Durante o período agitado que vai desde a revolução preparada e desencadeada
pelos políticos «liberais» e pelas influências estrangeiras, em 24 de Agosto de
1820, até o ano de 1834, não é para admirar que o movimento literário se ressentisse consoante as oscilações que sofria o País.
Logicamente que tudo quanto se passava no Continente do Reino tinha imediata
projecção no Arquipélago da Madeira, onde os revoltosos contavam com muitos
elementos. Assim como se Verificou no período dos Capitães Donatários
constituíram-se três «Cortes» em miniatura, onde se imitavam os serões e
costumes do Paço Real, em Lisboa, com os seus Poetas, os seus gostos e
tendências medievais, também vamos deparar no Funchal com um modesto
simulacro da Academia Real das Ciências, de Lisboa, nesse núcleo que se denominou «Sociedade Funchalense dos Amigos das Ciências e Artes», que foi o
principal elemento que trabalhou para a implantação dos princípios da rebelião
de 1820, na Madeira. O Arquipélago da Madeira manifestou a sua adesão ao
movimento revoltoso em 28 de Janeiro de 1821.
Em 23 de Agosto de 1822 os «liberais» madeirenses quiseram celebrar
pomposamente o primeiro aniversário do triunfo da sua rebelião. A «Sociedade
Funchalense dos Amigos das Ciências e das Artes» organizou para isso uma
sessão solene no Palácio do Governo, onde foram lidas algumas produções
poéticas de Vários sócios, assim como quatro «memórias» e muitos discursos
laudatórios da «regeneração». Numa maçuda e enfatuada arenga, o Secretário da
Sociedade, o Snr. Francisco Ferreira de Abreu, historiou a fundação e
desenvolvimento daquela agremiação «literária e política». E a propósito, dizia
tratar-se de «uma Sociedade literária constituída nesta Província, cujas bases
fossem a propagação das luzes, a perfeição moral e o impulso à sua
prosperidade...».
Fazia o Snr. Francisco Ferreira de Abreu uma grande confusão dos fins da
Sociedade Funchalense dos Amigos das Ciências e das Artes, como se pode
deduzir do seu discurso, publicado no número 125 do «Patriota Funchalense», do
dia 27 de Setembro de 1822 e metia a sua «erudição» filosófica de mistura com
os «princípios dos direitos do homem», com as glórias históricas, com a
civilização da Grécia e de Roma, com os «génios privilegiados», com as Musas e
só, talvez por acanhamento, não terá ido buscar o «Supremo Arquitecto do Universo...».
Eram 28 os Sócios efectivos e 24 os honorários desta Sociedade.
Diz o Dr. Rodrigues de Azevedo nas suas «Anotações» às «Saudades da Terra»
que «não era casual esta numeracão», pois que simbolizava o dia 28 de Janeiro
História Literária Da Madeira
de 1821 - que foi quando a revolta do Porto foi secundada na Madeira - e o dia 24
de Agosto de 1820, data do movimento revoltoso do Porto.
O Dr. Rodrigues de Azevedo tem interessantes e valiosos elementos nos seus
estudos, para a História Literária da Madeira, mas é lamentável que se deixe
empolgar pelo seu facciosismo político e anti-religioso, a ponto de sacrificar a
verdade histórica.
Assim ele condena o período que vai de 1820 a 1834 e na página 798 das
«Anotações» às «Saudades da Terra» diz, em referência a essa época, que «as
letras fugiram espavoridas»!
Mas logo a seguir é forçado a confessar que «neste período foi instituída a Escola
Lancastriana na cidade do Funchal e pelo Governador D. Manuel de Portugal e
Castro suprimida uma das antigas Escolas de Primeiras Letras, aplicando o respectivo ordenado para a aula de francês e inglês que, em substituição dessa,
criou».
E ainda, num desabafo que contradiz a primeira afirmação feita sob a influência
do seu facciosismo, acrescenta que «nisto se cifram as providências de ensino
público tomadas para este Arquipélago naqueles atribulados catorze anos - de
1820 a 1834».
As atribulações certamente não eram para todos, pois que o Reino de Portugal
escolhera livremente a orientação que mais lhe convinha e só a agitação
provocada pelo Imperador Dom Pedro I.° do Brasil, impelido é certo pela política
da Inglaterra e da França e de um modo geral pelo poder então omnipotente da
Maçonaria, dominante em quase todo o inundo, trazia à vida portuguesa a crise
que foi agravando até se desencadear a guerra civil.
O Dr. Rodrigues de Azevedo fecha os seus comentários com este critério:
«felizmente, porém, tremulava invencível nas Ilhas dos Açores o pendão da
liberdade e lá mesmo, nos anos de 1851 e 1852, entre as incertezas e perigos da
guerra, o Governo da Regência lançava, impávido e intemerato, as bases da
regeneração política do País, sem esquecer as da Instrução Pública.»
Este rasgo faccioso é de uma flagrante falta de lógica e de verdade histórica,
como dos próprios comentários do autor se pode concluir.
Não é pois uma afirmação do investigador de assuntos e de figuras da História,
mas o grito raivoso de um obcecado.
Como argumento a desmentir a afirmação do Escritor, de que «as letras fugiram
espavoridas neste período» está indicada uma revista da série magnífica de
História Literária Da Madeira
Escritores Intelectuais que aparecem no Arquipélago da Madeira como uma
demonstração irrefutável do revigoramento espiritual.
Comecemos por registar o aparecimento no Funchal de três novos géneros
literários, tal como aconteceu no Continente.
É, talvez, a influência francesa que se manifesta nessas modalidades literárias.
Temos assim o Jornalismo, os Panfletos Políticos e a Verborrea Parlamentar,
onde os literatos se entretêm, quando não se «engalfinham»...
As convulsões políticas, que se sucedem, atingem fundamenteme a Vida nacional
e influem, como é lógico, no movimento literário.
A adesão do Arquipélago da Madeira à revolta do Porto, em 1821, demonstra
qual era o espírito dos intelectuais insulanos, pois que o movimento
revolucionário do Funchal foi obra deles.
Vê-se também que na «Sociedade Funchalense dos Amigos das Ciências e das
Artes» havia os números simbólicos dos seus sócios, em homenagem às datas da
revolta do Porto e à adesão da Madeira. Muitos desses sócios eram, certamente,
figuras notáveis do intelectualismo da sua época, mas muitos não teriam, sem
dúvida, sequer uma leve ideia do que fosse a vida intelectual...
Até à revolta do Porto, em 1820, não havia Jornalismo no Arquipélago da
Madeira. Com a adesão dos madeirenses ao movimento «liberal» veio o
entusiasmo dos Jornais e das tipografias.
Assim, em 2 de Julho de 1821, o Dr. Nicolau Caetano de Bettencourt Pita
iniciava a publicação do «Patriota Funchalense» que tem as honras de ser o
primeiro periódico que apareceu na Madeira.
A tipografia Veio de Lisboa acompanhando-a o tipógrafo Alexandre Gervásio
Ferreira que foi o mestre inicial e que exerceu durante anos a sua arte
profissional. O «Patriota Funchalense» era bi-semanal e dele saíram 214
números.
Em 1823, a 17 de Fevereiro, o Padre João Crisóstomo Spínola de Macedo
apareceu com o segundo jornal publicado no Funchal e que tinha o título de «O
Pregador Imparcial da Verdade, da Justiça e da Lei», que tinha como Editor o Tipógrafo Alexandre Gervásio Ferreira. Deste jornal saíram 34 números.
Temos depois novo periódico: «A Atalaia da Liberdade» com o Morgado
Diogo de Ornelas e Vasconcelos como Director. Era semanário e iniciou a
publicação em 24 de Abril de 1823, tendo saído apenas 6 números.
História Literária Da Madeira
O Tipógrafo Inácio dos Santos Abreu publicou, em 27 de Abril de 1823, «O
Regedor» que suspende após nove números, em 15 de Junho desse ano,
reaparecendo em 1828 mas apenas com um mês de vida. Em 3 de Fevereiro de
1827 sai o primeiro número do «Funchalense Liberal» publicando-se até 26 de
Maio de 1828».
«A flor do Oceano» sai em 1828, sob a égide do Juiz de Fora. Dr. Mota e Silva,
Sérvulo Drumond de Menezes e Dr. João de Bettencourt. A tipografia deste
novo periódico era no próprio Palácio do Governo.
Vem ainda «O Defensor da Liberdade» de que saíram 96 números e que
suspende a publicação em 26 de Abril de 1828. Este periódico tinha como
Director Alexandre Luís da Cunha saindo da tipografia de Inácio Santos
Abreu. Em 14 de Fevereiro de 1828 aparece o bi-semanário «O Regedor Filho»
que se publica até 24 de Maio de 1828 saindo apenas 24 números. Ao terminar a
sua publicação anunciava como seu continuador um novo semanário, «O
Periódico da Madeira» que nunca apareceu.
No ano de 1829 publicou-se um único diário que se dominava «O Realista»,
órgão do nacionalismo português no Arquipélago. Desta revista sobre o
movimento jornalístico madeirense verifica-se que, de 1820 a 1829, houve na
Madeira nove jornais e quatro tipografias.
O Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo comentando o governo nacional de El-Rei o
senhor Dom Miguel I.° lamentava que as publicações «liberais» não pudessem
prosseguir na sua obra subversiva: - «as publicações periódicas que faziam gemer
os prelos nacionais tinham por modelos «A tripa Virada» e «Besta Esfolada»
com que a pena viperina do Padre José Agostinho de Macedo, em termos tão
rasteiros e furibundos como os rótulos das suas folhas, insultava os liberais
oprimidos e concitava os cegos ódios dos opressores». Sempre o parcialismo
faccioso a orientar as críticas que por isso fogem à verdade...
A chamada Monarquia Liberal, imposta em 1854 pelas forças do Imperador do
Brasil era mais propriamente uma Republica Coroada, porque além de ser obra
estrangeira em nada se relacionava com a tradição nacional.
Sobre a evolução no que respeita à instrução pública e na Literatura de Portugal
Constitucional largamente se ocupou o eminente Escritor D. António da Costa.
No que se relaciona com p Arquipélago da Madeira, a Instrução Pública iniciou
neste período a série interminável das «reformas» e «modificações». Ainda a
Regência se encontrava nos Açores e já no Funchal acatavam as suas
deliberações em matéria de educação. Em 1836 o Funchal foi dotado com um
Liceu Nacional. Por sua Vez a Associação Comercial, fundada em 1837,
organizou um «Gabinete de Leitura».
História Literária Da Madeira
No ano de 1838 começa a funcionar a Escola Médico-Cirúgica do Funchal. Em 7
de Maio de 1841 é inaugurada a Biblioteca Municipal, mantida pela Câmara do
Funchal.
No Arquipélago regista-se o mesmo embate, que se deu no Continente, entre os
derradeiros discípulos da Escola Clássica Francesa e do gosto Arcádiobocageano com a nova corrente do Romantismo, que já então se estendia a toda a
Europa.
Os Escritores liberais, no regresso do exílio, trouxeram o gérmen das tendências
da nova Escola. O ultra-romantismo, importado de França, alarga a sua esfera de
influência entre nós.
Depois vem o período filosófico, levemente tocado de simpatias nacionalistas e
místicas, a equilibrar a vida literária que ia pesando mais para o lado do
ecletismo romântico-clássico.
O Jornalismo, eivado do pior vírus político, agita os ódios e as paixões
injustificáveis. A corrente literária na Madeira sente, como é lógico, estas
influências e vai acompanhando o movimento intelectual da época.
Os Escritores madeirenses multiplicam-se em número e diminuem em qualidade.
Cultivam os vários géneros literários esforçando-se por se notabilizarem, mas
nunca conseguindo aquela aura que se registou com o famoso «ciclo Poético da
Madeira».
O Jornalismo é a modalidade que mais atrai, especialmente no sector político.
De um modo geral, quer na prosa quer na poesia, aparecem, de facto, alguns bons
Valores que se distinguem e merecem um devido realce.
Dr. Luís António Jardim - Nasceu no Funchal em 1780. Formou-se em Direito
na Universidade de Coimbra e foi eleito Deputado pela Madeira em 1822. Foi
autor de um volume de 122 páginas, que publicou com o título de «Parabéns
Poético-Políticos».
Publicou também um outro Volume onde reuniu alguns sonetos.
Não era destituído de mérito, se bem que enfermasse das pechas da sua época.
Foi sócio da «Sociedade Funchalense dos Amigos das Ciências e das Artes» e
morreu em Fevereiro de 1825.
Francisco de Paula de Medina e Vasconcelos - era um revolucionário
entusiasta, admirador e prosélito dos filósofos do século XVIII.
História Literária Da Madeira
Nasceu no Funchal em 20 de Novembro de 1768. Matriculou-se na Universidade
de Coimbra, mas em consequência das suas actividades políticas e do seu
revolucionarismo foi preso em 1790 e dezoito meses mais tarde expulso da
Universidade tendo de sair, para sempre, de Coimbra. Em 1792 regressou ao
Funchal e passou a desempenhar o cargo de Tabelião.
Como voltasse às actividades revolucionárias, foi de novo preso e condenado a
oito anos de degredo em Cabo Verde. Em 1823 seguia, a cumprir a pena a que foi
condenado, na Ilha de Santiago, tendo morrido no desterro em 1824. Perdia-se
assim um dos mais distintos e fulgurantes Poetas da sua época. Em 1806 tinha
publicado Francisco de Paula de Medina e Vasconcelos um Poema-épico «Zargueida», editado em Lisboa. Depois publicou em Londres, em 1819, outro
Poema-épico: «Georgeida».
Inocêncio dá no seu Dicionário Bibliográfico um grande relevo a este Poeta
madeirense, mencionando várias das suas produções poéticas, como «.Prazeres
de Luíza».
Notabilizou-se especialmente como Poeta-lírico.
Pela devassa de 1823, que o condenou ao degredo, averiguou-se que «estava
filiado na maçonaria e tomava parte nos seus trabalhos». «A condenação foi
resultante das injúrias e palavras ofensivas que dirigiu contra o Trono e contra as
Pessoas Reais».
A crítica de Inocêncio diz que o Poeta Medina de Vasconcelos, «como Poetalírico pertenceu à escola francesa, sendo os seus versos, em geral, sonoros e bem
fabricados, não lhes faltando naturalidade. Procurou embocar a tuba épica, mas
Vê-se que esta empresa era muito superior ao seu talento e por isso nos dois
ensaios, que naquele género compôs, não conseguiu jamais elevar-se, além da
mediocridade. Há, contudo, em um e outro, episódios que não deslustram a sua
musa e que se podem ler com gosto».
Inocêncio ao citar os dois ensaios refere-se evidentemente à «Zargueida» e à
«Georgeida». O primeiro destes poemas épicos está dentro das formas clássicas
da antiga epopeia.
O Poeta, que escolheu o Verso em oitava rima, dividiu o trabalho em dez contos.
O tema é a descoberta da Madeira pelo Capitão João Gonçalves Zarco. Relata
com fantasia poética os episódios do descobrimento e explora a lenda de
Machim. Dedica a obra ao insigne Poeta Bocage, num belo soneto. Bocage, por
sua vez, agradece-lhe em Verso a amabilidade.
Medina de Vasconcelos merece a admiração a que o seu talento dá direito.
História Literária Da Madeira
Soneto
de Francisco Paula de Medina e Vasconcelos
Nutrindo mil lembranças lisongeiras,
feito lúgubre imagem do segredo,
sentado neste rústico penedo
solitário, gastei noites inteiras.
Nos cumes destas penhas sobranceiras
ao mar, que lava em roda este rochedo,
ouvi mil Vezes, triste, mudo e quedo,
piar nocturnas aves agoureiras...
Então, aqui o vago pensamento,
de instante a instante, rápido fugia
para aquela que causa o meu tormento
Assim da noite as horas consumia,
aflitos «ais» lançando ao surdo vento,
até que amanhecesse o claro dia...
Cónego Dr. Naziazeno de Medina e Vasconelos - nasceu no Funchal no ano
de 1787 e era irmão do Poeta Medina de Vasconcelos. Foi assanhado político
«liberal», Escritor distinto e particularmente um notável jornalista.
A sua prosa era muito característica: cheia de personalidade, forte, incisiva.
Nas Cortes, onde foi como Deputado, deu provas da sua erudição e em especial
das notáveis qualidades de orador.
Dr. Manuel Caetano Pimenta de Aguiar - pode bem ser considerado como o
percursor do grande Almeida Garrett na criação do Teatro Nacional. No seu
estilo regista-se uma elegância característica de frase.
Escreveu diversas tragédias, que lhe deram merecido renome e que puseram em
destaque as suas privilegiadas qualidades de Dramaturgo. Levado pela sedução
da Escola francesa foi dentro dela que Pimenta de Aguiar compôs as suas peças
teatrais. Fez os estudos preparatórios em Lisboa, no Colégio dos Nobres, e de aí
foi para Paris onde cursou Ciências e Artes.
Ainda não tinha vinte e cinco anos e já andava envolvido nas lutas políticas e nos
riscos das revoltas que, saindo da França, iam abalar o Velho mundo.
Incorporou-se nas forças francesas onde deu tais provas de heroísmo que
História Literária Da Madeira
ascendeu ao posto de capitão e foi condecorado com a Cruz da Legião de Honra.
Em 1816 abandonava a Vida aventurosa da guerra para regressar a Portugal.
Publicou então a tragédia «Virgínia». Em quatro anos, isto é, de 1816 a 1820,
publicou: «Os dois Irmãos inimigos», «D. João I», «Arraia», «Destruição de
Jerusalém», «D. Sebastião em África», «Conquista do Peru», «Eudoxia
Luciana», «Morte de Sócrates» e «Caracter de Lusitanos».
Após esta extraordinária e intensiva actividade de produção literária resolveu
descansar. No entanto, embora não publicasse mais obras, nunca abandonou a
paixão literária, que o dominava.
As suas peças são em Verso e é exactamente onde Pimenta de Aguiar se revela
notável Poeta de altos méritos. Foi um estilista inteligente e original. Nasceu no
Funchal em 16 de Maio de 1765 e faleceu em Lisboa no dia 19 de Fevereiro de
1852.
Inocêncio da Silva refere-se com justo elogio a este insigne Escritor, que foi um
dos mais notáveis do País nesse período em que aparece uma magnífica plêiade
de intelectuais.
No dizer de Inocêncio, não era Pimenta de Aguiar espontâneo no diálogo. O Dr.
Rodrigues de Azevedo consagrou a este Escritor as mais justas homenagens,
salientando o Valor, a inteligência e a vastíssima cultura que possuia Pimenta de
Aguiar.
O Escritor francês Ferdinand Denis, no capítulo XXXIII do seu livro: «Resume
de 1'Histoire Litteraire du Portugal» faz a Pimenta de Aguiar as mais lisonjeiras
referências numa crítica justamente elogiosa.
José Anselmo Correia Henriques - possuía vasta cultura intelectual e literária
servida por inteligência viva.
Frequentou o Colégio dos Nobres e seguiu, mais tarde, a carreira diplomática,
representando Portugal em Hamburgo e Bremen. Viajou muito e instruiu-se.
Pelos diversos pontos do mundo, por onde ia passando, publicava os seus livros.
Inocêncio menciona a sua Bibliografia.
As obras mais notáveis que publicou Correia Henriques são: «Revolução de
Portugal», «Escola de Escândalo», «A Padeira de Aljubarrota» «Perodama» e
«Obras Poéticas».
História Literária Da Madeira
Este escritor cultivou vários géneros literários mas especialmente a tragédia, a
comédia e o poema herói-cómico. Traduziu também do alemão «Arte da
Guerra».
Nasceu na Ribeira Brava, Ilha da Madeira em 1777, sendo de nobre ascendência,
irmão do I.° Visconde de Torre-Bela e pai do 1.° Conde de Seixal. Dedicou-se
ainda ao jornalismo político e fundou em Londres, no ano de 1821, um periódico
que denominou «O Zorragar das Cortes-Novas».
Joaquim de Oliveira Álvares - foi uma figura muito original e complexa.
Nasceu na Madeira em 1776 e formou-se em Filosofia e Matemática na
Universidade de Coimbra.
Foi oficial da marinha de guerra portuguesa, dando como tal, grandes provas de
valor e aptidão.
Em 1800, estando ao serviço de fiscalização da Costa do Algarve teve de travar
combate com um barco francês que fazia contrabando e portou-se com tanta
valentia que o Governo o propôs para ser promovido ao posto imediato por
distinção.
No ano de 1804 aparece como Capitão de Artilharia dos Voluntários de S. Paulo,
no Brasil. Fez a guerra contra Montevideu tendo tido a glória de derrotar as
forças do famoso general Artigas, em 1816. Como recompensa deste feito e
homenagem aos seus actos de bravura, foi promovido ao posto de Marechal de
Campo.
Mais tarde acompanhou o Príncipe D. Pedro na política de separação, tendo sido
chamado para Ministro da Guerra do Império do Brasil.
Esteve na Inglaterra no desempenho de importantes missões diplomáticas e
encontrava-se em Londres quando herdou uma enorme fortuna que entregou
integralmente ao Governo Brasileiro para pagar os grandes encargos que tinha
então de enfrentar. O Marechal Oliveira Álvares era muito culto e a sua prosa era
fácil, espontânea e elegante
Publicou um valioso trabalho que foi um estudo sobre a «Estatística do Brasil».
Encontrava-se em França, no desempenho de importante missão, quando a morte
o surpreendeu em 1855.
Luís José Baiardo - nasceu na Madeira em 30 de Abril de 1775. Foi Escritor
dramático e Escrivão do Juízo Eclesiástico do Funchal. Traduziu várias peças
História Literária Da Madeira
teatrais, adaptando algumas ao nosso teatro. Inocêncio da Silva cita no
Dicionário Bibliográfico este curioso Escritor mencionando várias obras da sua
autoria.
Teve Luís José Baiardo encarniçada polémica com c Governador, Capitão
General da Madeira, Sebastião Botelho, contra quem se desagravou com um livro
que intitulou «História Verdadeira dos acontecimentos da Ilha da Madeira». A
obra apareceu em 1821. Mais tarde foi para Lisboa, onde faleceu.
João Agostinho Pereira d'Agrela e Camará - era um dos 28 sócios efectivos
da Sociedade Funchalense dos Amigos das Ciências e das Artes. Descendia
daquele Fernão Álvaro de Agrela, de Alenquer, que em 1480 veio para a Madeira
e a quem Manuel Tomás alude na «Insulana». Nasceu no Funchal em 1777 e
desempenhou o cargo de Escrivão da Câmara.
Possuía uma vastíssima erudição e a ele deveu o Dr. Álvaro Rodrigues de
Azevedo as facilidades para a publicação das suas Valiosas e interessantes
«Anotações às Saudades da Terra», em 1873.
Era João Agostinho Pereira de Agrela e Câmara um «liberal» fanático, e em
consequência das suas actividades subversivas esteve preso, em 1829, sendo
transferido do Funchal para a Cadeia do Limoeiro, em Lisboa, onde permaneceu
até 1832, regressando somente à Madeira em 1854.
Toda a sua Vida se dedicou aos estudos literários e históricos e muito em especial
às investigações genealógicas. Deixou um maravilhoso «Nobiliário Madeirense»
que ainda é considerado como o melhor e mais bem organizado trabalho deste
género de quantos existem no Arquipélago.
Essa obra foi dividida pelo Autor em quatro tomos.
Pouco viveu após o seu regresso ao Funchal, pois faleceu em Fevereiro de 1855.
Diz o «Dicionário Popular» que João Agostinho Pereira de Agrela e Câmara «era
homem muito lido e grande investigador de antiguidades; escreveu uma colecção
de memórias genealógicas que existem, inéditas, em cinco grossos volumes, em
poder dos seus herdeiros, que trata de todas as famílias nobres que passaram à
Ilha da Madeira e suas gerações com bastantes curiosidades relativas a algumas
delas. Esta obra revela aturado estudo e um espírito curioso e uma crítica esclarecida, sendo certamente a mais expurgada de erros e a mais desenvolvida que
se encontra neste ramo de História daquela Ilha».
Comparando o que diz o Dicionário Popular com o testemunho do Dr. Rodrigues
História Literária Da Madeira
de Azevedo, que foi amigo íntimo de João Agostinho Pereira de Agrela e
Câmara, e que nas «Anotações às Saudades da Terra» diz, na página 799, que se
dedicou exclusivamente aos estudos literários e históricos e em especial aos
genealógicos, chegando a coleccionar a melhor livraria que em seu tempo houve
na Ilha da Madeira, e deixando escrito de seu punho um Nobiliário Madeirense
em quatro tomos de fólio, que é tido pelo mais completo e exacto e que existe em
poder do Snr. Pedro Agostinho Pereira de Agrela e Câmara, a quem devemos
estas notícias, filho primogénito do Autor», chega-se à conclusão de que apenas
existe uma divergência no que respeita ao número de tomos. Ou ter-se-ia perdido
o 5.° tomo? Das investigações a que procedi, tanto no Arquivo Distrital do
Funchal como junto da família Bettencourt da Câmara, que teve ligações de
amizade e parentesco com o genealogista e com seu filho, a quem se refere o Dr.
Rodrigues de Azevedo, não consegui averiguar do paradeiro ou da existência
desse 5.° tomo. Não encontrei vestígios a tal respeito. João Agostinho Pereira de
Agrela e Câmara foi, sem dúvida, um homem extraordinariamente culto e
sabedor, escrevendo com elegância e até com certa ironia. Prejudicou-o sempre,
afectando os seus estudos históricos, a paixão política da época, que lhe acarretou
graves consequências. Era fino e de trato agradável. Não se compreende bem
como homem tão culto e versado na ciência da história, abraçou a corrente
política, que não tinha ligação com a tradição nacional.
Padre Caetano Alberto de Abreu Soares - nasceu no Porto da Cruz, Ilha da
Madeira, em 23 de Maio de 1790 e Veio a morrer, naturalizado brasileiro, em 28
de Fevereiro de 1867. Cursou o Seminário do Funchal e tomou ordens. Foi
depois formar-se em Direito na Universidade de Coimbra, onde começou a
brilhar pela sua inteligência verdadeiramente notável, distinguindo-se como
espírito vivo e sabedor, qualidades que na Madeira ninguém lhe reconhecera!
Em 1826 foi eleito Deputado às Cortes pela Madeira e fixou então residência em
Lisboa, abandonando a advocacia e a Cadeira de Latinidade no Funchal. Com a
queda dos primeiros governos «liberais», em 1828, o P. Caetano Alberto Soares,
que se tinha evidenciado como revolucionário esturrado, foi para o Brasil onde
renegou a sua naturalidade portuguesa, passando a ser brasileiro.
Ascendeu na sua nova Pátria a cargos importantes chegando a ser nomeado
Advogado da Casa Imperial do Brasil. Dos seus numerosos trabalhos somente
ficou impressa a «Memória» que este Escritor apresentou no Instituto dos
Advogados, de que foi Presidente.
Tendo deixado a vida eclesiástica procurou somente notabilizar-se como
Advogado, não tendo atingido a meta das suas aspirações porque lhe adveio a
cegueira que o impediu de ocupar aquele lugar proeminente ao qual o talento e a
sua inteligência davam direito.
História Literária Da Madeira
Cónego Jerónimo Álvares da Silva Pinheiro - foi Vigário da Freguesia de
Santana e um orador sagrado muito notável. Abraçou com entusiasmo o
movimento «liberal» tornando-se um grande propagandista revolucionário. Esta
casta de clérigos aparece na vida do Arquipélago mais repetidamente que no
Continente do Reino. Deve ter sido uma consequência da propaganda intensiva
da maçonaria que actuou até mesmo nos meios onde a lógica era que não
tivessem ambiente os princípios anti-católicos.
Este Cónego Silva Pinheiro deve ter pertencido às Sociedades Secretas, que
prepararam a revolta «liberal». Basta seguir os artigos que ele escrevia no
«Patriota Funchalense», com o pseudónimo de «Estrela do Norte», para se
concluir isso. No entanto notabilizou-se com as altas qualidades de Jornalista hábil e vigoroso.
Já em 1795, sendo Cónego da Sé do Funchal, havia indícios das suas ligações
políticas com os irreverentes adversários do Governo.
O facto de desempenhar altos cargos e de ser Governador do Bispado não alterou
a sua orientação.
Tão abertamente se manifestou ao lado dos revolucionários que acabou por ir
parar à prisão, tendo-se provado plenamente as suas actividades subversivas que
ele desenvolvia mesmo dentro do meio eclesiástico. Facilitaram-lhe contudo a
fuga para o Brasil de onde o Cónego Silva Pinheiro só regressou, depois do
triunfo do constitucionalismo, em 1837.
Era natural da Calheta, Ilha da Madeira, onde nasceu em 1770, tendo falecido no
Funchal, com 91 anos, no dia 4 de Julho de 1861.
Doutor José Manuel da Veiga - nasceu no dia 18 de Outubro de 1794, no
Funchal. Em 1816 matriculou-se na Faculdade de Cânones na Universidade de
Coimbra, onde se evidenciou como um dos mais fulgurantes espíritos de entre os
que frequentavam então o curso. As provas foram tão brilhantes que conquistou o
primeiro prémio. Em 1822 recebeu o Capelo, indo então reger cadeira na
Universidade.
Pelo seu talento e pelos seus profundos conhecimentos, sendo ainda estudante já
privava com os Lentes que ouviam e consideravam as suas opiniões.
Ordenou-se sendo ainda estudante da Universidade mas não seguiu a vida
eclesiástica.
A tese que apresentou para o doutoramento e que se intitulava t Memória sobre o
celibato eclesiástico» causou escândalo, tendo sido apreendida a obra. Mais tarde
dedicou-se à advocacia, em Lisboa, tendo-se notabilizado no foro.
História Literária Da Madeira
Em 1837 apareceu publicado o seu grande trabalho - o «Código Penal da Nação
Portuguesa».
Em 1866, já depois do seu falecimento, apareceu a segunda edição da sua tese de
doutoramento. Tinha 65 anos quando faleceu em Lisboa, em 1859.
Inocêncio da Silva, no «Dicionário Bibliográfico» refere-se ao Doutor José
Manuel da Veiga e cita entre outros trabalhos literários deste ilustre Escritor
madeirense - «Projecto do Código Penal», «Alegadas Forenses» e um ensaio
trágico «Medéa».
O Dr. Rodrigues de Azevedo escreveu textualmente - «da família de Manuel
Caetano Pimenta de Aguiar sabemos que ele se queixava de que Veiga se desse
por Autor desta «Medéa», a qual ele Aguiar dizia ser obra sua».
Manuel de Sant`nna e de Vasconcelos - nasceu no Funchal em 1798 e
faleceu em Fevereiro de 1851. Era homem culto e possuía grandes qualidades de
Escritor.
Em 1855 publicou um estudo, que intitulou «Clamor aos Madeirenses» sendo o
tema as consequências graves que Vinham dos pesados tributos saídos da Lei
Constitucional de 23 de Julho de 1834.
Em 1846 publicou uma obra, que tem hoje grande Valor histórico, e que se
denomina «História do Proselitismo anti-Católico exercido na Ilha da Madeira
pelo Dr. Robert Reid Kalley, médico escocês, desde 1838 até hoje».
Este relato ocupa-se de um grave conflito entre portugueses católicos e ingleses,
ocorrido no Funchal.
Em 12 de Outubro de 1831 desembarcou no Funchal, entre tanto estrangeiro que
arriba à Madeira, o súbdito britânico Dr. Robert Reid Kalley. Sentiu-se bem no
ambiente e tratou logo de se instalar na Min. Era sem dúvida um médico distinto
e dotado de uma inteligência fora do vulgar.
Possuía o dom da palavra e a arte de entusiasmar as multidões. Começou por
cultivar as simpatias populares exercendo clínica gratuitamente.
Depois a política diplomática inglesa fez com que as autoridades portuguesas
reconhecessem e louvassem os serviços prestados à população madeirense pelo
Dr. Kalley. A pouco e pouco ele passa da categoria de benemérito à de propagandista anti-católico e anti-português, sem que houvesse quem saísse a tolher-lhe as
actividades.
História Literária Da Madeira
Em 1845 o Dr. Kalley intensificou a propaganda protestante com tamanhos
ultrages contra a Religião católica e contra a Fé do Povo madeirense que
provocou protestos que rapidamente se avolumaram tomando tal importância que
se desenhou a luta, com aspectos graves, entre os Católicos e os prosélitos do Dr.
Kalley, por ele instigados.
Residia o propagandista britânico numa quinta magnífica no Vale Formoso,
então arrabalde do Funchal. Era ali também a sede da organização protestante. Os
agravos e as provocações dirigidas pelo Dr. Kalley contra o catolicismo e contra
os portugueses foram tão violentos e chegaram a tal extremo que em 9 de Agosto
de 1846, em pleno dia, a Quinta do Vale Formoso foi cercada por populares que
arrombaram as portas e assaltaram a propriedade, procurando o Dr. Robert
Kalley com o fim de o lincharem. Parece que o atrevido propagandista fora
prevenido a tempo de escapar a uma morte certa e se refugiou em casa de outro
inglês, de onde passou para bordo de um barco surto no porto do Funchal.
Disfarçou-se em velha inglesa e para tal vestiu-se de mulher, arrancou os dentes
incisivos e meteu-se numa rede e assim escapou à fúria popular, aliás
amplamente justificada. Era por essa época Governador da Madeira Valentim de
Freitas Leal Moniz Telles de Meneses e de Vasconcelos, a quem foi dado o título
de I.° Visconde do Porto da Cruz, e que neste incidente grave se houve com
inteligência e tacto político.
O Governo Inglês exigiu 1.574 libras esterlinas a título de indemnização pelos
prejuízos alegados pelo Dr. Kalley.
Como éramos o país mais fraco e ainda combalidos pela guerra civil recente
tivemos de nos curvar ao direito da força e pagar aquele ouro!
Não se consideravam os danos causados à vida portuguesa pela acção subversiva
e abusiva do Dr. Robert Reid Kalley!
E no entanto os prejuízos originados pelas campanhas políticas e religiosas do
Dr. Kalley eram bem evidentes! Foi este acontecimento que serviu de tema para a
obra de Manuel de Sant`nna e de Vasconcelos, obra que tem, além do Valor
literário, o valor histórico muito apreciável.
Padre João Crisóstomo Spínola de Macedo - foi outro escritor e clérigo
madeirense a quem o fanatismo político desviou do curso normal da vida
eclesiástica. Era formado em teologia mas dedicou-se especialmente ao
Jornalismo.
Dirigiu, no Funchal, um periódico que tinha o seguinte título: «Pregador
Imparcial da Verdade, da Justiça e da Lei».
História Literária Da Madeira
Diz o Padre Fernando Augusto da Silva que o P. Dr. Spínola de Macedo se
notabilizou pela «violência da linguagem e no descomposto da frase».
Em 1811 o Juiz de Santa Cruz apresentou queixas contra o Padre Dr. João
Crisóstomo Spínola de Macedo, o que levou o Cabido da Sé do Funchal a
mandar passar ordem de prisão contra ele.
O «Elucidário Madeirense» explica que «devido aos excessos de linguagem
empregados nos seus escritos e ainda outros motivos que desconhecemos,
concitou contra si a má Vontade dos elementos preponderantes no Funchal, que
teve como epílogo um facto sensacional ocorrido no dia 9 de Fevereiro de 1822
que entre nós causou o maior escândalo e que até teve retumbância no Continente
do Reino. Alguns oficiais, Cadetes e Sargentos do Batalhão de Artilharia de
Terra foram à residência do Padre Dr. Spínola de Macedo, que era na antiga Rua
da Conceição, e dali o arrancaram violentamente conduzindo-o ao Pelourinho
onde, em pleno dia e à Vista de muita gente, diz um escrito contemporâneo, o
esvergalharam, sendo macerado e ludibriado. Os autores da agressão foram
presos e julgados sendo condenados a penas severas de prisão e degredo, valendo-lhes o advento do Governo absoluto que os restituiu à liberdade».
Nas actas Camarárias lê-se, no que se refere à sessão de 8 de Fevereiro de 1822,
portanto na véspera da agressão, que o Padre Dr. Spínola de Macedo era «um
insultador público em seus escritos e obras impressas, onde costumava atacar os
cidadãos honrados, as Corporações legais e úteis e todas as autoridades
constituídas». E de crer que o acto de violenta agressão de que este clérigo foi
vitima se relacione com o comentário camarário e talvez, também, porque a
Oficialidade e Sargentos do Batalhão de Artilharia fossem visados pela
linguagem pejorativa do Padre Spínola de Macedo e por conseguinte se des
afrontassem por esse modo.
Do que não restam dúvidas é que o Padre Dr. Spínola de Macedo andava ligado
intimamente com a política mais extremista desse tempo e tanto assim que em
Maio de 1823, por não lhe ter servido de emenda a agressão dos Artilheiros e
voltar a desenvolver novas campanhas políticas teve de fugir para Gibraltar para
não ser preso e certamente condenado.
Um dos seus escritos, impresso em Londres, que originou celeuma e foi
publicado nesse ano de 1822 em que se deu a desafronta dos Artilheiros,
intitulava-se: «O Tramista descoberto! Conversa do Cónego Francisco B-r-o, da
cidade do Funchal, com o seu moço Simão Caraça, que foi estudante e serviu de
ecónomo, por alguns anos, em benefício da Igreja da Ponta do Sol da Ilha da
Madeira, ouvida pelo Padre João Vicente O-v-a no pátio do mesmo Cónego».
História Literária Da Madeira
É um ataque violento e cheio de verrina contra a vida e as figuras mais em
evidência dessa época, visando em especial o Governador da Madeira e atingindo
o próprio autor, certamente com o fim único de afastar as suspeitas da autoria da
obra.
Nesse livro dá plena adesão ao movimento de 1820.
O Padre Dr. Spínola de Macedo morreu bastante velho, no ano de 1828, mas
sempre violento, sempre mordente, sempre carregado de ódio.
Dr. João Pedro de Freitas Pereira Drumond - nasceu na freguesia de
Câmara de Lobos em 1760 e foi o primeiro Presidente da famosa «Sociedade
Funchalense dos Amigos das Ciências e das Artes».
Escreveu uma obra interessante: «Notícias Mineralógicas da Ilha da Madeira».
Da sua autoria é outro trabalho valioso: - «Apontamentos Históricos e
Geográficos sobre a Ilha da Madeira», cujo autógrafo faz parte da colecção da
Biblioteca Municipal do Funchal.
No «Patriota Funchalense» publicou o Dr. João Pedro Pereira Drumond
numerosos artigos. Era «liberal» fanático, muito erudito e escrevendo com
elegância.
Por ter pequena estatura tinha a alcunha de «Doutor Piolho», por que era
popularmente conhecido. Morreu em 1825.
Inácio Correia Drumond - nasceu no Funchal em 1768.
Começou a cultivar as letras ainda quando se encontrava na Madeira mas a sua
grande actividade literária foi durante a sua estadia no Brasil, de 1801 a 1822.
Inocêncio da Silva, nos termos X e XI do Dicionário Bibliográfico, refere-se às
produções poéticas deste madeirense.
No entanto como Poeta era medíocre. Faleceu em 1830,
Dr. Sérvulo Drumond de Menezes - nasceu no Funchal a 25 de Dezembro de
1802.
Foi Escritor, Jornalista e Advogado muito ilustre. A fundação da Biblioteca
Municipal do Funchal foi iniciativa sua. Desempenhou altos cargos, tendo sido
Governador da Madeira em 1848. Teve larga colaboração na Imprensa,
nomeadamente no «Regedor», «Flor do Oceano», «Ordem» etc.
História Literária Da Madeira
Publicou em 1848 uma obra de grande interesse: «Colecção de Documentos
relativos ao Asilo de Mendicidade do Funchal» e ainda em 1848 outros trabalhos
relativos á «Crise da fome» e à «Construção da Ponte do Ribeiro Seco».
Em 1849 publicou um volume: «Uma época administrativa na Madeira e Porto
Santo», de que saiu 2.° Volume em 1850. Foi poeta de merecimento.
Possuía grandes faculdades de trabalho e uma inteligência viva e brilhante.
Distinguiu-se também como Comentador do Direito Administrativo e Direito
Civil, tendo ficado inéditos estes trabalhos que projectava publicar quando a
Morte o surpreendeu em 1867.
O nome Drumond é muito conhecido no Arquipélago da Madeira. Os primeiros
que usaram este apelido assinavam Escorcio Drumond. A origem é de facto
escocesa.
Por volta de 1425 apareceu na Ilha da Madeira um João Escorcio Drumond filho
de John Drumond, senhor de Stobhall, irmão de Anabela mulher de Roberto III.°,
Rei da Escócia. Fixou-se na freguesia de Santa Cruz onde casou com D. Branca
Afonso, irmã do Vigário daquela freguesia, na Capitania de Machico.
O Brazão de Armas deste fidalgo escocês consta de um escudo em campo de
ouro e três fachas ondadas de vermelho e por diferença uma brica de verde com
um D de ouro; elmo de prata aberto, guarnecido de ouro, paquife de ouro e
vermelho com sua coleira de ouro.
Os Drumond foram sempre de grande proliferidade e deram um grande
contingente de intelectuais e escritores.
O Dr. Sérvulo Drumond de Menezes pertencia a esta família.
Frei José Cupertino - não pertenceu ao número daqueles clérigos «liberais»,
mas nem por isso deixou de se notabilizar pelo seu alto mérito. Viveu no
Convento de São Francisco da Cidade e era um orador fulgurante. Possuía vasta
erudição.
Publicou em 1823 dois dos seus mais célebres discursos, sendo um a «Oração de
acção de graças, pregada na Igreja da Sé do Funchal em 8 de Julho de 1823, por
ocasião da solene festividade pela feliz restauração de El-Rei Nosso Senhor ao
Trono de Seus Augustos Maiores».
Diz o P. Fernando da Silva que este eminente Escritor e Orador Sagrado «gozou
História Literária Da Madeira
entre nós de muita nomeada no seu tempo, como pregador e homem de larga
ilustração».
Rafael Coelho Machado - nascido na Madeira em 1814, mereceu ao Escritor
Joaquim de Vasconcelos no seu notável trabalho, «Músicos Portugueses», grande
elogio.
Notabilizou-se na literatura musical da sua época tendo escrito o «Dicionário
Musical» assim como o Método de Música ou Princípios de Música Prática para
uso dos principiantes» e ainda «Melodias Originais», «Breve Tratado de Harmonia», etc.
Diz o «Elucidário Madeirense» que, farto da injustiça dos seus concidadãos, se
ausentou para o Brasil fixando residência no Rio de Janeiro, onde compôs muitas
músicas sacras e escreveu tratados musicais, falecendo naquela terra distante,
onde não lhe regatearam o apreço e consideração que não encontrou na terra
natal.
Como se Vê, conclui-se que é a injustiça e a ingratidão que já então se
verificavam - com raras e honrosas excepções - diminuindo c menosprezando os
méritos dos seus conterrâneos, pois há um século atrás parece ser já «moeda
corrente» na Ilha...
Se não fosse o acolhimento que deu Joaquim de Vasconcelos no seu livro
«Músicos Portugueses», ainda hoje Rafael Coelho Machado estaria pouco menos
que ignorado...
No entanto, foi urna figura marcante na sua época, distinguindo-se como Artista
e espírito muito ilustrado. Já vem a propósito o rifão popular que diz que
«ninguém é Profeta na sua terra».
O Doutor João António Monteiro - foi nomeado pelas maiores notabilidades
mundiais como um dos mais ilustres e sábios mineralogistas.
Saiu da Madeira para se matricular na Universidade de Coimbra onde foi Lente
de Mineralogia. Tomou Capelo muito novo e em 1804, já com grande reputação
nos meios científicos, deixou Portugal e andou pelos Centros de Cultura de maior
fama na Europa, onde se evidenciou como grande sábio.
Pelas numerosas obras que escreveu pode-se avaliar a vastidão dos
conhecimentos que possuía. Depois de se notabilizar em Paris foi para a
Alemanha onde se distinguiu, conquistando gerais e respeitosas homenagens.
História Literária Da Madeira
Em Freiburg apresentou estudos científicos em cristalografia e minerais,
causando grande admiração a vastidão do seu saber merecendo as mais honrosas
citações dos sábios alemães.
Diz Carlos de Menezes que «uma memória sobre arsénico sulfurado vermelho,
publicada pelo mineralogista francês Hány nos «Annales du Musé d'Histoire
Naturel», é toda fundada em comunicações do sábio madeirense Doutor João António Monteiro».
Foi sócio da Academia Real de Ciências da Baviera, onde publicou uma Valiosa
memória: «Muitas Variedades novas de Topásio».
Os grandes homens da Ciência - Schrauf, Friederich Mohs, Haidniger e muitos
outros - mencionam nas suas obras o grande valor dos estudos e das publicações
do Doutor João António Monteiro. As publicações científicas da época dão um
grande destaque à valiosa colaboração deste Sábio que se dedicou ainda a outros
trabalhos.
O Doutor João António Monteiro nasceu na Madeira em 1769 e faleceu em Paris
em 1834.
Doutor João da Silva Caldeira - foi Lente na Universidade do Rio de Janeiro.
Traduziu e anotou o «Manual do Ensaiador» de Vauquelin, aparecendo essa obra
em 1843.
Joaquim Augusto Simões de Carvalho refere-se a este Escritor e Cientista
madeirense com palavras honradíssimas. O Doutor João da Silva Caldeira
notabilizou-se particularmente em estudos químicos, conquistando merecida
fama no estrangeiro e muito em especial em Paris. Como médico não teve nada
de extraordinário. A sua vida foi consagrada á ciência.
Faleceu em 1828.
José António Monteiro Teixeira - foi uma das figuras mais interessantes de
Poeta e intelectual da sua época. Diz o P.° Fernando da Silva que José António
Monteiro Teixeira «descendia de uma antiga e distinta família madeirense, tendo
nascido em 27 de Dezembro de 1795».
Desde criança ouvi sempre referências sobre o talento deste próximo parente de
minha Avó, Sant`Ana e Vasconcelos, mãe de meu pai.
Há tempos quando procedia a buscas na minha biblioteca para colher elementos
para este trabalho encontrei dois Volumes das «Obras Poéticas» com o retrato e
assinatura de Monteiro Teixeira. Os pais do Escritor deviam de ser pessoas práti-
História Literária Da Madeira
cas e de espírito desempoeirado porque num meio de horizontes apertados, como
é ainda hoje o Funchal, não hesitar em mandar os Filhos para um dos melhores
colégios da França quando a guerra se alargava na Europa no cerco a Napoleão, é
demonstrar ânimo forte. Isto passava-se em 1808. O Pai de Monteiro Teixeira
ainda resistiu contra a formal deliberação da Esposa que tinha em Vista
proporcionar aos Filhos uma cultura e um ambiente que na Madeira não seria
possível. É que o amor maternal adivinhara a grandeza da alma e a inteligência
privilegiada do Filho... José António Monteiro Teixeira partiu com seu irmão
mais novo. O primogénito tinha doze anos. Foram para Pau, onde então havia o
mais afamado Colégio da época. Em 1814 terminava o estágio Colegial. Devido
á política internacional e especialmente ás conveniências da Inglaterra tivemos de
sofrer as invasões napoleónicas.
Os pequenos Monteiro Teixeira permaneciam em terra inimiga, mas foram
sempre bem tratados. Monteiro Teixeira conhecia a língua francesa como se
fosse a língua pátria. A educação recebida no Colégio foi magnífica. As suas
tendências literárias foram compreendidas pelos Mestres e conduzidas de modo a
se ampliarem vantajosamente.
A veia poética e a predilecção para a sátira foram aproveitadas com o melhor
êxito. Findos os preparatórios Monteiro Teixeira esteve em Paris estudando os
Clássicos e os motivos históricos, aperfeiçoando-se sempre na literatura e em
especial na poesia, que tinha lançado no seu espírito fundas raízes. Relacionou-se
em Paris com os Escritores e intelectuais mais em evidência e não tardou que o
seu talento fosse reconhecido e apreciado. O seu espírito artístico, a sua crítica
satírica e a sua grande cultura granjearam-lhe nos meios intelectuais da França e
nomeadamente de Paris uma grande fama. Foi amigo íntimo de Barthelemy, de
Chateaubriand, Mery e Beranger, tendo numerosas provas de apreço em que
estes e muitos outros homens eminentes revelavam a alta consideração em que o
tinham.
Durante as suas estadias em Londres também se relacionou com as Figuras mais
eminentes dessa época. Esteve na Alemanha e nos principais centros de cultura
europeia.
Em 1825 regressou ao Funchal e dedicou-se ainda mais à literatura, cultivando
com êxito o género epigramático.
Seguiu a escola de Nicolau Tolentino, conseguindo que muitas das suas
composições poéticas alinhassem com as do Mestre da poesia satírica. Soube
observar e criticar com precisão a sociedade da sua época. Monteiro Teixeira
tinha todas as condições para não ser forçado a curvar-se, como aconteceu
algumas Vezes a Nicolau Tolentino, louvaminhando os «grandes» e os
poderosos.
História Literária Da Madeira
Nos seus dois volumes das «Obras Poéticas» encontram-se produções que
revelam bem o génio admirável do Escrito. e o poder de observação e de
comentário de que era dotador.
José António Monteiro Teixeira, visto através da sua obra pode ser considerado
como uma figura de destaque no grupo dos mais distintos Poetas Dessidentes.
Manteve relações de grande amizade com o célebre Poeta António Feliciano de
Castilho, que na sua obra se refere ao Poeta madeirense. Se conseguiu
notabilizar-se como um dos intelectuais mais eminentes, pela perfeição das suas
produções, no entanto era muitas vezes mais perfeito e superior, quer na
expressão quer na elevação, quando escrevia em francês.
Nos seus livros «Oeuvres Poetiques» e «Nouveau Recueil de Poesies en
Français» verifica-se quanto era superior.
Aqueles Pais que em 1808 puseram acima da ternura pelos Filhos a inteligente
coragem de lhes facultarem uma educação esmerada, tiveram a glória de
compensar o duríssimo sacrifício de uma longa separação com os triunfos de José
António Monteiro Teixeira.
Conta o próprio Escritor a cena entre seu Pai e sua Mãe quando discutiram a ida
dos filhos para França. O Pai argumentava que mandar as crianças naquela altura
para França era dar a Napoleão umas presas inocentes. Respondia a Senhora que:
«Napoleão não é uma fera e a inocência da infância impõe respeito até às bestas
mais ferozes. Por este lado fico sossegada. E embora eu pressinta também que
não os Verei mais - e dizendo isto o pranto de novo lhe orvalhava as faces - eu
antes quero nunca mais abraçá-los do que Vê-los lá de cima, mal educados, sem
instrução, viciosos e vadios, como a maior parte dos filhos dos teus amigos, que
os desonram pela sua ignorância e má conduta. O coração de uma Mãe sabe sacrificar-se ao bem-estar dos filhos. Eu quero para José e para António uma
educação liberal e as lições na escola do mundo num País ilustrado como é a
França».
Durante o período da Guerra Peninsular e em especial no tempo das invasões
napoleónicas os pobres Pais estiveram sem notícias dos Pequenos, mas todos os
sacrifícios foram compensados.
Parece inacreditável que o Funchal, cidade onde nasceu Monteiro Teixeira, ainda
não tivesse prestado a sua homenagem à memória deste homem ilustre. No
entanto os estranhos patentearam-lhe o seu alto apreço. Bastará relatar que o Rei
Luís Filipe I.° de França mandou cunhar uma moeda em ouro com a efígie de
Monteiro Teixeira, agradecendo assim os serviços de que o Monarca e o governo
francês consideraram a França devedora para com este homem superior,
manifestando o apreço em que o tinham.
História Literária Da Madeira
Nem, ao menos, na casa solarenga de Monteiro Teixeira, no Torreão que foi
demolida em 1951, existiu uma modesta lápide comemorativa!
Não será fácil encontrar meio tão pródigo em injustiças e em ingratidões!
Soneto
Dedicado ao Grande Poeta Nicolau Tolentino de Almeida
Não busca o pobre o Creso, busca o rico;
O infante, p'ra brincar, quer um menino;
Dos antros de Sileno o freguês dino
Quer um chupista com quem molhe o bico.
Eu, que às sandices e erros escarnico,
No alcance, pois, de um crítico bem fino,
Fiz pontaria a ti, meu Tolentino:
Meus versos aí vão, eu t`os dedico.
Na etérea estância, ó tu, Vate perfeito,
À pureza celeste o estro adaptando,
Que óptimos hinos não terás tu feito!
Infernal ventura, ah! vai gozando,
Sim, em quanto eu, sem honra nem proveito,
Nas misérias de cá vou tasquinando...
É com este soneto que José António Monteiro Teixeira abre o seu livro de
Versos, consagrado em homenagem ao Grande Poeta Nicolau Tolentino.
Agora, noutro género, mais ligado à vida íntima da sua Ilha da Madeira, ao
comemorar a festa tradicional de Nossa Senhora do Monte, em 15 de Agosto, não
podia escapar ao espírito satírico do Poeta o comentário preciso do que a festa,
com origem mística e fundamente religiosa, se tornou com tendências pagãs e um
sentido absolutamente materialista e sensual...
Monteiro Teixeira fixou no seu soneto com exactidão precisa o espírito da festa...
Soneto
À festividade N.ª S.ª do monte.
De sinos, peças, violas, doido arruido;
Ramos, círios, nas unhas dos romeiros
Mestres tafues que tombam dos sendeiros;
No Templo, a manducar, povo estendido...
História Literária Da Madeira
A orquestra tavernal do Remechido,
Deleitando de dia os bons Festeiros,
E á noite, á escuridão dos castanheiros,
Brincando entre os «Vilões» deus Cupido...
Bêbados vomitando a cada canto,
Bons Vestidos que em cartas de partilha
Os escrivães teem feito render tanto;
Na nivea colmeia de gentil casquilha,
Bregeiro beliscão ante o altar santo...
Eis, ó Virgem, teu culto cá na Ilha...
Este quadro de cores tão vivas e de tanto movimento, de um realismo flagrante,
feito há cerca de um século, tem hoje ainda muita actualidade...
Mas como José António Monteiro Teixeira tem um cunho absolutamente
inconfundível é como crítico.
Os seus epigramas têm uma mordacidade muito original.
Mesmo nas suas irreverências ele é admirável.
Aproveita as oportunidades, apanha a propósito um ridículo, um exagero e sabe
depois tirar-lhes os efeitos com as cores precisas.
No género temos estes versos:
Ardil para fazer cessar uma seca na Madeira
Pedir de mais não presta, está provado,
Inda que amavelmente a gente o faça.
Do mesmo Céu a paciência amassa
O ser constantemente pedinchado.
Por isso, ó Jove, é que nos tens negado
A chuva, que nos falta por desgraça;
Já estás cançado de servir de graça,
E tens muita razão, Jove, coitado!
Poupando-te essa seca que te ofende,
Hoje preces não são que te of`remos.
Propomos-te um lucroso alborquesinho.
História Literária Da Madeira
Vem a ser este, ó Júpiter, atende:
Como o vinho te sabe, e néctar temos,
Dá-nos água do Céu, dar-te-hemos Vinho...
Apesar do seu «liberalismo» Monteiro Teixeira não poupava os políticos liberais.
A sátira que ele dirigiu «aos Senhores Deputados da Nação Portuguesa, em
1843» é uma «autópsia» do desinteresse dos que substituíram a política
tradicional do País por um regímen figurino da revolução francesa. Nessa
legislatura de 1848 cada Deputado custou então 648$000 Reis.
Foram 225 dias a 2$880 Reis (seis «pintos») cada dia. Sendo a Câmara composta
de 142 Deputados veiu a custar aquela legislatura 92.016$000 Reis! Já naquele
tempo a Verba era elevadíssima. Hoje também os Senhores Deputados
representam um luxo caro para a riqueza nacional, porque, tal como outr'ora, a
produtividade não é compensadora.
Soneto
Irra! noventa contos nos papastes
P'ra da Pátria curardes as mazelas!
Mas que fizeram vossas taramelas?
Nada, antes nossos males agravastes!...
C` o Vosso diário lucro o que comprastes,
Arroz, perdiz, toucinho, beringelas,
Isso, dizei-me, não vos roía as guelas?
Sem consciência e remorsos mastigastes?
Ora, cesse p' ra sempre essa soldada,
Esses seis «pintos», esse ganho indino,
Pitança ao tesouro ético arrancada!
E seguindo outra vida, outro destino,
Deixai a Corte e administrando a enxada,
Cultivai o alho, a abóbora, o pepino...
Podia ainda apresentar outras modalidades de Versos usadas por Monteiro
Teixeira, chegando mesmo ao sentimentalismo romântico com toda a sua
pieguice. Estes versos são bem suficientes para deixar vincada a personalidade do
Poeta.
História Literária Da Madeira
Manuel Luís Viana de Freitas - nasceu em 1820, no Funchal e tendo sido
Porteiro do Governo Civil, no entanto dedicou-se apaixonadamente pelo Teatro e
tanto profundou a arte de representar que dela deu as melhores provas de conhecimento profundo e alta competência, que mereceu, com inteira justiça, ser
escolhido para Sócio Correspondente do Instituto de Coimbra na Madeira. Teve
muita colaboração na Imprensa insular e escreveu um drama - «D. Luís de
Ataide».
Era considerado como a primeira autoridade, em assuntos teatrais, da sua época,
na Madeira. No meio intelectual usufruiu certo prestígio e de facto, na sua
especialidade pisava com segurança o terreno e a sua boa inteligência completava
as faltas que vinham de escassa instrução.
João Cirilo Moniz foi um Escritor musical de muito mérito. Nasceu no Funchal
em 1818 e publicou um trabalho intitulado «Breve compêndio de Música» que o
seu Autor dedicou à então Princesa do Brasil, Dona Leopoldina, que foi primeira
mulher de D. Pedro, depois 1.° Imperador do Brasil.
Além deste trabalho João Cirilo Moniz deixou outras obras. Diz o «Dicionário
Bibliográfico» que em 1829 a família deste Escritor se fixou no Brasil residindo
em Nictheroy, onde faleceu João Cirilo Moniz no ano de 1871.
Lino Nicolau de Atouguia foi um poeta madeirense que gozou de muito
prestígio. Menciona o Elucidário as poesias deste Escritor que se encontram
reunidas num volume - «Colecção de algumas obras poéticas» - oferecido em
1821 a Sebastião Xavier Botelho.
Os Versos de Lino de Atouguia não entram no número das produções
inigualáveis, se bem que têm algum valor.
Doutor Anastácio Moniz de Bettencourt - nasceu no Funchal e formou-se em
Medicina na Universidade de Coimbra.
Como Poeta e como Filosofo distinguiu-se.
Em 1801 regeu no Liceu do Funchal as Cadeiras de retórica e filosofia, seguindo
pouco tempo depois para os Açores, fixando residência na Ilha Terceira, onde
veio a falecer.
As suas composições têm cunho muito original e muita personalidade, se bem
que nelas se manifestem as influências da época.
Dr. Nicolau de Bettencourt Pita - foi um dos homens que mais se distinguiu
História Literária Da Madeira
por causa da sua brilhante inteligência e grande erudição, recebendo homenagens
do estrangeiro.
Nasceu no Funchal em 1788 e doutorou-se em Medicina na Universidade de
Edimburg, onde se notabilizou pela sua eloquente sabedoria e pela sua
inteligência fulgurante que, de harmonia com um velho uso universitário, quando
da sua formatura em 1812, foi eleito Presidente da Real Sociedade de Física homenagem honrosa que a tradição mandava que se prestasse àqueles que pelo
talento mais se distinguissem entre os Doutores!
Foi também muito considerado como membro da Real Sociedade Médica e de
História Natural de Edimburg. Como conhecia profundamente a língua inglesa
publicou em Londres uma narração descritiva do clima e da geografia física da
Madeira, que foi a obra científica de maior importância publicada, àquela data,
sobre a Ilha e a que deu o título de «Account of the Island of Madeira ».
A imprensa portuguesa, em 1815, referiu-se com merecido louvor ao trabalho e
ao talento do novo cientista.
Em 1814 El-Rei D. João VI, sendo ainda Príncipe Regente, concedeu ao Dr.
Nicolau de Bettencourt Pita todos os direitos de que usufruíam os médicos
formados pela Universidade de Coimbra.
Abraçou a Revolução de 1820 e a 2 de Julho de 1821 iniciou a publicação do
«Patriota Funchalense» onde passaram a colaborar todos os Jornalistas «liberais»
da época.
As suas actividades de Jornalista político o revolucionário deram-lhe uns meses
de prisão na Fortaleza de S. Tiago e a condenação a quatro anos de degredo na
Ilha Terceira, com uma multa em dinheiro.
Durante o tempo que permaneceu em Angra foi Redactor do periódico «O
Liberal», que era órgão da chamada política reformista. Foi dos políticos que
assinaram, em Angra, a aclamação de Dom Pedro I.° do Brasil e de D. Maria II.ª
de Portugal, em 22 de Junho de 1828.
Pertenceu, como sócio efectivo, à Sociedade Funchalense dos Amigos das
Ciências e das Artes e foi quem teve a iniciativa da construção, no Funchal, de
um monumento que comemorasse o advento do «liberalismo», tendo sido
lançados os alicerces deste padrão em frente da Sé.
O Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo escreveu a propósito do Dr. Bettencourt Pita
que, «feita a revolução no Funchal em 28 de Janeiro de 1821 o Dr. Nicolau
Caetano de Bettencourt Pita projectou o estabelecimento de uma tipografia e a
História Literária Da Madeira
publicação de um periódico; foi aquela mandada vir de Lisboa com o tipógrafo
Alexandre Gervásio Ferreira e no dia 2 de Julho do mesmo ano, dia escolhido por
ser considerado o do descobrimento da Ilha, saiu o primeiro número do «Patriota
Funchalense» de que era Redactor o referido Dr. Pita. Foram a primeira imprensa
e o primeiro periódico que na Madeira houve.»
O Dr. Rodrigues de Azevedo reproduz nas suas anotações este artigo de
apresentação do «Patriota Funchalense», da autoria do Dr. Nicolau de
Bettencourt Pita: - «Depois do dilatado período de quatro séculos, que esta
formosa Ilha parecia condenada pelo génio do servilismo a não escutar mais que
a voz da vil lisonja e baixa condescendência......, raia em seu Oriente esse astro
luminoso que dissipando as trevas da escuridão nos deixa Ver a cândida
verdade... fixando esta época ao mesmo tempo a do glorioso aniversário da sua
descoberta admirável. Sim, Senhores, apenas o grito da liberdade dos habitantes
desta Ilha, e nossa causa se fez comum com a dos nossos irmãos do Continente;
desde logo, animado do mais subido amor da Pátria, projectei o grande
estabelecimento de uma imprensa e bem que os meus limitados conhecimentos
literários me apoquentavam, cedi à utilidade pública e ousei encarregar-me de ser
o Redactor desta folha».
Este texto mostra o estilo do Dr. Bettencourt Pita e o seu modo de sentir, que
aliás está em absoluto dentro do pensamento da sua época...
Padre João Manuel de Freitas-Branco - nasceu no Funchal em 1773. Foi
Vigário de S. Jorge e por serem muito conhecidas as suas «ideias liberais» foi
eleito Deputado pela Madeira às Cortes de 1822.
No Parlamento defendeu com notável brilhantismo os interesses regionais da sua
Ilha.
Foi professor no Liceu do Funchal e considerado como um dos mais eloquentes
oradores do seu tempo. «O Patriota Funchalense» tem vasta colaboração do
Padre João Manuel de Freitas-Branco, que também fez parte da famosa
Sociedade dos Amigos das Ciências e das Artes.
O Dr. Bettencourt Pita, ao referir-se no seu periódico a este Escritor, dizia que
era mm dos maiores talentos da Província da Madeira».
Nas anotações às Saudades da Terra escreveu o Dr. Rodrigues de Azevedo que o
«Vigário Freitas-Branco foi notável como Jornalista e de verdadeiras virtudes
cívicas».
Em 28 de Janeiro de 1828 proferiu o Padre João Manuel de Freitas-Branco uma
História Literária Da Madeira
eloquente oração, na Sé do Funchal, comemorando o primeiro aniversário do
governo Constitucional na Ilha da Madeira.
Recordo-me de ouvir a meu Avô paterno, que era sobrinho deste sacerdote, que
esse magnífico discurso tinha sido impresso e que em Virtude da desassombrada
atitude do Padre João Manuel de Freitas-Branco ele tivera de ir nesse mesmo ano
de 1828 para o Rio de Janeiro, evitando desta forma uma prisão. Já neste tempo a
Família dos Freitas-Branco firmava com a coragem e o desassombro as suas
atitudes, em regra geral tão mal apreciadas e tão erradamente compreendidas...
Uma grande mala com sermões e escritos diversos do Padre João Manuel de
Freitas-Branco que existia em poder de meu Avô paterno desapareceu
misteriosamente, o que representa um prejuízo enorme para a crítica do
sentimento e do valor literário deste Escritor.
Mas volvidos muitos anos um sacerdote continental que se demorou na Madeira
proferiu algumas orações sagradas Verdadeiramente notáveis, especialmente um
sermão sobre Nossa Senhora das Dores, que ouvidos por meu Avô o levaram a
persuadir-se de que se tratava dos trabalhos do Padre Freitas--Branco que tinham
desaparecido.
O que não pode deixar dúvidas é a inteligência fulgurante e o poder oratório
deste sacerdote que marcou uma posição notável na vida portuguesa do seu
tempo e depois no Brasil onde veio a falecer em 1831.
A propósito da Família de Freitas-Branco, da qual deve ter Vindo para a Madeira
no século VXII algum representante que por aqui se firmou, tem oportunidade
reproduzir um estudo publicado no número 37 da «Revista Portuguesa» de Julho
de 1943, onde é apresentado um documento relativo à sua estirpe. Esse
documento encontrou-o o Visconde de Castilho na Torre do Tombo, por Volta de
1891. Em 1920 o Professor--Compositor Luís da Costa de Freitas-Branco
conseguiu obter para o seu arquivo idêntico documento do qual possuo uma interessante fotocópia, em gravura. Trata esse documento da alta distinção e
regalias de Conde de Freitas-Branco conferidas em 1687.
É tradição que este Conde de Freitas-Branco - Doutor António de Freitas-Branco
- teve uma grande influência política no reinado de El-Rei D. Pedro II.º de
Portugal e foi rival terrível do famoso D. Luís de Sousa de Macedo, que
advogava o princípio de que a segunda Mulher do Rei de Portugal devia ser uma
Princesa de França e não a Princesa alemã da Casa de Neuburg, que entendia o
Doutor António de Freitas-Branco que devia ser a escolhida para Rainha de
Portugal.
Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues dizem no seu «Dicionário Popular» -
História Literária Da Madeira
Volume IV, página 842 - que em 1685 os Conselheiros de Estado pediram
oficialmente a EI-Rei que tratasse do seu segundo casamento. D. Pedro hesitou
ainda por algum tempo, mas por fim resolveu-se.
Combatiam a escolha da futura Rainha a influência francesa e a influência
espanhola. Luís XIV indigitava Mademoiselle de Bourbon. Os ministros
espanhóis propunham uma Princesa da Casa de Neuburg, irmã da Rainha de
Espanha. Foi esta influência que venceu principalmente por causa das
informações mandadas a D. Pedro II pelo Doutor António de Freitas-Branco, que
o Soberano encarregara de Ver com os seus próprios olhos a Princesa de quem se
falava.
D. Luís de Sousa de Macedo, com um grupo importante opinava que a escolha da
nova Rainha recaísse na pessoa de Mademoiselle de Bourbon, mas teve de se
considerar Vencido pela política contrária, chefiada pelo Doutor António de Freitas-Branco. Os rivais nunca se reconciliaram.
É curioso verificar que passados dois séculos os descendentes destes dois
inimigos irreconciliáveis se unem formando uma só Família! É notável a
expansão e a série de ligações que teve a Família de Freitas-Branco,
distinguindo-se os seus descendentes como músicos, cientistas, artistas, literatas,
militares, etc.
Formaram os Freitas-Branco ligações de família com Carvalho Daun e Lorena
(Condes de Oeiras e de S. Tiago; Marquês de Pombal e Condes de Sarzedas);
Correia de Heredia (Viscondes da Ribeira-Brava); Sassetti; Costa de Sousa de
Macedo (Condes de Vila Franca, de Mesquitella, de Estarreja, e Duques de
Albuquerque); Avilla; Sidónio Pais; Sant'Ana e Vasconcelos Moniz de
Bettencourt (Condes de Almada, Viscondes das Nogueiras, Morgados do Porto
Santo); Leite de Sousa e de Noronha (Casas de Veiros e Tavarêde, Condes de
Maem, de Paraty, Viscondes de Bucelas); Castro e Almeida Pimentel de Siqueira
e Abreu (Condes de Nova-Goa); Freitas--Leal Moniz Telles de Meneses
(Visconde do Porto da Cruz); Castel-Branco Manuel (Barão de S. Pedro);
Aicciauoli; Tavares de Almeida; Mello Breyner, (Condes de Mafra), etc, etc.
O pergaminho com a carta de título do Conde Palatino Doutor António de
Freitas-Branco tem as dimensões de 66cmx69cm. A escrita está em certos pontos
quase ilegível, nas dobras. Conserva o lacre com as armas de Filipe Guilherme da
Baviera pendente de um torçal azul e branco. E' assinado por Filipe Guilherme e
por Edmundo Federico de Isenbrock.
O seu texto exacto é o seguinte:
«Philippe Guglielmo per grã di Dio, Conde Palatino del Rheno, Arcithesorier, et
Elettore del Sacro Romeno Imp., Duca di Bauiera Giulliers, Cleues et Berg,
História Literária Da Madeira
Conte di Veldentz, Sponheim, della Marca, Rauensberg et Mors, Signore di
Rauenstein, Ancorche il mondo Christiano da molte Nobili et Ilustri famiglie sia
ornato, niente di meno si perdono queste spesse col longo corse di tempo, ch'a
pena ne lascia la rimembranza; Et accio Ia nostra Dignita Elettorale tanto
maggiormente elucesca quanto piu liberale si essibisca di proveredo, et di detare
qualsivoglia Stirpe Nobile et Illustre di Nascita, com Beneficij, et dignita
Maggiori Producendo a benemeriti la collatione delli honore, et delle Dignita
tanti buoni effetti, con tirare sempre piu auanti, ad attione piu nobile di virtu et di
sernitu piu fideli, et constanti; onde Noi per la Dignita e cuesitudiae Nra
Elettorale, nella quale per Ia Grã et Prouidenza di Dio, siamo constituti; Masso
della Nostra innata clemenza ad essere propensi di considerare, et di promuouere
gli honori Dignita, Promotione, e felicita ad ogni, et a qualsiuoglia Benemérito;
et assendo questo anche stato semper il Principalle Instituto de Sermi Nostri
Progenitori di decorare com spiciali Titoli d' honore quei soggetti, che si sono
resi benemeriti della Nra Casa, et del Bene publico col rimarco di qualche
segnalato Servitio, o che descendendo da Stirpe Antica, et Illustre, hanno posto
ogni studio di palesari al Mondo col Mezzo de fatti egregij et di memorandae
operationi per veri imitatore della Virtu, e Fama de loro Antenati, senza curarsi
della fortuna, la quale come cieca, et volubile inalza, et deprime a sua Talento, et
ha per costume di dispensare il piu delle volte i sucidoni alle Persone di nium
conto; Doue ali opposto i premij, che distribuisce la virtu, sono di Gloria, et uno
caduchi perche essa ancora e chiara, et Eterna: Questo consideration dunque
rivalgendosi spesso nella Nra mente tanto piu ci escitano a Stare constante nell
osseruanza del moderno Instituto Ancho perche conoscimo essere atto di
Prencipe Magnanimo L'invitare con l`esca di Simili honori gli animi Nobili all
intrapresa de Heroiche Attioni. Essendo Noi dunque a pieno informato dalle
relationi de Testimonij degni d`indubitata fede che L'antica et Nobilíssima stirpe
di Freittaz--Branco, oltere la signolare prerogativa, che gode nella sua Pátria; ha
dato in ogi eta alla Toga, et alla Spada Huomini... . . Et volendo per cio noi
mostrarei...... a questa Família Freittaz et testificare insieme al Fondo la Nra
benigna Propensione verso II Sigre D,re António de Freittaz-Branco per le sue
rare virtu et degne qualita conosciute da Noi a tempo della sua dimora in questa
Nra Residenza quando egli dal sua Re hebbe...... comando di portar si per certi
affari in questa Nra Corte; Habiamo motu próprio resoluto decorare, et Insignare
di Nra própria Patesta Elettorale deito Sigre D,re António de Freittaz-Branco con
tuta la Legitima descendenza in perpetuo, deli Illustri Titolo di Conte, come in
virtu dei presente Nrõ Diploma dell Grado et Titolo di Conte perpetuamente
insignito et decorato lo dichiarmo, et Publichiamo con tuti Suoi Legitimi
Descendenti, con espressa Dichiaratione ancora, che tanto esso Sig e D,re
António de Freittaz-Branco quando i sudetti suoi Descendenti deblano godere
tutte reggioni, Privilegij Dignita, Perogative, et Preeminenze solite godersi da
altri Conti delli Notri Ducati Prouincie, et Stati, cosi nelle Publiche, come nelle
Private fontioni e Radunanze. In maniera che questa promotione a Noi, ne alle
N,re Provicie e Stati, Deriti Prerogative, ne di qualsívoglia altro possa essera di
História Literária Da Madeira
Pregiuditio, Qualsivoglia cosa in coutrario non ostante, Et preche detto Sig e D,re
António de Freittas-Branco possa tanto maggiormente essere certo della Nrõ
Elettorale Propensione et Valersene di essai Ordeniamo per tanto, et seriamente
Comandiamo a tuti gli Nostri Tribunali, Ministri, Òffiziali, Vassali, sudditti et ad
ogni altro, a qui spetta, che in assecutione di questa Nrã Volunta reconoschino,
ricevino, stimino, et reputino, il detto Segre D,re António de Freittaz-Branco, et
gli suoi Descendenti sudetti per Conte Veri Legitimi, sotto Pena della Nostra
indignatione, in fede et testimonio di cui habbiamo fatto speedir per la Nrã
Cancellaria Secreta II Presente Diploma scritte di Nostra própria mano.....
scritto Nrõ Secretario Dato nella Nostra Citta, et Presidenza Elettorale di
Heidelberg. li 9 luglio 1687.
a) Philippo Guglelmo Eettore
a) Emondo federici Isenbrock
Foi referindo-se a este documento que o Visconde de Castilho, amigo íntimo e
colega nas letras do Dr. João de Freitas-Branco - o dramaturgo amigo de Ibsen
que trouxe primeiro que os demais a literatura ibseniana para Portugal - que o
facto de ter um ascendente que em 1687 recebia tamanha distinção de um Chefe
de Estado estrangeiro, que passou com a sua própria mão o diploma em que
concede perpetuamente para ele e sua legítima descendência o título de Conde de
Freitas-Branco, é honra que nem todas as famílias podem registar.
José Joaquim Ferreira de Freitas - muito conhecido pela alcunha de «Padre
Amaro» foi um dos revoltosos madeirenses que mais se evidenciou no aditado
período de 1820 a 1854.
A alcunha proveio-lhe de ter publicado em Londres um periódico que se
intitulava «O Padre Amaro».
José Joaquim Ferreira de Freitas revelou grandes qualidades de Escritor e
Jornalista, sendo incomparável na polémica.
Fez parte das forças do Imperador Napoleão I..º e conquistou a confiança de José
Bonaparte a ponto de se ter tornado o confidente predilecto deste irmão do
imperador. Em Paris dirigiu um importante «Gabinete de Leitura».
Mais tarde tornou-se o grande fornecedor de géneros para abastecimento dos
exércitos franceses.
Publicou panfletos inflamados defendendo com Vigor o regime Constitucional e
em 1822, tendo publicado um estudo - «Coup d'oeil sur i`etat politique du Brezil
- foi contraditado por Alphonse de Bauchamp que era um dos mais notáveis escritores franceses da época.
História Literária Da Madeira
Ferreira de Freitas refutou o seu contraditor com tal eloquência que mereceu do
próprio adversário os maiores elogios.
Em 1850 iniciou a publicação de uma grande obra - «Biblioteca Histórica,
Política e Diplomática da Nação Portugueas», da qual apenas saiu o primeiro
volume. Por esta mesma época publicou também «O bota-fóra do Cata-vento, ou
a Cabeça de bacalhau fresco», onde atacou violentamente o grande jurisconsulto
Dr. Ferreira Borges. Escreveu várias obras de menor importância, em português,
francês e inglês, em defesa do Brasil e do Constitucionalismo português.
Escreveu ainda «Memória sobre a Conspiração de Gomes Freire», defendendo o
procedimento do Marechal Beresford, que lhe pagou isso por 500 libras. No dizer
dos seus contemporâneos, essa espórtula, que tinham como o preço de urna
traição a um pensamento nacional, era como que os famosos «trinta dinheiros de
Judas».
José Joaquim Ferreira de Freitas - o Padre Amaro - morreu em Londres no dia 20
de Julho de 1831.
Diz o Dr. Rodrigues de Azevedo que este «liberal» foi frade capucho mas que
renegou a crença e alistou-se nos exércitos napoleónicos quando o General
Massena invadiu Portugal, representando ainda esta atitude um gesto bem pouco
patriótico. O Dr. Rodrigues de Azevedo não disfarça a sua antipatia por este
defensor do estrangeiro que agride a Pátria e acrescenta que «a troco dos seus
mercenários escritos adquiriu do Marechal Beresford, do Duque da Terceira e até
de D. Pedro 1.° do Brasil grossas quantias, mas de vida folgasã e desregrada morreu pobre em Londres ».
É fácil de presumir o que seria a Vida deste homem que se unia ao invasor da sua
Pátria depois de ter renegado a fé religiosa e os votos feitos solenemente no seu
mosteiro.
O antigo frade Capucho teria sido contaminado pelo espírito demolidor da sua
época e por isso descera todos os degraus da escada da última abjecção até
chegar ao máximo aviltamento.
Inocêncio da Silva ocupa-se deste Escritor madeirense, que, embora fosse
talentoso, no entanto pela sua falta de carácter não dá lustre à sua Ilha.
José de Bettencourt da Câmara - foi um grande e autorizado genealogista. Era
dotado de uma brilhante inteligência e tinha uma boa cultura literária. Teve
valiosa colaboração na Imprensa em assuntos históricos, heráldicos e
genealógicos. Era neto do Morgado Tristão Joaquim de Bettencout da Câmara,
História Literária Da Madeira
descendente do Descobridor João Gonçalves Zarco. Nasceu no Solar de seus
maiores em 1844 e faleceu ainda novo, em 1875, quando muito havia a esperar
do seu talento e dos seus dotes de trabalho.
Viscondessa das Nogueiras - Dona Matilde de Sant`Ana e de Vasconcelos foi no século passado umas das figuras mais notáveis da intelectualidade
portuguesa.
Nasceu no Funchal em 1805. Por sua Mãe era Telles de Meneses e por seu pai
Vasconcelos. Casou com Jacinto de Sant`Ana e de Vasconcelos Moniz de
Bettencourt - 1.° Visconde das Nogueiras.
Desde muito nova manifestou grande propensão para a literatura. Teve uma
educação primorosa. Escreveu versos interessantes, originais, dentro do
sentimentalismo romântico que pontificava nesse tempo. Mas se era Poetisa
talentosa, como prosadora era inconfundível. Colaborou na imprensa portuguesa
e em revistas literárias do estrangeiro. O seu romance «O Soldado de
Aljubarrota» obteve um grande sucesso. A sua obra-prima, que constitui ainda
hoje uma glória literária, foi o «Diálogo entre uma neta e sua Avó».
A famosa «Nota ao mês de Maio», que vem com os «Fastos» de Ovídio, pelo
Visconde de Castilho, é tradução igualmente da Viscondessa das Nogueiras.
Conhecia bem várias línguas estrangeiras, em especial a francesa e a inglesa, e
foi assim que se abalançou às traduções de «Genoveva», de Lamartine, das
«Castelãs de Roussilon» e «Vida de Santa Mónica», onde o estilo é primoroso.
Em 1884 publicou, traduzido para o francês, o célebre romance «Eurico» de
Alexandre Herculano. O Príncipe Nicolau de Oldemburg, que privava com os
Viscondes das Nogueiras, leu no Solar da Rua da Mouraria - onde hoje é a Sede
da Assistência às Crianças Fracas -a tradução francesa do «Eurico» e achou-a tão
perfeita que fez com que fosse editada, obtendo um grande sucesso
especialmente em França onde o romance de Herculano assim se tornou
conhecido.
O Poeta Bulhão Pato, que também era dos que frequentavam o Solar dos
Viscondes das Nogueiras, refere-se nas suas «Memórias» à Escritora com elogio
ao seu talento e aos seus méritos. - «Conheci a Mãe de Sant`Ana e de
Vasconcelos, a Senhora Viscondessa das Nogueiras, D. Matilde, quando eu tinha
Vinte anos, durante meses que passei na Madeira com um amigo de infância, o
Conde de Carvalhal. Estava ela então na força da Vida. Educação, carácter,
beleza de rosto e graça de figura, distinção em tudo e um talento superior, faziam
desta Senhora um dos entes mais encantadores que tenho conhecido! Compunha
versos, admiráveis de mimo e sentimento. Escrevia prosa adorável. Num meio
História Literária Da Madeira
mais largo teria sido uma escritora de primeira ordem». Já nesse tempo, há mais
de um século, Bulhão Pato verificou «a mesquinhez do meio» do Funchal. Nos
tempos que Vão correndo agravou-se essa mesquinhez! Não resiste à inveja, à
maledicência, à calúnia e ao desprestígio, quem sai da banalidade que serve e
agrada àquela «sociedade» de nulos! Odeiam e perseguem quem se distingue e
odeiam e apoucam, não por causa dos defeitos que as Vítimas possam ter, mas
somente pelas qualidades que constituem somara para os que rastejam...
Enquanto em toda a parte se engrandece a figura ou a memória de quem se
distingue pelos seus méritos, no Funchal só pensam em derrubar, em
amesquinhar e fazer desaparecer quem sai para além dos horizontes apertados
daquele meio horrível! Num meio que não fosse o do Funchal ainda hoje a Figura
da Viscondessa das Nogueiras teria uma auréola de esplendor. Em 1888 faleceu
no seu solar, com as suas recordações e os seus livros a Viscondessa das
Nogueiras que na literatura da sua época marcou um lugar de destaque.
Os Versos que seguem, colhidos ao acaso entre as diversas poesias da
Viscondessa
das
Nogueiras,
revelam
bem
a
que o Céu deixa apressado,
vibratilidade daquela alma.
quando ali viu girar
do Sol o carro doirado,
agora vogando errante
nos mostra a face radiante.
UMA NOITE DE LUAR
Já de estrelas recamado
a noite estendeu o véu;
fulguram astros brihantes
no panorama do Céu.
E sobre a praia arenosa
rola a Vaga preguiçosa.
Nuvem não há que escureça
o azul do Firmamento.
Roçam apenas nas folhas
as leves azas do vento.
Canta em loureiro visinho
o rouxinol num ninho.
E o fugitivo planeta,
Tem já metade cruzado
das celestes regiões,
onde formam as estrelas
formosas constelações
que variam, na figura
por sua forma e altura.
O frouxo palor que asparge
sobre o largo prateado
deixa na face dás ondas
um novo Céu estrelado,
onde se mira vaidosa
da noite a Princesa airosa.
Grossas nuvens vem trazendo
densos vapores do mar,
mil figuras desenhando
que mal poderá emitar
d'Appeles mago pincel
ou de Fídias o cinzel!
História Literária Da Madeira
cai sobre a Cruz do Campanário.
Já parecem altos montes
de neve os cimos c`roados,
já flocos de branca espuma
nas montanhas pendurados,
já rebanhos figurando
nos plainos de Céu errando.
Parece sobre esses montes
ir a Lua repousar;
mas é engano, que a Lua
seu carro não quer parar:
vai correndo apressurada
por essa esfera azulada.
E lá no céu
cerúlea luz
cai na campina
Cai sobre os montes
Aproximando
os horizontes.
E lá no prado
exposto ao vento,
cai sobre a relva
sem movimento.
Da natureza o aspecto,
a grandeza e harmonia
absorveram-m'a existência
em doce melancolia.
Foi presságio de ventura,
gozo da Vida futura.
Mas já pelos horizontes
alguns astros vão caindo,
outros por de traz das rochas
sua luz já vão subindo:
Da Lua o carro luzente
desce ao mar do Ocidente.
Tornou-se sombrio o manto
da noite, brilhante véu.
Só uma estrela diviso
nessa abóbada do Céu.
E ouço a Vaga preguiçosa
dormir na praia arenosa...
João de Sant`Ana e de Vasconcelos Moniz de Bettencourt - escreveu
«Anais do Município do Porto Santo», encontrando-se o original no arquivo
daquela Ilha.
Foi Governador da Madeira em 1862.
Era homem muito culto e apaixonado pela Literatura. A sua prosa é sóbria e
clara. Nasceu no Funchal em 1806 e faleceu em 1874.
Dr. Justino António de Freitas e Abreu - nasceu no Funchal em 1804.
Formou-se e foi um dos mais distintos advogados de Lisboa. Escreveu o
«Manual dos Juizes Eleitos» que teve sete edições. Fez parte do Governo
Provisório que se constituiu após a revolta de 1846. Tomou capelo em 1837.
História Literária Da Madeira
Em 1852 foi nomeado Professor da Universidade e foi por essa época que
publicou o seu grande trabalho - «Instituições de Direito Administrativo
Português». A sua vasta colaboração na imprensa tem um cunho vincadamente
político. Como membro do Conselho Superior de Instrução prestou àquele organismo assinalados serviços. Faleceu em Lisboa em 1865.
Dr. Juvenal Honório Moniz - nasceu na Cruz da Guarda, freguesia do Porto
da Cruz, em 1806. Formou-se em medicina na Universidade de Paris, onde
publicou um interessante trabalho de especialidade: «Dissertation sur le
traitement des pertes de sang qui peuvent suivre l'accouchement, par la
compression de l`aorte abdominale exercée sur le ventre, la position convenable
du corps et Pusage du seigle ergoté et des fortifiants». Esta tese foi publicada em
1834. Como médico teve muita nomeada na Madeira, onde faleceu em 1875.
Francisco Ferreira de Abreu - foi Secretário da Sociedade Funchalense dos
Amigos das Ciências e das Artes. Traduziu e publicou o «Compêndio elementar
de Economia Política» de Adolphe Blanqui e mais tarde «Discurso sobre as
Revoluções na Superfície do globo» pelo Barão de Cuvier. Era dotado de boa
inteligência. Na festa comemorativa do primeiro aniversário da Revolução do
Porto, que teve lugar no Palácio do Governo, no Funchal, em 23 de Agosto de
1822 leu o epítome dos trabalhos. Foi uma extensa exposição, bem apresentada,
que tem, por Vezes, uma ponta de ironia a paralelar com enfatuados e
pedantescos acacianismos.
Os adjectivos laudatórios, que hoje enchem as notícias personalistas da imprensa
do Funchal e que entram no campo do ridículo, já começavam a fazer escola, ao
que se Vê no discurso de Francisco Ferreira de Abreu. Mas da leitura da exposição chega-se a conclusões interessantes como, por exemplo, que o Governador
da Madeira, António Manuel de Noronha, era «persona grata» dos revoltosos e
que por estes se interessava. A nomeação de António Manuel de Noronha data de
22 de Março de 1822. E tanto era pessoa dos «liberais» que em 1852, quando já
tinha sido imposto ao País o regime constitucional, foi agraciado com o título de
Visconde de Santa Cruz, título que hoje conserva um seu descendente, que é
oficial da Marinha de Guerra Portuguesa, filho do conhecido Esgrimista Mário de
Noronha.
Mas através da exposição na festa comemorativa se vê ainda que os fins
científicos e artísticos da tal Sociedade estavam subordinados directamente aos
princípios que tornaram possível a revolta do Porto.
Arsénio Pompilio Pompeo de Carpo - segundo diz o Dr. Rodrigues de
Azevedo,
História Literária Da Madeira
«das partes que representou no teatro tomou os ostentosos apelidos que usava».
Era um apaixonado do teatro. Em 1820 estava ligado aos compromissos da
revolta do Porto, tendo tomado parte nos acontecimentos da Madeira em 1821,
pelo que, com a queda do «liberalismo», foi condenado ao degredo, indo cumprir
a pena de cinco anos em Angola. Durante o degredo fez-se comerciante e
enriqueceu. Depois da vitória de D. Pedro I.° do Brasil, foi Arsénio Pompilio
Pompeo de Carpo condecorado com a Comenda de Cristo e não se compreende
porque este aparece com o posto de Coronel do Exército liberal! Em 1846 caem
graves acusações sobre a sua acção e vai cumprir pena no Castelo de S. Jorge, em
Lisboa. Júlio Cézar Machado, nas suas «Notas para um Dicionário dos
Portugueses Notáveis» põe em relevo esta curiosa figura de madeirense, que
também é mencionado no Dicionário Bibliográfico de Inocêncio.
O Elucidário Madeirense diz que publicou vários panfletos, onde lidava as suas
questões pessoais. Há neste escritor madeirense uma estranha psicologia, de
aventureiro audacioso e irrequieto.
Começou a vida como modesto pedreiro e foi-se transformando depois em Actor,
Escritor, revolucionário, comerciante, oficial do Exercito e capitalista.
Como Actor interpretava os papéis com acerto.
Nasceu no Funchal em 1792 e morreu em Lisboa em 1856.
Marceliano Ribeiro de Mendonça - nasceu no Funchal em 18 de Abril de
1805 e aos 16 anos já partilhava nas actividades revolucionárias e tanto se
evidenciou que em 1821 tinha de pedir asilo a um súbdito britânico no Funchal,
para evitar a prisão e o degredo. Em casa deste britânico se conservou escondido
até 1834. Durante os anos que esteve em «cativeiro voluntário» instruiu-se e
assim conseguiu uma valiosa bagagem intelectual.
Diz o Dr. Rodrigues de Azevedo que «era um talento lúcido, de exposição
metódica e viva, de estilo ornado e expressivo, claro, correcto e puro; mestre no
manejo da língua; juntava a estes dotes profundo amor pelas letras». O Elucidário
Madeirense, embora seja uma das fontes de informação menos perfeitas,
menciona que «sem ter saído do meio restrito em que Viveu, conseguiu pelas
fulgurações do seu brilhante talento, pela sua Vasta ilustração e pelo mais a
cendrado amor ao estudo, exercer entre nós uma verdadeira supremacia
intelectual que jamais alguém pensou contestar-lhe».
Em 1835 publicou «Princípios de Gramática Geral aplicados à língua latina». Em
1852 trazia a público «A Filosofia em Coimbra e no Funchal». O seu estilo era
naturalmente elegante e os conceitos a levantados. Foi escolhido em 1838 para
Reitor do Liceu do Funchal.
História Literária Da Madeira
O Instituto de Coimbra publicou alguns dos seus relatórios, considerando-os
como peças literárias de valor.
Foi iniciativa sua a «Associação de Conferências» para instrução popular. Como
orador era primoroso e eloquente. Teve larga colaboração na imprensa. Além dos
seus livros de estudo publicou também um romance historio «Gaspar Borges».
No tomo VII do «Instituto» de Coimbra Vem publicado um trabalho de Ribeiro
de Mendonça: «Método paralelo de leitura e escrita». Desenvolveu com a sua
inteligência e a sua iniciativa uma actividade educadora e de cultura literária no
meio madeirense de que os benéficos efeitos se prolongaram muito além da sua
morte, em 5 de Agosto de 1866.
António Gil Gomes - era natural da freguesia de S. Jorge, na Ilha da Madeira
onde nasceu em 1805. Em 1828 fugiu para o Brasil onde viveu exilado até 1834.
Foi no Brasil que publicou em 1831 «Regras elementares sobre pontuação». De
regresso à Madeira o Escritor publicou, em 1840, «Refutação das observações da
Comissão Permanente da Pauta Geral das Alfândegas de Lisboa, feitas acerca das
reformas e alterações propostas à dita Pauta pela Comissão Especial da Ilha da
Madeira» «por um madeirense».
- Em 1844 publicou também «Compilação de Princípios de Filosofia Racional».
Era «livre pensador» declarado. Não se subordinando, por não concordar com o
caminho que seguia a política «liberal» triunfante, foi mal compreendido e
menosprezado. E até quando a Morte o prostrou a sua infelicidade manteve-se
pois que lhe foi negada sepultura no Cemitério, por ter renegado o catolicismo,
sendo então enterrado num terreno junto de uma pocilga em 3 de Julho de 1868.
Paulo Perestrelo da Câmara - nasceu em 1810, no Funchal. Foi Escritor
prolífero mas desregrado. Não cuidava o estilo e no seu desleixo ia até às faltas
de exactidão nos assuntos que Versava. Em 1841 foi para o Brasil e por lá
permaneceu até 1853.
Inocêncio da Silva refere-se detalhadamente a este Escritor, apontando, no
Dicionário Bibliográfico, os erros e deficiências dos seus trabalhos literários.
Paulo Perestrelo da Câmara, durante uma estadia em Lisboa, privou com
Inocêncio, de modo que foi a este mais fácil fixar as suas qualidades e defeitos.
Era homem inteligente. O Dr. Rodrigues de Azevedo também o louva na sua
crítica. Em 1859 publicou «Descrição Geral de Lisboa» e em 1841 «Breve
Notícia sobre a Ilha da Madeira»; em 1846 «Novo Tratado de Aritmética
Comercial»; em 1848 «Colecção de Provérbios, Adágios, Anexins; Sentenças
morais e Idiotismos da língua portuguesa»; <Gramática das Gramáticas da língua
História Literária Da Madeira
portuguesa»; «Dicionário geográfico, histórico e político», sendo neste trabalho
onde mais deficiências se registam, assim como faltas de exactidão
injustificáveis.
Diz um seu biógrafo que foi muito precipitado no que escreveu. Morreu no Rio
de Janeiro em 4 de Fevereiro de 1854.
Dr. António da Luz Pita - nasceu em 2 de Setembro de 1802 na vila da Ponta
do Sol. Celebrizou-se como médico e pelos seus Vastos conhecimentos
científicos. Era formado pela Universidade de Montpelier. Foi Professor da
Escola Médico--Cirúrgica do Funchal.
O Dicionário Bibliográfico menciona numerosas obras deste Escritor. Em 1830
publicou, em Montpelier, «Propositions sur la vaccine»; em 1831, em Paris,
«Desavantages de la reunion inimediate, par la suture après les operations» e em
Lisboa, no ano de 1848, «Observação da amputação do colo do útero».
Novamente em Paris, em 1859, publicou «Note sur une modification du
Stethoscope».
As suas obras, como se depreende da sua leitura, eram dedicadas à ciência
médica. Foi membro de várias Instituições científicas portuguesas e estrangeiras.
Faleceu no Funchal em Fevereiro de 1870.
Dr. António Alves da Silva - era formado em medicina pela Universidade de
Coimbra e foi Doutorar-se à Universidade de Paris. Publicou em 1848 uma tese:
«La fièvre typhoide est une maladie inflamatoire dans la premiè période,
septiémique dans Ia seconde». Nas revistas científicas e em especial em «O
Médico» e na «Revista Académica» de Coimbra, etc, etc, encontra-se
colaboração deste escritor. Fez notáveis conferências públicas, revelando-se
orador eloquente. Tendo nascido no Funchal em 15 de Setembro de 1822, Veio a
falecer na sua cidade natal em 1870.
Sérvulo de Paula de Medina de Vasconcelos - era filho do famoso Poeta
madeirense Francisco de Paula de Medina de Vasconcelos e nasceu no Funchal
em 1822. Foi Redactor, em 1844, do «Beija-Flor» e mais tarde acompanhou o
Governador de Cabo Verde, D. Miguel de Noronha para aquele Arquipélago,
onde ficou colocado no Governo Civil. Escreveu um drama: «Amor e Pátria» e
em 1851 publicou um romance: «Um filho chorado». Foi Redactor do Boletim
Oficial de Cabo Verde. Era escritor mediano. Faleceu em Cabo Verde em 1854.
História Literária Da Madeira
Januário Justiniano de Nóbrega - era sobrinho do grande Poeta Francisco
Alves de Nóbrega, mais conhecido por «Camões Pequeno. Não teve o valor do
tio, muito embora a sua inteligência fosse também fora do vulgar e possuísse uma
boa cultura literária. Nasceu no Funchal em 25 de Fevereiro de 1824. Notabilizou-se como Jornalista. Os periódicos funchalenses «Campo Neutro», «Estudo»
e alguns outros - tiveram boa colaboração sua, em prosa e Verso. Foi prolífero
em composições literárias, mas tendo sido atacado de alienação mental destruiu
quase tudo quanto escrevera, especialmente peças, na maior parte inéditas.
Escreveu uma obra de carácter histórico-estatística sobre o Arquipélago da
Madeira de que o autógrafo foi entregue ao antigo Governador Conselheiro José
Silvestre Ribeiro e que, por Ventura, deve andar talvez em qualquer arquivo do
Estado ou Biblioteca. O Dr. Rodrigues de Azevedo ainda conseguiu desse
trabalho alguns «borrões» de que faz referência nas Anotações às Saudades da
Terra.
Em 1850 fez segunda edição das poesias de seu malogrado tio, o «Camões
Pequeno». Tenho aqui, sobre a minha mesa de trabalho, um exemplar desse
pequeno volume e em cujo frontispício se lê: - «Rimos» que em sinal de
reconhecimento ofereceu ao Senhor Manuel José Moreira Pinto Baptista, na
cidade de Lisboa, o seu Autor Francisco Álvares de labrega, por antonomásia
«Camões Pequeno». Mandadas reimprimir por seu sobrinho Januário Justiniano
de Nóbrega. - Funchal - na Tipografia Nacional, 1850 -».
Na primeira página deste volume há um autógrafo, que dá a sua posse a meu Avô
paterno, com data de 27 de Julho de 1850. O prólogo é da autoria de Januário de
Nóbrega: «-Reimprimindo as Rimai de meu tio, Francisco Álvares de Nóbrega,
julguei acertado dar uma sucinta ideia da sua vida. Oriundo da Vila de Machico
desta Ilha da Madeira, nasceu em 1773 no berço onde o pequeno nasce. Veio
para esta cidade e acolhido pelo Sr. Marcos João de Orneias, recebeu em casa
deste a primeira educação. Descobriu-se-lhe talento, votaram-no à carreira
eclesiástica e entrou – seminarista - no Colégio de S. João Evangelista. Já o
arrebatava então o amor pelas Musas para o que a Natureza o havia criado; mas a
desgraçada tendência para a sátira granjeou-lhe o ódio do Bispo desse tempo, D.
José da Costa Torres, que não era das melhores compleições e que se constituiu
em seu implacável inimigo. Para um mancebo obscuro que segue a vida
eclesiástica, o ódio do seu Bispo não é pouco. Sobrevieram-lhe, em
consequência, não pequenos desgostos, que mais tarde, pela transferência desse
Bispo para a Diocese de Eivas, desafogou, para maior desdita sua, em algumas
composições poéticas (1).
__________________
(1) - Delas chegou às minhas mãos o soneto que transcrevo. Achá-lo-á demasiado virumento quem não souber que o
solícito Pastor desterrou muitas das suas ovelhas, entregando-as à loba da Inquisição: - «São pedreiros-livres, dizia o
santo homem, inimigos do Trono e do Altar.»
História Literária Da Madeira
Acabados aqui os seus estudos, ardor de aproveitar-se em pátria alheia o
transportou a Lisboa para melhor prosseguir sua carreira; mas o Bispo d' Elvas,
cujo ódio à sua Vítima havia exacerbado, pude-lhe fazer tal perseguição que o
levou à Cadeia do Limoeiro, onde jazeria por muito tempo se não invocasse o
poderoso valimento do novo Bispo funchalense, D. Luís Rodrigues Vilares, alma
pia, verdadeiro contraste do seu antecessor. Foi posto em liberdade; mas o resto
da sua vida, salvo curto intervalo em que lá ia, como Poeta, ganhando celebridade, foi uma longa cadeia de infortúnios.
Antagonista do fanatismo que então reinava, foi perseguido pela Inquisição,
gemendo como Bocage, nos seus cárceres e ultimamente, pela segunda Vez, no
Limoeiro, de onde lhe conseguiram soltura os quinze Sonetos com que soube
tocar o ânimo do Monarca. Já a este tempo o afligia a moléstia fatal que Veda a
quem sofre dar a mão de amigo, tratar os seus semelhantes; e aborrecido da vida,
cansado de lutar com a adversidade, curtindo, longe dos seus, acerbas angústias,
no meio de penosas privações aos 54 anos de idade achou que devia cortar o fio
da existência, consumando o que já tinha revelado ao seu amigo e bemfeitor,
Manuel José Moreira Pinto Baptista.
Levantou a própria eça no silêncio da noite, rodeou-se dos livros a que
consagrava longas horas de insónia; pôs à cabeceira os seus escritos e libando,
como Sócrates, a bebida fatal, adormeceu no seio da Eternidade! No dia seguinte
Familiares do Santo Oficio arrombaram a porta da habitação; - saiu por ela o
cadáver e depois os Familiares, um dos quais sobraçava um embrulho, Eram os
escritos do Poeta infeliz que a Inquisição arremessou às suas fogueiras porque
___________________________
Alviçaras, Funchal, da opressa frente
Arranca em fim o ramo acipreste;
As alvas roupas da alegria veste;
As faces banha de prazer veemente!
O flagelo tenaz da humana gente,
Mais terrível que fome, guerra e peste,
Por decreto fatal da Mãe Celeste
A seu pesar te deixa em paz contente!
Era um santo varão... viver devia
Lá no calado horror das mudas selvas
Onde nem sequer visse a luz do dia;
Brutas feras tratar, manter-se em relvas
Esse aborto da torpe hipocrisia
O Bispo do Funchal, eleito d' Elvas...
História Literária Da Madeira
muitos deles eram brados de execração contra ela! Funchal, 51 de Maio de
1850.» Este texto, da autoria de Januário Justiniano de Nóbrega, revela a
facilidade de exposição num estilo cuidado e claro e dá a notícia da vida
atribulada do «Camões Pequeno». Em 1860 apareceu um volume - «Flores
Agrestes» - que continha poesias de Januário Justiniano de Nóbrega e de João
Fortunato de Oliveira. A segunda parte desta obra nunca foi publicada porque
Januário de Nóbrega, num acesso de loucura, destruiu as poesias, como outros
escritos que possuía. Morreu, despenhando-se por uma rocha, à beira-mar, no dia
28 de Julho de 1866.
Depois da sua morte foi publicada a sua obra póstuma «Visita de S. Majestade a
Imperatriz do Brasil, Viúva, Duquesa de Bragança, à Ilha da Madeira e fundação
do Hospício da Sereníssima Princesa D. Maria Amélia ».
Este trabalho foi impresso no Funchal em 1867, um ano após a morte do autor.
Padre José Gonçalves de Aguiar - Foi Desembargador da Cúria Patriarcal, em
Lisboa, e era natural de Câmara de Lobos, onde nasceu em 1831.
Notabilizou-se pelo seu talento que logo se revelou no curso do Seminário do
Funchal e tendo convivido com uma nobre família russa que viera para a Madeira
em procura da amenidade do clima que restituiu a saúde a um ente querido, tendo-lhe reconhecido os méritos mandaram-no, a expensas dessa família russa,
formar-se em Teologia na Universidade de Coimbra. Possuía o Padre Gonçalves
de Aguiar vastíssima ilustração e gozava de grande prestígio pelo seu valor e
pelo aprumo do seu viver, sendo um sacerdote honesto e perfeito. Como Jornalista deixou Valiosa colaboração na Imprensa do País e publicou em 1880 um
interessante trabalho: «O Dogma da Imaculada Conceição de Maria Santíssima».
Em 1888 apresentou também nova obra de carácter religioso: «Tratado da
Penitência».
Foi dos espíritos mais cultos e eloquentes que a Igreja teve nesta época.
Dr. António João de França Bettencourt - nasceu na Calheta em 19 de
Outubro de 1827. Cursou o Liceu e matriculou-se em Teologia e tanto se
notabilizou que em 1862 tomava o «Capelo». Em 1872 concorreu com o sábio
Doutor Silva Ramos à Cadeira de Teologia, obtendo a l.ª classificação. Publicou
«A Verdade Filosófica do Mistério da Encarnação», de que saíram várias
edições. Regeu as Cadeiras de hebraico e história no Seminário de Coimbra. Era
membro do «Instituto» e foi o primeiro madeirense que depois da reforma de
Pombal, em 1872, regeu Cadeira de Teologia. Deixou o seu nome ligado
nobremente à Santa Casa da Misericórdia de Coimbra, onde prestou assinalados
História Literária Da Madeira
serviços. Faleceu nessa cidade em Outubro de 1882, tendo sido sacerdote honesto
e homem de inteligência e saber muito vastos.
D. Maria do Monte de Sant` Ana e de Vasconcelos Moniz de Bettencourt
- foi das inteligências mais bem formadas e dos espíritos mais ilustres da sua
época. Manteve correspondência com os Escritores e Artistas dos mais notáveis
do Estrangeiro e do País. Teve muita colaboração na Imprensa e em 1855
publicou o romance «O Cura de S. Lourenço». Em 1879 trouxe a público nova
obra literária: «Bermudo e a Meda de Prata de D. Diniz». Escrevia com
espontânea elegância e era de extraordinária clareza. Sofreu, sem dúvida, as
influências literárias da época, mas nos seus livros firma bem a sua
personalidade, o seu espírito forte com extraordinária originalidade. Viveu num
prédio da Rua das Pretas, no Funchal, tendo ali escrito os seus livros e ali vindo a
morrer.
E. A. de Bettencourt - é um escritor madeirense de quem o Elucidário
Madeirense, com a já conhecida e reconhecida falta de precisão e da leviandade
informativa do Sr. P.e Fernando Augusto da Silva, dá uma vaga e lacónica
notícia.
Das buscas a que procedi ainda averiguei que se dedicava especialmente a
assuntos de investigação da história regional. Em 1875 publicou um breve
estudo, editado no Porto, e que é curioso - «Memória sobre a descoberta das Ilhas
de Porto Santo e da Madeira».
Conselheiro Dr. Luís de Freitas-Branco - era sobrinho do Padre João Manuel
de Freitas-Branco e nasceu no Funchal em 19 de Agosto de 1819. Formou-se em
Direito na Universidade de Coimbra com altas classificações.
De 1858 a 1884 foi eleito sete vezes Deputado da Nação, pela Madeira, tendo-se
notabilizado como orador parlamentar e sendo várias vezes Relator de Propostas
de Leis. Gozou de grande prestígio e influência política e recusou sobraçar a
pasta da Justiça para que Fontes Pereira de Melo o convidara. No ano de 1862 foi
nomeado Director Geral dos Negócios Eclesiásticos do Ministério da Justiça. Era
Par-do-Reino. Alguns dos seus discursos e artigos políticos foram considerados
como primorosas peças literárias. Faleceu em Lisboa em Novembro de 1884.
Dr. Nicolau Anastácio de Bettencourt - nasceu na aristocrática Freguesia de
S. Pedro do Funchal em 7 de Fevereiro de 1810 e conquistou na Universidade
História Literária Da Madeira
altas classificações. Fez parte do Batalhão Académico, comandado pelo Conde
de Vila-Flor e em consequência desta aventura teve de emigrar para Inglaterra
em 1828, fazendo depois parte das forças organizadas pelo Imperador D. Pedro
I.° do Brasil e que desembarcaram no Mindelo - a famosa «Praia dos Ladrões» -,
de onde seguiu para o cerco do Porto. Combateu ao lado de José Estêvão Coelho
de Magalhães, Júlio de Oliveira Pimentel, José Silvestre Ribeiro e outros literatos
que já se evidenciavam e que se haviam lançado na aventura da guerra civil.
Distinguiu-se pela sua heróica valentia. Depois do triunfo «liberal» foi Governador de Aveiro, de Portalegre e de Angra do Heroísmo, onde permaneceu doze
anos e tendo ali desenvolvido a instrução e o gosto pela cultura literária. Era
escritor de grandes méritos. Teve larga colaboração na imprensa. Era também
bom orador e Poeta. Em 1857 publicou «Exposição de factos que se deram no
Distrito de Angra do Heroísmo». Faleceu na Terceira em 1874.
Dr. Lino Cassiano Jardim - nasceu na Freguesia de Sant`Ana da Ilha da
Madeira e foi Cirurgião pela Escola Médica do Funchal, tendo mais tarde
defendido tese na Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro. Em
1871 publicou um estudo de especialidade médica «Febre Biliosa». Era escritor
de recursos e com facilidade e clareza de exposição. Faleceu no Brasil e por isso
difícil é obter mais elementos a seu respeito.
D. António Correia de Heredia publicou em 1849 «Breves Considerações
sobre a abolição dos Morgados na Madeira» e em 1850 «As Contradições
Vinculares».
Em 1852 trouxe a público «A boa-fé do Arquivista», em 1888 «Observações
sobre a Situação Económica da Ilha da Madeira e sobre a Reforma das
Alfândegas», em 1875 publicara já «Relatório do Projecto de Regulamento Geral
das Alfândegas» e em 1885 «António Correia de Heredia e o Público» e em 1886
«Exposição de Documentos enviados à Câmara dos Dignos Pares».
Foi este Escritor madeirense prolífero em composições literárias e económicas.
Teve larga colaboração na imprensa de Lisboa e do Funchal. Foi Deputado e
Governador da Madeira. Nasceu no Funchal em 2 de Março de 1828 e faleceu
em Lisboa em 1889.
António José de Sousa Almada - nasceu em 1824 e de muito novo dedicou-se
à Literatura. As suas composições eram medianas e vulgares. Não conseguindo
celebridade literária Voltou-se para o comércio e para a política onde obteve
melhor êxito.
O Dicionário Popular e o Dicionário de Portugal trazem referências a este
História Literária Da Madeira
madeirense, sendo ambos concordes na sua mediocridade. Residia em Benfica,
onde faleceu em 1874.
Francisco de Andrade - nasceu no Funchal em 1806 e depois de ter os
preparatórios foi para Lisboa. Foi autor de um trabalho «Princípios de Gramática
Portuguesa», editado no Funchal em 1844 e de que saíram de 1849 a 1879 cinco
edições.
Em 1849 publicou «Relatório sobre as Escolas Municipais de Instrução Primária
do Concelho do Funchal». Foi professor de Latim e de Português no Liceu do
Funchal. Deixou vários trabalhos inéditos e faleceu em Fevereiro de 1881.
Alexandre Luís da Cunha - publicou em 1832, no Rio de Janeiro, um estudo
sobre «Os Estados-Unidos da América Setentrional em 1850 e 1851». Foi
Jornalista e Escritor e dirigiu no Funchal os periódicos «Defensor da Liberdade»
e «Correio da Madeira», tendo sido condenado por abuso de liberdade de
imprensa.
Depois de cumprida a pena foi para a América e depois para o Brasil tendo
permanecido lá até 1835. Foi Professor de línguas no Liceu do Funchal, onde
faleceu em 1838.
D. Olímpia Pio Fernandes - Como escritora tinha qualidades. Colaborou na
imprensa regional e em revistas literárias do Continente.
Em 1877 escreveu um drama, que subiu à cena no Teatro do Funchal e que se
intitulava «Alda ou a Filha do Mar».
Possuía vasta cultura artística e gozava de prestígio nos meios intelectuais da sua
época, tanto no Funchal como em Lisboa.
Dr. Augusto de Arzila da Fonseca - foi autor de várias obras: «Princípios
Elementares de quaterliões» e «Aplicação dos quaterliões à Mecânica», etc.
A sua tese para o Doutoramento em Matemática na Universidade de Coimbra, tm
1884, é um trabalho muito notável e intitula-se: «Tese de Matemática pura
aplicada». Tirou também o curso da Escola do Exército obtendo a 1."
classificação do seu curso. Nasceu na Madeira no ano de 1855.
Cónego Joaquim Gonçalves de Andrade - possuía uma grande erudição e era
História Literária Da Madeira
dotado com inteligência privilegiada. Nasceu no Funchal em 7 de Dezembro de
1795 e Doutorou-se em Teologia.
Em 1834 foi feito Cónego da Sé do Funchal e escolhido para Secretário do Bispo
D. Francisco José de Andrade, que, tendo-se ausentado para Itália, fixando
residência em Génova, levou em sua companhia este eclesiástico, que
permaneceu em Génova até à morte do Prelado. Veio depois para Lisboa onde
conservava relações com os mais notáveis Artistas, Escritores e intelectuais da
época. Tinha a paixão pela literatura. Era bom orador, com a palavra fluente. O
novo Bispo da Madeira, D. José Xavier de Cerveira e Sousa mandou-o chamar
para que, pelo poder da sua palavra, da sua eloquência e do seu espírito forte
pudesse travar a luta contra a propaganda anti-católica e anti-portuguesa
intensificada pelo agente protestante britânico Dr. Robert Kally. Foi por essa
ocasião escolhido para Vigário Geral e Deão da Sé.
Quando, em 1852, chegaram ao Funchal Sua Majestade a Imperatriz D. Amélia
do Brasil com a Princesa Imperial, D. Maria Amélia, que Vinha atacada de
tuberculose pulmonar, foi escolhido o Cónego Dr. Gonçalves de Andrade para
Capelão da Família Imperial do Brasil.
Foi escritor muito erudito. O Elucidário Madeirense, sempre lacónico, diz «que
escreveu para a tradução dos Fastos, de Ovídio, feita por Castilho e nas anotações
que adicionam a edição da História Insulana de António Cordeiro, publicada em
1862».
Deixou numerosos trabalhos literários assim como a documentação que tinha
reunido para a História do Arquipélago da Madeira, mas parece que tudo isso se
perdeu.
O Cónego Doutor Joaquim António de Andrade faleceu em Lisboa em 16 de
Janeiro de 1868. Os seus restos mortais foram trasladados para o Cemitério das
Angústias, no Funchal.
Dr. Adriano Augusto de Larica - nasceu no Funchal em 1851 e depois de tirar
os estudos preparatórios foi para França onde se Doutorou na Universidade de
Montpelier. Possuia magnífica cultura literária e científica, servidas por sólida inteligência.
Publicou em 1852 uma tese, escrita em francês, «Apprecier les methodes
operatoires de la fistule Vesico-veginale».
É um trabalho científico, de especialidade, que mostra ter sido feito por um
História Literária Da Madeira
médico distinto que, além de tudo, lidava o francês como se fosse a própria
língua. Não consta que tivesse deixado outro trabalho. Faleceu com 72 anos em
22 de Maio de 1905, no prédio da Rua da Carreira, que faz esquina com a
Travessa do Freitas, onde está instalada uma Escola, em frente à Associação dos
Estudantes Pobres.
Dr. João Mancio Teixeira - nasceu na Madeira em 1839 e tendo cursado o
Liceu no Funchal foi formar-se em medicina e cirurgia na Escola Médica do
Porto.
Em 1866 publicou uma tese «Das Pseudarthroses resultantes de fracturas não
consolidadas e do seu tratamento». É, sem dúvida, um trabalho de especialidade.
Dr. Cândido Joaquim da Silva - mais popularmente conhecido por Doutor
Silvado, deixou uma obra valiosa, escrita em francês: «Considerations Generales
sur la Syphilis».
Nasceu em 1806, no Funchal, onde cursou o Liceu e foi Doutorar-se na
Universidade de Montpelier.
Desenvolveu, como médico, entre 1831 e 1879 grande actividade profissional,
sendo considerado como um dos melhores médicos. Faleceu em 8 de Fevereiro
de 1879.
Doutor João Augusto Teixeira - gozou do maior prestígio na Madeira. Nasceu
na Ponta do Sol em 1845 e dotado de brilhante inteligência e magnífica cultura
notabilizou-se na Universidade de Coimbra onde foi convidado para Lente.
Tinha uma memória prodigiosa.
Era profundo em latim e português. A sua cultura literária era perfeita. Como
orador era eloquente, lidando a frase com elegância.
Foi professor na Escola Médica do Funchal e no Liceu. Conquistou, nos meios
intelectuais do País, justa fama de sabedor e inteligente. Representou a Madeira
no Parlamento, em 1886, notabilizando-se em especial pela eloquência e pela
defesa que tomou a favor da Ilha do Porto Santo, que por essa data atravessava
uma das suas crises aflitivas. Como Jornalista foi notável, não só no campo
político, na polémica e no doutrinismo, mas também em assuntos literários e
científicos.
História Literária Da Madeira
O talento de que era dotado o Dr. João Augusto Teixeira era já dom daquela
Família que tantos valores deu para enriquecer a literatura e a ciência do País.
Faleceu em 1907, no Funchal, tendo sido sepultado na sua terra natal, na Ponta
do Sol.
Dr. Francisco Clementino de Sousa - tinha um estilo muito original e
caracteristicamente satírico, com riqueza e fluência de vocábulo. Usou algumas
Vezes nas suas composições literárias o pseudónimo de Faustino Brazão. A
polémica era o seu grande «cavalo de batalha». Em 1868 apareceu no Funchal
um folheto anónimo, intitulado: «A questão entre o Dr. João da Câmara Leme e o
Farmacêutico Francisco Xavier de Sousa». Esta obra era da autoria do Dr.
Francisco Clementino de Sousa e nela fazia uma acalorada defesa, inteligentemente conduzida, de seu Pai, num pleito havido com o Conde de Canavial. Em
1874 publicou outro trabalho, mas desta vez com o seu nome, «Resposta ao Dr.
Acúrcio Garcia Ramos». A preocupação do autor desta obra era então pôr «fora
de combate» um médico açoriano que nesse ano de 1874 publicara um ataque à
Comissão Administrativa da Santa Casa da Misericórdia. Esse ataque do Dr.
Acúrcio Garcia Ramos intitulava-se «O Hospital de Santa Isabel da Cidade do
Funchal, visto à luz da Higiene». Este Dr. Acúrcio Garcia Ramos nascera na
Terceira em 1854 e viera, depois de formado, exercer medicina na Madeira,
chegando a ser Professor interino da Escola Médica do Funchal. Sendo activo e
inteligente era conflituoso e contundente, especialmente em assuntos políticos.
Em 19 de Abril de 1874 ficou preso na Fortaleza do Ilhéu sob a acusação de
tentar anarquizar os soldados, estando envolvido num conluio maçónico que
tinha em vista entregar a Madeira aos Americanos. Em virtude de tais graves
acusações foi mandado preso para Lisboa, onde teve de responder. Foi em
Lisboa, em 1880, que publicou uma obra, em dois volumes, «A Ilha da Madeira»,
onde fazia livremente crítica dura...
Foi em virtude do conflito com a Santa Casa da Misericórdia que o Dr. Francisco
Clementino de Sousa publicou a sua violentíssima «Resposta».
Na imprensa do Funchal e em especial em «O Direito» e no «Diário de Notícias»
teve o Dr. Francisco Clementino de Sousa larga colaboração. Tão facilmente
lidava a prosa como a poesia e as suas composições eram sempre acolhidas com
geral interesse do público e tinham repercussão no meio literário insular. Não é
exagero assegurar que muitas das suas composições rivalizavam com as de
Nicolau Tolentino e com as de outros Poetas desse tempo, que no género satírico
tiveram grande repercussão na literatura. Se o Dr. Francisco Clementino de
Sousa tivesse vivido noutro meio de horizontes largos, teria alcançado uma
enorme celebridade. Não há dúvida que vem de traz a certeza de que o meio do
História Literária Da Madeira
Funchal é apertado e ingrato. Hoje pior sempre do que ontem em injustiça, inveja
e ingratidão, para aqueles que conseguem sair da vulgaridade. Hoje, então,
parece que tudo se tem agravado e amesquinhado e os ódios, as invejas, a
maledicência, amontoam-se para aniquilar quaisquer valores. Na mesquinhez da
vida social do Funchal quem consegue evidenciar-se pode contar com a agressão
traiçoeira e com toda a espécie de torpezas para derrubar e aniquinhar. Não são
os defeitos mas as qualidades que concitam essas atitudes agressivas contra
quaisquer valores...
Em matéria literária e científica a ingratidão do meio tem um sentido de
inconcebível inveja ou despeito, da parte da Vulgaridade ou dos nulos, que
excede quanto seja possível calcular...
E se não fora esta «pecha» atávica do meio, a obra literária do Dr. Francisco
Clementino de Sousa, não só como homenagem póstuma ao Escritor mas como
colectânea de produções valiosas para o enriquecimento da literatura nacional,
devia ter sido reunida e publicada. Há muita produção valiosa que na Madeira se
perdeu irremediavelmente por causa deste desgraçadíssimo espírito de
mesquinhez, característico já deste meio...
O Dr. Francisco Clementino de Sousa, que nasceu no Funchal em 26 de
Fevereiro de 1846, foi um dos espíritos mais brilhantes e um dos valores
literários que devia envaidecer a terra natal, onde morreu em 24 de Julho de
1896. As suas sátiras e o seu talento poético não admitem dúvidas de serem
magníficos...
Luciano Cordeiro - viveu na Madeira desde 24 de Julho de 1848, quando a esse
tempo ainda não tinha três anos de idade. Pela Madeira se demorou até à sua
entrada na Escola Naval e considerava o Funchal como a sua terra. Foi do Funchal que ele guardou a lembrança dos seus melhores tempos de infância e de
mocidade; foi no Funchal que fez os seus estudos e escreveu os seus primeiros
ensaios literários. Toda a vida repetiu que na Ilha da Madeira passara «os mais
felizes e despreocupados dias» da sua curta e produtiva existência. A
contemplação constante desse Oceano, de um azul-anil, que só na Madeira se
depara com tal tonalidade, despertou no espírito juvenil do Poeta a sedução do
Mar.
A Madeira fascinou-o sempre e por isso fazia por ir «à Ilha da Madeira» passar
as horas dos dias felizes das férias. Com o rolar do tempo Luciano Cordeiro de
Sousa notabilizou--se como erudito polígrafo e extremo patriota e o seu nome
honrou o País.
História Literária Da Madeira
Em 1941, ao aproximar-se a data do 1.° centenário do nascimento de Luciano
Cordeiro, advoguei na «Revista Portuguesa» e consegui que o caso se agitasse na
imprensa do Funchal, a comemoração desse centenário, lembrando que a Madeira o devia assinalar, pelo menos com uma lápide comemorativa no prédio da
Rua da Carreira, onde viveu, no Funchal, o grande Luciano Cordeiro. Foi ali que
ele compôs os seus primeiros Versos e escreveu os seus primeiros artigos que
saíram nos periódicos de estudantes desse tempo!
Na política presente da Madeira parece que tudo quanto não parta da iniciativa
dos que foram alcandorados às regiões da governação pública não tem condição
de seguir caminho. Assim, tendo partido da «Revista Portuguesa», a ideia dessa
comemoração, foi posta à margem e esquecida uma oportunidade que em outra
parte teria sido aproveitada com o maior brilho pois seria um padrão de orgulho e
honra.
O meu grande amigo e camarada, o Arqueólogo, escritor e investigador Eng.°
José Cordeiro de Sousa - filho do eminente Luciano Cordeiro - a meu pedido,
nessa época, em que agitei a ideia da comemoração do centenário do nascimento
do eminente polígrafo, forneceu-me alguns dados, que publiquei na «Revista
Portuguesa», assim como os primeiros versos, compostos na Madeira, quando
Luciano Cordeiro ainda estudava no Liceu do Funchal.
Diz-me José Cordeiro, em carta que acompanha esses elementos, que seu Pai «já
em vésperas de regresso a este bulício de Lisboa de muitas e variadas gentes»
publicou no periódico dos Alunos do Liceu do Funchal, «O Recreio», a poesia
que revela a saudade que lhe deixa a Madeira e põe em destaque os seus méritos
literários.
Adeus!
Sentes acaso da saudade o espinho,
fatal ausência torturou-te já,
a sós curtiste amargores do exílio,
sabes tristezas que nos pungem lá?
Provaste horas de amargura infinda,
lembrando tempos que passados vão,
pediste à brisa que te levasse à
Pátria,
e a brisa, ai triste!, respondeu-te:
não?
Às ondas doidas perguntaste um dia,
novas dos entes que deixaste além,
chamaste o amigo, procuraste o Pai
gemendo
o
eco
respondeu:
«ninguém»?
Meu canto triste que não ornam
galas,
recorda apenas da saudade o fel,
adeus sentido que me brota d'alma
mal pode a lira traduzir fiel.
Corre meu pranto... Este céu tão
puro,
frescos Verdores e flores mil,
serras gigantes a rasgar as nuvens
rojando os mantos neste mar de anil;
linfas de prata refervendo além
por entre as fragas embalando flores
e os mil gorgeios no pinhal umbroso
e as auras tíbias a falar de amores;
ai tudo.. .linfas e flores e montes,
família e amigos dos folgares
d'outr'ora
com mágua infinda vou deixar-vos
breve,
pranto de ausência já minh' alma
chora.
Adeus Madeira, tão formosa terra,
gentil Rainha de flores vestida,
eu parto cedo mas bem funda n'alma
gravada levo tua imagem linda.
Levo lembrança da infância minha,
prazeres e dores que eu em ti gozei,
Criança ainda nos teus vales folgava
Depois, já homem,... em teus vales
amei!
No teu regaço da ciência o livro
com mão tremente de infantil receio
abri... e deste-me as primeiras luzes
do que no livro da natura leio.
Eu parto! A' lida vou volver das
aulas
e vou nos livros esconder meu
pranto;
Adeus! Madeira, desta pobre lira
aceita o menos o tão pobre pranto...
Funchal, Setembro de 1865.
Luciano Cordeiro».
São evidentemente os versos de um rapaz que mal começa a olhar a vida sentindo
os primeiros rebates do coração. Mas é uma Romagem espontânea de bem
sentida saudade à sua Madeira de onde se vai embora, inconsolável, ansioso já
por outras férias...
Já nestes versos de rapaz a descrição das belezas da Ilha dá uma ideia do que
tanto o impressionou, especialmente a Vida e a cor...
«........... este céu tão puro,
frescos verdores e flores mil,
serras gigantes a rasgar as nuvens,
rojando os mantos neste mar de anil;
linfas de prata refervendo além
por entre as fragas embalando flores,
e os mil gorgeios no pinhal umbroso...
e as auras tíbias a falar de amores».
O Mestre mostra já aqui a força descritiva de que era dotado. Esses Versos são
um quadro, uma pintura...
As Autoridades, todos na Ilha da Madeira leram os meus apelos para a
comemoração do centenário do nascimento de Luciano Cordeiro mas ficaram
mudos e quedos. Mas a honra era para a Madeira, para a sua História, para o seu
História Literária Da Madeira
movimento literário reivindicar com orgulho o nome de Luciana Cordeiro, que
tanto amou e se ligou a esta linda Ilha.
Não quiseram. Tanto pior. A minha consciência ficou sossegada e nem pela
indiferença insulana diminuiu o nome glorioso de Luciano Cordeiro.
Dr. Lourenço José Moniz - na sua época distinguiu-se como sendo um dos
homens mais eminentes da Madeira. Nasceu em 1789 e formou-se em Medicina
na Inglaterra, onde conquistou grandes prémios, apesar de ser estrangeiro. Em
1815 publicou um trabalho Verdadeiramente notável: «De Ictero», escrito em
latim. Foi Professor do Liceu e da Escola Médica do Funchal, onde teve o cargo
de Director. Foi também Deputado da Nação pela Madeira. Teve larga
permanência nos Estados Unidos da América do Norte. Foi orador parlamentar
muito distinto e pertenceu às mais importantes agremiações científicas,
estrangeiras e nacionais do seu tempo. Teve muita e Valiosa colaboração na
imprensa e morreu em Lisboa em 1857 ficando sepultado no cemitério do Alto
de S. João.
Joaquim José de Faria Santos - foi especialmente jornalista de grande mérito.
Teve colaboração na imprensa madeirense - «Arquivista», «Baratíssimo»,
«Ordem», «Madeira», «Verdade», etc.
Nasceu em 21 de Janeiro de 1822, no Funchal, onde faleceu em 12 de Abril de
1886.
Dr. João Joaquim Figueira - nasceu na Madeira e tendo terminado os estudos
no Liceu do Funchal foi para a Universidade de Montpelier doutorar-se em
Medicina. Dedicou-se a estudos literários e de especialidade médica. Escreveu e
publicou «Etude d'accouchement premature artificiel». Exerceu clínica em
França e só mais tarde passou para a Madeira. Morreu no Funchal em 1859.
Dr. José António de Almeida - foi redactor da «Revista Jurídica», que se
publicou no Funchal de 1870 a 1871.
Em 1867 já tinha este escritor publicado, de colaboração com Trindade de
Vasconcellos, o «Projecto de Lei Regulamentar de Contrato de Colónia».
Nasceu este escritor em Machico, no ano de 1843, tendo cursado o Liceu no
Funchal e formando-se em Direito na Universidade de Coimbra. Foi Advogado
de fama e como Deputado da Nação pela Madeira ligou o seu nome a
importantes benefícios prestados à sua região.
Foi Governador da Madeira e auditor dos Conselhos de Guerra e da Marinha.
História Literária Da Madeira
Escrevia com natural facilidade e elegância e possuía uma magnífica cultura
literária. Faleceu em Lisboa em 21 de Março de 1905.
Dr. Joaquim da Trindade e de Vasconcelos - nasceu em Machico, em 1825,
e formou-se em Direito em Coimbra sendo um grande Advogado. Exerceu o
cargo de Vice-Presidente da Câmara do Funchal.
Colaborando com o Dr. José António de Almada escreveu em 1867 o «Projecto
de Lei Regulamentar do Contrato de Colónia ou Parceria Agrícola na Ilha da
Madeira».
Teve colaboração na imprensa do Funchal e faleceu em 1906.
Dr. Francisco Justino Gonçalves de Andrade - era natural do Campanário,
Ilha da Madeira, onde nasceu em 1821, Cursou o Liceu no Funchal e como seu
Tio o Bispo de S: Paulo se encontrava à frente da sua Diocese brasileira, para ali
se dirigiu, disposto a fazer fortuna pelo comércio.
O Bispo D. Manuel Gonçalves de Andrade, que tinha sido sagrado em 28 de
Outubro de 1827 e que usufruía de grande prestígio, aconselhou o sobrinho a que
preferisse matricular-se na Universidade de S. Paulo, pois lhe reconhecia maior
propensão para os estudos do que para o comércio.
Em 1851 Francisco Justino Gonçalves de Andrade, que -seguira o conselho do
Tio Bispo, terminava com altas classificações a formatura em Direito,
defendendo então tese para tomar o grau de Doutor, obtendo a primeira
classificação. Foi assim Leme da Universidade, regendo a Cadeira de Direito Civil e conquistando fama de sabedor e inteligente. De todos os lados recebia
consultas e o seu parecer era acatado como certo.
Fez parte da Comissão que elaborou o Código Civil Brasileiro colaborando com
o célebre Dr. Felício Santos.
Segundo uma informação do Rev. Cónego António Homem de Gouveia, quando
os republicanos tomaram conta do Governo do Brasil destituíram de Lente o Dr.
Francisco Justino Gonçalves de Andrade, pela simples razão de ser amigo pessoal do Imperador D. Pedro II.° sendo ao mesmo tempo vítima da mesma
violência um seu irmão, o Doutor João Jacinto Gonçalves de Andrade, também
Lente da Universidade de S. Paulo. Então o Doutor Francisco Justino de Andrade
queimou todos os seus trabalhos de carácter jurídico e todas as anotações ao
Código Civil Brasileiro, que tinha para publicar, obra que era aguardada com
grande interesse. O seu critério era que se a ingratidão dos brasileiros afastava da
Chefia do Estado o Imperador que devotadamente se consagrou ao Brasil e por
História Literária Da Madeira
ele Lente ser amigo do Imperador sofria a mais injusta perseguição, também os
ingratos que se tinham instalado no Governo do Brasil não iriam beneficiar os
frutos do seu trabalho, do seu saber, do seu talento brilhante.
Retirou-se então para uma residência isolada que tinha em S. Paulo e aí morreu
com 81 anos, em 25 de Julho de 1902, com as suas recordações e as suas
saudades.
Este escritor madeirense foi um vulto notável no intelectualismo brasileiro e a
sua acção como lente e como literato teve uma larga e importante projecção, que
honra a Madeira.
Cónego Doutor João Jacinto Gonçalves de Andrade - era irmão do Lente da
Universidade de S. Paulo e como ele também regia cadeira e tinha nascido na
freguesia do Campanário na Ilha da Madeira.
Tomou ordens no Seminário do Funchal e em 1891, tendo seguido para o Brasil,
concorria ao Professorado na Universidade de S. Paulo. Era muito culto e
benquisto.
Era mais dedicado à política que seu irmão. Nunca se afastou da Vida
eclesiástica. Quando seu irmão queimou a sua magnífica obra jurídica, parece
que este escritor lhe seguiu o exemplo lançando fogo também aos seus
valiosíssimos trabalhos literários.
Teve importante colaboração na imprensa do Brasil. Devido à política de intensa
perseguição de que foi vítima depois da queda do Império Brasileiro, o Cónego
Dr. Gonçalves de Andrade não produziu mais trabalhos literários, sendo para
lamentar que da sua magnifica e talentosa obra nada ficasse para a posteridade.
Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo - teve uma vasta e Importante obra de
investigação histórica respeitante ao Arquipélago da Madeira. Nasceu em Vila
Franca de Xira em 20 de Março de 1825 e era formado em Direito por Coimbra,
tendo vindo para o Funchal em 1856, reger as Cadeiras de Oratória e Literatura,
no Liceu, onde preleccionou a várias camadas de escolares durante 26 anos!
Ocupou os Vagares a rebuscar elementos relativos à História Insular.
Embrenhou-se nas lutas políticas nesse período agitado da vida madeirense que
se inicia em 1868. Colaborou na imprensa do Funchal tendo dirigido os periódicos regionais: «A Madeira» e «Discussão». Foi neste último periódico que o
Dr. Rodrigues de Azevedo publicou um estudo que o notabilizou como
investigador e crítico muito erudito e profundo.
História Literária Da Madeira
Ao Dr. Rodrigues de Azevedo se ficou também devendo a identificação e
descrição da famosa «Casa de Cristóvão Colombo», onde o grande navegador
habitou durante a sua permanência no Funchal. Este assunto deu-lhe motivo para
o estudo que publicou no «Diário de Notícias» revelando mais gosto, mais
interesse e mais entusiasmo pela Valiosa «relíquia» histórica, que madeirenses
nados e criados na Ilha não exteriorizaram!
Em 1880 publicou o Dr. Rodrigues de Azevedo o «Romanceiro do Arquipélago
da Madeira». Mas o seu trabalho mais importante para a história Literária da
Madeira publicara-o o Dr. Rodrigues de Azevedo em 1872, nessas «Notas» às
«Saudades da Terra» do Dr. Gaspar Frutuoso. Pena é que, por vezes, o autor se
deixe dominar por certo parcialismo político que prejudica a sua obra.
Não tem nos seus escritos aquele enfatuado pretensiosismo nem a leviandade que
outros investigadores apresentam. Na valiosa colaboração deste escritor
aparecem constantemente motivos madeirenses que ele lida com especial
carinho.
O «Dicionário Universal Português» publicou, sob a direcção de Fernandes
Costa, uma série de artigos referentes à Madeira, que são da autoria do Dr.
Rodrigues de Azevedo. A sua bibliografia, além do que versa os assuntos
madeirenses, é muito vasta e importante. Teve uma polémica com Inocêncio
Francisco da Silva que atingiu certa gravidade. Era advogado distinto e fluente
orador. Também escreveu uma comédia: «A Família do Demerarista», com
costumes madeirenses e que é uma obra de crítica muito característica.
Em 1867 escreveu o «Almanaque para a Ilha da Madeira». Apesar de tantos e tão
relevantes serviços prestados à Madeira o meio não deixou de manifestar a
tradicional ingratidão. Desiludido e desgostoso deixou a Ilha, a que tanto se
devotou, e foi para Lisboa em 1881, vindo a falecer na capital a 6 de Janeiro de
1898.
Major Manuel Alexandre de Sousa - teve a seu cargo a secção técnica da
Construção do Caminho de Ferro do Monte e mais tarde os trabalhos de
lançamento das levadas madeirenses. Projectou também construir um elevador
que devia partir do Largo de S. Pedro, subindo a Calçada de Santa Clara e a
Calçada do Pico, até a Achada. Manteve uma polémica na imprensa com o Eng.º
Adriano Augusto Trigo, seguindo pouco depois para Lisboa, onde foi
desempenhar o cargo de Director da Cadeia do Limoeiro.
Era natural do Funchal, onde nasceu, em 2 de Fevereiro de 1856, tendo falecido
em Lisboa em 1908.
História Literária Da Madeira
Dr. Luís da Costa Pereira - foi mais uma vítima daquele meio terrível da
Madeira, que não perdoa àqueles que se evidenciam e pelos seus méritos saem da
vulgaridade. No entanto, o Dr. Costa Pereira, foi dos Escritores e Poetas mais
distintos, companheiro muito considerado de intelectuais eminentes, como João
de Lemos, Barbosa du Bocage, Xavier Monteiro, Teixeira de Vasconcelos, Casal
Ribeiro e tantos outros dessa época tão rica de valores. O Dr. Costa Pereira
nasceu no Funchal em 1818. Cursou o Liceu, indo depois para a Universidade de
Coimbra formar-se em Matemática, alcançando vários prémios e altas
classificações. Embora fosse muito modesto era bem conhecido como um dos
espíritos mais fulgurantes do seu tempo, quer como Professor, ou como Crítico,
Escritor Teatral e Poeta, quer como Cientista. O Elucidário Madeirense diz que
na mocidade cultivou a poesia com extraordinário sucesso e foi um dos
colaboradores da brilhante e conhecida revista O Trovador, onde teve por colegas
João de Lemos e outros Poetas de igual vulto. A ele se refere o grande Castilho
com os mais a levantados elogios. Nas tradições literárias de Coimbra ficou célebre a festa conhecida pelo nome de 5. João Poético, que depois se imortalizou
pela inimitável descrição que dela fez João de Lemos e em que seis Poetas se
reuniram num convívio íntimo e aí recitaram as composições poéticas que para a
mesma festa haviam previamente escrito. Foi ali que, improvisada mente e em
homenagem a Castilho, compuseram uma sextilha que depois se tornou muito
conhecida, e em que cada Poeta escreveu um verso.
Sobre as asas da Poesia
Aqui nos trouxe a amizade,
Cantamos nas liras de ouro
Esperanças da mocidade,
E aos bardos da «Primavera»
Mandamos uma saudade.
Entre esses Poetas consagrados estava o Dr. Luís da Costa Pereira, que
imediatamente recitou a João de Lemos a poesia «Branca Alvarinho».
Como Escritor Teatral, traduziu e adaptou as mais célebres peças de teatro
estrangeiro e compôs uma obra notável se bem que não a terminasse:
«Rudimentos de Arte Dramática». Foi professor de declamação e da Arte de
representar no Conservatório de Lisboa.
Camilo Castelo Branco - o mais terrível e implacável crítico - esse espírito
genial e insatisfeito, teve um comentário que se tornou célebre e que revela o alto
conceito em que tinha Costa Pereira, Escritor madeirense tão mal apreciado e,
esquecido já na sua terra natal: «este é aquele Luís da Costa Pereira que foi na
minha mocidade o símbolo, o mestre de cena; neste cérebro pulsaram todos os
talentos criadores das implacáveis paixões da tragédia; do peito deste homem
História Literária Da Madeira
explodiram os brados que levantaram as plateias em delírio de triunfo». Camilo,
implacável para zurzir as que se jactavam de méritos que não possuíam e que no
elogio era extremamente raro, teve estas palavras que consagraram Costa Pereira.
Ele bem o merecia pois foi inexcedível como Autor Dramático, Actor e
Ensaiador.
Como romancista deixou «Mistérios das Almas». Escreveu também o livro
«Reflexos». As mais notáveis revistas científicas e literárias do seu tempo trazem
a sua magnífica colaboração.
Como filósofo teve também uma especial distinção. Mas na Madeira era um
estranho, um lunático, um indesejável. Viveu por isso quase sempre em Lisboa,
modesto, afastado de tudo o que pudesse evidenciá-lo. Este madeirense ilustre,
foi logicamente um incompreendido que reuniu grande riqueza de talento.
Morreu pobre, no dia 18 de Janeiro de 1893!
Dr. Bartolomeu dos Mártires Dias de Sousa - formou-se em Cânones e no
período agitado da guerra civil, desencadeada em Portugal pela acção estrangeira,
aparece este escritor envolvido na luta, especialmente no campo do jornalismo
político. Revelou-se enérgico e com notável cultura. Nas Legislaturas de 1842 e
1846 foi eleito Deputado pela Madeira, tendo sido implacável nos ataques, com
atitudes irredutíveis tomadas no Parlamento. Morreu em 1872, ainda bastante
novo.
José Curtino de Faria - nasceu no Funchal em 1866. Frequentou o Seminário,
onde tirou os estudos preparatórios, mas em vez de seguir a vida eclesiástica,
preferiu abraçar a carreira militar. No ano de 1901 publicou em Setúbal um trabalho intitulado: «O Arquipélago da Madeira».
O Padre Fernando da Silva, ao comentar este estudo, afirma que «contém muitos
erros e inexactidões». Não será o Padre Fernando da Silva, por certo, quem tem
maior autoridade para tal parecer, porque no Elucidário Madeirense o Padre
Fernando Augusto da Silva tem erros de palmatória e muita leviandade nos seus
pareceres. José Cupertino de Faria saiu da Madeira ainda rapaz e nunca mais
voltou à terra natal.
Padre Dr. Manuel Fernandes Sant`Ana - Jesuíta dos mais eminentes,
tornou-se conhecido no mundo culto como um dos espíritos mais notáveis dos
últimos tempos. Nasceu em S. Gonçalo na Ilha da Madeira. Entre aquela plêiade
de inteligências fulgurantes que se reúnem na Companhia de Jesus, o Padre
História Literária Da Madeira
Fernandes de Sant`Ana destacou-se com um brilho inconfundível. Concluído o
seu noviciado em Portugal, foi para Espanha, Holanda, Inglaterra e Alemanha
para aperfeiçoar os seus estudos e assim, tendo frequentado vários cursos,
conseguiu sempre alcançar as mais altas classificações. Especializou-se no estudo
das línguas orientais.
Na matemática, na biologia, nas ciências sociais, na interpretação de assuntos
teológicos, em todas as matérias que lidou o Padre Fernandes Sant`Ana foi
sempre notável.
Era um talento excepcional. As suas obras revelam uma extraordinária riqueza de
exuberantes conhecimentos, uma inteligência privilegiada e um poder de
exposição claro e preciso. Foi este homem excepcional escolhido para refutar as
doutrinas materialistas do sábio médico Dr. Miguel Bombarda. Em dois grandes
volumes o Padre Fernandes Sant`Ana publicou essa obra monumental que
apareceu em 1900 com o título de «O Materialismo em face da Ciência», de que
tenho os exemplares autografados pelo autor e oferecidos a meu Pai, de quem era
amigo.
Conheci pessoalmente o Padre Sant`Ana quando fui para o Colégio de
Campolide. Encontrava-se o eminente e sábio escritor num desses períodos de
repouso que lhe eram impostos pelos médicos, mas que ele iludia, porque não
descansava, arranjando sempre argumentos para justificar esse trabalho. Meu Pai
recomendara-me ao sábio Jesuíta e por isso ele costumava chamar-me para me
estudar e aconselhar. Mais de uma vez me disse que a minha tendência ia toda
para a literatura e para a História e por isso fez aos Padres Luís de Gonzaga
Cabral, ao Padre Júlio do Rosário e ao Padre Torcato Cabral Ribeiro, que foram
sucessivamente meus Mestres de português e de história, uma especial
recomendação a meu respeito do que resultou esses Professores eminentes, a
quem tudo devo, terem a preocupação de me prepararem com uma sólida cultura
literária.
Mais tarde, meu Tio João de Freitas-Branco, apurou o meu gosto e a minha
inclinação para as letras, assim como o meu velho Professor Dr. João Augusto de
Freitas, que tanto me auxiliou no caminho difícil e ingrato das boas letras.
Mas, voltando à resposta do P.B Fernandes Sant`Ana ao Dr. Miguel Bombarda,
nesses grossos volumes - o primeiro de 489 páginas e o segundo com 567
páginas - o poder da argumentação foi tão forte que o sábio médico não poude
encontrar elementos para refutar o eminente Jesuita, confessando, lealmente, que
nunca tinha encontrado uma inteligência tão brilhante nem tão sólidos
comentários, de tal forma irretpondíveis, como no trabalho do Padre Sant`Ana.
História Literária Da Madeira
Em 1901, o grande sábio Jesuita madeirense, publicou novos trabalhos: «Curso
de Religião» e «Apontamentos». Em 1909 trouxe a público outra obra de grande
Valor: «O Evangelho segundo S. Mateus».
Foi notável o seu apostolado de acção católica, desenvolvendo com elevação e
inteligência os sãos princípios religiosos. Teve notabilíssima colaboração na
imprensa do País e do Estrangeiro.
Fundou vários jornais e revistas católicas, revelando-se tão eminente no
Jornalismo, como se notabilizara na filosofia e na teologia, como poliglota,
cientista, polemista e até como poeta!
Nem os adversários ousaram negar o altíssimo valor deste homem, que se
distinguiu entre os maiores sábios do seu tempo. Foi motivo de orgulho para a
Ilha da Madeira, em que nasceu, em 14 de Abril de 1864, mas, como diz o
ditado, que «ninguém é profeta na sua terra», passou quase despercebido na Ilha,
a que tanta honra transmitiu. Foi também pintor. O seu apegado amor ao estado
levou-o à Morte, com 46 anos incompletos, em 3 de Maio de 1910, sendo opinião
de Médicos célebres que o Padre Sant`Ana sucumbira prematura maturamente
em consequência de excesso de trabalho, que ele nunca pode evitar. A obra
literária, científica e social deixada pelo Padre Manuel Fernandes Sant`Ana é das
mais importantes e mais trabalhosas que no século em que viveu se deparam...
General Daniel Ferreira Pestana - tem no «Dicionário Bibliográfico
Português» uma interessante referência à sua obra principal: «Princípios de
Gramática Geral, aplicada à língua portuguesa publicados e oferecidos à
Mocidade de Nova Goa». Foi este escritor madeirense Ajudante de Campo do
Marechal Duque de Saldanha. Teve vasta colaboração na imprensa do País,
especialmente artigos políticos. Diz o Padre Fernando Augusto da Silva, a
propósito da Gramática do General Ferreira Pestana, que era «uma imitação
servil do trabalho de Francisco de Andrade, publicado no Funchal no ano de
1844». O General Daniel Ferreira Pestana nasceu no Funchal em 1824 e morreu
na índia, em idade muito avançada, em 1906,
Dr. José Carlos de Faria e Castro - Nasceu no Funchal em 1835 e tinha ido
para o Seminário, disposto a seguir a vida eclesiástica, quando conheceu uma
senhora da aristocracia russa, que tinha vindo à Madeira em procura de saúde.
Casaram e foram viver no Castelo de Raudamy, que pertencia à nobre Dama e
após o seu consórcio somente duas vezes mais Voltou a visitar a terra natal.
As invejas do meio funchalense não lhe perdoaram quê tivesse sido tão bafejado
História Literária Da Madeira
pela fortuna e por isso não faltavam os dixotes para o apoucar. Em 1898 e 1903
esteve pois Faria e Castro na Madeira. De forma precisa conhecia ele o meio,
onde a má-fé e as invejas vesgas a tudo se sobrepunham.
Conta-se que de uma das Vezes que ele visitou a terra onde nascera,
encontrando-se numa reunião «elegante» da sociedade funchalense, que, segundo
parece, já nesse tempo era. da pioria, houve quem lhe perguntou, com o fim
único de o apoucar e de magoar, se «de facto seria o Conde de Merdikoff». Faria
e Castro não se desconcertou e com um sorriso delicado enfrentou o grosseiro
destempero com esta verdadeira «bofetada de luva branca»: - «V. Ex.ª é filho, do
F..? Conheci muito bem seu Pai... Era um homem muito correcto muito fino e
incapaz de uma falta de delicadeza ou de uma atitude que pudesse parecer
incorrecta. V. Ex.ª não se lembra já de seu Pai! Era um homem bem educado...»
Viajou muito, percorrendo toda a Europa. Em 1898 publicou em Bruxelas: «L'
Epopée Maritime des Portugais - Vasco da Gama et Camoens».
No ano de 1902 editou em Paris «L' Ouverture de la Grande Navigation àtravers
L` Ocean au quinzieme siecle». Publicou ainda: «Les Jesuites et le Camoens sous
le Roi Dom Sebastião». Anteriormente, em 1878, já tinha publicado, em Lisboa,
um curioso trabalho: «O Estado e c seu âmbito». Escrevia com elegância,
mostrando vasta cultura.
Faleceu em 1910, no Castelo de Raudamy, na Rússia.
Luís Figueiredo de Albuquerque - escreveu o «Tratado Elementar de
Economia Política» e o «Compêndio elementar do novo sistema geral de Pesos e
Medidas». Este escritor madeirense dedicou-se especialmente aos assuntos
económicos.
Viveu muitos anos em Paris onde criou valiosas relações e conseguiu uma Vasta
cultura literária. Poucos anos antes de morrer tinha planeado publicar um estudo
de História.
Nasceu no Funchal em 1828 e morreu no Caniço no ano de 1904. Tinha uma vida
especial, aproveitando as noites para a sua vida e para os seus trabalhos.
Manuel Gonçalves - mais popularmente conhecido pelo «Feiticeiro do Norte»
era natural do Arco de S. Jorge e possuía uma veia poética incomparável,
conseguindo grande renome como o mais afamado «Poeta popular» da Ilha.
Ainda hoje, as populações rurais da Madeira, repetem os Versos do «Feiticeiro
do Norte» e não há arraial onde eles se não ouçam, como nos tempos em que ele
História Literária Da Madeira
próprio os recitava e cantava, com acompanhamento de «Rajão» e de outros
instrumentos regionais. Tanto as trovas como outras composições do «Feiticeiro
do Norte» foram coligidas e publicadas pois tinham grande procura,
especialmente pelas classes populares. Dessas composições, as mais curiosas são:
«A Chegada de Suas Majestades», «Ás raparigas dos Bordados», e «A vida do
Feiticeiro do Norte, descrita por ele mesmo». Um dia deliberou ir até o Brasil, de
visita às colónias madeirenses, e então publicou ali uma nova composição em
homenagem ao descobridor do Brasil e que ele denominou «Pedro Álvares
Cabral», o que lhe Valeu grande popularidade. Era já entrado pelos quarenta anos
quando iniciou a sua «carreira poética». Trocou a enxada pela pena, e os seus
Versos mostram espontaneidade, originalidade e inteligência fora do vulgar.
João Nunes (Diabinho) - nasceu no Funchal em 1850 e teve larga colaboração
na imprensa regional, dando também largo contingente da sua prosa para o Velho
«Almanaque de Lembranças». Possuía um original temperamento de Artista. Era
«charadista» incomparável.
A sua inteligência era sólida e equilibrada. As charadas da sua autoria deram-lhe
o primeiro lugar entre os charadistas do seu tempo. Não era só como intelectual
que se distinguia Nunes Diabinho. Possuía o dom da perfeição na construção de
instrumentos .musicais e até de maquinismos. Quando a Imperatriz de Áustria
esteve uma temporada na Madeira, João Nunes Diabinho construiu e ofereceu ele
próprio à Soberana um instrumento de música regional — um «Machete» — que
foi considerado como uma maravilha de fabrico e de som. Também inventou um
maquinismo perfeitíssimo de relógio.
Estudou e compôs os acordes para os instrumentos de corda da música
madeirense, constituindo esse trabalho dois volumes, que apareceram em 1872.
Por esses dois livros se pode conhecer a profundeza do saber musical deste artista
que, tão modesto e tão incompreendido, não pôde ter o lugar que pela sua Arte e
pela sua brilhante inteligência devia ocupar nos meios intelectuais.
D. Luís da Câmara Leme - nasceu no Funchal em 1817. Na História da
Literatura da Madeira aparece como Escritor Militar de muito mérito. Foi autor
de «Elementos de Arte Militar» e «Considerações Gerais acerca da reorganização
militar de Portugal», que são considerados entre outras obras suas os melhores
estudos.
Era orador fluente. Foi Deputado da Nação. Escreveu também a monografia de
«Lourenço Marques» e «Estudo Sintético sobre o aspecto histórico, político e
moral». Era Par-do-Reino e General de Divisão.
História Literária Da Madeira
Teve uma acção interessante na política do seu tempo. Morreu em Lisboa em
1904.
Doutor Luís da Câmara Pestana - foi dos cientistas mais notáveis do fim do
século passado.
Tornou-se conhecido em todo o País e no Estrangeiro como Professor e em
especial como Bacteriologista. Nas letras notabilizou-se também como
investigador, escritor e conferencista.
A «Revista de Medicina e Cirurgia», «Arquivo de Medicina» e «Medicina
Contemporânea» trazem preciosa colaboração do Doutor Câmara Pestana.
Escreveu um livro - «Contribuição para o estudo bacteriológico da epidemia de
Lisboa », que é um trabalho notável, assim como «Tratamento da raiva em
Portugal pelo sistema Pasteur», tendo a colaboração do Dr. Aníbal de
Bettencourt.
Os famosos estudos do Doutor Luís da Câmara Pestana alargaram a sua fama a
todos os meios científicos do mundo.
Nasceu no Funchal, no prédio da Rua das Pretas, que tem hoje o n.°..., onde em
1915, afixaram uma lápide comemorativa, indicando que nascera em 28 de
Outubro de 1863 e ali viveu -enquanto se demorara na Madeira, vindo a morrer
em Lisboa, em 15 de Novembro de 1899, vítima do seu amor à ciência e do dever
da sua profissão.
Em 1891, o Governo Português, mandara o Doutor Luís da Câmara Pestana
aperfeiçoar-se em bacteriologia e estudar as descobertas de Koch. Os sábios
franceses festejaram a ida do cientista português, prestando-lhe as mais
significativas homenagens.
Escreveu artigos e estudos para revistas alemãs sobre a epidemia de Lisboa, em
1894, a lepra, etc.
Foi Professor Catedrático da Escola Médica de Lisboa, onde apresentou uma
«tese» notável: «Sorotherapia», Se era notável como homem de ciência, não o era
menos como escritor. A sua excepcional inteligência granjeou-lhe grande prestígio, assim como a sua abnegação em proveito da humanidade.
Quando morreu, atacado pela peste, vítima da sua dedicação à ciência e ao
cumprimento do seu dever, El-Rei o Senhor Dom Carlos I.° escreveu ao
Conselheiro José Luciano de Castro, então Presidente do Ministério, uma carta
História Literária Da Madeira
que representa a expressão insofismável em que o Soberano trazia o cientista.
- «Meu caro José Luciano
«Acabo de saber neste momento a tristíssima notícia
«da morte do Pestana. E' meu desejo que, tão depressa
«as Camarás reunam, o meu Governo apresente às
«Cortes um projecto de Lei concedendo uma pensão à
«Mãe e à Filha do Sábio Professor Pestana, victima
«gloriosa do seu árduo dever. E quero que assim seja,
«porque é à Nação a quem cumpre prestar homenagem
«à memória de quem em vida tanto a honrou.
«Teu am.° verdadeiro
El-Rei»
Esta carta de Sua Majestade El-Rei o Senhor Dom Carlos I.° ao seu Primeiro
Ministro mostra o alto apreço e o sentimento de justiça e de gratidão que o
Monarca tinha pelo Doutor Luís da Câmara Pestana e revela também com quanto
interesse El-Rei seguia a vida do País e dos que bem serviam o interesse
nacional. A homenagem de El-Rei Dom Carlos I.° a um grande Português, que
no seu posto de honra morria, vítima da sua devoção pela ciência e pelo Dever, é
bem a prova de como os Reis sentiam com o País. O Doutor Luís da Câmara
Pestana, de origem ilustre, sendo uma glória mundialmente consagrada, devia de
encher de orgulho a Madeira, sua terra natal, que se limitou à lápide afixada no
frontispício do prédio em que o sábio nasceu...
Doutor João da Câmara Leme Homem de Vasconcelos - Conde de
Canavial - foi um dos homens mais ilustres e que mais se distinguiu no século
XIX, pelo seu saber, pela iniciativa e inteligência que possuía, como Escritor,
Cientista, Naturalista, Industrial e Jornalista.
Formou-se em medicina na Universidade de Montpelier, onde começou a revelar
as suas magníficas aptidões e a sua pasmosa actividade.
Dedicou-se a trabalhos literários e científicos, colaborando assiduamente em
revistas e jornais quer do País, quer do Estrangeiro.
Traduziu do francês o drama «Conde Hermann», de Alexandre Dumas, e a seguir
publicou um trabalho notável: «Etudes sur les ombelliferes veneneuses». Da sua
autoria temos também: «Des ravports de Valimentation avec Ia respiratíon.
Existe-t-it des aliments qui meritent le nom de respiratoires?», «De la
temperature de l`homme et des animaux», «De la chaleur animal»,
«Apontamentos para a crise agrícola no Distrito do Funchal».
História Literária Da Madeira
A série dos seus escritos dava para publicar numerosos volumes, que tinham
sempre interesse.
De 1850 a 1900 publicou mais de cinquenta trabalhos, que atestam a Vastidão
dos seus conhecimentos, a riqueza da sua cultura intelectual, a sua lúcida e
privilegiada inteligência e o seu formidável poder de produção.
Organizou a Companhia da Aguardente e do Açúcar da Madeira, que os inimigos
estrangeiros, á frente dos quais estava o poderoso industrial Hinton, sentindo-se
impotentes para dominar o dinamismo do Conde de Canavial, que constituía a
«sombra negra» para a segurança da sua exploração dos madeirenses, trataram de
o aniquilar traiçoeiramente. Com a Velha táctica do suborno conseguiram que
durante uma noite misteriosamente se esvaziassem os grandes depósitos de
aguardente do Conde de Canavial, fazendo o álcool correr para a ribeira e
causando assim um prejuízo tal que representou a ruína daquele português que se
atrevia a vir pugnar pelos legítimos interesses da lavoura e da indústria agrícola
desta parcela portuguesíssima do Portugal eterno!
Outra iniciativa do Conde de Canavial foi a cultura do Bicho-da-seda e da
Cochonilha, que não deu o resultado devido em consequência do obstrucionismo,
que logo se levantou da parte dos estrangeiros e dos próprios madeirenses ao serviço dos estranhos...
Como médico foi notável. Como político desenvolveu também a sua magnífica
actividade. No jornalismo distinguiu-se notavelmente, demonstrando os recursos
intelectuais que possuía, quando Redactor de «A Liberdade», «O Distrito do Funchal» e a «Luz».
Noutro meio, onde a hostilidade contra os que se notabilizam não fosse a norma
de Vida que destrói quanto pode resultar para o bem e o engrandecimento da
colectividade, o Conde de Canavial teria tomado ainda maiores e mais
portentosas proporções. O seu alto valor, que o fazia sobressair como sábio e
como patriota, no meio tradicionalmente destrutivo dos valores positivos,
conseguiu sobrepor-se à mesquinhez das invejas vesgas e dos ódios, das
injustiças e das malquerenças, e quando, em 13 de Fevereiro de 1902, morria, em
idade avançada, o Conde de Canavial, é que se verificou como ele marcava na
vida regional e nos meios intelectuais do País...
Este homem extraordinário, que se defrontava destemidamente no campo da
indústria, na Vida intelectual e na política com os mais poderosos e eterogenios
adversários, este cientista, que no jornalismo era também admirável, possuía uma
sensibilidade romântica que emanava da sua alma cheia de emoção e de
Vibratilidade poética.
História Literária Da Madeira
Estes versos do Conde de Canavial provam como o polemista intemerato, o
homem que lidava tantas modalidades profundamente práticas e positivistas da
vida regional, ainda seguia com desvanecido interesse a escola sentimental da sua
época:
A ROSA I
Purpúrea, mimosa flor,
que excedes tanto às mais belas,
que tanto cede à luz do sol
a frouxa luz dás estrelas,
quanta ao Anjo dos meus sonhos
as mais formosas donzelas,
linda hontem, tão viçosa,
foste invejada por mim!
Entre o verde da folhagem
a tua cor de carmim
similhava entre esmeraldas
rubro brilhante rubim.
Porém hoje... oh que mudança!
Como estás desconhecida!
Quase perdidas as folhas,
descorada, emurchecida,
jazes triste e sem alento
na débil haste pendida!
Foste por tua beleza
rainha deste jardim.
E murchaste! Envelheceste!
E' tudo no mundo assim!
Tudo desfalece e morre,
tudo tem o mesmo fim!
Também ao homem persegue
nos tão breves dias seus
igual sorte, a mesma sina,
os mesmos destinos teus!
Leva-te o vento uma folha...
Um gozo lhe diz: — adeus...
Conde de Canavial
João Barbeito da Silva - é mencionado no «Elucidário Madeirense» com este
texto: «este oficial do Exército nasceu no Funchal em 3 de Agosto de 1855. Em
1889 publicou em Lisboa dois opúsculos intitulados «Escola Prática de Infantaria
e Cavalaria; secção de Infantaria da Escola Prática de Infantaria; secção de
Infantaria, Bivaques, etc».
Pelo que se Vê trata-se de trabalhos de pura especialidade em que este oficial
parece estar dentro do assunto, marcando, para o nosso ponto de vista, apenas
uma posição de Escola Pósi».
É portanto, mais um Escritor madeirense que se apresenta neste sector literário.
Doutor Vicente Barbosa du Bocage - foi um madeirense que se notabilizou
como cientista. Era parente do grande Poeta Bocage e, pelo lado materno,
sobrinho do Conselheiro José Ferreira Pesta. Tinha, portanto, bem explicada a
sua propensão para as letras e para as ciências.
História Literária Da Madeira
Formou-se em medicina na Universidade de Coimbra e foi Lente na Politécnica
de Lisboa. Deu aos estudos zoológicos uma orientação completamente diversa
daquela que até ali tinham seguido e portanto adoptou uma feição prática. Foi o
organizador do Museu da Politécnica para a História Natural. A sua obra literária
tem um cunho essencialmente científico e é considerada como muito valiosa, a
ponto de ser indicada por diversas Academias científicas do estrangeiro.
Inocêncio da Silva menciona detalhadamente a vasta obra científica deste
Escritor. Diz Carlos de Azevedo de Menezes que ele publicou mais de duzentos
trabalhos sobre os Mamíferos, Aves, Répteis, Anfíbios, Peixes, Invertebrados,
Filosofia zoológica, etc, desde 1857 a 1904. Foi Par-do-Reino e Deputado da Nação. Na Política notabilizou-se como Ministro dos Estrangeiros. Era considerado
como autoridade em todo o mundo científico. Nasceu no Funchal em 1825 e
morreu em Lisboa em 1907.
João de Freitas-Branco - foi o grande orientador da minha educação literária,
tendo completado o trabalho inicial dos Jesuítas Padre Torcato Cabral Ribeiro e
P.e Luís de Gonzaga Cabral. A meu Tio e aos Jesuítas devo o pouco que posso
valer em matéria literária e em arte. João de Freitas-Branco nasceu no Funchal
em 1854, no prédio solarengo da Família, nos Moinhos - onde hoje se encontram
os Depósitos de Vinhos da Firma Milles - . Já no Liceu revelou o seu grande
talento, mantendo a fama de sabedor e inteligente na Faculdade de Medicina da
Universidade de Coimbra. Completou os seus estudos na Inglaterra, tendo-se
relacionado com os intelectuais então mais em evidência em Londres. Esteve na
França, onde também criou magníficas relações e demorou-se muitos anos na
Alemanha e na Áustria. Foi neste período que aprofundou e ampliou os seus
conhecimentos musicais.
Não só interpretava os grandes Mestres da Música, no piano, no órgão, no cravo
e no violoncelo, como estudava com grande interesse a sua composição.
A par da sua formidável cultura musical, adquirida na Alemanha, completou a
sua formação literária especializando-se na história da literatura dos povos
nórdicos. Conhecia perfeitamente e falava com correcção vários idiomas, o que
lhe permitiu melhor dominar os estudos a que se consagrou. Tanto no País como
no estrangeiro João de Freitas-Branco era considerado com um dos mais notáveis
poliglotas.
A literatura teatral mereceu-lhe especial predilecção.
Começava a desenvolver-se a «escola ibseniana» que revolucionou o teatro. João
de Freitas-Branco, que falava o norueguês, estudou as peças do grande
dramaturgo Henrik Ibsen, a quem conheceu pessoalmente e de quem era grande
admirador, trazendo para Portugal esta nova corrente do teatro moderno.
Durante longos anos que viveu no estrangeiro relacionou-se com os mais
notáveis escritores, músicos, escultores, filósofos e artistas do seu tempo.
História Literária Da Madeira
Escreveu numerosos trabalhos de crítica sobre as peças teatrais e a filosofia de
Ibsen e tornou conhecidas em Portugal especialmente as obras de Rudyord,
Kipling, Maeterlink, Bijorson, etc, tendo recebido provas de apreço de alguns
destes escritores. Tornou-se uma das mais notáveis e autorizadas competências
em música, literatura e arte. Foi também naturalista distinto.
Quando a fadiga intelectual o prostrava, logo reagia entretendo-se a fabricar
essências de flores e sabões e a construir gaiolas para a sua afamada colecção de
rouxinóis. Outras vezes passava horas seguidas interpretando no órgão, que tinha
no seu gabinete de trabalho, os clássicos da sua predilecção. Foi ele também o
Mestre e principal orientador de outro sobrinho, o Professor Compositor Luís da
Costa de Freitas-Branco, hoje de fama que se estende além fronteiras, assim
como ainda de outro sobrinho, o grande Maestro Pedro de Freitas-Branco.
Na sua casa da Rua Maria Andrade, em Lisboa, reuniram-se os homens mais
eminentes nas Letras, no Jornalismo e nas Artes e a opinião de João de FreitasBranco era sempre considerada como certa e justa.
Escreveu várias peças para o teatro, com muito espírito e finura no dizer, tendo
esses trabalhos obtido consagração do público, especialmente no Teatro Ginásio,
em Lisboa. Das traduções que fez dos trabalhos de Ibsen têm especial importância: «Casa da Boneca», «Os Esteios da Sociedade»; de Blumental traduziu «Os
Penedos do Inferno»; de Sudermann transpôs para português «O fim de Sodona»
e de Bijorson «Uma Falência».
Também apresentou no teatro: «O Homem das Mangas», «A Festa de
Inauguração», «Aranha de Ouro», «O Califa», «Os Inocentes», etc, etc. As
comédias de crítica fina e incisiva «Os Doidos com Juízo», «José do Egito» e
«Dr. Micróbio», fizeram sensação durante anos no teatro português.
Foi devido a João de Freitas-Branco que se tornaram conhecidos nos meios
intelectuais e se divulgaram no País os mais notáveis trabalhos dos dramaturgos
do norte da Europa. Teve vasta colaboração em revistas literárias do estrangeiro e
do País. Tendo estudado medicina na Áustria, dedicou-se apenas à literatura e à
arte, gozando de muita consideração e estima, apesar do isolamento que preferia,
vivendo mais com os livros e os animais do que com o mundo. Morreu com 57
anos - a idade fatal na Família - na residência da Rua Maria Andrade, em Lisboa,
no prédio que então tinha o n.º 57, no dia 27 de Maio de 1910, ficando sepultado
nos Prazeres, no jazigo de Família dos Condes de Vila Franca.
Júlio da Silva Carvalho - Nasceu no Funchal em 1821 e dedicou-se ao
Magistério. As gerações desde 1843 a 1890 foram passando pelo seu
ensinamento. Teve larga colaboração na imprensa, em especial nos periódicos
«Estudo», «Ordem» e «Diário de Notícias». O livro de Januário Justiniano de
Nóbrega, sobre a estada de Sua Majestade a Imperatriz D. Amélia do Brasil na
História Literária Da Madeira
Madeira, traz um prefácio que é da autoria do Professor Júlio da Silva Carvalho.
Também poetou, havendo composições em algumas colectâneas de versos
madeirenses. Era bastante sarcástico, não poupando aqueles que caiam no seu
desagrado.
De entre várias composições do Prof. Silva Carvalho este epigrama é uma
amostra interessante:
Epigrama
a «Janota... sem dentes »...
Em vasto salão polcava
velha janota garrida
e para campar de moça
pulava mui delambida...
Mancebo esperto, seu primo,
vendo aquela anormalia,
co'uma rija gargalhada
quase a Velha enlouquecia.
— Ris-te de mim, malcreado?
— Quê! De ti? Tal não motivas 1
— Eu já como pão com dentes...
— Não, priminha, é co'as gengivas...
Padre Manuel Nunes - Cultivou com brilho as letras, sendo a poesia satírica o
género literário que mais cuidou, seguindo a escola do célebre Nicolau Tolentino.
Nasceu no Paul do Mar em 1848 e faleceu em 1892. Não só como poeta mas
também como orador sagrado, merece ser considerado. Somente depois da sua
morte é que nos meios intelectuais foram reconhecidos os seus méritos.
Paroquiou a Freguesia de S. Gonçalo, onde escreveu a maior parte das suas
composições.
Cónego Alfredo Cesar de Oliveira - notabilizou-se como parlamentar e como
orador sagrado, sendo também considerado «jornalista dextro», que à facilidade e
elegância da dicção, reunia uma cerrada dialéctica que o tornavam um
argumentador de pulso e um adversário para temer, sendo um lutador incansável,
que não recuava nunca, ainda no mais aceso do combate ».
A sua colaboração na «Revista Semanal», na «Crença», «Aurora de Domingo»,
etc, em Lisboa e em vários órgãos da imprensa do País, mostra a grande
envergadura deste escritor madeirense.
História Literária Da Madeira
Foi o fundador do «Diário de Notícias» do Funchal e mais tarde, tendo
transferido a residência para Évora, fundou o «Notícias do Alentejo». A par de
magnífica prosa, também ficaram boas poesias do Cónego Alfredo. Juntamente
com o Conselheiro José Leite Monteiro empreendeu o Cónego Alfredo de
Oliveira reunir num volume as composições de vários Poetas madeirenses dando
a esse livro o título de «Flores da Madeira».
Foi também romancista, deixando os livros: «Mistérios do Funchal» e «Uma
noite num hotel». Nasceu na vila de Santa Cruz em 1840, falecendo em Évora em
1908, tendo ali sido Governador Civil.
João Fortunato de Oliveira - nasceu no Funchal em 1828 e teve longa
permanência em Inglaterra e na França, onde adquiriu bases sólidas de uma boa
erudição.
Regressou à Madeira em 1863 e foi nomeado Professor do Liceu. Começou então
a sua obra literária com a colaboração na imprensa regional, tanto em prosa como
em Verso.
No volume «Flores Agrestes», que pode considerar-se uma valiosa colectânea de
poesias de madeirenses, encontram--se composições deste escritor. Tinha
originalidade e elegância no seu modo de escrever, sendo Artista com muitas
qualidades, mas profundamente sonhador e fantasista. Faleceu no Funchal em
Abril de 1878.
Os versos que seguem escreveu-os João Fortunato de Oliveira em 1855, quando
estava em França, cheio de nostalgia da sua Ilha.
ANDORINHA
Andorinha, que a Pátria deixaste,
do inverno fugindo ao rigor,
em demanda dum clima fagueiro
lá no Sul entre ameno verdor,
oh! talvez sobre o morro alteroso
sobranceiro dos meus à morada,
tu à noite um retiro buscavas
nessa terra por mim suspirada?
Ao largares as ribas da Pátria,
ao alçares teu Voo atrevido, —
não voltaste, Andorinha, em
lembrança,
do teu ninho um saudoso gemido?
Como eu, não sentiste a saudade
que a existência me traz maguada,
quando vi pela Vez derradeira
essa terra por mim suspirada?
Mas flores a quadra risonha
estes campos de novo adornou;
e do sul o teu vôo levantaste,
que o inverno medonho passou.
E, Andorinha, já folgas contente,
tão alegre na Pátria adorada,
tão ditoso volverei ainda
à Madeira, gentil, suspirada?!
Paris, 1855.
História Literária Da Madeira
Miguel Manuel de Orneias e Vasconcelos - nasceu no Funchal, onde
manifestou as suas primeiras preocupações literárias.
Em 1897, publicou um trabalho: «Origem da Ilha da Madeira», que está feito em
verso.
O Padre Fernando da Silva refere-se a este bardo com significativas reticências e
apresenta o «argumento» da obra para melhor dela se ajuizar:
«Em Setembro Baco e Ceres divinal,
juntando-se, ao mundo dão colheita.
Contar-te Vou o que vi na Serra do Faial,
o que inflamou meu estro, peito e veia
tão pobre, tão misérrima em cabedal,
ela que do saber poderia ser forte e cheia,
caótica vem rouca, destemperada,
tocar na lira rude e desafinada».
Como «amostra» esta «veia poética» do Vate insular é mais que suficiente para
justificar as reticências mordentes do Padre Fernando da Silva e para se ajuizar
das faculdades literárias de Miguel Manuel de Orneias e Vasconcelos que legou à
posteridade, antes de se formar, em 1889, aquilo que viu «na Serra do Faial» e o
mais que na obra se encontra...
Cónego Dr. António Vicente Varela - de quem o Padre Fernando da Silva
escreveu que «sem ser um notável Jornalista possuía uma tão grande facilidade
de redacção que causava assombro», nasceu na Ponta do Sol em 1854 e formouse em teologia na Universidade de Coimbra.
Publicou, num volume, «A suspensão do Professor da escola Municipal da Ponta
do Sol, Manuel José Varela» e «Últimas observações dum sentenciado; resposta
à crítica do Revd. Padre Pacheco», «A guerra do Senhor Dom Manuel Agostinho
Barreto à Confraria de N.ª Sr.a do Monte Carmo», «A vítima da rolha» e «A
decapitação do látego».
Era inteligente e culto. Foi Cónego da Sé Catedral do Funchal. Possuía um
espírito Vivo e contundente. Andou em luta com as autoridades eclesiásticas,
motivadas pelas suas campanhas jornalísticas e veio a falecer no Funchal em
Dezembro de 1903.
Dr. Pedro Júlio Vieira - nasceu no Funchal, onde fez os estudos liceais, indo
depois doutorar-se em medicina na Universidade de Montpelier.
Possuo na minha biblioteca, na secção de obras autografadas, um Volume
oferecido ao meu Avô paterno pelo Dr. Pedro Júlio Vieira, com afectuosa
História Literária Da Madeira
dedicatória. Intitula se esse livro: «Etudes-Medicales sur le climat de Madère».
Este trabalho serviu de tese para o doutoramento do autor em 1852. Escrito em
francês, em linguagem clara e elegante, mostra como o Dr. Pedro Júlio Vieira
lidava com facilidade a língua francesa. É um trabalho de especialidade, mas tem
particular interesse para a divulgação das qualidades do clima do Arquipélago da
Madeira.
Luís Ribeiro de Mendonça - Barão d` Uzel era extremamente versado no
Conhecimento de línguas estrangeiras. Herdou de seu Pai, o Professor e Escritor
Marceliano Ribeiro de Mendonça, o talento e a Vocação para assuntos literários.
Deixou Interessantes composições, em prosa e verso, sendo talvez as mais
interessantes as que escreveu em francês. Na colectânea de poesias madeirenses
«Flores da Madeira» encontram-se diversas composições do Barão d' Uzel, Tinha
grandes dotes oratórios e um formidável poder de crítica fina e subtil, assim
como vasta erudição.
Nasceu no Funchal em 1859 e faleceu no prédio da Rua da Carreira n.º 170, que
é hoje propriedade do Escritor e Jornalista Dr. Fernando de Aguiar, em 1905.
Poesia
Dedicada ao grande Artista Fonseca por ocasião do seu espectáculo em benefício
de duas escolas de caridade.
A prece dos pobrezinhos
P' ra em tudo seres rival
dos passos lhe segue a pista;
do cel`bre artista alemão,
— E os corações tu nos levas,
nem deixas que ele te exceda
presos à c'roa de Artista!
nos dotes do coração!
Em nome das criancinhas,
—
Ele, em sorrisos, as lágrimas
de quem hoje és protector,
que de Vezes transformara!
consente-me esta expressão!:
— Tu de abrolhos fazes rosas
— E' a esmola do Trovador...
a um toque da tua vara!...
Barão d`Uzel
João de Sant`Ana e de Vasconcelos Moniz de Bettencourt - que era irmão
de minha Avó paterna e foi Pai da Condessa de Almada, foi um escritor de
mérito. Nasceu no Funchal em 1825, e muito novo dedicou-se à política onde
marcou uma posição de prestígio, tendo sido o Chefe dos Regeneradores no
Arquipélago da Madeira. Prestou altos serviços à sua terra, especialmente no
período grave da epidemia da peste do Cólera-morbus. Teve interessante
colaboração na imprensa e os periódicos do Funchal, especialmente «A
Discussão», «O Semanário Oficial» e «A Madeira», por Volta de 1860,
publicaram muitos artigos deste escritor.
História Literária Da Madeira
Possuía vastíssima cultura literária. O Governo Português condecorou-o com o
grau de Cavaleiro da Torre-e-Espada, pelos importantes serviços que prestou à
Nação. No Museu Municipal do Funchal, na «sala dos Reis> existe um busto de
João de Sant`Ana e de Vasconcelos Moniz de Bettencourt, obra saída das mãos
do grande Artista que foi Bordalo Pinheiro, que pôs a sua assinatura nesse busto.
Faleceu repentinamente no seu palacete da Rua das Queimadas de Baixo, onde
hoje estão os escritórios e depósitos da Firma Camachos, em 1892, quando
preparava um trabalho de reforma agrária para o Arquipélago. Era filho de outro
escritor, que teve no século anterior a sua acção, João de Sant`Ana e de
Vasconcelos, e por sua mãe descendia da nobre família francesa dos de la
Tuillière. A sua bibliotera era Valiosa.
José de Freitas Spínola de Castel-Branco - nasceu no Funchal em 1801 e foi
escritor de merecimento. Publicou em Lisboa, em 1845, «Elementos de Álgebra
Superior» e «Aplicação da Álgebra à Geometria». Em 1847 trouxe a público
«Noções de Cálculo Diferencial». Estes trabalhos são ainda considerados como
importantes e Valiosos.
Foi Marechal de Campo, Lente e Director da Politécnica de Lisboa, tendo gozado
de grande prestígio e justa fama de ser um dos mais autorizados matemáticos e
um dos mais valiosos oficiais do Exército Português, tendo falecido em Lisboa.
Maurício José de Castel-Branco - compôs algumas poesias muito originais e
interessantes. Teve colaboração literária na imprensa madeirense, especialmente
nos periódicos «O Direito» e «Diário Popular». A família Castel-Branco deu uma
Valiosa percentagem de escritores, que enriqueceram, com a sua inteligência e os
seus méritos, a literatura insulana. Maurício José de Castel-Branco tinha uma
prosa enérgica e por Vezes levemente sarcástica.
Nasceu no Funchal em 1842 e morreu repentinamente na sua Quinta, próximo de
Sant` António, em 1900. Na colectânea de poesias de madeirenses figura esta
composição da sua autoria:
Antes morrer...
De que serve, anjo, eu amar-te
se minha não podes ser?
Se prejuízos do mundo,
aos quais voto ódio profundo
mandam morte ou... esquecer?!
Esquecer-te, Virgem, como?
Vive acaso a pobre flor
sem orvalho que a sustente?
Soltará trino cadente
ave que não tenha amor?
Esquecer-te! Acaso a estrela
brilharia lá nos céus,
rugiria o Vento solto,
andaria o mar revolto,
sem o mando de Deus?!
Esquecer-te! O filho esquece
o amor da boa Mãe?
Porventura o navegante
esquece a Pátria distante
nos tormentos que no mar tem?
Esquecer-te! Acaso o peito
pulsará sem vida aqui?
Pode haver um só momento
que sem dar-te o pensamento
eu possa dizer: — vivi!?
Impossível! Nunca, virgem!
Meu amor há-de aqui ser
sempre o mesmo, santo e puro.
Esquecer-te!? Nunca — juro —
antes, Lucinda, morrer!
Além da vida na terra
outra Deus nos prometeu...
Já que o mundo com fereza
impõe leis à Natureza
tu serás minha no Céu!...
Estes versos de Castel-Branco trazem bem o seu cunho sentimental e a pecha
romântica da época.
General Eduardo Ernesto de Castel-Branco - escritor militar e autor do
«Catálogo do Museu de Artilharia de Lisboa», que foi criação sua, era irmão do
Barão de S. Pedro e sobrinho da I.a Viscondessa do Porto da Cruz, minha bisavó.
Foi também outro Castel-Branco de valor. Visitou as principais cidades da
Europa, estudando a organização dum Museu de Artilharia. Os seus mais
notáveis livros tratam de temas militares. Possuía vasta cultura e gozava de
grande prestígio. Nasceu em 1840, no solar da família em S. Lázaro, que foi demolido em 1940, para a transformação do Funchal, tendo falecido em Lisboa em
1905.
João Joaquim de Freitas - foi durante trinta anos Bibliotecário Municipal do
Funchal e Professor de Literatura no Liceu. Como Mestre foi dos mais distintos e
sabedores. A sua cultura era profunda, possuindo talento notável e uma vasta
erudição. Colaborou com o Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo nas «Anotações às
Saudades da Terra» e teve magnifica colaboração na imprensa regional. Nasceu
em Machico em 5 de Outubro de 1832. Foi republicano platónico mas entusiasta,
não chegando a ver a implantação da República em Portugal porque morreu,
alguns meses antes, em Abril de 1910.
Augusto Cézar de Freitas - foi jornalista talentoso mas passou quase
despercebido, como aliás acontece aos valores positivos.
Foi Redactor dos jornais «País» e «Noticioso» no Funchal. Na imprensa de
Lisboa teve boa colaboração e Rodrigues de Sampaio considerava-o como «uma
das melhores penas». A sua modéstia prejudicou-o. Sendo um Escritor de
grandes qualidades, não brilhou como devia e morreu miseravelmente,
abandonado, num Hospital, em 1874. Hoje, o seu nome tornou-se completamente
esquecido e ignorado. No entanto, os seus escritos atestam o seu muito valor.
História Literária Da Madeira
Dr. Luís António Gonçalves de Freitas - nasceu em 1858 e dedicou-se à vida
literária. Escreveu: «Fantasias», «A Pupila de Beltrão», «Discursos e Trabalhos
Parlamentares», «Mescla de Assuntos», etc. Foi eleito Deputado pela Madeira.
Como Poeta era muito apreciado. Teve larga colaboração na imprensa de Lisboa.
Era filho do Conselheiro Gonçalves de Freitas, que era um madeirense que
usufruiu de grande prestígio pelo seu carácter e pela sua vastíssima erudição em
matéria financeira, a ponto de ser considerado como um dos homens mais
competentes do século XIX.
O Dr. Luís António Gonçalves de Freitas herdou de seu Pai o gosto peio estudo e
marcou pelas suas produções literárias. Estava a preparar o final de um trabalho «Obras Completas» - quando a morte o surpreendeu, em 1904, em pleno Vigor
da Vida. Era tio materno do cientista Dr. Dom António de Forjaz, da escritora D.
Maria Augusta de Forjaz Trigueiros e dos escritores Luís e Miguel Forjaz
Trigueiros; Uma das últimas produções poéticas de Gonçalves de Freitas dá uma
ideia da sua sensibilidade:
Ao partir
Eu venho dar-te, flor, o adeus de despedida,
na angústia de um suspiro em que me foge a vida.
Parto, mas fica-me a alma
na terra que vou deixar...
Agora a amplidão do afecto,
em breve, a amplidão do mar...
Recorda-te de mim! Se por acaso um dia
souberes que morri,
crê que senti chegar as vascas da agonia
pensando sempre em ti.
Eu soube um dia, ao fitar-te,
como floresce a ventura,
para saber, ao deixar-te,
como despertou a amargurai
Ah! mil vezes nos mata o instante da partida
quando, num triste adeus, se nos exala a vida ..
Manuel José Júlio Guerra Júnior - nasceu no Funchal em 1845. Publicou o
«Dicionário Topográfico para uso dos Engenheiros Civis e seus auxiliares».
É um trabalho de especialidade, de que somente foi impressa a primeira parte em
1872.
História Literária Da Madeira
Francisco Gomes de Gouveia Júnior - teve uma larga colaboração na
imprensa do Funchal, tendo sido Redactor principal do periódico «A Madeira»,
onde melhor pude evidenciar os seus predicados de Jornalista.
Nasceu em 1864, no Funchal.
José Maria de Gouveia - nasceu no Funchal em 1856 e depois de cursar o
Liceu seguiu a carreira militar. Era Coronel de Infantaria em 1895 quando
publicou «Serviço de Campanha» e «Instrução prática da secção para uso dos
oficiais inferiores de Infantaria», sendo estes dois livros trabalho de
especialidade.
Dr. Sebastião Rodrigues Leal - era natural da Madeira e foi Deputado pela
Ilha em 1857. Publicaram na Graciosa, em 1866, um opúsculo acusando-o de
abuso de autoridade. Foi magistrado e jornalista distinto. Teve colaboração na
imprensa, tendo sido Redactor do «Funchalense».
Guilherme Teles de Menezes - nasceu em 1855 na Madeira. Publicou:
«Estudos Meteorológicos», acerca do Poiso e do Pico do Arrieiro, na Madeira
central, «A Madeira e o Dr. Douglas», curiosa memória onde rebate a opinião do
sábio estrangeiro, que pretendia encontrar em Las Palmas mais vantagens do que
na Madeira, para a cura da tuberculose. Em 1894 conseguiu a edificação do Posto
Meteorológico do Arieiro, no planalto das serras centrais e a mais de 1.200
metros de altitude, tendo planeado e dirigido essa construção. Faleceu em Lisboa.
Felisberto de Bettencourt Miranda - nasceu na Madeira em 1819 e faleceu
em 1889. Foi autor de um estudo «Apontamentos para a genealogia de diversas
famílias da Madeira, coleccionados de 1887 a 1888». Dedicou-se especialmente a
assuntos heráldicos e de investigação genealógica.
Padre João Maurício Henriques - nasceu no Funchal em 1852 e faleceu em
Lisboa em 1901. Teve larga colaboração na imprensa madeirense, em especial
no «Diário de Notícias». Publicou «Breve notícia histórica e descritiva do Extinto
Regimento de Caçadores n.º 12».
Foi Capelão Militar. Era bom orador e possuía uma magnífica cultura literária.
Durante um largo período em que residiu no Algarve colaborou na imprensa
daquela Província. Foi tio de um escritor que marcou notavelmente nos meios
intelectuais e diplomáticos do estrangeiro, o Dr. Jordão Maurício Henriques.
História Literária Da Madeira
João Maria Moniz - foi dos mais notáveis e autorizados botânicos, grande
conhecedor de assuntos de ciências naturais e que, apesar da sua modéstia,
tornou-se altamente conhecido nos principais centros cientistas na sua época.
Contava-se que era extremamente meticuloso e original e a propósito citavam o
caso de um amigo que um dia lhe pedira emprestado um livro que fazia parte da
sua magnífica biblioteca e que embora tivesse prometido restitui-lo em pouco
tempo, deixou passar muitos anos a fazer-se esquecido. João Maria Moniz,
precisando consultar essa obra, resolveu escrever à pessoa a quem emprestara o
volume: - «Meu querido amigo, pedia-te o favor de me mandares o livro que te
emprestei, pelo que muito grato te fico...»
Relendo o que escrevera considerou que o sujeito não era do número daqueles a
quem se dá o nome de amigo nem tampouco era querido. Riscou estas palavras.
Depois achou que era demasiado ilógico pedir e de mais por favor, assim como
lembrar que emprestara o livro, visto que o outro bem o sabia. Riscou tudo isso e
acabou por mandar no papel apenas este laconismo: «O livro. João Maria
Moniz». Por aqui se pode? ajuizar da originalidade do sábio madeirense.
Foi amigo e companheiro íntimo do célebre cientista britânico Dr. Lowe, que em
1856, fixou um género botânico dedicando-lhe o nome Monizia, do que fez a
respectiva descrição no jornal botânico de Hooker, segundo relata Carlos de Menezes.
Em 1855, organizou João Maria Moniz, um rico e valioso «herbanário»
madeirense. Carlos de Azevedo e Menezes escreveu que «três espécies botânicas
relembram o nome de João Maria Moniz -: Carex Moniziana, Helichrysum
Moniz ii e Scophularia Moniziana - e dois moluscos e um insecto Craspedopoma Monizianum, Helix Moniziana e Zargus Monizii -».
Descobriu a existência de espécies botânicas ignoradas até ali, na Madeira. Tanto
El-Rei D. Luís I.° como a Imperatriz Isabel de Áustria e o Imperador
Maximiliano do México, deram provas do grande apreço em que tinham este
sábio naturalista e escritor madeirense. João Maria Moniz, apesar da sua natural
modéstia, notabilizou-se no mundo dos cientistas pelo seu profundo saber e o seu
nome era apontado como um dos mais célebres, no seu ramo, quando morreu no
Funchal em 1898,
D. João da Câmara Leme - nasceu no Funchal em 1865 e tinha apenas 22 anos
quando publicou um volume com versos, que intitulou «Amor e Patria», em
1887, revelando notáveis méritos de Poeta. A crítica atacou-o implacavelmente,
acusando-o de plagiar em especial o grande Almeida Garrett. Em regra, a ira dos
que não conseguem vencer, torna-se implacável para os que triunfam, e então, o
ataque não tarda, porque o que os aflige não são os possíveis defeitos mas as
qualidades.
História Literária Da Madeira
António Evarísto de Orneias - Barão de Ornelas - nasceu em 1850, no
Funchal, onde cursou o Liceu. Foi depois para Paris e ali se doutorou em
medicina, em 1854. Publicou um estudo «Anatomie Pathologique et Traitement
des Polypes Fibreux de la Base du Crâne, dits Mesopharyngiens ».
Em 1886 publicou novo trabalho, também de carácter científico - «Da dilatação
do estômago». Este estudo serviu ao Barão de Orneias da tese, que apresentou na
Escola Médica do Porto.
O 2.° Visconde das Nogueiras - Jacinto de Sant`Ana e de Vasconcelos
Moniz de Bettencourt - além de político e diplomata foi notável poeta e
jornalista, tendo publicado diversos trabalhos, especialmente sobre assuntos
económicos. Nasceu no Funchal em 1824.
Durante a sua estadia no Rio de Janeiro publicou uma versão do francês
«Talismans». Em 1850 atacou violentamente o governo de Costa Cabral, numa
publicação que denominou «Ò Grito do Povo». Foi revolucionário de 1851,
contribuindo para o êxito do golpe de Estado do Marechal Duque de Saldanha.
Os periódicos «O Português» e «Revolução de Setembro» tiveram magnífica
colaboração do Visconde das Nogueiras. As «Cartas ao Conde de Ávila» tiveram
grande repercussão na vida política dessa época.
Era amigo e companheiro dos mais notáveis escritores, intelectuais e artistas do
seu tempo, como o Marquez de Niza, Bulhão Pato, Ramalho Ortigão, Augusto
Forjaz, Luís Palmeirim, Mendes Leal, Lopes de Mendonça, Andrade Ferreira,
Conde de Farrobo, e tantos outros. A maior parte destes literatos traz nos seus
trabalhos simpáticas referências ao Visconde das Nogueiras, que foi, na verdade,
muito brilhante como Poeta, escritor, jornalista e orador. O meio do Funchal foilhe, contudo, como era inevitável, injustamente hostil e ingrato, o que não
impediu que na Vida portuguesa deixasse bem assinalada a tradição de
intelectual, revolucionário, diplomata e valente.
Doutor João Francisco de Oliveira - foi uma figura muito simpática de
português, pois consentiu em ser sacrificado inocente para salvar o seu Rei, de
quem era amigo, de uma situação muito difícil para o Soberano. Doutorou-se na
Universidade de Coimbra e notabilizou-se como sendo um dos médicos de maior
competência, na sua época.
Foi, por isso, nomeado médico assistente da Casa Real e tornou-se amigo íntimo
e confidente do Príncipe D. João, que era ainda Regente do Reino.
Deu-se então um escândalo amoroso na Corte, e para que o Príncipe Real não
fosse atingido, o Doutor João Francisco de Oliveira consentiu em figurar como
tendo sido o raptor de uma linda e nobre Dama do Paço. Estava inocente mas
História Literária Da Madeira
deixou-se condenar por esse delito, tendo sido condenado à morte. Então
facultaram-lhe a fuga para os Estados Unidos da América do Norte. Da América
foi ele encontrar-se, muito mais tarde, com D. João VI.º que estava no Rio de
Janeiro, e então El-Rei ilibou-o oficialmente dos crimes que lhe tinham sido atribuídos.
Escrevia com elegância e era orador eloquente. Teve importante colaboração em
publicações científicas, especialmente em estudos de medicina, na América,
França, Inglaterra e Brasil.
Nasceu no Funchal em 1761 e faleceu em Lisboa em 1830.
João Augusto de Ornelas - nasceu na Madeira em 1833 e foi um dos mais
notáveis jornalistas do seu tempo, sendo dotado de inteligência extraordinária.,
Desde muito novo colaborou na imprensa e mais tarde foi Director de «O
Direito».
Deixou novelas e romances que lhe firmaram os créditos de Escritor. Em 1871
publicou no Funchal «A Arrependida», em 1873 «Maria», em 1874 «A Mão de
Sangue» que teve os foros de romance mais sensacional dessa época, trazendo
ainda, para mais se valorizar, um prólogo de Camilo Castelo Branco.
Em 1876 publicou «A Justiça de Deus», que Vem acompanhado de uma carta do
escritor Pinheiro Chagas. Em 1886 trouxe a público novo livro: «O Engeitado».
Depois ainda apresentou outros trabalhos mas de menor importância. Quando
estava em pleno vigor e em plena laboração intelectual foi atacado por uma
paralisia que o forçou a passar a maior parte da existência numa cadeira. Faleceu
no Funchal em 11 de Julho de J886, tendo enriquecido a literatura madeirense
com uma obra vasta e Valiosa.
Padre Alfredo de Paula Sardinha - revelou-se ainda muito novo como Poeta
e Prosador valioso.
Colaborou na imprensa funchalense, firmando com as suas composições a justa
fama de inteligente e de erudito. Foi Redactor de «A Verdade», que é onde se
encontram as suas mais interessantes poesias.
Em 1894 publicou uma notável oração: «Discurso Recitado da Sala da
Associação Católica do Funchal». A sua inteligência e a magnífica cultura
intelectual que possuía e o afincado amor ao estudo asseguravam esperanças
justificadas de uma obra de Valor deste sacerdote, quando, em 1897, contando
apenas 36 anos, a Morte o surpreendeu na Freguesia da Calheta. Tinha uma
magnífica sensibilidade de Artista e de Poeta, servida por inteligência límpida e
sólida cultura literária.
História Literária Da Madeira
José de Sarmento - era um escritor que se dedicava especialmente a assuntos
musicais. A música era a sua grande Arte. Esteve no estrangeiro e durante uma
estadia em Londres conheceu List e outros compositores célebres. De volta ao
Fimchal foi Professor de Música no Seminário Diocesano.
A imprensa madeirense tem colaboração de José de Sarmento, onde se pode
avaliar a riqueza da sua cultura e bela erudição, especialmente na divina Arte da
Música. Foi amigo do Escritor russo Platon Vackcel. Nasceu no Funchal em
1842 e nesta cidade se finou em 1905.
D. Maria Emilia de Acciaiuoli Rego - foi Poetisa e publicou um livro de
versos de que a colectânea «Flores da Madeira» traz uma composição. Pertencia
a família ilustre que à História Literária deu um bom contingente de elementos.
Esta senhora era muito instruída, conhecendo e lidando perfeitamente as línguas
estrangeiras. Durante um período da sua vida deixou-se influenciar pelas
propagandas britânicas anticatólicas e seguiu o protestantismo, mas achando a
doutrina, que a princípio a interessara, árida e errónea, regressou novamente à
Igreja Católica. Faleceu no Funchal em 1S77.
Doutor José Júlio Rodrigues - nasceu no Funchal em 8 de Maio de 1843. Foi
insigne cientista, conferencista, membro das mais célebres instituições científicas
e literárias da Europa e considerado nos grandes centros de cultura como um
sábio de alto Valor. E' vastíssima a bibliografia do Doutor José Júlio Rodrigues,
destacando-se as obras de carácter científico «Estudos sobre as bases
fundamentais dos novos pesos atómicos e suas relações físicas mais notáveis» e
Curso elementar de ciências físicas e naturais», tendo colaborado neste último
trabalho o famoso António Augusto de Aguiar. Também é da autoria do Doutor
José Júlio, Rodrigues «Breve notícia sobre a composição química das Águas das
Pedras Salgadas». Com uma obra que era índice para trabalhos futuros do maior
interesse, tendo apenas 50 anos de idade, morreu este sábio em Lisboa no ano de
1890.
Padre Fernando Augusto de Pontes - foi escritor fecundo. De 1886 a 1895
colaborou na imprensa do Funchal, sendo o periódico «A Verdade» que maior
número de artigos deste sacerdote apresentou. Em 1886 publicou um volume:
«Um momento Histórico», em 1891 trouxe a público «Excursões na Madeira» e
em 1895 «O Domingo e a Fé». Era muito versado em assuntos teológicos e
possuía grande ilustração. A sua prosa era sóbria mas expressiva, com notável
riqueza de vocábulos.
Durante muitos anos paroquiou a Freguesia de Machico. Nasceu em 1836 e
faleceu, em Machico, em 1896.
História Literária Da Madeira
Dr. Cezar Augusto Mourão Pita - teve grande destaque na vida madeirense. A
sua história tem um fundo dramático. Um continental, de apelido Mourão,
condenado a cumprir pena maior em África, seguiu de Lisboa com a mulher na
última fase da gravidez e ela tendo dado à luz durante a viagem. O certo é que
essa senhora, chegando ao Funchal, em escala para África, estava gravemente
atacada com a febre puerperal, pelo que teve de recolher ao Hospital de Santa
Isabel, onde morreu, deixando sem qualquer amparo um filhinho. O Dr. António
da Luz Pita, médico e Director do Hospital, compadecido da sorte da pobre
criancinha, levou-a para casa e adoptou-a como filho, dando-lhe educação e mais
tarde mandando estudar medicina na Universidade de Montpelier.
Essa criança, foi o que tão grande projecção teve, mais tarde, na vida madeirense,
o Dr. Cézar Augusto Mourão Pita. Na minha colecção de livros autografados
pelos autores possuo um volume «Climat de Madère» do Dr. Mourão Pita e
oferecido ao meu Pai. Durante uma das suas demoradas Visitas a Paris publicou
o Dr. Mourão Pita novo estudo da especialidade a que se dedicou, desenvolvendo
o motivo do primeiro livro e que denominou: Madère, station medicale fixe».
Em 1870 apareceu em Lisboa um livro «Os acontecimentos do Teatro do
Príncipe Real - História completa do infame trama urdido contra João Radich». Neste volume, de 234 páginas, figura o nome do Dr. Cézar Mourão Pita. Este
clínico ilustre, que durante muitos anos foi Cônsul da França e era considerado o
árbitro da elegância insulana, usou o apelido Pita em homenagem e como
reconhecimento ao Dr. António da Luz Pita, que foi seu extremoso Pai adoptivo.
O Dr. Mourão Pita, que residia no prédio que faz esquina da Rua das Cruzes para
a Calçada do Quebra Costas, onde houve festas que deixaram nome, pelo brilho
como decorreram e pelas figuras que ali apareceram ou foram homenageadas,
faleceu em idade avançada do ano de 1906.
Cónego Vicente Nery da Silva - possuía grande envergadura intelectual e
brilhou como Escritor, Orador sagrado, Panfletário político e Jornalista,
tornando-se uma das figuras mais em evidência no meio intelectual da Madeira,
na sua época. Conquistou glória pela eloquência avassaladora e pelo desassombro com que discursava, criticando os erros da época e pondo em destaque
aqueles que os praticavam, prevaricando.
Diz o Dr. Rodrigues de Azevedo que o Cónego Nery da Silva «escreveu
panfletos político-eclesiásticos... sendo os mais notáveis: «Justificação do
Cónego Nery, sobre o sermão que fez na Sé, em Quinta-feira Santa» - ( Funchal,
1859), «Apontamentos para a História contemporânea do Bispado do Funchal l.\ 2.\ 3.a, 4.a, e 5.a épocas da elevação do Snr. Cónego Sá» - seis diversas
publicações impressas no Funchal em 1859 - e por último «Os Espectros da
Catânea, cidade episcopal da Sicília, ou as Visões que aparecem no século XVII
ao seu Vigário Capitular - por um Crente nos Espectros».-Funchal, 1859.
História Literária Da Madeira
Manuel Pereira da Silva - nasceu no Funchal em 1862 e foi notavelmente um
Escritor Militar. Como oficial do Exército foi condecorado como um dos mais
distintos do seu tempo.
Escreveu «A Preparação para a Guerra» onde mostra os seus conhecimentos e a
sua técnica.
É um livro muito interessante mas puramente da sua especialidade.
Conselheiro Agostinho d' Ornelas e Vasconcelos - cujo nome completo era
Agostinho d' Ornelas e de Vasconcelos Esmeraldo Rolim de Moura, era dotado
de grande inteligência e erudição, tendo brilhado na sua época como Diplomata,
Artista, Escritor e Genealogista. Era Poliglota, Traduziu do alemão o célebre
«Fausto», de Goethe.
Essa tradução foi feita em verso - que nem sempre é feliz. Em 1884 publicou um
volume: Obras de Dom Aires d' Ornelas e Vasconcelos» que são trabalhos do
Arcebispo, que era seu irmão. O prefácio é uma interessante biografia do
Prelado, onde o Conselheiro Agostinho d' Ornelas aparece com a sua admirável
elegância e riqueza de linguagem. Em 1892 publicou «Memória sobre a
residência de Cristóvão Colombo na /lha da Madeira». O Conselheiro Agostinho
d' Ornelas, de nobre ascendência, era «Senhor do Caniço». Nasceu no Funchal
em 1836 e faleceu na Alemanha, em 1901, sendo Ministro Plenipotenciário de
Portugal junto do Imperador da Rússia.
Arcebispo D. Aires d` Ornelas e Vasconcelos - nasceu no Funchal em 1837 e
formou-se em teologia na Universidade de Coimbra, recebendo o «Capelo» em
1860. Foi Bispo do Funchal e mais tarde, em 1874, Arcebispo de Goa e Primaz
do Oriente. Deixou valiosos escritos, de uma grande elevação e elegância de
frase. «De Christianae Religionis Origine», escrito em latim é um dos seus mais
Valiosos trabalhos. Faleceu em Lisboa em 1880 sendo trasladado mais tarde para
a sepultura na Capela de Santo António, na Sé do Funchal, onde se lê uma
inscrição que acompanha as armas da Família na pedra tumular.
Henrique Félix de Freitas Vale -, foi Jornalista e teve colaboração na
imprensa do Funchal onde nasceu em 1840. Foi autor de um estudo: «A crise
agrícola na Madeira, suas causas e efeitos», publicado em 1887.
Em 1888 publicou «A Revolta da Madeira e a Comissão de Inquérito». Residiu
quase toda a vida em Lisboa.
História Literária Da Madeira
Dr. José Julião de França e de Vasconcelos - nasceu na Freguesia de
Boaventura da Ilha da Madeira em 1776 e dedicou-se especialmente a estudos
genealógicos, sendo considerado como autoridade em heráldica.
A sua grande obra foi um «Nobiliário Madeirense», onde pôs toda a vastidão do
seu saber, revelando notáveis qualidades de investigador e um grande poder de
comentário. Faleceu no Funchal em 1859.
António Policarpo de Passos e Sousa - foi Poeta e usufruiu a fama de
talentoso. A imprensa da época traz valiosa colaboração sua. O primeiro volume
das «Flores da Madeira» traz. Versos de Passos e Sousa.
As suas composições poéticas revelam um espírito original. Nasceu na Freguesia
da Madalena do Mar, da Ilha da Madeira, em 1836 e morreu, muito novo, apenas
com 39 anos, na Vila da Ponta do Sol, em 1875. Diz o «Elucidário Madeirense»
que «segundo o testemunho dos seus contemporâneos possuía António Policarpo
dos Passos e Sousa um prodigioso talento, que o infortúnio não deixou
manifestar-se com a pujança e brilhantismo que muito seria para desejar».
Francisco Vieira - nasceu na Madeira em 1848 e foi Poeta de méritos.
Em 1884 uma obra deste escritor: «Álbum Madeirense de Poesias de diferentes
autores», teve grande repercussão nos meios intelectuais. Em 1887 publicou mais
dois livros: «Pétalas» e «Prelúdios Poéticos».
Era um romântico com todas as características da escola e da época. Mas nem
por isso perdeu o sentimento original e a personalidade que se evidenciam nas
suas composições.
Faleceu em 1889, ainda muito novo, com 41 anos apenas. São do livro «Pétalas»
estes versos:
A ti, Amélia!
Tu sofres?! e eu conheço a tua mágoa
funda!
- embora a ocultes, em Vão—, ingénua
donzela.
Sofres! e eu por ti sofro!... e um mar
inunda
de pranto a minha tez, por tua dor, ó
bela!
Hoje, num só olhar dos meus,
fotografei-te...
Perdoa... é meu e teu, o teu segredo
agora!
Mas pede ao Céu um raio de esperança
infinda,
pede-lhe a luz suave a acalentar-te, ó
flor!
E enquanto velo por ti, criança linda,
Tu sofres?! e feliz, risonha, imaginei-te encontras em meu peito acrisolado
ind'ontem, cativa ao mesmo ideal amor...
d'outr'ora!
Funchal, 1887.
História Literária Da Madeira
João da Nóbrega Soares - foi dos escritores madeirenses que mais géneros
literários cultivou, mostrando em todos muita aptidão. Lidou o drama, o
romance, contos, narrativas de viagem e até compôs versos!
No entanto em que mais se notabilizou foi como Jornalista, Foi Redactor da
«Revista Semanal», do «Semanário Oficial» e da «Flor do Oceano». Colaborou
em outros órgãos da imprensa e nomeadamente no «Diário de Notícias». Nasceu
no Funchal em 1831, mas somente em 1855, depois de uma viagem pela África e
pela América, julgando-se já com suficiente «bagagem literária» é que se dedicou
à literatura.É vasta a sua bibliografia. Em 1859 publicou «Introdução à
Geografia», em 1861 «Primeiras Noções de Moral», em 1867 «Contos e
Viagens», em 1868 «Cenas e Comédias» e «Cenas e Fantasias». Depois escreveu
ainda «Um quarto com duas camas», «Corografia da Madeira», «Qual dos
dois?», «Dicionário Português», etc, etc. Nóbrega Soares dedicou-se também ao
professorado.
Faleceu no Funchal em 1890. Inocêncio da Silva refere--se longamente a este
Escritor, reconhecendo-lhe merecimento. A poesia que segue é da sua autoria:
Harpa dos meus sonhos
Que sonhos d' amor! Escuta-me.
A lua vem radiante,
Vaporosa e ondulante,
longe, ao longe a despontar.
E como a flor que abre o cálix
e recebe alento e vida,
assim 'stava eu, querida,
à luz daquele luar...
E nesta hora melancólica
vejo-te, fascinadora;
num fogo que me devora
em meus braços te colhi,
ou sonho, ou fantasia explêndido,
curvas a fronte em meu seio!
Oh! que delicioso enleio
em minh'alma então senti...
Quem não sabe os segredos,
tão ledos,
de um formoso luar?!
Nestas noites persente
a mente
o seio a palpitar.
Cada éco um suspiro!
Deliro
quando perpassa, além
em cada imagem
a imagem
eu só vejo... de quem ?
Do Ideal vaporoso,
radioso,
meu único sentir onde as crenças deponho
num sonho...
sonho do meu porvir...
Vivo dos explendores fulgores
que eu inundo de luz.
Eu a mim me dou vida
em lida
que me encanta e seduz.
Eis a minha Fé, a minha Crença
o meu Ideal, o meu sentir...
Viver, mas viver sempre a sorrir
Sob esta cúpula imensa
À alma crear nova magia, a
o mundo ensinar outro Viver...
nuvens de perfumes antever...
ver só ondas de harmonia...
Quando cruzo os braços e medito
um pouco no sonho que sonhei...
eu sonho e vejo
a realidade... Os olhos fito...
E' sombra? Oh! à sombra que criei
abraço e beijo.
Funchal — Nóbrega Soares
História Literária Da Madeira
Esta poesia, por certo, não foi das que deram ao Poeta mais celebridade. Está
bem recheada daquele sentimentalismo romântico e daquela pieguice que
caracterizaram a época, mas falta-lhe elevação; a rima é pobre e mesmo assim
sente-se que foi procurada; tem falta de espontaneidade, além de muitas outras
cousas que se podem considerar...
Como prosador Nóbrega Soares é mais feliz.
D. Maria Luísa Pereira - foi a Poetisa madeirense de quem o Conselheiro José
Leite Monteiro e o Cónego Alfredo César de Oliveira publicaram na colectânea
de poesias insulanas «Flores da Madeira», em 1871 estes versos, que D. Maria
Luísa Pereira dedicara à memória de sua Mãe e que são bem repassados de
sentimentalismo romântico...
«Memoire aimé de ma Mereje te donne mon coeur et mes larme s de regrett...»
Rolai por minhas faces grossas bagas,
neste dia à saudade consagrado!
Sim, que nunca seu ferro agudo, aspérrimo
me cravou tanto o peito...
Oh! auras suavíssimas dos túmulos
trazei-me ao coração restos do nada
que é hoje, e me foi já suave vida!
Que às f ridas da saudade podem cinzas
ser-lhe bálsamo e gôso e vida grata!
Cinzas maternas! que eficaz remédio
à profunda tristeza que me oprime!
Oh! se pudesse num ósculo saudoso
sorver vestígios delas e senti-las
palpar-me o coração gelado vivo,
do sombrio Viver que a custo arrasto
sentira leve e menos duro o peso...
D. Leolinda Jardim Vieira - também poetizou dentro da escola romântica.
Deixou numerosas composições, todas elas mais ou menos eivadas daquela
pieguice, que fazem parte da vida literária da época.
Por uns versos que esta senhora dirigiu, em 1865, a uma sua amiga, a dar os
parabéns pelo aniversário natalício, pode formar-se um juízo da sua veia
poética...
História Literária Da Madeira
Grinalda
Cândidas rosas, tão puras,
em vossas galas singelas!
Vestes de branco veludo
frontes de jaspe tão belas!...
Há pouco n'ástia, mimosas,
tremieis, nevadas rosas,
pombas que arrulham saudosas
segredos do seu amor...
Dentro deste ritmo e com este sentimentalismo se alonga a Poetisa madeirense a
desenvolver o motivo. Devemos concordar que não era brilhante nem inigualável
esta Dama no campo da poesia...
D. Maria José da Costa Pereira - em 1862 compunha poesias que dedicava à
memória de uma Irmã. Os autores da colectânea «Flores da Madeira», na página
63, publicam uma dessas composições que é de um banalismo atroz e sem o menor interesse literário.
D. Arsénia, de Bettencourt Miranda - lidava com naturalidade o Verso.
Conseguiu fugir ao banalismo piegas, da época. As suas poesias têm alma e
reflectem um espírito vigoroso, pecando por serem em regra extensas em
demasia. O Escritor Francisco Vieira publicou no «Álbum Madeirense» versos
desta Poetisa que fazem honra a quem os compôs.
D. Georgina Dias de Almeida - foi Poetisa e no «Álbum Madeirente»
encontram-se composições suas que se destacam notavelmente da mediania das
produções poéticas do elemento feminino dessa época.
Poesia
Se eu fora Poetisa, no teu álbum em branco
versos aos teus anos saudosa escreveria,
recordando, leda, brinquedos dessa infância
que foram nosso enlevo, sol que nos sorria!
Lembras-te? era eu jovem e tu gentil criança.
Brincávamos adornando o eixo, o escarcéu...
Tudo era nesse tempo, o quê? - um mar
d'esperança!
Mas... crescemos ambas... toldou-se o nosso
céu!
Se Poetisa eu fora, sim, da minha lira
soltaria um cântico, a ti ó Leolinda!
Afectos desse tempo em verso escreveria
deixando-te no álbum uma saudade infinda!...
História Literária Da Madeira
Esta composição de D. Georgina Dias de Almeida é, evidentemente, mais feliz
que as das suas colegas. Parece que a dirigiu a D. Leolinda Jardim Vieira.
Afonso de Almeida Fernandes - cultivou a poesia com relativo êxito. Possuía
boa erudição. Os seus versos, como é lógico, sofreram a influência da época,
tanto mais que na Madeira, pelo que se deduz das composições dos diversos
Poetas desse tempo, o romantismo ainda teve maior exagero de pieguice.
Nas «Flores da Madeira» encontra-se uma poesia de Afonso de Almeida
Fernandes, intitulada «O Cristão no Circo», que peca por ser demasiado extensa,
sendo, apesar disso, muito original, fugindo à banalidade dos temas.
Augusto Carlos Escorcio - em 1850 escreveu num álbum esta poesia:
A RESOLUÇÃO
Não posso, não devo vê-la.
porque sinto,
eu não minto,
que poderia perdê-la,
Meu amor bem descuidado,
que tem sido
perseguido
neste mundo condenado.
Ela, pobre inocente,
sem parar,
a matar,
quem por ela tanto sente!
Saberá? Nào sabe, não..,
Inocente,
snada sente
por mim em seu coração.
Nem devera, anjo formoso,
para amar,
escutar
meu amor tão criminoso!
Deixá-la o mundo gozar,
sem perder,
sem saber
o que tem no mundo a 'sperar.
Deixá-la livre correr,
meu amor,
linda flor
que não me atrevo a colher.
Deixá-la, não quero vê-la
porque sinto,
eu não minto,
que poderia perdê-la...
Não tem nada de extraordinário, mas demonstra a facilidade da rima e uma certa
graça original dentro da pieguice romântica.
Os álbuns constituíram, especialmente neste período, magníficos reportórios de
composições poéticas que não vieram a público e que de outra forma se teriam
perdido.
História Literária Da Madeira
Eduardo Ernesto de Carvalho - tinha grandes qualidades como Poeta e boa
cultura literária. Era especialmente versado em mitologia. Os seus versos têm
tendências parnasianas, pecando, contudo, por excessivo proteccionismo. Em
1866, quando faleceu Marceliano Ribeiro de Mendonça, registou-se, entre as
demonstrações de pesar, uma poesia de Eduardo Ernesto de Carvalho, intitulada
«Uma lágrima». O Poeta alongou-se em considerações e em lamentos,
misturando sentimentos religiosos, comentários filosóficos, citações mitológicas
e, para que nada faltasse, também traz as tiradas de romantismo piegas, para
expressar a mágoa que lhe Vem da morte do amigo.
Joaquim Pestana - é outro Poeta de valor mas que, embora tivesse morrido, há
relativamente poucos anos, já anda esquecido. O «Álbum Madeirense de
Poesias» traz composições deste homem, que bem merecia que os vindouros o
lembrassem porque o seu talento, o seu amor à Literatura e quanto produziu, a
isso lhe dão direito.
A poesia que segue, da autoria de Joaquim Pestana, inspira-se numa quadra de
Mário de Azevedo:
Na Lira
Eu sinto no roçar da folha que se agita
um terno e doce canto!
Ai! Dize, viração, que tens nesse mistério
que apagas o meu pranto:
Oh! Quanto sou feliz lembrando o nome dela,
nos beijos que me deu!
Será, no meu porvir, o fito, a minha estrela
brilhando no meu céu!
A Mãe! A doce luz que os passos nos dirige
em noite escura e densa,
o Anjo que nos vê no pó da sepultura...
que tem amor e crença...
No número 54 da Revista Portuguesa, relativo a Dezembro de 1947, publiquei
um artigo meu, a propósito do Poeta Joaquim Pestana, com magníficos elementos
que me facultou o meu velho amigo e camarada Padre Eduardo Pereira - que é
Escritor, Poeta e Artista, dos mais ilustres da minha geração -. Nesse artigo se
encontram os tópicos da personalidade literária de Joaquim Pestana.
Nasceu em 1840, em Câmara de Lobos, e morreu em 1909, no sítio da Casa
Branca, na Freguesia de S. Marinho do Funchal.
História Literária Da Madeira
Foi ultra-romântico e um dos maiores líricos da Madeira, seguindo a Escola de
Soares de Passos. Em 1901 anunciou a publicação de um livro de versos da sua
autoria: Espinhos e Flores, que não chegou a publicar, por falta de recursos monetários para as despesas da impressão. A notícia deste livro foi muito festejada
na imprensa Continental e do Brasil, onde o nome do Poeta já se tinha firmado
com o seu valor natural.
Deixou Joaquim Pestana uma vasta e notável obra poética mas dispersa em
Almanaques, ou revistas literárias e em diários de Portugal e do Brasil e
nomeadamente no «Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro ».
Toda a imprensa madeirense contemporânea tem composições de Joaquim
Pestana, que manteve correspondência com os maiores Valores literários da sua
época, que festejavam as suas produções líricas. Criou fama de bom Poeta como
nunca a teve nenhum outro madeirense, baseando-se essa fama, com justiça, no
seu talento, no seu esforço próprio. Em todas as suas produções perpassa um
sopro de Fé arreigada de sentimentalismo profundo, de amor da Família,
paralelamente com um imenso desalento da vida! Não possuía qualquer curso literário. Foi grande amoroso, como João de Deus espontâneo e simples no sentir e
no versejar. Militou na política Monárquica da corrente Progressista, embora
manifestasse tendências republicanas.
O Padre Eduardo Pereira possui as preciosas poesias e escritos inéditos de
Joaquim Pestana.
Era de justiça reunir todas essas composições literárias num volume e editá-lo a
expensas das Comissões Administrativas, ou pelo Município de Câmara de
Lobos.
Em 1890, o «Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro» publicou uma poesia
de Joaquim Pestana, dedicada ao Doutor António Xavier Cordeiro.
Deus!
Oh! Mãe! que pronúncios de maga
tristeza
nos prantos e ais!
Não digas, perdoa! na voz da pureza:
que sonhos fatais!...
Quem poz nesses mares a força
gigante
que aterra e seduz?
Ao astro da norte, de brilho
constante
quem disse: - dá luz?
Dizei-me se a vida, na quadra
formosa,
tem ledo porvir?
Quem soube trazer-nos, em tarde
saudosa
tão grato fruir?
Quem deu à criança, no colo
dormindo,
de Mãe carinhosa,
a paz que se nota, co'os Anjos
sorrindo
na face de rosa?
- Meu Filho: as estrelas, o mar
gemebundo,
a terra e os céus,
foi tudo criado por Quem rege o
mundo,
foi tudo por Deus!
Joaquim Pestana compôs esta poesia no ano de 1889. Finou-se com o seu genial
talento, modesto, como viveu, e a sua lembrança morrerá pela ingratidão dos seus
conterrâneos...
João C. de Coutinho Gorjão - tem na colectânea de Francisco Vieira uma
série de Versos amorosos. Na sua época este Poeta gozou de certa nomeada nos
círculos literários do Funchal.
Lembrança
Que prazer e que Ventura
tu vens, oh! dia, lembrar!
Quando d' amor meiga jura
duns lábios ouvi soltar!
Quando uma face mimosa,
purpurina, como a rosa,
eu senti, mas receosa,
meus tristes lábios tocar!..
Oh! que mistérios encerra
este dia de prazer...
Quando o sol doirava a terra
indo-se ao longe esconder,
nesse horizonte infinito,
ecoou suave grito do teu coração aflito:
- Serei tua até morrer...
Nesta ordem de ideias o poeta canta e canta o seu amor desde esse dia 23 de
Novembro que ele menciona da base da sua felicidade, um tanto repassada de
erotismos mas também sentimental e romântica...
José Marciano da Silveira - foi Poeta e tem várias composições na colectânea
««Flores da Madeira». O Elucidário diz que este Escritor e Jornalista nasceu na
Freguesia da Camacha em 1826, tendo morrido no Funchal em 1887.
Exerceu o Professorado Primário em Machico, e à data da sua morte era
amanuense da Administração do Concelho do Funchal. Foi Redactor, durante
muitos anos, do periódico «Voz do Povo» em que a verrina e a diatribe eram por
vezes os principais argumentos das suas polémicas e campanhas jornalísticas.
Manejava com facilidade extrema o verso chocarreiro da gazetilha, ferindo e
História Literária Da Madeira
achincalhando os seus adversários o antagonistas. Nem poupou o próprio genro,
o jornalista João Augusto de Orneias, que Silveira quiz ferir e vexar, no seu
trabalho «O Filho do Ferreiro». Deste opúsculo saíram várias adições,
especialmente destinadas às colónias madeirenses de emerara, Trindade, etc.
Foi Vasta a sua obra jornalística, mas os seus escritos são geralmente moldados
na «Tripa Virada» e na «Besta Esfolada» de José Agostinho de Macedo.
Creio que o Elucidário desta vez foi bem claro nas suas informações, não
carecendo o escritor de mais detalhes à sua obra literária.
Jorge Luís de Nóbrega - inspirou-se no cantar melodioso do «Papinho» para
uma composição poética, profundamente influenciada pelo estilo da época, mas
bastante original, e sobretudo espontânea.
O «Papinho» é uma das aves regionais do Arquipélago, semelhante ao Pisco
continental, lembrando o cantar desta ave o do Rouxinol, seu próximo parente.
Jorge Luís de Nóbrega não compôs ao acaso. Considerou o quadro, os detalhes e
o motivo, logicamente sentimental e foi com estes elementos que deu largas ao
seu sentimentalismo romântico.
E' das composições madeirenses, deste ciclo, mais felizes, pela sua natural
simplicidade.
João António de Bianchi - nasceu no Funchal e gozou de prestígio na boa
Sociedade = com S maiúsculo e com o e não com u, como agora se deve
escrever... - Era culto, com boa bagagem literária.
No dia do aniversário de seu Pai ofereceu-lhe uma composição poética que
Francisco Vieira incluiu na sua colectânea «Álbum Madeirense de Poesias».
A MEU PAI
Como se ama a cristalina fonte
em áridos palmares
e de Cristo a piedosa fronte
na solidão dos mares;
Como a ave ama o ninho onde
nascera,
onde viu a luz
e o Poeta a esperança que o afaga
no sonho que o seduz;
como te amei - ó onda - suspirando
ao pálido luar,
longe da minha Mãe, meu casto
amor
ó Anjo do meu Lar!
Assim, meu Pai, adoro-te os sorrisos,
teu imer'cido amor,
como d'aurora o fresco orvalho ama
a sequiosa flor.
Oxalá que teu dia natalício
sempre eu cante também
co'a ventura que tenho nas carícias
de minha boa Mãe.
Este canto singelo, humilde e rude
é o meu tesouro só;
aceita-o, porque o cântico é virtude
não se reduz a pó...
Por arquivos e colectâneas, assim como na imprensa tenho procurado outros
versos deste poeta sem os encontrar. Não é de presumir que não tivesse composto
outras poesias, mas pode bem ser que usasse de pseudónimo...
Comendador João de Bettencourt Jardim - Barão de Jardim e Torre - fez
parte da socie4ade elegante do Funchal e possuía uma notável cultura literária,
assim como lidava línguas estrangeiras. A sua magnífica biblioteca era índice da
sua erudição. Escrevia com facilidade e elegância, merecendo-lhe as
composições poéticas especial predilecção. Deixou um volume de versos onde a
Escola romântica actua, como é natural. Também era versado em estudos
heráldicos e genealógicos.
Dr. Jacinto António de Sousa - Foi Director da revista científica «O Instituto»
e pertenceu às agremiações científicas mais importantes, na sua época. Tomou
Capelo na Universidade de Coimbra onde foi Lente. Em 1872 publicou um
estudo notável «Observações Meteorológicas feitas no Observatório
Meteorológico da Universidade de Coimbra». São também da autoria deste
insigne madeirense os trabalhos; «Relatório de uma visita aos estabelecimentos
científicos de Madrid, Paris, Bruxelas, Londres, Greenwich e Kew» e
«Observações Meteorológicos», etc, etc.
Era muito viajado, possuindo uma formidável erudição. À -sua inteligência era
invulgar. O seu nome era citado com o prestígio de que usufruem as grandes
autoridades em assuntos científicos.
Nasceu na Madeira em 1811 e faleceu em 1890,
Dr. Patrício Moniz - foi teólogo de nomeada. Possuía «ma inteligência
brilhante. Notabilizou-se também como filósofo, sendo considerado como um
dos grandes talentos. Os seus escritos atestam a erudição servida por magnífica
inteligência. A sua grande foi «Teoria da Afirmação Pura» Foi célebre como
orador e a sua fama alargou-se até o Brasil.
Escreveu também livros de Versos, usando o pseudónimo de Cleomenes
Messeide. Publicou em 1838 «Meditações Nocturnas». Em 1839 apresentou
novo livro de poesias» Composições Poéticas».
Formou-se em Direito na Universidade de Paris e em Roma doutorou-se em
Teologia pelo Colégio Romano da Universidade Pontifícia. No Rio de Janeiro
História Literária Da Madeira
consagrou-se absolutamente à Vida eclesiástica, tornando-se afamado como
orador sagrado e como conferencista. Alguns dos seus discursos foram publicados mas grande parte das suas brilhantes orações perderam-se, porque falava de
improviso. Brilhou também como Jornalista e Polemista. Foi Redactor de vários
jornais e pertenceu às mais notáveis agremiações literárias. Exerceu o
professorado superior. Como sacerdote era austero e irrepreensível. Com uma
Vida de trabalho exaustivo, tendo firmado magnífica reputação literária e
religiosa o Dr. Patrício Moniz morreu em Lisboa em 1898.
Barão do Jardim do Mar - Tristão de Bettencourt da Câmara - descendia
de João Gonçalves Zarco, mas não cuidou somente das suas nobres tradições de
sangue, dedicando-se às lides literárias. Já seu irmão, o honesto e competente
genealogista José de Bettencourt da Câmara, mostrara o seu desvelo pelas letras.
O Barão do Jardim do Mar foi mais jornalista político, sendo proprietário do
«Diário de Notícias» onde desenvolveu uma grande actividade para orientar a
política regional. Morreu repentinamente em 1903, no seu solar da Quinta das
Cruzes.
História Literária Da Madeira
Índice
Jornalistas
Dr. Nicolau Caetano de Bettencourt Pita
1820-1832
Padre João Crisóstomo Spínola de Macedo
»
»
Morgado Diogo de Orneias e Vasconcelos
»
»
Inácio dos Santos Abreu
»
»
Dr. Juiz Mota e Silva
»
»
Dr. Sérvulo Drumond de Meneses
»
»
Dr. João de Bettencourt
»
»
Alexandre Luís da Cunha
»
»
Dr. Luís António Jardim
1870-1825
Francisco de Paula de Medina e Vasconcelos
1768-1824
Cónego Dr. Naziazeno de Medina e Vasconcelos
1787-18..
Dr. Manuel Caetano Pimenta de Aguiar
1765-1832
José Anselmo Correia Henriques
1777-1828
Joaquim de Oliveira Álvares
1776-1635
Luís José Baiardo
1775-1828
João Agostinho Pereira d`Agrela e Câmara
1777-1835
Padre Caetano Alberto de Abreu Soares
1790-1867
Cónego Jerónimo Álvares dá Silva Pinheiro
1770-1861
Doutor José Manuel da Veiga
1794-1859
Manuel de Sant`Ana e de Vasconcelos
1798-1851
Padre João Crisóstomo Spínola de Macedo
17. .-1828
Dr. João Pedro de Freitas Pereira Drumond
1760-1825
Inácio Correia Drumond
1768-1830
Dr. Servulo Drumond de Meneses
1802-1867
Frei José Cupertino
179..–182..
Rafael Coelho Machado
1814-183.
Dr. João António Monteiro
1769-1834
Dr. João da Silva Caldeira
17.. -1828
História Literária Da Madeira
Dr. José António Monteira Teixeira
1795-185.
Manuel Luís Viana de Freitas
1820-18...
João Cirilo Moniz
Lino Nicolau de Atouguia
Dr. Anastácio Moniz de Bettencourt
1818-1871
1820-18..
179.-18..
Dr. Nicolau Caetano de Bettencourt Pita
1788-183..
Padre João Manuel de Freitas Branco
1773-1851
José Joaquim Ferreira de Freitas «Padre Amaro»
178..-183..
José de Bettencourt da Câmara
1844-1875
Viscondessa Nogueiras
1805-1888
João de Sant`Ana e de Vasconelos Moniz de Bettencourt
1806-1874
Dr. Justino António de Freitas e Abreu
1804-1865
Dr. Juvenal Honório Moniz
1806-1873
Francisco Ferreira de Abreu
18..-185..
Arsénio Pompílio Pompeo de Carpo
1792-1856
Marcelino Ribeiro de Mendonça
1805-1866
António Gil Gomes
1805-1868
Paulo Perestrelo da Câmara
1810-1854
Dr. António da Luz Pita
1802-1870
Dr. António Alves da Silva
1822-1870
Sérvulo de Paula de Medina e Vasconcelos
1822-1854
Januário Justiniano de Nóbrega
1824-1866
Padre José Gonçalves de Aguiar
1831-189..
Dr. António João de França de Bettencourt
1827-1882
D. Maria do Monte de Sant'Ana e Vasconcelos M. de Betteceurt
1820-188.
E. A. de Bettencourt
1820-18..
Conselheiro Dr. Luís de Freitas Branco
1819-1884
Dr. Nicolau Anastácio de Bettencourt
1810-1874
Dr. Lino Cassiano Jardim
182..-188..
D. António Correia de Heredia
1822-1889
História Literária Da Madeira
António José de Sousa Almada
1824-1874
Dr. Francisco de Andrade
1806-1881
Alexandre Luís da Cunha
1823-1838
D. Olimpia Pio Fernandes
1830-189..
Dr. Augusto de Arzila da Fonseca
1853-189..
Cónego Joaquim Gonçalves de Andrade
1795-1868
Dr. Adriano Augusto de Larica
1831-1903
Dr. João Mâncio Teixeira
1839-18..
Dr. Cândido Joaquim da Silva
1806-1879
Dr. João Augusto Teixeira
1845-1907
Dr. Francisco Clementino de Sousa
1846-1896
Luciano Cordeiro (Luciano Cordeiro de Sousa)
1845-189..
Dr. Lourenço José Moniz
1789-1857
Joaquim José de Farra Santos
1822-1886
Dr. João Joaquim Figueira
1810-1859
Dr. José António de Almeida
1843-1905
Dr. Joaquim da Trindade e de Vasconcelos
1825-1906
Dr. Francisco Justino Gonçalves de Andrade
1821-1902
Cónego Dr. João Jacinto Gonçalves de Andrade
1863-18..
Dr. Álvaro Rodrigues de Azevedo
1825-1903
Dr. Luís da Costa Pereira
1818-1893
Dr. Bartolomeu dos Mártires Dias de Sousa
184.-1872
José Curtino de Faria
1866- ......
Padre Dr. Manuel Fernandes Sant`Ana - S. J.-
1864-1910
General Daniel Ferreira Pestana
1824-1906
Dr. José Carlos de Faria e Castro
1835-1910
Luís de Figueiredo de Albuquerque
1828-1904
Manuel Gonçalves - «Feiticeiro do Norte» -
1889-19....
João Nunes —(«Diabinho»)
1850-19....
D. Luís da Câmara Leme
1817-1904
História Literária Da Madeira
Dr. Luís da Câmara Pestana
1863-1899
Dr. João da Câmara Leme Homem de Vasconcelos -1.° Conde
de Canavial
1826-1902
João Barbeito da Silva
1855-189..
Dr. Vicente Barbosa du Bocage
1823-1907
João de Freitas Branco
1854-1910
Júlio da Silva Carvalho
1821-189..
Padre Manuel Nunes
1848-1892
Cónego Alfredo Cézar de Oliveira
1840-1908
João Fortunato de Oliveira
1828-1878
Miguel Manuel de Ornelas e Vasconcelos
187.-1889
Cónego Dr. António Vicente Varela
1854-1903
Dr. Pedro Júlio Vieira
18..-187..
Luís Ribeiro de Mendonça - Barão d' Uzel
1839-1903
João de Sant`Ana e de Vasconcelos Moniz de Bettencourt
1825-1892
José de Freitas Spínola de Castel-Branco
1801-185..
Maurício José de Castel-Branco
1842-1900
General Eduardo Ernesto de Castel-Branco
1840-1905
João Joaquim de Freitas
1832-1910
Augusto Cézar de Freitas
18. .-1874
Dr. Luís António Gonçalves de Freitas
1858-189.
Manuel José Júlio Guerra Júnior
1845-187..
Francisco Gomes de Gouveia Júnior
José Maria de Gouveia
1864-18..
1856-189..
Dr. Sebastião Rodrigues Leal
18..- 18..
Guilherme Teles de Menezes
1855-189..
Felisberto de BetteMiranda
1819-1889
Padre João Maurício Henriques
1852-1901
João Maria Moniz
18..-1898
D. João da Câmara Leme
1865-189.
História Literária Da Madeira
Dr. António Evaristo de Ornelas Barão de Ornelas
1830-189..
Jacinto de Sant`Ana e de Vasconcelos Moniz de Bettencourt 2.°
Visconde das Nogueiras
1824-18..
Dr. João Francisco de Oliveira
1761-1829
João Augusto de Ornelas
1835-1886
Padre Alfredo da Paula Sardinha
1861-1897
José de Sarmento
1842-1905
D. Maria Emília de Acciaiuoli Rego
18. .-1875
Dr. José Júlio Rodrigues
1843-1893
Padre Fernando Augusto de Pontes
1836-1897
Dr. Cézar Augusto Mourão Pita
183.-1906
Cónego Vicente Nery da Silva
18..- 186..
Manuel Pereira da Silva
1862-18..
Conselheiro Dr. Agostinho de Ornelas e Vasconcelos - Arcebispo
D. Aires de Ornelas e Vasconcelos
1837-1880
Henriques Félix de Freitas Vale
1840-189..
Dr. José Julião de França e de Vasconcelos
1776-1859
António Policarpo de Passos e Sousa
1836-1875
Francisco Vieira
1848-1889
João da Nóbrega Soares
1831-1890
D. Maria Luisa Pereira
18..-188..
D. Leolinda Jardim Vieira
18..-187..
D. Maria José da Costa Pereira
18..-187..
D. Arsénia de Bettencourt Miranda
18..-18..
D. Georgina Dias de Almeida
18..-18-..
Afonso de Almeida Fernandes
18..-18-..
Augusto Carlos Escórcio
18..-186..
Eduardo Ernesto de Carvalho
18..-187..
Joaquim Pestana
João C. de Coutinho Gorjão
1840-1909
18..-18-..
História Literária Da Madeira
José Marciano da Silveira
1826-1887
Jorge Luís de Nóbrega
18..-18-..
João António de Bianchi
18..-18-..
Comendador João de Bettencourt Jardim - Barão de Jardim e Torre
18..-19-..
Dr. Jacinto António de Sousa
1811-1890
Dr. Patrício Moniz
182..-1898
Barão do Jardim do Mar - Tristão de Bettencourt da Câmara
18..-1903
Download

E-Book - Biblioteca Pública Regional da Madeira