HÉRNIA OU PROTUSÃO DE DISCO TEM POUCA RELAÇÃO COM DOR LOMBAR Sergio Marinzeck Ft, M.Phty (Manip), MPA, IFOMPT Uma assunção comum entre profissionais da área de saúde, principalmente médicos e fisioterapeutas, é que o maior vilão para a dor lombar é a presença das deformações do disco intervertebral, conhecidas como protrusões, herniações ou extrusões. As evidências entretanto, nem sempre apontam que isso é verdadeiro. Nos últimos 20 anos vários estudos usando RM (ressonância magnética) e tomografia foram feitos em indivíduos normais que participam de diversas atividades diferentes. Foi determinado que um grande número destes indivíduos, que não tem qualquer dor lombar, tinham um percentual grande de herniações e/ou protrusões (18). Em 1995 Fraser et al conduziram um estudo em que pacientes com dor lombar e hernição de disco receberam cirurgia, injeção ou injeção placebo. Após 10 anos ele reavaliou os pacientes e grande parte deles ainda tinham hérnias discais mas ela nao tinha nenhuma relação com o bem estar do paciente. Em outras palavras, muitos pacientes que estavam se sentindo bem ainda continuavam com as herniações no disco. Em um estudo prestigioso que foi publicado por Jenson e Modic em 1994 no conceituado New England Journal of Medicine, eles usaram ressonância magnética em 98 indivíduos assintomáticos (sem dor) e encontrarm que 52% tinham deformações do disco e 27% tinham protrusões discais. No estudo de Weshaupt e Boos 1994, eles pegaram 60 pessoas aleatórias (ideade média de 35 anos) que nunca tiveram dor lombar em suas vidas. Após a ressonância os achados foram que 24% tinham deformações do disco, 40% tinham protrusões e 18% tinham extrusões do disco. Em outro estudo consagrado de Boos et al em 1995, ele avaliou indivíduos que não tinham dor lombar ou ciática e que aplicavam grande estress em sua coluna devido ao trabalho (carregadores por exemplo). Sua conclusão foi que 76% destes indivíduos tinham pelo menos 1 protrusão ou extrusão do disco. Destes indivíduos 24% tinham imagens claras de compressão da raíz nervosa pelo disco, ainda que não tinham qualquer queixa de dor lombar ou ciática. COMPILAÇÃO DOS ACHADOS Abaixo segue a compilação dos estudos que avaliaram a presença de alterações no disco em pessoas normais (sem dor lombar ou ciática): CONCLUSÃO É importante que os profissionais da área de saúde procurem entender e objetivar o tratamento da dor lombar não apenas pela presença de protrusões ou herniações do disco intervertebral. A dor lombar e a ciática são multifacetárias, e ainda que possam conter elementos biológicos e mecânicos (extrusões severas podem sim causar dor e disfunção num paciente), outros elementos importantes e reconhecidos hoje estão em ação, como a função da coluna (controle motor, ação e estabilização), adaptação da mesma ao meio físico e social do paciente, mecanismos de dor em operação e aspectos psicosociais. REFERÊNCIAS Jensen MC, et al. “MRI imaging of the lumbar spine in people without back pain.” N Engl J Med – 1994; 331:369-373 Boden SD et al. “Abnormal magnetic resonance scans of the lumbar spine in asymptomatic subjects: A prospective investigation.” J Bone Joint Surg Am 1990; 72A:403-408 Weishaupt D et al. “MRI of the lumbar spine: Prevalence of intervertebral disc extrusion and sequestration, nerve root compression and plate abnormalities, and osteoarthritis of the fact joints in Asymptomatic Volunteers.” Radiology – 1998; 209:661-666 Boos N, et al. “1995 Volvo Award in clinical science: The diagnostic accuracy of MRI, work perception, and psychosocial factors in identifying symptomatic disc herniations.” Spine – 1995; 20:2613-2625 Powell MC, et al. “Prevalence of lumbar disc degeneration observed by magnetic resonance in symptomless women.” Lancer – 1986; 2:1366-7 Boos N, et al. “Natural history of individuals with asymptomatic disc abnormalities in MRI: Predictors of low back pain-related medical consultation and work incapacity.” Spine 2000; 25:1484 Borenstein G, Boden SD, Wiesel SW, et al. “The value of magnetic resonance imaging of the lumbar spine to predict low-back pain in asymptomatic individuals: A 7-year follow-up study. J Bone Joint [am] 2001; 83:320-34 Wiesel SW, et al. “A study of computer-associated tomography: I. The incidence of positive CAT scans in asymptomatic group of patients.” Spine 1984;9:549-51 Wood KB, et al. ‘Magnetic resonance imaging of the thoracic spine. Evaluation of asymptomatic individual s.’ J Bone Joint Surg Am. 1995 Nov;77(11):1631-8 Fraser RD, Sandhu A, Gogan WJ. ‘Magnetic resonance imaging findings 10 years after treatment for lumbar disc herniation.’ Spine 1995 Mar 15;20(6):710-4.