MERCADO DE TRABALHO: “CENÁRIO SOCIAL ONDE A MULHER CONTEMPORÂNEA É A GRANDE PROTAGONISTA” 1 LUZ, Patricia Medina da2 ; CEZNE, Graziela Oliveira Miolo3; BARICHELLO, Fernanda Bellé4 1 Trabalho Final de Graduação Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 3 Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 4 Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected] 2 RESUMO O presente trabalho pretende apresentar a “nova” realidade que passa a permear a vida da mulher contemporânea, ou seja, o mercado de trabalho. Logo é perceptível que a mulher contemporânea ocupou efetivamente este espaço/lugar no social devido a intensas batalhas que travou desde os primórdios impulsionada pelo desejo de conquistar um “ideal”. Palavras-chave: Mulher contemporânea; Desejo; Mercado de Trabalho. 1. INTRODUÇÃO Numa perspectiva histórica é visível que devido as especificidades do seu corpo, a mulher tenha sido estigmatizada como frágil, inferior, submissa, de forma cruel por uma sociedade dominada pelos padrões patriarcais que, inclusive, a destituiu da condição de ser humano. Tal realidade esta exposta na seguinte frase: (...) “as mulheres com a consolidação do sistema patriarcal na idade média não foram privadas somente de seus direitos, mas da condição de seres humanos. (SANTOS, 2006, p. 103). Entretanto a partir do período pré – histórico a mulher começou a transformar a sua realidade, resgatando a sua autonomia cuja qual é expressa nos dias de hoje pela mulher contemporânea que redefini a todo instante o seu papel bem como o seu lugar e espaço no meio social. Diante disso, é perceptível que há no cenário social um aumento significativo de mulheres adentrando o mercado de trabalho. No entanto de certa forma a mulher contemporânea “paga” simbolicamente um preço alto ao se inserir neste espaço, visto que, é obrigada a se “despir” das virtudes que tradicionalmente lhe foram introjetadas por meio do discurso social e parental (mãe, avós e bisavós). Conforme Kolontai (2005) as virtudes femininas – passividade, submissão, doçura – que lhe foram inculcadas durante séculos, tornam-se agora completamente supérfluas, inúteis e prejudiciais. 1 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 RESGATE HISTÓRICO: A EVOLUÇÃO DA MULHER. Primeiramente para se referir a mulher contemporânea bem como ao seu desejo, papel e espaço social se faz necessário reescrever o percurso que a mulher traçou desde os primórdios para atingir o seu “ideal”. No século passado conforme Santos (2006) o sistema patriarcal buscou de todas as formas construir ideologias para obter o controle psico-político do corpo biológico da mulher, através da construção dos principais tabus: menstruação, cinto de castidade, mutilação dos órgãos genitais e homicídio feminino. Entretanto no período pré-histórico a realidade da mulher começa a se transformar, pois passa a desempenhar dentro do seu âmbito familiar um papel vital, onde supri as necessidades primárias (alimentação) da família. Dentro deste contexto de acordo com Santos (2006) há resquícios históricos que atestam o envolvimento da mulher em todos os aspectos da sobrevivência e evolução da tribo. Diante disso é importante ressaltar que a pré-história foi a grande vertente das transformações no universo feminino, visto que, de acordo com o autor foi nesse período que as primeiras mulheres desenvolveram atividades e habilidades manuais: Coletar comida, cuidar de crianças, trabalhar em couro, fazer roupas com peles de animais, cozinhar, fabricar cerâmica, trançar capins, fibras e cascas de árvores para cestos, fabricar contas e ornamentos, como dentes e ossos, construir abrigos temporários ou permanentes, fabricar ferramentas para vários usos (lâminas de pedra afiadas para cortar tendões de animais e fazer vestimenta), aplicação medicinal de plantas e ervas para tudo, desde a cura até abortos etc. (SANTOS, 2006, p. 74) No entanto apesar desta “evolução” da mulher, na idade antiga ainda prevalecia vivo os padrões do sistema patriarcal. Conforme Santos (2006) a esposa ateniense era considerada inferior ao marido, sendo sua propriedade privada, não tendo liberdade de ir e vir em público. Todavia, nesta mesma sociedade um grupo de mulheres se destacava das demais, pois desempenhavam um papel ativo no meio social. Neste sentido o autor menciona que a Hetaerae (amigas íntimas) eram mulheres completas, pois eram formadas em ciência, filosofia, retórica, política, artes (dança, canto, teatro), artes marciais, línguas estrangeiras etc. 2 Entretanto apesar das diversas transformações que ocorreram na história da mulher, a idade contemporânea, assim como, a idade antiga ainda mantinha vivo o espírito do patriarcalismo. Segundo Santos (2006) as mulheres na idade contemporânea não podiam participar da esfera pública não porque eram abstratamente incapazes, mas enquanto são por natureza destinadas à esfera familiar e privada para qual possuem virtudes específicas. Dentro desta perspectiva conforme Tedeschi (2008) os papéis atribuídos à mulher, de mãe e esposa, foram representações que contribuíram para a definição de alteridade e identidade feminina, resultando em práticas culturais que as limitaram ao espaço privado. No entanto no Brasil o papel social da mulher enquanto mãe e dona de casa ganhou novo lugar no começo do século XX. Conforme Santos (2006) as mulheres de classe média começaram a trabalhar como professoras, enfermeiras, telefonistas, etc. Dentro deste contexto de acordo com Gomes (2005) a motivação para o trabalho fora do lar tem-se constituído como uma das mais notáveis características da mulher moderna. Quanto aos motivos que levam esta mulher a se inserir no mercado de trabalho, Leite (1994) destaca de forma generalizada: (...) “é uma necessidade básica do ser humano, qual seja, a de encontrar no trabalho uma verdadeira fonte de realização pessoal e até mesmo de prazer.” (LEITE, 1994, p. 136) Diante desta perspectiva Santos (2006) descreve o “novo” espaço social que a mulher contemporânea passou a ocupar na sociedade. As mulheres estão trabalhando enquanto os homens estão desempregados; as mulheres estão saindo do isolamento do lar; as mulheres estão ganhando o seu dinheiro e a independência que ele confere; as mulheres estão conquistando direitos públicos, no lugar de seus anteriores privilégios domésticos; as mulheres estão apreendendo habilitações “masculinas” (montar, atirar, administrar um negócio), desmistificando, assim, a competência masculina e desafiando o direito implícito masculino de liderar. (SANTOS, 2006, p. 149) Mediante tal realidade conforme Assis (2009) na sociedade contemporânea esta ocorrendo o fenômeno da inversão de papéis, onde, as mulheres conquistam maior destaque no mundo dos negócios e os homens assumem o cuidado no lar e na família. 3 Entretanto essas significativas conquistas de acordo com Kolontai (2005) obrigou a mulher a adaptar-se às novas condições criadas pela realidade que a envolve, pois conforme Kolontai (2005) o mundo capitalista só recebe as mulheres que souberam desprezar a tempo, as virtudes femininas e que assimilaram a filosofia da luta pela vida. Diante disso, pode-se considerar que esta realidade traz consigo a fragmentação da mulher, pois segundo Alexandra Kolontai (2005) p. 17 “as virtudes femininas – passividade, submissão, doçura – que lhe foram inculcadas durante séculos, tornam-se agora completamente supérfluas, inúteis e prejudiciais.” Sob a óptica de Kolontai (2005) a dura realidade exige outras qualidades nas mulheres trabalhadoras que de acordo com a autora precisam agora de firmeza, decisão e energia, isto é, aquelas virtudes que eram consideradas como propriedade exclusiva do homem. Tal realidade esta exposta na seguinte frase: “as fileiras das trabalhadoras são sempre formadas pelas mais fortes e resistentes, pelas mulheres de espírito mais disciplinado.” (ALEXANDRA KOLONTAI, 2005, p. 18) 2.2 O DESEJO DA MULHER CONTEMPORÂNEA E O MERCADO DE TRABALHO. Primeiramente para se referir a mulher contemporânea, se faz necessário “descrever” o seu suposto desejo, assim como, retratar a sua entrada no mercado de trabalho. Dentro deste contexto conforme a autora desde a interpretação dos sonhos de Freud o desejo realiza-se ao encontrar sua expressão. No que tange as mulheres contemporâneas Geneviéve Fraisse e Michele Perrot (apud) Kehl (1998) ressaltam: “O século XIX é o momento histórico em que a vida das mulheres se altera, ou mais exatamente o momento em que a perspectiva de vida das mulheres se altera: tempo da modernidade, em que se torna possível uma posição de sujeito, indivíduo de corpo inteiro e atriz política, futura cidadã. (...) Apesar da extrema codificação da vida feminina, o campo das possibilidades se alarga e a aventura não esta tão longe.” (p. 35) No decorrer da sua história é perceptível que a mulher contemporânea foi reconhecida enquanto sujeito e ser social no instante que começou a trabalhar. Diante desta perspectiva de acordo com Kehl (1998) o inconsciente freudiano seria a tradição, o que dela nos determina, recalcado numa sociedade em que nós só conseguimos nos ver como sujeitos na medida em que nos destacamos dela. 4 Neste sentido BIASOLI-ALVES (2000) informa que a imagem da mulher antes frágil e necessitada de proteção, atuando na intimidade e presa aos cuidados com a prole, ganha hoje outros contornos que fazem dela um ser em construção, querendo buscar no seu desenvolvimento o poder da realização de suas potencialidades. Diante disso, se pode considerar que no decorrer da história a mulher contemporânea saiu do lugar que tradicionalmente lhe foi imposto, impulsionada pelo desejo de conquistar direitos, lugares e espaços sociais. De acordo com Valença (2003) A mulher contemporânea conquistou direitos e passou a ter uma participação ativa no trabalho, na criação e na produção. Seguindo esta perspectiva, Gomes (2005) conceitua a palavra trabalho como a atividade exercida pelo ser humano na transformação da natureza em bens que satisfaçam as suas ilimitadas necessidades. 3. METODOLOGIA 3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA A pesquisa em questão terá abordagem qualitativa. De acordo com Bauer e Gaskell (2002) a pesquisa qualitativa evita números, lida com interpretações das realidades sociais e faz uso do instrumento da entrevista em profundidade para realizar a coleta de dados. Além disso, é importante salientar que a respectiva pesquisa tem como objeto de estudo o ser humano. Diante desta perspectiva, conforme Laville e Dionne (1999) é essencial deixar falar e escutar o real quando se trata do real humano, assim como, conhecer as suas motivações, representações e considerar os seus valores. 3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA E LOCAL As participantes da pesquisa serão aproximadamente 6 mulheres, com idade entre 30 e 50 anos que estejam atualmente em um casamento estável com a presença de filhos. Leva – se em consideração este critério, pois reconhece-se que esta mesma mulher mãe e esposa atende também a uma demanda organizacional, desejando-se assim “desvendar” até que ponto atender ao mesmo tempo a estas prerrogativas não lhe desencadeia sofrimento psíquico e emocional. É importante salientar que as participantes já estejam ocupando de 2 a 5 anos este espaço organizacional como o cargo que desempenha, para que possam expressar as suas vivências, experiências, emoções e desafios de forma mais fidedigna. 5 A coleta de dados para a pesquisa será feita por conveniência e saturação. Em relação ao local será realizado no ambiente de trabalho das participantes. 3.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS O procedimento utilizado para realizar a coleta de dados será a entrevista semi-estruturada. A escolha pela entrevista semi – estruturada como instrumento para coleta de dados da pesquisa, se dá no intuito de desacomodá-las deste lugar que ocupam e com isso conseqüentemente consigam externalizar através de palavras a realidade que vivenciam tanto dentro do seu âmbito do trabalho como no âmbito social e familiar. 3.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS Os dados da pesquisa, serão obtidos por meio das respostas das participantes ao instrumento da entrevista semi-estruturada. Para analisá-los será utilizado o procedimento proposto pela análise de discurso com base em Gil (2002) a análise de discurso é o nome dado a uma variedade de diferentes enfoques no estudo de textos, desenvolvida a partir de diferentes tradições teóricas e diversos tratamentos em diferentes disciplinas. Dentro deste contexto segundo o autor os analistas de discurso, ao mesmo tempo em que examinam a maneira como a linguagem é empregada, devem também estar sensíveis aquilo que não é dito – aos silêncios. 3.5 PROCEDIMENTOS ÉTICOS Reconhecendo que esta pesquisa tem como objeto de estudo o ser humano é imprescindível o uso da ética. Dessa forma, salientar-se-á às participantes que todas as informações obtidas que envolvam os seus desejos, vivências e experiências serão usufruídas unicamente em prol de um estudo científico. Sendo assim as informações a respeito dos seus dados pessoais serão mantidas em sigilo absoluto. 4. CONCLUSÃO Ressaltando que o respectivo trabalho encontra-se em andamento, não há a possibilidade de se abordar conclusões do mesmo. Entretanto é perceptível que na história da mulher, desde os primórdios até a contemporaneidade, houveram diversas ambivalências no que concerne ao seu lugar dentro da sociedade, visto que, no instante que ia “ganhando” o seu lugar no espaço público, “bruscamente” era retirada do mesmo através do discurso social/patriarcal. No entanto é visível que no decorrer da história a mulher foi remodelando tanto o seu papel, lugar e espaço social como a sua imagem perante a sociedade. Com isso desmistificando o pensamento social da 6 mulher enquanto um ser frágil, inferior e submisso e simultaneamente demonstrando o seu valor e o seu poder e aliando-os ao seu suposto desejo, vislumbrou o mercado de trabalho, espaço pelo qual é reconhecida socialmente na contemporaneidade. 7 REFERÊNCIAS ASSIS, Rosiane Hernandes de. A inserção da mulher no mercado de trabalho. Congresso Virtual Brasileiro de Administração (CONVIBRA), 2009. BAUER, M; GASKELL & ALLUM, N. Qualidade e quantidade e interesses do conhecimento – evitando confusões. Em: BAUER, M; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som – um manual prático. 4 edição. Editora Vozes, 2002. BIASOLI-ALVES, Z.M.M. Continuidades e rupturas no papel da mulher brasileira no século XX. Psicologia: Teoria e Pesquisa. vol. 16, n.3, p.233-239, Set-Dez, 2000. GIL, Rosalind. Análise de Discurso. In: BAUER, M. W. ; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002. GOMES, Almiralva Ferraz. O outro no trabalho: mulher e gestão. REGE Rev. Gest. v.12, n.3. São Paulo, 2005. KEHL, Maria Rita. Deslocamentos do Feminino - A mulher freudiana na passagem para a modernidade. Rio de Janeiro: Imago, 1998. KOLONTAI, Alexandra. A nova mulher e a moral sexual. Expressão Popular. São Paulo, 2005. LAVILLE, C; DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. LEITE, C.L. de P. Mulheres: muito além do teto de vidro. São Paulo: Atlas, 1994. SANTOS, Sidney Francisco Reis. Mulher: sujeito ou objeto de sua própria história? Um Olhar Interdisciplinar na História dos Direitos Humanos das Mulheres. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2006. TEDESCHI, Losandro Antonio. História das mulheres e as representações do feminino. Campinas: Curt Nimuendajú, 2008. VALENÇA, Maria Conceição Araújo. A contemporaneidade. UNICAP, Recife, 2003. 8 feminilidade em Freud e na