Enchente na Grande São Paulo no dia 16/12/2009 Introdução Na tarde da quarta-feira do dia 16/12/2009 ocorreram chuvas intensas acompanhadas de muitos raios e rajadas de vento superiores a 60 km/h em áreas da capital São Paulo e áreas da região metropolitana como Osasco e Guarulhos. Em muitos bairros destas cidades foram registrados alagamentos, engarrafamentos e muitos transtornos à população. A Defesa Civil teve que resgatar diversas pessoas de suas casas devido ao alagamento significativo. Na capital, São Paulo, choveu 54 mm de 15 ás 18h (local). O forte padrão termodinâmico (calor e umidade) foi o responsável pelas fortes chuvas que ainda foram intensificadas pela atuação de um cavado em altitude. Como pode ser observado na figura de descargas elétricas acumuladas, (figura 1), houve muitos raios no leste paulista, principalmente na Grande São Paulo, área de Campinas e em áreas do Vale do Paraíba, Serra da Mantiqueira e Serra do Mar. Entre áreas da Grande São Paulo, Capital e área de Campinas os raios indicam que as pancadas de chuva foram principalmente entre o fim da tarde e o começo da noite (cor laranja, amarela e vermelha do mapa). Figura 1 – Raios acumulados (16/12/2009) Análise de fatores térmicos, dinâmicos e imagens de satélite Nas imagens de satélite, (figuras 2a - canal visível e 2b - infravermelho) observam-se nuvens tipo cumulo-nimbus (CBs) em grande parte do leste e nordeste de SP, incluindo a Grande São Paulo. Nuvens convectivas também foram observadas no oeste e sul de SP, assim como em áreas do centro-norte e centro-leste do PR, além de áreas de SC e nordeste do RS. Alguns topos convectivos chegaram a temperaturas inferiores a -70 graus em áreas do leste de SP. Figura 2: Imagens de satélite. 2a- canal visível. 2b – canal infravermelho (16/12/2009 – 19:00Z) A sondagem do Campo de Marte em São Paulo (figura 3), das 12Z do dia 16/12 observa-se que abaixo do nível de 600hPa, ou seja, em baixos níveis, a atmosfera estava bem úmida em comparação aos níveis mais altos. Em 500hPa notase uma significativa massa de ar seco. Nota-se nesta mesma sondagem ventos com deslocamento ciclônico com a altitude, o que indica uma advecção fria com a altitude. Figura 3: Sondagem de Campo de Marte-SP (16/12/2009 – 12Z) Ainda analisando a sondagem, nota-se que o índice K era de 40,9, o que indicava perto de 100% de condições para tempestades olhando apenas este índice. O índice Showalter era de -2,64 o que indicava boas chances de trovoadas. O índice lifted era -3,36, sendo que valores negativos indicam instabilidade. O índice Cross Totals teve valor de 23,20, sendo que valores acima de 18 indicam desenvolvimento convectivo, lembrando que este índice está associado com a umidade em baixos níveis. O índice Total Totals foi de 49,10, sendo o valor crítico de 44. Havia CAPE significativo, valor de 1473. Como se sabe, nenhum índice isolado é o suficiente para garantir a ocorrência de tempestades, mas como vários índices estavam críticos ao mesmo tempo, as chances de tempestades eram enormes. Na figura 4 observam-se as linhas de corrente em 250hPa mostrando a presença de um cavado atuando entre parte do Centro-Oeste e do Sudeste, o que inclui SP. Este cavado favoreceu o levantamento sobre SP, ajudando na formação das nuvens convectivas. Figura 4: Carta de 250hPa, LC e Hgt Conclusão Em resumo a chuva que ocorreu em São Paulo no dia 16/12/2009 foi conseqüência principalmente de fatores termodinâmicos, ou seja, calor e umidade. Havia muita umidade em níveis baixos, além de calor, a máxima na capital paulista chegou aos 30 graus. Além disto, um cavado em 250hPa contribuiu para a formação das nuvens de tempestade, favorecendo movimento ascendente do ar sobre a região.