Iniciativa do INESC Porto demonstrou fragilidade da audição humana “Uma geração de surdos” O Primeiro de Janeiro, 29 de Novembro de 2002 Texto de Pedro Fidalgo Conhecer a audição e aprender a defender-se das agressões foi o objectivo de uma iniciativa do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto no âmbito do projecto Ciência Viva. Uma acção para ajudar a prevenir que os jovens de hoje sejam os surdos de amanhã. A iniciativa «Acções Integradas sobre o Sentido da Audição» passou por duas escolas do grande Porto, dando a conhecer o som, a forma como o ser humano o percebe e os perigos e cuidados a ter para preservar a acuidade auditiva. Tudo isto recorrendo a diversos equipamentos, idealizados pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto (INESC Porto), e com os quais os jovens puderam interagir. Factor importante, uma vez que segundo Aníbal Ferreira, professor da Faculdade de Engenharia do Porto, é muito diferente "entrar numa escola secundária e dizer: «Cuidado, as discotecas são perigosas!», ou, mostrar-lhes, na prática, o elevado nível Aníbal Ferreira de décibeis a que são submetidos quando as frequentam e os danos que e um dos sonómetros isso lhes pode provocar". criados pelo O mentor deste projecto, juntamente com outros membros do INESC, INESC Porto produziu assim vários aparelhos e utilitários para ajudar os estudantes na descoberta. Uma das criações foi o analisador de sinais de fala, programa informático que permite, por exemplo, através da tonalidade de voz do orador, descobrir se se trata de um homem, uma mulher ou uma criança. Mini-sonómetros analógicos, aparelhos que cabem numa mão e permitem medir os décibeis em determinado local, indicando para a perigosidade inerente à exposição dos ouvidos a esse som, foram outros aparelhos produzidos pela equipa. Durante esta semana, a iniciativa passou pela Escola Secundária Fontes Pereira de Melo, no Porto, e pelo Colégio dos Carvalhos, em Gaia. Testes de audiometria foram realizados em 40 jovens das duas escolas e os dados, serão agora analisados, podendo vir a permitir tirar conclusões quanto às implicações para o aparelho auditivo das mais diversas actividades. Frequência ou não de discotecas, utilização de auriculares como os "walkman", foram algumas das questões colocadas aos alunos, cada um dos quais levou para casa um dos minisonómetros do INESC. Cem destes aparelhos foram ainda sorteados entre os estudantes que visitaram a mostra. Para Aníbal Ferreira, esta é uma forma de os jovens, nas suas actividades diárias, se irem "apercebendo dos momentos e locais onde são submetidos aos níveis mais elevados de som, que podem causar lesões graves na audição". O investigador acredita que "podemos estar hoje a criar uma geração de surdos, pessoas que mais cedo do que o normal, vão necessitar de auxiliares de audição". Aníbal Ferreira lembra ainda que ao contrário "dos olhos, que se fecham quando submetidos a luz intensa, a audição só dá sinal de dor quando chegam as lesões" o que leva à necessidade de um maior cuidado e prevenção.