INSTITUTO DE EDUCAÇÃO JOSÉ DE PAIVA NETTO E O MAPREI: UMA FERRAMENTA PEDAGÓGICA FACILITADORA DE INTERAÇÃO ALUNO/PROFESSOR Aline Braga Trevisan Maria Suelí Periotto Relato de Experiência Resumo: O Método de Aprendizagem por Pesquisa Racional, Emocional e Intuitiva (MAPREI) é uma ferramenta pedagógica criada pelos professores do Instituto de Educação José de Paiva Netto, que tem auxiliado no desafio de envolver estudantes de comunidades com altos índices de vulnerabilidade social. O objetivo é promover um processo dinâmico de aprendizagem, com incentivo a um saber crítico e solidário, mediado pela ação do professor. Composto de 6 etapas aplicáveis a conteúdos de diferentes áreas e níveis de complexidade, aliadas ao desenvolvimento de valores de cidadania, apresenta resultados como a diminuição do risco de evasão escolar, avanço nos indicadores de qualidade e no percentual de egressos que deram continuidade à trajetória acadêmica. Palavras-chave: MAPREI, ferramenta pedagógica, valores de cidadania. Proposta de comunicação Problema O presente relato visa compartilhar experiências do Instituto de Educação José de Paiva Netto, escola filantrópica de São Paulo/SP voltada a famílias de baixa renda, na promoção do progresso contínuo do desempenho escolar de seus estudantes, no aumento do percentual de egressos que vão para o ensino superior imediatamente após a conclusão do Ensino Básico e na conquista e manutenção do índice zero de evasão escolar, entre outros resultados. Esses números tornam-se ainda mais significativos pelo fato de a escola ter a maioria absoluta de seus alunos oriundos de famílias das camadas populares, e pelo fato de não selecionar aqueles com maiores possibilidades de progresso acadêmico no processo de matrícula. Pelo contrário, uma equipe de assistentes sociais, de acordo com critérios técnicos estabelecidos pela Política Nacional de Assistência Social (PNAS), prioriza as famílias conforme seu grau de vulnerabilidade social (indicador abrangente e multidimensional de exclusão social). Essa prática se deve ao próprio histórico da unidade escolar, que teve início como creche em 1986, fundada pela Legião da Boa Vontade (LBV), uma das mais antigas entidades de Assistência Social do País. Em 1993, atendendo a uma demanda dos pais atendidos, estende esse trabalho para o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio, permanecendo com foco nas famílias menos favorecidas. Conforme ampliava a faixa etária beneficiada, a escola passava a enfrentar o desafio também colocado para a rede pública de prevenir a evasão dos adolescentes. Embora as camadas populares tenham conquistado expressivo avanço educacional nos últimos anos, seus indicadores quantitativos e qualitativos nesta área são ainda bem inferiores às médias nacionais, uma vez que, de acordo com dados do IBGE de 2012, 32,2% dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos desistiram de estudar antes de completar o Ensino Médio, proporção que supera 50% entre os jovens do quinto mais pobre da população. Frente a esta realidade, o Instituto de Educação José de Paiva Netto, ao promover os encontros de formação continuada dos docentes, procurou caminhos que pudessem auxiliar o planejamento dos conteúdos, por meio de ações interdisciplinares, com pesquisas e participação dos professores, que construíram conjuntamente estratégias que envolvessem ainda mais os educandos nas aulas. O norte desse trabalho foi a adoção de abordagens dinâmicas e significativas para os estudantes, que fomentassem a sua participação nas aulas e valorizassem o seu repertório cultural e familiar. Nasceu, assim, a metodologia que hoje é utilizada na rede de escolas da LBV, recebendo o nome de MAPREI (Método de Pesquisa Racional, Emocional e Intuitiva), que possui 6 etapas de aplicação, e que pode ser utilizado em quaisquer disciplinas, em todos os níveis da Educação Básica. Objetivos -> Instrumentalizar os professores participantes com as principais etapas do MAPREI, uma vez que o aprendizado do aluno resulta de um conjunto de ações individuais e do grupo, que englobam a busca, a reflexão e o amadurecimento do saber que, para ser seguramente apreendido pelo ser humano, necessita percorrer o seguinte trajeto: A busca pelo conhecimento parte do indivíduo, é compartilhada com o grupo e necessariamente volta para o ser humano, que a internaliza. 1ª ETAPA - Identificação do conteúdo/área temática A palavra chave desta etapa é “mobilização”. Cada planejamento do MAPREI começa por uma atividade mobilizadora, preparada pelo professor mediante a temática a ser desenvolvida. O assunto a ser contemplado (conteúdo/área temática a ser discutido no trimestre, bimestre, quinzena ou semana) não fica necessariamente explicitado na primeira etapa, uma vez que o objetivo do educador não é revelar rapidamente qual tema será desenvolvido, mas despertar a atenção do educando nessa apresentação inicial, garantindo a continuidade de seu interesse durante o tempo em que estiverem debruçados sobre o tema contemplado naquele MAPREI. 1ª etapa: Pedagogia do Afeto Educação Infantil e Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) Pedagogia do Cidadão Ecumênico Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e Ensino Médio Palavra–chave: Mobilizar Palavra–chave: Mobilizar Objetivos: - Apresentar o tema a ser desenvolvido; - Pontuar os subtemas sugeridos. Objetivos: - Apresentar o conteúdo, projeto, planejamento; Estratégias: - Hora do conto; - Roda de conversa; - Chuva de palavras; - Leitura oral (textos, poesia, jornal); - Música; - Dinâmicas; - Filmes; - Atividades Externas. - Pontuar sugestões apresentadas pelos alunos. Estratégias: - Bate-papo; - Leitura oral (textos, poesia, jornal); - Música; - Explanação oral; - Dinâmicas; - Filmes; - Atividades externas (passeios e visitas). 2ª ETAPA: Busca Individual do Conhecimento Esta etapa dispara uma pesquisa individual, com a busca do conhecimento mais alargado da temática proposta. O professor estabelece subtemas diferenciados, de modo que o material a ser pesquisado enriqueça o conhecimento de todos, considerando seus aspectos diversificados, porém convergentes ao assunto em questão. 2ª etapa: Pedagogia do Afeto Educação Infantil e Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) Pedagogia do Cidadão Ecumênico Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e Ensino Médio Palavras–chave: Intuição e Pesquisa Palavras–chave: Intuição e Pesquisa Objetivos: - Mobilizar atividades de pesquisa (coleta de materiais); - Propor participação da família; - Despertar a intuição. Objetivos: - Mobilizar atividades de pesquisa (coleta de materiais). Estratégias: - Recorte e colagens; - Produções artísticas; - Tarefa de casa envolvendo pais; - Utilização de fotos, documentos pessoais etc. Estratégias: - Colagens; - Trabalhos escritos e resumos; - Vídeos; - Lista de palavras–chave; - Reportagens; - Letras de música. 3ª ETAPA: Socialização do conhecimento Após ter realizado a pesquisa individual, cada educando irá socializá-la com os demais colegas de sala. O aluno destaca o trecho que achou mais significativo e agregador à temática proposta e é convidado pelo professor a compartilhar oralmente o conteúdo que selecionou. Geralmente, o professor estabelece o tempo de um ou dois minutos para a apresentação individual de cada estudante. 3ª etapa: Pedagogia do Afeto Educação Infantil e Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) Pedagogia do Cidadão Ecumênico Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e Ensino Médio Palavras–chave: Mediar e aprofundar Palavras–chave: Mediar e aprofundar Objetivos: - Propor construção do conhecimento; - Incentivar o diálogo e a reflexão; - Aprofundar conceitos; - Sistematizar conteúdo. Objetivos: - Incentivar o diálogo e a reflexão; - Sistematizar os dados levantados; - Aprofundar conceitos; - Esclarecer e corrigir conceitos. Estratégias: - Construção de painéis, murais e cartazes; - Utilização de vídeos, livros paradidáticos, mapas, jornais, revistas etc; - Exposições; - Uso da apostila ou livro didático; - Rodas de conversa (grandes grupos e grupos menores). Estratégias: - Produzir um quadro sinóptico cronologicamente organizado; - Elaborar painéis, murais e cartazes; - Construir coletivamente um texto; - Formular questões; - Promover debates, gincanas e exposições; - Colóquios e mesas-redondas; - Apresentação oral dos dados coletados; - Uso da apostila ou livro didático. 4ª ETAPA: Conclusão Nesta etapa está prevista a primeira conclusão do tema em discussão. É a partir dela que o professor introduz o material que preparou sobre a temáticafoco deste MAPREI. Agora, seguindo apostilas, livros didáticos ou paradidáticos, vai “costurar” o que tem a acrescentar ao que já foi exposto pelos alunos, fruto de suas pesquisas, mediante a socialização ocorrida na etapa anterior. A proposta, neste momento, é fechar uma conclusão parcial acerca da temática, com a confecção de trabalhos, desta vez em grupos. 4ª etapa: Pedagogia do Afeto Educação Infantil e Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) Pedagogia do Cidadão Ecumênico Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e Ensino Médio Palavra–chave: Produção Palavra–chave: Produção Objetivos: - Concluir tema ou o projeto elaborado; - Elaborar o documento de conclusão; - Sistematizar o conteúdo propriamente dito. Objetivos: - Concluir o tema ou o projeto elaborado; - Elaborar o documento de conclusão; - Sistematizar o conteúdo propriamente dito. Estratégias: - Produção artística individual ou em grupo; - Registro de conteúdo no álbum didático; - Utilização de apostila, livro didático, lista de atividades; - Utilização de cadernos: cartografia, pedagógico, brochura, quadriculado; - Produção escrita ou prática sobre a conclusão do assunto. Estratégias: - Registro das produções no caderno; - Uso da apostila ou livro didático para fixar conceitos; - Utilização de lista de atividades; - Produção escrita ou plástica sobre conclusão do assunto. 5ª ETAPA: Apresentação de Resultados Neste passo do MAPREI, em sua quinta etapa, é importantíssimo o reconhecimento do empenho dos que atuaram na ação educacional realizada, na dimensão que tenha acontecido, valorizando-se do menor ao maior trabalho desenvolvido pelos componentes dos grupos. Com o propósito de incentivar e compartilhar as criações que surgem das atividades finalizadas, a escola convida a família e a comunidade do entorno a assistir às apresentações e/ou visitar as exposições dos materiais confeccionados pelos alunos envolvidos nas propostas. 5ª etapa: Pedagogia do Afeto Educação Infantil e Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) Pedagogia do Cidadão Ecumênico Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e Ensino Médio Palavras–chave: Escola-FamíliaComunidade Palavras–chave: Escola-FamíliaComunidade Objetivos: - Compartilhar o conteúdo vivenciando com os demais grupos da escola e da família. Objetivos: - Compartilhar o conteúdo vivenciando com os demais grupos da escola e da família. Estratégias: - Exposições na escola; Estratégias: - Exposição na escola; - Mostras ou feiras culturais; - Gincanas; - Dramatizações; - Apresentações musicais. - Mostras de feiras culturais; - Gincana; - Dramatização; - Apresentações musicais; - Colóquios. 6ª ETAPA: Conclusão Individual Como forma de conclusão Individual, é hora de avaliar o que foi apreendido. A sexta etapa do MAPREI torna-se um dos momentos de avaliação formal, mas não o mais importante, uma vez que diversos recursos foram até aqui utilizados para registrar o desenvolvimento e a apreensão do conteúdo trabalhado nas unidades temáticas. 6ª etapa: Pedagogia do Afeto Educação Infantil e Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) Palavra–chave: Internalização Objetivos: - Registrar o conteúdo assimilado Estratégias: - Atividades plásticas, cênicas e musicais; - Atividades escrita (caderno, sulfite, apostila ou livro didático). Pedagogia do Cidadão Ecumênico Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e Ensino Médio Palavra–chave: Internalização (fechamento) Objetivos: - Registrar o conteúdo assimilado. Estratégias: - Uso do caderno, apostila ou livro didático; - Produção de textos; - Elaboração de projetos; - Avaliação oral e/ou escrita. -> Fomentar a reflexão sobre o currículo trabalhado com os estudantes, seu diálogo com a realidade familiar, comunitária e social vivenciadas por eles. Será apresentada a experiência concreta do Instituto de Educação José de Paiva Netto, que estruturou um programa que envolve alunos desde a idade em que estão no berçário (4 meses) ao Ensino Médio, bem como a EJA (Educação de Jovens e Adultos), trabalhado de forma transversal em todas as matérias. Metodologia A experiência será apresentada em duas partes. A primeira, expositiva, trará os principais conceitos relacionados ao Maprei, sua contextualização e exemplos. A segunda, prática, consistirá na produção pelos professores presentes de planos de aulas que envolvam algum tema presente em suas disciplinas, construídos de acordo com as etapas do Maprei. O formato da segunda parte será estruturado de acordo com a estimativa de público presente ao evento. No encerramento, será realizada uma dinâmica em que alguns professores participantes poderão compartilhar suas produções com os demais presentes e, na oportunidade, esclarecerem dúvidas que surgirem no processo. O próprio conteúdo da apresentação foi sistematizado dentro das 6 etapas do Maprei, a saber: Identificação do Conteúdo (Palavra-chave: Mobilização), Busca Individual do Conhecimento (Pesquisa), Socialização do Conhecimento, Conclusão (Produção), Apresentação de Resultados e Conclusão Individual. Os passos seguidos são explicitados ao público, no final da apresentação, como demonstração da metodologia. Esboço de fundamentação teórica O Instituto de Educação José de Paiva Netto foi fundado com a diretriz de desenvolver estratégias de aprendizagem que propiciassem a plena exteriorização do potencial intelectual de cada educando, independente de sua origem social. Para tanto, foi necessário estruturá-lo para, por um lado, não ignorar as limitações presentes na realidade de cada família, e, por outro, também não encará-las como fatores limitantes definitivos do progresso acadêmico;ao contrário, valorizar a riqueza interior do aluno, sua bagagem cultural familiar. Bourdieu (2007) fez importante contribuição a esse debate, revelando o peso da origem do estudante sobre seu desempenho acadêmico, prevalecendo sobre o suposto papel integrador que as escolas teriam para os indivíduos das camadas populares: É provavelmente por um efeito de inércia cultural que continuamos tomando o sistema escolar como um fator de mobilidade social, segundo a ideologia da ‘escola libertadora’, quando, ao contrário, tudo tende a mostrar que ele é um dos fatores mais eficazes de conservação social, pois fornece a aparência de legitimidade as desigualdades sociais, e sanciona a herança cultural e o dom social tratado como dom natural. (BOURDIEU, 2007, p. 41). Em que pese seu importante papel na reprodução das desigualdades sociais conforme diagnosticado por Bourdieu, o sistema escolar não produz sozinho este resultado. Lahire (2004) identificou a existência de uma complexa relação de interdependência entre família e escola na produção do chamado “sucesso” ou “fracasso” escolar nos meios populares. O pesquisador colheu dados de crianças em seus próprios domicílios na cidade francesa de Lyon, com notas etnográficas sobre cada contexto de entrevista. Somou os dados das escolas em que estudavam as crianças selecionadas e aprofundaou a análise geral que as envolveu, considerando a aprendizagem, a situação socioeconômica e a bagagem cultural de cada família (entre outros critérios). E concluiu: Se a família e a escola podem ser consideradas como redes de interdependência estruturadas por formas de relações sociais específicas, então o fracasso ou o sucesso escolares podem ser apreendidos como o resultado de uma maior ou menor contradição, do grau mais ou menos elevado de dissonância ou de consonância das formas de relações sociais de uma rede de interdependência a outra. (LAHIRE, 2004, p. 19-20). Assim, mediante as informações do núcleo familiar de onde vem o estudante, a escola vai empenhando-se a fim de que o desenvolvimento pedagógico dos alunos seja estimulado adequadamente. Esse esforço contínuo de criar condições para o educando de ser protagonista em sua aprendizagem passa, segundo Paulo Freire, pelo incentivo à uma postura responsável, solidária, pela comunidade em que o educando está inserido. Freire (1998) chama a atenção para esse aspecto mais abrangente da educação, que não deve reduzir-se à transmissão de conhecimentos técnicos aos educandos. Transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. (FREIRE, 1998, p. 37) Nesse contexto, o Instituto de Educação José de Paiva tem desenvolvido uma série de estratégias para fornecer ao educando elementos para que ele possa capacitar-se para formular respostas críticas aos desafios que surgirem nas escolhas pessoais, nas relações de convivência, nas ações de cidadania e no mundo do trabalho. Entre elas, o presente relato realça o papel do Maprei no desenvolvimento das potencialidades do educando, na medida em que traduz, em termos práticos, uma abrangente concepção de ensino: Instruir é Iluminar a Consciência. Sem Educação e Instrução não há progresso. Todavia, educar e instruir não é apenas ensinar a ler, a mergulhar nos livros. (...). Isso apenas será conseguido quando todos souberem ver, além do intelecto, com os olhos do Espírito. (PAIVA NETTO, 2000, p. 265). Os professores esperam, com o MAPREI, que o aluno, de modo consciente, torne-se coautor do seu processo educacional. Propõe, ainda, que, ao esforço contínuo de incentivar o educando a ser protagonista do seu próprio processo de aprendizagem, seja fortalecida a postura solidária em atividades na comunidade escolar. (...) um mundo menos terrível, menos cruel, podemos esperar uma humanização, podemos humanizar e civilizar nossa Terra. Tudo isso pressupõe, ainda, a religação. Ela é uma necessidade vital para o pensamento, para o desabrochar dos seres humanos, que precisam de amizade e de amor e que, sem isso, definham e se amarguram. (MORIN, 2001, p. 53). Uma das preocupações do cotidiano dessa escola filantrópica é o reforço junto aos professores que compõem a equipe pedagógica acerca da prioridade do educando aprender. Assim, o foco do MAPREI está na aprendizagem, não fazendo parte de uma ação assistencialista de uma escola cuidadora: seu papel é priorizar a capacidade intelectual presente em todo educando, potencial que essa escola considera não ser determinado pela extensão da bagagem cultural da família e/ou de sua situação socioeconômica. Ao propor que o professor seja mediador de uma aprendizagem que envolva e entusiasme o educando em suas ações escolares, existe a intenção de que ambos somem conhecimentos, num processo de coautoria de um saber compartilhado. Na aplicação dessa proposta, o aprendiz é protagonista como partícipe do cenário educacional e tem no professor o responsável por conduzir seu processo de construção do conhecimento. FREIRE (2005) aponta a urgência dessa inter-relação professor/educando, ao afirmar que “o diálogo é este encontro dos homens, mediatizado pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu.”, ressaltando que “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. E, ainda: Embora diferentes entre si, quem forma se forma e reforma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É nesse sentido que ensinar não é transferir conhecimento, conteúdos, nem formar é a ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. (FREIRE, 2005, p.91) Ao acontecer esta inter-relação, estando o professor disposto a tal jornada, a mediação pode gerar maior envolvimento dos alunos nas propostas levadas à sala de aula, encurtando a distância entre quem forma e quem é formado. Os professores concluíram que a qualidade da mediação docente pode diferenciar-se à medida que, utilizando os mesmos instrumentos e ferramentas, observam-se resultados satisfatórios ou nem tanto, uma vez que cada professor emprega seu próprio modo de ser na condução de uma sala de aula. Ramón Queraltó apud Quadros: 2001 destaca o alcance da mediação pessoal, reforçando que esta vai muito além dos instrumentos utilizados para essa finalidade: Um instrumento quer significar algo que é utilizado com o objetivo de obter alguns resultados específicos, e é abandonado uma vez que tais resultados tenham sido alcançados, até a próxima etapa em que ele possa ser necessário novamente para os objetivos da produção científica. Em outras palavras, um instrumento é um meio, como quando se emprega para falar, para utilizar e deixá-lo de lado. Mas uma mediação, no entanto, constitui-se em algo mais, nominalmente, um meio o qual tem valor permanente, de tal forma que a atividade com a qual se correlaciona acaba por determinar-se em função deste meio ou mediação. (QUADROS, 2001, p. 175) Resultados obtidos A infraestrutura de suporte social às famílias dos estudantes do Instituto de Educação José de Paiva Netto, somadas às inovações metodológicas adotadas hoje por 100% do seu corpo de educadores, sintetizadas no Maprei — objeto deste relato —, permitiram ao conjunto educacional alcançar: -> Índice de evasão escolar zero, inclusive entre grupos de maior vulnerabilidade ao abandono escolar precoce, conforme documentos dos alunos comprobatórios de sua frequência escolar, sem desistência; -> Avanços contínuos no aproveitamento pedagógico dos estudantes, conforme dados do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) disponibilizados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira); -> Taxa elevada de continuidade nos estudos (após a conclusão da Educação Básica, em 2013, 85% dos alunos concluintes já tinham faculdade nas quais foram aprovados em vestibulares para cursarem em 2014. Os outros 15% optaram por dedicarem-se ao ensino técnico ou cursos pré-vestibulares). Em virtude desses resultados, a Legião da Boa Vontade foi convidada, em julho de 2011, a organizar um painel temático sobre Educação dentro da programação oficial da Reunião de Alto Nível do Conselho Econômico e Social da ONU, ocorrida na sede do organismo, em Genebra. Voltada ao debate sobre os objetivos educacionais internacionais, a Reunião de Alto Nível contou com a presença de ministros de Estado, altos funcionários da ONU e delegações dos países-membros. Na oportunidade, a Instituição foi ressaltada pelos participantes pelos ambientes livres de violência e políticas de prevenção ao bullying e a outros modos de intimidação ou afrontamento físico/verbal. Devido aos altos índices de violência do Brasil, que se manifestam também no contexto educacional, a LBV foi procurada pelas suas práticas de promoção da Cultura de Paz. (ANEXO 1) Conclusão Escola e educadores visam a prover condições suficientes para que o educando possa caminhar, mesmo que na contramão de expectativas sociais. Para tal, necessária se faz uma atenção especial à metodologia e ao currículo, com os quais o MAPREI caminha continuamente, alinhando objetivos e estratégias didáticas. Sacristan (2002) refere-se a esse tipo de esforço, ao afirmar que Um currículo (...) requer uma estrutura escolar que permita e estimule a mescla social dentro da qual viver a diversidade, sedimentar aspirações compartilhadas, tolerar e entender o que é distinto, porque precisamos estar, participar e entender-nos com ele. A diferença cultural com orientação universalista ou o universalismo plural sensível às diferenças, para que sejam algo mais que atitudes intelectuais, requerem espaços públicos reais de convivência cotidiana. (SACRISTAN, 2002, p. 235) Assim, ao compreender que a extensão de suas próprias ações o projeta para um futuro promissor, o estudante consegue contrariar — conscientemente — as expectativas de sensos oficiais indicadores de pequenas possibilidades de ascensão acadêmica e profissional. E poderá ainda compartilhar desse progresso com suas comunidades, à medida que essa trajetória é marcada pela reflexão e debate acerca das responsabilidades de cada cidadão com os avanços sociais tão necessários. Referências bibliográficas BOURDIEU, P. A Escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura. In:______. Escritos de educação. Organizadores Maria Alice Nogueira e Afrânio Catani. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1998. LAHIRE, Bernard. Sucesso escolar nos meios populares: as razões do improvável. São Paulo: Ática, 2004. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 4ª ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001. PAIVA NETTO, José de. Crônicas e Entrevistas. São Paulo: Elevação, 2000. PERIOTTO, Maria Suelí (org.) Manual da Pedagogia do Afeto e da Pedagogia do Cidadão Ecumênico. São Paulo: Editora Elevação, 2009. QUADROS, Paulo S. Cibernética pedagógica na era das redes: a ótica da educação digital na contemporaneidade. (Dissertação de Mestrado), São Paulo: ECA/USP, 2001. SACRISTAN, José Gimeno. Educar e conviver na cultura global: as exigências da cidadania. Porto Alegre: Artmed, 2002. ANEXO 1 Encontro mundial em Genebra Artigo publicado no Jornal A Tribuna, sábado e domingo, 09 e 10 de julho de 2011 mente A Legião da Boa Vontade foi convidada para apresentar recomendações durante a Reunião de Alto Nível do Conselho Econômico e Social (Ecosoc), das Nações Unidas, que ocorreu de 4 a 7 de julho, em Genebra, na Suíça. Entre os compromissos agendados, o Ecosoc indicou a participação da LBV como a representante da sociedade civil no encontro ministerial reservado, que se deu no dia 5, no Palais des Nations. Trata-se de um diálogo exclusivo entre governos promovido pela Unesco, pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelo Banco Mundial, que teve como tema “Direcionando soluções para as necessidades dos jovens: educação e capacitação para o mundo do trabalho”. Na ocasião, Danilo Parmegiani, do escritório da LBV para as Nações Unidas, em Nova York, representou-me, expondo os resultados e as propostas da Pedagogia do Afeto e da Pedagogia do Cidadão Ecumênico, aplicadas há décadas na rede de ensino da LBV no Brasil e no mundo. A revista “BOA VONTADE Educação”, disponível em espanhol, francês, inglês e português, foi preparada especialmente e deu sua contribuição para esse importante acontecimento. Em Genebra, o dr. Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU; o sr. Nikhil Seth, diretor do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (UN/Desa) do Ecosoc, e a dra. AshaRose Migiro, vice-secretária-geral das Nações Unidas, recebem a revista “BOA VONTADE Educação” de Danilo Parmegiani, da LBV. O pronunciamento da LBV na plenária principal do evento da ONU, dirigido às autoridades internacionais presentes, foi transmitido ao vivo pela ONU TV para todo o mundo. Também na sede da ONU em Genebra, em 6 do corrente, tivemos o painel temático organizado pela LBV, “Educação de qualidade e equitativa: um desafio intersetorial para atingir os ODMs” (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, conjunto de metas dos países-membros da ONU). No ensejo, palestraram a embaixadora Maria Nazareth Farani Azevêdo, chefe da Missão Permanente do Brasil junto à ONU em Genebra; o dr. Andrei Abramov, chefe da Seção de ONGs do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU (UN/Desa); e a pedagoga Suelí Periotto, diretora do Instituto de Educação da LBV, em São Paulo/SP. Painel organizado pela LBV na sede da ONU em Genebra, Suíça. No destaque, da esquerda para a direita, a embaixadora Maria Nazareth Farani Azevêdo, chefe da Missão Permanente do Brasil junto à ONU em Genebra; Danilo Parmegiani, representante da LBV na ONU e mediador do painel; o dr. Andrei Abramov, chefe da Seção de ONGs do UN/Desa; e a pedagoga Suelí Periotto, supervisora da linha pedagógica da LBV. Ainda nesse dia, a convite, a LBV realizou pronunciamento na plenária principal do encontro da ONU, diante das autoridades internacionais presentes, transmitido em tempo real pela ONU TV para todo o mundo. A mensagem da Instituição foi traduzida nos seis idiomas oficiais das Nações Unidas (árabe, chinês, espanhol, inglês, francês e russo).