Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados CAPÍTULO 5 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS 5.1 Revestimentos de tungsténio 5.1.1 Parâmetros de deposição e técnicas de caracterização de revestimentos utilizadas Os filmes finos de tungsténio foram depositados por pulverização com corrente contínua (d.c.) assistida com magnetrão, tendo-se utilizado para o efeito a câmara de deposição descrita no capítulo 2. Utilizou-se um alvo metálico quadrado de tungsténio da “GooFellow” com 99,95% de pureza, com a espessura de três milímetros e dez centímetros de lado. A composição química do alvo de tungsténio encontra-se descrita no capítulo 3. O gás inerte de pulverização utilizado foi árgon. Os revestimentos foram depositados em lâminas de vidro de microscópio, com a dimensão de 24x24x1,5mm3. Na tabela 5.1 encontram-se descriminados os parâmetros de deposição utilizados na produção dos revestimentos de tungsténio. A utilização de um domínio alargado de parâmetros teve por objectivo estudar o processo de Deposição Física de Vapores – Pulverização, permitindo desta forma uma introdução prática à técnica. Tabela 5.1: Parâmetros de deposição dos filmes finos de tungsténio Pressão (Pa) Tempo (min.) Polarização – “bias” (V) Distância alvo-substrato (cm) Temperatura (ºC) Potência (W) 0,5 – 4 6 ou 12 -100 – +40 6 TA ou 200ºC 500 TA: Temperatura Ambiente A espessura dos filmes metálicos foi estimada por Microscopia Electrónica de Varrimento (SEM) e por Variação de Massa (VM), tendo variado entre 130 e 215nm, para filmes depositados durante 6 e 12 minutos, respectivamente. 57 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados Os substratos foram limpos ultrasonicamente em álcool e o alvo pré-pulverizado antes de cada deposição durante 10 minutos. Com o objectivo de estudar o efeito dos parâmetros de deposição nas propriedades ópticas, mecânicas, cristalográficas e eléctricas foram utilizadas diversas técnicas de caracterização de revestimentos. Tabela 5.2: Técnicas de caracterização de revestimentos utilizadas Técnica Propriedades em estudo Difracção de Raios-x – DRX Microscopia de Força Atómica – AFM Estrutura cristalina Estado superficial das amostras rugosidade Microscopia Electrónica Estado superficial das amostras, de Varrimento – SEM Secção transversal – espessura Sistema de Quatro Pontas – 4PP Resistência – Resistividade Espectrofetometro de Reflexão – R(%) Reflexão Determinação de Tensões – Transdutor Tensões residuais Laser – LT e 5.1.2 Influência da pressão do gás de pulverização 5.1.2.1 Estrutura cristalográfica Com o objectivo de estudar o efeito dos parâmetros de deposição na estrutura cristalográfica dos revestimentos metálicos de tungsténio, obtidos por Pulverização, depositou-se uma série de filmes finos com a espessura de 6nm, em que se fez variar a pressão de deposição, a temperatura de deposição e a polarização (“bias”) aplicada aos substratos. Os resultados obtidos por Difracção de Raios-x (DRX) indicam claramente que os parâmetros de deposição controlam a fase cristalográfica obtida. 58 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados 25000 (110) Intensidade (u.a.) 20000 15000 (e) 10000 (d) (c) 5000 0 (b) (a) 30 (200) 32 34 (210) 36 38 40 (211) 42 44 2 Theta Figura 5.1: Efeito dos parâmetros de deposição na estrutura cristalográfica dos revestimentos de tungsténio. Exp. W5 W20 W29 W21 W38 Tabela 5.3: Efeito dos parâmetros de deposição na estrutura cristalográfica dos revestimentos de tungsténio Referência Pressão Temperatura Polarização Estrutura do gráfico (Pa) (ºC) (V) cristalina (a) 0,7 TA β-W (b) 2,0 TA W + β-W (c) 2,0 200 W (d) 2,0 TA -100 W + β-W (e) 4,0 TA β-W amorfa TA: temperatura ambiente Obtiveram-se revestimentos com duas fases diferentes, a cúbica de corpo centrada W e a β-W. Na figura 5.1 pode observar-se o espectro de DRX de um filme de tungsténio depositado com a pressão de 0,7Pa (a) à temperatura ambiente, exibindo a fase β-W com os picos (200), (210) e (211). A fase β-W é uma fase de não equilíbrio, que pode ser associada segundo, C. J. Smithells, à presença de pequenas quantidades de oxigénio, devido à elevada afinidade que existe entre o W e o oxigénio [5.1]. Existem mesmo alguns autores que afirmam que a fase β-W não é uma fase polimorfica do tungsténio mas um óxido de tungsténio. Outros autores depositaram filmes finos metálicos de β-W 59 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados por Pulverização e Deposição Química de Vapores, e nas duas técnicas a presença desta fase pode ser relacionada com condições de baixa pressão de deposição [5.2 – 5.3]. Na curva da figura 5.1 (c) pode observar-se o espectro de DRX do revestimento de tungsténio depositado à pressão de 2Pa, à temperatura de 200ºC. Por comparação com as fichas JCPDS podemos identificar a fase W cúbica, com a orientação preferencial (100) [5.4]. A deposição com temperatura promove a passagem de uma estrutura cristalográfica fase – W para fase – ß-W. K. K. Lai et. all obtiveram a fase Wcúbica através de recozimento a 900ºC durante 30 minutos de revestimentos produzidos por CVD, tendo relacionado a transformação de fase com a redução do carbono e do oxigénio para concentrações inferiores a 5%. Os filmes depositados a 2Pa com e sem polarização apresentam uma mistura de fases W-β e W. A aplicação de polarização negativa leva a que a fase W se torne a fase preferencial. O aumento da pressão leva à criação de uma fase não amorfa cristalina, como pode ser observado na curva d do gráfico. 5.1.2.2 Propriedades ópticas Na figura 5.2 pode observar-se a variação da reflexão para o comprimento de onda de 546nm, em função da pressão de deposição. Para baixas pressões de deposição a reflexão óptica dos revestimentos de tungsténio é aproximadamente constante (na ordem dos 65%). Estes filmes, como será discutido posteriormente, apresentam tensões de compressão. As imagens de SEM (figura 5.5) permitem observar o defeito enrugamento (“buckling”) causado pelas tensões de compressão. Com o aumento da pressão de deposição a reflexão diminui. Estes filmes apresentam tensões de tensão. A diminuição na reflexão óptica é consequência da absorção da luz. Filmes depositados a alta pressão apresentam um valor de reflexão inferior a 35%, devido à atracção entre colunas. Estes filmes finos apresentam tensões de compressão [5.5 – 5.6]. 60 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados Tabela 5.4: Efeito da pressão de deposição na reflexão Exp. Pressão (Pa) Reflexão (%) Exp. Pressão (Pa) Reflexão (%) W1 W3 W5 W8 W11 W14 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 66,5 67,5 67,7 66,8 64,7 67,5 W18 W20 W30 W32 W36 W38 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 48 52,8 42,5 38,9 31,3 33,3 80 Reflexão (%) 70 60 50 40 30 0 1 2 3 4 Pressão (Pa) Figura 5.2: Variação da reflexão com a pressão de deposição A deposição de revestimentos de tungsténio com potencial aplicado (tabela 5.8) nos substratos promove uma diminuição no valor da reflexão óptica, provavelmente devido à elevada energia de bombardeamento e distribuição da superfície. A polarização negativa promove a aceleração do plasma na direcção do filme, e o bombardeamento iónico promove a introdução de imperfeições na superfície do filme. Para polarizações intermédias, entre -20 e 0V, os revestimentos apresentam um aumento na reflexão óptica devido à superfície mais suave. 61 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados 5.1.2.3 Condutividade eléctrica A condutividade eléctrica, obtida a partir de medidas de resistividade eléctrica, dos revestimentos de tungsténio depende da pressão de gás de pulverização e da polarização aplicada, sendo inferior à do material volumétrico. A condutividade eléctrica dos revestimentos foi determinada pelo método dos Quatro Pontos (4PP), tendo-se realizado as medições à temperatura ambiente. Os valores de resistividade eléctrica de todos os revestimentos obtidos por pulverizados são superiores aos do tungsténio volumétrico (5.4µΩcm). Tabela 5.5: Efeito da pressão de deposição na condutividade eléctrica Pressão (Pa) Cond. Eléctrica (x105(Ώcm)-1) Exp. Pressão (Pa) Cond. Eléctrica (x105(Ώcm) -1) W1 W3 W5 W8 W11 W14 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 8,62 6,49 6,10 8,00 5,41 5,75 W18 W20 W30 W32 W36 W38 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 1,67 1,14 1,79 0,58 0,23 0,35 10 80 8 70 6 60 4 50 2 40 5 -1 Condutividade eléctrica [*10 (Ωm) ] Exp. 0 30 0 1 2 3 4 P re s s ã o (P a ) Figura 5.3: Variação da condutividade eléctrica com a pressão de deposição 62 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados Os filmes depositados a baixa pressão apresentam condutividade eléctrica constante. O aumento da pressão de gás promove o aumento de impurezas. Este facto está relacionado com a incorporação de oxigénio em filmes mais porosos, que estão expostos à atmosfera após deposição. Filmes mais espessos têm elevada condutividade eléctrica e próxima da do material volumétrico. A resistividade do filme depositado a 0.9Pa, com 215nm de espessura, é de 26µΩ.cm. A menor condutividade dos filmes com 130nm de espessura é igualmente atribuída ao dispersar dos electrões por defeitos estruturais (como por exemplo: lacunas e interstícios), e à presença de impurezas (oxigénio e árgon) [5.7 – 5.8]. Os filmes depositados com polarização têm uma menor condutividade eléctrica. Quando se aplica uma polarização negativa promove-se a destruição da estrutura de transição Zona T do modelo de Thornton. O bombardeamento iónico do filme em crescimento promove a incorporação de árgon nos filmes, o que origina o aumento na tensão de compressão e uma diminuição na condutividade. Os filmes depositados com temperatura têm baixa condutividade eléctrica, o que pode ser relacionado com a maior rugosidade indicada pelos resultados de AFM. Com o aumento da pressão de gás de pulverização o nível de impurezas aumenta e a condutividade eléctrica diminui. Provavelmente, a incorporação de oxigénio nos filmes mais porosos que ficam mais expostos à atmosfera após a deposição, pode ser igualmente responsável pelas baixas condutividades eléctricas observadas. Filmes preparados com pressões de árgon superiores a 3Pa apresentam condutividade eléctrica inferior a 1x105 (Ώm)-1. 5.1.2.4 Tensões residuais O estudo das tensões intrínsecas é importante pois esta propriedade mecânica está relacionada com a aderência dos filmes ao substrato. As tensões internas são fortemente induzidas pelo crescimento do filme, que é controlado pelos parâmetros de deposição. Os revestimentos apresentam tensões de compressão quando depositados a baixas pressões, passando para tracção com o aumento da pressão do gás de pulverização. Para altas pressões de deposição os revestimentos metálicos de tungsténio apresentam tensões de compressão, com valores mais moderados. 63 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados Depositou-se uma série de revestimentos de tungsténio, com a espessura de 215nm, com o objectivo de estudar o efeito da pressão de deposição nas tensões residuais. O tempo de deposição de cada filme fino de tungsténio foi de 12 minutos. Estes revestimentos foram depositados à temperatura ambiente, não se tendo aplicado polarização aos substratos. Tabela 5.6: Efeito da Pressão de Deposição nas Tensões Residuais Exp. Pressão (Pa) 0,7 0,8 0,9 1,0 1,5 W7 W9 W13 W16 W19 Tensão (x109N/m2) -1,45 -1,16 -0,70 1,44 0,55 Exp. Pressão (Pa) 2 2,5 3 3,5 4 W28 W31 W34 W37 W40 Tensão (x109N/m2) 0,33 0,33 -0,73 -0,70 -0,70 Tensão (*109 N/m2) 2 Tension 1 0 0 1 2 3 4 5 -1 Compresion -2 Pressão (Pa) Figura 5.4: Efeito da pressão de deposição na tensão dos filmes finos O bombardeamento dos filmes em crescimento promove a incorporação de gás de pulverização nos filmes, o que leva a um aumento das tensões de compressão e a uma diminuição na condutividade eléctrica. Para pressões baixas os revestimentos apresentam tensões de compressão. As tensões elevadas de compressão devem-se ao efeito do choque atómico (“atomicpenning efect”). O aumento na pressão de gás promove a alteração de tensões de compressão para tracção. Este facto é originado pela microestrutura porosa dos filmes, 64 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados que promove a absorção da luz [5.9]. Filmes depositados a pressões elevadas apresentam a reflexão inferior a 35%, devido à atracção entre as colunas. As tensões intrínsecas dos revestimento são fortemente dependentes da pressão de gás de pulverização, variando de fortemente compressiva (-1,45x109N/m2) para pressões de gás inferiores a 1Pa, para fortemente tracção (1,44x109N/m2) para pressões de gás de deposição intermédias. Para altas pressões de compressão as tensões são suavemente compressivas (0,73x109N/m2). Na literatura existem diversos mecanismos que podem explicar esta variação na tensão nos revestimentos [5.10 – 5.12]. Tensões de tracção são induzidas por vazios e espaços entre colunas adjacentes em revestimentos depositados a pressões elevadas. Forças inter-atómicas entre essas colunas podem promover tensão de tracção. A tensão de tracção diminui com o aumento da pressão de gás de pulverização. Esta relaxação das tensões de tracção pode ser entendida em termos de alteração na microestrutura dos revestimentos, que se torna mais porosa com o aumento da pressão de gás de pulverização. A diminuição na pressão de pulverização promove a densificação dos filmes e o espaço entre colunas diminui. As tensões compressivas podem ser relacionadas com tensões elásticas na estrutura cristalográfica, que são promovidas pela densificação dos filmes. A elevada energia das partículas que bombardeiam o filme em crescimento originam filmes densos. As tensões compressivas estão igualmente relacionadas com a incorporação de gás de pulverização na estrutura cristalina, o que leva a uma expansão da latitude. As micro-imagens obtidas por Microscopia Electrónica de Varrimento permitem observar a ocorrência de enrugamento (“buckling”) promovida pelas fortes tensões de compressão nos filmes depositados em vidro, devido à baixa aderência. Este efeito é promovido pela fractura, delaminação e enrugamento devido à densificação do revestimento. 65 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados 2µm 2µm Figura 5.5: Imagens SEM de enrugamento (“Buckling”) causado por forças de compressão na interface 5.1.3 Influência do tempo de deposição As propriedades ópticas e eléctricas dos filmes de tungsténio depositados por pulverização dependem do tempo de deposição. A qualidade óptica diminui com o aumento do tempo de deposição, devido ao aumento do número de imperfeições. A resistividade diminui como aumento da espessura dos filmes metálicos de tungsténio, ou seja a condutividade eléctrica aumenta, pois o efeito de acondicionamento livre diminui com o aumento da espessura dos revestimentos. Tabela 5.7: Efeito do tempo de deposição na condutividade eléctrica e na reflectância Exp. W8 W9 W11 W13 W14 W16 W18 W19 W20 W28 W30 W31 Pressão (Pa) 0,8 0,8 0.9 0.9 1,0 1,0 1.5 1.5 2,0 2,0 2,5 2,5 Tempo de deposição (min.) 6 12 6 12 6 12 6 12 6 12 6 12 Reflexão (%) 66,8 56,2 64,7 63,2 67,5 63,0 48,0 51,1 52,8 50,7 42,5 44,0 Resistividade (µΩcm) 125 28 185 26 174 120 599 213 443 402 557 500 Com o aumento do tempo de deposição as imperfeições, devidas por exemplo ao colapso de colunas, vão aumentar, o que leva a uma diminuição da qualidade óptica. 66 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados 5.1.4 Influência da polarização Depositou-se uma série de oito filmes finos à pressão de gás de pulverização de 2Pa, à temperatura ambiente. Estes revestimentos foram depositados com diferentes valores de polarização, estudando-se desta forma o efeito da polarização nas propriedades ópticas, eléctricas e fases cristalográficas. Os filmes finos de tungsténio foram depositados a polarizações que variaram entre -100V e +40V. Revestimentos depositados com polarização (-100V) apresentam reflectância menor que a dos filmes depositados sem polarização, provavelmente devido à elevada energia de bombardeamento e à destruição da superfície. Para polarizações intermédias, entre -20 e 0V, os filmes apresentam um aumento na reflexão devido ao alisamento da superfície. A deposição com polarização negativa promove a aceleração do plasma na direcção do filme. O bombardeamento promove a introdução de imperfeições na superfície do filme. Exp. W21 W22 W23 W24 W25 W20 W26 W27 Tabela 5.8: Efeito da polarização – “bias” na condutividade eléctrica e na reflexão Polarização Reflexão Resistividade (V) (%) (µΩcm) -100 36,6 122 -80 37,4 1039 -60 40,0 801 -40 38,1 868 -20 38,4 810 0 52,8 443 +20 38,4 1322 +40 38,3 1335 Os filmes depositados com polarização negativa (-100V) apresentam condutividade eléctrica menor que os filmes depositados sem polarização. Quando aplicamos voltagem negativa promovemos a destruição da Zona de Transição do modelo de Thornton [5.13]. Efeito da polarização negativa é similar a diminuir a pressão de trabalho, devido ao aumento do bombardeamento das partículas. 67 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados 5.1.5 Influência da temperatura Depositou-se uma série de revestimentos de tungsténio à temperatura de 200ºC. Com o estudo destes filmes finos pretendeu-se analisar qual o efeito da temperatura de deposição nas propriedades eléctricas, ópticas e superficiais. Os filmes de tungsténio depositados à temperatura ambiente têm melhor qualidade óptica que os filmes depositados a 200ºC. Este facto pode ser relacionado com a maior rugosidade dos filmes depositados com temperatura, como as imagens de AFM podem confirmar. Temperatura ambiente Temperatura = 200ºC Figura 5.6: Imagens de AFM de revestimentos metálicos de tungsténio depositados à pressão de 2Pa Tabela. 5.9: Efeito da temperatura na condutividade eléctrica e na reflectância Exp. W14 W17 W20 W29 W32 W35 W38 W41 Pressão (Pa) 1 1 2 2 3 3 4 4 Temperatura (ºC) TA 200 TA 200 TA 200 TA 200 Reflexão (%) 67.5 53.6 52.8 46.0 38.9 27.7 33.3 34.3 Resistividade (µΩcm) 174 218 443 618 1725 3911 2822 4567 TA: Temperatura Ambiente A deposição na presença de temperatura teve por efeito um aumento dos valores de resistividade (aproximadamente de 50%) 68 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados 5.1.6 Conclusões A condutividade eléctrica, a reflexão óptica, a fase cristalográfica e as propriedades de tensões dos revestimentos de tungsténio dependem da pressão de gás de pulverização, do tempo de deposição, da polarização (“bias”) e da temperatura de deposição. Os revestimentos de tungsténio produzidos a baixa pressão de árgon apresentam a fase β-W de não equilíbrio paralela à superfície do substrato, com uma orientação cristalográfica preferencial (200). 80 Condutividade eléctrica Reflectância 8 70 5 -1 Condutividade eléctrica [*10 (Ωm) ] 10 6 W + β-W 60 β-W 4 50 2 Compressão Compresão Tensão Reflexão (%) Amorfo 40 0 30 0 1 2 3 4 Pressão (Pa) Figura 5.7: Efeito da pressão de deposição nas propriedades eléctricas, ópticas e mecânicas Filmes depositados a pressões intermédias (2Pa) apresentam uma mistura de fases W com β-W, a condutividade eléctrica e os valores ópticos diminuem, e as tensões passam a ser de tensão. Os revestimentos produzidos a elevadas pressões de pulverização são praticamente amorfos, os valores da condutividade e a reflectância são muito baixos, a tensão e suavemente compressiva. 69 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados A deposição com polarização dá origem a revestimentos de tungsténio com os menores valores de condutividade eléctrica e reflexão óptica. As tensões intrínsecas dos revestimento são fortemente dependentes da pressão de gás de pulverização, variando de fortemente compressiva (-1.45x109N/m2) para pressões de gás inferiores a 1Pa, para fortemente tracção (1.44x109N/m2) para pressões de gás de deposição intermédias; e suavemente compressiva (0.73x109N/m2) para altas pressões de compressão. A reflexão óptica varia de 68 para 31% e a resistividade eléctrica de 26 para 3500µΩcm com a pressão de deposição e a espessura. 5.2 Revestimentos de óxido de tungsténio 5.2.1 Estudo das condições de deposição de revestimentos de óxido de tungsténio 5.2.1.1 Parâmetros de deposição e técnicas de caracterização de revestimentos utilizadas Os filmes de óxido de tungsténio foram depositados, por pulverização reactiva com magnetrão, em lamelas de vidro de microscópio com a dimensão 24x24x1,5mm3. Os revestimentos foram efectuados a diferentes temperaturas de deposição, tendo-se utilizado um alvo de tungsténio de elevada pureza (ver composição química no capítulo 3). A pulverização foi realizada em uma atmosfera de árgon com oxigénio. A pressão de trabalho foi de 1,3Pa em todas as experiências. No entanto, a pressão parcial de oxigénio variou entre 0,2 e 0,8 para diferentes experiências (de acordo com a equação 5.2.1). A pureza dos gases utilizados (Ar e O2) era superior a 99,99%. p (O 2 ) = P ( O 2 ) + PAr P (O 2 ) Eq. 5.2.1 Os substratos foram limpos com álcool e o alvo foi pré-pulverizado durante 15 a 20 minutos antes de cada deposição. Com este procedimento pretendeu-se eliminar possíveis contaminações do alvo e do substrato. 70 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados O cálculo da espessura dos filmes de óxido de tungsténio foi efectuado através do método sugerido por Swanepoel [5.14 – 5.15]. A taxa de deposição foi estimada através da espessura e do tempo de deposição. Realizaram-se estimativas da densidade, do índice de refracção e da banda óptica proibida dos revestimentos. Tabela 5.10: Parâmetros de deposição dos filmes finos de óxido de tungsténio 1,6 – 4,2 Pressão árgon (Pa) 1,8 – 6,4 Pressão oxigénio (Pa) Pressão parcial de oxigénio 0,2 – 0,8 (Pa) 11 – 60 Tempo de deposição (min.) 0 Polarização – “bias” (V) Distância alvo-substrato (cm) 6 TA e 200 Temperatura (ºC) 500 Potência (W) TA: Temperatura Ambiente Tabela 5.11: Técnicas de caracterização de revestimentos utilizadas Técnica Propriedades em estudo Difracção de Raios-X – DRX Espectroscopia de Foto-Electrões de Raios-x – XPS Microscópia Electrónica de Varrimento – SEM Método de Swanepoel – MS Espectroscopia de Transmissão Transdutor Laser – Determinação de Tensões Estrutura cristalina Elementos químicos presentes – ligações Estado superficial das amostras, secção transversal – espessura ne, Egopt, espessura Transmissão Tensões residuais 5.2.1.2 Estudo das propriedades estruturais e ópticas dos revestimentos de óxido de tungsténio A espessura dos filmes de óxido de tungsténio foi calculada através do MS, apresentando valores entre 360 e 570nm. A espessura de alguns dos revestimentos de óxido de tungsténio foi calculada por Microscopia Electrónica de Varrimento, tendo-se 71 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados verificado que os valores estavam em boa concordância com os valores obtidos pelo Método de Swanepoel. 2µ 2µ Figura 5.9: Imagem de Microscopia Electrónica de Varrimento de um revestimento de óxido de tungsténio Exp. 1WO 2WO 3WO 4WO 5WO 6WO 7WO 8WO 9WO 10WO 11WO 12WO Tabela 5.12: Condições de deposição, espessura e taxa de deposição dos filmes de óxido de tungsténio P(O2) P(Ar) p(O2) T Espessura Taxa de deposição (x10-1Pa) (x10-1Pa) 4,2 4,2 3,5 3,3 3,3 2,9 2,6 2,6 2,2 2,1 1,6 1,6 1,8 1,8 2,3 2,2 3,3 2,9 3,8 3,9 5,1 5,0 6,4 6,4 0.3 0.3 0.4 0.4 0.5 0.5 0.6 0.6 0.7 0.7 0.8 0.8 (ºC) (nm) (Å/min) TA 200 TA 200 TA 200 TA 200 TA 200 TA 200 431,5 438,9 459,7 478,7 357,8 535,0 515,0 570,6 355,4 448,2 471,1 362,4 30,8 31,4 20,9 28,2 16,3 17,8 12,3 13,6 7,1 8,0 6,4 5,6 TA: temperatura ambiente A taxa de deposição dos filmes foi estimada a partir da divisão da espessura pelo tempo de deposição, apresentando valores que variaram entre 5,6 e 31,4Å/minuto. 72 Taxa de deposição (nm/min) Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados 350 350 300 300 T=200ºC 250 250 200 200 150 150 Temp. ambiente 100 100 50 50 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 P(O2)/[P(O2)+P(Ar)] Figura 5.10: Variação da taxa de deposição com a pressão parcial de gás reactivo Como é possível observar na figura 5.10 os filmes depositados com elevada concentração de oxigénio na atmosfera de pulverização apresentaram baixas velocidades de deposição. A elevada concentração de gás reactivo origina a ocorrência de reacções na superfície do alvo, promovendo uma diminuição no número de elementos que alcançam o substrato. Na literatura este processo é, normalmente, referenciado como contaminação do alvo de deposição. A deposição de um elemento metálico é sempre superior à do seu óxido. As elevadas velocidades de deposição apresentadas pelos filmes depositados em atmosfera com baixo teor de gás reactivo estão associadas ao grande livre percurso médio dos elementos. O menor número de obstáculos entre o alvo e o substrato permite obter filmes mais espessos em tempos menores. O efeito da temperatura na taxa de deposição não é muito significativo, podendo no entanto afirmar-se que a temperatura favorece a taxa de deposição. Se pensar-mos em termos de produção industriais o ganho em velocidade de produção poderá não ser suficiente para justificar os gastos energéticos. Com o objectivo de verificar qual o efeito das condições de deposição na estrutura cristalina dos filmes de óxido de tungsténio realizaram-se análises de Difracção de Raio-X. A figura 5.11a) permite observar o espectro de XRD dos filmes de óxido de tungsténio depositados com baixa pressão parcial de oxigénio à temperatura ambiente e 200ºC. Os filmes apresentam uma fase amorfa de WO3, com picos característicos para valores de 2Ө de 25.96 º(001), 35.02º (021) e 53.80º (002). 73 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados a) Intensidade (u.a) TDep=Temp. ambiente WO3 (001) 1,0 WO3 (002) P(O2)=30% WO3 (021) 0,5 W 20O58 (106) P(O2)=70% 0,0 b) Intensidade (u.a.) 1,0 TDep=200 ºC WO3 (001) W 20O58 (106) W 20O58 {(125)(700)} W 20O58 (416) 0,5 WO3 (002) WO3 (021) P(O2)=70% 0,0 20 30 40 50 60 70 2 Theta Figura 5.11: Espectro de raios-x dos filmes de óxido de tungsténio O aumento da concentração de gás reactivo (pO2>0.5) origina uma alteração estrutural. Os filmes passam a apresentar uma mistura de fases, constituída por uma fase WO3 mais cristalina que coexiste com a nova fase W20O58 {(106), (125), (700)}, figura 5.11. Com o objectivo de determinar a concentração que impulsiona o aparecimento da nova fase (W20O58) determinou-se a intensidade relativa de cada pico relativamente ao pico mais intenso. A figura 5.12 apresenta a intensidade relativa de cada pico em função da pressão parcial de gás reactivo. Observa-se que à temperatura ambiente a curva (021) WO3 apresenta um mínimo para pO2~0,5-0,6, indicando uma alteração estrutural. Esta alteração é mais visível nos filmes depositados a 200ºC, onde a transição ocorre claramente para pO2=0,5. Para a pressão parcial de oxigénio igual a 0,5 a intensidade das curvas (106) W20O58 e {(125)/(700)} W20O58 aumenta significativamente, de um valor constante inferior a 50 para valores superiores a 60. 74 80 (106) W 20O58 70 60 (021) WO3 40 60 {(125) (700)} W 20O53 20 50 Intensidade relativa: T=200ºC Intensidade relativa: Temp. ambiente Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados 0 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 P(O2)/[P(O2)+P(Ar)] Figura 5.12: Intensidade relativa dos picos de difracção de raios-x Na figura 5.13 é possível observar o espectro de transmissão das amostras de óxido de tungsténio depositadas sob diferentes condições. Os revestimentos depositados com uma concentração de oxigénio inferior a 20% apresentam uma transmissão muito baixa, aproximadamente 20% para o comprimento de onda (λ) igual a 780nm. Os filmes com pressão parcial de oxigénio entre 0,3 e 0,8 apresentam uma transmissão média próxima de 80%. Este alto valor no intervalo visível do espectro electromagnético é devido à larga banda óptica proibida do WO3 (na tabela 5.13 apresentam-se valores experimentais). Para pO2 inferiores a 0,3 o valor da transmissão reduz-se significativamente devido à formação de tungsténio metálico nos filmes, como se pode observar no espectro de XPS, ver figura 5.14. Para pressões parciais superiores a 0,8 a pulverização não é possível devido ao excesso de oxigénio na atmosfera de pulverização. O efeito da temperatura nas propriedades ópticas não é muito significativo. Na tabela 5.13 é possível verificar que para um valor constante de oxigénio o valor de transmissão é aproximadamente igual, independentemente de a deposição ter sido efectuada na presença ou ausência de temperatura. 75 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados 100 80 T (%) 60 40 P(O2) = 60%; Tdep.=200ºC P(O2) = 60%; Temperatura ambiente P(O2) = 20%; Tdep.=200ºC 20 0 400 600 800 1000 1200 1400 Comprimento de onda (nm) Figura 5.13: Espectro de transmissão de filmes finos de óxido de tungsténio, depositados a diferentes condições 12000 12000 5 W 4d /2 WO3 10000 7 10000 Intensity (u.a.) 3 W 4d /2 Intensidade (u.a.) 4f /2 8000 8000 C 1s W W 5 7 4f /2 4f /2 6000 4000 2000 0 48 6000 46 44 42 40 Binding Energy / ev 4000 2000 0 400 350 300 250 200 150 100 50 0 Energia / ev Figura 5.14: Espectro de XPS do filme de óxido de tungsténio depositado à temperatura ambiente, para uma pressão de oxigénio de 30%. A partir do método proposto por Swanepoel (descrito anteriormente) é possível determinar o coeficiente de absorção (α). Para os semicondutores amorfos o coeficiente de absorção é dado pela seguinte expressão: 76 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados α ( hω ) = Β ( hω − Ε g ) 2 Eq. 5.2.2 hω onde Eg é a banda proibida. Conhecido o coeficiente de absorção é possível obter a banda óptica proibida de cada filme. Na figura 5.15a) é possível observar o comportamento da banda proibida em função da concentração de gás reactivo. A banda proibida diminui com o aumento da pressão parcial de oxigénio, apresentando um mínimo para pO2~0.5-0.6, aumentando de seguida, indicando uma mudança estrutural (este resultado pode ser relacionado com discussão realizada relativamente à figura 5.12). A transmissão (para o comprimento de onda de 750nm) é função da pressão parcial de oxigénio. A figura 5.15b) apresenta um mínimo para pO2~0.5-0.6, indicando a mudança estrutural visível nos filmes depositados com e sem temperatura. Os resultados da transmissão e a banda óptica proibida indicam que as propriedades dos filmes finos de óxido de tungsténio são maioritariamente controladas pela presença de uma fase deficiente em oxigénio. Tabela 5.13: Densidade, transmitância (%), índice de reflexão e banda proibida dos filmes de óxido de tungsténio obtidos Exp. P(O2) 1WO 2WO 3WO 4WO 5WO 6WO 7WO 8WO 9WO 10WO 11WO 12WO 0,3 0,3 0,4 0,4 0,5 0,5 0,6 0,6 0,7 0,7 0,8 0,8 T (ºC) TA 200 TA 200 TA 200 TA 200 TA 200 TA 200 Dens. (g/cm3) 6,5 6,5 6,2 6,1 6,2 6,2 6,1 6,5 6.1 6,2 6,1 6,8 T (%) 80,7 80,5 80,5 80.2 78,9 78,5 82,1 80,5 81,0 81,0 82,0 78,2 ne (a 750nm) 2,2 2,2 2,2 2,1 2,0 2,2 2,1 2,2 2,0 2,0 2,2 2,1 TA: Temperatura Ambiente 77 Egopt (B. o. p.) 228 3,13 3,13 3,09 3,05 3,09 3,03 2,91 3,09 2,94 3,13 2,94 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados Variação da T (%) Banda óptica proíbida 3,3 a) Temperatura ambiente 3,2 3,1 3,0 T=200ºC 2,9 83 82 b) Temp. ambiente λ =750nm 81 T=200ºC 80 79 78 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 P(O 2 ) / [P(O 2 )+P(Ar)] Figura 5.15: Efeito da pressão parcial de oxigénio na transmitânia e na banda óptica dos filmes de óxido de tungsténio A densidade dos filmes permanece aproximadamente constante com a variação das condições de deposição, apresentando valores coerentes com a bibliografia. O Método de Swoanepoel permite simular o comportamento do índice de refracção em função do comprimento de onda, como se pode observar no exemplo que se apresenta na figura 5.16. Foram simulados gráficos de variação de ne em função de λ para todos os filmes finos de óxido de tungsténio depositados em vidro. 2,25 Índice de refraxão (ne) 2,20 2,15 2,10 2,05 2,00 1,95 1,90 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 Comprimento de onda (nm) Figura 5.16: Variação do índice de refracção com o comprimento de onda, filme de WO3 depositado à pO2=0,7; T=200ºC 78 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados Com o objectivo de analisar o efeito da pressão parcial de oxigénio nas tensões residuais dos revestimentos de óxido de tungsténio efectuaram-se medidas do raio de curvatura dos revestimentos de óxido de tungsténio depositados em vidro. Os valores obtidos permitiram o cálculo da curvatura do conjunto revestimento / vidro, determinando-se de seguida (a partir da equação 4.8.3) o valor de tensão de cada revestimento. Os resultados indicam que os filmes depositados à pressão parcial de oxigénio de 0,7 apresentam tensões residuais muito baixas para todas as condições de deposição. Ou seja, a pressão parcial 0,7 foi estipulada como a pressão ideal de deposição. T em p. am biente; P =1.3P a T =200ºC ; P =1.3P a T =350ºC ; P =1.3P a T em peratura am biente; P =4.4P a 200 Tensão (MPa) 150 100 50 0 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 P (O 2 )/[P (O 2 )+P (A r)] Figura 5.17: Efeito da pressão parcial de oxigénio nas tensões residuais dos revestimentos de óxido de tungsténio 5.2.1.3 Conclusões Os estudos de difracção de raios-x mostram que para baixas concentrações de oxigénio (pO2≤0.5) os filmes dos óxidos depositados procuram oxigénio de forma a estabilizar a fase WO3. Para altas concentrações de oxigénio a nova fase W20O58 aumenta a sua presença, ver figura 5.12. 79 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados Os resultados da transmissão e da banda proibida indicam que as propriedades ópticas são maioritariamente controladas pela presença de uma fase deficiente em oxigénio. Os resultados mostram que para P (O2) <30% a transmissão é baixa (~50% para λ=780nm). Todavia, as amostras depositadas na presença de concentrações em oxigénio superior a 30% apresentam uma transmissão superior a 80%. Os parâmetros de deposição que permitiram obter as melhores propriedades ópticas e mecânicas foram alcançados para o filme fino 9WO (tabela 5.12), depositado com à pressão parcial de oxigénio de 5.1x10-1Pa. Tendo-se obtido uma taxa de deposição de 7.1 Å/min., com valores de tensões nulos. 5.2.2 Optimização das propriedades de revestimentos de óxido de tungsténio 5.2.2.1 Parâmetros de deposição e técnicas de caracterização de revestimentos utilizadas Com o objectivo de optimizar as propriedades dos filmes finos de óxido de tungsténio, depositaram-se revestimentos de WO3 em substratos de vidro revestidos com óxido de índio dopado com óxido estanho. O ITO é um material que permite a deposição de revestimentos finos transparentes. A baixa resistividade eléctrica deste material é uma propriedade importante, pois permite a sua utilização como eléctrodo em dispositivos opto-electrónicos. Os revestimentos de óxido de tungsténio foram realizados à pressão parcial de oxigénio (pO2) de 0,7, pois como foi estudado no capítulo 5.2.1 a este valor corresponderam os filmes finos com menores tensões residuais e com elevados valores de transmissão. A pressão de deposição foi de 1.3Pa, em todas as experiências. Os substratos de vidro revestido a ITO foram adquiridos à empresa Delta Technologies, Limited, apresentando a dimensão 25x75x1,1mm3, a resistividade superficial compreendida entre 30 e 60Ω e a espessura de revestimento de 350Å. A temperatura de deposição seleccionada foi a ambiente, pois para além dos bons resultados obtidos anteriormente, a não utilização de uma fonte de calor externa representa um ganho ao nível do processamento industrial. 80 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados Tabela 5.14: Parâmetros de deposição dos filmes finos de óxido de tungsténio depositados em substratos de vidro + ITO 0,22 Pressão árgon (Pa) 0,51 Pressão oxigénio (Pa) Pressão parcial de oxigénio 0,7 (pO2) 60 Tempo de deposição (min.) -60, 0 e +60 Polarização – “bias” (V) Distância alvo-substrato (cm) 6 TA Temperatura (ºC) 500 Potência (W) TA: Temperatura Ambiente Tabela 5.15: Técnicas de caracterização de revestimentos utilizadas Técnica Propriedades em estudo Difracção de Raios-X – DRX Microscopia de Força Atómica – AFM Espectroscopia de Reflexão e Transmissão Estrutura cristalina Superfície da amostra Reflexão e Transmissão 5.2.2.2 Resultados experimentais Com o objectivo de optimizar as condições de deposição dos revestimentos de óxido de tungsténio, depositaram-se filmes finos em que se variou a polarização aplicada aos substratos. Os resultados obtidos têm por objectivo a análise de efeito da polarização nas propriedades ópticas, cristalográficas e superficiais dos revestimentos obtidos, numa perspectiva de optimização das propriedades. 5.2.2.2.1 Revestimentos de óxido de tungsténio depositados com polarização positiva Nas imagens a e b da figura 5.18 é possível observar o espectro de transmissão do substrato de vidro revestido a ITO, antes e após a deposição do revestimento de óxido de tungsténio. Os conjuntos vidro + ITO apresentam valores de transmissão superiores a 85%, na região visível do espectro electromagnético, antes da deposição do 81 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados revestimento de óxido de tungsténio. Após a deposição do revestimento de WO3 o valor médio de transmissão obtido é de aproximadamente 80%. Na figura 5.18d), obtida por AFM, é possível observar o efeito do bombardeamento da superfície com iões negativos. A superfície é muito irregular, devido ao crescimento colunar dos filmes. A altura das colunas é e aproximadamente 20nm, enquanto que o espancamento é de 0,1µm. a) b) 100 80 80 60 60 T (%) T (%) 100 40 20 40 20 ITO 0 300 450 600 750 900 1050 1200 1350 ITO + WO3 0 300 1500 Comprimento de onda (nm) 450 600 750 900 1050 1200 1350 1500 Comprimento de onda (nm) Espectro de transmissão do substrato de vidro revestido com ITO Espectro de transmissão do substrato de vidro revestido com ITO e óxido de tungsténio ) X:0,200µm/div.; Z:15,000nm/div. Intensidade (u.a.) 1600 1200 Polarização - bias = + 6 0 V Temperatura ambiente (0 0 1 ) W O 3 d) (222) ITO [441] ITO 800 (0 2 1) W O 3 (6 2 2) ITO 400 (4 0 0) ITO 0 20 30 (0 0 2) W O 3 40 50 60 70 80 2 theta c) Curva de DRX do conjunto: Imagem de AFM do conjunto: Vidro + ITO + WO3 Vidro + ITO + WO3 Figura 5.18: Revestimento de óxido de tungsténio depositado em substrato de vidro revestido a ITO, com uma polarização (“bias”) de +60V. O bombardeamento com electrões da superfície fornece energia aos átomos já depositados, o que permite que estes possam difundir-se de forma a ocupar posições 82 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados cristalinas. Estes filmes são os mais cristalinos, como se pode observar no espectro de XRD da figura 5.18c). O espectro de difracção de raios-x evidencia a maior cristalinidade deste revestimento (menor largura dos picos) quando comparada com os revestimentos depositados com polarização negativa e ausência de polarização aplicada. A maior cristalinidade destes filmes pode ser relacionada com a redução de regiões deficientes em oxigénio. 5.2.2.2.2 Revestimentos de óxido de tungsténio depositados com polarização negativa O bombardeamento do filme em crescimento com iões positivos, ou seja quando se aplica uma polarização negativa ao conjunto vidro/ITO durante a deposição, promove a destruição da estrutura colunar, favorecendo a densificação e o “alisamento” dos revestimentos obtidos [5.16]. Os resultados de difracção de raios-x demonstram que este tipo de bombardeamento induz a amorfização dos filmes finos de óxido de tungsténio, quando comparados com os revestimentos depositados com polarização positiva ou nula. No espectro de XRD da figura 5.19c) apenas é possível identificar picos referentes ao ITO (222), (400), [441] e (622). O efeito do bombardeamento com electrões ou com iões não é muito significativo nas propriedades ópticas dos revestimentos obtidos. O comportamento de transmissão é similar para os diferentes valores de polarização do substrato, apresentado valores próximos de 80%, na zona visível do espectro electromagnético. O elevado valor de transmissão destes revestimentos pode ser associado aos valores da banda óptica proibida do WO3. No entanto, os revestimentos depositados com polarização positiva, ou seja bombardeamento negativo, exibem uma transmissão ligeiramente menor para comprimentos de onda na gama dos 400nm. Este facto é uma evidência de que a banda óptica proibida diminuiu ligeiramente para os filmes depositados com polarização positiva. 83 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados a) b) 100 80 80 60 60 T (%) T (%) 100 40 40 20 20 ITO 0 300 450 600 750 900 1050 1200 1350 ITO + WO3 0 300 1500 450 600 750 900 1050 1200 1350 1500 Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm) Espectro de transmissão do substrato de vidro revestido com ITO Espectro de transmissão do substrato de vidro revestido com ITO e óxido de tungsténio X:0,200µm/div.; Z:15,000nm/div. Intensidade (u.a.) 800 600 d) Polarização - Bias=-60V Temperatura ambiente (222) ITO (400) ITO (6 2 2) ITO 400 200 [441] ITO 0 20 30 40 50 2 theta 60 70 80 c) Curva de DRX do conjunto: Imagem de AFM do conjunto: Vidro + ITO + WO3 Vidro + ITO + WO3 Figura 5.19: Revestimento de óxido de tungsténio depositado em substrato de vidro revestido a ITO, com uma polarização (“bias”) de -60V. 5.2.2.2.3 Revestimentos de óxido de tungsténio depositados na ausência de polarização Os valores de transmissão são idênticos aos obtidos para os revestimentos depositados com polarização positiva e negativa. No entanto, o revestimento apresenta uma fase mais amorfa (relativamente aos filmes finos obtidos por deposição com polarização positiva), como se pode observar no espectro de XRD. A superfície foi inspeccionada por Microscopia de Força Atómica, apresentando uma rugosidade muito inferior à dos revestimentos depositados com polarização positiva. No entanto, superior aos filmes pulverizados com polarização negativa. 84 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados a) 100 80 80 60 60 T (%) T (%) b) 100 40 40 20 20 ITO 0 300 450 600 750 900 1050 1200 1350 ITO + WO3 0 300 1500 450 600 750 900 1050 1200 1350 Espectro de transmissão do substrato de vidro revestido com ITO Espectro de transmissão do substrato de vidro revestido com ITO e óxido de tungsténio X:0,200µm/div.; Z:15,000nm/div. 900 (2 2 2) In 2 Sn 2 O 7-x 1500 Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm) Polarização - Bias=0V d) Intensidade (u.a.) 750 600 (4 0 0) I n 2S n 2O 7-x 450 300 150 0 20 30 40 50 2 theta 60 70 80 c) Curva de DRX do conjunto: Imagem de AFM do conjunto: Vidro + ITO + WO3 Vidro + ITO + WO3 Figura 5.20: Revestimento de óxido de tungsténio depositado em substrato de vidro revestido a ITO, com uma polarização (“bias”) de 0V. 5.2.2.3 Conclusões As propriedades ópticas dos revestimentos de WO3 depositados em substratos de vidro + ITO dependem da presença de regiões deficientes em oxigénio. Nos filmes depositados a diferentes potenciais de polarização, os resultados de Microscopia de Força Atómica e de Difracção de Raios-x indicam que o bombardeamento com electrões favorece a cristalinidade, enquanto que o bombardeamento com iões favorece a amorfização dos filmes finos de óxido de tungsténio. 85 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados 5.2.3 Testes de electrocromismo 5.2.3.1 Introdução O electrocromismo é definido como uma alteração óptica reversível de um material com “ausência” de cor em um estado “colorado”, ou em um estado intermédio, através da inserção (ou remoção) de iões e electrões devido à aplicação de voltagem. A aplicação de potencial entre os dois eléctrodos resulta numa corrente eléctrica, a qual corresponde ao transporte de espécies do electrólito para o filme fino de óxido de tungsténio (redução) ou vice-versa (oxidação). Este transporte resulta numa alteração nas propriedades ópticas do óxido de tungsténio, a redução leva à coloração, e a oxidação leva ao branqueamento. Os testes electrocrómicos permitem verificar a eficiência de coloração de um dispositivo electrocrómico. Para a realização deste tipo de testes, é necessário introduzir o dispositivo a testar numa célula electrocrómica (ver figura 5.22), a qual contêm no seu interior um electrólito com iões. Os electrólitos mais utilizados para a realização de testes de electrocromismo são de H+ e Li+, no entanto também têm vindo a ser estudados eléctrodos de Na+[5.17]. K. Koseki no artigo “Liquid membrane electrolyte for electrochromic Windows”, publicado da revista Solid State Ionis [5.18] apresenta uma membrana electrolítica líquida (LME), a qual consiste em uma solução electrolítica porosa. A solução contém iões condutores, protões e catiões de lítio. A membrana é estável electroquimicamente e tem uma porosidade superior a 30%. Segundo o referido artigo, os resultados experimentais permitem concluir que é possível obter aparelhos electrocrómicos transparentes e estáveis para grandes áreas com a seguinte constituição: vidro/(MoWO3) / LME / NiO / ITO / vidro. Na literatura podem encontrar-se outras soluções em que todas as camadas que constituem o dispositivo electrocrómico se apresentam no estado sólido, nomeadamente: SnO2 / Poly(BAn) / PMMPS / WO3 / SnO2, ITO / Poly(PAn) / PEO / WO3 / ITO, ITO / Poly(An) / PEI / WO3-MO3 / ITO e ITO / Poly(An) / MPEGM-PEGD / WO3 / ITO. 86 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados A estabilidade química e electroquímica, a elevada condutividade iónica, elevada transparência e baixa difusão de luz e facilidade de preparação da célula são os mais importantes parâmetros de uma solução electrolítica. 5.2.3.2 Procedimento experimental Os testes de electrocromismo foram realizados no Laboratório de Física de Filmes Finos da Universidade de Barcelona, em Espanha. Efectuaram-se testes em que se estudou a quantidade de carga eléctrica (Q) transferida por área durante um ciclo, tendo-se relacionado os resultados obtidos com o registo automático da variação da transmissão da luz em função do comprimento de onda (entre 350 e 800nm). O dispositivo de teste utilizado tem a seguinte configuração: ITO / óxido de tungsténio / electrólito / eléctrodo. O electrólito utilizado no presente trabalho é composto por 0,1M de H3PO4 em água bi-destilada. O contra-eléctrodo utilizado foi uma folha de platina e o eléctrodo de referência foi de Ag/AgCl. Os filmes de óxido de tungsténio utilizados no presente estudo foram depositados em substratos de vidro revestidos com ITO (ver capitulo 5.2.2.1). Na figura 5.22 apresenta-se uma representação esquemática do conjunto vidro/ITO/WO3 na célula electrocrómica de teste. + LUZ Contra-eléctrodo de platina Eléctrodo de referência WO3 em ITO/vidro Electrólito Figura 5.22: Representação esquemática da célula electrocrómica utilizada 87 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados Depositaram-se três conjuntos vidro/ITO/WO3 em que se mantiveram constantes as condições de deposição (ver tabela 5.16), apenas variando a polarização aplicada ao substrato vidro/ITO (ver tabela 5.17) durante a deposição do revestimento de óxido de tungsténio. As condições de deposição dos revestimentos testados nesta fase do trabalho são o resultado da compilação dos melhores resultados obtidos. Tabela 5.16: Compilação dos melhores resultados experimentais obtidos para os filmes finos de óxido de tungsténio P(Ar) P(O2) P(O2) T 2.2 x10-1Pa 5.1 x10-1Pa 0,7 Ambiente A densidade teórica do óxido 3 de tungsténio e 6.35g/cm . Espessura Taxa de deposição Fases Densidade Transmissão Ne Banda óptica proibida Tensões 354,4nm 7,1 Å/min WO3 e W20O58 6.1g/cm3 81% 2,0 3.09 ~0MPa Tabela 5.17: Condições de deposição das amostras em que se realizaram testes electroquímicos Exp. Polarização – “Bias” (V) 1ITOWO3A 2ITOWO3B 3ITOWO3C -60 +60 0 5.2.3.3 Apresentação e discussão de resultados A transferência de carga durante os ensaios electrocrómicos foi determinada por integração da densidade de corrente. Na figura 5.23 é possível observar a evolução da quantidade de carga eléctrica transferida por unidade de área, durante um ciclo. O valor máximo de carga transferida por unidade de área é utilizado para avaliar a eficiência de coloração das amostras. A alteração de coloração da camada de óxido de tungsténio, medida experimentalmente, indica a introdução de iões H+ no sistema multicamada vidro/ITO/WO3. A passagem de um estado “branqueado” para um estado “azul” leva a 88 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados que ocorra uma diminuição da transmissão na ordem dos 90% após a intercalação de iões de H+. Os resultados experimentais apresentados na figura 5.23, em que se apresenta a variação da eficiência de coloração em função do comprimento de onda na gama visível do espectro electromagnético, demonstram uma eficiência de 12,5 cm2/C, valores associados à camada de óxido de tungsténio. Para a realização dos ensaios utilizou-se uma rampa de 10mV/s. -6 0 V 2 Eficiência de Coloração (cm /C) 15 0V +60V 10 5 0 400 500 600 700 800 C om prim ento de onda (nm ) Figura 5.23: Eficiência de coloração em função do comprimento de onda O valor máximo alcançado para a transferência de carga foi obtido para o tempo de teste de aproximadamente dois minutos e trinta segundos. Esse valor máximo é devido à eficiência de coloração das amostras em teste. O sistema multicamada vidro/ITO/WO3 com maior densidade de carga (superior a 30mC/cm2) corresponde ao processo de deposição sem polarização aplicada (“Bias”=0V), ver figura 5.24. M. Denesuk e D. R. Uhlmann no artigo “The influence of the intercalate species on the quasi-static electrochromic behaviour of tungsten-oxide-based devices” concluem que a intercalação de iões de H+ e Li+ no revestimento de óxido de tungsténio leva a uma expansão do filme fino, o que como resultado leva à ocorrência de tensões mecânicas [5.17]. Ainda segundo os autores anteriormente referenciados, existem três factores que contribuem para a variação do potencial de um dispositivo electrocrómico: a entropia dos iões de inserção (ou seja o número de possíveis arranjos); o efeito da própria 89 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados intercalação (como por exemplo a existência de tensões); e finalmente, a intercalação mútua entre as espécies “intercaladoras”. 0 2 Q (mC/cm ) -1 0 -6 0 V -2 0 +60 V 0V -3 0 0 50 100 150 200 250 300 T e m p o (s e g u n d o s ) Figura 5.24: Variação da transferência de carga durante o ensaio electrocrómico Os revestimentos de óxido de tungsténio depositados na presença de polarização negativa apresentam o melhor valor para a eficiência de coloração, para um valor de quantidade de carga transferida menor. Este resultado pode ser relacionado com o estado amorfo e de maior densidade deste tipo de revestimento, ver capitulo 5.2.2.2.2. 5.3 Revestimentos de óxido de índio dopado com óxido de estanho 5.3.1 Parâmetros de deposição e técnicas de caracterização de revestimentos utilizadas Os filmes finos de óxido de índio dopado com óxido de estanho (ITO) foram depositados por pulverização catódica assistida com magnetrão, tendo-se utilizado para o efeito a câmara de deposição descrita no capítulo 2. A pulverização é uma das técnicas de deposição mais utilizadas, podendo-se encontrar na literatura especializada trabalhos científicos em que se utilizam diversas variantes deste processo de revestir ITO, nomeadamente d.c. reactivo e não reactivo, r.f. e magnetrão. Utilizou-se um alvo circular de ITO da “GooFellow” com 99,99% de pureza, espessura de três milímetros e dez centímetros de diâmetro. O gás inerte de pulverização 90 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados utilizado foi árgon. Efectuaram-se alguns revestimentos em atmosfera reactiva, com oxigénio. Os revestimentos foram depositados em lâminas de vidro com a dimensão de 27x75x1,1mm3. Os substratos foram limpos com álcool e o alvo pré-pulverizado durante 30 minutos antes de cada deposição. Nos primeiros testes utilizou-se um tempo de limpeza do alvo inferior a 20 minutos, no entanto, esse tempo veio a mostrar-se insuficiente, pois os resultados das propriedades eléctricas não eram satisfatórios (valores de resistências muito elevados). Os estudos dos filmes finos de ITO, apresentados neste texto, visam uma aplicação específica, eléctrodos em dispositivos multicamadas com comportamento electrocrómico. As análises efectuadas foram direccionadas para as propriedades ópticas e eléctricas, em detrimento de outras, nomeadamente estruturais. A espessura dos revestimentos foi verificada por microscopia electrónica de varrimento, e as fases presentes estudadas por difracção de raios-x. Na tabela 5.18 encontram-se descriminados os parâmetros de deposição utilizados na produção dos revestimentos de ITO. Tabela 5.18: Parâmetros de deposição dos filmes finos de ITO, sem a presença de oxigénio na atmosfera de pulverização Pressão (Pa) Tempo (min.) Polarização – “bias” (V) Distância alvo-substrato (cm) Temperatura (ºC) Tensão de deposição (V) 0,06 – 0,8 0,5 – 5 -90 – +20 60 Temperatura ambiente 390 – 445 Tabela 5.19 Técnicas de caracterização de revestimentos utilizadas Técnica Propriedades em estudo Espectroscopia de Transmissão Medição da Resistividade – Sistema de Quatro Pontas – 4PP Microscopia Electrónica de Varrimento – SEM Difracção de Raios-X – DRX Transmissão Resistência superficial 91 Estado superficial das amostras, secção transversal – espessura Estrutura cristalina Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados Quando se pretende produzir revestimentos com óxidos torna-se necessário ter em atenção a necessidade de encontrar o melhor compromisso entre o aumento da transmissão de luz e a deterioração das propriedades eléctricas. Esse compromisso tem relação directa com as características intrínsecas à generalidade dos materiais, em que se torna necessário encontrar a melhor relação entre a perfeita condução eléctrica e a completa transparência da luz visível. Na literatura existe uma forma simples de avaliar o compromisso entre as propriedades eléctricas e as ópticas. A Figura de Mérito, FM, corresponde ao cociente entre a Transmissão, T, e a Resistência da Folha, Rf [5.19]. FM = T Rf Eq. 5.3.1 Alguns autores determinam o valor da figura de mérito a partir a média aritmética da transmissão para um determinado comprimento de onda. Neste trabalho optei por calcular o valor da figura de mérito a partir da média aritmética dos valores da transmissão para toda a gama visível do espectro electromagnético. 5.3.2 Influência da pressão de deposição Depositou-se uma série de filmes finos de ITO com o objectivo de estudar o efeito da pressão de deposição nas propriedades ópticas e eléctricas. Todos os revestimentos foram depositados à temperatura ambiente, apresentando uma estrutura amorfa. Na figura 5.25 é possível observar o espectro de difracção de raios-x típico dos revestimentos de ITO produzidos por pulverização. Os filmes finos apresentam a estrutura In2Sn2O7-x de acordo com a ficha 39-1058 da Powder Diffraction File. 92 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados Intensidade (u.a.) 700 In2Sn2O7-x (222) d=2.95 600 (400) d=2.550 500 400 300 20 30 40 50 60 70 2 theta Figura 5.25: Espectro tipo de DRX dos revestimentos de ITO Na tabela 5.20 apresentam-se os parâmetros de deposição dos revestimentos de ITO produzidos por pulverização. A tabela 5.19 é uma síntese dos resultados obtidos para as propriedades ópticas e eléctricas dos filmes finos de ITO como resultado da variação da pressão de deposição. Tabela 5.20: Parâmetros de deposição Pressão inicial < 0,001Pa Pressão de deposição 0,06 – 0,8 Pa Tensão de deposição 400V Corrente de deposição 0,25A Polarização – “Bias” 0V Pressão de oxigénio 0Pa Tempo de deposição 5min. Exp. 1ITO2304 1ITO2204 2ITO1604 1ITO2404 2ITO2404 Tabela 5.21: Efeito da pressão de deposição nas propriedades ópticas e eléctricas P Espessura Taxa deposição Rf (Pa) (nm) (nm/s) (Ω) T (%) FM 0,8 0,3 0,1 0,08 0,06 46,0 58,6 76,4 76,1 78,0 0,1 1,4 6,6 7,1 8,7 250 200 170 120 0,83 0,67 0,57 0,41 0,06 é a menor pressão possível 93 324,8 41,5 11,6 10,7 9,0 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados A diminuição da pressão de deposição leva a uma diminuição da resistência superficial e a da taxa de deposição. Este facto deve-se a que elevadas pressões de gás de pulverização provocam um aumento na probabilidade de ocorrência de colisões entre o material pulverizado e o gás residual, o que origina uma diminuição da energia e da probabilidade do átomo pulverizado se condensar no substrato. Os resultados evidenciam que a menor pressão de deposição possível, 0,06Pa, permite obter o revestimento com melhor qualidade óptica e eléctrica, consultar tabela 5.21. Todavia, torna-se necessário manter uma pressão residual de árgon de forma a manter a descarga eléctrica de pulverização. Com a diminuição da pressão de deposição de 0,3 para 0,06 Pascal assistimos a uma diminuição da taxa de deposição na ordem dos 50%. No entanto, a transmissão aumenta aproximadamente 40% e a resistência superficial diminui substancialmente, o que conduz a um aumento do valor da figura de mérito de 0,1 para 8,7. A deposição a pressões elevadas leva a que os iões de pulverização sofram inúmeras colisões, diminuindo desta forma a sua energia o que inibe a posterior emissão de electrões secundários em quantidade substancial. Os electrões secundários são responsáveis pela ionização do gás de pulverização. A utilização de uma elevada pressão de deposição leva a uma perda da energia das partículas ejectadas pelo alvo, o que pode levar à termalização. A termalização deve-se ao facto de os átomos ao atingirem o substrato não possuírem energia suficiente para provocarem uma boa adesão ao filme fino em crescimento. A utilização de pressões de deposição reduzidas permite às partículas emitidas pelo alvo atravessarem o espaço inter-eléctrodos sem que ocorra uma perda significativa de energia nem de direcção. Na figura 5.26 é possível observar a evolução da Figura de Mérito com a diminuição da pressão de deposição. Os valores da FM aumentam significativamente com a diminuição da pressão de deposição, o que evidencia a existência de um bom compromisso entre as propriedades eléctricas e ópticas. 94 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados 350 8 Resistencia (Ohm) Figura de Mérito 10 6 4 2 300 250 200 150 100 50 0 0 0 0,2 0,4 0,6 0,8 0 1 0,2 0,4 0,6 0,8 1 Pressao (Pa) Pressão (Pa) Figura 5.26: Efeito da pressão de deposição nas propriedades dos revestimentos obtidos. Existem diversos trabalhos científicos em que se depositaram filmes finos de ITO com temperatura, tipicamente entre 150 e 500ºC. No presente trabalho não se aplicou temperatura durante a deposição pois o objectivo do estudo destes revestimentos condutores e transparentes passa pela aplicação pretendida, eléctrodos para sistemas multicamadas com comportamento electrocrómico. A aplicação de temperatura não iria ser oportuna quando estivéssemos a revestir a última camada-eléctrodo do sistema electrocrómico. No entanto, a aplicação de temperatura incrementaria, segundo a literatura, a cristalinidade e o tamanho de grão, provocando simultaneamente uma diminuição na densidade de defeitos. 5.3.3 Influência da polarização do substrato O objectivo da polarização negativa do substrato é o de permitir o bombardeamento iónico do substrato e/ou do revestimento em crescimento. A aplicação de polarização negativa ao substrato permite obter revestimentos com elevada pureza. A maior pureza dos filmes finos deve-se à re-pulverização dos átomos que se encontram fracamente ligados, o que leva a uma melhoria nas propriedades ópticas e eléctricas dos revestimentos produzidos. No entanto, o valor a aplicar tem limites, torna-se necessário ter em atenção o facto de que no limite a taxa de re-pulverização não pode ser superior à taxa de crescimento do filme. Na tabela 5.23 apresentam-se os parâmetros de deposição dos revestimentos de ITO produzidos por pulverização. A tabela 5.24 é uma síntese dos resultados obtidos 95 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados para as propriedades ópticas e eléctricas dos filmes finos de ITO como resultado da variação da polarização do substrato. Tabela 5.23: Parâmetros de deposição Pressão inicial < 0,001Pa Pressão de deposição 0,06Pa Tensão de deposição 400V Corrente de deposição 0,25ª Polarização – “Bias” -90 – +20 V Pressão de oxigénio 0Pa Tempo de deposição 5min. Tabela 5.24: Efeito da polarização do substrato nas propriedades ópticas e eléctricas Exp. “Bias” (V) Rf(Ω) T (%) FM 2ITO0205 -90 17,9 82,0 4,6 1ITO3004 -60 7,9 74,8 9,5 1ITO0205 -30 8,5 2ITO2404 0 9,0 78,0 8,7 2ITO3004 +20 9,2 75,9 8,3 O efeito da aplicação de diferentes valores de polarização (“bias”) não é substancialmente significativo nas propriedades ópticas dos revestimentos produzidos. Segundo a literatura a taxa de deposição aumenta para polarizações que variam entre +20 e -60V, apresentando de seguida uma diminuição. O aumento da taxa de deposição deve-se provavelmente a uma atracção do material pulverizado que se encontra no plasma e carregado positivamente. Com o aumento da polarização para valores sucessivamente negativos verificase uma diminuição da taxa de deposição, a qual poderá dever-se a uma re-pulverização do material depositado no substrato. 96 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados Resistência (Ohm)) Figura de Mérito 10 8 6 4 2 0 -100 -75 -50 -25 0 25 50 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 -100 -75 -50 -25 0 25 50 Polarização - "Bias" (V) Polarização - "Bias" (V) Figura 5.27: Efeito da polarização nas propriedades dos revestimentos obtidos Os valores da resistência obtidos para os filmes finos diminuem progressivamente com a passagem de polarização positiva para negativa e com a diminuição para valores mais negativos, atingindo-se o valor mínimo nos -60V. Os resultados de difracção de raios-X, figura 5.25, revelam a estrutura cúbica de corpo centrado com a orientação preferencial (222) e (400). Alguns autores afirmam que a orientação (400) esta associada a elevadas temperaturas do substrato ou a elevadas energias de deposição [5.20] Os resultados de raios-X permitiram também verificar que a intensidade do pico (400) diminui com o aumento do valor da polarização negativa, o que evidencia que o filme tende a apresentar a orientação preferência (222) com a diminuição do valor da polarização. A utilização de polarização tem alguns inconvenientes, nomeadamente: a diminuição da velocidade de deposição, devido à re-pulverização do revestimento; bem como a possibilidade de incorporação de iões de gás de descarga por implantação na estrutura do revestimento. 5.3.4 Influência da tensão de pulverização Na tabela 5.25 apresentam-se os parâmetros de deposição dos revestimentos de ITO em que se fez variar a tensão de deposição. A tabela 5.23 apresenta uma compilação das propriedades ópticas e eléctricas dos filmes finos produzidos por pulverização. 97 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados Tabela 5.25: Parâmetros de deposição Pressão inicial Pressão de deposição Tensão de deposição Corrente de deposição Polarização – “Bias” Pressão de oxigénio Tempo de deposição < 0,001Pa 0,06Pa 390 – 445V 0,25A -60V 0Pa 5min. Tabela 5.26: Efeito da tensão de pulverização nas propriedades ópticas e eléctricas Exp. Tensão (V) Rf(Ω) T (%) FM 1ITO0705 390 9,9 74,9 7,6 1ITO3004 400 7,9 74,8 9,6 1ITO0805 415 6,8 74,4 10,9 1ITO0905 430 5,7 69,0 12,1 1ITO1205 445 8,6 73,7 8,5 O valor da figura de mérito aumenta de 7,6 para 12,1 com o aumento da tensão de deposição de 390 para 430V. O aumento da tensão é acompanhado por um aumento da taxa de deposição, devido ao aumento do número de iões que bombardeiam o alvo. Para valores de tensão de polarização superiores a 430V o valor da FM diminui significativamente, devido ao aumento da resistência superficial. 14 12 Resistência (Ohm)) Figura de Mérito 12 10 8 6 4 2 0 380 400 420 440 9 6 3 0 380 460 Tensão de deposição (V) 400 420 440 Tensão de deposição (V) Figura 5.28: Efeito da polarização nas propriedades ópticas e eléctricas 98 460 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados 5.3.5 Influência do tempo de deposição As propriedades eléctricas e ópticas são dependentes da espessura dos revestimentos. Esta dependência pode dever-se à presença de uma camada oxidada na superfície do filme fino, aumento da mobilidade devido ao aumento do tamanho de grão, alteração da orientação preferencial da cristalinidade [5.21] Tabela 5.27: Parâmetros de deposição Pressão inicial < 0,001Pa Pressão de deposição 0,06Pa Tensão de deposição 430V Corrente de deposição 0,25ª Polarização – “Bias” -60V Pressão de oxigénio 0Pa Tempo de deposição 0,5 – 5min. Tabela 5.28: Efeito do tempo de deposição nas propriedades ópticas e eléctricas Exp. Tempo (min.) Rf(Ω) T (%) 1ITO0905 5 5,7 69,0 1ITO1305 4 26,7 76,0 2ITO1305 2 22,4 83,8 1ITO1405 1 41,7 86,2 1ITO1505 0,75 50,3 85,8 2ITO1405 0,5 120,6 87,7 FM 12,1 2,8 3,7 2,1 1,7 0,7 Com a diminuição do tempo de deposição, ou seja da espessura do revestimento, verifica-se um aumento dos valores da resistência superficial dos revestimentos obtidos. Os revestimentos de ITO são transparentes na região visível e próxima do infravermelho. A transmissão nestas zonas é limitada por diversos factores, nomeadamente: (1) perdas de reflexão (que incluem a componente especular e difusa), que se devem principalmente á rugosidade superficial e que aumentam com a espessura; (2) absorção no revestimento, a qual se deve principalmente aos portadores livres; (3) variações na transmissão, que dependem da espessura do filme [5.22]. 99 14 140 12 120 Resistência (Ohm)) Figura de Mérito Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados 10 8 6 4 2 0 100 80 60 40 20 0 0 2 4 6 0 Tempo (minutos) 2 4 6 Tempo (minutos) Figura 5.30: Efeito do tempo de deposição nas propriedades ópticas e eléctricas O aumento da espessura dos revestimentos conduz a uma diminuição da resistência superficial e da transmissão. O melhor compromisso entre as propriedades ópticas e eléctricas é alcançado para o tempo de deposição máximo (5 minutos). No entanto, é de notar o baixo valor de transmissão apresentado pelo revestimento exp.1ITO0905. 5.3.6 Influencia da utilização de gás reactivo Na tabela 5.29 apresentam os parâmetros de deposição dos revestimentos de ITO em que se fez variar a pressão de gás reactivo. Na tabela 5.30 apresenta-se a compilação das propriedades ópticas e eléctricas dos filmes finos produzidos por pulverização. Tabela 5.29: Parâmetros de deposição Pressão inicial < 0,001Pa Pressão de deposição 0,06Pa Tensão de deposição 430V Corrente de deposição 0,25A Polarização – “Bias” -60V Pressão de oxigénio 0,0055-0,0066Pa Tempo de deposição 5min. 100 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados Exp. 1ITO0905 1ITO1605 2ITO1505 Tabela 5.30: Efeito da utilização de gás reactivo nas propriedades ópticas e eléctricas Pressão O2 (Pa) Pressão dep. (Pa) Rf(Ω) T (%) 0 0,06 5,7 69,0 0,0055 0,06 69,5 77,6 0,0066 0,06 107,5 77,7 FM 12,1 1,1 0,72 O aumento da resistência superficial dos revestimentos de ITO depositados na presença de oxigénio sugere a possibilidade de ocorrer a incorporação de posições intersticiais por parte de átomos de oxigénio, o que poderá conduzir a uma diminuição da condução eléctrica dos filmes finos. Os resultados de XRD indicam que a presença de oxigénio promove a orientação preferencial (222). A razão I(222)/(400) aumenta significativamente com a adição de gás reactivo. O crescimento cristalino segundo o plano cristalográfico (400) pode associar-se há existência de tensões devido à deficiência de oxigénio [5.23]. O crescimento segundo a orientação (222) pode explicar-se devido á redução de lacunas [5.23]. 5.3.7 Conclusões O estudo das condições de deposição dos filmes finos de ITO teve por objectivo a determinação do revestimento com o melhor compromisso entre as propriedades ópticas e eléctricas. O primeiro passo consistiu na análise do efeito da pressão de deposição na FM. O melhor resultado foi alcançado para a deposição realizada à pressão de deposição de 0,06Pa (FM=8,7). A aplicação de polarização permitiu alcançar um valor para a Figura de Mérito superior (9,5), o que foi atingido para a polarização negativa de 60V. Depositaram-se alguns revestimentos a diferentes valores de tensão de deposição, tendo-se alcançado o melhor valor de FM (12,1) para a tensão de 430V. A deposição na presença de gás reactivo permitiu melhorar substancialmente as propriedades ópticas, provavelmente, porque ocorreu simultaneamente uma diminuição na espessura dos revestimentos obtidos. No entanto, os resultados da resistência deterioraram-se, o que se manifestou por uma diminuição drástica no valor da FM. 101 Capítulo 5 – Apresentação e Discussão de Resultados Referências [5.1] C. J. Smithells, Metals Reference Book, Interscience, London (1945). [5.2] Y. G. Shen, Y. W. Mai, Q. C. Zhang, D. R. 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