3
10
1
1
18
1
2
3
168
Percentagem
1,8
3
47,3
5,5
4,8
13,9
0,6
1,2
1,8
6,1
0,6
0,6
10,9
0,6
1,2
1,8
100,0
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QUEDAS EM CRIANÇAS E JOVENS:
UM ESTUDO RETROSPETIVO (2000-2013)
— Reedição, revista e adaptada —
IV – Conclusões
1. Nos últimos 14 anos, pelo menos 109 crianças e jovens morreram na sequência de uma queda e
mais de 60.500 tiveram que ser internadas.
A maior parte das mortes (INE, 2000-2012) na sequência de uma queda ocorreram em crianças e
jovens do sexo masculino (77%) com idades compreendidas entre os 15 e os 19 anos (34%). Das
restantes, 31% ocorreram entre os 0 e os 4 anos, 19% entre os 5 e os 9 anos e 16% os 10 e os 14
anos.
Nos internamentos (ACSS, 2000-2013), 69% das crianças são do sexo masculino e 31% do sexo
feminino. As crianças mais frequentemente internadas tinham idades compreendidas entre os 5 e
os 9 anos (29%) e os 0 e os 4 anos (28%), seguidas das crianças com idades entre os 10 e 14 anos
(26%) e os 15 e os 18 anos (17%).
Em muitos casos, o tipo de queda associada a estes acidentes não é conhecida. No entanto e a
partir das situações onde existe esta informação (49% das mortes e 32% dos internamentos), é
possível identificar qual o tipo de queda que provoca mais mortes e internamentos.
2. A maior parte das mortes resultam de quedas de edifícios e outras estruturas.
De acordo com os dados disponibilizados pelo INE (2002-2012), 30% das mortes resultaram de
uma queda de edifícios ou outras estruturas. A maior parte destes casos aconteceu com crianças
até aos 9 anos (9 casos com crianças entre o 0 e os 4 anos e 7 casos entre os 5 e os 9 anos). São
ainda referidas mortes que resultaram de queda de leito, queda de árvore, penhasco, ou
mergulho ou salto para a água. Em metade dos casos não se conhece o tipo de queda.
O tipo de lesão mais frequentemente associado a estas mortes é a lesão traumática intracraniana.
3. As quedas de altura elevada são responsáveis pelo maior número de internamentos.
64% dos internamento cujo tipo de queda é conhecido (ACSS, 2000-2013) deveram-se a uma
queda da altura elevada. Destas, a categoria “outras quedas de altura elevada” representa 65%,
as quedas de um edifício ou outra estrutura representam 18% e as quedas de escadas ou degraus
13%.
As quedas no mesmo nível representam 36% dos internamentos, sendo que a maior parte são
quedas por escorregão ou tropeção (68% das quedas no mesmo nível).
4. Os internamentos que resultam de quedas de altura elevada são mais frequentes nas crianças
mais novas.
Os internamentos resultantes de quedas de escadas ou degraus, queda de escadote ou andaime e
queda de um edifício ou outra estrutura são mais frequentes nas crianças entre os 0 e os 4 anos
de idade (47%, 47% e 29%, respetivamente). A queda de um edifício ou outra estrutura também
ocorre frequentemente na faixa etária dos 5 aos 9 anos (28%). As crianças mais velhas, dos 15 aos
18 anos, são as que sofrem mais quedas em buracos ou aberturas (38%).
Os internamentos por quedas por escorregão ou tropeção são mais frequentes em crianças entre
os 5 e 9 anos (34%), enquanto as quedas por colisão ou empurrão são mais frequentes a partir
dos 10 anos (80%).
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UM ESTUDO RETROSPETIVO (2000-2013)
— Reedição, revista e adaptada —
5. A maior parte das quedas ocorreram em casa e na escola.
A análise dos dados recolhidos pelo ADÉLIA (respeitantes a 54.889 idas às urgências, entre 2003 e
2013) mostra que 41% das quedas aconteceram em casa e 35% na escola. Em casa mais de
metade das quedas (58%) ocorre com crianças até aos 4 anos. Nos locais de educação/ensino, a
maior parte (51%) acontece entre os 10 e os 14 anos. Mais de 53% das crianças estavam a realizar
atividades de lazer no momento da queda.
No tipo de lesão, 42% das crianças sofreram contusões ou hematomas, 16% concussões, 12%
esfolamentos e 12% ferida aberta, sendo os membros e a cabeça as partes do corpo mais
afetadas (43% e 35% respetivamente).
6. As varandas e as janelas são o produto que aparece mais vezes associado às quedas acidentais.
O estudo de casos dos registos de recortes de imprensa da APSI (168 casos, entre 2000 e 2013)
permite identificar as varandas e as janelas como os produtos mais vezes associados às quedas
(40%). A seguir aparecem os buracos ou outras aberturas (9%) e as escadas (7%).
Quanto aos produtos que causaram a lesão foi possível verificar que os pavimentos representam
76% dos produtos causadores da lesão, dos quais 47% dizem respeito a pavimentos de estrada,
rua ou passeio.
V – Medidas necessárias
Os resultados deste estudo mostram claramente que as quedas com consequências mais graves estão
relacionadas com os espaços construídos e que a construção ainda não salvaguarda de forma eficiente a
segurança das crianças. É necessário projetar e construir habitações e estabelecimentos educativos
adaptados às características e necessidades das crianças e urgente reabilitar os edifícios já existentes. Só
desta forma será possível reduzir o nº de mortes e internamentos resultantes de quedas de edifícios e
quedas de escadas. Tanto as construções novas como as já existentes devem garantir a segurança de
todos os seus utilizadores de forma a não apresentarem riscos inaceitáveis de acidente durante a sua
utilização normal e previsível, como aliás prevê o Regulamento Europeu para os Produtos de Construção.
A adaptação dos ambientes construídos é essencial. A colocação de guardas eficazes nas varandas e
terraços (não escaláveis e difíceis de transpor ou gerar desequilíbrios), de limitadores de abertura nas
janelas (abertura máxima 9 cm) e cancelas em escadas (no topo e em baixo) são medidas fundamentais.
Em 2009, foi publicada uma Norma Portuguesa para Guardas para Edifícios (NP 4491:2009), que apesar
de aplicação voluntária, é uma referência e um instrumento técnico indispensável no projeto, construção
e reabilitação de guardas eficazes na prevenção de quedas de crianças. Sendo a proteção dos utilizadores
um requisito essencial do Regulamento de Produtos de Construção, a conformidade com a NP 4491:2009
é determinante já que garante a segurança na utilização dos edifícios.
É fundamental que projetistas e construtores cumpram a norma portuguesa para guardas para
edifícios.
É necessário que o poder local garanta a criação de regulamentos harmonizados de construção e que
esta norma seja adotada no âmbito dos Regulamentos Municipais de Urbanização e Edificação.
Que o poder central crie legislação que obrigue à proteção de varandas, janelas, escadas e outros
desníveis em determinados edifícios (existentes).
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QUEDAS EM CRIANÇAS E JOVENS:
UM ESTUDO RETROSPETIVO (2000-2013)
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Que seja definida uma política e estabelecida uma estratégia para a reabilitação dos edifícios já
existentes. Esta deve prever uma intervenção coordenada das autarquias e/ou do Instituto da Habitação
e Reabilitação Urbana e Edificação, bem como dos serviços de saúde pública e ação social, para uma
avaliação de risco do edificado existente e eventual adaptação aos requisitos das novas normas (Menezes,
H.; Eloy, S.; APSI, 2009).
Paralelamente, é necessário fomentar a inclusão da avaliação de risco de acidente nas visitas
domiciliárias, que inclua a educação para a saúde e avaliação de risco, na perspetiva de prevenção das
quedas, assim como, promover a formação dos estudantes e profissionais ligados ao projeto e
construção de edifícios.
Este estudo mostrou ainda a necessidade de melhorar o sistema de registo e codificação dos acidentes
por queda. A percentagem de quedas relativamente às quais se desconhece a causa específica é muito
alta (51% das mortes e 68% dos internamentos), para além do que, a categoria “outras quedas de um
nível para o outro”, abarca um número muito elevado de quedas não especificadas (sabe-se que são de
um nível para o outro, mas não se conhece o tipo de queda específico). Este facto, impossibilita um
conhecimento completo e detalhado da realidade e pode “mascarar” alguma situação relevante em
termos das quedas com crianças e jovens. Para além disso, informações mais pormenorizadas das
condições em que as quedas ocorrem, no levantamento associado à mortalidade e internamentos (que
implicariam a inclusão de mais parâmetros de registo), são essenciais para um retrato mais fiel da
realidade e consequentemente uma definição de estratégias mais direcionadas e eficazes.
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VI - Referências Bibliográficas
World Health Organization, WHO (2008). World and European Report on Child Injury Prevention.
INSA, 2011. ADELIA, Acidentes Domésticos e de Lazer: Informação Adequada. Relatório 2006 – 2008.
APSI, 2012. Resumo do Perfil de Segurança Infantil de Portugal e Relatório de Avaliação de Segurança
Infantil de Portugal 2012.
APSI, 2008. A sua varanda é segura?
Menezes, H.C: (2009). Segurança das Crianças nos ambientes construídos. Responsabilidade e Boas
Práticas, in actas do colóquio “Os dez anos do Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação”,
AdUrbem, Novembro, 27, 2009, LNEC:
Ficha Técnica
Edição: APSI - Associação para a Promoção da Segurança Infantil
Autoria: Inês Pessoa e Costa, Sandra Nascimento, Sónia Anjos
Data de Publicação: Novembro 2014
1ª edição do estudo: Apoio Century 21
Agradecimentos
À Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), Instituto Nacional de Estatística
(INE), Instituto Ricardo Jorge (INSA), pela cedência de dados.
Apoio:
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Estudo sobre Quedas de Crianças e Jovens