Solenidade da Santíssima Trindade (Ano A)
Texto – Jo 3,16-18
16
DEUS amou de tal modo
o mundo,
que lhe deu
o SEU FILHO UNIGÉNITO,
a fim de que todo o que nele crê
não se perca,
mas tenha a vida eterna.
17
De facto, DEUS
não enviou
ao mundo
o mundo,
mas para que
o mundo
18
o SEU FILHO
para julgar
seja salvo por ELE.
Quem nele
crê não é julgado,
mas quem
não crê já está julgado,
porque
não creu
no FILHO UNIGÉNITO DE DEUS.
Breve comentário
Neste Domingo da Santíssima Trindade continuamos a ler o Evangelho segundo S. João, como sempre
obscuro e enigmático. O texto deste domingo não é excepção. São apenas três versículos muito densos,
extraídos do diálogo de Jesus com Nicodemos, que revelam a verdadeira face de Deus.
Não é preciso muito para enquadrar a situação. Em primeiro lugar, olhemos para os personagens: Deus,
o mundo, o Filho unigénito. O mundo, ou os homens que estão no mundo, continuamente em oposição a
Deus e contra a vontade de Deus, porque obstinadamente buscam a própria vontade. Os homens, quando
querem agir sem Deus, tornam o «mundo» uma massa indiferente ou em oposição a Deus, que cai sob o
domínio da morte.
Mas «Deus amou o mundo...»: a cena desenvolve-se de acordo com um guião imprevisível. Deus ama
este mundo, esta massa de homens que o rejeitam. Não há luta nem duelo. O homem está teimosamente
em oposição a Deus, mas Deus procura obstinadamente o homem. O que poderia ser uma luta para a
história torna-se um fenómeno totalmente novo. O mundo deve ser recuperado para o amor de Deus, mas
deve ser recuperado pelo amor e não pela força. Caso contrário, o vencedor seria a morte. Morte aqui é
parte do inimigo, mas um inimigo que não tem consistência própria: é simplesmente o resultado da rejeição
de Deus. O mundo é, ao mesmo tempo, inimigo e vítima. Inimigo, porque se opõe a Deus; vítima, porque a
sua própria loucura o leva ao reino da morte. Uma situação sem solução, se não entrasse em cena um novo
personagem: o Filho único.
O Unigénito, dado (como dom) por Deus, é chamado «Filho», porque participa da mesma força e do
amor de Deus; é definido como «Unigénito», pois a sua relação com Deus é muito especial e única. É este
Filho que recria a ligação entre Deus e o «mundo»: n’Ele é possível reencontrar o fio original da amizade
perdida, os homens podem realmente experimentar a reconciliação de Deus. Em Jesus torna-se possível
voltar a aprender a ser homens e filhos, a viver uma vida plenamente humana, sem estar em oposição a
Deus. O mundo deve ser salvo, não condenado e destruído. Como vai terminar esta história? Vencerá o
amor de Deus manifestado no Unigénito, ou vencerá a obstinação do mundo? A resposta do evangelista
envolve o leitor e ouvinte: «quem crê n'Ele tem a vida eterna».
Há um julgamento que pode levar irremediavelmente à condenação: «Quem nele crê não é julgado, mas
quem não crê já está julgado (condenado)». Este juízo não é pronunciado por Deus no fim dos tempos, mas
é actual: é a pessoa que escolhe a vida ou a morte, conforme aceita Cristo e a sua Palavra ou recusa Cristo
e a sua proposta de amor.
Aqui reside a importância do mistério da Santíssima Trindade. Se Deus fosse apenas o único Deus,
como os muçulmanos acreditam, seria o protagonista único, sem espaço para mais ninguém. Se Deus
fosse, pelo contrário, uma multiplicidade de actores, como na antiga religião grega, os homens não
passariam de bonecos nas suas mãos. Mas o nosso Deus é uno e trino e, portanto, capaz de abrir espaço
para um mundo que o rejeita, e voltar a envolver o homem na sua demonstração de amor.
P. Franclim Pacheco
Diocese de Aveiro
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