AS DIFERENÇAS NEUROANATÔMICAS ENTRE INDIVÍDUOS
ESQUIZOFRÊNICOS E SUJEITOS NORMAIS
Thaís Alves Tinée1, Jacilene Cavalcanti Ferreira2, Isana Ferreira Sabóia3, Mariza Brandão Palma4
Introdução
O Sistema Nervoso (SN) é subdividido de acordo com a localização em Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema
Nervoso Periférico (SNP), de modo que no SNP encontramos nervos e gânglios e no SNC temos o encéfalo e a medula
espinal (Lippert et al., 2005, p. 368).
Envolvendo todo o SNC com fins de proteção, encontramos as meninges dura-máter, aracnoide e pia-máter e entre
elas os espaço subaracnóideo, abaixo da aracnoide - por onde circula o liquor ou líquido cerebroespinal (LCS) -, espaço
subdural, abaixo da dura-máter e espaço epidural acima da dura-máter em contato com tecido ósseo (Lippert et al.,
2005, p. 370 e Tortora & Grabowski, 2006, p. 247 e 255).
O LCS é produzido, diariamente cerca de 650mL, nos ventrículos, que são quatro cavidades no encéfalo (ventrículos
laterais, terceiro ventrículo e quarto ventrículo), mais especificamente nos plexos corióideos pelas células ependimárias
a partir do sangue (Lippert et al., 2005, p. 381 e Tortora & Grabowski, 2006, p. 255).
Compondo o encéfalo temos o tronco encefálico que se subdivide em mesencéfalo, ponte e bulbo, comunicando-se à
medula espinal. Acima do mesencéfalo encontramos o diencéfalo, composto principalmente por tálamo, hipotálamo e
glândula pineal. Situado acima do diencéfalo acha-se o telencéfalo, que compreende o maior volume do encéfalo e é
composto pelo córtex e abaixo deste pela substância branca. E, posterior a mesencéfalo, ponte e bulbo, situa-se o
cerebelo (Tortora & Grabowski, 2005, p. 253 e 254).
Num aspecto externo do encéfalo podemos destacar a sua divisão em dois hemisférios, esquerdo e direito
(comunicados por meio do corpo caloso e da comissura anterior), e a presença dos sulcos, giros e fissuras cerebrais que
em certa medida determinam os lobos cerebrais. Estes últimos são: lobo parietal, lobo frontal, lobo occipital, lobo
temporal e lobo da ínsula, que não pode ser visto superficialmente (Guyton, 1993, p. 12).
Ao ser feito um corte anatômico, percebe-se no encéfalo, a divisão entre duas regiões: cinzenta e branca. Na região
cinzenta estão situados os corpos de neurônios que fazem parte do córtex cerebral. Já na região clara, formando a
substância branca, encontram-se os axônios dos neurônios, que exibem uma cor clara devido à presença de lipídeos na
bainha de mielina (Lippert et al., 2005, p. 368).
Sabe-se que o córtex é a área do cérebro em que são armazenadas as nossas memórias e que também é grandemente
responsável pelas nossas habilidades musculares (Guyton, 1993, p. 15).
Interiormente, encontramos o tálamo, por onde percorrem quase todas as informações das partes inferiores do SNC
antes de chegarem ao córtex, funcionando como um transmissor dos estímulos ao córtex e aos gânglios basais (dentre os
quais nota-se anatomicamente a amigdala, que tem função muito relacionada ao sistema límbico, que atua no controle
emocional). Sua rede de sinais entra na importância da transmissão de quase todos os estímulos somestésicos, muitos
dos sinais auditivos, bem como visuais e de controle dos movimentos (Guyton, 1993, p. 19-20 e 22).
Quanto à esquizofrenia, note-se que há vários tipos e que o critério de avaliação se dá em dois tipos de sintomas, os
de maior hierarquia e os de menor hierarquia (Ministério da Saúde, 2012).
Sendo que os de maior hierarquia são os mais específicos para a doença referida, enquanto que os de menor
hierarquia podem estar presentes em outras síndromes também (Ministério da Saúde, 2012).
1
Thaís Alves Tinée é graduanda de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, 4o período, Bosista PIBIC pelo CNPq, Universidade Federal Rural de
Pernambuco, R. Manoel de Medeiros, S/N CEP: 171-900-000, Recife, PE. E-mail: [email protected]
2
Jacilene Cavalcanti Ferreira é graduanda de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, 4o período, bolsista do PET Ecologia e voluntária pelo
Projeto Capivara, Universidade Federal Rural de Pernambuco, R. Manoel de Medeiros, S/N CEP: 171-900-000, Recife, PE.
3
Isana Ferreira Sabóia é graduanda de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, 5o período, Universidade Federal Rural de Pernambuco, R.
Manoel de Medeiros, S/N CEP: 171-900-000, Recife, PE.
4
Mariza Brandão Palma é Mestre em Biologia Celular, professora Assistente da UFRPE, Universidade Federal Rural de Pernambuco , R. Manoel de
Medeiros, S/N CEP:171-900-000, Recife, PE, e professora A2 da Universidade Salgado de Oliveira, Av. Marechal Mascarenhas de Moraes, 1919,
CEP: 52000-000, Recife, PE.
Compreende-se que para ser classificado como esquizofrênico, o indivíduo deve ter ao menos um sintoma dos de
maior hieraquia ou dois dos de menor hierarquia e que estes devem apresentar-se grande parte do tempo da doença
psicótica, que necessariamente dure um mês (Ministério da Saúde, 2012).
Dentre as síndromes mais específicas, encontramos a irradiação do pensamento, delírios com relações corpóreas,
ações ou percepção em delírio, vozes dentro do quadro de alucinação, e estas se relacionando ao paciente, dentro dele,
ou partindo de uma parte do corpo, ou algum comportamento delirante impróprios à cultura, ou impossíveis de todo
(Ministério da Saúde, 2012).
Enquanto que, enquadradas nos sintomas menos específicos encontram-se os delírios,problemas nos processos de
pensamento que decorrem na fala com pouca expressividade, catatonismo, que se expressa em excitabilidade,
negativismo, estupor, mutismo, comportamento inadequado e flexibilidade cérea (Ministério da Saúde, 2012).
Diante desses conhecimentos, nosso trabalho teve como objetivo a verificação de possíveis diferenças anatômicas
entre pacientes com esquizofrenia e indivíduos normais, a partir de pesquisas bibliográficas relacionadas ao tema.
Materiais e métodos
Este estudo constitui-se de uma análise na literatura especializada em anatomia e neuroanatomia, realizada entre julho
e agosto de 2013, foram feitas consultas a livros presentes na biblioteca da Universidade Federal Rural de
Pernambuco(UFRPE)- Campus Sede, acessos pela internet ao portal de periódicos da Capes via proxy da UFRPE e
artigos encontrados no banco de dados do Scielo, Pubmed e Google acadêmico. A pesquisa desses artigos foi feita em
julho e no início de agosto de 2013, as palavras-chaves utilizadas na busca foram: Esquizofrenia, Neuroimagem,
anatomy schizophrenia no sciencedirect, Anatomia Esquizofrenia, morfometria. E os livros consultados foram: Corpo
Humano de tortora e grabowski, anatomia texto e atlas de Lippert et al., Neurociência Básica: Anatomia e Fisiologia de
Guyton.
Inicialmente buscou-se estudar e compreender sobre a esquizofrenia e quais as pesquissa existentes sobre seu
surgimento, logo em seguida, com base nos estudos encontrados e dentro dos parâmetros da neuroanatomia, observamos
as alterações anatômicas cerebrais em pacientes esquizofrênicos versus pacientes controle (normais) submetidos a
exames de imagem.
Resultados e Discussão
Percebe-se, através de estudos com imagem de Ressonância Magnética (RM), a diminuição, em pacientes
esquizofrênicos comparados aos saudáveis, do encéfalo daqueles, bem como dos lobos temporais e sua substância
branca e do complexo amígdala-hipocampo (Castro, 2001 e Ferrari, 2008) e daqui acreditamos poder-se depreender os
sintomas de vozes e a incoerência do pensamento no quadro esquizofrênico, considerando que o lobo temporal é
responsável pelo sentido da audição e pela interpretação de significados de palavras, frases geradas do próprio cérebro
ou de fora do organismo (Guyton, 1993, p. 16).
Ainda, encontramos que, portadores de esquizofrenia acusam redução em quatro regiões do córtex cerebral, região
cinzenta: (a) giro frontal inferior esquerdo que se estende até a ínsula esquerda, (b) ínsula direita, passando pelo giro
temporal transverso direito e pelo giro de Heschl, (c) o giro frontal-medial esquerdo encaminhando ao giro frontal
superior esquerdo e giro do cíngulo e (d) essa, situando-se em uma região extra-encefálica indo dar no giro reto. Ou
seja, há diminuição no volume do córtex cerebral (Ferrari, 2008) afetando grandemente o lobo frontal, o que pode ser a
causa dos problemas no processo do pensamento, já que o córtex pré-frontal é responsável pela elaboração do
pensamento (Guyton, 1993, p. 220).
Por outro lado, verifica-se, o aumento de volume do líquido cefalorraquidiano, o LCS, dos espaços ventriculares,
espaço subaracnóideo e, ainda, do putâmen (Castro, 2001) o que, provavelmente resulta em diminuição da substância
branca que deveria estar circundante aos ventrículos.
Quando utilizada a Ressonância Magnética Funcional (RMF), obtém-se que esquizofrênicos com alucinações,
apresentam pequena ativação de córtex temporal, ao ouvir sons verbais em comparação com voluntários normais,
indicando que os mesmos circuitos que são ativados para o estímulo verbal normal, sejam ativados em casos de
alucinação esquizofrênica (Filho, 2000), dado que colabora com a informação da perda de volume dos lobos temporais.
Destes dados podemos perceber como o estudo das estruturas e volumes encefálicos é profundamente importante para
o melhor entendimento de psicoses, como é o caso da esquizofrenia.
Em última análise, pudemos aqui perceber que há sim, alterações anatômicas decorrentes da esquizofrenia. E, em
posse dessas informações compreendermos melhor essa psicose.
Referências
Bottino,
C.
M.
de
C.,
Morfometria
por
ressonância
<http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol27/n3/art131.htm. Agosto 2013
magnética,
artigo
original.
Ferrari, T. B. Volumetria cerebral de pacientes esquizofrênicos Comparação entre dois métodos de análise automática:
ANIMAL e SPM. Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo, 2008. 104p. Dissertação de Mestrado.
Filho, G. B.; A anatomia estrutural e funcional da esquizofrenia: achados de neuropatologia e neuroimagem. Revista
Brasileira de Psiquiatria vol.22 s.1 São Paulo Maio 2000. <http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462000000500004
Guyton, A. C . Neurociência Básica: Anatomia e Fisiologia. Editora Guanabara Koogan , 1993.
Lippert, H.; Herbold, D.; Lippert-Burmester, W. Anatomia: Texto e Atlas. Rio de Janeiro – RJ: Editora Guanabara
Koogan, 2005, p. 368-403.
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Consulta Pública no 5, de 14de Junho de 2012.
Tortora, G. J.; Grabowski, S. R. Corpo Humano: Fundamentos de Anatomia e Fisiologia. Porto Alegre – RS: Artmed
Editora, 2006, p. 229-276.
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Trabalho