PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Enfermagem Estudo sobre o dimensionamento do pessoal de enfermagem em um serviço de emergência do DF: comparação entre o real e o preconizado Autor: Elina Márcia Teixeira de Carvalho Orientador: Profª Msc. Leila Bernarda Göttems Leiasfad 1 ELINA MÁRCIA TEIXEIRA DE CARVALHO ESTUDO SOBRE DIMENSIONAMENTO DO PESSOAL DE ENFERMAGEM EM UM SERVIÇO DE EMERGÊNCIA DO DF: COMPARAÇÃO ENTRE O REAL E O PRECONIZADO Monografia apresentada ao curso de graduação em Enfermagem da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Enfermagem. Orientadora: Profª. Leila Göttems Msc. 2 Brasília 2009 Dedico este trabalho primeiramente a Deus que me deu este presente e a minha filha Juliana por todo o sacrifício. 3 "Não há rentável invenção que conhecimento" a mais do (Benjamin Franklin). 4 Estudo sobre dimensionamento do pessoal de enfermagem em um serviço de emergência do Distrito Federal: comparação entre o real e o preconizado. Elina Márcia Teixeira de Carvalho - Estudante do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Católica de Brasília, Brasília-DF. Leila Bernarda Donato Göttems – Professora do curso de Enfermagem da Universidade Católica de Brasília e da Escola Superior de Ciências da Saúde, Assessora Técnica da Coordenação de Pós Graduação da Escola Superior em Ciências da Saúde. Endereço: SHCES Q. 1109, Bl. D, Apto. 101 – Cruzeiro Novo, CEP: 70658190. E-mail: [email protected] e [email protected] Este artigo faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Enfermagem na Universidade Católica de Brasília, com título homônimo. Foi apresentado em 04/12/2009. RESUMO O dimensionamento de profissionais de enfermagem refere-se ao processo sistemático que tem como objetivo definir a quantidade de profissionais necessários, por categoria, para dar assistência com qualidade e segurança. Realizou-se estudo com os objetivos de aplicar um instrumento de avaliação e classificação de pacientes já validado academicamente; levantar média dos pacientes da unidade de acordo com o sistema de classificação de pacientes; e aplicar as fórmulas matemáticas de dimensionamento de pessoal de enfermagem propostas pela Resolução COFEN 293/2007. Os resultados indicaram uma média de 40,1 pacientes internados na unidade em 10 dias observados, predominando pacientes que requerem cuidados mínimos. Também verificou-se que a despeito deste perfil de usuários, há déficit no quantitativo de profissionais de enfermagem desta unidade. Palavras-chave: enfermagem; dimensionamento de pessoal; cálculo de pessoal 5 INTRODUÇÃO Este artigo apresenta o resultado de um estudo sobre dimensionamento de pessoal de enfermagem realizado em um hospital público do Distrito Federal. O estudo foi feito no segmento do pronto socorro responsável pelo atendimento aos pacientes da cirurgia vascular, otorrinolaringologia, bucomaxilofacial, broncoesofagologia e atendimento infantil nas especialidades de cirurgia pediátrica, neurocirurgia, oftalmologia, ortopedia e demais especialidades cirúrgicas realizadas em crianças até 12 anos. O dimensionamento de pessoal de enfermagem visa ajustar o quantitativo de funcionários para realizar o cuidado de enfermagem aos clientes, considerando os objetivos da organização de saúde e as perspectivas dos usuários (Rogenski, 2007). O método de dimensionar profissionais de enfermagem refere-se ao processo sistemático que tem como objetivo definir a quantidade de profissionais necessários, por categoria, para dar assistência com qualidade e segurança (GAIDZINSKI, 1994 apud VIGNA, 2007). O dimensionamento é, portanto, “um dos instrumentos da administração, disponibilizado para o enfermeiro, enquanto saber voltado para a função gerencial, legalmente de sua competência, com a finalidade de prever nas unidades prestadoras de serviços de saúde, pública ou privada, o número de pessoal de enfermagem, sob o enfoque quantitativo e qualitativo, capaz de atender as necessidades de assistência da clientela” (CAMPOS, 2007 p.1100). Vários autores (GAIDZINSKI et al., 2005; Vigna, 2007; MARTINS e HADDAD, 2000; TANOS et al., 2000) afirmam que os modelos utilizados para quantificar profissionais de enfermagem têm sofrido um processo de evolução. Antes o cálculo era realizado de acordo com a intuição e a vivência das gerentes de enfermagem na relação número de profissionais por número de leitos. Nos EUA no final da década de 30 sucedeu a primeira evolução que foi a substituição da variável número de funcionários/leito pela variável carga efetiva de trabalho dispensada a cada paciente. Em 1956 ao cálculo somou-se a variável relativa às ausências (índice de segurança técnica) como folgas, férias e licenças. Por fim em 1961 a última evolução 6 aconteceu com a introdução do Sistema de Classificação de Paciente como direcionador do sistema de dimensionamento de pessoal. Visando solucionar a problemática do cálculo de horas da assistência de enfermagem, vem sendo utilizado o Sistema de Classificação de Pacientes (SCP). “O SCP pode ser entendido, ainda, como uma forma de determinar o grau de dependência de um paciente em relação à equipe de enfermagem, objetivando estabelecer o tempo despendido no cuidado direto e indireto bem como o qualitativo de pessoal, para atender as necessidades biopsicossocial e espirituais do cliente” (GAIDZINSKI, 1994 apud SANTOS, 2007). Em que pese à evolução da metodologia de cálculo, o dimensionamento de pessoal de enfermagem segue sendo um grande desafio para os enfermeiros que assumem atividades gerenciais, em geral por fragilidades metodológicas para a realização dos estudos necessários para ajustar os métodos a realidade dos serviços de saúde. Seja por dificuldades metodológicas ou de provimento de pessoal, os hospitais de alta complexidade público do DF, convivem com a inadequação qualitativa e quantitativa dos recursos humanos em enfermagem para o atendimento das necessidades dos pacientes de acordo com a sua complexidade assistencial. A manutenção desta situação acarreta insatisfações tanto à clientela usuária dos serviços como ao próprio pessoal de enfermagem pelo desgaste e estresse constantes (PERROCA, 1996). A partir desta perspectiva buscou-se na literatura atual, estudos e propostas metodológicas para o dimensionamento de pessoal de enfermagem que subsidiasse a realização do calculo conforme o recomendado pelo Conselho Federal de Enfermagem na Resolução n° 293/2004. Observou-se que existem vários métodos que podem ser utilizados com o intuito de se sistematizar a realidade de cada serviço no que se refere ao perfil dos usuários atendidos, carga de trabalho da enfermagem, características do trabalho e dos trabalhadores, bem como desenhos metodológicos para o cálculo. Estes desenhos metodológicos são relevantes tendo em vista que o 7 dimensionamento não se resume a aplicação de fórmulas, requerendo a realização de estudos que retratem a realidade de cada serviço. O estudo se justifica pela possibilidade de subsidiar a unidade em tela na adequação entre o perfil de pacientes atendidos no local e a quantidade de horas de enfermagem necessárias. Por se tratar de uma unidade de atendimento a pacientes graves, a categorização destes pacientes é fundamental para uma melhor distribuição dos servidores da saúde com redução da carga de trabalho e garantia da qualidade da assistência aos usuários. Desta maneira, a questão que norteou este estudo é: a quantidade de pessoal de enfermagem da unidade atende a demanda real de usuários? Os objetivos do estudo foram: a) aplicar um instrumento de avaliação e classificação de pacientes; b) levantar a média dos pacientes na unidade de acordo com o Sistema de Classificação de Pacientes; c) aplicar as fórmulas matemáticas de dimensionamento de pessoal proposta na Resolução 293/2007 do COFEN; d) comparar os resultados do dimensionamento com o atual quantitativo de pessoal de enfermagem da unidade estudada. Este artigo está dividido em três partes: na primeira apresenta-se uma revisão da literatura atual sobre dimensionamento de pessoal de enfermagem; a segunda apresenta-se a metodologia aplicada neste estudo; a terceira refere-se aos resultados e comparação com o quadro atual. Por fim, conclui-se recomendando ajustes na unidade. METODOLOGIA Realizou-se um estudo descritivo e exploratório de caráter quantitativo. O caráter descritivo refere-se à busca pelas características do objeto, incluindo-se a existência de relações entre variáveis (GONSALVES, 2005 p.65). É exploratório porque oferece dados elementares que dão suporte para a realização de estudos mais aprofundados sobre o tema (p.65). E de caráter quantitativo, pois “tem como objetivo descrever com exatidão os fatos e fenômenos de determinada realidade, o que exige do pesquisador uma série de informações sobre o que se deseja pesquisar” (TRIVIÑOS, 1987 p.110). 8 O estudo foi realizado em quatro etapas. Na etapa I foram levantados e sistematizados artigos científicos publicados em periódicos nas bibliotecas virtuais a partir de 2000, nos endereços eletrônicos http://www.bvs.br, http://www.scielo.br e http://www.periodicos.capes.gov.br, com uso da expressão chave dimensionamento de pessoal de enfermagem. Obteve-se como resultado, 15 artigos, 04 teses, 03 dissertações. Também procedeu-se a buscas no acervo físico da biblioteca da Universidade Católica de Brasília. Na etapa II objetivou-se determinar o grau de complexidade assistencial dos pacientes da emergência do HBDF. Foi utilizado o questionário desenvolvido e validado por Perroca (1996) que propõe treze indicadores, criado de acordo com a Teoria das Necessidades Básicas de Wanda Horta: Estado mental e nível de consciência, Oxigenação, Sinais vitais, Nutrição e Hidratação, Motilidade, Locomoção, Cuidado Corporal, Eliminações, Terapêutica, Educação à saúde, Comportamento, Comunicação e Integridade Cutâneo-Mucosa. Na etapa III foram aplicadas as fórmula de dimensionamento propostas pela Resolução 293/2007 do COFEN. Com isto identificou-se a quantidade necessária de profissionais de enfermagem, conforme a quantidade média de pacientes em cada nível de cuidado proposto pelo Sistema de Classificação de Pacientes da referida Resolução – Assistência mínima, intermediária, semi-intensiva e intensiva. Na etapa IV procedeu-se a comparação dos resultados do dimensionamento com o atual quantitativo de pessoal da unidade. Local da Pesquisa: A pesquisa foi realizada no Pronto Socorro do Hospital de Base do Distrito Federal na unidade de emergência cirúrgica. O referido serviço atende exclusivamente pacientes do SUS, tem caráter terciário e é um hospital de referência no atendimento de politraumatizados. Hoje, o HBDF atende toda a população do DF, entorno e estados circunvizinhos para procedimentos de alta complexidade. Recebe 9 anualmente egressos de cursos de medicina pleiteando vagas nos Programas de Residência Médica bem como estudantes solicitando campo de estágio para internato médico. Atende como campo de estágio, vários convênios da Secretaria de Saúde com Instituições de Ensino Superior e Médio recebendo em suas dependências estudantes de cursos de enfermagem, nutrição, fisioterapia, odontologia dentre outros. Sua visão é ser uma instituição publica de excelência no ensino, na pesquisa e nos serviços de saúde de alta complexidade. O pronto socorro é composto de 100 leitos divididos conforme a tabela a seguir. Tabela 1- Distribuição dos leitos do pronto socorro do hospital estudado, conforme as especialidades médicas. Brasília-DF, 2009. Posto Especialidades Nº leitos 1 Neurocirurgia 16 2 Ortopedia, Cirurgia Geral, Urologia, Cirurgia de Cabeça 16 e Pescoço 3 Cirurgia vascular, otorrinolaringologia, 21 broncoesofagologia, buco-maxilo-facial, unidade mista de pediatria 4 Unidade Semi-intensiva 5 5 cardiologia e cirurgia cardíaca 16 6 Clínica médica, oftalmologia, neurologia, nefrologia 16 Psiquiatria 10 Total 100 Além dos postos existem consultórios, box onde permanecem pacientes por xx tempo, bem como salas de procedimentos com pessoal de enfermagem fixo, especialmente na endoscopia e preparo de material. Box Consultórios Cardiologia Clínica: Clínica Médica, Neurologia, Oftalmologia e Cardiologia Cirúrgica: Odontologia*, Otorrinolaringologia, Vascular e Ortopedia - Politrauma - Salas de Procedimentos Endoscopia Medicacação Preparo de material Este estudo sobre o dimensionamento do pessoal de enfermagem foi realizado somente no Posto 3, que possui 21 leitos e taxa de ocupação de 193%. 10 Perfil dos Entrevistados: Os participantes deste estudo foram todos os pacientes internados neste posto do pronto socorro, no período de 08/07 a 17/07 de 2009. Foram inclusos os pacientes internados no período da pesquisa e que aceitaram participar e que estavam sob os cuidados da enfermagem. Foram excluídos os pacientes em observação, que não estavam internados ainda. Os dados foram coletados por meio da análise documental dos prontuários que, segundo Caulley (1981 apud LUDKE, 1986), se caracteriza pela identificação de informações factuais nos documentos a partir de questões de interesse, complementando informações colhidas por meio de outras técnicas. A coleta foi complementada com utilização de questionário estruturado contendo apenas questões fechadas aplicada diretamente aos usuários. O questionário foi desenvolvido e validado por Perroca (1996) em estudos para a classificação de pacientes. As informações quanto às necessidades de avaliação dos sinais vitais do paciente, nutrição e terapêutica foram colhidas no prontuário. Os outros indicadores foram coletados por meio da entrevista aos pacientes. Os dados foram tabulados no SPSS versão 16(software de análise estatística). Foi identificada a média diária e a média aritmética do período de 10 dias de observação dos pacientes, em cada tipo de cuidado: cuidados mínimos, cuidados intermediários, cuidados semi-intensivos e intensivos. No que se refere aos aspectos éticos, à pesquisa seguiu todas as recomendações da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que se trata de pesquisa envolvendo seres humanos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FEPECS, conforme o Parecer nº 179/2009. DIMENSIONAMENTO DE PESSOAL DE ENFERMAGEM O dimensionamento de pessoal de enfermagem é definido como a primeira etapa do processo de provimento de pessoal, que tem por objetivo a previsão da quantidade de funcionários por categoria, 11 necessária para suprir as necessidades da assistência de enfermagem, direta ou indiretamente dispensada à clientela (Kurcgant et. al., 1989 apud RICARDO, 2004). Contudo o dimensionamento de recursos humanos, em qualquer organização, tem sido considerado um desafio, pois é o mais dispendioso da organização sendo que os demais recursos exigem de maneira inevitável a sua presença para que possam ser utilizados (GAIDZINSK, 1991 apud MONTEZELI, 2006). As instituições hospitalares assim como qualquer tipo de estabelecimento de prestação de serviço têm como principal recurso o quadro de pessoal, pois o desempenho de qualquer organização depende dos recursos humanos. Este componente da gestão por sua vez, é responsável pelo segundo lugar em gastos de uma instituição (COLLETA, 2005 apud SANTANA, 1993 e BITTAR, 1996). Segundo Antunes (2003) o dimensionamento de pessoal de enfermagem tem sido motivo de interesse por parte de pesquisadores nessa área porque as instituições necessitam ajustar seus gastos com pessoal frente a uma nova realidade, cujos recursos financeiros e número de funcionários são limitados, buscando melhorar a qualidade do serviço ofertado aos usuários com utilização do que se tem disponível. “Os profissionais de enfermagem compreendem em torno de 60% do quadro de pessoal das instituições de saúde, o que representa um custo elevado quando comparado com as demais categorias. Além disso, deve ser lembrado que a equipe de enfermagem é a que normalmente exige maior número de contratações, demissões, horas de treinamento e aperfeiçoamento, dentre outras despesas” (DUTRA, 1983 apud ANTUNES, 2003 p.833). Outro aspecto a ser considerado diz respeito à necessidade de verificar a quantidade de clientes a serem atendidos, como forma de priorizar a qualidade do serviço. Nesse sentido: “(...) a demanda de atendimento da clientela, com necessidades cada vez mais complexas, tem imprimido sobrecarga de trabalho aos integrantes da equipe de enfermagem, influenciando e dificultando a implantação de qualquer medida que favoreça a qualidade da assistência prestada” (KURCGANT, 2005, P.125). 12 O ato de prever pessoal de enfermagem nos hospitais é problemático, pois se baseia na determinação da categoria profissional que a instituição se dispõe a contratar e na definição de suas funções, que por sua vez, depende ainda da filosofia e da política institucional, bem como da definição que a direção faz da enfermagem (RIBEIRO, 1972 apud TANOS, 2000). Ainda segundo Bittar (1997), o setor hospitalar tem necessidade de uma maior demanda em relação à força de trabalho, devido à complexidade vir atrelada a tecnologia. Diante desse desafio, os gerentes de enfermagem devem incorporar novos conhecimentos e habilidades, utilizando métodos que lhes ajudem na tomada de decisões em relação um melhor planejamento, avaliação do quantitativo e controle dos recursos humanos que estão sob sua responsabilidade, representando assim figura importante na negociação quanto à necessidade de aumentar o quadro de pessoal para atender a demanda, junto aos gestores das instituições de saúde (KURCGANT, 2005). Na prática, devido à falta de conhecimento de instrumentos para planejar e avaliar o quadro de pessoal de enfermagem, essa decisão tem sido “(...) realizada de forma empírica, baseada na experiência e no julgamento intuitivo das enfermeiras, ou por meio da utilização de equações matemáticas disponíveis na literatura, sem que haja compreensão do significado e do comportamento das variáveis envolvidas no processo de dimensionar pessoal enfermagem” (GAIDZINSKI, 1994 apud KURCGANT, 2005, p. 126). A Resolução COFEN nº 293/2004 considera que compete ao Enfermeiro estabelecer o quadro quantiqualitativo de profissionais, necessários para a prestação da Assistência de Enfermagem. Porém nem sempre a Lei é respeitada, o que se tem observado é que profissionais de outras áreas acabam se ocupando dessa função levando em conta somente o fator custo, desprezando o aspecto quantiqualitativo de pessoal de enfermagem para prestação de assistência (ANTUNES, 2003). Desta forma, no dimensionamento de pessoal de enfermagem é entendido por alguns autores como: “(...) devem ser utilizadas metodologias e critérios que permitam uma adequação dos recursos humanos às reais necessidades de assistência, de modo que o paciente receba 13 um cuidado de qualidade que proporcione segurança.(...) É importante lembrar que uma parte considerável dos hospitais brasileiros utilizam, para o cálculo de pessoal de enfermagem, a fórmula proposta pela Liga Nacional de Educação em Enfermagem dos Estados Unidos da América do Norte e pela Associação Americana de Enfermeiras, que considera, como horas de assistência de enfermagem, números extraídos da realidade daquele país, totalmente inadequados para a nossa situação” (ANTUNES, 2003, p.833). Para Tanos (2000) o dimensionamento inconveniente do pessoal de enfermagem traz implicações sobre o resultado da qualidade da assistência de enfermagem dispensada à clientela, devido os aspectos quantiqualitativos de pessoal permanecerem relacionados diretamente ao produto final do seu trabalho, que é a qualidade dos cuidados de enfermagem ofertados aos clientes. PROPOSTAS METODOLOGICAS PARA O DIMENSIONAMENTO DO PESSOAL DE ENFERMAGEM Vários estudos dedicados a calcular o pessoal de enfermagem foram desenvolvidos ao longo dos anos objetivando instituir um método que possam adaptar-se as reais necessidades dos vários serviços. O número de leitos ocupados, a proporcionalidade de pessoal de enfermagem e a relação cliente e a hora média de cuidados de enfermagem tem sido executados como parâmetros para o dimensionamento da equipe de enfermagem. Mas, esses métodos convencionais tem-se revelado insuficientes por julgarem todos os clientes como possuidores do mesmo nível de atenção de enfermagem, desprezando a gravidade dos mesmos e conseqüentemente sua influência na distribuição dos recursos humanos na unidade (GAIDZINSKI, 1994 apud TANOS, 2000). “dimensionar recursos humanos para a assistência de enfermagem pode se tornar mais racional e efetivo quando se procura agrupar pacientes em categorias que reflitam a magnitude do processo de cuidar” (GIOVANNETTI, 1979 apud TANOS, 2000 p. 377). 14 Métodos de Classificação de pacientes Há 02 tipos de instrumentos para categorização de pacientes: o Cuidado Progressivo ao Paciente (CPP), tido como um instrumento mais empírico; a Avaliação de Indicadores Críticos que classifica o paciente por pontuação e utiliza como indicadores: higiene, nutrição, eliminações, sinas vitais, movimentação. Cada um destes indicadores recebe um peso de acordo com a complexidade do cuidado que deve ser dispensado. Desta maneira a classificação da clientela é apontada pelo total de pontos (GIOVANNETTI, 1979 apud VIGNA, 2007). De acordo com Vigna (2007) no Brasil em 1972 surge Ribeiro com estudo pioneiro sobre esta temática Classificação de Pacientes. Descreveu em seu estudo o conceito de Cuidado Progressivo do Paciente (CPP) como determinante do dimensionamento de pessoal de enfermagem tendo como objetivo uma distribuição mais equilibrada da assistência, maior grau de satisfação perante o paciente e à equipe prestadora da assistência. Alves et al (1988) conceituam o CPP como “concentração variável de recursos humanos e materiais em torno das necessidades do cliente, visando uma assistência integral e humanizada”. A idéia de classificação de pacientes foi considerada a partir de um trabalho realizado pela Escola de Enfermagem de Pitsburgh na década de 50, destinado a definir as necessidades de cuidados de enfermagem para clientes com diagnósticos de clínica médica e cirúrgica. Esse estudo introduziu o conceito de CPP. Já o número médio de horas despendidas pela equipe de enfermagem, segundo cada categoria de pacientes, foi o principal parâmetro proposto para o Sistema de Classificação de Pacientes (SCP) (GAIDZINSKI, 1994). “Esta preocupação é histórica, pois Florence Nightingale em 1863 já procurava, de uma forma empírica e baseada na observação, separar pacientes em estado crítico em áreas especiais” (QUEIJO, 2002 apud TRANQUITELLI, 2007 p. 143). Seis categorias integram o CPP: cuidados intensivos, intermediários, prolongados para pacientes crônicos, auto-cuidado ou cuidados mínimos, cuidados ambulatoriais e domiciliares (RIBEIRO, 1972; OLIVEIRA; ROMÁN, 1976; ALCALÁ et al, 1982; ALVES et al, 1988 apud PERROCA, 1996). 15 Visando solucionar a problemática do cálculo de horas de assistência de enfermagem, vem sendo utilizado o Sistema de Classificação de Paciente (SCP). Esta proposta pode ser entendida também como uma forma de determinar o grau de dependência de um paciente em relação à equipe de enfermagem, objetivando estabelecer o tempo despendido no cuidado direto e indireto, bem como o qualitativo de pessoal, para atender às necessidades biopsicossocial e espirituais do cliente (SANTOS, 2007 apud GAIDZINSKI, 1994). O SCP também vem sendo empregado para nortear o processo orçamentário do serviço de enfermagem (ALWARD, 1983; ARNDT; HUCKBAY, 1983; DIJKERS; PARADISE, 1986; DE GROOT, 1986; VAN SLYCK, 1991; WRONA-SEXTON, 1992; RODRIGUES FILHO, 1992; PHILLIPS et al.,1992 apud PERROCA, 1996). Existem disponíveis na literatura vários métodos de classificação prospostos com o intuito de evidenciar o grau de dependência dos pacientes em relação a enfermagem. Perroca (1996 e 2000) elaborou um instrumento de classificação de pacientes fundamentado nas necessidades básicas recomendado por Wanda Horta constituído de 13 indicadores de cuidado, com pontuação de 1 a 5, conforme a complexidade do paciente. Por meio deste o cliente recebe uma pontuação que demonstra a posição em que ele se enquadra na SCP. O método de Gaidzinski (1998) determina para sua utilização o desenvolvimento de várias etapas que proporcionam o conhecimento e a identificação das seguintes variáveis intervenientes no processo: carga de trabalho, índice de segurança técnica; e tempo efetivo de trabalho. Santos (1992) em seu estudo comparou dois métodos de cálculo de pessoal, utilizando a formúla de método tradicional e a da assistência progressiva de enfermagem a partir de informações estatísticas no atendimento em um hospital universitário, com o objetivo de propor o método mais adequado. Concluiu que o método de assistência progressiva é mais viável, desde que seja realizado um estudo de ocupação de leitos, horas de enfermagem por tipo de cuidado e desempenho do pessoal. Fugulin (2005) propôs que os pacientes fossem agrupados em 5 categorias de acordo com sua complexidade assistencial: intensivos, semiintensivos, alta dependência, intermediário e auto-cuidado. 16 Conforme demonstrado nos quadros 1 e 2 a Resolução COFEN nº 189/96 estabelecia critérios para o dimensionamento de recursos humanos do quadro de enfermagem nas instituições de saúde, recomendando o SCP de FUGULIN et al. (1994) como uma forma de classificar o grau de dependência do paciente em relação à assistência de enfermagem (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2001 apud KURCGANT, 2005). Esta Resolução foi reformulada, sendo substituída pela Resolução nº 293/2004, devido ao fato de a anterior não abranger os pacientes crônicos os quais apresentam total dependência de enfermagem para o atendimento das suas necessidades básicas e o índice de segurança técnica também foi reformulado de menor que 30% para menor que 15%. A proposta metodológica do COFEN foi motivada pela necessidade requerida pelos gerentes e pela comunidade de Enfermagem, da revisão dos parâmetros assistenciais em uso nas instituições, face aos avanços verificados em vários níveis de complexidade do sistema de saúde e às atuais necessidades assistenciais da população. Nesta proposta enfatiza-se os aspectos quantitativos de profissionais de Enfermagem nas instituições de saúde para que haja garantia, segurança e qualidade da assistência ao cliente, preservação da saúde dos profissionais de Enfermagem. Na forma desta Resolução e de seus anexos I, II, III e IV, são estabelecidos parâmetros para dimensionar o quantitativo mínimo dos diferentes níveis de formação dos profissionais de Enfermagem para a cobertura assistencial nas instituições de saúde. Os referidos parâmetros representam normas técnicas mínimas, constituindose em referências para orientar os gestores e gerentes das instituições de saúde no planejamento, programação e priorização das ações de saúde a serem desenvolvidas (COFEN, 2004). As mudanças entre as duas resoluções podem ser observadas no quadro a seguir. 17 Quadro 1 – Comparação entre os parâmetros de horas médias da assistência de enfermagem entre as Resoluções 189/96 e 293/2004 do COFEN Tipos de assistência Assistência Mínima Assistência intermediária Assistência semiintensiva Assistência intensiva Legenda: Resolução COFEN 189/96 Horas de % % Téc/Aux enferm. Enferm. 3,0 27 73 4,9 27 73 8,5 40 60 Resolução COFEN 293/2004 Horas de % % Téc/Aux enferm. Enferm. 3,8 33 a 37 63 a 67 5,6 33 a 37 63 a 67 9,4 42 a 46 54 a 58 15,4 17,9 55,6 44,4 52 a 56 44 a 48 % Enferm.: porcentagem de enfermeiros %´Téc/Aux: porcentagem de técnicos e auxiliares de enfermagem Observa-se que houve um aumento substantivo em relação a necessidade de horas de cuidado de enfermagem em todos os níveis de assistência e margens maiores para ajustes a realidade. Em parte este incremento de horas de justifica pela complexificação do cuidado ante o aumento de aporte tecnológico em todos os tipos de assistência. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DO ESTUDO 1. Classificação dos Pacientes Conforme Tipo de Cuidado O instrumento para SCP proposto por Perroca (1996), foi aplicado rigorosamente a todos os pacientes internados durante um período de 10 dias, no Posto 3 do Pronto Socorro do HBDF. Foram aplicados aproximadamente 40 instrumentos por dia, contabilizando-se 408 ao final do período. Obteve-se como resultado uma média de 40,8 pacientes internados em uma unidade cujo número oficial de leitos é de 21 (GDF, 2009). Assim, os resultados evidenciaram uma taxa de ocupação geral de 193%. Ressaltase que o período da coleta de dados foi em um “mês típico”, conforme recomendado por Gaidzinski et al. (2005). Pela característica desta unidade, não há influencias sazonais na taxa de ocupação, mas observou-se uma super lotação que é fruto da incongruência entre o numero de leitos cadastrados no CNES e o número real de internações. Em relação aos cuidados, não houve pacientes requerendo cuidados intensivos, predominando pacientes que requeriam cuidados mínimos (32,6) 18 e intermediários (7,8). Os resultados indicaram que para esta unidade, são necessários 171,3 horas de assistência de enfermagem (THE). Tabela 1 – Quantidade de paciente por tipo de cuidado e pontuação obtida a partir do instrumento de SCP, por dia de observação. Brasília-DF, 2009. Dia 1 Cuidados Mínimos 13 a 26 pontos 28 2 28 3 35 4 27 5 6 31 38 7 37 8 32 9 36 10 34 Total % Cuidados Intermediários 27 a 39 pontos 68,2 9 71,7 9 79,5 4 72,9 7 77,5 86,3 6 78,7 2 88,8 8 87,8 12 4 326 87,1 7 79,9 78 32,6 0 7,8 11 9 9 9 6 10 4 4 % Cuidados Semiintensivos 40 a 52 pontos 29,2 1 6 28,2 0 % Total 2,4 41 0 39 20,4 5 24,3 2 22,5 13,6 3 21,2 7 11,1 1 9,75 0 0 44 1 2,7 37 0 0 0 0 40 44 0 0 47 0 0 36 1 41 10,2 5 19,1 1 0 1 2,4 3 2,5 6 0,9 8 0 4 0,4 39 408 40,8 Tabela 2 – Total de horas de enfermagem por tipo de cuidado. Brasília-DF, 2009. Tipo de cuidado Assistência mínima (AM) Assistência Intermediária (AI) Assistência semi intensiva (ASI) Assistência Intensiva (AIN) Total H Pctes Horas 3,8 32,6 123,9 5,6 7,8 43,68 9,4 0,4 3,76 17, 0 0 9 171,3 19 A partir do resultado desta classificação procedeu-se ao dimensionamento do pessoal de enfermagem, conforme o método proposto pela Resolução 293/2004 do COFEN. Conforme se visualiza na Tabela 2, foram aplicadas a quantidade de horas por tipo de assistência, a média de pacientes em cada tipo de cuidado, do período do estudo. Adotou-se o índice de segurança técnica de 15% conforme proposto pela referida resolução. Embora alguns autores (Gaidzinski et al, 2005) questionem este IST e proponham metodologias para se calcular de forma mais aprofundada e ajustada a realidade de cada serviço, neste estudo não se dispunha de tempo hábil e tampouco os dados do sérvio facilitaram esta análise. 2. Cálculo segundo as fórmulas de Fugullin e Constate de Marinho Para o dimensionamento do pessoal de enfermagem Fugullin (2005) propõe a seguinte formula: Cálculo segundo Fugullin (Nº leitos X taxa de ocupação X THE X dias da semana)/jornada semanal de trabalho Qp = Assim, aplicada aos resultados da classificação dos pacientes do Posto 3, considerando a jornada de trabalho de 40 horas, obteve-se os resultados a seguir. Tabela 3 – Quantidade de pessoal necessário segundo método de Fugullin Tipo de cuidado AM AI ASI Total QP geral 21,679 7,644 0,658 29,981 TH_Enf . 33% 33% 42% 52% TH_Téc . 67% 67% 48% 48% QP_enf. QP_Téc. 7,2 2,5 0,3 10,0 14,5 5,1 0,3 20,0 IST_Enf. 1,1 0,4 0,0 1,5 IST_Téc . 2,2 0,8 0,0 3,0 Legenda: QP geral: Quantidade de Pessoal geral TH Enf.: Total de horas de enfermeiros TH téc.: Total de horas de técnicos de enfermagem QP_enf.: Quantidade de Pessoal de Enfermagem IST_Enf.: índice de segurança técnica de enfermeiros IST_ Téc.: índice de segurança técnica de técnicos de enfermagem 20 Enf. Téc. 8,2 2,9 0,3 11,4 16,7 5,9 0,4 23,0 Enf. : Enfermeiros Téc.: Técnicos de Enfermagem A fórmula de dimensionamento que faz uso da constante de Marinho, é a seguinte: Cálculo segundo a Constante de Marinho Nº Pessoal= KM X THE A constante de Marinho foi criada com intuito de facilitar o cálculo de pessoal de enfermagem. Constante de Marinho 20h 0,403 24h 0,335 30h 0,268 33,5h 0,248 36h 0,224 40h 0,201 44h 0,183 Aplicando-se a formula de Marinho, observa-se que não há diferença em relação ao mesmo cálculo proposto por Fugullin. Tabela 4 – Quantidade de pessoal necessário segundo formula proposta por Marinho. H AM 3,8 AI ASI AIN 5,6 9,4 17,9 Paciente Horas THEnf THTéc THEnf THTéc Enf. Tec. s . . . . 32,6 123,8 33% 67% 40,9 83,0 8,2 16,7 8 7,8 43,68 33% 67% 14,4 29,3 2,9 5,9 0,4 3,76 42% 48% 1,6 1,8 0,3 0,4 0 0 52% 48% 0,0 0,0 0,0 0,0 171,3 56,9 114,1 11, 23,0 2 4 Legenda: AM: Assistência mínima AI: Assistência intermediária ASI: Assistência semi-intensiva AIN: Assistência Intensiva TH Enf.: Total de horas de enfermeiros TH téc.:Total de horas de técnicos de enfermagem Enf.: enfermeiros 21 Téc.: técnicos de enfermagem Assim, os resultados indicam que nesta unidade há a necessidade de 11 enfermeiros e 23 técnicos de enfermagem. 3. Comparação com o atual quadro de pessoal do Posto 3 É importante ressaltar que o quadro de enfermeiros não é exclusivo deste posto e sim de todo o pronto socorro. Em média trabalham neste posto, dois enfermeiros no turno diurno e um no noturno (HBDF, 2009). Estes três enfermeiros representam 15,3 horas. Dado que a taxa de ocupação extrapola os 100% é possível concluir que a quantidade de enfermeiros está com uma defasagem de horas de cuidado de enfermagem de aproximadamente 42,84 horas. O atual quadro de pessoal do Posto 3 contempla um total de 14 enfermeiros sendo 8 com jornada de 40h e 6 com jornada de 20h semanais. Destes, dois estão em cargo de chefia. Comparando-se com os resultados dos cálculos de dimensionamento, seria possível inferir que este quantitativo é adequado. Contudo é necessário considerar que não há enfermeiros fixos para esta unidade e o atual quantitativo de enfermeiros são responsáveis pelos 100 leitos. Em relação aos técnicos de enfermagem, atualmente existem 17 profissionais, sendo 3 realizando jornada de 24h e 14 com jornada de trabalho de 40h. um deles está desviado para trabalhos administrativos uma vez que possui restrição médica. Assim, este quantitativo, não excluindo o técnico em trabalhos administrativos, contabiliza 86,7 de trabalho efetivo (já considerando-se o ajuste de produtividade de 85%). Comparando-se com a necessidade apontada nos cálculos de dimensionamento, observa-se que atualmente este quantitativo representa 71,4% da necessidade de horas de cuidado neste setor, para esta categoria profissional. A defasagem é portanto de 30,6 horas de cuidado de técnicos de enfermagem. CONCLUSÕES 22 Pelos resultados é possível afirmar que há o predomínio de pacietes que requerem cuidados mínimos nesta unidade, os quais perfizeram uma média de 36,2 pacientes em 10 dias de observações. Confrontando-se este perfil de usuários com a missão deste pronto socorro, de um do hospital de maior complexidade do DF, sinaliza que há distorções no perfil de atendimentos. Contudo, mesmo considerando-se o predomínio de usuários que requerem cuidados mínimos, o dimensionamento calculado sobre este perfil de usuários indica que há déficit de profissionais de enfermagem, tanto enfermeiros quanto técnicos. A defasada quantitativamente se dá não só de acordo com a literatura pesquisada, mas também com a experiência vivida durante a pesquisa. Não fazia parte dos objetivos deste estudo analisar os aspectos qualitativos da assistência prestada pela equipe, mas infere-se que esteja prejudicada, seja em relação ao paciente seja em relação à sobrecarga da equipe de enfermagem. Considerando-se que a missão deste hospital é prestar assistência integral em serviços de saúde de alta complexidade integrando o ensino e pesquisa, é possível afirmar que para seu alcance é necessário reduzir o desequilíbrio entre as necessidades reais de horas de trabalho de enfermagem que atualmente existente. Em que pese às críticas em relação ao super dimensionamento provocado pela aplicação da metodologia de cálculo proposta pelo COFEN, é necessário considerar que há no serviço que ora se analisa uma sobrecarga indefensável que se não ajustada a capacidade da equipe, certamente transferirá para os trabalhadores a exaustão decorrente da incapacidade de resposta do sistema de saúde. Em outras palavras, a dificuldade de atender a demanda da emergência com qualidade e segurança está aqui estampada na insuficiência quantitativa de profissionais de enfermagem. A continuidade desta situação implicará em prejuízo para trabalhadores com aumento da incidência de doenças laborais. Os usuários também são prejudicados pela insegurança e má qualidade nos serviços prestados. Por outro lado, os gestores, com este quadro de pessoal, certamente não produzirão as respostas demandadas por atendimento à saúde da população, conforme preceito constitucional. 23 Study on design of nursing staff in an emergency department of the Federal District: a comparison between actual and recommended ABSTRACT This study aimed to: implement the assessment tool and patient classification developed by Perroca (1996) and raise average unit patients according to SCP during the period 08/07/09 to 17/07/2009, apply the formulas mathematical scaling of nursing staff proposed by the Resolution 293/2007 COFEN; compare the results with the current framework. After analysis it was verified that there is a discrepancy in the numbers of nurses from this unit. The continuity of this situation will require injury to users due to security issue, low quality service and work overload the nursing team. Keywords: nursing; staff dimensioning; staff estimation. 24 REFERÊNCIAS ALVES, S.M. et al. Enfermagem: contribuição para um cálculo de recursos humanos na área. Rio de Janeiro. Coordenadoria de Comunicação Social do INAMPS, 1988. ANTUNES, Arthur Velloso; COSTA, Moacir Nascimento. Dimensionamento de pessoal de enfermagem em um hospital universitário. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 11, n. 6, Dec. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/. Acesso em: 27 Nov. 2008. BITTAR, Olímpio J. Nogueira V.. Distribuição dos recursos humanos em oito hospitais gerais de São Paulo. Rev Panam Salud Publica , Washington, v. 2, n. 1, July 1997 . Disponível em: <http://www.scielosp.org/ Acesso em: 27 Nov. 2008. BONI, Valdete; QUARESMA, Silvia Jurema. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em ciências sociais. Rev. Eletrônica dos PósGraduandos em Sociologia Política da UFSC, Santa Catarina, v.2, n.1, jan/jul 2005. p.68-80. 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Estado Mental e Nível de Consciência (habilidade em manter a percepção e as atividades cognitivas): 1 ( ) Acordado: interpretação precisa de ambiente e tempo; executa, sempre, corretamente, ordens verbalizadas; preservação da memória. 2 ( ) Acordado: interpretação precisa de ambiente e tempo; segue instruções corretamente apenas algumas vezes; dificuldade de memória; 3 ( ) Acordado: interpretação imprecisa de ambiente e tempo em alguns momentos; dificilmente segue instruções corretamente; dificuldade aumentada de memória; 4 ( ) Acordado: interpretação imprecisa do ambiente e tempo em todos os momentos; não segue instruções corretamente; perda de memória; 5 ( ) Desacordado: ausência de resposta verbal e manutenção da resposta à estímulos dolorosos ou ausência de respostas verbais e motoras. 2. Oxigenação (aptidão em manter a permeabilidade das vias aéreas e o equilíbrio nas trocas gasosas por si mesmo, com auxílio da equipe de enfermagem e/ou de equipamentos): 1 ( ) Não requer oxigenoterapia; 2 ( ) Requer uso intermitente ou contínuo de oxigênio sem a necessidade de desobstrução de vias aéreas; 3 ( ) Requer uso intermitente ou contínuo de oxigênio com necessidade de desobstrução de vias aéreas; 4 ( ) Requer uso de oxigênio por traqueostomia ou tubo orotraqueal; 5 ( ) Requer ventilação mecânica. 3. Sinais Vitais (necessidade de observação e de controle dos parâmetros vitais: temperatura corporal, pulso, padrão respiratório, saturação de oxigênio e pressão arterial, arterial média e venosa central) 1 ( ) Requer controle de sinais vitais em intervalos de 6 horas; 28 2 ( ) Requer controle de sinais vitais em intervalos de 4 horas; 3 ( ) Requer controle de sinais vitais em intervalos de 2 horas; 4 ( ) Requer controle de sinais vitais em intervalos menores do que 2 horas; 5 ( ) Requer controle de sinais vitais em intervalos menores do que 2 horas e controle de pressão arterial média e/ou pressão venosa central e/ou saturação de oxigênio. 4. Nutrição e hidratação (habilidade de ingerir nutrientes e líquidos para atender às necessidades metabólicas, por si mesmo, com auxílio de acompanhantes ou da equipe de enfermagem por meio de sondas) 1 ( ) Auto-suficiente; 2 ( ) Requer encorajamento e supervisão da enfermagem na nutrição e hidratação oral; 3 ( ) Requer orientação e supervisai de enfermagem ao acompanhante para auxílio na nutrição e hidratação oral; 4 ( ) Requer auxílio da enfermagem na nutrição e hidratação oral e/ou assistência de enfermagem na alimentação por sonda nasogástrica ou nasoenteral ou estoma; 5 ( ) Requer assistência efetiva da enfermagem para a manipulação de cateteres periféricos ou centrais para nutrição e hidratação. 5. Motilidade (capacidade de movimentar os segmentos corporais de forma independente, com auxílio do acompanhante ou da equipe de enfermagem ou pelo uso de artefatos) 1 ( ) Auto-suficiente; 2 ( ) Requer estímulo e supervisão da enfermagem para a movimentação de um ou mais segmentos corporais; 3 ( ) Requer orientação e supervisão de enfermagem ao acompanhante para auxílio na movimentação de um ou mais segmentos corporais; 4 ( ) Requer auxílio da enfermagem para a movimentação de um ou mais segmentos corporais; 5 ( ) Requer assistência efetiva da enfermagem para a movimentação de qualquer segmento corporal devido a presença de aparelhos gessados, tração, fixador externo e outros, ou por déficit motor. 6. Locomoção (habilidade para movimentar-se dentro do ambiente físico por si só, com auxílio do acompanhante ou da equipe de enfermagem ou pelo uso de artefatos) 1 ( ) Auto-suficiente; 2 ( ) Requer encorajamento e supervisão de enfermagem para deambulação; 29 3 ( ) Requer orientação e supervisão de enfermagem ao acompanhante para auxílio no uso de artefatos (órteses, próteses, muletas, bengalas, cadeiras de roda, andadores); 4 ( ) Requer o auxílio da enfermagem no uso de artefatos para a deambulação; 5 ( ) Requer assistência efetiva de enfermagem para locomoção devido à restrição no leito. 7. Cuidado corporal (capacidade para realizar por si mesmo ou com auxílio de outros, atividades de higiene pessoal e conforto, de vestirse e arrumar-se) 1 ( ) Auto-suficiente; 2 ( ) Requer supervisão de enfermagem na realização do cuidado corporal e conforto; 3 ( ) Requer orientação e supervisão de enfermagem ao acompanhante para auxílio na higiene oral, higiene íntima, banho de chuveiro e medidas de conforto; 4 ( ) Requer auxílio da enfermagem na higiene oral, higiene íntima, banho de chuveiro e medidas de conforto; 5 ( ) Requer assistência efetiva da enfermagem para o cuidado corporal e medidas de conforto devido à restrição no leito. 8. Eliminações (habilidade em manter diversas formas de eliminações sozinho, com auxílio do acompanhante ou da enfermagem ou por drenos e estomas) 1 ( ) Auto-suficiente; 2 ( ) Requer supervisão e controle pela enfermagem das eliminações; 3 ( ) Requer e supervisão de enfermagem ao acompanhante para auxílio no uso de comadre, papagaio, troca de fraldas, absorventes e outros, e controle, pela enfermagem nas eliminações; 4 ( ) Requer auxílio e controle pela enfermagem no uso de comadre, papagaio, troca de fraldas, absorventes e outros; 5 ( ) Requer assistência efetiva de enfermagem para a manipulação e controle de cateteres, drenos, dispositivos para incontinência urinária ou estomas. 9. Terapêutica (utilização de medicamentosos prescritos) diversos agentes terapêuticos 1 ( ) Requer medicação VO de rotina ou ID, SC ou IM; 2 ( ) Requer medicações EV contínua e/ou através de sonda nasogástrica, nasoenteral ou estoma; 30 3 ( ) Requer medicação EV intermitente com manutenção de cateter; 4 ( ) Requer uso de sangue e derivados ou expansores plasmáticos ou agentes citostáticos; 5 ( ) Requer uso de drogas vasoativas ou outras que exigem maiores cuidados na administração. 10. Educação à Saúde (habilidade do paciente/família em receber e aceitar orientações sobre auto-cuidado) 1 ( ) Orientações de enfermagem ao paciente/família sobre auto-cuidado com pronta compreensão e aceitação das informações recebidas; 2 ( ) Orientações de enfermagem ao paciente/família sobre auto-cuidado com dificuldades de compreensão mas com pronta aceitação das informações recebidas; 3 ( ) Orientações de enfermagem ao paciente/família sobre auto-cuidado com pronta compreensão mas certa resistência às informações recebidas; 4 ( ) Orientações de enfermagem ao paciente/família sobre auto-cuidado com pronta compreensão mas elevada resistência às informações recebidas; 5 ( ) Orientações de enfermagem ao paciente/família sobre auto-cuidado com pronta compreensão mas sem aceitação das informações recebidas. 11. Comportamento (sentimentos, pensamentos e condutas do paciente com relação à sua doença, gerados em sua interação com o processo de hospitalização, a equipe de saúde e/ou família) Para preencher o indicador abaixo observe as conceituações: Ansiedade – “vago sentimento de catástrofe iminente, apreensão ou sensação de pavor” (TAYLOR, 1992). Sintomas de ansiedade: alteração da respiração, tremores, sudorese, taquicardia, náusea, vômito, vertigem, anorexia, diarréia, inquietação, perturbação do sono, medo excessivo ou irracional, sensações de falta de ar ou sufocamento, parestesias, tensão muscular (DSM-IV, 1995); Retraimento social – tendência ocasional para evitar contatos sociais; funcionamento social diminuído. Irritabilidade – “Irritação: estado relativamente moderado de cólera, expressando-se, sobretudo em formas verbais” (CABRAL; NICK, 1979). Ex: exasperação, exaltação; Retraimento social aumentado – tendência freqüente para evitar contatos sociais; Apatia – “aparente insensibilidade a tudo o que provoca habitualmente no indivíduo um sentimento ou uma emoção” (FILLIOUD et al, 1981), indiferença. Ex: não manifestação de amor, ódio, alegria, tristeza, medo, raiva; 31 Passividade - “é uma predisposição para sofrer sem iniciativa nem esforço todas as influências exteriores” (NANDA, 1986). Ex:não reação diante de procedimentos de enfermagem, condutas médicas, hospitalização; Desesperança – “estado subjetivo em que o indivíduo vê escolhas pessoais disponíveis limitadas, ou sem alternativas, e está incapaz de mobilizar energia em seu próprio favor” (NANDA, 1896). Ex: ausência de planos de vida ou diminuição de expectativas, projetos e planos de vida; Impotência psíquica – “percepção de que uma pessoa tem de que o que ela pode fazer não altera, significativamente, um resultado...” (NANDA, 1982). Ex: demonstração de incapacidade para desempenhar atividades cotidianas (“não sei”, ”não vou conseguir”, “não posso”); Ambivalência de sentimentos – “coexistência de dois impulsos, desejos, atitudes ou emoções opostos dirigidos para a mesma pessoa, o mesmo objeto ou o mesmo objetivo...” (DICIONÁRIO Médico Blakiston, 1982). Ex: afirmação/negação, aceitação/rejeição, amor/ódio, alegria/tristeza; Isolamento social – “privação de contatos sociais...” (CABRAL; NICK, 1979). 1 ( ) Calmo, tranqüilo; preocupações cotidianas; 2 ( ) Alguns sintomas de ansiedade (até 3) ou queixas solicitações contínuas ou retraimento social; 3 ( ) Irritabilidade excessiva ou retraimento social aumentado ou apatia ou passividade ou queixas excessivas; 4 ( ) Sentimento de desesperança ou impotência psíquica ou ambivalência de sentimentos ou acentuada diminuição do interesse por atividades ou aumento da freqüência de sintomas de ansiedade (mais de 3 sintomas); 5 ( ) Comportamento destrutivo dirigido a sim mesmo e aos outros ou recusa de cuidados de atenção á saúde ou verbalizações hostis e ameaçadoras ou completo isolamento social. 12. Comunicação (habilidade em usar ou entender a linguagem verbal e não verbal na interação humana) 1 ( ) Comunicativo, expressa idéias com clareza e lógica; 2 ( ) Dificuldade em se expressar por diferenças sócio-culturais; verbalização inapropriada; 3 ( ) Recusa-se a falar; choroso; comunicação não-verbal; 4 ( ) Dificuldade em se comunicar por distúrbios de linguagem (afasia, disfasia, disartria) ou sensibilidade dolorosa ao falar ou por barreira física (traqueostomia, entubação); 5 ( ) Inapto para comunicar necessidades. 13. Integridade Cutâneo-mucosa (manutenção da pele e mucosas sem danificação ou destruição) 32 1 ( ) Pele íntegra e sem alteração de cor em todas as áreas do corpo; 2 ( ) Presença de alteração da cor da pele (equimoses, hiperemia ou outras) em uma ou mais áreas do corpo sem solução de continuidade; 3 ( ) Presença de solução de continuidade em uma ou mais áreas do corpo sem presença de exsudato purulento; 4 ( ) Presença de solução de continuidade em uma ou mais áreas do corpo com presença de exsudato purulento, sem exposição de tecido muscular e/ou ósseo; ausência de áreas de necrose; 5 ( ) Presença de solução de continuidade em uma ou mais áreas do corpo com presença de exsudato purulento, exposição de tecido muscular e/ou ósseo; presença de áreas de necrose. AVALIAÇÃO DO TIPO DE CUIDADO: Cuidados Mínimos: 13 a 26 pontos – cuidados a pacientes estáveis sob o ponto de vista clínico e de enfermagem, mas fisicamente auto-suficientes quanto às necessidades humanas básicas; Cuidados Intermediários: 27 a 39 pontos – cuidados a pacientes estáveis sob o ponto de vista clínico e de enfermagem, com parcial dependência das ações de enfermagem para o atendimento das necessidades humanas básicas; Cuidados Semi-intensivos: 40 a 52 pontos – cuidados a pacientes recuperáveis ou crônicos, estáveis sob o ponto de vista clínico, porém, com total dependência das ações de enfermagem quanto ao atendimento das necessidades humanas básicas; Cuidados Intensivos: 53 a 65 pontos – cuidados a pacientes graves, com risco iminente de morte, sujeitos à instabilidade de sinais vitais, que requeiram assistência de enfermagem permanente e especializada. Total da pontuação: _________ Classificação: ______________ Enfermeira: ________________ 33 34 35