Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 Sessões de Posters / Posters Sessions VI Congresso Nacional de Psiquiatria Estoril, 6 a 8 Dezembro 2010 VI National Congress of Psychiatry Sessões de Posters / Posters Sessions Resumos / Abstracts Depressão e Ansiedade P01 PERTURBAÇÃO OBSESSIVO - COMPULSIVA NA GRAVIDEZ E PUERPÉRIO Ana Ramos, Pedro Cintra; Rui Durval; José Salgado Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa; Hospital Distrital de Santarém Reconhece-se desde as descrições de Hipócrates que a gravidez e puerpério representam um período de vulnerabilidade na vida da mulher para a apresentação de diferentes perturbações psiquiátricas. A maioria dos casos corresponde a perturbações afectivas, no entanto, estima-se que a perturbação obsessivo-compulsiva tenha uma prevalência superior neste grupo, embora frequentemente ignorada. A partir da apresentação e discussão de um caso clínico de perturbação obsessivo-compulsiva durante a gravidez, pretende-se com este trabalho, apresentar uma revisão do referido tema, com referência a epidemiologia, etiologia, apresentação clínica e aspectos de diagnóstico, tratamento e prognóstico. O método utilizado foi pesquisa bibliográfica e de artigos científicos nos ficheiros medline; consulta do processo clínico da consulta de ginecologia, processo de internamento em obstetrícia e processo da consulta externa de psiquiatria do caso clínico apresentado. Da pesquisa efectuada salienta-se que a perturbação obsessivo-compulsiva na gravidez e puerpério tem uma prevalência superior á da população em geral. Os pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos estão usualmente relacionados com o bébe. Pensamentos relacionados com contaminação ou agressão do bébe são os mais comuns. Normalmente a doença não é diagnosticada, acarretando considerável sofrimento psíquico para a grávida/puerpera e família; sendo fundamental alertar os médicos de familia e obstetras para esta possibilidade. Para a perturbação obsessivo-compulsiva ligeira, sem risco imediato para a mãe e para o bébe, o tratamento recomendado é a psicoterapia cognitivo-comportamental; sendo que, na doença moderada a grave se preconiza o tratamento com inibidores selectivos da recaptação da seretonina. A decisão de usar psicofármacos durante a gravidez ou na amamentação requer o consentimento informado da doente e do companheiro. Apesar de relativamente raro, o risco de agressão deve ser cuidadosamente avaliado, sendo que em alguns casos é necessária hospitalização para assegurar a segurança da mãe e do bébe. P02 MEXA-SE! PELA SUA DEPRESSÃO Jorge Mota Pereira, Serafim Carvalho; Jorge Silvério; José Carlos Ribeiro; José João Silva; Mariana Soares; Sónia Granja; Joaquim Ramos Hospital de magalhães Lemos e Universidade do Minho; Hospital de Magalhães Lemos; Universidade do Minho (Escola de Psicologia); Universidade do Porto (Faculdade de Desporto) Introdução: O tratamento da Perturbação Depressiva Major (PDM) envolve múltiplas estratégias, tendo a prática de exercício físico moderado vindo a ser apontada como potenciador do efeito dos antidepressivos, surgindo associada a um aumento da qualidade de vida dos doentes com depressão. No entanto, e dada a complexa fisiopatologia da PDM, os estudos realizados até ao momento têm apresentado resultados díspares. Objectivo: Avaliar o impacto de um programa de exercício físico moderado na qualidade de vida de doentes com PDM. População: Amostra populacional: 33 doentes com PDM com idade média de 47,2 ± 10,4 anos, que frequentavam consultas psiquiátricas há pelo menos nove meses e que não apresentavam remissão dos sintomas apesar da toma de fármacos em doses consideradas adequadas. Métodos: Os participantes foram divididos em dois grupos: um grupo de estudo (E, n = 21), que realizou exercício físico moderado durante 12 semanas, e um grupo controlo (C, n = 12), que não fez exercício físico. Antes e depois do programa de exercício físico, todos os participantes foram avaliados relativamente a HAMD17 (escala de depressão de Hamilton, 17 items), BDI (Escala de depressão de Beck), GAF (escala de avaliação global de funcionamento), CGI (Escala de Impressões clínicas globais) e WHOQOL-Bref (instrumento de avaliação da qualidade de vida). Resultados: O grupo E melhorou do início para o final do estudo relativamente aos parâmetros HAMD17, BDI, CGI, GAF e WD3 (p < 0.05). No final do programa de exercício, os indivíduos do grupo E apresentaram maiores descidas na classificação HAMD17, avaliada como percentagem da classificação inicial, do que os indivíduos do grupo C (p < 0.05). Conclusões: Os resultados sugerem fortemente que o exercício é benéfico em indivíduos com PDM, melhorando não só os sintomas de depressão como aumentando a capacidade destes indivíduos de melhor se relacionarem socialmente. 13 Sessões de Posters / Posters Sessions P03 DISTRESS EM DOENTES COM CANCRO DE MAMA Francisco Picazo Alonso, Emilia Alburquerque, Dra Piedade Hospital Universitario Coimbra,; IPO Estudo realizado com finalidade de medir o distress em doentes com cancro de mama. Avaliadas 80 mulheres com cancro de mama durante os anos 2009-2010. Foi utilizado para medir o distress o termómetro do distress.Considerámos por convénio e ajustando-nos às publicações prévias, que um valor igual ou maior a 4 é indicativo de distress. Se avaliam as seguintes variáveis da mostra: idade, estado civil, profissão, momento diagnóstico do cancro, diversas intervenções psiquiatricas e psicológicas desde o diagnóstico, medicação, sobrevivência desde diagnóstico. P04 O IMPACTO PSIQUIÁTRICO DE UMA DOENÇA DERMATOLÓGICA GRAVE João Marques, Maria João Cruz; Cassilda Costa; Miguel Bragança Hospital de São João As doenças dermatológicas constituem uma patologia que cursa com elevada co-morbilidade psiquiátrica. Estima-se que cerca de 30% dos doentes que procuram apoio dermatológico apresentam co-morbilidade psiquiátrica associada. Contudo, muito pouca atenção tem sido dada, quer ao impacto psicológico relacionado com o aparecimento de uma patologia cutânea, quer à importância de uma pele saudável no adequado desenvolvimento e bem-estar emocional do doente. Neste sentido, a falta de suporte adequado e/ou o esquecimento do impacto psicológico e psiquiátrico de uma doença dermatológica pode afectar o curso, resultado terapêutico e prognóstico da mesma. Os autores descrevem o caso de um doente previamente saudável com aparecimento aos 38 anos de Penfigóide Bolhoso, com resposta parcial a diversos tratamentos e marcada deterioração da sua imagem corporal e consequente desenvolvimento de Episódio Depressivo Moderado reactivo à doença. Com o agravamento da sua patologia de base e consequentemente da sua co-morbilidade Psiquiátrica, decide abandonar o acompanhamento em ambas as consultas e toda a medicação. Faleceu 2,5 anos após o inicio da doença dermatológica, por deterioração progressiva grave do estado geral, que culminou em falha multiorgânica. P05 “DA NOITE PARA O DIA” Carla Vicente, Ana Martins; Filomena Santos; Mariana Cura; João Alcafache; Salomé Abrantes Hospital Infante D. Pedro EPE O internamento em Hospital de Dia constitui uma opção terapêutica de relevância crescente no tratamento e seguimento de doentes com depressão. Neste estudo os autores relatam o caso de uma utente com depressão com cerca de 6 meses de evolução. Foi internada em regime de Hospital de Dia, em 2 de Dezembro de 2009, por apresentar sintomatologia depressiva e ansiosa, reactivas a problemas pessoais. Foram identificadas como diagnósticos: inexistência de estratégias de coping eficazes, diminuição da concentração, da motivação, do auto-conceito, da interacção social e níveis de ansiedade elevados. Apresenta também, baixa causalidade pessoal, referindo incapacidades nas áreas das actividades da vida diária (mais evidentes na gestão doméstica e cuidados pessoais) e nas actividades de lazer, demonstrando um desequilíbrio ocupacional marcado. A intervenção foi realizada pela equipa multidisciplinar, composta por Médico Psiquiatra, Enfermeiro, Terapeuta Ocupacional, Psicólogo e Técnico do Serviço Social, durante 3 meses. À saída foi realizada uma avaliação final, onde apresentou melhorias marcadas ao nível da sintomatologia, com reestruturação das actividades da vida diárias, assumindo com competência os papéis ocupacionais. Após meio ano, em reavaliação, foram confirmadas as melhorias e apresenta estratégias de resolução de problemas eficazes. 14 Saúde Mental Mental Health P06 ENSAIO DE UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE MENTAL EM ADOLESCENTES Raul Alberto Cordeiro Instituto Politécnico de Portalegre - Escola Superior de Saúde de Portalegre A população jovem é especialmente vulnerável a fenómenos como a exclusão social, em especial, na fase de transição da vida escolar para a vida laboral, com todas as implicações que daí podem advir para a capacidade de desenvolver um sentido de futuro. Em comparação com a população adulta, os jovens são um grupo de risco de doença mental pela vulnerabilidade a que estão sujeitos na sociedade actual, tais como preocupações de natureza financeira, emprego, oportunidades de formação ou desorganização familiar. Note-se que o modelo de família tem sofrido rápidas transformações revelando novas representações sociais e um campo fértil para as perturbações do foro mental. Apesar de recolhida a informação, de elaborados os dados e múltiplos estudos tem sido difícil implementar um plano consistente e articulado de educação para a saúde mental junto da população adolescente. Dados recentes de um estudo com 760 jovens adultos no âmbito da depressão e a ansiedade justificam a apresentação de um modelo de prevenção sob a forma de “Programa de Educação para a Saúde Mental”. P07 SWITCH: ESTUDO DE AVALIAÇÃO DO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO MAJOR EM DOENTES SEM RESPOSTA PRÉVIA Lucília Bravo Clínica Privada Introdução: A Depressão Major é uma das principais causas de incapacidade e absentismo laboral. Estudos de farmacoeconomia demonstraram vantagens a nível económico do tratamento com escitalopram face ao tratamento com outros SSRIs e com venlafaxina XR. Este estudo tem como objectivo avaliar a modificação para terapêutica com escitalopram, em condições de prática clínica corrente. Métodos: Estudo observacional, prospectivo de doentes medicados com um SSRI ou SNRI e que de acordo com a prática clínica alterem a terapêutica para escitalopram. Resultados: Foram incluídos 28 doentes com idade média de 53 anos (DP=10,3), dos quais metade eram mulheres. Grande parte dos doentes estava reformada por invalidez (52%), e apenas 22,2% estavam empregados. A maioria dos doentes estava a fazer tratamento com sertralina (n=10), venlafaxina (n=6) e fluoxetina (n=6), com uma duração média de 43 meses (DP=58,1). Na visita inicial todos os doentes alteraram tratamento para escitalopram, numa dose média de 19,6 mg (DP=7,4). A adesão à terapêutica foi total em 63,2% dos doentes (IC95%: 41,5; 84,9). Verificaram-se diferenças significativas entre a avaliação inicial e a visita 1 nas características do doente: grandes alterações do apetite; perturbações do sono; alterações psicomotoras; sentimento de culpa / inutilidade; pensamento sobre a morte / tentativa de suicídio, incapacidade de concentrar-se / tomar decisões / perda de memória. Também ao nível da escala de MADRS e da SF-36 foram verificadas diferenças significativas entre o valor observado na visita inicial e na visita 1. Cerca de 21% dos doentes teve resposta ao tratamento, sendo que quase metade entraram em remissão (47,4%). Conclusões: A maioria dos doentes mostrou melhorias significativas com dois meses de tratamento com escitalopram, através da escala MADRS, com expressivas taxas de resposta e de remissão. Tanto ao nível das características depressivas, como ao nível da qualidade de vida, avaliada pela SF36, as diferenças registadas foram igualmente significativas. P08 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL UMA PERSPECTIVA MULTIDISCIPLINAR, MULTISECTORIAL E DE TRABALHO EM REDE. A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Tiago Santos, João Redondo; Inês Pimentel; Henrique Vicente; Generosa Morais; Paula Miura Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental - Hospital Infante D. Pedro - Aveiro; Serviço de Violência Familiar - Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 Embora maioritariamente exercida sobre mulheres, a violência doméstica (VD) atinge também, directa e / ou indirectamente, crianças, idoso/a(s) e outras pessoas mais vulneráveis, como as portadoras de deficiência. Segundo o Relatório da OMS, sobre a Saúde no Mundo (2001), a prevalência da violência doméstica durante a vida situa-se entre 16% e 50% (OMS, 1997), sendo também comum a violência sexual (uma em cada cinco mulheres sofre estupro ou tentativa de estupro durante a sua vida). O facto de ser vítima de VD coloca a mulher em risco crescente de: depressão; suicídio / tentativas de suicídio; perturbações da ansiedade; problemáticas aditivas; síndromes de dor crónica; distúrbios psicossomáticos; lesões físicas; consequências diversas na saúde reprodutiva, etc. De registar que, segundo vários estudos, 40 a 70% das mulheres vítimas de assassinato, foram mortas pelos seus maridos ou namorados, habitualmente no contexto de um relacionamento de violência arrastada. Conforme também o demonstra a investigação, quanto mais severo é o grau de violência, maior é o impacto na saúde física e mental da mulher, parecendo ter um “efeito” cumulativo. Representando os Serviços de Saúde um espaço privilegiado para triar precocemente as situações de violência doméstica, avaliar do risco associado e implementar respostas adequadas no caso-a-caso, que estratégias adoptar? Tendo em conta a complexidade das raízes da violência e as suas múltiplas faces e máscaras, defende-se a importância de uma intervenção multidisciplinar, multissectorial e em rede que, a par com a protecção e apoio às vítimas e a intervenção junto dos agressores, promova uma cultura de não-violência. Visando ilustrar alguns dos aspectos deste quadro de referência estratégico, os autores apresentam um caso clínico associado a problemática de VD, seguido no Serviço de Violência Familiar do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra. P09 SÍNDROME DE BURNOUT: UMA REVISÃO DO CONCEITO Luís Martins Correia Hospital de Magalhães Lemos/Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Introdução: O stress ocupacional tem implicações profundas na saúde dos indivíduos. O desenvolvimento da síndrome de Burnout está associado às vivências de um indivíduo relacionadas com o seu trabalho. Objectivo: Explorar o conceito de Burnout numa perspectiva longitudinal, qual a sua organização e quais os processos implicados no seu desenvolvimento. Métodos: Revisão da literatura na Medline, Cochrane, Scopus e ISI Web of Knowledge. Resultados e Conclusão: A síndrome de Burnout surgiu como um conceito científico pela primeira vez por Freudenberger através de descrições de casos clínicos em indivíduos que trabalhavam numa clínica de desintoxicação. O conceito foi-se tornando progressivamente mais académico e com o surgimento do questionário Maslach Burnout Inventory (MBI) a investigação tornou-se essencialmente quantitativa. Actualmente, o conceito está alargado a profissões que não estão implicadas nos cuidados de saúde. São consideradas três dimensões sintomatológicas: exaustão emocional, ausência de realização profissional e despersonalização. Foram propostos vários modelos explicativos para a origem do burnout, dos quais se destacam os modelos demands-control, effort-reward e demands-resources. Diferentes estudos de prevalência em determinados grupos profissionais indicam valores pouco consistentes entre si e que parecem resultar da utilização de diferentes critérios. Existem classes profissionais (ex: classe médica) com taxas de suicídio mais elevadas em relação à população em geral. P010 ACONSELHAMENTO BREVE FOCAL NA DEPRESSÃO E AUTOAGRESSIVIDADE: ESTUDO DE CASO Olga Ferreira Centro Hospitalar Barreiro-Montijo, EPE Depressão e comportamentos suicidários constituem duas das principais preocupações da Organização Mundial de Saúde, aconselhando esta intervenção terapêutica tanto nos casos de depressão como nos casos de auto-agressividade detectados precocemente. Sessões de Posters / Posters Sessions Este trabalho tem como objectivo apresentar o modelo de aconselhamento breve focal enquanto intervenção terapêutica viável face à depressão, através do estudo de caso de uma mulher de 24 anos com problemática depressiva e história de comportamentos auto-agressivos. Pretende-se reflectir sobre a eficiência, utilidade e aplicabilidade deste modelo em contexto de serviço de saúde mental, num hospital geral do serviço nacional de saúde. A metodologia de estudo de caso foi complementada com a aplicação dos instrumentos: Symptom Checklist Revista (SCL-90-R); Beck Hopelessness Scale (BHS); Escala de Avaliação Global do Funcionamento (AGF). No caso em estudo observou-se uma evolução clínica favorável com melhorias significativas do funcionamento psicológico, social e ocupacional ao longo do processo de aconselhamento. P011 DEPRESSÃO E DOENÇA FÍSICA Inês Fernandes Hospital Distrital de Santarém Introdução: A depressão é um dos problemas clínicos mais comuns que ocorre nos cuidados de saúde primários, estando frequentemente associada à doença física. Objectivos: Com este trabalho pretendese evidenciar o facto da depressão e da doença física terem uma relação recíproca, discutindo-se qual a influência das experiências de adversidade precoce neste binómio. Pretende-se também expor qual o impacto da depressão no curso e no prognóstico de algumas doenças físicas crónicas. E por fim, pretende-se ainda demonstrar qual a importância do tratamento antidepressivo nas pessoas fisicamente doentes. Desenvolvimento: A prevalência da depressão é significativamente mais alta nos pacientes com doença física em todo o mundo. Aliás, verificou-se que as pessoas que durante a infância foram expostas a experiências psicossociais adversas têm um risco mais elevado de depressão e de doença física. Há vários mecanismos pelos quais a doença física pode provocar depressão nomeadamente por via da dor, da incapacidade ou de alterações na carga alostática. Por outro lado, a depressão pode originar doença física através do aumento das hormonas de stress, alterações do sistema nervoso autónomo ou alterações imunitárias. A depressão não só tem um impacto importante no curso e no prognóstico de algumas doenças físicas, mas também na adesão aos regimes terapêuticos e nos custos associados aos cuidados de saúde. Assim, o seu tratamento nas pessoas fisicamente doentes adquire extrema importância, devendo ser adequado à gravidade da doença depressiva. Conclusões: A relação da depressão com a doença física é bidireccional e complexa, intervindo factores de risco genéticos e sociais. Mas há ainda evidência crescente que sugere que um conjunto de mecanismos biológicos está subjacente a esta relação. Para além disso, há também evidência de que a depressão agrava consideravelmente o prognóstico médico, aumentando a morbilidade e, eventualmente, a mortalidade, pelo que deve ser sempre tratada. P012 DEPRESSÃO, GENÉTICA E EXERCÍCIO FÍSICO Jorge Mota Pereira, Serafim Carvalho; Jorge Silvério; Daniela Fonte; José Carlos Ribeiro; Andreia Pizarro; Joaquim Ramos Hospital de Magalhães Lemos e Universidade do Minho; Hospital de Magalhães Lemos; Universidade do Minho; Hospital de São João; Universidade do Porto A depressão é o distúrbio mental mais comum, afectando um grande número de indivíduos em Portugal e uma vasta população a nível mundial. Embora as causas sejam complexas e associadas a factores tanto ambientais como biológicos, começam a surgir algumas evidências de uma significante componente genética associada à depressão. Os polimorfismos genéticos em genes associados às vias bioquímicas de neurotransmissores, eg BDNF, 5-HT, TPH2 e VGF, entre outros, têm sido alvo de particular interesse mas, tal como na maioria das doenças multifactoriais, existem provavelmente vários genes envolvidos, e apenas indivíduos com certas combinações de polimorfismos apresentarão uma maior susceptibilidade para a de- 15 Sessões de Posters / Posters Sessions pressão. Por outro lado, os factores ambientais muito provavelmente influenciam o resultado das interacções genéticas e das interacções entre as diversas proteínas resultantes. O caso particular da influência do exercício físico na predisposição genética do indivíduo para a depressão tem suscitado particular interesse. Existem algumas evidências de que o exercício físico poderá ter efeitos positivos na depressão, e foi demonstrado que este poderá influenciar diferencialmente os indivíduos, consoante o seu perfil genético. Para além disso, o perfil genético parece ter também valor prognóstico relativamente aos efeitos na depressão, a médio e longo prazo, da prática de exercício físico regular. O estudo deste eixo depressão-perfil genético-exercício físico poderá levar à identificação e caracterização de novos genes de susceptibilidade e eventuais interacções ambientais, tais como o exercício, conduzindo à aplicação da farmacogenética e da ecogenética à depressão, como já acontece com outras patologias. Mais ainda, poderá conduzir a uma terapia individualizada, mais eficaz, e a uma prevenção primária atempada, especificamente desenhada para cada caso. P013 IMPACTE DA INTERVENÇÃO DE GRUPO NA DIMINUIÇÃO DA ANSIEDADE DE DOENTES COM DOENÇA CRÓNICA Dionísia Maria Venâncio, Maria Teresa Massano Hospital de santarém; Hospital de Santarém Este trabalho de investigação pretende avaliar em que medida este tipo de intervenção de enfermeiros Especialistas em Saúde Mental e Psiquiatria traz ganhos em saúde que sejam susceptíveis aos cuidados de enfermagem. Pretendemos com este estudo: 1) Conhecer o nível de ansiedade dos doentes que frequentam a Consulta da Dor (CD) (grupo 1) e Consulta de Cirurgia Vascular (CV) (grupo 2), do Hospital Distrital de Santarém; 2) Determinar o nível de ansiedade em doentes com doença crónica; 3) Determinar em que doentes a intervenção de grupo é mais eficaz na diminuição da ansiedade; 4) Avaliar o impacte de uma acção autónoma de enfermagem – intervenção em grupo onde incluímos a técnica de relaxamento por imagética. Assim procedemos à realização de um estudo de tipo, descritivo e correlacional, comparativo, quase experimental e longitudinal, com uma amostra de 22 doentes, em que 11 frequentavam a Consulta da Dor e 11 frequentavam a Consulta de Cirurgia Vascular do Hospital Distrital de Santarém. Como método de recolha de dados utilizou-se o questionário, dividido em duas partes: Na primeira parte é feita a caracterização sócio-demográfica do indivíduo em termos de Idade, Género Social, Escolaridade, Estado Civil; Na segunda parte utilizámos a escala de Ansiedade Estado-Traço, concebida por Spielberger (1970), para a obtenção da informação necessária à operacionalização das variáveis em estudo. É composta por duas escalas de autoavaliação que visam medir a ansiedade-estado e ansiedade-traço. P014 A SAÚDE MENTAL DOS ESTUDANTES DE MEDICINA: ESTUDO EXPLORATÓRIO NA UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Alice Roberto, Anabela Almeida Hospital Garcia de Orta; Universidade da Beira Interior Introdução: As faculdades de medicina são reconhecidas como ambientes stressantes que, com frequência, exercem um efeito negativo no bem-estar psicológico dos estudantes. Objectivos: Investigar a relação entre os níveis de saúde mental dos estudantes de medicina, nas suas vertentes positivas e negativas - bem-estar e distress psicológico respectivamente - e os anos de curso, consumo de substâncias psicoactivas e acompanhamento por profissional de saúde. Material e Métodos: Aplicação de um questionário anónimo ao universo de estudantes de medicina da Universidade da Beira Interior, construído para o efeito e composto por quatro secções: I) Dados sócio-demográficos, II) Inventário de Saúde Mental de Ribeiro, III) Consumo de substâncias psicoactivas e IV) Acompanhamento por profissional de saúde. Os resultados foram analisados no programa SPSS e consideraram-se significativos para p <0,05. Resultados: Parece existir uma relação directa entre os níveis de saúde mental e os anos 16 Saúde Mental Mental Health de curso. O sexo feminino, o 3º ano e o consumo de tranquilizantes apresentaram uma influência negativa, estatisticamente significativa, nos níveis de saúde mental. Cerca de 30% dos estudantes já procurou, pelo menos uma vez na vida, um profissional de saúde por sintomas relacionados com a saúde mental, 6% tem acompanhamento regular, 10% já se auto-medicou e 10% faz terapêutica farmacológica a longo prazo. A ideação suicida no último mês foi reportada por 10% dos estudantes. Discussão/Conclusão: É essencial determinar em que medida o currículo médico está a afectar a saúde mental dos estudantes, especialmente os do sexo feminino. Revela-se importante reconhecer os factores que favorecem o consumo de tranquilizantes e impedem a procura de ajuda profissional. Intervenções apropriadas de suporte e sistemas de referenciação devem ser desenvolvidas para os estudantes em risco, depois de devidamente identificados. P015 A UTILIZAÇÃO DE ANTIDEPRESSIVOS EM PORTUGAL: 1995-2009 Ricardo Gusmão, Susana Costa; Sónia Quintão Faculdade de Ciências Médicas - UNL Introdução: Tem sido salientado, por líderes de opinião médica, políticos e pelos media, o eventual consumo excessivo de antidepressivos por excesso de prescrição, pela procura utópica de uma ´´pílula da felicidade´´, ou pela pressão de interesses económicos. Todavia, para poder afirmar que a utilização é excessiva é mandatório estabelecer quais as necessidades de consumo que derivam da prevalência das patologias tratáveis. Em Portugal os estudos de utilização são escassos e relativos a curtos períodos temporais e nunca foram estimadas as necessidades de consumo. Objectivo: Descrever a evolução do consumo de antidepressivos em termos de custos e de estimativa de necessidades correspondidas, de modo a obter resposta à questão “Em Portugal, há excesso de consumo de antidepressivos?”. Método: Obtivemos dados brutos de número de unidades vendidas e despesa total, por ano, e por especialidade farmacêutica, dos quais derivámos, através da aplicação da classificação ATC (Anatomical Therapeutic Chemical) e da população anual estimada, duas novas variáveis: os DDD (daily drug dosage) por mil habitantes por dia (DHD), e o custo por DHD. Calculámos uma estimativa de DHD que deveriam ser consumidos para fazer face às necessidades estabelecidas no Censo de Morbilidade Psiquiátrica para o ano de 2009, sabendo que a cerca de 1% de prevalência tratável correspondem 10 DHD. Resultados: Globalmente, houve um aumento do número de unidades, despesa total, DHD e despesa por DHD nos últimos 15 anos. Todavia, a partir de 2002 verifica-se uma lentificação no crescimento, inclusive com crescimento negativo da despesa por DHD. Discussão: Os dados disponíveis do Censo de Morbilidade Psiquiátrica apontam para uma prevalência anual de perturbações mentais superior a 20% sendo a prevalência tratável 15,6% (patologias de gravidade severa ou moderada). As 156 DHD resultantes desta prevalência são uma estimativa conservadora das necessidades de antidepressivos em dose eficaz e monoterapia. P016 PSICOPATOLOGIA NUMA POPULAÇÃO DE ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR DE MÚSICA: ESTUDO PRELIMINAR Clemente M, Coimbra D; Gabriel J; Azevedo J; Leite S; Esteves M; Pinho JC Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto; Escola Superior de Musica e Artes do Espectáculo; Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto; FMUP; HSJ, EPE Introdução: A prática de uma actividade musical como profissão exige qualidades técnicas, físicas e psíquicas que determinaram a produtividade do músico e a sua performance musical. A análise termográfica, com a câmara termográfica, Flir® A 325, comprova, em termos anátomofisiológicos, a actividade dos diferentes grupos musculares dos instrumentistas de sopro e de cordas durante a sua actividade musical, pois requerem a integração de várias estruturas do complexo crânio-cervico-mandibular. Por vezes há um aumento Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 do tônus muscular decorrentes de certas actividades parafuncionais em que o músico está sujeito a elevados níveis de ansiedade. Objectivos: Com o objectivo de avaliar aqueles e outros sintomas psicopatológicos, foi estudada uma população de alunos da Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo. Materiais e Métodos: Foi utilizado uma entrevista estruturada para colheita dos principais dados sócio-demográficos e aplicado o Brief Symptom Inventory (BSI - L. R. Derogatis, 1993; Versão: M. C. Canavarro, 1995), para avaliação dos sintomas psicopatológicos. Resultados: A amostra foi constituída por 97 indivíduos, divididos por diferentes Cursos e Instrumentos. A mediana da idade foi de 20 anos. Foi encontrada uma prevalência de 18,6% de indivíduos com uma pontuação no Índice Geral de Sintomas (IGS) superior a 1,43, indicativa de um elevado grau de distress psicológico. O Curso de Música Clássica revelou índices significativamente superiores no IGS, em relação ao grupo de alunos do Curso de Jazz. Também aquele Curso engloba a larga maioria dos indivíduos com IGS considerado patológico. A relação familiar e com o professor revelaram ser indicadores importantes de distress psicológico. Conclusões: Este estudo alerta-nos para a elevada prevalência de distress psicológico nos alunos da Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo. A intervenção dos serviços de Psicologia e de Psiquiatria junto desta população é recomendável. São necessários mais estudos para identificar o grau de compromisso funcional associado ao distress psicológico encontrado. Os autores deste trabalho agradecem à FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia, projecto PTDC/EEA-ACR/75454/2006.) P017 SINAIS E SINTOMAS DE DISTÚRBIOS TEMPOROMANDIBULARES NUMA POPULAÇÃO DE DOENTES COM ANSIEDADE E DEPRESSÃO Clemente M, Magalhães D; Esteves M; Roma Torres A; Pinho JC Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto; Faculdade de Medicina Universidade do Porto; HSJ - EPE Introdução: É consensual que os Distúrbios Temporomandibulares (DTM) apresentem uma etiologia complexa e multifactorial, uma vez que numerosos factores podem contribuir para o seu aparecimento. Alguns autores referem que, perturbações psicológicas não resolvidas, como ansiedade e depressão podem estar associadas a um aumento da tensão muscular, o que pode contribuir para o aparecimento de DTM’s, ou agravar DTM’s pré-existentes. Outros mencionam que os factores psicológicos (ansiedade, depressão) podem ser consequência da dor associada aos DTM’s. Objectivo: Avaliar a prevalência de sinais e sintomas de DTM em doentes ansiosos e depressivos e compará-la com a encontrada na população em geral. Material e Métodos: Foram observados 25 doentes no serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital de São João, com diagnóstico de Depressão ou Perturbação de Ansiedade. Foram efectuados o preenchimento de uma ficha clínica e exames intra e extra orais, com o objectivo de pesquisar a dor à palpação muscular e da ATM, a limitação da cinemática mandibular e a pesquisa de ruídos articulares. A escala de Hamilton, para a ansiedade e depressão (HAM-A e HAM-D) foi usada para quantificar os níveis de ansiedade e/ou depressão do doente. Resultados e Conclusões: Todos os doentes com perturbações ansiosas e/ou depressivas observados, apresentaram pelo menos um sinal clínico de DTM´s, o que sugere que a prevalência destes sinais é mais elevada em doentes com estas perturbações psíquicas do que na população em geral, na qual se estima que apenas 50 a 60% apresente pelo menos um sinal clínico de DTM´s. Os dados sugeriram, também, que para valores de HAM-A ou HAM-D superiores a 20, existia uma maior frequência de sinais de DTM´s. Os factores psicológicos (ansiedade, depressão) podem predispor ou perpetuar a sintomatologia dos DTM´s, uma vez que os resultados sugeriram uma associação entre o estado psíquico e os sinais e sintomas de DTM´s. Supõe-se que os factores psicológicos podem contribuir para um aumento da prevalência de patologia relacionada com a ATM entre doentes com ansiedade ou depressão. Sessões de Posters / Posters Sessions P018 DEPRESSÃO E FIBROMIALGIA: ESTUDO COMPARATIVO DA PERSONALIDADE Manuela Matos, Cristina Miguel; Catarina Pereira Serviço de Psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra Os traços de personalidade desadaptativos são patogénicos. A sua associação à patologia depressiva e a quadros de apresentação somática enquadráveis no diagnóstico de fibromialgia, é hoje, inquestionável. O estudo comparativo da personalidade entre estas duas patologias poderá indicar traços predisponentes implicados em cada uma delas. Com este propósito estudou-se uma população de quarenta mulheres seguidas em consulta externa de psiquiatria: vinte com diagnóstico de fibromialgia e restantes com diagnóstico de perturbação depressiva major recorrente (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders IV). Neste sentido foi feita uma análise comparativa entre os traços implícitos nos cinco domínios da personalidade (Revised NEO Personality Inventor) e respectivas facetas, atinentes a cada um dos grupos de doentes estudados. P019 MUTISMO SELECTIVO: CASO CLÍNICO E REVISÃO DA LITERATURA Ricardo Coentre, Maria de Lurdes Candeias Serviço de Psiquiatria, Hospital de Santa Maria/Faculdade de Medicina de Lisboa; Clínica da Juventude, Área de Pedopsiquiatria, Hospital Dona Estefânia, Lisboa Introdução: O mutismo selectivo (MS) é uma doença da infância rara caracterizada pela redução da linguagem em meios onde falar é socialmente esperado. Os autores apresentam um caso clínico e fazem uma revisão da literatura sobre a etiologia, comorbilidades e tratamento desta infrequente patologia. Método: Caso clínico e revisão da literatura usando a PUBMED. Os parâmetros de busca foram “mutismo selectivo”, “diagnóstico” e “tratamento”. Resultados: Os autores descrevem o caso clínico de uma adolescente com 15 anos de idade com história de MS com vários anos de evolução. Após avaliação inicial foi medicada com fluoxetina 20mg/dia e fez psicoterapia individual. Apresentou boa evolução clínica com remissão significativa do quadro clínico. O MS tipicamente ocorre entre os 3 e 6 anos e é mais frequente no sexo feminino. A incapacidade para falar ocorre mesmo na ausência de alterações significativas na linguagem. Os doentes com MS podem não conseguir falar com os professores ou colegas na escola ou trabalho, mas podem conseguir falar fluentemente com os pais, namorado/a ou irmãos em casa. Segundo o DSM-IV-TR os critérios de diagnóstico incluem a incapacidade para falar numa situação particular e tem de estar presente durante pelo menos um mês. Entre as estratégias terapêuticas descritas incluem-se a terapia cognitivo-comportamental, terapia familiar e terapia psicodinâmica. Do ponto de vista farmacológico os SSRIs mostraram ser eficazes na redução da sintomatologia do MS. Conclusão: Como o MS é uma doença rara é ainda uma perturbação desafiante em relação à sua etiologia e tratamento. Recentemente tem sido associada com outras condições como a fobia social. Estudos aleatorizados e com maior número de doentes são necessários para estudo das estratégias terapêuticas mais adequadas. P020 ENSAIO DE UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE MENTAL EM ADOLESCENTES Raul Alberto Cordeiro Instituto Politécnico de Portalegre - Escola Superior de Saúde de Portalegre A população jovem é especialmente vulnerável a fenómenos como a exclusão social, em especial, na fase de transição da vida escolar para a vida laboral, com todas as implicações que daí podem advir para a capacidade de desenvolver um sentido de futuro. Em comparação com a população adulta, os jovens são um grupo de risco de doença mental pela vulnerabilidade a que estão sujeitos na sociedade actual, tais como preocupações de natureza financeira, emprego, oportunidades de formação ou desorganização familiar. Note-se que o modelo 17 Sessões de Posters / Posters Sessions de família tem sofrido rápidas transformações revelando novas representações sociais e um campo fértil para as perturbações do foro mental. Apesar de recolhida a informação, de elaborados os dados e múltiplos estudos tem sido difícil implementar um plano consistente e articulado de educação para a saúde mental junto da população adolescente. Dados recentes de um estudo com 760 jovens adultos no âmbito da depressão e a ansiedade justificam a apresentação de um modelo de prevenção sob a forma de “Programa de Educação para a Saúde Mental”. P021 CONSULTA DE PSIQUIATRIA DAS MIGRAÇÕES. SÍNDROME DE ULISSES - A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Telmo Coelho, Cátia Guerra, Márcia Mota, Clarisse Torres Serviço de Psiquiatria do Hospital de São João. Unidade do adulto e do idoso - Consulta de Psiquiatria das Migrações O Síndrome de Ulisses é um problema de saúde que pode surgir no contexto de uma experiência migratória. Deve-se à sensação de solidão, desespero e à luta pela sobrevivência a que estas pessoas estão sujeitas. Esta experiência causa níveis de stress intensos que ocasionalmente excedem a capacidade de adaptação do indivíduo, manifestando-se por sintomas do foro depressivo-ansioso e, por vezes, por alterações do comportamento. Apresentamos um caso de uma doente de nacionalidade guineense imigrante em Portugal que teve de lidar com várias adversidades: foi vitima de abusos e agressões frequentes por parte do companheiro; não falava a língua portuguesa, tendo muita dificuldade em arranjar trabalho; foi-lhe retirado o filho pela comissão de protecção de menores; vivia numa pensão com más condições de higiene e habitabilidade; não tinha qualquer tipo de suporte familiar e sentia-se socialmente desenraizada e desadaptada. Tinha tido uma experiência negativa prévia no contacto com os serviços sociais e de saúde, sentindo-se incompreendida. Nessa sequência, desenvolveu um quadro caracterizado por marcada desconfiança em relação ao meio envolvente, ideias auto-referenciais e de teor persecutório relacionadas com os acontecimentos de vida prévios. Estamos perante um caso em que existem múltiplos e crónicos factores de stress, tratando-se de uma situação extrema na qual a grande intensidade dos agentes stressores, a sensação de impotência face à situação e os sintomas originados dificultam a sobrevivência do imigrante. Portanto, numa sociedade cada vez mais multicultural, torna-se emergente que os profissionais de saúde estejam devidamente preparados para uma abordagem culturalmente sensível da população migrante. P022 LUTO PATOLÓGICO OU DEPRESSÃO? – OS OBSTÁCULOS NO DIAGNÓSTICO Filipa Araújo, Sara Oliveira; João Campos Mendes; Adriana Horta Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho Introdução: O luto patológico ocorre em aproximadamente 10% das pessoas que perderam um ente querido e resulta da incapacidade de transitar entre as fases do luto. Um dos factores mais significativos da sua vivência refere-se à forma como a morte ocorreu. No suicídio, o luto pode ser um processo especialmente complexo e traumático. Ao fim de um mês, 42% dos familiares apresentam sintomas de Episódio Depressivo Major (EDM). O risco de suicídio nos familiares das vítimas de suicídio é superior ao dos familiares enlutados por outras causas de morte (por exemplo doença). No Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders-IV-Text Revision (DSM-IV-TR), o luto constitui um critério de exclusão para o diagnóstico de EDM. No entanto, a validade empírica dessa exclusão não foi bem estabelecida e o International Classification of Diseases-10th edition (ICD-10) não o considera como critério de exclusão. Caso Clínico: Apresenta-se um caso de uma mulher de 51 anos, com sintomatologia depressiva após suicídio da sua filha. Por ter sido um acontecimento imprevisível, devido à ausência de nota de suicídio e patologia psiquiátrica previamente diagnosticada, a busca incessante das causas daquele acto atormentam o seu dia-a-dia e impedem a aceitação da morte. 18 Saúde Mental Mental Health De acordo com o DSM-IV-TR, a doente não preenche os critérios para EDM. Conclusão: O luto patológico tende a ser crónico e está associado a significativo sofrimento, incapacidade e consequências negativas para a saúde devido ao elevado risco de comorbilidades médicas e psiquiátricas. O não reconhecimento e tratamento do EDM nestes doentes contribui para um aumento da morbilidade. As diferenças de classificação entre o DSM-IV e ICD-10 podem conduzir a erros diagnósticos e consequente sub/sobrevalorização dos sintomas depressivos. No DSM-V, ainda em planeamento, foi proposto a não exclusão do luto como critério de EDM pois a evidência não suporta a sua separação dos outros stressores vivenciais. P023 DEPRESSÃO NO CANCRO DA MAMA - ABORDAGEM AO DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA Raquel Santos Pereira, Rosa Grangeia Hospital de São João, EPE O cancro da mama é a malignidade feminina mais comum, e a 2ª causa de morte oncológica nas mulheres, ultrapassada apenas pelo cancro do pulmão. A mama tem um papel fulcral quer em termos emocionais quer sexuais, como uma característica de atractividade para a própria e para os outros, com elevado impacto na autoestima. A maior parte dos tratamentos oncológicos que lhe são específicos podem acarretar alteração significativa da imagem corporal - perda do peito, necessidade de adaptação a prótese, presença de cicatrizes, assimetrias, necessidade de reconstrução (provocadas pela cirurgia), alterações sensitivas cutâneas (radioterapia, RT) alopécia (quimioterapia, QT), bem como desregulação ovárica persistente e aumento de peso (QT e HT). Todos estes factores, bem como outros neuroendócrinos, neuroimunológicos, e os efeitos dos tratamentos na fertilidade, sexualidade e problemas de saúde decorrentes da menopausa (como osteoporose e doença cardiovascular), concorrem para a depressão clinicamente significativa, presente em cerca de 10 a 25% das doentes, muitas vezes subdiagnosticada e não eficazmente tratada, taxa apenas ultrapassada pelos cancros do pâncreas e orofaringe. Estas doentes vão beneficiar de tratamento farmacológico, psicoterapêutico ou combinação de ambos. Apesar de a medicação anti-depressiva ser já amplamente utilizada nesta população, existe grande variabilidade quanto ao tipo e dose necessários. Vários estudos atestam a eficácia dos fármacos anti-depressivos no cancro da mama, estando ainda preconizado o uso de psico-estimulantes (como metilfenidato,) em doentes terminais que necessitem de resposta clínica rápida. Outro ponto de particular interesse são as interacções medicamentosas entre psicofármacos e quimioterápicos ou moduladores dos receptores dos estrogénios (SERM´s). Os autores pretendem fazer uma abordagem ao diagnóstico e terapêutica da depressão, bem como a sua influência na Qualidade de Vida (QoL), no particular subgrupo de mulheres com cancro da mama. Esquizofrenia P024 SÍNDROME DE CAPGRAS: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Emanuel Filipe Santos, Carina Mendonça; Victor Sainhas Oliveira; Carlos Leitão CHCBEIRA A temática do duplo tem-nos acompanhado desde a antiguidade, estando bem patente na Mitologia Grega. Entre os síndromes fascinantes que se enquadram nesta temática temos o Síndrome de Capgras, que se insere a nível psicopatológico nas perturbações de identificação delirante. Este, descreve um delírio, em que o paciente, acredita que, uma ou mais pessoas com as quais tem uma ligação afectiva, foram substituídas por um duplo muito semelhante. Primeiramente descrito entre doentes com esquizofrenia e doença esquizoafectiva, cada vez mais se tem documentado a sua existência em perturbações cerebrais orgânicas como a Demência de Alzheimer, Acidente Vascular Cerebral, e Epilepsia. Neste trabalho, a par de uma Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 breve revisão bibliográfica do tema, descrevemos o caso clínico de uma jovem psicóloga com história familiar de esquizofrenia, que após ruptura afectiva conturbada, desenvolve um quadro clínico alucinatório-delirante, em que o delírio de Capgras é predominante. P025 AVALIAÇÃO DO SELF-STIGMA EM FAMILIARES DE PESSOAS COM ESQUIZOFRENIA Pedras, M.T., Fitas, M.J.; Santos, I.A.; Silva, A.A. Hospital S. Francisco Xavier - Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE A associação com pessoas marcadas pelo estigma provoca um impacto negativo nos familiares do doente mental (Goffman, 1963), nomeadamente prejuízos e discriminação (Corrigan & Miller, 2004). Corrigan & Watson (2002) desenvolveram um método de avaliação do self-stigma dos doentes mentais em que se postula que o self-stigma resulta da consciência, partilha e aceitação dos estereótipos e imagens negativas do público em geral relativamente à doença mental (Corrigan et al., 2006). Se os familiares de pessoas com doença mental sofrem o estigma experimentado por estas (Corrigan & Miller, 2004) e se o doente mental sofre de self-stigma, é possível que os familiares do doente mental possam também sofrer de self-stigma e que igualmente sofram de baixa autoestima e auto-eficácia. Com autorização do autor, utilizou-se uma adaptação da ‘Self-Stigma of Mental Illness Scale’ (SSMIS) de Corrigan P. et al (2006) que compreende 40 questões divididas em quatro secções que avaliam sequencialmente as componentes do self-stigma (consciência, aceitação e interiorização do estigma social e os prejuízos do self-stigma). Cada secção é constituída por 10 afirmações sobre as quais os 30 familiares participantes no estudo manifestaram a sua concordância/discordância recorrendo a uma escala de Likert em que 1= Discordo totalmente e 9 = Estou totalmente de acordo. O ponto médio é 5, valor acima do qual existe moderado ou alto self-stigma e abaixo do qual o self-stigma é baixo ou nulo (Corrigan, 2008). O tempo de preenchimento do questionário rondou os 30 minutos, não havendo ainda resultados disponíveis. P026 FOLIE A DEUX - CASO CLÍNICO Joana Teixeira, Teresa Mota Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa A folie a deux, perturbação psicótica partilhada (DSM IV) ou perturbação delirante induzida (CID 10) é uma doença mental rara que há muito desperta o interesse clínico. Foi descrita pela primeira vez em França no século XIX como sendo a presença do mesmo sintoma psiquiátrico, geralmente delírio persecutório, em dois indivíduos em relação próxima. Desde a sua primeira descrição clínica, vários subtipos da doença foram descritos. Actualmente ainda é uma patologia clinicamente interessante para tentar compreender a etiologia das psicoses, havendo ainda poucos dados sobre a patofisiologia e os seus mecanismos. Apresentamos o caso clínico de folie a deux de uma mãe e uma filha, sendo a primeira a induzida e última a indutora. S.A.C.J, sexo feminino, 33 anos, solteira, assistente administrativa, residente em Loures, enviada a consulta de Psiquiatria pelo Médico de Família por dificuldades laborais desde há dois meses por inicio de quadro psicótico. A doente indutora apresenta desde Novembro de 2009 ideias delirantes de conteúdo persecutório bem estruturadas, autorelacionação e autoreferência delirantes, alucinações acústico-verbais, olfactivas, cenestésicas, roubo, difusão e inserção de pensamento. A indutora apresenta um quadro clínico compatível com o diagnóstico de Esquizofrenia. A mãe (induzida) partilha as ideias delirantes de conteúdo persecutório e refere também alucinações acústico-verbais, olfactivas e cenestésicas, mas de intensidade mais moderada. A doente reside actualmente em casa da mãe para a qual se mudou após o início dos sintomas (moravam ambas sozinhas mas eram vizinhas da frente). A folie a deux é uma doença rara que apresenta a particularidade de que quando presente deve ser bem analisada para aprofundar o seu conhecimento. A semelhança de outras patologias que envolvem quadros delirantes, esta patologia representa um desafio na orientação clínica e terapêutica para controlo dos sintomas. Sessões de Posters / Posters Sessions P027 ANÁLISE COMPARATIVA DA QUALIDADE DE VIDA E DA PERCEPÇÃO DO ESTADO DE SAÚDE NA DOENÇA MENTAL Paula Carneiro e Pedro Varandas, Alda Ramos, Anabela Carvalho, Catarina Vidigal, Pedro Freitas e Telma Canário Casa de Saúde da Idanha Resumo: A Casa de Saúde da Idanha apresenta respostas assistenciais diversas, dirigidas às diferentes necessidades da população com doença mental. A avaliação da qualidade de vida e da percepção do estado de saúde dos sujeitos integrados em diferentes estruturas, poderá fornecer indicadores importantes para reflexão e melhor adequação dos cuidados. O presente estudo pretende avaliar sujeitos com doença mental grave (Diagnóstico de Esquizofrenia e Perturbação Bipolar), do sexo feminino, estáveis clinicamente, com tempo de internamento igual ou superior a 1 ano, numa amostra de 60 sujeitos que contempla três tipologias assistenciais: Unidade de Internamento (Apoio Máximo) - 26 utentes; Unidade Residencial (Apoio Moderado / Máximo) - 15 utentes; Apartamentos na Comunidade (Apoio Reduzido / Moderado) - 19 utentes. Os 3 grupos da amostra foram avaliados para análise comparativa face à qualidade de vida (tradução e aferição para população portuguesa da Escala de Qualidade de Vida por Caldas de Almeida, J.M. e Xavier, M., 1995) e percepção do estado de saúde (tradução e validação portuguesa do Medical Outcomes Study 36 - SF-36, Ciconelli, R.M., 1997). Foram também avaliadas, para controlo das condições experimentais, a existência ou não de defeito cognitivo (MMS - adaptação portuguesa Guerreiro,M., 1993) e o estado psicopatológico (B.P.R.S.- Elkis, Helio; Henna Neto, Jorge; Alves, Tania Maria; Eizenman, Isidoro Boris; Oliveira, Jose Roberto Campos de; Melo, Marcelo Feijó, 1998 ). Serão apresentados resultados e conclusões da análise comparativa da qualidade de vida e da percepção do estado de saúde nas diferentes tipologias assistenciais/residenciais. Serão ainda apresentados outros resultados que, pela sua relevância, demonstrem correlações interessantes entre as variáveis envolvidas. P028 ESQUIZOFRENIA E COMPORTAMENTO SUICIDÁRIO Vasco Nogueira, José Valente; Maria João Soares; Ana Telma Pereira; Berta Maia; Mariana Marques; Ana Allen Gomes; António Macedo; Maria Helena Azevedo Instituto de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina de Coimbra; Departamento de Ciências da Educação da Universidade Aveiro Introdução: A Esquizofrenia é uma doença mental grave, comum, muito incapacitante e associada a elevada morbilidade/mortalidade (Azevedo et al., 2010); uma percentagem significativa de mortes prematuras ocorre por suicídio e até 50% dos doentes tentam o suicídio (Meltzer, 2003). Objectivo: Identificar variáveis clínicas e sócio-demográficas associadas a comportamentos suicidários na Esquizofrenia. Métodos: A amostra inclui 508 doentes diagnosticados com Esquizofrenia (ICD-10, pela DIGS/OPCRIT). As variáveis do estudo foram seleccionadas da DIGS e OPCRIT. Resultados: O comportamento suicidário ocorre em 21.8% dos doentes; o método mais utilizado é a intoxicação medicamentosa voluntária; é mais frequente em mulheres e quando não existem alterações formais do pensamento, embotamento afectivo e restrição afectiva. Conclusão: Este estudo permitiu identificar variáveis clínicas e demográficas que podem orientar o clínico na identificação de um perfil suicidário entre os seus doentes com Esquizofrenia e, consequentemente, optimizar a implementação de estratégias de intervenção precoce na prevenção do suicídio. P029 DA DICOTOMIA KRAEPELIANA À ACTUALIDADE - A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Maria Miguel Brenha, Filipa Sá Carneiro; Pedro Teixeira; Isabel Saavedra Hospital Magalhães Lemos; Centro Hospitalar do Porto; CHMA - Centro Hospitalar do Médio Ave Introdução: O percurso até à definição actual de Perturbação Psicó- 19 Sessões de Posters / Posters Sessions tica Breve (DSM IV) tem sido longo e rico. Desde o fim do séc. XIX que psiquiatras, em diversos pontos do mundo, se têm dedicado ao estudo e definição de quadros psicóticos agudos e transitórios, com bom prognóstico e que pareciam não se integrar nas duas grandes entidades definidas por Kraepelin - Psicose Maníaco - Depressiva e Demência praecox. Marcos importantes neste percurso são os conceitos de bouffée délirante, psicose ciclóide ou os critérios descritos no DSM-III. Apesar de terem surgido com o intuito de descrever quadros semelhantes, não se verifica uma sobreposição plena entre o conceito actual e os seus antecessores clássicos. Assim sendo, não são raros os casos em que há a necessidade de recorrer a estes últimos, sobretudo em quadros ricos e floridos nos quais o conceito actual, apesar de cabal, se mostra redutor. Objectivo: Submeter um mesmo caso clínico a diversos sistemas classificativos segundo uma perspectiva histórica tendo em vista a maior preservação das especificidades do quadro, nomeadamente a sintomatologia florida e sua recorrência. Material e Métodos: Apresentação de caso clínico, revisão da literatura, revisão de conceitos, sistemas classificativos e seus critérios de diagnóstico. Conclusão: Apesar de temporalmente os conceitos se terem sucedido, renovado e até recriado, dadas as suas especificidades para além das semelhanças, todos têm ainda hoje lugar no vasto território das psicoses agudas e transitórias. Assim se justifica, com base na complementaridade, a necessidade de cruzar o clássico com o actual tendo em vista a preservação da riqueza e complexidade dos quadros clínicos. P030 PSICOSE EPILÉPTICA VS. PSICOSE ESQUIZOFRÉNICA Luís Fonseca, Isabel Milheiro; Joaquim Duarte Hospital de Braga Introdução: A associação entre a epilepsia e a psicose esquizofrenia é estudada desde o século XIX. No entanto, muitos aspectos desta associação permanecem desconhecidos e controversos. Caso clínico: Mulher de 38 anos de idade, com antecedentes de epilepsia de grande mal desde os 16 anos, sem crises desde 1996. Recorreu ao SU em Março de 2010 por alucinações auditivas na forma de vozes, memórias delirantes e delírio paranóide persecutório e místico, com evolução de 6 meses, iniciado após interrupção da sua medicação antiepiléptica habitual. Sem crises convulsivas desde a interrupção da medicação. Internada e medicada com risperidona 4 mg / dia. Realizou EEG, RM cerebral e estudo analítico, sem alterações. Teve alta após 21 dias, assintomática. No dia da alta, fez crise tónico-clónica generalizada, tendo sido internada em Neurologia. O EEG revelou disfunção regional fronto-temporal esquerda. Foi medicada com valproato de sódio 1000 mg / dia e paliperidona 6 mg / dia, com remissão sintomática total da sintomatologia psicótica. Na consulta externa, procedeu-se à redução progressiva da paliperidona até à sua suspensão, sem recidiva do quadro psicótico. Discussão: Parecem existir mecanismos que apontam para uma associação entre a epilepsia e a psicose semelhante à esquizofrenia (schizophrenia-like). É provável que alterações estruturais cerebrais possam originar epilepsia e psicose, e que as convulsões modifiquem a apresentação da psicose, e vice-versa. Desta forma pode ser difícil diferenciar com clareza se os sintomas psiquiátricos resultam da mesma doença ou não. P031 VERSÃO PORTUGUESA DA ESCALA PSP: FIABILIDADE E VALIDADE EM DOENTES COM ESQUIZOFRENIA Sofia Brissos, Filipa Palhavã; João Gama Marques; Susana Mexia; Ana Lisa Carmo; Manuel Carvalho; Cátia Dias; João Data Franco; Rita Mendes; Pedro Zuzarte; Ana Isabel Carita; Maria Luisa Figueira Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, Lisboa; Janssen-Cilag Farmacêutica, Queluz; Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, Lisboa; Serviço de Psiquiatria, Hospital Universitário de Santa Maria, Lisboa; Hospital de Santa Maria, Lisboa; Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa; Serviço de Psiquiatria, Hospital Universitário de Santa Maria, Lisboa; Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Lisboa Os défices no funcionamento social são uma característica nuclear 20 Saúde Mental Mental Health da esquizofrenia. A escala de Desempenho Pessoal e Social (Personal and Social Performance – PSP) é um intrumento fiável e válido que utiliza parâmetros objectivos para avaliar o funcionamento social de doentes com esquizofrenia. Cento e quatro doentes com esquizofrenia, hospitalizados e em ambulatório, foram avaliados utilizando medidas sintomáticas e de funcionamento social. A consistência interna da PSP foi satisfatória, com um coeficiente Cronbach’s alpha de 0.789. A fiabilidade inter-cotador nos quatro dominios da PSP variou de 0.430 a 0.954. A validade convergente, usando correlações com a GAF, revelou correlações positivas muito fortes em todos os dominios da PSP, excepto para o comportamento agressivo e perturbador (r = 0.357). Correlações negativas significativas foram encontradas entre a CGI-S e as pontuações na PSP em todos os domínios (variando de -0.334 a -0.708), e entre a PSP e a PANSS (variando entre -0.266 e -0.738). Os doentes com baixo-funcionamento (PSP<70) eram mais velhos, com maior duração da doença e apresentavam mais sintomas, comparativamente aos doentes de elevadofuncionamento (PSP70). O presente estudo confirma a fiabilidade e validade da versão de lingua Portuguesa da PSP, e da medida original, para a avaliação do funcionamento social em doente com esquizofrenia, quer em regime de internamento, quer em regime ambulatório. P032 BENEFÍCIO DA TERAPIA OCUPACIONAL EM DOENTE ESQUIZOFRÉNICO COM INTERNAMENTO PROLONGADO - CASO CLÍNICO Jose Nuno Macedo Campeão Hospital Magalhães Lemos Trata-se de um doente de 39 anos sem antecedentes familiares de doença psiquiátrica conhecidos. Doente sem antecedentes pessoais de doença psiquiátrica até aos seus 21 anos, quando apresentou alterações de comportamento, com actividade delirante de teor persecutório. Nesse episódio foi medicado por psiquiatra (realizou tratamento durante 6 meses). Tendo revertido os sintomas terminou o curso e durante 7 anos teve uma carreira profissional de sucesso. Aos 32 anos (em 2003), após morte do pai começa a isolar-se socialmente, tem alterações do padrão e ciclo do sono, e são registados comportamentos de heteroagressividade face aos familiares próximos, sendo internado e pela primeira vez diagnosticado como sendo um caso de esquizofrenia. Contudo, por dificuldade de estabilização clínica, mantém desde 2004 vários internamentos que se estendem no tempo, mas que não têm grande sucesso na melhoria clínica. No último internamento (que se iniciou em Agosto de 2009) o doente teve uma progressiva estabilização de sintomas que foi posterior ao ingresso deste, na terapia ocupacional (piscina, actividade física, futebol) e a uma otimização terapeutica, tendo sido possível há cerca de 2 meses, dar alta a este doente que se tem mantido estável desde então com seguimento em consulta externa e serviço de reabilitação (terapia ocupacional). P033 A ESQUIZOFRENIA DE BLEULER Raquel Pedrosa, Mário Viana Hospital de São João Eugen Bleuler nasceu em 1857 em Zollikon, na Suiça. Estudou medicina em Zurique e mais tarde em Paris, Londres e Munique. Em 1886 foi nomeado Director Clínico do Hospital Psiquiátrico de Rheinau, vivia na própria Instituição, contactando com os doentes diariamente. Acaba por regressar a Burghölzli em 1898 para assumir o cargo de Director. O conceito de Esquizofrenia (raízes gregas schizein “dividir” e phren “mente”) foi proposto por Bleuler em 1908 e publicado no seu livro em 1911 Demência Praecox oder Gruppe der Schizophrenien. O que Bleuler denominava esquizofrenias, não era bem um conceito por oposição ao de Demência Precoce, proposto por Kraepelin. O conceito proposto por Bleuler é mais abrangente, englobando formas que não evoluíam para uma demência, e outras em que o aparecimento da doença era mais tardio. Neste trabalho os autores procuraram revisitar Eugen Bleuler para lá da mnemónica dos 4 A’s: perda de Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 Associações, embotamento Afectivo, Autismo e Ambivalência. Para além de dois conceitos fundamentais que Bleuler introduz: o autismo, que representa a perda de contacto com a realidade, frequentemente através da submersão na fantasia bizarra e ambivalência, que traduz a coexistência de contradições mutuamente exclusivas. Bleuler propõe uma teoria, na qual os sintomas primário são a expressão de uma alteração cerebral subjacente e os secundários representam uma reacção ao processo. Descreve, então, um grupo de doenças, cujo ponto em comum seria uma cisão das funções psíquicas. Haveria primariamente uma perturbação orgânica que seria a responsável pelos sintomas primários, fundamentalmente uma perturbação das associações. Os sintomas secundários emergiam como a resposta do doente ao processo mórbido, enquanto consequência da perda das associações. Na visão dos autores, o desafio actual passa por re-associar o passado ao presente, isto é trazer a história da esquizofrenia para as investigações actuais na tentativa de uma melhor compreensão do processo. P034 DELÍRIO SENSITIVO DE KRESTCHMER: UM CASO CLÍNICO Nuno Cunha, João Alcafache; Sofia Caetano; José Almeida Hospital São Teotónio EPE; Hospital Infante D. Pedro EPE Krestchmer, através da publicação do seu livro Der Sensitive Beziehungswahn (Delírio Sensitivo de Referência) em 1918, tentou “explicar” a emergência de quadros psicóticos paranóides, como um desenvolvimento compreensível em personalidades sensíveis. Estas personalidades seriam caracterizadas por timidez, retracção social, sentimentos de baixa auto-estima e vulnerabilidade a criticas externas, capazes de desencadear no sujeito constantes lutas internas. Muitas vezes, essa sensibilidade é focada numa carência psicológica, social ou física, tida como um obstáculo no reconhecimento das metas e objectivos de vida alcançados. Assim, após anos de luta interna, e, geralmente após uma experiência de vida stressante, o paciente inicia um quadro de maior luta interna e, com o resto do grupo, exacerbando-se desta maneira os sentimentos de menosprezo, rejeição e autodepreciação acompanhados de altos níveis de ansiedade e um humor depressivo. Em quadros mais graves surge uma psicose paranóide florida, primeiro com a convicção de que estão a ser observados, depois com a convicção de serem moralmente excluídos pelos seus pares atingindo uma proporção delirante. Tipicamente, os delírios são descritos como tendo temática auto-referente, persecutória e de perda e, fenomenologicamente, são um desenvolvimento. Os autores abordam este tema recorrendo á descrição de um caso clínico de um adulto jovem, que padece de uma doença dermatológica - eczema atópico - que, com base nos seus “defeitos” físicos desenvolve um delírio auto-referente acompanhado de ansiedade e humor deprimido, compatíveis com um delírio sensitivo de Krestchmer. P035 CLOZAPINA, MIOCLONIAS E CRISES EPILÉPTICAS: 3 CASOS CLÍNICOS E REVISÃO DA LITERATURA Raquel Correia, Susana Fonseca; João Massano; Rosário Curral Hospital S. João A clozapina é um antipsicótico que confere benefícios clínicos significativos na esquizofrenia refractária. Um dos efeitos laterais descritos é a ocorrência de mioclonias e crises epilépticas, efeitos que parecem estar relacionados com a dose. As crises epilépticas tónico-clónicas são o tipo mais frequentemente induzido pela clozapina. Os autores descrevem 3 casos de pacientes com esquizofrenia resistente, em tratamento com clozapina que desenvolveram mioclonias e crises epilépticas. Primeiro caso: mulher de 53 anos, com Esquizofrenia Paranóide, medicada com clozapina 250mg/dia e fluoxetina 40 mg/ dia, com melhoria clínica. Iniciou movimentos rápidos involuntários da face, tronco e membros, com dificuldades na fala, quedas ocasionais, sem alteração do estado de consciência. Ao exame neurológico apresentava mioclonias de acção multifocais de predomínio facial, activadas sobretudo com o discurso e gaguez. O EEG mostrou abundantes descargas epileptiformes generalizadas e multifocais. Com Sessões de Posters / Posters Sessions suspensão da fluoxetina, redução da clozapina e início de valproato de sódio (VPA) houve resolução das mioclonias, melhoria do traçado de EEG e agravamento da actividade alucinatória-delirante. A clozapina foi suspensa e introduziram-se haloperidol e quetiapina com melhoria clínica; o VPA foi suspenso. Segundo caso: mulher de 24 anos, com Esquizofrenia Hebefrénica em tratamento com clozapina (800mg/dia) e clomipramina (100mg/dia). Teve uma crise epiléptica generalizada auto-limitada. Apresentava mioclonias negativas distais nos membros superiores. A medicação foi reduzida (clozapina 500mg/dia, clomipramina 75mg/dia) e introduzido o VPA. Este ajuste permitiu a estabilização psicopatológica, sem recorrência de crises epilépticas e melhoria das mioclonias. Terceiro caso: mulher de 57 anos, com Esquizofrenia Paranóide, medicada com Haloperidol decanoato 150mg (21/21dias), clozapina 300mg/dia. Apresenta mioclonias positivas dos membros superiores, sem outras repercussões clínicas, pelo que mantém a terapêutica. Será feita uma revisão da literatura sobre mioclonias e crises epilépticas em doentes tratados com clozapina, as suas implicações clínicas e terapêuticas. P036 ALUCINAÇÕES MUSICAIS E ESQUIZOFRENIA: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Klut, C., Xavier, S.; Graça, J.; Ferreira, B.; Borja-Santos, N.; Vieira, C.; Ramos, J.; Ribeiro, J.; Neto, A.; Martins, M.; Cardoso, G. Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca As alucinações musicais podem ser descritas como um tipo de alucinações auditivas complexas, caracterizadas pela percepção de sons musicais. Consistem em melodias instrumentais ou cantadas e são frequentemente familiares ao doente. Estas alterações da percepção podem também ocorrer sob a forma de pseudo-alucinações. Trata-se de um fenómeno raro, etiologicamente heterogéneo, principalmente associado a hipoacúsia, toxicidade por fármacos ou drogas, lesões cerebrais estruturais, epilepsia e patologia psiquiátrica, nomeadamente perturbação obsessivo-compulsiva, perturbação afectiva e esquizofrenia. Descreveremos o caso dum doente de 44 anos, músico de profissão, actualmente reformado, com o diagnóstico de esquizofrenia (segundo os critérios da DSM-IV-TR) que apresentava pseudo-alucinações musicais e, como co-morbilidade, hipoacúsia. A propósito deste caso clínico, faremos uma revisão sobre o tema. P037 NOVO MOTOR DE BUSCA: SARDINHEIRAS Mara Marques, Mariza Azevedo; Catarina Soares Clínica Cidade de Lisboa, CHPL/Sector C Em 2008, as mudanças estruturais no HJM - actualmente CHPL determinaram a centralização da intervenção para os doentes das freguesias de Lisboa Oriental, o que corresponde a cerca de 100 mil habiantes, num Núcleo de Intervenção Comunitária, sito nas instalações de um pavilhão do HJM. Mediante o levantamento das necessidades dos doentes com quadros psicóticos, com elevado risco de recaída e (re)internamento, e os recursos técnicos e humanos disponíveis, criou-se um espaço para a aquisição de competências básicas, com vista à prevenção de recaídas e melhoria da qualidade de vida dos doentes. As actividades desenvolvidas correspondem a duas áreas de interesse dos doentes – nomeadamente a jardinagem e actividades de treino de expressão - onde se associaram aspectos lúdicos, culturais, de protecção do ambiente, cidadania e desenvolvimento saudável, de responsabilização e planeamento de tarefas, treino para a liderança e promoção da empatia, entre-ajuda, num interface permanente entre os planos do concreto e do abstracto, que é como quem diz, numa interpenetração entre as realidades interna e externa. As autoras, descrevem a abordagem multidisciplinar, que, a par do tratamento psicofarmacológicos, permitiu uma melhor adesão ao tratamento e uma mais eficaz integração familiar, social e profissional. Foram integrados 16 doentes em duas actividades de grupo por semana; um ano depois, 11 desses doentes estavam social /familiar/ profissionalmente integrados. As autoras consideram que, actividades estruturadas, que vão de encontro aos interesses 21 Sessões de Posters / Posters Sessions dos doentes e sejam realizadas em estruturas intermédias, são de particular relevância para a inversão do processo de cronicização do doente mental. P038 “COMI OS MEUS MIOLOS PARA MATAR A BICHA” - QUANDO O DELÍRIO DE INFESTAÇÃO ENCONTRA O DE NEGAÇÃO: UM CASO CLÍNICO Catarina Pereira, Cristina Miguel; Sandra Gomes Pereira; Manuela Matos; Adelaide Craveiro Serviço de Psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra O delírio de infestação é uma síndrome relativamente rara. Afecta predominantemente o sexo feminino com maior prevalência após a menopausa. Pode apresentar-se como primário constituindo uma perturbação delirante do tipo somático ou surgir em associação com outros transtornos psiquiátricos ou orgânicos. O delírio de negação primeiramente descrito por Jules Cotard na melancolia agitada, associase tradicionalmente a transtornos afectivos. Nos últimos anos vários autores têm reportado casos da Síndrome de Cotard em associação com vários transtornos psiquiátricos e orgânicos defendendo a sua inespecificidade. Os autores propõem-se a apresentar um caso clínico de características ímpares, de uma mulher de 64 anos, com delírio de infestação por objectos estranhos na cavidade oral (brocas, arames, parafusos) com vários anos de evolução. Concomitantemente desenvolve um delírio de infestação por vermes em órgãos envolvendo vários sistemas (digestivo, respiratório e SNC) com sobreposição de características de delírio de negação de órgãos. O curso natural da doença, as suas características clínicas e abordagens terapêuticas são descritas, enfatizando as dificuldades diagnósticas inerentes à complexidade dos sintomas. P039 A PROPÓSITO DA PARTILHA DE COMPETÊNCIAS NA UNIDADE DE REABILITAÇÃO DO CINTRA Cláudia Catalão, Carla Coutinho; Cláudia Batista; Cristina Pablo; Elisabete Frade; Sandra Moura; Teresa Oliveira; Vasco Inglez Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Esta comunicação apresenta uma reflexão sobre a partilha de competências na Unidade de Reabilitação do CINTRA - Centro Integrado de Tratamento e Reabilitação em Ambulatório - Equipa de Saúde Mental de Sintra do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (CHPL). Baseando-nos empiricamente na nossa experiência e à luz dos últimos consensos na área da saúde mental, parece-nos relevante a ideia de tangibilidade que as diferentes intervenções profissionais requerem cada vez mais. A articulação entre as várias especialidades, bem como a especificidade de cada técnica pretende-se partilhada de modo a que a visão do indivíduo seja holística e global. Assim, partindo duma visão integrada dos diversos profissionais envolvidos neste projecto, propomos uma reflexão sobre as competências partilhadas como um meio que permite a realização de novas experiências mas, sobretudo, intervenções reabilitativas mais ricas, diversificadas e adequadas a cada caso clínico. P040 DELÍRIO DE GRAVIDEZ Nelson Oliveira, Abigail Ribeiro; Catarina Fonseca; Joana Jorge; Manuela Araújo; Fátima Magalhães Hospital de Magalhães Lemos; Centro Hospitalar do Porto O Delírio de Gravidez (DG) é um sintoma relativamente raro, existindo poucos casos descritos na literatura. Pode ser definido como uma falsa crença (delirante), em que o sujeito acometido acredita estar a vivenciar uma gestação, apesar da ausência de evidências clínicas concordantes. O DG surge como um sintoma psicótico inespecífico, atingindo ambos os sexos e podendo estar associado a diversas patologias como a Esquizofrenia, a Psicose Esquizoafectiva, a Perturbação Delirante, a Depressão, a Mania e a Demência. No presente trabalho, e utilizando a título de exemplo um estudo de caso, pretende-se fazer uma revisão bibliográfica deste tema, tendo em particular atenção as dificuldades no diagnóstico diferencial e na abordagem terapêutica. 22 Saúde Mental Mental Health P041 O PAPEL DO CEREBELO NA ESQUIZOFRENIA - A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Inês Fernandes Hospital Distrital de Santarém Actualmente, conceptualizam-se as perturbações psicóticas, e em particular a esquizofrenia, como perturbações do neurodesenvolvimento. Por outro lado, sabe-se que os circuitos neuronais que passam pelo cerebelo têm um papel relevante na esquizofrenia, nomeadamente ao nível da cognição e do comportamento. Neste estudo é descrito o caso de um doente com Esquizofrenia catatónica em que são documentadas anomalias do desenvolvimento do cerebelo com a existência de uma megacisterna magna. Há poucos casos descritos na literatura em que se tenha verificado esta associação, sugerindo-se que tanto a esquizofrenia como a megacisterna magna podem ser a expressão da mesma anomalia do neurodesenvolvimento subjacente. Assim, com este caso, pretende-se compreender melhor o papel da disfunção do cerebelo na patogénese e na clínica da Esquizofrenia. P042 DÉFICES COGNITIVOS E SINTOMATOLOGIA CLÍNICA EM JOVENS COM ESQUIZOFRENIA Teresa Maia, Susana Jorge; Barbara Lopes; Graça Cardoso Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca Introdução: Uma vasta e crescente evidência científica identifica os défices cognitivos na esquizofrenia como preditores a longo prazo do prognóstico desta doença. Um conhecimento mais aprofundado da relação entre os défices cognitivos e a esquizofrenia pode ser crucial para o desenvolvimento de programas reabilitativos. Objectivo do estudo: Comparar os défices cognitivos em jovens doentes esquizofrénicos imigrantes e não imigrantes e sua associação com os diferentes aspectos do prognóstico (performance social, qualidade de vida, sintomas negativos, risco de recaídas, adesão terapêutica, insight e ajustamento prémórbido social e académico). Métodos: Um grupo de doentes que preencheram os critérios da ICD-10 para o diagnóstico de Esquizofrenia, com idades compreendidas entre os 18 e os 25 anos de idade, incluídos consecutivamente num programa comunitário de intervenção precoce na Esquizofrenia (PSIC) e com menos de 5 anos de seguimento foram avaliados com os seguintes instrumentos: ACECF, versão curta de avaliação cognitiva, PANNS, WHOQOL versão curta para a qualidade de vida, ITAQ para o insight, MARS para a adesão terapêutica e a PAS para o ajustamento pré-mórbido. Foi também colhida informação acerca das seguintes variáveis: sexo, idade, estado civil, nível de educação, número de reinternamentos e medicação prescrita. A análise estatística dos dados referentes aos dois grupos (imigrantes vs não-imigrantes) foi realizada com o teste de qui-quadrado, t de Student e o coeficiente de correlação de Pearson. Conclusões: Os resultados preliminares do estudo poderão contribuir para o conhecimento mais aprofundado da associação entre imigração e os défices cognitivos associados à esquizofrenia, podendo assim ajudar no desenvolvimento de programas reabilitativos mais específicos na esquizofrenia. P043 O ESPAÇO@COM - UMA UNIDADE DE REABILITAÇÃO NA COMUNIDADE Teresa Maia, Janete Maximiano; Cristina Fernandes; Graça Cardoso Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca Objectivo: Dar a conhecer o espaço@com, através da descrição dos seus objectivos, forma de funcionamento e articulação com outras estruturas e actividades desenvolvidas. O espaço@com é uma Unidade de avaliação e reabilitação psicossocial da Unidade Funcional Comunitária do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca. Modelo de intervenção: Avaliação dos doentes em termos psiquiátricos, ocupacionais, psicomotores, cognitivos e familiares. Promoção de actividades de reabilitação psicossocial adequadas ao perfil de cada doente. Envolvimento da família no reforço do processo reabilitativo do doente. Promoção da vida activa e reintegração Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 socio-ocupacional. População-alvo: Doentes em ambulatório, em que se pretenda intervir de forma terapêutica, mantendo ou promovendo uma autonomia existente, a recuperação funcional e a reintegração socio-ocupacional; que não necessitam de uma intervenção em tempo completo; com sintomas negativos marcados e que não conseguiram aderir a nenhum projecto terapêutico. Princípios de funcionamento: Abordagem focalizada em intervenções específicas; recuperação de competências (cognitivas, emocionais, sociais e psicomotoras); promoção da integração laboral, ocupação e lazer na comunidade; manutenção da integração social existente, promovendo a autonomia; generalização das aquisições nos diferentes contextos de vida. A intervenção no espaço@com deve ser entendida como uma transição para uma vida mais integrada e autónoma em termos sociais. Actividades desenvolvidas: Grupo Come & Go; Psicomotricidade; Grupo EF -; Expressão no Feminino; Terapia Ocupacional; Clube de Emprego; Psicoterapia Individual; Terapia Familiar; PSIC - Programa de Intervenção Precoce na Esquizofrenia; Avaliação Cognitiva; Reabilitação Cognitiva; Treino de Actividades de Vida Diária (gestão doméstica). Conclusões: Serão descritos alguns projectos futuros e áreas de desenvolvimento. P044 PERTURBAÇÃO OBSESSIVO-COMPULSIVA E ESQUIZOFRENIA. UM CONTINUUM? Tiago Vinhas de Sousa; Vânia Viveiros, João Tavares; Maria João Carnot Centro Hospital Psiquiátrico de Lisboa Pretende-se neste poster ilustrar a continuidade que poderá existir entre diferentes quadros nosológicos. Nos últimos anos tem-se observado um interesse crescente na presença simultânea de sintomatologia psicótica e obsessivo-compulsiva. Apesar da esquizofrenia e da perturbação obsessivo-compulsiva (POC) constituírem entidades diagnósticas distintas, existem áreas de sobreposição complexas. Desta forma, torna-se essencial caracterizar os mecanismos fenomenológicos no sentido de orientar o diagnóstico na sua forma “pura” ou de sobreposição, o tratamento e prognóstico. Neste contexto propomo-nos apresentar um caso clínico, que exemplifica e reflecte a complexidade do tema, enaltecendo a pertinência dos estudos actuais relativos à identificação clínica e etiológica de um sub-grupo homogéneo: POC-Esquizofrenia. P045 FOLIE À FAMILLE EM SÍNDROME DE EKBOM Margarida Duarte, Inês Fernandes; Cláudio Laureano Hospital de Santo André, Leiria; Hospital Distrital de Santarém O Síndrome de Ekbom, ou Parasitose Delirante, é uma perturbação psiquiátrica rara que se apresenta como um delírio de infestação por parasitas. Muitas vezes o tratamento é dificultado pelo facto destes doentes recusarem um diagnóstico e tratamento psiquiátricos e, frequentemente, procuram antes um Dermatologista devido à forte convicção da presença de uma doença somática. Pela falta de adesão, esta perturbação está associada, em grande parte dos doentes, a uma resposta parcial e insatisfatória à terapêutica. A partilha do delírio por outras pessoas que mantêm uma ligação emocional próxima com o doente pode ocorrer – Transtorno Delirante Partilhado ou Induzido (Folie à deux, trois, famille). Afecta sobretudo membros da família mais próxima do doente e que vivem em condições de algum isolamento social. Por vezes, a simples separação dos indivíduos envolvidos do doente primeiramente afectado, é suficiente para a sua resolução. Embora seja um quadro clínico raro, a sua prevalência em caso de delírio de infestação parasitária pode oscilar entre 5-25%. Folie à famille, quando todos os membros do agregado familiar partilham o mesmo delírio, é uma perturbação especialmente rara. Apresenta-se um caso clínico infrequente de uma doente com o diagnóstico de Síndrome de Ekbom cuja família desenvolveu Folie à famille. Trata-se de uma doente que iniciou o quadro com queixas de prurido generalizado e, durante 4 meses, foi observada e medicada por outras especialidades médicas até ser encaminhada Sessões de Posters / Posters Sessions ao Serviço de Psiquiatria. Nesta fase, além do delírio, apresentava sintomatologia depressiva e também o marido e filho manifestavam as mesmas queixas e crenças. A doente foi então internada, tendo sido possível explorar melhor a sua psicopatologia, tendo-se verificado a remissão da sintomatologia do seu marido e filho. Actualmente a doente é seguida em consultas de ambulatório de Psiquiatria, com boa evolução clínica até à data. P046 ANTIPSICÓTICOS DE LONGA DURAÇÃO - CARACTERIZAÇÃO E COMPARAÇÃO DE DUAS AMOSTRAS CLÍNICAS Liliane C. Meireles, Dulce F. Maia CHTMAD Introdução: Os antipsicóticos de longa duração foram desenvolvidos na década de 60, permitindo promover a compliance e reduzir problemas relacionados com a absorção e biotransformação. Vários estudos determinam que contribuem para o controle sintomatológico e permitem a prevenção de recaídas, desde que assegurada a adesão terapêutica. O decanoato de haloperidol e a risperidona de longa duração estão indicados no tratamento de perturbações esquizofrénicas e outras perturbações psicóticas. Objectivos: Pretende-se caracterizar e comparar em termos sócio-demograficos e clínicos, 2 amostras de doentes medicados com antipsicóticos de libertação prolongada (decanoato de haloperidol e risperidona de longa duração), bem como avaliar e comparar a resposta ao tratamento, a relação com o número de hospitalizações, a gravidade, prevalência e consequências dos efeitos secundários referidos e a adesão ao tratamento. Foram ainda tidos em consideração potenciais factores confundidores tais como: entidade que administra (centro de saúde, lar, hospital, farmácia) e o suporte social. Material e Métodos: Estudaram-se retrospectivamente 2 amostras de 50 doentes, seguidos em regime de ambulatório no DPSM do CHTMAD, EPE a cumprir administração regular com antipsicóticos de libertação prolongada, quer no próprio Centro Hospitalar, quer noutros locais. Utilizou-se como fontes de dados os registos dos processos clínicos. Foi usada estatística descritiva com recurso ao SPSS® for Windows. Procedeu-se ainda a uma revisão bibliográfica no que respeita ao estudo da administração de antipsicóticos de longa duração. Conclusões: É notória a recente e rápida expansão do conhecimento acerca dos medicamentos antipsicóticos e sobre a evolução destes psicofármacos que representam um avanço significativo neste tratamento. Para além de outros aspectos gerais relevantes, o presente estudo realça a crescente evidência das vantagens dos antipsicóticos de libertação modificada. Também se conclui que a referida medicação reduziu significativamente a duração do internamento. Este trabalho está em curso e configura um ponto de partida para estudos futuros. P047 DELÍRIO DE SÓSIAS: UMA BREVE REVISÃO Manuel Carvalho, Cátia Dias Hospital de Santa Maria, Lisboa O Delírio de Sósias ou Síndroma de Capgras é usualmente descrito como a crença irrefutável de que uma ou mais pessoas próximas do sujeito, habitualmente o cônjuge, os pais ou os filhos, foram substituídos por duplos ou sósias, fisicamente idênticos aos originais, mas psicologicamente distintos. Foi inicialmente descrito como síndrome em 1923 por Joseph Capgras e constitui o delírio de identificação mais frequente, sendo principalmente encontrado na população psiquiátrica com o diagnóstico de Esquizofrenia Paranóide. Apesar de não ser ainda compreendido na sua totalidade, alguns estudos apontam para a possível existência de uma alteração, que pode ser de origem orgânica e/ou funcional, na via neurológica cerebral responsável pelo reconhecimento afectivo do rosto dos familiares, com preservação da via responsável pelo reconhecimento das várias características físicas e individuais. Numa tentativa de integrar os sentimentos contraditórios resultantes das diferenças detectadas, o sujeito recorre a alguns mecanismos de defesa como a projecção e a interpretação para justificar os sentimentos contraditórios, sobre os 23 Sessões de Posters / Posters Sessions quais constrói o delírio. O tratamento e a evolução desta síndroma são dependentes da patologia de base. P048 TABACO E INSIGHT NA ESQUIZOFRENIA: EXISTE ALGUMA RELAÇÃO? Pedro Miguel Alves de Moura, Patrícia Frade; Teresa Abraços Rodrigues; Pedro Levy Hospital de Santa Maria; Hospital HPP Cascais Neste trabalho procurou-se verificar se existe relação entre o facto de fumar previamente e o insight para a doença (esquizofrenia), quer no momento da admissão, quer no da alta, numa série de doentes internados no serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, de Janeiro de 2010 a Agosto de 2010, seguidos no internamento pelos autores, com o diagnóstico de esquizofrenia segundo critérios especificados no Diagnostic and Statistic Manual of Mental Diseases, 4ª versão (DSM-IV) e tratados com antipsicóticos atípicos. Procedeu-se a um estudo retrospectivo, consultando os processos desses doentes, com o diagnóstico de Esquizofrenia à data da alta e utilizando os dados coligidos para obter informação acerca dos hábitos tabágicos dos doentes e para pontuar o item relativo ao insight da escala Positive and Negative Syndrome Scale (PANSS) da Esquizofrenia, fazendo este item parte da subescala de psicopatologia geral. P049 ESTRATÉGIAS DO CUIDAR EM PSIQUIATRIA NO DOMICÍLIO Rosângela Sebastiana Augusto de Sousa, Maria da Fé Tavares Carapichoso; Maria José Martins da Silva Rente Neto Hospital Infante D.Pedro E.P.E.; Centro de Saúde de Aveiro - ACES Baixo Vouga; Centro de Saúde de Ílhavo - ACES Baixo Vouga A doença mental é ainda, causa de rejeição e estigma na nossa sociedade e como consequência surge a não adesão-terapêutica identificada pela OMS (2003), como sendo um problema a nível mundial. As implicações da não adesão ao tratamento são significativas. Provoca complicações médicas e psicológicas da doença, reduz a qualidade de vida dos utentes, satisfação dos mesmos e seus familiares, aumenta a probabilidade de desenvolvimento de resistência aos medicamentos, desperdício de recursos em cuidados de saúde e ainda desgasta a confiança nos sistemas de saúde. Abreu (2000) refere que no caso dos utentes portadores de esquizofrenia tem-se verificado recentemente que o prognóstico e os aspectos irreversíveis da sintomatologia, são piores quanto mais tempo durarem os sintomas sem tratamento. Deste modo, torna-se fundamental a necessidade de uma atenção redobrada para os sintomas precoces, uma intervenção clínica tão célere quanto possível, bem como a sua manutenção e supervisão do tratamento pelos enfermeiros especialistas em Saúde Mental e Psiquiatria. De acordo com o acima referido, torna-se essencial a elaboração de estratégias, com base nas orientações do Plano Nacional de Saúde (2004-2010) e Plano Nacional de Saúde Mental (2007- 2016). Após uma avaliação efectuada pelo Centro de Saúde de Ílhavo, constatou-se que a maior parte das pessoas portadoras de patologia mental são rejeitadas pela família e comunidade. Partindo destes pressupostos, iniciaram-se visitas domiciliárias efectuadas por enfermeiras em contexto de ensino clínico na área de Saúde Mental Comunitária, sob orientação da Enfermeira Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria deste Centro de Saúde, a utentes do concelho, referenciados pelo Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital Infante D. Pedro E.P.E., com medicação neuroléptica de acção prolongada. Com este estudo, pretendemos partilhar as experiências desenvolvidas como enfermeiros especialistas em Saúde Mental e Psiquiatria na Comunidade, bem como as dificuldades vivenciadas na concretização dessas visitas. P050 A PERCEPÇÃO DO MOVIMENTO NA ESQUIZOFRENIA Sónia Pimenta, Nuno de Sá Teixeira; Vera Raposo; António Canhão Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra; Instituto de Psicologia Cognitiva da Universidade de Coimbra; Centro Hospitalar Pisquiátrico de Coimbra 24 Saúde Mental Mental Health A localização espacial de um objecto móvel é usualmente recordada como desfasada na direcção do movimento - Momento Representacional (MR). Enquanto fenómeno de charneira entre percepção e acção por um lado e, por outro, entre processos top-down e bottom-up, o MR tem-se revelado essencial no estudo da percepção de movimento. Das inúmeras variáveis que parecem afectar o fenómeno, uma distinção que tem sido recorrente e instrumental refere-se às variáveis cinemáticas (velocidade, aceleração; recrutando processos de baixo nível) por oposição às dinâmicas (massa, gravidade, fricção, efeitos conceptuais; congregando processos cognitivos). Na Esquizofrenia, estão bem documentadas inúmeras alterações, a saber, deficits perceptivos do movimento e movimentos oculares alterados, que estão na base da hipotetização de disfunção da área V5/MT, directamente relacionada com o processamento do movimento. No presente estudo, os participantes - constituídos por um grupo de controlo e um grupo experimental com Esquizofrenia - eram expostos a animações nas quais um quadrado com 30, 60 ou 90 pixels2 (massa implícita) se deslocava a uma velocidade constante de 150, 300 e 450 pixels/ segundo, descrevendo uma trajectória ascendente, descendente, ou horizontal (esquerda para direita e vice-versa). Após cobrir uma distância de 300 pixeis, o quadrado desaparecia subitamente, tendo os participantes que indicar com um cursor em forma de +, controlado com um rato, o local de desaparecimento no ecrã (1024×768 pixels). Os resultados a serem apresentados e discutidos, de carácter preliminar, apontam, no geral, para uma ausência de efeitos das variáveis cinemáticas (velocidade) mas um efeito significativo de variáveis de carácter dinâmico (massa e gravidade), no caso da população com Esquizofrenia. Comparativamente ao grupo de controlo, este perfil de efeitos revela uma dissociação somente nas variáveis cinemáticas. Os resultados obtidos são discutidos no âmbito da distinção entre processos bottom-up e top-down, das quais a natureza cinemática e dinâmica das variáveis constituem, respectivamente, instanciações. P051 A EQUIPA MULTIDISCIPLINAR DO HOSPITAL DE DIA ELC: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO DE ESQUIZOFRENIA Patrícia Robalo CHPL A Mais valia da equipa multidisciplinar (Psiquiatria, Psicologia, Enfermagem, Terapia Ocupacional e Serviço Social), recai na estruturação e organização de um projecto terapêutico individual com o utente, no sentido da globalidade de intervenção, nas diversas áreas de vida a explorar. O nosso poster, apresenta um projecto terapêutico individual, delineado com a equipa, família e instituições sediadas na comunidade. O caso clínico diz respeito a um utente de 37 anos, solteiro, actualmente vive com a mãe, Tem o diagnóstico de esquizofrenia desde os 19 anos. P052 HOSPITAL DE DIA - HOSPITAL JÚLIO DE MATOS RESULTADOS (2009) DE UMA EQUIPA REDUZIDA Maria João Castro, Céu Monteiro; Rute Antunes; Elisa Gonçalves; Paula Nunes; Alice Nobre CHPL - HJM O Hospital de Dia (HD) do Hospital Júlio de Matos teve uma redução muito significativa no número de elementos da sua equipa. Ainda assim, manteve a sua principal característica, considerada por quem o dirige como fundamental no tratamento de doentes com doença mental grave (o principal alvo desta instituição). Falamos da Relação Terapêutica que se estabelece com estes doentes. Só com uma boa relação terapêutica se consegue fazer com que estes doentes adiram à terapêutica e sintam um vínculo forte com a instituição de forma a que seja possível segui-los sem que seja necessário um internamento completo. Com este poster pretendemos descrever os resultados que obtivemos com os doentes internados no ano de 2009, no que respeita à sua adesão ao tratamento nesta instituição, qual a sua situação no pós-alta do HD e quais as taxas de reinternamento no HD e de internamento a tempo inteiro em enfermaria. A maioria Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 dos doentes (88%) aderiu ao HD, 84% dos doentes, à altura da alta regressou ou ingressou a vida profissional/académica, 50% dos doentes internados no HD durante o ano de 2009 já lá tinham estado internados noutra altura e apenas 28% dos doentes tiveram internamento total em enfermaria após terem tido alta do HD. Analisando estes resultados, concluímos que o HD com uma equipa reduzida consegue obter resultados muito positivos desde que se mantenha o pressuposto da manutenção de uma boa relação terapêutica que encoraje os doentes a aderirem ao tratamento e a virem ao HD. Fica comprovado que o HD contribui para a melhoria da qualidade de vida destes doentes quando 84% deles ingressa ou regressa a uma vida activa. Muito poucos (28%) necessitam de internamentos a tempo inteiro em enfermaria após a alta e, quando descompensam metade retornam ao HD. Ressalva-se, no entanto, que o principal óbice de uma equipa tão pequena é o número de doentes admitidos que tem de ser, obrigatoriamente, reduzido também. Não estaremos, por isso, a privar os doentes do tratamento que mais os beneficia? P053 FACTORES ASSOCIADOS AO REINTERNAMENTO POR DESCOMPENSAÇÃO PSICÓTICA Sara Oliveira, João Campos Mendes; Filipa Miranda; José Daniel Rodrigues; Joana Prata; Georgina Lapa Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho Introdução: Após um primeiro internamento, uma grande percentagem de doentes com perturbações psicóticas acabam por ser reinternados. Alguns estudos concluem que factores como a idade jovem, o sexo masculino, o diagnóstico de esquizofrenia e uma maior duração do internamento são preditores de um futuro reinternamento. Objectivo: Identificar factores associados ao reinternamento de doentes internados por descompensação psicótica. Material e Métodos: Estudo retrospectivo, envolvendo 112 doentes internados por descompensação psicótica no Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do CHVNG/E, durante o ano de 2008. Dividiu-se a amostra em dois grupos: aqueles que foram reinternados (uma ou mais vezes) e aqueles que não foram reinternados, nos 12 meses seguinte à data de alta. Utilizou-se o SPSS 17.0, considerando-se significativos os resultados com p<0,05. Compararam-se os grupos relativamente ao sexo, idade, estado civil, escolaridade, estado profissional, duração do internamento, terapêutica pós-alta e regime de internamento (voluntário vs compulsivo). Resultados: Da amostra, 43 doentes foram incluídos no grupo “reinternados” e 69 no grupo “não reinternados”. O número de reinternamentos variou entre 1 e 4, no entanto, não se estudaram possíveis diferenças. De todas as variáveis estudadas, apenas se observaram diferenças estatisticamente significativas em relação à idade, tendo o grupo “reinternados” uma idade média inferior (cerca de 6 anos). Conclusão: Estes resultados são consistentes com os de estudos anteriores, no que diz respeito à idade. Na nossa amostra, os doentes reinternados são significativamente mais novos, o que nos alerta para a necessidade de ponderar estratégias terapêuticas mais eficazes nesta faixa etária. P054 SÍNDROME DE REFERÊNCIA OLFACTIVA: DILEMAS DIAGNÓSTICOS E TERAPÊUTICOS ACTUAIS Nelson Oliveira, Abigail Ribeiro; Manuela Araújo; Catarina Fonseca; Joana Jorge; Fátima Magalhães Hospital de Magalhães Lemos; Centro Hospitalar do Porto A Síndrome de Referência Olfactiva (SRO) é uma condição psiquiátrica caracterizada pela preocupação persistente que o indivíduo acometido tem acerca do seu odor corporal. Esta falsa crença é acompanhada por sentimentos de vergonha e angústia marcada, condicionando frequentemente comportamentos de evitamento e isolamento social. A primeira descrição clínica desta síndrome remonta a finais do século XIX e, desde então, têm sido vários os termos propostos para a sua designação (bromidrofobia, síndrome paranóide olfactiva crónica, hipocondria monossintomática, psicose hipocondríaca monossintomática). Só em 1971, fruto do trabalho realizado pelo au- Sessões de Posters / Posters Sessions tor Pryse-Phillips, é que a síndrome passa a ser conhecida pelo seu nome actual. Segundo os sistemas de classificação actuais (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 4ª edição (DSMIV) e Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10)), a SRO é categorizada como um dos subtipos somáticos da Perturbação Delirante. Não obstante, esta inclusão diagnóstica é fonte de grande controvérsia, nomeadamente devido ao facto de existirem variantes não delirantes desta síndrome. Parece também existir uma sobreposição fenomenológica entre a SRO e outras patologias psiquiátricas não psicóticas (Perturbação Dismórfica Corporal, Hipocondria, Perturbação Obsessivo-Compulsiva). As diferentes abordagens terapêuticas referidas na literatura (antidepressivos, antipsicóticos e terapia cognitivo-comportamental) e a taxa de resposta variável aos mesmos reforçam esta controvérsia. No presente trabalho, e utilizando a título de exemplo um estudo de caso, pretende-se rever algumas das divergências relacionadas com o diagnóstico diferencial e tratamento da SRO e discutir as opiniões dos vários autores relativamente à futura classificação desta síndrome. P055 PSIC - UM PROGRAMA DE INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA NA ESQUIZOFRENIA Barbara Lopes, Susana Jorge; Teresa Maia; Graça Cardoso Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca Desde 2001 que o Serviço de Psiquiatria do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca conta com um programa de intervenção precoce na Esquizofrenia baseado no seguimento dos doentes por equipas comunitárias multidisciplinares (programa PSIC).Este inclui consultas regulares, prescrição de psicofármacos, intervenções familiares, grupos psicoeducacionais, psicoterapia individual e familiar, terapia ocupacional e reabilitação cognitiva. O presente estudo de doentes com primeiro episódio psicótico que integraram consecutivamente o Programa PSIC entre Janeiro e Outubro de 2010. Dados preliminares até Setembro de 2008 mostraram que dos 77 doentes integrados no estudo, a maioria era do sexo masculino (82%), solteiros (94%), viviam com os pais (72.7%) e tinham entre 18 e 25 anos de idade (53.2%). Um terço da amostra tinha mais de 9 anos de educação escolar, 72.7% cumpriam os critérios da ICD-10 para esquizofrenia, enquanto que 69% cumpriam os critérios para sintomas prodrómicos da DSM-III-R. A maioria das mulheres tinham uma Duration of Untreated Psychosis (DUP) entre 1 e 2 anos, enquanto a maioria dos homens tinham uma DUP superior a 2 anos. Durante os dois anos seguintes de follow-up 20% dos doentes desistiu do programa, 18.1% foram reinternados nos primeiros 6 meses e 15.5% nos seguintes 18 meses. Houve um declínio acentuado no desempenho ocupacional e emprego sobretudo nos homens. O programa PSIC é actualmente utilizado pelo Serviço de Psiquiatria do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca como o tratamento standard para o seguimento assertivo de doentes com o primeiro episódio psicótico. Embora a falta de um grupo controlo para comparação seja a principal limitação deste estudo, os autores acreditam que os doentes integrados neste programa contam com um melhor seguimento clínico que favorece o prognóstico de doentes com um primeiro episódio de esquizofrenia. Dados mais recentes serão apresentados neste poster. P056 ESQUIZOFRENIA LATENTE, TÓRPIDA, AMBULATÓRIA E SIMPLES - OS ANTEPASSADOS DO SÍNDROME DE RISCO PARA A PSICOSE (DSM-V)? Maria João Avelino, Liliana Paixão Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa A Esquizofrenia é uma doença psiquiátrica que etiologicamente é explicada (ainda de modo insuficiente) à luz do modelo de vulnerabilidade-stress, em que para a sua génese concorrem factores de risco genéticos e stressores ambientais. Nos últimos anos a investigação na área da Esquizofrenia tem mostrado que uma demora no seu diagnóstico e tratamento (DUP - duration of untreated psychosis prolongado) poderá condicionar um pior prognóstico. Diagnosticar 25 Sessões de Posters / Posters Sessions precocemente a doença, ainda antes da manifestação completa da sintomatologia, ou mesmo preveni-la tem sido um alvo preferencial. No entanto, no passado várias foram as tentativas de inclusão no Espectro da Esquizofrenia de determinadas entidades clínicas caracterizadas por um quadro incompleto da doença (quer pela ausência dos sintomas mais característicos da mesma, quer pela sua presença em níveis não disfuncionais). Esquizofrenia Latente, Esquizofrenia Tórpida, Esquizofrenia Ambulatória e Esquizofrenia Simples são alguns dos exemplos. Em 2013 está prevista a publicação do DSM-V e uma versão proposta já foi tornada pública. Nesse draft, uma das novidades é o Síndrome de risco para a psicose, através do qual se utilizam os sintomas prodrómicos ou estado mental de risco para diagnosticar a doença antes da sua eclosão. Apesar dos vários estudos sobre a sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo desses sintomas, parece que apenas um terço dos doentes a quem se diagnostica esse síndrome virão a desenvolver a doença. Colocam-se então várias questões de ordem ética, como a legitimidade do seu tratamento com antipsicóticos (com todos os seus riscos) e a sua estigmatização. Os autores fazem então uma revisão histórica destes conceitos e uma revisão da literatura mais actual sobre este síndrome de risco. P057 ORYGEN YOUTH HEALTH: A EXPERIÊNCIA NA PSIQUIATRIA AUSTRALIANA Joana Maia, Carla Silva Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra Com este trabalho as autoras propõem-se transmitir em que consistiu o seu estágio opcional no Orygen Youth Health (Melbourne, Australia), decorrido no período entre Maio e Julho de 2010 no âmbito do Internato Complementar em Psiquiatria, em especial na área de Intervenção Precoce na Psicose. A título introdutório, expõem como estão organizados os Serviços Públicos de Saúde Mental na Austrália, em que consiste a política nacional para estes serviços, como foi a sua evolução histórica e as respectivas estratégias de implementação. É feita a interligação entre os aspectos legislativos essenciais – a Lei de Saúde Mental (“The Mental Health Act”) - e a prestação de cuidados em Saúde Mental com base na Gestão de Caso – “Case Management”. É feita também uma abordagem breve aos fundamentos e pressupostos da Intervenção Precoce na Psicose e expostas as principais controvérsias a ela inerentes, analisando de forma crítica como esta poderá ser posta em prática no contexto clínico-assistencial. As autoras demonstram como a Intervenção Precoce na Psicose tem sido operacionalizada segundo o Modelo do Orygen Youth Health em Melbourne, Austrália, descrevendo como está organizado o seu programa clínico e em que consiste cada uma das unidades de intervenção que o compõem. Conclusão: São focados os aspectos mais distintos relativamente à psiquiatria portuguesa e feita uma reflexão acerca dos conceitos e estruturas que, na óptica das autoras, se tornam mais interessantes na organização dos cuidados prestados pelo Orygen Youth Health no âmbito da Intervenção Precoce na Psicose. P058 REABILITAÇÃO COGNITIVA - A EXPERIÊNCIA DO ESPAÇO@ COM Teresa Maia, Janete Maximiano; Cristina Fernandes; Graça Cardoso Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca Introdução: Vários estudos deinvestigação demonstram que os déficites cognitivos são um factor clínico predictor do prognóstico de Esquizofrenia e Doença Bipolar. Estes déficites afectam a memória, atenção, concentração, função executiva e inteligência de pessoas jovens, estando directamente relacionados com o seu desempenho académico, laboral e social, condicionado o sucesso da reabilitação. A avaliação dos resultados de programas de reabilitação cognitiva nestes doentes pode contribuir para a organização de programas de reabilitação mais eficazes, melhorando o seu prognóstico. O espaço@ com é uma Unidade de avaliação e reabilitação psicossocial da Unidade Funcional Comunitária do Serviço de Psiquiatria do Hospital 26 Saúde Mental Mental Health Fernando Fonseca, onde a avaliação e a reabilitação cognitiva são realizadas através dos programas Cognitive Rehabilitative Treatment e Rheacom. Objectivo: Estudar o impacto a nível das funções cognitivas de um programa de Reabilitação Cognitiva em 10 doentes seguidos no espaço@com. Metodologia: Foram seleccionados doentes com as seguintes características: Presença de Déficits cognitivos documentados através da Bateria ACEF (memória, aprendizagem, atenção, concentração e/ou velocidade de processamento); Ausência de déficite a nível da função executiva; Valorização e reconhecimento destes deficits pelo próprio doente, como relevantes para a sua recuperação funcional. Foram também recolhidos dados sociodemográficos, ocupacionais e clínicos. O programa de reabilitação utilizou duas formas de intervenção, o Cognitive Rehabilitative Treatment e o Rheacom, através de sessões bisemanais. No final da intervenção foi novamente aplicada a Bateria ACEF. Resultados preliminares: A amostra de 10 doentes com média de idades de 32 anos, diagnóstico de Psicose Esquizofrénica e Doença Bipolar, estáveis do ponto de vista sintomático. A aplicação inicial da Bateria ACEF permitiu apurar que todos apresentavam déficites cognitivos, sobretudo a nível da memória, velocidade de processamento e atenção e concentração. Em 9 dos 10 doentes houve uma melhoria das funções cognitivas avaliadas. Num dos casos mantiveram-se os déficites anteriores. Conclusões: Os resultados preliminares mostram uma resposta positiva ao programa. Esperamos em breve uma reunir uma amostra que possa fundamentar de forma significativa os benefícios deste tipo de intervenção. P059 INTERNAMENTOS POR PRIMEIRO SURTO PSICÓTICO ESTUDO RETROSPECTIVO DOS DOENTES INTERNADOS NA CLÍNICA PSIQUIÁTRICA IV DO CENTRO HOSPITALAR PSIQUIÁTRICO DE LISBOA ENTRE 2005 E 2008 Maria João Avelino, Liliana Paixão; Mário Borrego; Ana Caixeiro; António Bento Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa A Esquizofrenia, apesar das terapêuticas já existentes ao nosso dispor, ainda é uma doença crónica que determina uma elevada disfuncionalidade, morbilidade e mortalidade. Nos últimos anos a investigação na área da Esquizofrenia tem tentado mostrar uma relação entre a demora no seu diagnóstico e tratamento (DUP- duration of untreated psychosis- prolongado) e uma maior resistência ao tratamento e pior prognóstico (pelo menos a curto prazo). Diagnosticar precocemente a doença, ainda antes da manifestação completa da sintomatologia, ou mesmo preveni-la tem sido um alvo preferencial. No entanto, alguns estudos têm concluído que as formas da doença que apresentam esse intervalo mais prolongado são formas mais graves, e o DUP aparece como um marcador e não como determinante do curso da doença. Em termos etiológicos, o modelo que melhor explica a génese da doença é o modelo de vulnerabilidade-stress, em que factores de risco genéticos e stressores ambientais parecem estar implicados. Poucos têm sido os estudos feitos em Portugal sobre os doentes internados com 1º surto psicótico. A Clínica Psiquiátrica IV (CP IV) do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (CHPL) é um sector que dá assistência psiquiátrica à população de diversos concelhos da grande Lisboa, uns predominantemente rurais, outros urbanos por excelência. Através da análise retrospectiva da amostra de doentes internados na CP IV do CHPL por primeiro episódio psicótico, entre 2005 e 2008; da colheita de dados sócio-demográficos e clínicos referentes à data do 1º internamento e após dois anos de seguimento; e da análise estatística descritiva feita pelo programa informático SPSS - versão 16, os autores fazem uma caracterização demográfica e descrição da evolução clínica e funcional da amostra supracitada. P060 DINÂMICA FAMILIAR NA ESQUIZOFRENIA José Manuel Monteiro Dias, Elza Maria da Silva Lemos; Ana Maria Romano Escola Superior de Enfermagem de Vila Real - UTAD Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 Este estudo consiste na investigação dos factores intervenientes na dinâmica familiar do esquizofrénico, nomeadamente, a comunicação, a auto-estima e a representação social, cuja pergunta de partida é: “Quais as experiências na família do esquizofrénico perante os factores: comunicação, auto estima e representação social?”. Objectivo: Analisar a perspectiva da comunicação, da auto-estima e da representação social como factores que influenciam as experiências familiares do esquizofrénico. Optámos pela metodologia qualitativa, pelo facto de que o objecto de estudo é a relação da família do esquizofrénico com o seu familiar portador dessa psicose, que traduz experiências de vida, repletas de sentimentos e estados psicológicos, não passíveis de quantificação devido à sua subjectividade. A População era constituída por todos os familiares de esquizofrénicos do Hospital Sobral Cid, no ano de 2006, a amostra do tipo intencional foi de 6 desses familiares. A colheita de dados foi efectuada através de entrevistas semi-estruturadas no mês de Agosto de 2006, sendo submetidas a análise de conteúdo. A comunicação sendo um factor relacional, foi relatado pelos familiares, como sendo um problema do doente. Quanto à vida quotidiana os familiares referem as dificuldades que tinham no seu dia-a-dia, como para lidar com situações de perturbação do comportamento, inactividade e com o esforço suplementar para lidar com estes doentes. As famílias vivenciam mudanças no relacionamento após o adoecimento de um dos seus membros, ocorre aumento de tensão na convivência, a família procura isolar-se, há restrição das visitas e o período de lazer é diminuído. Com o diagnóstico da esquizofrenia na adolescência são interrompidas as expectativas da família de que o jovem adulto comece a trabalhar e venha a ter uma vida independente. A representação social é consequência de uma circularidade de fenómenos; verifica-se forte tendência para o isolamento social e uma acentuada dependência familiar. P061 CONSENTIDO – UNIDADE MÓVEL DE APOIO DOMICILIÁRIO INTEGRADO Alves, C., Barbosa, S; Carvalhosa, O; Iglesias, C; Palmeira, P; Peixoto, S; Salgueiro, M; Silva, P Casa de Saúde do Bom Jesus Introdução: A Unidade Móvel “ConSentido” é um projecto orientado para a prestação de cuidadosna área da saúde mental e psiquiatria no domicílio, promovendo a integração doutente na comunidade familiar e alargada. Este serviço é complementado por uma linha telefónica de aconselhamento e encaminhamento. Objectivos: Promoção da Saúde; Prevenção e Tratamento da Doença; Redução de Danos e Reinserção. Metodologia: O presente poster pretende traduzir a caracterização da população-alvo do ProjectoConSentido e os principais resultados da sua intervenção especializada em SaúdeMental, tendo como base a análise estatística. Conclusão: Podemos apontar resultados a dois níveis: tratamento da doença e redução de danose reinserção. No que respeita ao tratamento da doença podemos considerar que a actuação deste projecto influi na diminuição do n.º de recaídas e no n.º de reinternamentos. De destacar o número de referenciações para intervenção em crise com máxima execução que contribui fortemente para a redução da institucionalização.No que toca à redução de danos e reinserção, o trabalho desenvolvido ao nível do treino de AVD e AIVD, dinâmicas psicoterapêuticas e psicoeducação familiar ecomunitária projectam-se no aumento da autonomia e, consequentemente, namelhoria da qualidade de vida e bem-estar das pessoas. Doença Bipolar P062 O POTENCIAL TERAPÊUTICO DO TAMOXIFENO NA DOENÇA BIPOLAR Carina Mendonça, Filipe Arantes-Gonçalves; Emanuel Filipe Santos CHCBEIRA; CHCBeira A doença bipolar é uma das mais debilitantes de todas as doenças Sessões de Posters / Posters Sessions médicas. Desta advém um tremendo sofrimento para os pacientes na medida em que atinge tanto o seu universo familiar como social e profissional. Até recentemente, pouco era o conhecimento acerca das bases moleculares e celulares específicas desta doença. Contudo este conhecimento tem se revelado crucial para o desenvolvimento de terapias mais eficazes e com um início de acção mais rápido que os tratamentos actualmente disponíveis. Dados recentes sugerem que a regulação de determinadas vias de sinalização pode estar envolvida na etiologia da doença bipolar e que esta pode constituir o caminho para o desenvolvimento do seu tratamento. A sinalização intracelular da Proteína C Quinase pode desempenhar um papel importante na fisiopatologia e no tratamento da doença bipolar na medida em que se tem revelado um importante agente anti-maníaco. Presentemente existe apenas um inibidor relativamente selectivo da Proteína C Quinase e que atravessa a barreira hemato-encefálica disponível para uso humano - o Tamoxifeno. Esta molécula usada na mania aguda tem demonstrado, nos estudos realizados até à data, uma redução significativa dos sintomas maníacos num curto período de tempo. Este trabalho pretende fazer uma revisão bibliográfica sobre a promissora contribuição do Tamoxifeno no tratamento da doença bipolar. P063 MANIA INDUZIDA PELO ÁLCOOL OU ABUSO DE ÁLCOOL INDUZIDO PELA MANIA… A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Maria Chai, Filipe Vicente; José Oliveira; Carlos Lacerda; Sonia Baldo; Cristina Pablo Centro Hospitalar Psiquiatrico de Lisboa Sexo masculino, 31 anos, solteiro, reside com os pais, 12º ano de escolaridade, toca guitarra na via pública e trabalhar esporadicamente como músico em bares nocturnos, foi levado ao serviço de urgência do Hospital Curry Cabral pela Polícia de Segurança Pública após episódio de grande violência em casa, que resultou na agressão dos pais com vidros de uma garrafa partida, tendo ambos sido suturados nas diversas feridas causadas pelo filho. Doente sem antecedentes psiquiátricos conhecidos. Na urgência apresentava agitação psicomotora alternado com momentos de olhar perplexo, discurso incompreensível, múltiplas equimoses e hematoma volumoso na região frontal direita, não se apurando ideação delirante, nem actividade alucinatória. Dos exames complementares realizados, as análises não mostraram alterações, a urina foi positiva para benzodiazepinas, negativa para os tóxicos, não tendo a TC CE mostrado alterações. Cerca de vinte horas depois, à entrada no internamento, mantinha o olhar perplexo, apresentando amnésia para o sucedido e desconhecendo o motivo do internamento. Após estabilização do quadro clínico, foi convocada entrevista com os pais tendo o doente sido confrontado com o sucedido, já que até ao terceiro dia de internamento o doente não admitia a hipótese de ser o responsável pela agressão aos pais. Apurou-se aumento do consumo álcool duas semanas antes do internamento, com aumento progressivo dos consumos diários, acompanhados de diminuição da necessidade de dormir, períodos de euforia, aumento da energia, percepção pelo próprio de maior “vontade e aptidão para tocar” e sensação de bem-estar. Apurou-se ainda história de dependência de álcool para a qual apresentava crítica. Objectivo: Discutir diagnóstico diferencial e estratégia terapêutica mais adequada. Conclusão: Dificuldade de diagnóstico diferencial entre Episódio Maníaco da Doença Afectiva Bipolar acompanhado de aumento do consumo de álcool e Perturbação do humor com características maníacas induzidas por álcool. Dificuldade de adesão do doente ao tratamento na Unidade de Alcoologia. P064 FOLIE À DEUX NUMA DOENTE COM PERTURBAÇÃO BIPOLAR: UM CASO CLÍNICO Ines Chendo, Maria Moura; João Franco; João Mouta; Daniel Barrocas; Pedro Levy Hospital de Santa Maria, CHLN; Hospital de Dona Estefânia; Hospital Curry Cabral 27 Sessões de Posters / Posters Sessions Folie à Deux ou Perturbação Psicótica Partilhada é uma perturbação psicótica relativamente rara, caracterizada pelo desenvolvimento de ideias delirantes em sujeitos que mantêm uma relação próxima com outras pessoas que já têm uma ideia delirante semelhante previamente estabelecida. A etiologia desta síndrome permanece pouco esclarecida. Segundo os sistemas de classificação actualmente usados, apenas os casos primários sofrem de uma perturbação psicótica genuína, contudo revisões recentes da literatura encontraram taxas elevadas de morbilidade psiquiátrica nos casos secundários bem como história familiar de patologia psiquiátrica. Os casos publicados de Folie à Deux são habitualmente descritos no contexto de esquizofrenia. Os autores apresentam um caso de Perturbação Psicótica Partilhada associada a Perturbação Bipolar. Apresentam um caso de uma doente de 46 anos de idade, com diagnóstico de Perturbação Bipolar Tipo I, internada compulsivamente no Hospital de Santa Maria por um episódio misto. Ao longo do internamento, na colheita da história clínica e através da entrevista à mãe da doente, fica patente a existência de um quadro de ideação delirante persecutória partilhado entre a doente e a mãe desta, com cerca de quatro anos de duração. Ao longo do internamento foi também possível apurar que o quadro de ideação delirante terá ocorrido primariamente na mãe da doente, tendo-se verificado uma diminuição do dinamismo dessas ideias na doente com a separação da mãe e com o cumprimento de medicação antipsicótica. Neste trabalho os autores pretendem descrever um raro caso de Folie à Deux associado a Perturbação Bipolar e destacar a possibilidade de morbilidade psiquiátrica nos actualmente designados “casos secundários”. P065 ESTRATÉGIAS DE RECUPERAÇÃO DE MEMÓRIAS AUTOBIOGRÁFICAS EM VÁRIAS FASES DA PERTURBAÇÃO BIPOLAR Elzbieta Bobrowicz-Campos, Maria Salomé Pinho; Ana Paula Matos Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação - Universidade de Coimbra A recuperação sobregeneralizada da memória autobiográfica (MA) está fortemente associada à depressão (Moore & Zoellner, 2007), sendo uma das suas características a congruência com o humor recorrente (Lemogne, 2006). A função da recuperação sobregeneralizada prende-se com o evitamento de memórias ameaçadoras (Williams, 2007), contribuindo para a persistência dos sintomas depressivos (Moore & Zoellner, 2007). Há estudos que apontam como mecanismo responsável por este tipo de recuperação um controlo executivo deficitário. Recentemente foi demonstrado que a recuperação sobregeneralizada das MAs revela-se na fase eutímica (Mansell & Lam, 2004) da Perturbação Bipolar (PB). Porém, são raros os estudos sobre MA que abordam os episódios maníacos na PB (Tzemou & Birchwood, 2007). Foram administrados a 66 pacientes com PB (22 depressivos (D), 21 hipomaníacos (M), 23 eutímicos (E)) e 19 participantes controlo saudáveis (C) o Teste de Memória Autobiográfica (AMT) de Williams e Broadbent (1986) e uma bateria de testes neuropsicológicos para avaliar a memória, o funcionamento executivo, a atenção e capacidades visuais e motoras. Observaram-se diferentes estratégias de recuperação de MAs em cada uma das três fases da PB: enquanto nos grupos D e M o efeito de recuperação sobregeneralizada parece ser independente do valor emocional das pistas apresentadas, no grupo E este efeito surgiu apenas em resposta às palavras-pista neutras. Adicionalmente, observou-se no grupo M o efeito de repetitividade de respostas, sobretudo nas palavras-pista negativas. Na amostra clínica evidenciou-se ainda o efeito de recuperação de Mas negativas em resposta às palavras-pista neutras. Na avaliação neuropsicológica, na amostra clínica registou-se um défice ao nível das funções executivas. Estes resultados evidenciam a facilidade de acesso a acontecimentos da vida negativos em todas as fases da PB, desafiando assim a teoria da recuperação de MAs congruentes com o humor recorrente. Foi ainda corroborada a hipótese da dependência da recuperação sobregeneralizada do défice de controlo executivo. 28 Saúde Mental Mental Health P066 O PAPEL DA PSICOEDUCAÇÃO NA PREVENÇÃO DE RECAÍDAS EM DOENTES BIPOLARES Mariza Azevedo, Mara Marques; Alice Nobre; Catarina Soares Centro Hospitalar Psiquiatrico de Lisboa Objectivos: A psicoeducação é parte integrante do Programa Assertivo de Prevenção das Recaídas (PAPR), desenvolvido pela equipa de Lisboa Cidade do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa. O presente trabalho descreve os resultados dos programas de Psicoeducação, aplicados em grupo ou individualmente, desde 2005, a doentes com Perturbação Bipolar. Métodos: Trata-se de um estudo comparativo em que se avaliam como indicadores de eficácia o número de internamentos, o número de recaídas e a adesão à terapeutica farmacológica, pré e pós intervenção. Conclusões: Os resultados sugerem que o programa de psicoeducação é eficaz nesta população, tendo contribuido para a diminuição dos reinternamentos evitando o fenómeno de porta giratória. P067 REGRESSANDO A EMIL KRAEPELIN A PROPÓSITO DA RELEVÂNCIA CLÍNICA DO ESTADO MISTO DEPRESSIVO José Luís Martins Fernandes, Joana Jorge Hospital Magalhães Lemos; Centro Hospitalar do Porto Introdução: Emil Kraepelin descreveu, no inicio do século XX, a ocorrência de sintomas de polaridade oposta em episódios maníacos, hipomaniacos e depressivos, conceptualizando os diferentes estados mistos como síndromes nos quais existia a presença concomitante de sintomas maníacos e/ou hipomaníacos e sintomas depressivos. Actualmente, nas classificações oficiais – ICD 10 e DSM IV – o estado misto é essencialmente limitado à presença simultânea de um episódio maníaco “completo” e de um episódio depressivo “completo”. Objectivo: Rever a evolução do conceito e as mais recentes evidências sobre estado misto depressivo. Finalidade: Enfatizar evidências que suportam a validade e a utilidade do estado misto depressivo como entidade nosológica. Método: Pesquisa na Pubmed de artigos publicados na língua inglesa entre Janeiro de 2000 e Setembro de 2010 usando as seguintes palavras-chave: bipolar mixed state, depressive mixed state, mixed depression, excited depression, agitated depression and suicide. Discussão: O ressurgimento da importância dos estados mistos nos últimos 35 anos sucedeu a um tempo de oposição ao conceito de estados mistos de Kraepelin por parte de proeminentes psiquiatras como Karl Jaspers e Kurt Scheneider. Hagop Akiskal e Franco Benazzi, entre outros, definiram e validaram o estado misto depressivo como um episódio depressivo major/distimia e três ou mais sintomas hipomaníacos co-ocorrentes. Em estudos recentes a utilidade diagnóstica desta entidade é suportada pela resposta ao tratamento, reflectindo a insuficiência da nosologia corrente em identificar os pacientes para quem a monoterapia com antidepressivos parece ser inapropriada. P068 HIPOMANIA SECUNDÁRIA A DESEQUILÍBRIO HIDROELECTROLÍTICO Luís Fonseca, Filipa Pereira; Joaquim Duarte Hospital de Braga Introdução: As alterações de comportamento de aparecimento súbito podem ser secundárias a perturbação médica não psiquiátrica e exigem uma anamnese cuidada e uma investigação rigorosa. Caso clínico: Mulher de 44 anos de idade, professora, com antecedentes de obesidade mórbida, HTA e acompanhamento psiquiátrico ambulatório por queixas disautonómicas nocturnas (medicada, com remissão e posterior alta), observada no SU por alterações do comportamento (verborreia, discurso desorganizado e coprolália) com evolução de 1 semana. O estudo analítico revelou hipocaliemia e hiponatremia e o TAC cerebral realizado era normal. Um mês antes havia iniciado terapêutica medicamentosa (Manipulado com alcachofra, centelha asiática, clorodiazepóxido, cascara sagrada, furosemida, fenolftaleína, hoodia gordonii e metformina; e Moduretic®) por edemas Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 Sessões de Posters / Posters Sessions periféricos. Foi internada no serviço de Medicina Interna e medicada, por psiquiatria, com quetiapina 300 mg ao deitar. Teve alta 5 dias depois assintomática e com os parâmetros analíticos normalizados. Retomou a sua actividade profissional e pessoal habitual sem dificuldades. Dois meses depois não apresentava alterações de novo. Discussão: A história da doença actual, a ausência de episódios prévios semelhantes, a idade da doente e as alterações da função analítica são a favor de um episódio hipomaníaco secundário a desequilíbrio hidroelectrolítico. No entanto, uma doença psiquiátrica de base não pode ser excluída em absoluto. descompensações maníacas, foi internada no final do ano passado por nova descompensação maníaca. À entrada, apresentava-se muito agitada, com discurso muito acelerado, ideias de grandiosidade e místicas, sem alterações da percepção, humor maníaco. No decurso de terapêutica estabilizadora do humor, a doente iniciou quadro de afasia marcado sobretudo por anomia, parafasias e neologismos. Foi internada em Serviço de Medicina por suspeita de AVC do território da ACM que foi excluído. As autoras discutem se afasia pode ser um sintoma raro na mania ou se terapêutica estabilizadora de humor pode ser iatrogénica e desencadear este quadro. P069 DESCOMPENSAÇÃO MANÍACA EM DOENTE BIPOLAR APÓS CORTICOTERAPIA Sandra Gomes Pereira, Fernanda Cristina Ordens Miguel; Catarina Pereira Hospitais da Universidade de Coimbra; Serviço de Psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra É do conhecimento comum o facto dos corticoesteróides poderem induzir uma variedade de alterações neuropsiquiátricas (desde distúrbios do humor até distúrbios cognitivos). Essas manifestações psiquiátricas podem, numa minoria dos casos, ser graves sendo que este risco aumenta com a existência de patologia psiquiátrica concomitante. Entre as manifestações psiquiátricas mais frequentemente induzidas por corticoesteróides, destaca-se a apresentação de quadros maniformes. Os autores pretendem apresentar o caso clínico de um doente com perturbação afectiva bipolar tipo I, cuja descompensação - fase maníaca -, coincidiu com corticoterapia por fibrose retroperitoneal. Demências e outras patologias deficitárias P070 PATOPLASTIA E DOENÇA BIPOLAR: ACERCA DE UM CASO CLÍNICO Sónia Baldo, Tatiana Gonçalves; Helena Campos; José Oliveira; Filipe Vicente; Luis Mendonça; Maria Chai; Carlos Lacerda Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa; Centro Hospitalar Psiquiatrico de Lisboa A manifestação da psicopatologia está dependente dos aspectos basais da personalidade do indivíduo. Desta forma, o presente trabalho almeja uma reflexão de um caso clínico de uma doente em fase mista, tendo em conta a patoplastia na doença bipolar, focando a multidisciplinaridade de uma equipa de intervenção no internamento psiquiátrico. Palavras-chave: Doença Bipolar; Fase mista; Patoplastia; P071 AFASIA NA DOENÇA BIPOLAR Maria João Castro, Alice Nobre CHPL - HJM Estamos habituados a encontrar num doente bipolar, seja qual for a fase da sua doença, sintomatologia muito florida. A afasia, porém, não é um sintoma comum e não tem sido descrito. Pretendemos descrever dois casos clínicos de doentes internadas no nosso serviço durante este ano e que apresentaram afasia no contexto de descompensação grave de doença bipolar. MC, do sexo feminino, 62 anos, seguida há vários anos em Psiquiatria. Em 2007, na consulta, observou-se quadro de afasia pelo que a doente realizou TC-CE que não revelou alterações.Por quadro de pseudodemência depressiva, a doente foi internada no final do ano passado. À entrada, encontrava-se desorientada em relação ao tempo e orientada nas restantes referências, sem alterações da percepção ou do pensamento, humor francamente deprimido. No internamento efectuou terapêutica antidepressiva que desencadeou uma viragem de humor, estabelecendo-se quadro maníaco e no decurso de terapêutica estabilizadora do humor mais potente, a doente apresentou alterações da linguagem com disartria, discurso tangencial, saltuário e com frequentes respostas ao lado. Realizou TC-CE, novamente sem alterações. TV, do sexo feminino, 66 anos, seguida há longos anos em Psiquiatria por doença bipolar e com vários internamentos por P072 UM CASO DE DEMÊNCIA FRONTO-TEMPORAL FAMILIAR(?) Patrícia Sofia Freire Frade CHLN - Hospital de Santa Maria A degenerescência lobar fronto-temporal (DLFT) apresenta-se como uma patologia heterogénea que em 20-40% dos casos è familiar. O subgrupo clínico mais comum é a demência frontotemporal (DFT), cuja apresentação surge com alterações do comportamento. Os critérios de diagnóstico clínico incluem: início antes dos 65 anos, insidioso e progressivo; declínio precoce na conduta social e pessoal; embotamento emocional e perda precoce do insight. O seguinte caso clínico descreve a história de uma mulher com 52 anos, natural e residente em Lisboa com a mãe, divorciada e desempregada. Tem 2 filhas. Foi internada em Junho/2010 por ingestão medicamentosa voluntária após discussão familiar. As primeiras manifestações de doença ocorreram aos 42 anos com alterações do comportamento, posteriormente verificou-se isolamento social e familiar. A doente no internamento apresentava mímica pobre, era dificilmente entrevistável e observavam-se maneirismos na marcha. O discurso era pobre, circunstanciado e disartrico. Apurava-se humor neutro e aplanamento afectivo. Sem crítica para a doença. Verificou-se a existência de quadros clínicos semelhantes na família paterna. Nos exames laboratoriais existia défice de folatos, restantes parâmetros normais. A avaliação neuropsicológica descreveu uma sindrome demencial de provável espectro frontotemporal. A TAC-CE e RMN-CE revelaram um padrão de ligeira atrofia cerebral difusa de predomínio bifrontal. EEG sem alterações relevantes. O tratamento farmacológico instituído foi quetiapina 50 mg, àcido fólico 5mg e lisinopril 20mg (HTA). A doente foi institucionalizada. Foi pedida investigação de mutações associadas à proteína tau e aos genes da progranulina para possível diagnóstico de DFT Familiar. Este caso clínico revela a importância da suspeição de demência de inicio precoce, em adultos com alterações do comportamento e da personalidade de forma insidiosa e progressiva. A história familiar e a pesquisa genética são de extrema importância na procura de novos genes, uma vez que os genes conhecidos causam apenas 10-20% de todos os casos de DLFT. P073 MANIFESTAÇÕES PSIQUIÁTRICAS DA LEUCODISTROFIA – REVISÃO A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Sónia Simões, Luís Fonseca; Beatriz Santos; Álvaro Machado Hospital de Braga Introdução: As leucodistrofias são distúrbios genéticos, crónicos e progressivos da substância branca, que se podem apresentar na idade adulta com sintomas neuropsiquiátricos. Caso clínico: Doente do sexo feminino, de 52 anos, encaminhada para o SU de Psiquiatria por alterações do comportamento, ideias de ruína, desleixo da imagem pessoal, aumento do apetite e períodos de mutismo. Com antecedentes de várias tentativas de suicídio e quadros depressivos recorrentes, aparentemente reactivos a problemáticas familiares. No SU fez RMN cerebral que mostrou hipersinal de substância branca difusa compatível com leucodistrofia. Os exames efectuados não permitiram ainda a classificação desta. Discussão: As leucodistrofias com início na idade adulta podem ter uma apresentação clínica e 29 Sessões de Posters / Posters Sessions curso diferentes das leucodistrofias na infância. Os sinais motores são frequentes mas os doentes podem apresentar um quadro demencial ou sintomas psiquiátricos que constituem uma apresentação atípica e, consequentemente, atrasam o diagnóstico. Neste caso é necessário questionar se a psicopatologia é resultante da leucodistrofia ou se se trata de comorbilidade psiquiátrica. Conclusão: Os progressos na neuroimagem têm permitido a identificação de mais casos de leucodistrofia. Uma vez que esta pode cursar com sintomas psiquiátricos, os psiquiatras devem ter esta hipótese de diagnóstico em mente. P074 METILFENIDATO: UMA POSSIBILIDADE TERAPÊUTICA NA SÍNDROME DISEXECUTIVA? Eva Mendes, Joaquim Cerejeira Hospitais Universidade Coimbra Introdução: A Síndrome Disexecutiva (SD) caracteriza-se por dificuldades no processamento de informação e degradação das capacidades executivas, apresentando-se sob a forma de défices de atenção e memória, juntamente com sintomas de humor e de comportamento. Até à data, nenhum fármaco isolado, incluindo os inibidores da colinesterase e memantina, provou gerir satisfatoriamente os défices funcionais e comportamentais da SD. Por outro lado, como é sabido, o metilfenidato é eficaz na Perturbação da Hiperactividade e Défice de Atenção do Adulto (PHDA), uma condição caracterizada, como na SD, pela disfunção cortico-subcortical pré-frontal. Relatamos um caso de um doente de 48 anos, sexo masculino, no qual o metilfenidato foi usada com sucesso para controlar os sintomas de SD grave, após insucesso terapêutico com memantina e donepezilo. Materiais e métodos: Doente internado no nosso serviço, em Abril de 2010, com factores de risco cardiovasculares, e quadro de impulsividade, labilidade emocional, distractibilidade e défice de atenção, com 3 anos de evolução. Iniciado tratamento com metilfenidato 10mg dia. Resposta ao tratamento avaliada com recurso a três escalas, aplicadas antes e após a introdução do fármaco: Mini-Mental State(MMS), Brief Psychiatric Rating Scale (BPRS) e Clinical Global Impression (CGI). Resultados: Na avaliação pré-tratamento, constatou-se um MMS de 17/30, uma CGI 6 e um total de BPRS de 63. Horas após a introdução do metilfenidato, observou-se um MMS de 24/30, uma redução de CGI para 2 e uma melhoria do total da BPRS para 42 (redução de 33%, graças à diminuição dos itens anteriormente aumentados: ansiedade, depressão, tensão, embotamento afectivo, passividade emocional, distractibilidade e hiperactividade motora). Metilfenidato foi aumentado progressivamente após a alta, com manutenção de resposta positiva do doente 6 meses depois. Discussão e Conclusões: Com o metilfenidato observamos uma melhoria na capacidade de iniciar e executar tarefas, bem como no controlo dos sintomas ansiosos e depressivos, podendo então representar uma opção terapêutica útil nos casos de SD. P075 A NEUROSSÍFILIS AINDA TEM UM LUGAR NAS APRESENTAÇÕES PSIQUIÁTRICAS? Pedro Miguel Alves de Moura, Patrícia Frade; Teresa Abraços Rodrigues; Pedro Levy Hospital de Santa Maria; Hospital HPP Cascais; S/S Com o advento da antibioterapia a prevalência de sífilis tem diminuido bastante em todo o Mundo, sendo acompanhada por uma drástica redução das clássicas apresentações de casos com comprometimento do Sistema Nervoso Central (neurossífilis); no entanto, nas últimas décadas tem-se assistido a um ressurgimento de apresentações de casos de neurossífilis, especialmente acompanhados de co-infecção por HIV. Neste trabalho, os autores pretendem apresentar um caso de neurossífilis, de apresentação inicial psiquiátrica, HIV negativo, diagnosticado e tratado em Agosto de 2010 no serviço de Psiquiatria do hospital de Santa Maria, em Lisboa. 30 Saúde Mental Mental Health P076 ESTRANGULAMENTO PENIANO NO CONTEXTO DE DEMÊNCIA Sónia Simões, Pedro Morgado; Mário Oliveira; Álvaro Machado; Beatriz Santos Hospital Escala Braga Assunto: Descrição de um caso de estrangulamento peniano com objecto constritor, auto-induzido, em indivíduo de 69 anos, que apresenta quadro demencial previamente conhecido. Método: A partir de um caso clínico, foi realizada pesquisa bibliográfica sobre alterações do comportamento sexual em quadros demenciais e sobre estrangulamento peniano auto-induzido. Discussão: As alterações do comportamento sexual estão descritas em todos os estadios dos quadros demenciais e podem ser fonte de grande embaraço para os cuidadores. Estão associadas a alterações cerebrais e a sua etiologia pode ser multifactorial. Os casos de estrangulamento peniano por objectos constritores do pénis descrevem o aumento da estimulação e melhoria da performance sexual como principal motivação para tal comportamento. Não encontramos nenhuma referência na literatura a qualquer caso de estrangulamento peniano auto-induzido em doentes demenciados. Conclusão: Este caso ilustra a importância da avaliação da função sexual nos doentes com quadros demenciais. Além disso realça a necessidade de maior investigação nesta área, de forma a clarificar a abordagem terapêutica mais adequada para estas situações. P077 MOTIVOS DE ABANDONO DA CONSULTA DE MEMÓRIA Isabel Milheiro, Joana Mesquita; Álvaro Machado Hospital de Braga Introdução: Sendo as síndromes demenciais causadas maioritariamente por doenças neurodegenerativas graves, com grande repercussão funcional, é previsível que a taxa de faltas a consultas subsequentes seja significativa, mesmo numa consulta especializada, surgindo intuitivamente a “morte” e o “esquecimento” como factores determinantes. Material e Métodos: Identificação dos doentes que faltaram à consulta de demências de Março de 2007 a Maio de 2010, com recolha de dados quanto às variáveis: sexo, idade, escolaridade, diagnóstico, tempo de evolução, grau de dependência, tempo de espera, existência de psicopatologia. Entrevista telefónica semiestruturada com cada doente/cuidador para determinar motivo da falta. Análise estatística simples. Resultados: Em 1056 consultas subsequentes, verificaram-se 58 faltas (taxa de faltas anual de 1,73%). Não foi possível contactar 17 doentes (taxa de resposta de 71%). Os motivos de falta à consulta foram: “morte” (32,8%), “opção por outro médico” (15,5%), “esquecimento” (10,3%), “doença/internamento” (5,2%), ”outros” (6,9%). Os seis doentes que faltaram por “esquecimento”, referiram que não o teriam feito se tivessem sido contactados previamente, e pediram remarcação. P078 DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL E ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA: UMA ASSOCIAÇÃO A RETER Bruno Coutinho, Álvaro Machado Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental, Unidade Local de Saúde do Alto Minho, Viana do Castelo, Portugal; Departamento de Neurologia, Hospital de Braga, Braga, Portugal Introdução: A co-existência de demência e esclerose lateral amiotrófica (ELA) foi observada pela primeira vez no final do séc. XIX. Porém, esta relação foi menosprezada durante muitos anos, até que no início desta década, alguns estudos prospectivos demonstraram que até 50% dos doentes com demência frontotemporal (DFT) têm ELA. Caso Clínico: Homem de 59 anos, observado em consulta de psiquiatria por alteração recente da personalidade: mais agressivo, com humor depressivo e anorexia, interpretado como episódio depressivo. As alterações do comportamento continuaram a agravar-se: passou a cumprimentar as pessoas com 5 beijos, ria-se sem propósito, muito desinibido. Cerca de 1 ano após início da clínica a esposa notou que o doente começou a falar cada vez menos e menos Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 Sessões de Posters / Posters Sessions percebido, com dificuldades na deglutição. Ao exame tinha atrofias dos músculos das mãos, fasciculações e reflexos vivos, sem outras alterações. No MMSE obteve 26 pontos e a RM cerebral demonstrava atrofia temporal bilateral, sendo colocada a hipótese de ELA + DFT. Para confirmação diagnóstica efectuou estudo neuropsicológico que evidenciava défice cognitivo ligeiro frontal e electromiografia que mostrou sinais de desnervação crónica sugestivos de ELA. Dois anos após os primeiros sintomas, por impossibilidade de deglutição o doente necessitou de colocação de gastrostomia endoscópica percutânea e nos últimos meses antes de falecer realizava BIPAP durante a noite por dificuldade ventilatória. Discussão: Como os doentes com DFT são muitas vezes observados pelo psiquiatra em primeiro lugar, é importante reconhecer a associação desta doença com a ELA, obrigando a cuidados específicos de suporte, incluindo ventilação mecânica precoce e gastrostomia para alimentação. Hospital Infante D. Pedro EPE; Hospital São Teotónio EPE A potomania refere-se ao hábito de beber quantidades excessivas de líquidos, porém no âmbito psicopatológico o conceito adquire uma dimensão menos lata, sendo incluída no grupo das perturbações do comportamento alimentar. É também denominada de Diabetes Insípida Psicogénica, partilhando uma fronteira estreita com as restantes formas de Diabetes Insípida. São já conhecidos desde meados do século passado os mecanismos fisiopatológicos responsáveis pelo desenvolvimento de Diabetes Insípida induzida por comportamentos potomaniacos, havendo no entanto menos robustez no conhecimento dos processos cognitivos e/ou biológcos envolvidos no eventual processo inverso. No presente trabalho os autores apresentam um caso clínico de desenvolvimento de comportamento potomaniaco pós diabetes insípida central idiopática, propondo um modelo explicativo segundo as teorias cognitivo-comportamentais. P079 ABORDAGEM TERAPÊUTICA DAS DEMÊNCIAS Abigail Ribeiro, Nélson Oliveira; Catarina Fonseca; Maria Miguel Brenha Hospital Magalhães Lemos, Porto Com o envelhecimento da população mundial, a Demência tende a atingir valores alarmantes de incidência e prevalência. As demências podem ser classificadas como degenerativas e nãodegenerativas, tendo essa divisão implicações na abordagem terapêutica. O presente poster apresenta o resultado de uma revisão da literatura científica acerca do tratamento das demências, debruçando-se principalmente sobre as demências degenerativas. Listam-se e descrevem-se os fármacos em investigação e os fármacos usados no tratamento neuroprotector, bem como no tratamento sintomático das demências degenerativas. Expõem-se sucintamente as actuais recomendações relativas a estratégias de tratamento das demências. P082 CO-MORBILIDADE ENTRE PERTURBAÇÕES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR E ABUSO/DEPENDÊNCIA DE SUBSTÂNCIAS Liliana Castro Hospital Magalhães Lemos; Universidade do Minho Introdução: O consumo de substâncias parece ser mais elevado em doentes com perturbações do comportamento alimentar do que em controlos saudáveis. As razões associadas a este risco diferencial ainda estão por esclarecer. Objectivos: Este trabalho tem como objectivo a revisão da literatura actual da co-morbilidade entre perturbações do comportamento alimentar e o consumo, abuso e dependência de substâncias. Métodos: Revisão sistemática da literatura. Resultados: As doentes com bulimia nervosa parecem apresentar maior risco de abuso de substâncias, seguidas das doentes com ingestão alimentar compulsiva. Nas doentes com anorexia nervosa o risco não parece ser significativo. Conclusões: Os estudos alvo de revisão confirmam a presença de co-morbilidade entre perturbações do comportamento alimentar e consumo de substâncias. Os estudos revistos apontam para um maior risco de consumo de substâncias nas doentes com bulimia nervosa. Este maior risco poderá ser resultado de traços temperamentais ou de uma maior sensibilidade cerebral à recompensa. Estudos longitudinais futuros permitirão avaliar se um período de bulimia nervosa predispõe a comportamento aditivo e se esta co-morbilidade é um marcador de mecanismos de recompensa alterados a nível cerebral. Perturbações de Comportamento Alimentar P080 ANOREXIA NERVOSA NUMA MULHER EM DIÁLISE - RELATO DE CASO Eva Osório, Isabel Milheiro; Isabel Brandão Hospital de São João, E.P.E.; 2Hospital de Braga O tratamento da anorexia nervosa (AN), bem como o de outras perturbações do comportamento alimentar, continua a apresentarse como um desafio. Apesar da AN ser, tipicamente, uma doença aguda que atinge mulheres jovens, os estudos de follow-up a longo prazo indicam que, em cerca de 20% dos casos, a AN apresenta-se intratável e sem remissão, acarretando sérias complicações médicas, de gravidade variável, incluindo disfunção dos sistemas endócrino, metabólico, gastrointestinal e renal. Alterações hidro-electrolíticas graves podem ocorrer em doentes com AN, especialmente na AN de tipo purgativo; a hipocaliemia e a desidratação crónica podem conduzir a insuficiência renal, por vezes, terminal. O abuso de alguns fármacos pode também contribuir para o desenvolvimento de insuficiência renal crónica, principalmente em indivíduos com disfunção renal prévia. Embora existam alguns casos na literatura de insuficiência renal em doentes com AN, poucos são os que se referem à necessidade de iniciar terapêutica dialítica, provavelmente porque os pacientes com AN morrem de outras complicações médicas antes de alcançar um estadio de doença renal terminal. Neste trabalho, os autores relatam um caso de insuficiência renal crónica com necessidade de iniciar diálise, numa doente com AN (tipo purgativo) de longa duração. Nesta comunicação pretende-se discutir a provável etiologia multifactorial da doença renal terminal nesta doente e sobretudo enfatizar a necessidade da colaboração multidisciplinar na elaboração de um plano terapêutico integrador e unidireccional. P081 POTOMANIA PÓS DIABETES CENTRAL IDIOPÁTICA / UM MODELO COGNITIVOCOMPORTAMENTAL João Alcafache, António Mesquita Figueiredo; Nuno Cunha P083 SISTEMA ENDOCANABINÓIDE NAS PERTURBAÇÕES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR A. Vieira Coelho, E. Moura; Patrícia Nunes; Sertório Timóteo; Isabel Brandão; António Roma Torres Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental, Hospital de São João, Porto; Instituto de Biologia Molecular e Celular; Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental, Hospital de São João, Porto. As perturbações do comportamento alimentar, nomeadamente a anorexia nervosa e a bulimia nervosa estão associadas a uma profunda e prolongada morbilidade física e psicossocial. É geralmente aceite que as perturbações do comportamento alimentar têm uma etiopatogenia complexa e multifactorial, com a participação de factores psicossociais e biológicos. São conhecidas várias substâncias endógenas com papel regulador na ingestão alimentar e no controlo metabólico, nas quais se incluem os endocanabinóides. Foi recentemente sugerido para estes moduladores uma função na etiopatogénese e/ou manutenção de alterações do comportamento alimentar. Apesar de a investigação sobre as perturbações do comportamento alimentar ter aumentado significativamente na última década, ainda não está descrita qualquer substância biológica com relevância clínica nestas patologias. O sistema endocanabinóide é um sistema de sinalização lipídica, que inclui substâncias endógenas quimicamente semelhantes às encontradas na Cannabis, sendo os dois mais estudados a anandamida e 2-araquidonoilglicerol. Estes 31 Sessões de Posters / Posters Sessions moduladores actuam nos receptores de canabinóides (CB1 e CB2) com uma ampla distribuição nos tecidos. Os endocanabinóides são sintetizados e libertados como mediadores de sinalização retrógrada inibitória. Em situações normais, o sistema endocanabinóide actua como pró-orexiante, sendo já conhecido o seu efeito no hipotálamo, onde interage com a leptina promovendo um aumento da ingestão alimentar. Tendo por base o papel dos endocanabinóides na regulação do comportamento alimentar, no controle metabólico, e da sua relação com leptina endógena, parece plausível considerar este sistema um possível alvo farmacológico. Apresentamos uma revisão sistematizada com base nos estudos mais recentes sobre endocanabinóides e comportamento alimentar, na tentativa de identificar novos locais de modulação na abordagem terapêutica das perturbações do comportamento alimentar. P084 COMPLICAÇÕES CARDÍACAS NA ANOREXIA NERVOSA Magda Ribeiro, Joana Sá Ferreira; Isabel Brandão Centro Hospitalar Gaia - Espinho; Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra; Hospital de São João, E.P.E. Introdução: A Anorexia Nervosa (AN) é uma doença do comportamento alimentar potencialmente letal. Dos mecanismos associados a este risco, os autores pretendem debruçar-se sobre as complicações cardíacas através de uma revisão bibliográfica do tema. Resultados: O risco de morte por problemas cardíacos pode dever-se a alterações do tipo funcional (arritmias por hipocaliemia nas AN tipo purgativo) ou estrutural (remodelação ventricular nas AN tipo restritivo), sendo que as alterações mais frequentemente encontradas são as anomalias do intervalo QT e bradicardias. Outros tipos de alterações encontradas são as alterações da pressão arterial e valvulopatias. Conclusão: A taxa de mortalidade em doente com AN chega a ser 30 vezes superior à da população da mesma faixa etária. Os estudos disponíveis são a favor da reversibilidade do risco com a recuperação do peso, o que reforça a importância do diagnóstico. P085 MULTIPLE FAMILY DAY TREATMENT: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA PORTUGUESA Ana Eduarda Ribeiro, Ana Proença Martins; Sertório Timóteo; Isabel Brandão Hospital de Magalhães Lemos; Hospital São João; Hospital de São João Introdução: Parece ser consensual que a Anorexia Nervosa (AN) é uma síndrome com um elevado impacto na estrutura familiar, tornando-se o princípio organizador da família. Ao longo dos últimos anos, a Multiple Family Day Treatment (MFDT) tem sido uma das abordagens terapêuticas de destaque no âmbito da AN, enfatizando a família como recurso terapêutico no tratamento da doença. A MFDT tem como objectivos facilitar a ruptura das interacções desenvolvidas entre o sintoma e a família, bem como ajudar a superar a sensação de incapacidade e promover a comunicação livre sobre os problemas familiares. O encontro de várias famílias de doentes com AN permite o contacto com diversas realidades, narrativas, regras, papeis, rituais e mitos desenvolvidos ao longo do curso da doença, possibilitando a abertura e a interiorização de formas alternativas na gestão do sintoma na família. Objectivos e Métodos: Os autores descrevem uma experiência inicial da MFDT, que decorreu na Unidade do Jovem e da Família do Serviço de Psiquiatria do Hospital de S. João e contou com a presença de 17 famílias de pacientes anorécticos. Resultados e Conclusões: A partilha da forma como as diferentes famílias vivem e gerem a AN facilitou a coesão do grupo e a criação de um ambiente favorável ao confronto com as dificuldades. O contacto com a experiência de outras famílias e a forma como estas lidam com a doença parece ser um incentivo à elaboração e recurso a novas estratégias. O feedback deste primeiro encontro foi inegavelmente positivo, a avaliar pelo número elevado de participantes e pelo interesse revelado pelos diferentes núcleos familiares. 34 Saúde Mental Mental Health P086 A IMPORTÂNCIA DA AUTO-COMPAIXÃO PARA A PSICOTERAPIA Carla Sofia Gomes Andrade, Cláudia Ferreira; José Augusto Pinto Gouveia Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra; Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra - CINEICC; Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra - CINEICC Este estudo pretende contribuir para a melhor compreensão da Auto-Compaixão enquanto componente central no funcionamento adaptativo do ser humano, investigando o seu impacto nos processos de comparação e na vulnerabilidade à patologia do comportamento alimentar. Recorreu-se a uma amostra não-clínica de 191 estudantes do Ensino Superior. A auto-compaixão e, em geral as suas dimensões básicas calor/compreensão, condição humana e mindfulness, apresentam associações positivas com os processos de comparação social e da aparência física mais favoráveis, e negativas com a vulnerabilidade à patologia do comportamento alimentar. Estes resultados revelam diferenças estatisticamente significativas, com as mulheres mais auto-compassivas a estabelecerem comparações, quer em termos sociais quer da aparência física, mais positivas e a apresentarem índices inferiores de insatisfação corporal, de procura da magreza e de comportamentos bulímicos. A literatura acerca da importância da auto-compaixão no funcionamento psicológico adaptativo é apoiada, mostrando-se que as mulheres que apresentam níveis superiores de autocompaixão exibem uma menor vulnerabilidade à patologia alimentar. Em suma, os resultados deste trabalho sugerem a pertinência da auto-compaixão para a Psicoterapia, com efeito uma intervenção directa ao nível desta qualidade da mente, em contexto clínico, poderá ser um contributo essencial no tratamento da patologia do comportamento alimentar. P087 A ACEITAÇÃO DA IMAGEM CORPORAL: ESTUDOS DA VERSÃO PORTUGUESA DO BODY IMAGE - ACCEPTANCE AND ACTION QUESTIONNAIRE Cláudia Ferreira, José Pinto Gouveia; Cristiana Duarte Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção CognitivoComportamental, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade de Coimbra O Body Image - Acceptance and Action Questionnaire (BI-AAQ; Sandoz, Wilson, & Merwin, 2009) destina-se a avaliar a flexibilidade cognitiva e aceitação experiencial no domínio específico da imagem corporal. Este estudo apresenta as características psicométricas e estrutura factorial do instrumento numa amostra da população geral portuguesa (n=679). Através de procedimentos de Análise Factorial em Componentes Principais, verificou-se que a versão portuguesa do BI-AAQ mantém uma estrutura unidimensional, semelhante à encontrada na versão original, que explica 63.36% da variância. A medida apresenta um alfa de Cronbach de .95 e valores de correlação item-total moderados a altos (entre .503 e .817). Foi estudada a validade convergente e divergente do instrumento através da análise de correlações com a auto-compaixão, a insatisfação corporal, índices de patologia do comportamento alimentar, a comparação social através da aparência física e a sintomatologia depressiva, ansiosa e stress. Foi confirmado um padrão diferencial entre géneros, com o sexo feminino a demonstrar níveis inferiores de flexibilidade e aceitação da imagem corporal. O questionário apresenta uma boa validade discriminante, verificando-se diferenças estatisticamente significativas entre uma amostra clínica de 46 doentes com perturbação do comportamento alimentar e uma amostra de 51 sujeitos da população geral. O questionário demonstra uma boa estabilidade temporal. Os resultados obtidos sugerem que o BI-AAQ é um instrumento útil e válido, com importantes implicações teóricas e práticas, nomeadamente no âmbito das perturbações do comportamento alimentar. Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 P088 PICA NO ADULTO Lucas Manarte, João Miguel Pereira Hospital de santa maria; Hospital de santa maria PICA é uma síndrome rara, especialmente em adultos. Este diagnóstico deve ser feito criteriosamente, e diferenciado especialmente da Perturbação Obssessivo Compulsiva. O objectivo do tratamento é evitar este comportamento, devido às suas nefastas consequências físicas, como insuficência renal ou obstrução intestinal. Nem sempre o tratamento tem sucesso, especialmente em adultos, no quais esta síndrome é especialmente rara. Aqui é apresentado o caso de uma doente de 42 anos de idade, que começou a ingerir gravilha. É apresentada a descrição clínica do caso, o seu diagnóstico e tratamento. P089 ANOREXIA NERVOSA E PSICOSE: CONCEITOS E CONTORNOS - CASO CLÍNICO Tiago Santos, Silvina Fontes; Sertório Timóteo; Patrícia Nunes; Isabel Brandão; António Roma-Torres Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental - Hospital Infante D. Pedro - Aveiro; Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental - Hospital de S. Teotónio - Viseu; Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental, Hospital de São João, Porto A relação entre perturbações do comportamento alimentar e perturbações psicóticas permanece envolta em questões conceptuais e metodológicas, das quais se destacam o estudo da prevalência das comorbilidades, aspectos fenomenológicos das perturbações alimentares e a interface com sintomas psicóticos. Os autores propõem uma análise crítica de algumas dessas questões, ilustradas através da descrição de um caso clínico de uma doente com os diagnósticos de Anorexia Nervosa e Perturbação Delirante. A esse propósito, fazem uma revisão da literatura existente relativa à comorbilidade entre perturbações do comportamento alimentar e psicose, focando os aspectos que podem facilitar a avaliação mais rigorosa dos sintomas co-mórbidos de ambos os espectros. P090 A HISTÓRIA DA ANOREXIA NERVOSA - ANÁLISE DA DISSERTAÇÃO INAUGURAL APRESENTADA À ESCOLA MÉDICOCIRÚRGICA DO PORTO ´´O MYSTICISMO EM MEDICINA´´ DE EVARISTO SARAIVA (1883) Joana Sá Ferreira, João Rui Pita Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra; Faculdade de Farmácia - Universidade de Coimbra; CEIS20 - Universidade de Coimbra A Anorexia Nervosa não é uma doença dos tempos modernos, no sentido de ser uma perturbação que tenha surgido como algo novo na época contemporânea. De facto quanto mais se estuda o passado a este respeito, mais se descobre a presença desta entidade ao longo de séculos. Quando se aborda a história das doenças do comportamento alimentar, particularmente da Anorexia Nervosa, encontramse várias situações que se denominam de Anorexia Mística, Sagrada ou Mirabilis: mulheres, muitas delas designadas ou consagradas como santas, que incluiam no seu comportamento de privação uma renúncia à comida. Em relação a esta dividemse as opiniões: uns consideram que é a mesma doença designada hoje por Anorexia Nervosa; outros consideram que não. Os autores propõem uma reflexão sobre o tema através da análise da dissertação inaugural apresentada à escola médico-cirúgica do Porto, em 1883, intitulada O Mysticismo em Medicina da autoria de Evaristo Saraiva. Apesar das semelhanças encontradas em termos de padrão de comportamento entre as mulheres santas e as actuais doentes com Anorexia Nervosa alguns aspectos de que a pertubação hoje se reveste e a constelação em que se enquadra são novos e representativos da actual cultura. P091 SINDROME DE INGESTÃO NOCTURNA: REVISÃO A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Joana Mesquita Sessões de Posters / Posters Sessions Hospital de Braga Introdução: A Síndrome de Ingestão Nocturna (SIN) foi descrita pela 1ª vez em 1955. Dos critérios originais faziam parte a existência de hiperfagia nocturna (> 25% Total kcal/dia ingeridas após a ultima refeição), anorexia e insónia. Apenas em 1999 foram acrescentados a estes critérios as ingestões nocturnas (acordar durante o período do sono para comer) e a duração mínima desta sintomatologia, de modo a poder ser classificada como patológica. Objectivos: Para além de rever a literatura existente acerca da SIN, pretende-se tentar perceber qual o lugar desta no DSM-IV-TR, bem como apresentar um caso clínico relacionado com esta entidade psiquiátrica. Resultados: A característica chave da SIN consiste num atraso do ritmo circadiano da ingestão alimentar, apesar do ritmo circadiano do sono permanecer normal. Esta doença atinge cerca de 1.5% da população geral, sobretudo doentes do sexo feminino e idade adulta. Factores psicossociais podem contribuir para o agravamento da sintomatologia. Para além disso, parece existir uma vulnerabilidade genética para esta patologia, que poderá estar relacionada com o aumento significativo dos transportadores serotoninérgicos no mesencefalo destes doentes (SPECT cerebral). Algumas alterações endocrinológicas são frequentemente encontradas nesta doença, bem como certas comorbilidades psiquiátricas. Conclusões: A SIN é uma perturbação do comportamento alimentar mas com clara sintomatologia do humor e do sono associada. Ainda existem muitas limitações e lacunas na literatura científica desta síndrome, devido ao escasso número de doentes incluídos nos estudos efectuados e à falta de definição universalmente aceite. No entanto, é consensual que esta parece ser uma das possíveis causas tratáveis de obesidade, o que justifica o seu conhecimento. Dependências P092 ALCOOLISMO FEMININO: SUA PECULIARIDADES Carina Mendonça, Emanuel Filipe Santos CHCBEIRA Nas últimas décadas temos assistido a uma mudança dos paradigmas no que diz respeito ao alcoolismo que acompanhou a evolução da sociedade moderna. Deixou de ser um problema exclusivo do sexo masculino para passar a englobar também o sexo feminino. Entre as mulheres, começa a afectar cada vez mais as camadas jovens, e mulheres profissionalmente activas e ambiciosas, e não apenas a mulher casada e submissa que bebia às escondidas. Apesar da evolução do conceito de família ao longo dos tempos, é inegável o papel importantíssimo que a mulher ainda tem como elemento de coesão e integração familiares, de modo que se torna prioritário educar os profissionais de saúde para as necessidades especiais da mulher com problemas de consumo de álcool. Pretendemos com este poster sensibilizar para a importância deste tema muito actual e alertar para a necessidade de mais estudos científicos, de modo a podermos reestruturar e adequar os serviços de saúde para uma melhor eficácia terapêutica e apoio à mulher com problemas de consumo de álcool. P093 A PESSOA PARA ALÉM DO FUMO. REFLEXÃO COM BASE NA CONSULTA PARA REDUÇÃO DO RISCO TABÁGICO Miguel Trigo, Afonso Paixão; Isabel Ganhão; Eva Gonçalves; Patrícia Pedro Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Introdução: A promoção da saúde mental no contexto de um hospital psiquiátrico não se limita ao controlo da doença e das suas consequências na vida pessoal, social e comunitária. Impõem-se actuações eficazes e globais na protecção, manutenção e promoção da saúde. Estes serviços devem assumir a pessoa com doença mental como alguém capaz de participar activa e competentemente no tratamento da sua doença, no controlo dos comportamentos de risco, na integração psicossocial, na prevenção da recaída e na promoção da qualidade de vida. Apoiada numa urdidura teórica complexa, outrora definida 35 Sessões de Posters / Posters Sessions como antropocientífica, a saúde física, mental e social surge como o objectivo de intervenção das equipas multidisciplinares. Objectivo: Baseados em uma reflexão acerca do modelo desenvolvido na Consulta de Redução do Risco Tabágico (CRRT), do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, sugerem-se cinco princípios de actuação sobre os estilos de vida: (1) saúde, resiliência e auto-eficácia; (2) competência pessoal, auto-solução e auto-terapia; (3) matriz socio-grupal e experiência reabilitativa global; (4) segmentação da intervenção; (5) des-estigmatização. Conclusões: Na CRRT a prática da desabituação vai além do parar de fumar. Considera-se que a plena cidadania exige a garantia de acesso a cuidados diferenciados e planeados, tomando em atenção as características particulares destes utentes. Trata-se de uma experiência reabilitativa global que ocorre numa matriz sociogrupal e que resulta da activação da competência pessoal. O técnico de saúde surge como um facilitador do movimento de mudança e do processo de auto-terapia É um processo de des-estigmatização que resulta benéfico para todos os intervenientes. Para os utentes é a possibilidade de serem olhados como pessoas, sem o estigma do diagnóstico psiquiátrico e da dependência tabágica, para os técnicos é a oportunidade de transformar conceitos científicos com base na prática clínica. Para todos é a revigorante oportunidade de aceitar o desafio da mudança. P094 ALCOOLISMO FEMININO E DEPRESSÃO PSICÓTICA: CASO CLÍNICO Emanuel Filipe Santos, Carina Mendonça CHCBEIRA As consequências psicológicas e sociais do alcoolismo feminino são extremamente graves. A mulher tende a assumir a sua culpabilidade extrema, interioriza a reacção da sociedade acerca de si, e com frequência, detesta-se a si própria. Por sua vez, esta falta de respeito próprio dá lugar a uma perda de identidade que só agrava o problema. Apresentamos um caso clínico ilustrativo, colhido no nosso Serviço, de Depressão Major Severa, com sintomatologia psicótica - delírios de culpa, ruína, niilistas, e grandiosidade de conteúdo religioso, com grande incapacidade social e ocupacional, motivada pela culpabilidade crescente da doente face à sua dependência do álcool, e negligência familiar, após anos de negação do seu alcoolismo. P095 AQUÉM DA REPRESENTAÇÃO SUBJECTIVA DAS EMOÇÕES NAS TOXICODEPENDÊNCIAS: MITO OU EVIDÊNCIA? Marco Torrado, Sílvia Ouakinin Faculdade de Medicina de Lisboa A abordagem psicoterapêutica junto de grupos clínicos tendencialmente resistentes a um efectivo processo de mudança tem exigido um investimento no estudo de metodologias de avaliação dos recursos psicológicos indispensáveis a tal processo. O referencial cognitivodesenvolvimentista de compreensão da organização da experiência emocional tem promovido o entendimento do desenvolvimento afectivo enquanto dependente da capacidade de representar simbolicamente as emoções, bem como inspirado a investigação em torno das perturbações das representações subjectivas das experiências afectivas em vários ‘terrenos’ psicopatológicos. A literatura clínica tem salientado os défices expressivos e cognitivo-experienciais a nível emocional manifestados na população toxicodependente, em geral, não obstante a multiplicidade clínica do fenómeno, sendo frequentemente reconhecidos os percursos de consumos moduladores da experiência emocional e instrumentalizados na relação dificil de apaziguamento de afectos intoleráveis. Na sequência dos estudos da adaptação portuguesa da Escala de Níveis de Consciência Emocional (LEAS, de Lane & Schwartz) numa amostra de estudantes universitários (n=120), e tendo a mesma evidenciado boas propriedades psicométricas; propusemo-nos estudar um grupo de heroinodependentes e um grupo controlo de forma a avaliar os constructos ‘consciência emocional’ e ‘alexitimia’ que, embora conceptualmente inversos, parecem segundo a literatura internacional não se correlacionar de 36 Saúde Mental Mental Health modo significativo. Os dois grupos (n=26), homogéneos ao nível da idade, género e escolaridade, foram objecto de uma entrevista e da aplicação da LEAS e da Toronto Alexithymia Scale (TAS-20). Os resultados sugerem uma elevação dos níveis de alexitimia no grupo clínico e uma consciência emocional significativamente menor e menos diferenciada (U=22.5; W=113.5; p=.001), comparativamente ao controlo, em que os toxicodependentes parecem experienciar as emoções de forma predominantemente sensório-motora e enquanto tendências para a acção. Os resultados das duas metodologias correlacionaram-se negativamente, ainda que de modo não significativo, sugerindo que as mesmas avaliam constructos relativamente diferenciados, ainda que inversos (r=-.21, p>.01). Os resultados poderão trazer contributos para a discussão em torno da conceptualização dos projectos psicoterapêuticos a implementar com este grupo clínico, em função do nível de desenvolvimento da experienciação afectiva, não obstante serem necessários outros estudos e com amostras mais alargadas neste domínio. P096 BENZODIAZEPINAS E SINISTRALIDADE RODOVIÁRIA Telmo Coelho, Cátia Guerra, Márcia Mota Serviço Psiquiatria Hospital S. João - Unidade do Adulto e Idoso As benzodiazepinas (Bz) são um grupo de fármacos que, apesar de considerado relativamente seguro, tem alguns efeitos colaterais importantes que podem influenciar negativamente a aptidão para a condução de veículos. Em Portugal, tal como na generalidade dos países europeus, os acidentes de viação causam todos os anos milhares de mortes, constituindo um importante problema de saúde pública. Muito caminho foi percorrido relativamente à problemática da condução sob o efeito do álcool e de drogas consideradas ilícitas, resultando numa grande redução da sinistralidade em Portugal desde a década de 90. No que diz respeito à regulamentação relativa à condução sob o efeito de drogas lícitas e sujeitas a prescrição médica, tal como as Bz, ainda existe uma grande lacuna. Este facto aliado à crescente procura de medicamentos com actividade psicotrópica em Portugal faz com que estes fármacos, para além de serem uma solução terapêutica eficaz se possam, também, revelar um importante problema de saúde pública. Estudos epidemiológicos realizados em vários países indicam que os condutores que estão sob o efeito de Bz têm um risco mais elevado de estarem envolvidos num acidente de viação. A análise relativa do risco de culpabilidade pelo acidente nestes condutores, quando tomam Bz isoladamente, é controversa. Contudo, é bem claro que o uso concomitante de Bz com outras substâncias psicotrópicas, mais frequentemente o álcool e a cannabis, aumentam exponencialmente o risco de responsabilidade pelo acidente, muito para além do já existente com o consumo isolado das últimas. A solução para este problema passará, para além de outras medidas, por uma política eficaz de controlo à berma da estrada, pela existência de legislação que exija a presença de prescrição médica em condutores com rastreios de Bz positivos e por uma maior sensibilização dos profissionais de saúde e dos utentes relativamente aos efeitos que a utilização prolongada destes fármacos pode ter na saúde pública dos portugueses. P097 CORES QUE SE PODEM TOCAR – UMA REVISÃO SOBRE DROGAS ALUCINOGÉNICAS Patrícia Pedro, Adriana Moutinho Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Os alucinogénios são drogas que permitem experimentar alterações sensoriais e perceptivas que são usadas há centenas de anos, nomeadamente em rituais místicos e religiosos. Em 1960 com o aparecimento do LSD (Lysergic acid diethylamide), o consumo de alucinogénios massificou-se. Actualmente continua a ser uma das drogas de abuso mais utilizada entre os jovens, apenas ultrapassada pelo álcool e pela marijuana. Existem diversas perturbações que podem ser induzidas pelos alucinogénios, nomeadamente: a perturbação persistente da percepção por alucinogénios, perturbações psicóticas, perturbações Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 do humor e da ansiedade. Neste trabalho, propomo-nos fazer uma revisão das drogas alucinogénicas, bem como das principais patologias psiquiátricas que a elas se podem associar. P098 COMPLICAÇÕES PSIQUIÁTRICAS DECORRENTES DO CONSUMO DE ÁLCOOL: SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA ALCOÓLICA Miguel Esteves-Pereira, Raquel Ribeiro-Silva; Hernâni Carqueja; Gaspar de Almeida Serviço de Psiquiatria do CHVNG/E; Serviço de Psiquiatria do CHVNG/E, Serviço de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina, Universidade do Porto; Centro de Atendimento a Toxicodependentes da Foz, Instituto da Droga e da Toxicodependência, I.P; Unidade de Alcoologia do Norte, Instituto da Droga e da Toxicodependência, I.P. Introdução: A dependência do álcool é uma patologia neurocomportamental com graves repercussões clínicas, sociais e político-económicas. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, as mortes e as incapacidades decorrentes do consumo de álcool totalizarão 4,0% do peso global das doenças, existindo um alcoólico por cada dez pessoas que tenham consumido bebidas alcoólicas alguma vez na vida. Este rácio parece ser congruente com a realidade portuguesa, cujos relatórios oficiais apontam que cerca de 10% da população apresenta graves incapacidades ligadas ao consumo imoderado do álcool. Destes, 50% apresentará síndrome de abstinência alcoólica (SAA). Objectivo: Neste poster os autores propõem-se a fazer uma revisão das principais complicações psiquiátricas secundárias à SAA, suas características, diagnóstico e orientação clínica. Além disso, propõe-se a caracterizar outras condições psiquiátricas associadas à dependência de álcool como as síndromes de Wernicke Korsakoff e de Marchiava Bignami. Metodologia: Revisão da literatura actual no que respeita às complicações psiquiátricas secundárias à SAA. Discussão: A SAA é um quadro agudo, caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas autolimitados, insidiosos e pouco específicos, como agitação, ansiedade, alterações de humor (disforia), tremores, náuseas, vómitos, taquicardia e hipertensão arterial. Tais sintomas podem ter diferente gravidade e são secundários à interrupção total ou parcial do consumo de álcool, podendo ainda estar associados a vários problemas clínicos e/ou outras perturbações psiquiátricas. Estes sintomas são responsáveis por um aumento significativo na morbilidade e mortalidade associados ao consumo de álcool. As principais complicações psiquiátricas secundárias à SAA são as comuns convulsões e o, mais grave e raro, delirium tremens. Conclusão: São aqui expostas as bases para o reconhecimento das complicações psiquiátricas decorrentes do consumo crónico de álcool, pretendendo-se auxiliar no diagnóstico precoce e tratamento adequado, num esforço de minimizar a morbilidade e a mortalidade associadas a tais complicações. P099 ALCOOLISMO NO FEMININO: ANÁLISE DE 5 ANOS Margarida Duarte, Cláudio Laureano Hospital de Santo André, Leiria A prevalência do alcoolismo entre as mulheres ainda é significativamente menor que a encontrada entre os homens, apesar do incremento que se tem verificado. Contudo, o consumo abusivo e/ou a dependência alcoólica traz, reconhecidamente, inúmeras repercussões negativas sobre a saúde física, psíquica e social da mulher, bem como das suas famílias. O presente estudo tem como objectivo conhecer alguns aspectos epidemiológicos e da história natural e evolutiva da doença alcoólica nos indivíduos do sexo feminino internados entre 2005 e 2009 no serviço de Psiquiatria do Hospital de Santo André, Leiria. Nesse sentido procedeu-se à análise dos respectivos processos clínicos (n=71) com diagnóstico de Abuso ou Dependência alcoólica, a qual visava o preenchimento de um inquérito por doente com base nas informações colhidas em cada processo (internamentos e consultas). Através do presente estudo são apresentados e discutidos vários resultados, entre os quais cerca de 61% das doentes internadas tinham entre 35 e 54 anos de idade, 42% são domésticas, 64% são Sessões de Posters / Posters Sessions casadas, apura-se disfunção familiar em 35% dos casos analisados, 24% referem que o companheiro também sofre de hábitos alcoólicos imoderados. Cerca de 15% das mulheres iniciou o consumo de bebidas alcoólicas com mais de 35 anos de idade, sendo que a maioria o faz em casa e sozinhas. 76% das doentes internadas nestes anos já tinham realizado tratamento (ambulatório e/ou internamentos) e apenas 23% não apresentavam outro diagnóstico Psiquiátrico, sendo que 58% sofria também de Perturbação Depressiva. 45% de todas as doentes apresentavam já outras comorbilidades médicas associadas ao alcoolismo. De facto, o conhecimento de várias particularidades do alcoolismo entre as mulheres é fundamental para a compreensão de vários problemas clínicos apresentados pelas doentes. Além disso, permite uma intervenção psicoterapêutica mais correcta e uma melhor argumentação para a adesão das doentes à terapêutica. P0100 PERTURBAÇÃO PSICÓTICA INDUZIDA POR SUBSTÂNCIA: REVISÃO A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO José Daniel Rodrigues, João Campos Mendes; Ângela Venâncio; Georgina Lapa Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho Entre as substâncias ilegais mais consumidas a nível mundial encontramos a cannabis e os alucinogénios, as quais constam do diagnóstico de Perturbação Psicótica Induzida por Substância, do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 4ª edição, Texto revisto. A propósito de um caso clínico, os autores propõem-se alertar para a importância de, perante um episódio psicótico, excluir o consumo de substâncias ilícitas, que pode estar na sua origem. Abordam igualmente as estratégias terapêuticas a adoptar perante um doente que apresente sintomas psicóticos no contexto de consumo de substâncias ilícitas. P0101 EFEITOS AGUDOS DO ÁLCOOL NO COMPORTAMENTO SEXUAL Adriana Moutinho, Gonçalo Jorge; Alice Varanda Pereira Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa; Centro Hospitalar Lisboa Central A crença de que o álcool pode conduzir a comportamentos sexuais de risco e/ou inadequados é mais ou menos unânime. Mas será que se pode falar em causalidade? Vários estudos, com diferentes metodologias, têm sido desenvolvidos ao longo das últimas décadas no sentido de perceber a relação entre o álcool e os comportamentos e função sexuais. Dos diversos conhecimentos que se têm adquirido destacam-se os efeitos do álcool ao nível do processamento cognitivo, tendo por base o Modelo do Conflito de Resposta ou Modelo da Miopia do Álcool, bem como o efeito das expectativas. Investigação futura é essencial, particularmente tentando colmatar as falhas e limitações dos estudos já realizados. Risco e Prevenção de Suicídio P0102 TOXICODEPENDÊNCIA E SUICÍDIO – ESTUDO RETROSPECTIVO Ana Proença Martins, Alzira Silva; Margarida Pinho; Georgina Samico Hospital São João; IDT-Unidade de Desabituação do Norte A impulsividade desempenha um importante papel nos comportamentos suicidários e no consumo de tóxicos. Neste contexto, torna-se importante averiguar o risco de suicídio na população toxicodependente e possíveis factores de risco e protectores. Os objectivos das autoras foram: determinar prevalência de ideação suicida actual ou passada numa amostra da população toxicodependente; determinar prevalência de história de comportamentos suicidários na mesma amostra; estudar relação com variáveis sociodemográficas e clínicas. A amostra consistiu em indivíduos toxicodependentes, internados na Unidade de Desabituação do Norte (IDT - Instituto da Droga e das Toxicodependências) para tratamento de desintoxicação em regime de internamento completo, com admissão de Maio de 2010 a Julho de 2010 (n=119). A recolha de dados foi feita através da consulta dos processos de internamento dos doentes. Realizou-se tratamento 37 Sessões de Posters / Posters Sessions estatístico dos dados. Os resultados obtidos foram: 18,5% (n=22) já tiveram ideação suicida pelo menos uma vez na vida; 2,5% (n=3) apresentaram ideação suicida durante o período de internamento; 10,9% (n=13) têm antecedentes de tentativa de suicídio. Estudos indicam que, na população geral, a existência de ideação suicida ao longo da vida é de 10-18% e a história de tentativa de suicídio é de 3-5%. Na amostra estudada, a história de ideação suicida ao longo da vida está ligeiramente aumentada (18,5%) e a história de comportamentos suicidários está francamente aumentada (10.9%). Estes dados apontam para um maior risco de suicídio na população toxicodependente, com maior tendência para passagem ao acto, traduzindo uma elevada impulsividade desta população. P0103 DEPRESSÃO E SUICÍDIO: CONHECIMENTOS E ATITUDES DOS PORTUGUESES Susana Costa, Sónia Quintão; Ricardo Gusmão Faculdade de Ciências Médicas - UNL Introdução: Os preconceitos, o estigma, o medo e o défice de conhecimentos sobre depressão e suicídio podem diminuir o acesso da população aos cuidados de saúde e contribuir para que a depressão não seja tratada e a suicidalidade não seja evitada. Objectivos: Conhecer os comportamentos e atitudes dos portugueses face à depressão e suicídio, criando uma linha de base sobre o que as pessoas entendem por depressão, suicídio, tratamentos e intervenções. Método: No âmbito dos projectos European Alliance Against Depression (EAAD), em 2009, e Optimised Suicide Prevention programs and their Implementation in Europe (OSPI), em 2010, foram realizados censos telefónicos a duas amostras totalizando 1450 habitantes dos concelhos de Cascais, Oeiras, Odivelas, Amadora. Foram utilizados os questionários Attitudes Towards Suicide (Renberg & Jacobsson, 2003), Depression Stigma Scale (Griffits, et al., 2004), Attitude Toward Seeking Professional psychological Help, Short Form (Fischer & Farina, 1995) e Mental Health Inventory (MHI-5). Resultados: São apresentadas as crenças e atitudes que revelam maior estigma e as que se apresentam como as mais adequadas e apresentam-se os resultados a nível geral, por grupos específicos com e sem sofrimento psicológico e por características sócio-demográficas. Conclusões: Retiram-se conclusões sobre as opiniões patentes na população e infere-se sobre os conteúdos adequados a englobar em campanhas públicas de prevenção na área da depressão e suicídio, sendo as principais ideias a divulgar que a depressão tem tratamento, pode atingir qualquer pessoa em qualquer momento e que é uma doença real. P0104 A SOMBRA DAS PALAVRAS NA HORA DO DIABO – CASO CLÍNICO DE SUICÍDIO FRUSTRADO NO IDOSO Sofia Caetano, Nuno Cunha Hospital São Teotónio EPE Introdução: O envelhecimento da população é uma realidade no nosso país, com o padrão suicidário mais idoso de toda a Europa. Nesta faixa etária acumulam-se perdas e coabitam a depressão, alcoolismo e dor crónica. No entanto, o suicídio é sempre um fenómeno multifactorial em que as relações sociais assumem um papel preponderante. Caso: Idoso de 87 anos, viúvo há 4 anos, a residir com a filha, reformado, sem antecedentes psiquiátricos, que efectua uma tentativa de suicídio com ingestão de herbicida. Para além dos diversos factores de risco e protectores de suicídio identificados, evidenciam-se as longas conversas com os seus pares -“os meus únicos momentos de alegria” (sic) -, tendo como temática o suicídio - “as nossas cismas”(sic)- na serenidade de um banco de jardim. Conclusões: As redes de apoio social tem um particular relevo no suicídio nos idosos, tornando a sua contextualização essencial para a compreensão dos comportamentos suicidários. 38 Saúde Mental Mental Health P0105 A (IN)DEFINIÇÃO DOS COMPORTAMENTOS SUICIDÁRIOS Carina Mendonça, Sonia Bessa CHCBEIRA; CHCBEIRA A temática do suicídio depara-nos com a dificuldade em definir, delimitar e operacionalizar os comportamentos suicidas. É um tema gerador de dúvida e interesse, desafio e aversão, curiosidade e estranheza no ser humano, levando ao desenvolvimento de diferentes tentativas de compreensão do mesmo à luz de disciplinas como a Filosofia, Religião, Sociologia e Psicologia. Desta forma, é usual encontrarmos associados ao suicídio conceitos como: “suicídio consumado”, “suicídio frustrado”, “tentativa de suicídio”, “para-suicídio”, “auto-mutilação”; “gestos autodestrutivos”; “comportamentos de alto risco”, “comportamentos auto-lesivos”. Perante esta dificuldade conceptual e num esforço de sistematização da própria definição da Organização Mundial de Saúde, MacNeil apresenta quatro factores que parecem comuns e consensuais para definir uma morte como “suicídio”. Primeiro, o acto tem de ser letal ou potencialmente letal; segundo, o acto tem de ser executado pelo próprio; terceiro, a pessoa que o realiza tem de ter relativa consciência sobre a potencial letalidade do acto (embora a doença mental e a intoxicação não sejam critérios de exclusão); e, por fim, o acto tem de ser iniciado com o objectivo expresso de causar dano. Outro aspecto importante para a prática clínica e que contribui para esta dificuldade conceptual, é o facto de a ideação e/ou intenção suicida tender a ter um curso flutuante e raramente ser um estado cognitivo estático. Este trabalho pretende fazer uma revisão pertinente sobre esta temática e avaliar de que forma uma única definição nosológica poderá contribuir para uma melhor avaliação do risco suicida e comportamento suicidários e, nesse sentido constituir uma forma de prevenção. P0106 RISCO DE SUICÍDIO NAS PRISÕES: DIFERENÇAS CLÍNICAS E DE NECESSIDADES ENTRE HOMENS E MULHERES EM RECL Miguel Talina; Ana Margarida Cardoso; Sara Ribeiro; Ana Paixão; Filomena Fortes; José Miguel Caldas de Almeida; Miguel Xavier Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Médicas, Departamento de Saúde Mental; Hospital Prisional São João de Deus Introdução: Em Portugal o suicídio representa a segunda causa de morte nas prisões. A avaliação do risco e de outros determinantes associados são aspectos essenciais para a prevenção do suicídio. Objectivos: Identificar diferenças clínicas e necessidades nos reclusos de ambos os sexos com maior risco de suicídio. Métodos: Foi conduzido um estudo observacional e transversal entre Abril 2009 e 2010 nos Estabelecimentos Prisionais de Caxias e Tires e do Hospital Prisional São João de Deus. Foi seleccionada uma amostra de conveniência constituídas por todos os reclusos, de ambos os sexos, que se encontravam em acompanhamento psiquiátrico no período do estudo. Para a colheita dos dados utilizaram-se os seguintes instrumentos: questionário sociodemográfico e BPRS 4.0, MINI 5.0.0., GAF e o Camberwell Assessment of Need - Forensic Version (CANFOR). O risco de suicídio foi avaliado através da secção C do MINI 5.0.0.. Resultados: A amostra foi composta por 35 mulheres (mediana de idade: 32) e 79 homens (mediana de idade: 36). Os homens apresentaram uma maior frequência de risco moderado/elevado de suicídio (n= 29) em relação às mulheres (n= 10). A avaliação destes reclusos revelou diferenças significativas entre os dois sexos: a pontuação da escala do BPRS “sentimentos de culpa” e o número de necessidades não satisfeitas foi superior nos homens. Nos homens, os domínios mais frequentes de necessidades não satisfeitas foram o relacionamento sexual, os benefícios sociais e o sofrimento psicológico enquanto que nas mulheres foram o sofrimento psicológico, os benefícios sociais e os contactos sociais. Conclusão: O risco de suicídio nos reclusos do sexo masculino parece estar significativamente associado à ideação de culpa e a um maior nível de necessidades não satisfeitas em relação às mulheres. A avaliação de necessidades psicossociais poderá ter um impacto positivo na prevenção do suicídio nas prisões. Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 P0107 ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO DO SUICÍDIO BASEADAS NA EVIDÊNCIA Alexandra Alves, Nuno Rodrigues Hospital Magalhães Lemos; ACES VII Porto Oriental Introdução: O suicídio é um fenómeno complexo, sendo múltiplos os factores que contribuem para a suicidalidade. Pela sua dimensão e impacto na sociedade, o suicídio constitui um problema de Saúde Pública e a sua prevenção assume um papel primordial. Objectivos: Apresentar informação resultante da investigação na área da prevenção do suicídio. Sensibilizar para a importância da investigação neste domínio, salientando a relevância da implementação de abordagens de prevenção baseadas na evidência. Material e métodos: Revisão da literatura através da pesquisa nos principais motores de busca da literatura médicocientífica, nomeadamente a Medline, PsychInfo e Cochrane Library, tendo sido introduzidas como palavras-chave “suicide”, “prevention”, “depression” e “epidemiology”. Resultados: As estratégias que mostraram evidência de maior eficácia na prevenção do suicídio incluem: Intervenções destinadas à melhoria da capacidade de diagnóstico e tratamento das perturbações mentais; Campanhas de informação sobre as perturbações mentais; Intervenções junto de pessoas-chave na comunidade e grupos de risco; Diminuição do acesso a meios de suicídio. Conclusões: As intervenções destinadas à prevenção do suicídio que compreendem vários níveis são consideradas as mais eficazes. A investigação em suicidologia é fundamental para a melhoria das estratégias de prevenção e do planeamento em saúde. P0108 O GERMINAR DE UM DELÍRIO Maria Miguel Brenha, Filipa Sá Carneiro; Pedro Teixeira Hospital Magalhães Lemos; Centro Hospitalar do Porto; CHMA - Centro Hospitalar do Médio Ave Introdução: Um estado depressivo no decorrer de um luto complicado por sentimento de culpa pode estar na génese de subsequente formação deliróide. A partir da descrição de Alonso-Fernandez do processo de estruturação deliroíde, os autores procuram enfatizar o contributo da convicção delirante na adopção de comportamentos para-suicidários. Caso Clínico: Mulher de 37 anos, sem antecedentes pessoais psiquiátricos, deu entrada no SU por comportamento suicidário com arma branca em contexto delirante. O quadro psicopatológico terá tido início 3 meses antes, altura em que o seu pai faleceu. O sentimento de culpa aliado a crenças, ideias sobrevalorizadas e sintomatologia depressiva conduziram a doente a espiral de interpretações delirantes que culminaram na convicção de que o pai estaria dentro de si. A doente referia ainda ouvir vozes de comando que ordenavam que libertasse o pai. Num acto de obediência esfaqueou o abdómen. Cerca de um mês após a alta, soube-se que a doente estava grávida e que já o estaria na altura do internamento. Descrevese como a gravidez da doente, ainda em decurso, foi determinante para o agravamento do quadro psicopatológico. Conclusão: O caso clínico apresentado é exemplo de como estados emocionais em determinados contextos vivenciais/culturais se podem envolver num processo de convicção delirante e estruturar-se em ideias deliróides. Mas não foi esta apenas uma tentativa exasperada de perpetuar a existência do pai? Estará subjacente um delírio de paternidade não confessado? Conseguirá o momento do parto ser prova suficiente do real? E poderá a criança escapar a tão duro legado? Não podemos ainda deixar de notar a coincidência quase irónica entre a ideia deliróide fulcral e o desvendar da realidade. Será possível saber sem efectivamente saber? Perturbações da Personalidade P0109 PERTURBAÇÃO BORDERLINE DA PERSONALIDADE E VINCULAÇÃO: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Filipa Sá Carneiro, Maria Miguel Brenha; Júlio Brandão; Otilia Queirós Sessões de Posters / Posters Sessions Centro Hospitalar do Porto; Hospital Magalhães Lemos Introdução e Objectivos: A Perturbação Borderline da Personalidade (PBP) desenvolve-se a partir da combinação de múltiplos factores, nomeadamente vulnerabilidade genética, experiências traumáticas e desorganização das relações interpessoais. Sabe-se que separações da mãe, de duração superior a um mês até aos 5 anos de idade estão associadas a PBP na adolescência e idade adulta. Cumulativamente, a doença mental nas mães pode interferir no desenvolvimento da criança e levar a vinculações mãe-filho desorganizadas, com aumento dos comportamentos auto-líticos na mãe e alto risco de autoagressividade na idade adulta para o filho. Apresenta-se um caso clínico de mulher com PBP, ilustrativo de separação mãe-filha por tempo prolongado. Pretende-se com este trabalho salientar a contribuição da vinculação para a formação da personalidade e fazer uma revisão teórica dos modelos de intervenção precoce em crianças em risco de desenvolverem este tipo de perturbação. Caso Clínico: Mulher, 26 anos, casada, 1 filha de 3 meses, diagnosticada com PBP, com 6 internamentos prévios em psiquiatria. Internada a 30/03/2010 por descompensação com humor fortemente deprimido, angústia marcada, aumento da tensão conjugal e comportamentos auto-líticos. Foram autorizadas visitas da família e licenças de ensaio, mas durante todo o tempo de internamento demonstrou relutância em estar com a filha. Permaneceu internada 52 dias. Discussão e Conclusão: Apesar da PBP ser um diagnóstico predominantemente da idade adulta, desenvolve-se a partir de determinados precursores que incluem representações mentais da infância. Segundo Bowlby, a adaptação é sempre o produto conjunto da história do desenvolvimento e das circunstâncias envolventes. As experiências precoces não causam psicopatologia de forma linear, mas têm um papel significativo pela natureza sistémica e complexa do desenvolvimento. A intervenção precoce na díade mãe-filho pode permitir uma maior securização da mãe com PBP, com alteração dos modelos representativos na criança. P0110 ASPECTOS NEUROBIOLÓGICOS DA PERTURBAÇÃO BORDERLINE DA PERSONALIDADE João Fernandes, Francisco Dinis; João Data Franco; Paula Godinho Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental; Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa; Hospital de Santa Maria, CHLN A Perturbação “Borderline” da Personalidade (PBP) é uma perturbação psiquiátrica grave com uma prevalência vitalícia estimada em 5,9%. Estudos com gémeos evidenciam uma hereditariedade de 49-69%. Nos últimos anos, o conhecimento acerca dos mecanismos neurobiológicos subjacentes à PBP tem-se desenvolvido rapidamente. Os autores realizaram uma revisão da literatura focada nos contributos mais recentes e relevantes para a compreensão dos aspectos neurobiológicos desta perturbação. Para tal, efectuaram uma pesquisa na “Medline” utilizando a associação da expressão “Borderline Personality Disorder” com as seguintes palavras-chave: “Genetics”, “Neurobiology”, “Biology”, “Neuroimaging”, “Imaging” e “Mechanisms”, restrita ao período de 2000 a 2010. Os estudos genéticos evidenciam o papel que os genes reguladores dos sistemas serotoninérgico e dopaminérgico poderão desempenhar, nomeadamente na desorganização da vinculação e na agressividade, respectivamente. Diferentes sistemas neurobiológicos parecem estar implicados nas manifestações da PBP, como a desregulação do eixo hipotálamohipofisário-suprarrenal, com implicações na vulnerabilidade ao stress característica da perturbação, e alterações no sistema opióide endógeno, que poderão ter reflexo nos comportamentos auto-agressivos da PBP. Do ponto de vista neuroimagiológico, observa-se consistentemente uma redução do volume do hipocampo em doentes com PBP; de forma menos consistente mas considerável, foram demonstradas alterações do volume amigdalino; a redução dos volumes do córtex orbito-frontal e córtex cingulado anterior parecem ser marcadores precoces da perturbação. Em diversos estudos de neuroimagem funcional foram replicados os achados de hiper-reactividade amigdalina conjuntamente com hipoactividade pré-frontal, apoiando o modelo de disfunção da inibição frontolímbica. Até ao momento, o estudo 39 Sessões de Posters / Posters Sessions da neurobiologia da PBP tem-se focado essencialmente na investigação dos sintomas nucleares isolados desta perturbação e menos na inter-relação entre estes, dificultando a validação neurobiológica desta entidade diagnóstica. No entanto, prevê-se que o conhecimento aprofundado da neurobiologia da PBP permitirá no futuro desenvolver estratégias de intervenção farmacológica e psicoterapêutica mais eficazes no tratamento dos aspectos sintomáticos e estruturais que caracterizam esta perturbação. P0111 PSEUDOLOGIA FANTÁSTICA: REVISÃO A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Joana Mesquita Hospital de Braga Introdução: A Pseudologia Fantastica (PF) é uma entidade psiquiátrica pouco estudada e frequentemente mal compreendida pela maioria dos médicos e restantes técnicos de saúde. Terá sido descrita pela primeira vez no final do século XIX, por um psiquiatra Alemão. Posteriormente os termos mitomania e mentira patológica passaram a ser usados como sinónimos de PF. Objectivos: Para além de rever a literatura existente acerca da PF, pretende-se tentar perceber qual o lugar desta num dos sistemas classificativos diagnósticos da actualidade (DSM-IV-TR) e apresentar o caso clínico de uma adolescente com PF. Resultados: A PF inicia-se frequentemente durante a adolescência e a sua apresentação clínica é habitualmente bastante uniforme entre os diversos doentes. As características centrais incluem uma tendência evidente para a mentira, sendo esta tanto quantitativa como qualitativamente distinta da mentira “normal”. Em vez da mentira ser direccionada a um objectivo concreto, surge sem qualquer motivo externo óbvio e encontra-se frequentemente associada a motivações internas (intra-psiquicas), que constituem uma espécie de gratificação por si só. O único diagnóstico existente no DSM-IV-TR que tem em conta a falsificação de factos sem motivo aparente como uma das principais características psicopatológicas é a Perturbação Factícia (Eixo I). No entanto, é indiscutível que algumas Perturbações da Personalidade (Eixo II) deverão ser consideradas como possíveis (e prováveis) comorbilidades de PF. Conclusões: Apesar de casos de PF serem considerados como bastante raros, estes têm sido descritos em todo o mundo. É indubitável a necessidade de serem publicados mais estudos de casos e revisões acerca desta entidade, de modo a definir o seu papel nos sistemas diagnósticos actuais e futuros. É obrigatório um maior conhecimento das suas inúmeras consequências médicas, sociais e legais. P0112 PERTURBAÇÕES DA PERSONALIDADE EM HOSPITAL DE DIA - O PROGRAMA TERAPEUTICO E A ADAPTAÇÃO SOCIO-PROFISSIONAL Fialho, Teresa, Godinho, Paula; Centeno, Maria João Hospital de Dia do Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do Departamento de Neurociências do Hospital de Santa Maria/CHLN Objectivos: Avaliação dos benefícios do Programa de Tratamento em Hospital de Dia para um grupo de diagnóstico heterogéneo, constituído por 50% de Perturbações de Personalidade Borderline (PBL), com base na análise dos resultados da flexibilidade cognitiva e integração sócio-profissional. Método: O Programa de Hospital de Dia estruturado com base no modelo grupanalítico e psicanalítico tem a duração máxima de 12 meses e está organizado em 3 fases de 4 meses. Foram estudados 20 doentes com perturbações ansiosas, afectivas e psicóticas, em comorbilidade com perturbação da personalidade (DSM IV-TR). Os pacientes foram avaliados à data de admissão e de alta quanto à sintomatologia, funcionamento global, qualidade de vida, flexibilidade cognitiva e re-integração sócio-profissional. Resultados: Os pacientes que participaram do Programa Terapêutico do Hospital de Dia apresentaram à data da alta benefícios relevantes com melhorias a nível sintomático, na flexibilidade cognitiva e na (re)integração sócio-profissional. Conclusão: A estrutura do Programa de Hospital de Dia é útil na promoção da 40 Saúde Mental Mental Health re-integração sócio-profissional dos utentes em geral, incluindo o sub-grupo de doentes com perturbação da personalidade. P0113 SÍNDROME DE MÜNCHAUSEN - A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Regina Carvalho Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra A Síndrome de Münchausen, subtipo de Perturbação Factícia, é uma entidade clínica caracterizada pelo fingimento, ampliação ou produção voluntária de sintomas predominantemente físicos com o propósito de assumir o papel de doente (sick role). Pela sua natureza, é difícil de diagnosticar, sendo a sua verdadeira prevalência provavelmente subestimada pela literatura clínica. Por outro lado, quando não identificada e não tratada, frequentemente constitui-se numa síndrome crónica de elevados custos e riscos para o doente e para os serviços de saúde a que acorre. Pretende-se aqui expor um caso clínico de Psiquiatria de Ligação e reflectir sobre as hipóteses de abordagem terapêutica, alertando para a importância do diagnóstico de Síndrome de Münchausen e para a complexidade da decisão clínica num caso desta natureza. P0114 MUNCHAUSEN: QUANDO AS APARÊNCIAS ENGANAM Bruno Coutinho, Paula Felgueiras; Marisa Torres; Aníbal Fonte Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental, Unidade Local de Saúde do Alto Minho, Viana do Castelo, Portugal; Departamento de Medicina Interna, Unidade Local de Saúde do Alto Minho, Viana do Castelo, Portugal Introdução: O síndrome de Munchausen é a variante mais grave e crónica da perturbação factícia. Os pacientes simulam e/ou exacerbam sintomas de uma forma crónica para serem hospitalizados ou sujeitos a intervenções médicas invasivas. Caso Clínico: Mulher de 38 anos. Internada em Medicina por mielite transversa por trombose venosa da medula D5-D7 sequelar a sépsis de ponto de partida de cateter venoso central. Bombeira, saudável até aos 24 anos de idade, altura em que lhe é diagnosticado Síndrome de Webber-Christian (paniculite nodular crónica, recidivante), submetida a enxerto na face externa da coxa esquerda. Depois desenvolve anemia microcítica e hipocrómica desde 2008 cuja causa inicial considerou-se ser uma úlcera rectal, (submetida a sigmoidectomia e rectopexia); na altura teve recuperação hematológica completa, mas posteriormente, teve reaparecimento de anemia, pelo que foi submetida a vários exames complementares de diagnóstico, todos mostraram-se inconclusivos; desde há cerca de 1 ano é submetida a transfusões de Concentrados Eritrocitários semanalmente; no início deste ano teve necessidade de cateter venoso central (CVC) por maus vasos periféricos. Então desenvolve vários quadros de sépsis por S.aureus e é notado que sempre que está internada e vigiada, tem recuperação hematológica. Pelo que se levantou a suspeita de ela própria manipular o cateter. Actualmente paraplegia (nível de sensibilidade de D7) e quando lhe foi dito que provavelmente não existia possibilidade de recuperação neurológica, paradoxalmente ela ficou contente e disse “já sabia”. Foi-lhe retirado o CVC, e colocados acessos periféricos que ela retira e pede para lhe ser colocado novo cateter central. Colocou-se a hipótese de Munchausen. Discussão: Este síndrome de difícil diagnóstico foi estabelecido apenas ao fim de vários anos e após o cruzamento de informação de várias especialidades. Infelizmente, como neste caso, muitos pacientes recusam a ajuda psiquiátrica e deixam o hospital antes de o diagnóstico ser realizado. Psicoterapias P0115 O INSUCESSO NUM HOMEM DE SUCESSO (CASO CLÍNICO) Cristina Coelho, Zélia Figueiredo Hospital Magalhães de Lemos Tópicos: Casamento não consumado; intimidade. Objectivos: Re- Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 enquadramento / redefinição do problema sexual de um doente do sexo masculino (casamento não consumado por disfunção eréctil) na dinâmica do casal. Significado do insucesso sexual no funcionamento individual do paciente. Desenho e método: Doente do sexo masculino, 27 anos de idade, com formação académica do ensino superior, bem sucedido profissionalmente e a viver maritalmente há 4 anos (casamento não consumado), a quem se efectuou: Avaliação Psicológica: (Minnesota Multiphasic Personality Inventory – 2 (MMPI-2); Self-esteem and relationship questionnaire (SEAR); Índice Internacional de Função Eréctil (IIEF)); Terapia Sexual e Terapia de Casal. Resultados: O paciente apresentava traços narcísicos de personalidade e padrão global de funcionamento rígido, que se foi atenuando ao longo da Psicoterapia. Procedeu-se ao reenquadramento da queixa sexual numa dinâmica disfuncional sistémica (casal), com evolução positiva. O casamento acabou por se consumar. Conclusões: Nesta situação de casamento não consumado, não foi suficiente uma terapia sexual dirigida ao tratamento da disfunção eréctil. Pode-se interpretar a queixa inicial, como um mecanismo de defesa num contexto disfuncional mais vasto que inclui a dinâmica do casal e o medo da intimidade relacional. Este caso revelou-se como um exemplo da complexidade que envolve a sexualiadade humana. P0116 TRAUMA E ARTE TERAPIA: UM ESTUDO DE CASO Carina Rafael Hospital Sao Joao Este estudo foi realizado pelo Gabinete de Arte Terapia do Serviço de Psiquiatria do Hospital São João, fruto da necessidade de criar novos métodos para o tratamento efectivo e duradouro de vitimas de trauma grave e/ou múltiplo. O objectivo deste estudo está em apresentar as mudanças que ocorreram no estado mental de uma paciente no decorrer de um processo psicoterapêutico que recorre ao uso do processo artístico como principal meio de comunicação. Este estudo foi realizado com uma paciente de 54 anos diagnosticada com Perturbação de Stress-Pós-Traumático, vitima de abuso sexual e violência doméstica na infância e adolescência assim como de outros traumas e doenças psicossomáticas graves no decorrer da idade adulta. Este estudo é o resumo de um ano de terapia, uma análise e avaliação do estado de evolução e transformações na paciente, da transferência e contratransferência no decorrer do processo psicoterapêutico. Este estudo demonstra que ocorreram melhorias significativas no estado mental da paciente, uma diminuição significativa dos sintomas, como pesadelos e ‘flashbacks’. Uma melhoria na qualidade do sono, vida sexual, relações familiares e sociais assim como uma diminuição na necessidade de recurso a terapêutica medicamentosa, que se estabelece após 20 sessões e se mantém 1 ano após o inicio do processo psicoterapêutico. O estabelecimento de uma aliança terapêutica na qual a terapeuta e o processo artístico funcionaram como um objecto capaz de conter e transformar experiencias devastadoras, permitiram à paciente a integração de partes negligenciadas, um restabelecimento e reparação da relação com o ‘self’ e mundo externo. Sendo este um estudo baseado na subjectividade inerente a um processo psicoterapêutico desta natureza, onde se trabalha sobre os princípios da incerteza e relatividade, pode ser considerado um mito sem evidência, e aí talvez tenhamos que questionar onde está o mito na evidência e a evidência no mito. P0117 NEUROIMAGEM EM PSICOTERAPIA PSICODINÂMICA Filipe Arantes-Gonçalves, Rui Coelho Centro Hospitalar da Cova da Beira; Hospital de São João Recentemente tem-se assistido a um progressivo estreitamento na relação entre mente e cérebro. Um bom exemplo disso é o estudo por métodos de neuroimagem das psicoterapias. Este trabalho tem como objectivo apresentar a investigação mais recente com métodos de neuroimagem funcional das psicoterapias psicodinâmicas. Assim sendo, serão apresentados sob a forma de revisão um conjunto de estudos longitudinais e respectivas metodologias no que se refere Sessões de Posters / Posters Sessions a várias patologias tais como: a depressão atípica, a depressão dupla, os estados mistos, a perturbação de pânico, a perturbação de personalidade borderline, a depressão major unipolar e um estudo sobre activação do sonho durante a psicoterapia psicodinâmica. A investigação neuroimagiológica sobre as alterações cerebrais que são responsáveis pelas mudanças clínicas induzidas pelas psicoterapias psicodinâmicas pode contribuir para uma conceptualização mais integrada sobre os mecanismos de acção destes tratamentos considerados como unicamente “psicológicos”. P0118 A TERAPIA FAMILIAR EM CONTEXTO DE INTERNAMENTO PSIQUIÁTRICO - A PROPÓSITO DE TRÊS CASOS CLÍNICOS Cristina Pablo, Elisabete Frade; Maria Chai; Jose Oliveira; Filipe Vicente; Carlos Lacerda Centro Hospitalar Psiquiatrico de Lisboa Objectivo: O estudo da dinâmica familiar dos doentes com patologia aguda internados em enfermarias psiquiátricas permite identificar precocemente situações que carecem de intervenções familiares. Dado que a implementação de uma terapia familiar estruturada neste contexto é complexa, os autores pretendem estudar algumas das particularidades da intervenção sistémica a propósito da apresentação e reflexão de três casos clínicos. Método: Os autores fazem uma revisão das últimas publicações científicas nesta área de investigação bem como uma descrição e reflexão sobre três estudos de caso. Discussão e Conclusões: A abordagem familiar precoce em contexto de internamento é uma área que carece de investigação. Duas das famílias apresentadas evidenciam melhoras a nível das regras, capacidade de comunicação e emoção expressa. Pensamos, deste modo, que a diminuição do grau de disfunção familiar deverá ser uma vertente a contemplar até mesmo em situações clínicas de internamento. P0119 A TERAPIA OCUPACIONAL NOS CUIDADOS DE SAÚDE PSIQUIÁTRICOS: RELEVÂNCIA E OPORTUNIDADE Tiago Santos, João Alcafache; Mª Prazeres Valente; Filomena Santos; Mariana Cura Hospital Infante D. Pedro - Aveiro; Hospital Infante D. Pedro EPE - Aveiro Os Terapeutas Ocupacionais acreditam que há uma relação intrínseca entre Ocupação, Saúde e Bem-estar. A intervenção destes profissionais, reside na aplicação do seu conhecimento sobre o desempenho humano. As mudanças no desempenho são dirigidas de forma a apoiar o envolvimento em ocupações significativas e, consequentemente, afectam a saúde, o bem-estar e a satisfação na vida. A intervenção da Terapia Ocupacional neste departamento, tem por base o Modelo de Ocupação Humana preconizado por Kielhofner. Este autor vê a ocupação como um “meio” e como um “fim”. O processo de promover uma intervenção de Terapia Ocupacional pode envolver o uso terapêuticos de ocupação como um “meio” ou como um método para modificar o desempenho. O “fim” do processo de intervenção ocorre com o cliente a melhorar o seu envolvimento em ocupações significativas. Este trabalho pretende descrever a orgânica, as abordagens e a intervenção da Terapia ocupacional, no Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital Infante D. Pedro EPE – Aveiro, nos Serviços de Internamento de Agudos e Hospital de Dia. P0120 DROPOUT EM CONSULTA DE PSICOTERAPIA NO ÂMBITO DA INTERVENÇÃO NO SNS José João Vieira, Elisabete Frade; Elisabete Peralta; Cristina Pablo Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa; Centro Hospitalar Psiquiatrico de Lisboa Os autores propõem-se com este trabalho a rever a literatura cientifica relacionada com o abandono em consulta de Psicoterapia praticada no contexto de uma intervenção comunitária num Hospital Psiquiátrico, equacionando os determinantes envolvidos nesse abandono e quais as possíveis causas. Vão ainda tratar a informação casuística 41 Sessões de Posters / Posters Sessions relativamente aos dropouts existentes na consulta de Psicoterapia realizada de Outubro de 2009 a Outubro de 2010 no CiNTRA- Centro Integrado de Tratamento e Reabilitação em Ambulatório (Equipa de Saúde Mental de Sintra do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa). P0121 TENTATIVAS DE SUICÍDIO: ESTUDO DA EFICÁCIA DE DIFERENTES ABORDAGENS TERAPÊUTICAS José Pestana Cruz, Marta Brás; Cláudia Carmo Faculdade de Ciências Humanas e Sociais; Universidade do Algarve A intervenção junto de pacientes que realizaram tentativas de suicídio continua a ser uma preocupação partilhada pelos profissionais de saúde mental, dada a elevada prevalência deste tipo de comportamentos e o reduzido número de protocolos (psico) terapêuticos com eficácia clínica cientificamente comprovada, a curto e a longo-prazo. Neste estudo pretendeu-se testar a eficácia de um protocolo psicológico, em que se conjugou procedimentos da terapia cognitivo-comportamental e da terapia narrativa, com um protocolo psiquiátrico, em que se aplicou exclusivamente a terapia farmacológica. A amostra foi formada por 60 pacientes que realizaram tentativas de suicídio graves, sendo que 30 integraram o “grupo cognitivo-narrativo” e os outros 30 o “grupo psiquiátrico”. O primeiro grupo fez uma psicoterapia cognitivo-comportamental e narrativa, durante três meses (semanalmente), e o segundo grupo recebeu a terapia farmacológica. Os grupos preencheram medidas sobre os níveis de depressão, desesperança e sintomatologia psicopatológica global, antes da terapia, três e doze meses depois do início da mesma. Foi também efectuada observação naturalística. Em relação aos resultados, no primeiro momento de avaliação não se encontraram diferenças significativas entre os dois grupos, ambos obtiveram valores acima da média normativa. No segundo momento de avaliação, o “grupo cognitivo-narrativo” apresentou melhorias significativamente mais elevadas em todas as escalas do que o “grupo psiquiátrico”. No terceiro momento de avaliação, estas diferenças significativas mantiveram-se no mesmo sentido. A observação naturalística comprovou que 92.6% dos pacientes do “grupo cognitivo-narrativo” comparativamente com 63% do “grupo psiquiátrico” não repetiu os actos suicidas. Estes dados evidenciam a eficácia da conjugação da terapia cognitivo-comportamental com a terapia narrativa na intervenção com pacientes que cometeram actos suicidas, em comparação com a terapia farmacológica. Além disso, o facto de a melhoria clínica do primeiro grupo se manter a curto e médio-prazo sugere a importância da intervenção psicológica na manutenção do sucesso terapêutico. Tratamentos Biológicos P0122 DERMATOTILEXOMANIA: UM CASO CLÍNICO COM BOA RESPOSTA Á OLANZAPINA Maria João Cruz, João Marques; Miguel Bragança Hospital de São João A Dermatotilexomania, também designada por escoriação neurótica ou psicogénica, consiste numa síndrome dermatológica comum, usualmente associada a patologia psiquiátrica. Ocorre predominantemente no sexo feminino, principalmente entre os 30 e 50 anos de idade, podendo contudo manifestar-se em qualquer idade. Caracteriza-se pela presença de lesões cutâneas autoinfligidas compulsivamente, muitas vezes, em áreas que apresentam previamente alguma alteração. As lesões surgem como pequenas elevações na pele, criadas pelo constante hábito de arrancar ou raspar a pele, e evoluem para escoriações redondas, ovais ou lineares, distribuídas bilateralmente ou simetricamente em locais de fácil acesso das mãos. O acompanhamento Psiquiátrico e Dermatológico dos doentes é essencial, contribuindo para uma melhor evolução e prognóstico da doença. Neste sentido os autores descrevem o caso de uma doente que apresentava Dermatotilexomania de longa data e com resposta deficitária aos diversos tratamentos dermatológicos instituídos. Após 42 Saúde Mental Mental Health avaliação psiquiátrica e instituição de farmacológica de olanzapina em baixa dosagem, apresentou melhoria significativa em 4 semanas, com abandono dos comportamentos auto-lesivos. P0123 OBSTACULOS AO TRATAMENTO DA DOENÇA MENTAL José Dias Tavares, António Pedro Silva; Ondina Matos; Emilia Prudente Hospital Infante D. Pedro Apesar de toda a evolução no tratamento da doença mental e na evidencia dos ganhos com as terapias modernas( farmacológicas e não farmacológicas), os obstáculos ainda são inúmeros. Estes vão desde a negação da doença até ao preconceito, medos, mitos,.. entre muitos outros. P0124 CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE DE ELECTROCONVULSIVOTERAPIA DO CENTRO HOSPITALAR PSIQUIÁTRICO DE LISBOA (C Filipe Silva Carvalho, Adriana Moutinho; Luís Mendonça; Inês Cunha Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Introdução: A electroconvulsivoterapia é largamente utilizada em pacientes com doença psiquiátrica resistente ao tratamento farmacológico. Contudo, existe controvérsia acerca da duração mínima da convulsão eficaz. Objectivos: Caracterizar socio-demograficamente a Unidade de Electroconvulsivoterapia do CHPL; encontrar uma correlação entre a melhoria clínica avaliada pelas escalas PSAS, PANSS e HAM-D e tanto a duração média da convulsão como a energia média usada; avaliar os resultados nos pacientes com convulsão <20s. Métodos: Foram criados três grupos de doentes de acordo o diagnóstico segundo a CID-10. As escalas mencionadas foram aplicadas no início e no final do tratamento: depressão (F31.3-5; F33; F20.4; F25.1) - HAM-D; esquizofrenia/perturbação esquizoafectiva/ doença bipolar – mania ou estado misto (F20.X, F25.X, F31.0, F31.6) - PANSS; qualquer dos diagnósticos - PSAS. A correlação entre a melhoria em cada escala e tanto o tempo médio de convulsão como a energia média utilizada foi investigada usando o coeficiente de correlação de Pearson. Os grupos foram subdivididos segundo a duração da convulsão (cut-off 20s) e a melhoria média nas diferentes escalas determinada para cada subgrupo. Resultados: Não existe correlação entre as variáveis analisadas (=0,05). Variação HAM-D (N=102): duração da convulsão (r=0,004) e energia (r=0,106). Variação PANSS (N=43): duração da convulsão (r=0,07) e energia (r=0,046). Variação PSAS (N=147): duração da convulsão (r= - 0,043) e energia (r= 0,143). Não existe diferença estatisticamente significativa na melhoria média nas escalas HAM-D, PANSS ou PSAS entre os subgrupos 20s e <20s (11.29 vs 13.94; 30.85 vs 29.19 e 19.07 vs 22.65, respectivamente). Conclusão: A média do tempo de convulsão e da energia não se correlacionam com os resultados clínicos. A convulsão com duração inferior a 20s não implica piores resultados. P0125 ENCEFALOPATIA ASSOCIADA AO ÁCIDO VALPRÓICO Raquel Pedrosa, Mário Viana Hospital de São João Neste trabalho os autores procuram fazer uma revisão sobre a encefalopatia hiperamonémica relacionada com o ácido valpróico, uma vez que este é um fármaco amplamente utilizado na Psiquiatria como estabilizador de humor, sendo geralmente bem tolerado. Contudo tem inúmeras interacções medicamentosas e toxicidade; nomeadamente a nível hepático e pancreático, podendo também causar trombocitopenia e hiperamonemia. Descreve-se um caso de uma doente do sexo feminino, com 77 anos de idade, acompanhada em consulta de psiquiatria por quadro demencial, com epilepsia, estava medicada com rivastigmina, ácido valpróico, fenitoína e risperidona. Foi trazida ao Serviço de Urgência de Psiquiatria por períodos de agitação. O estudo analítico, revelou níveis terapêuticos de ácido valpróico e de fenitoína, os níveis de amónia estavam elevados (120), ligeiro aumento da GGT, restantes enzimas hepáticas normais, estudo Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 da coagulação normal. A hiperamonemia pode ocorrer após uma sobredosagem aguda ou uso crónico de ácido valpróico. Um aumento plasmático de amónia ocorre em aproximadamente 50% dos doentes tratados com ácido valpróico, e, é assintomática em quase metade dos casos. A encefalopatia hiperamonémica relacionada com o ácido valpróico pode cursar sem alterações da função hepática e apresenta as seguintes características: Confusão mental, letargia, vómitos e aumento da frequência de crises. A progressão para coma e morte raramente ocorre; o início pode ser imediato, com aumento do ácido valpróico, ou insidioso, com a terapia crónica de ácido valpróico; o grau de encefalopatia não está claramente relacionado com os níveis séricos de VPA, que podem estar na faixa normal. Os níveis séricos de amónia devem ser monitorizados se há uma suspeita clínica de encefalopatia hiperamonémica relacionada com o ácido valpróico. A terapêutica com ácido valpróico deve ser interrompida imediatamente se os níveis de amónia estiverem aumentados. Tanto para os doentes com uso crónico de ácido valpróico, como em casos agudos de estupor e encefalopatia, é importante o reconhecimento de uma eventual hiperamonemia de base, para abordagem terapêutica precisa, principalmente considerando que esta situação é geralmente reversível com a suspensão do fármaco. Torna-se, portanto, relevante o monitorização da amónia nos doentes que utilizam o ácido valpróico. P0126 CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE DE ELECTROCONVULSIVOTERAPIA DO CENTRO HOSPITALAR PSIQUIÁTRICO DE LISBOA (CHPL) Adriana Moutinho, Filipe Silva Carvalho; Luís Mendonça; Inês Cunha Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Introdução: A electroconvulsivoterapia é largamente utilizada em pacientes com doença psiquiátrica resistente ao tratamento farmacológico, com taxas de remissão perto de 50% e de resposta entre 6070%. O índice de supressão pós-ictal (ISPI) tem sido correlacionado positivamente com os resultados clínicos. Objectivos: Caracterizar os resultados terapêuticos da Unidade de Electroconvulsivoterapia do CHPL; encontrar uma correlação entre a melhoria clínica avaliada pelas escalas HAM-D, PANSS e PSAS e o ISPI. Métodos: Os dados dos doentes foram colhidos e divididos de acordo com o diagnóstico segundo a CID-10. As escalas mencionadas foram aplicadas no início e no final do tratamento: depressão (F31.3-5; F33; F20.4; F25.1) – HAM-D; esquizofrenia/perturbação esquizoafectiva/doença bipolar – mania ou estado misto (F20.X, F25.X, F31.0, F31.6) - PANSS; qualquer dos diagnósticos – PSAS. A correlação entre a melhoria em cada escala e o ISPI foi investigada usando o coeficiente de correlação de Pearson. Resultados: Dos 101 pacientes com depressão, 33,7% demonstraram remissão e 49,5% resposta ao tratamento, numa média de 11 sessões. A redução da pontuação na escala HAM-D foi significativamente superior nos doentes com pontuações iniciais > 18 versus 18 (52,9% versus 37,75%). Os pacientes com depressão unipolar (N=72) e depressão bipolar (N=22) revelaram resultados comparáveis (resposta:47,2% versus 52,4%; remissão: 30,6% versus 40,1%). Os doentes com esquizofrenia (N=43) apresentaram taxas de resposta mais elevadas: 88%. Não foi encontrada correlação entre o ISPI e a melhoria nas escalas HAM-D, PANSS ou PSAS (r=-0,1;0,01;-0,07). Conclusão: As taxas de resposta e remissão nos pacientes com depressão foram inferiores às encontradas na literatura, excepto naqueles com doença mais grave. Essas taxas são comparáveis às encontradas noutros estudos quando se trata de doentes com esquizofrenia. O ISPI não se correlaciona com os resultados clínicos. Palavras-chave: Terapia electroconvulsiva; melhoria clínica; índice de supressão pós-ictal; PANSS; HAM-D; PSAS. P0127 AS DIFERENTES TRAJECTÓRIAS DE RESPOSTA AOS ANTIPSICÓTICOS: ANTIPSICÓTICOS VERSUS PLACEBO Tiago Reis Marques, Tamara Arenovich; Ofer Agid; Gautam Sajeev; Bengt Muthén; Lei C. Chen; Bruce J. Kinon; Shitij Kapur Institute of Psychiatry, Kings College, London; Centre for Addiction and Mental Sessões de Posters / Posters Sessions Health, Toronto, Canada; Graduate School of Education and Information, UCLA, Los Angeles; Lilly Research Laboratories, Eli Lilly and Company, Indianapolis, USA Introdução: Está bem estabelecido que os antipsicoticos são mais eficazes que placebo. No entanto, permanece por saber se os antipsicóticos induzem trajectórias de resposta diferentes do placebo. Utilizámos uma abordagem aos dados, chamada “grow mixture modelling”, para identificar os diferentes tipos de padrão de resposta observado nos ensaios clínicos com antipsicóticos e determinar se os individuos tratados com placebo ou antipsicóticos tinham trajectórias similares ou diferentes. Método: Examinámos dados de 420 doentes com esquizofrenia tratados por 6 semanas em dois ensaios clínicos randomizados, duplamente cegos, e controlados por placebo, utilizando haloperidol e olanzapina. Foi utilizado o método de “grow mixture modelling” para identificar as trajectórias dos doentes tratados com antipsicóticos versus os doentes tratados com placebo; foram também examinadas se as trajectórias para as diferentes dimensões da doença (sintomas positivos versus negativos) eram identicos ou diferentes. Resultados: Os sintomas positivos responderam de acordo com 4 distintas trajectórias, sendo que as duas trajectórias mais comuns (“Respondem” e “Respondem Parcialmente”) englobam 70% dos casos e sendo observado proporcionalmente no grupo em placebo e no grupo em antipsicótico. A maior diferença entre doentes os antipsicóticos e o placebo é observada no grupo “Respondem Dramáticamente”, somente observada no grupo tratado com antipsicótico. A resposta aos sintomas negativos é mais modesta e não apresenta estas distintas trajectórias. Conclusão: Os modelos de trajectórias de resposta, mais do que a simples dicotomia respondedores/não respondedores, fornece uma melhor abordagem estatística de como os antipsicóticos actuam. O grupo dos que “Respondem dramaticamente” – aqueles com uma resposta sintomática superior a 70% - foram somente observados entre os indivíduos que tomaram antipsicótico e contribuiram substancialmente para a diferença entre o fármaco e o placebo. Identificar e estudar este subgrupo pode fornecer um conhecimento detalhado de como os antipsicóticos actuam. P0128 VIRAGEM MISTA PÓS - ELECTROCONVULSIVOTERAPIA – UM CASO CLÍNICO Liliana Paixão, Maria João Avelino Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa A electroconvulsivoterapia (ECT) é um tratamento seguro e eficaz para várias doenças psiquiátricas, usado há quase meio século, não devendo ser deixado apenas para último recurso. Desconhece-se ainda o seu exacto funcionamento, havendo algumas teorias que o tentam explicar: teoria dos neurotransmissores, teoria anticonvulsivante e teoria neuroendócrina. A ECT deve ser considerada prioritária ao tratamento farmacológico quando há necessidade de resposta rápida e definitiva devido à severidade da doença psiquiátrica ou médica, risco acrescido com outro método, história de baixa resposta aos psicofármacos ou boa resposta à ECT, e preferência do doente. O uso secundário da ECT faz-se quando existe resistência a um tratamento adequado, intolerância à farmacologia, ou deterioração do estado psiquiátrico ou médico, com rápida necessidade de resposta. As três indicações diagnósticas por excelência da ECT são Depressão Major (em que entre 50 e 60% dos doentes sem resposta ao tratamento adequado com antidepressivos, respondem favoravelmente), Mania (os estudos sugerem que a eficácia da ECT na mania aguda é igual ou superior à do Lítio e da Clorpromazina) e Esquizofrenia (apesar de precocemente se ter verificado que a eficácia da ECT nas doenças afectivas é maior do que nesta patologia). Existe um risco real de viragem maníaca ou hipomaníaca em doentes com Depressão Major submetidos a ECT, sendo maior nos casos em que o quadro faz parte do espectro Bipolar. Menos comum é a viragem para estado misto. Os autores apresentam o caso clínico de um homem de 39 anos com história de acompanhamento psiquiátrico por doença afectiva, com quatro anos de evolução. Devido a Depressão Major com ideação 43 Sessões de Posters / Posters Sessions suicidária resistente a tratamento farmacológico, com a necessidade de diversos internamentos, procedeu-se a um ciclo de ECT de 14 sessões, ainda durante o qual se veio a manifestar sintomatologia compatível com Episódio Misto. P0129 OS SETE PECADOS MORTAIS (E AS SETE VIRTUDES!) DA TERAPÊUTICA PSICOFARMACOLÓGICA Manuel Bartilotti Matos Hospital Magalhães Lemos Recorrendo a uma alegoria, os sete pecados mortais e as sete virtudes teologais, o autor apresenta a sua perspectiva pessoal sobre as causas de possiveis erros terapêuticos bem como a maneira de os evitar. P0130 A IMPORTÂNCIA DE UMA ABORDAGEM CONJUNTA, PSIQUIÁTRICA E DERMATOLÓGICA, NO SÍNDROME DE EKBOM João Marques, Maria João Cruz; Teresa Baudrier; Alberto Mota; Miguel Bragança Hospital de São João O Delírio de Parasitose ou Síndrome de Ekbom consiste num quadro psiquiátrico raro, no qual os doentes apresentam a persistente e falsa crença de que a sua pele está infestada por parasitas. Estes doentes geralmente alegam várias sensações cutâneas e a visualização de parasitas, os quais não são confirmados por outros. Assim, na tentativa de eliminar a alegada infestação, apresentam uma série de comportamentos geralmente previsíveis, nomeadamente a procura de cuidados e tratamentos dermatológicos, uma vez que os sintomas de apresentação incluem lesões cutâneas, tais como escoriações. No entanto, o sucesso do tratamento requer uma abordagem conjunta, dermatológica e psiquiátrica, no sentido de melhorar a adesão terapêutica e o prognóstico. Neste sentido, os autores apresentam um caso de delírio de parasitose onde a boa interacção e abordagem conjunta da doente pelas duas especialidades contribuiu para uma melhor adesão à terapêutica e um melhor prognóstico. P0131 DESENVOLVIMENTO DE UM PANFLETO INFORMATIVO SOBRE O LÍTIO Vanessa Pais, Tiago Rebelo; Jorge Pereira Hospital de Magalhães Lemos Introdução: A má-adesão à terapêutica é umas das causas mais frequentes de incongruência entre a eficácia dos medicamentos e a sua efectividade. As crenças sobre a Saúde são, pelo menos em parte, baseadas na informação recebida pelo doente, sendo de esperar que o conhecimento sobre os medicamentos influencie a adesão terapêutica. A disponibilização de informação sobre os tratamentos propostos é uma das formas existentes de envolver o doente no seu plano de cuidados e reforçar a adesão terapêutica. Por outro lado, na situação específica de tratamento profilático com lítio, o doente encontra-se frequentemente estável e o intervalo entre as consultas é, habitualmente, de alguns meses, exigindo ao doente a capacidade de gerir a sua medicação e identificar precocemente sinais de alerta. Objectivo: Desenvolver um folheto informativo, dirigido aos doentes com Perturbação Afectiva, sobre o Lítio. Metodologia: Pesquisa bibliográfica e redacção de Folheto Informativo. Discussão do folheto elaborado em reunião de Equipa Multidisciplinar e revisão de acordo com as propostas realizadas. Discussão do folheto revisto com um grupo de doentes com Perturbação Afectiva, atendendo à percepção de utilidade e compreensibilidade da informação. Resultados: Folheto Informativo sobre tratamento com Lítio na Patologia Afectiva, revisto de acordo com uma equipa multidisciplinar e com um grupo de discussão de doentes com Perturbação Afectiva. Conclusão: A evolução da Medicina no sentido do envolvimento do doente no seu plano de cuidados exige dos profissionais de saúde a capacidade de disponibilizar informação adequada que possibilite ao doente realizar opções informadas e participar na gestão do seu tratamento. A disponibilidade de informação escrita credível, contendo informação 44 Saúde Mental Mental Health adequada sobre o tratamento com Lítio, fornece aos profissionais de saúde mais uma ferramenta no sentido de assegurar a optimização do tratamento de doentes com Perturbação Afectiva. P0132 PSICOFÁRMACOS NA GRAVIDEZ: RISCOS E BENEFÍCIOS Nelson Oliveira, Abigail Ribeiro; Catarina Fonseca; Joana Jorge; Manuela Araújo; Fátima Magalhães Hospital de Magalhães Lemos; Centro Hospitalar do Porto A doença mental durante a gravidez constitui um importante desafio terapêutico na prática da Psiquiatria. Se por um lado, da descompensação psiquiátrica podem resultar efeitos nefastos para a mãe e para o feto, por outro, o seu tratamento com psicofármacos pode condicionar importantes complicações obstétricas e teratogénicas, entre outras. A investigação do perfil de segurança dos psicotrópicos durante a gravidez é limitada por questões éticas óbvias. Por este motivo o conhecimento nesta área é ainda muito incerto e a tendência geral é a de evitar a prescrição medicamentosa durante o período gestacional. Pretende-se, neste trabalho, fazer uma revisão das recomendações actuais da prescrição psicofarmacológica durante a gravidez. Neste sentido foi efectuada uma pesquisa bibliográfica no motor de busca “Medline” das palavras-chave “Psychotropic Medication” e “Pregnancy” e consultaram-se livros de texto de referência. Da literatura existente verifica-se que, e até à data, nenhum psicotrópico foi considerado totalmente isento de risco. Existem, no entanto, dentro de cada grupo farmacológico, opções terapêuticas mais seguras e com menor incidência de efeitos adversos. A decisão do uso/descontinuação de psicofármacos durante a gravidez deve ser sempre individualizada e baseada na ponderação risco/benefício, tendo em linha de conta as evidências científicas mais actuais e as próprias expectativas da doente. P0133 PSIQCARE – SISTEMA DE INFORMAÇÃO DESTINADO AO PROGRAMA DE ANTIPSICÓTICOS EM FORMAS DE ABSORÇÃO PROLONGADA DO SERVIÇO DE PSIQUIATRIA DO HOSPITAL SÃO JOÃO Susana Fonseca, Tiago Silva-Costa; António Sousa; Ricardo CruzCorreia; Maria João Magalhães; Rosário Curral Serviço de Psiquiatria do Hospital São João; Serviço de Bioestatística e Informática Médica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; Serviço de Informática do Hospital São João Introdução: Muitos doentes psicóticos crónicos apresentam dificuldades de adesão terapêutica. A utilização de fármacos antipsicóticos em formas de absorção prolongada pode constituir uma vantagem em termos de melhoria da adesão terapêutica, identificação imediata do incumprimento da medicação e possibilidade de intervenção. O Serviço de Psiquiatria do Hospital São João dispõe de um Programa de Antipsicóticos em Formas de Absorção Prolongada que inclui cerca de 250 doentes, na sua maioria com esquizofrenia. Objectivo: Apresentação do sistema de informação em ambiente Web de registo, informação e gestão dos doentes que frequentam o Programa de Antipsicóticos em Formas de Absorção Prolongada do Serviço de Psiquiatria do Hospital de São João (Porto), denominado PsiqCare. Descrição: O PsiqCare tem como principais objectivos: permitir a monitorização efectiva da terapêutica instituída; implementar um sistema de avisos automatizados por SMS para doentes (lembrando a data de administração) e para os doentes, seus familiares e profissionais de saúde (em caso de não comparência do doente); facilitar o acesso, modificação e actualização dos dados demográficos, clínicos e terapêuticos dos doentes; e criar um sistema de agendamento informatizado. Com a implementação do PsiqCare espera-se obter melhor adesão terapêutica dos doentes, melhor monitorização do processo de adesão terapêutica, maior rigor no acompanhamento da evolução clínica dos doentes, melhor facilidade de comunicação entre os diversos profissionais de saúde e melhoria da eficiência e qualidade dos cuidados clínicos prestados. O PsiqCare foi desenvolvido em conjunto pela Unidade de Psiquiatria Comunitária e Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 Sessões de Posters / Posters Sessions Hospital de Dia do Serviço de Psiquiatria do Hospital de São João e pelo Serviço de Bioestatística e Informática Médica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. O projecto foi aprovado para financiamento após candidatura aos Programas Inovadores do Plano de Saúde Mental, em 2009. A abordagem é essencialmente de grupo, contudo existe também apoio individual. Este trabalho pretende ilustrar, com base num caso clínico, o funcionamento do HDELC, enfatizando os aspectos da abordagem médica no que diz respeito ao esclarecimento diagnóstico e intervenção farmacológica. P0134 MEDICAMENTOS PARA PSIQUIATRIA HÁ CEM ANOS: O FORMULÁRIO ESPECIAL DOS MEDICAMENTOS PARA O HOSPITAL DE ALIENADOS EM RILHAFOLES (1901) João Rui Pita, Ana Leonor Pereira; Joana Sá Ferreira; José Morgado Pereira Faculdade de Farmácia - Universidade de Coimbra; CEIS20 - Universidade de Coimbra; Faculdade de Letras - Universidade de Coimbra; CEIS20 - Universidade de Coimbra; Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra; CEIS20 - Universidade de Coimbra; CEIS20- Universidade de Coimbra Os autores dão a conhecer resultados da investigação realizada sobre o Formulario Especial de Medicamentos para o Hospital de alienados em Rilhafoles (1901), um formulário de medicamentos para doenças mentais do mais antigo hospital psiquiátrico português (1848), mostrando a sintonia do formulário com a terapêutica medicamentosa vigente, tanto nacionais como internacionais. O Formulario é publicado num período de profundas alterações farmacológicas e de inovações fármaco-terapêuticas e, também, da aplicação de variadas terapias não medicamentosas em psiquiatria. Contudo, deve sublinhar-se que esse impacto foi muito mais reduzido do que a clorpromazina viria a ter nos anos 50. Os autores quantificam o número de fármacos e de formas farmacêuticas existentes, avaliando as formas farmacêuticas e os grupos terapêuticos mais utilizadas na época em psiquiatria e inscritos no formulário. A edição do Formulario resultou da necessidade verificada de normalizar a medicação específica para os doentes mentais. No Formulario existem 61 medicamentos diferentes. Estes encontravam-se divididos em 8 formas terapêuticas sendo as poções as mais referidas (32). Os hipnóticos ocupavam cerca de metade dos medicamentos (28), seguindo-se os chamados hipocinéticos (9) e, ainda, os analgésicos e antipiréticos (8). Do estudo em questão pode-se concluir que a variedade de medicamentos em termos fármacoterapêuticas era escassa. A edição do formulário resultou, em grande parte, do trabalho realizado pelo médico psiquiatra Miguel Bombarda (1851-1910), figura de grande projecção política na medicina e no combate político-cultural. O estudo foi realizado através da análise documental, quantitativa e qualitativa, do formulário referido com recurso ao método comparativo, tendo sido ainda analisados, também, alguns dos tratados terapêuticos mais significativos na material, tanto nacionais como estrangeiros. Com o presente estudo pretende-se contribuir para avaliar o modo como Portugal recebeu e colocou em prática as inovações terapêuticas medicamentosas e contribuir para a história das terapias psiquiátricas em Portugal, em particular nos hospitais psiquiátricos. P0136 QUETIAPINE SR MONOTHERAPY, QUETIAPINE SR + ONGOING ANTIDEPRESSANTS AND LITHIUM + ONGOING ANTIDEPRESSANTS IN PATIENTS WITH TREATMENT-RESISTANT MAJOR DEPRESSIVE DISORDER Maria Luísa Figueira, Elsa Lara; Lurdes Santos; Rodolfo Albuquerque; Michael Bauer Faculdade de Medicina de Lisboa Objective: Up to 50% of patients with major depressive episodes do not respond sufficiently to first-line treatment. Aim: to evaluate efficacy of quetiapine SR+antidepressant (AD) and quetiapine SR monotherapy versus lithium+AD in patients with treatment-resistant MDD (Stage I/II, nonresponders to one or two ADs) and MADRS score 25. Methods: Six-week, open-label, randomised, rater-blinded study. Patients received quetiapine SR (300mg/day)+AD (SSRIs/ venlafaxine) or monotherapy, or lithium (0.6-1.0mmol/L)+AD. Primary outcome: change from baseline at Week 6 in MADRS score. Non-inferiority of quetiapine SR+AD or quetiapine SR monotherapy versus lithium+AD was evaluated (pre-specified non-inferiority limit: 3 MADRS points; per-protocol population). If non-inferiority was demonstrated, superiority testing was performed (modified ITT population). Secondary assessment: Clinical Global Impression-Improvement (CGI-I). Results: 688 patients were randomised: 231, quetiapine SR+AD; 228, quetiapine SR monotherapy; 229, lithium+AD. Quetiapine SR+AD and quetiapine SR monotherapy were noninferior to lithium+AD: LSM differences (97.5%CI) in MADRS score change -2.32 (-4.6, -0.05) and -0.97 (-3.24, 1.31), respectively. Non-inferiority demonstrated for quetiapine SR+AD in patients with 1 and 2 treatment failures and for quetiapine SR monotherapy in patients with 2 treatment failures. Superiority testing of primary outcome showed no significant difference between quetiapine SR and lithium. Quetiapine SR+AD was significantly more effective than lithium+AD (p<0.05) in MADRS change from baseline (analysis discounting multiplicity); significance observed from Day 4 (p<0.01) onwards. Proportions of patients ‘much’/’very much’ improved (CGI-I) were: 66.8% quetiapine SR+AD, 61.8% quetiapine SR, 60.2%, lithium+AD. Conclusions: Quetiapine SR+ongoing AD and quetiapine SR monotherapy were non-inferior to lithium+ongoing AD in patients with treatmentresistant MDD for the primary outcome. There was an early efficacy advantage (MADRS scale) for quetiapine SR+AD compared with lithium +AD; in a post-hoc endpoint analysis significant superiority of quetiapine SR+AD compared with lithium+AD was seen. P0135 HOSPITAL DE DIA: O PAPEL DO PSIQUIATRA Adriana Moutinho, Ana Margarida Baptista; Vânia Baptista; Guilherme Canta; Olga Correia; Rui Durval Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Os hospitais de dia psiquiátricos são unidades de internamento parcial a curto ou médio prazo que se destinam ao tratamento de doentes mentais em fase aguda, em fase de transição após alta de internamento completo, com necessidade de acompanhamento intensivo ou doentes com patologia prolongada que necessitam de apoio comunitário. Estas unidades terapêuticas podem apresentar diversos modelos de funcionamento, cuja base comum é a abordagem multidisciplinar dos pacientes. O Hospital de Dia Eduardo Luís Cortesão (HDELC), fundado em Outubro de 1999, integra os serviços do Sector L do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (Pólo Miguel Bombarda). A equipa multidisciplinar, constituída por médico psiquiatra, enfermeira, psicólogo, terapeuta ocupacional e assistente social, coordena diversas actividades com finalidade terapêutica. Epidemiologia Psiquiátrica P0137 PSICOSE CRÓNICA: CAUSA OU EFEITO? Mónica Santos, Ana Eduarda Ribeiro; Estefania Gago Hospital de Magalhães Lemos Introdução: Os processos psicóticos crónicos caracterizam-se, geralmente, por uma atenuação dos sintomas positivos e pelo agravamento de sintomas negativos (afecto embotado, apatia, anedonia, entre outros). O tratamento da psicose crónica pretende não só a prevenção de recaídas, mas também a optimização do nível de funcionamento do indivíduo. A terapêutica psicofarmacológica tem um efeito favorável sobre a evolução da doença, ainda que não seja curativa. Uma relação terapêutica de qualidade pode facilitar o equilíbrio entre os efeitos terapêuticos e secundários da medicação, promovendo a adesão à terapêutica. O contexto sócio-familiar em que o doente se encontra inserido também é determinante na evolução das psicoses crónicas. A presença de uma rede social de apoio estruturada actua como um importante factor de protecção, e a desintegração social 45 Sessões de Posters / Posters Sessions pode ocorrer quando as estruturas disponíveis são insuficientes. Objectivos: As autoras pretendem caracterizar demograficamente uma amostra de doentes com psicose crónica, através da análise do enquadramento sócio-familiar destes indivíduos. Métodos: Estudo descritivo transversal de uma amostra de 154 doentes com o diagnóstico de psicose crónica, residentes nos concelhos da Póvoa do Varzim e Vila do Conde, acompanhados em consulta externa de Psiquiatria. Resultados e Conclusões: Verificou-se um predomínio do sexo masculino e uma média de idades de 45,9 anos. Em termos sociais, apurou-se que apenas 23% dos doentes estão casados ou vivem em união de facto. Uma mínima percentagem de indivíduos (17%) encontra-se profissionalmente activa e 14% estão institucionalizados. A psicose crónica parece revelar-se assim uma entidade complexa, com importantes repercussões familiares, sociais e económicas, que ultrapassam as capacidades terapêuticas dos psicofármacos. P0138 PSIQUIATRIA DE LIGAÇÃO - ANÁLISE DE NOVE MESES DE PSIQUIATRIA DE LIGAÇÃO NUM HOSPITAL GERAL Patrício Ferreira, Daniela Freitas; Sónia Simões; Luís Fonseca Hospital Escala Braga Introdução: Com os estudos de epidemiologia psiquiátrica, tornou-se possível conhecer a real dimensão da prevalência e do impacto das doenças mentais, bem como descobrir que estas são extremamente frequentes entre os utilizadores dos serviços de saúde, tanto a nível dos cuidados primários como do hospital geral. Com a criação de departamentos de psiquiatria e saúde mental nos hospitais gerais, foi possível uma abordagem mais global e eficaz das pessoas portadoras de doença mental ao facilitar a articulação entre a Psiquiatria e as restantes especialidades médicas no manejo dos aspectos psiquiátricos e psicossociais encontrados num apreciável número de pessoas que sofrem de doenças físicas. Objectivos: Caracterização da população observada e avaliada por Psiquiatria de Ligação de um Hospital Geral e posterior análise para optimização de recursos e da intervenção efectuada. Método: Análise retrospectiva dos pedidos realizados durante nove meses (n=137), ao Serviço de Psiquiatria para observação de doentes internados noutros serviços deste Hospital. Foram analisadas as características demográficas, o motivo e origem do pedido, a existência ou não de antecedentes psiquiátricos, o diagnóstico psiquiátrico provisório, a intervenção efectuada, a necessidade de reobservação no internamento e a orientação subsequente. Resultados: A maioria dos pedidos correspondia a doentes do sexo feminino (56% vs 44%). O Serviço de Medicina Interna foi o que mais pedidos realizou (33%), seguido pelo Serviço de Ortopedia (17,5%). A causa mais frequente do pedido era a existência de sintomatologia depressiva (38%) seguida de situações de alterações do comportamento (31%). O diagnóstico provisório mais frequente foi o de Perturbação da Adaptação com Humor Depressivo. A maioria dos pacientes observados já tinha história de acompanhamento por Psiquiatria (63%). Em 71% dos casos foi realizada uma intervenção farmacológica. Em 80% dos casos foi necessária mais do que uma observação no internamento. Foram orientados para reobservação em consulta externa 50% dos doentes observados. Conclusões: Na população hospitalar a morbilidade psiquiátrica engloba um conjunto de situações clínicas que vão desde as complicações psiquiátricas das doenças somáticas às doenças somáticas que se podem apresentar através de sintomatologia psiquiátrica, bem como às perturbações psicológicas inerentes às dificuldades de adaptação à doença e ao internamento, podendo estas introduzir modificações na eficácia do tratamento e consequente prognóstico. P0139 POLIMEDICAÇÃO E INTERACÇÕES MEDICAMENTOSAS EM PSIQUIATRIA E SAÚDE MENTAL Vanessa Pais, Diana Correia; Catarina Fonseca; Carla Lourenço; José Miguel Moura; Isabel Grilo; Joaquim Ramos Hospital de Magalhães Lemos 46 Saúde Mental Mental Health Introdução: A polimedicação é definida em Psiquiatria e Saúde Mental como a prescrição de 2 ou mais psicofármacos. No doente polimedicado, é necessário o clínico estar atento ao risco de interacções entre psicofármacos, entre psicofármacos e fármacos para doenças não psiquiátricas, entre fármacos e substâncias utilizadas pelo doente (tabaco, drogas ilícitas, medicamentos naturais,...) e entre os fármacos e as múltiplas doenças apresentadas. Objectivos: Descrever e avaliar o perfil de prescrição aos doentes que frequentam o Serviço de Reabilitação Psicossocial do Hospital de Magalhães Lemos (SRPHML) em Área de Dia. Enfatizar a importância da segurança do doente através da identificação das interacções medicamentosas e efeitos adversos mais comuns. Métodos: Consulta dos processos dos doentes a frequentar o SRPHML e recolha de variáveis clínicas e farmacológicas, obedecendo aos critérios de anonimato, confidencialidade e consentimento informado. Análise descritiva do perfil farmacológico, identificação de potenciais interacções medicamentosas, classificação das interacções encontradas e pesquisa bibliográfica para definição de estratégias indicadas à sua orientação. Resultados: Numa amostra aleatória de 25 doentes (de um total de 70 doentes), verificou-se que o número médio de fármacos prescritos por doente é de 4,7 , incluindo uma média de psicofármacos de 3,6. Foi possível encontrar diversas interacções medicamentosas, sendo mais comuns as interacções entre diferentes psicofármacos. Pretende-se apresentar os resultados para a totalidade da população. Conclusão: Na população estudada a polimedicação é uma realidade, exigindo dos clínicos a capacidade de identificar e gerir interacções medicamentosas. As interacções medicamentosas podem, em algumas situações, ser utilizadas pelo clínico experiente como forma de potenciar o plano terapêutico. No entanto, na maioria dos casos o risco de interacção medicamentosa constitui uma menos-valia numa associação considerada necessária para responder aos sintomas do doente. Nesta situação, o clínico deve ser capaz de ponderar as hipóteses de tratamento, identificar os riscos e estabelecer estratégias que possibilitem a diminuição destes, reduzindo os riscos inerentes ao acto da prescrição. P0140 O SERVIÇO DE REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL DO HOSPITAL DE MAGALHÃES LEMOS: ANÁLISE ESTATÍSTICA 2000-2008 Alexandra Alves, Luís Correia; Liliana Castro; Joaquim Ramos Hospital Magalhães Lemos; Hospital de Magalhães Lemos Introdução: O Serviço de Reabilitação Psicossocial (SRP) do Hospital Magalhães Lemos (HML) destina-se à prestação de cuidados de saúde mental tendo em vista a reabilitação funcional de doentes com patologia mental com prejuízo a nível do seu funcionamento psicossocial e da sua integração na comunidade. Objectivo: Analisar a população que frequenta o SRP do HML, no período compreendido entre 2000 e 2008, em termos de características sociodemográficas, patologia, tipo de cuidados prestados e evolução terapêutica. Material e métodos: Foi consultada a base de dados em Excel® relativa às admissões no SRP do HML entre 1 de Janeiro de 2000 e 31 de Dezembro de 2008. Também foram consultados os registos clínicos do Sistema de Apoio ao Médico (SAM®). Foi realizada análise estatística descritiva usando o programa SPPS®. Resultados: No período do estudo foram admitidos 737 utentes no SRP, dos quais 540 no Clube Terapêutico e 197 no Centro de Dia. A distribuição por sexos foi idêntica. Aquando a admissão, a idade média era de 42 anos. Um terço dos utentes era portador de psicose esquizofrénica e aproximadamente metade foram referenciados pelo Serviço Porto. Conclusões: Os resultados obtidos confirmam que a maior parte dos cuidados prestados no SRP se destinam a doentes com esquizofrenia. Estes dados parecem traduzir a dimensão das limitações que aquela patologia condiciona, nomeadamente a nível da autonomia, o que se relaciona também com a maior gravidade da doença. Contudo, existe também uma percentagem significativa de utentes com outras patologias, nomeadamente depressão, pelo que se levanta a questão da necessidade de cuidados individualizados. Os resultados suportam ainda a importância da acessibilidade na prestação dos cuidados de saúde mental. Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 P0141 NOVOS E ANTIGOS DESAFIOS EM REABILITAÇÃO PSIQUIÁTRICA Liliana Castro, Alexandra Alves; Luís Correia; Joaquim Ramos Hospital Magalhães Lemos Introdução: O objectivo da reabilitação psiquiátrica é ajudar pessoas com patologia mental grave e persistente a desenvolverem competências emocionais, sociais e intelectuais necessárias para viver e trabalhar em comunidade com o mínimo possível de ajuda profissional. Apesar da reabilitação psiquiátrica não negar a existência nem o impacto da patologia mental, a prática da reabilitação psiquiátrica tem mudado a percepção da doença mental. Objectivos: Este trabalho tem como objectivo a revisão da literatura actual na área da Reabilitação Psiquiátrica, tendo como principal foco conceitos-chave em Reabilitação Psiquiátrica, assim como salientar novas perspectivas e desafios nesta área. Métodos: Revisão sistemática da literatura. Resultados: O funcionamento social das pessoas com perturbação psiquiátrica a viver em comunidade assume uma particular importância, incluindo as relações interpessoais, trabalho e recreação, assim como aspectos de qualidade de vida. Conclusões: A investigação actual reforça o papel do suporte social na recuperação de doenças crónicas e a sua contribuição para uma maior qualidade de vida. Desta forma, a reabilitação psiquiátrica é também um exercício de desenvolvimento das redes sociais de suporte. A possibilidade de recuperação de situações difíceis e limitadoras, a importância de relações interpessoais gratificantes e de redes comunitárias integradoras e a melhoria da qualidade de vida de pessoas com perturbações psiquiátricas são alguns dos desafios diários da reabilitação psiquiátrica. P0142 A PERTURBAÇÃO DA IDENTIDADE DE GÉNERO NA CONSULTA DE SEXOLOGIA DO HOSPITAL JÚLIO DE MATOS Catarina Soares, Carlos Fernandes; Joana Florindo; Íris Monteiro; Marco Gonçalves; José Salgado Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Os autores revêem a abordagem da Perturbação da Identidade de Género (PIG) na Consulta de Sexologia do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (Hospital Júlio de Matos). A partir dos dados de 88 doentes avaliados, consideram-se as características sócio-demográficas e individuais assim como os resultados das avaliações da personalidade, da avaliação genética e do tratamento hormonal. Discute-se ainda a adaptação psico-social após a cirurgia de re-atribuição sexual. Finalmente, apresentam-se sugestões para a melhoria do manejo da PIG, em Portugal. P0143 PORTA GIRATÓRIA NO SERVIÇO DE PSIQUIATRIA DOS HUC,UMA CARACTERIZAÇÃO DURANTE O NO DE 2009 Sandra Gomes Pereira, Fernanda Cristina Ordens Miguel; Catarina Pereira Hospitais da Universidade de Coimbra; Serviço de Psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra A desinstitucionalização com o encerramento de grandes hospitais psiquiátricos virados para a cronicidade, levou ao surgimento dum subgrupo importante de doentes, com transtornos mentais habitualmente graves, que apresentam em comum uma alta taxa de reinternamentos hospitalares. Estes reinternamentos, ocorrendo num curto período de tempo, constituem o fenómeno de porta giratória. Este estudo, retrospectivo e descritivo propõe caracterizar o subgrupo de doentes (seleccionado pelo departamento de Estatística dos Hospitais da Universidade de Coimbra), que tiveram dois ou mais reinternamentos durante o ano de 2009 no Serviço de Psiquiatria dos HUC. As variáveis avaliadas através da consulta de processos estão relacionadas com factores sociodemográficos, história e evolução da doença e circunstâncias dos internamentos. Os resultados poderão permitir estabelecer estratégias de prevenção, identificando alguns factores preditivos do fenómeno de porta giratória. Sessões de Posters / Posters Sessions P0144 IMPULSIVIDADE E DOENÇA PSIQUIÁTRICA NUMA UNIDADE DE INTERNAMENTO DE UM HOSPITAL GERAL Rita Sequeira Mendes, Pedro Zuzarte; João Reis; Ana Lisa Carmo; Luís Câmara Pestana Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental, Hospital de Santa Maria A Impulsividade é caracterizada por um compromisso na habilidade para reflectir e ponderar os actos ou para utilizar conhecimentos prévios e inteligência para guiar o comportamento. Escassos estudos têm sido elaborados no sentido de caracterizar a relação e o papel da impulsividade nas Perturbações Mentais. O comportamento impulsivo e as consequências deste comportamento incluem abuso de substâncias, comportamento suicidário, agressividade e outras perturbações comportamentais graves. Existe uma grande comorbilidade entre impulsividade e Perturbações de Personalidade e Perturbação Afectiva Bipolar, em grande parte relacionado com a associação entre a impulsividade e os substratos biológicos destas perturbações mentais. O presente trabalho visa o estudo e caracterização da relação da impulsividade com as características demográficas e patologia psiquiátrica, numa amostra de doentes internados no Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria durante 2009 e 2010. Para avaliação da impulsividade, foi utilizada a Escala de Impulsividade de Barratt (BIS-11). Trata-se de uma amostra caracterizada por 46 doentes, dos quais 28 (60,87%) são do sexo feminino. Analisando os diferentes grupos de diagnóstico, as pontuações na BIS-11 foram por ordem decrescente: Perturbação Afectiva Bipolar, episódio actual maniforme/misto (n=7; 73,86), Perturbação de Abuso/Dependência de substâncias (n=4; 71,25), Perturbação Depressiva Major (n=15; 64,93), Perturbação Afectiva Bipolar, episódio actual depressivo (n=5; 64,00), Esquizofrenia ou outra Perturbação Psicótica (n=11; 63,45) e Perturbação de Personalidade Borderline (n=4; 63,25). Com a continuidade do presente estudo e ampliação da amostra pensamos poder vir a discriminar características sócio-demográficas e psicopatológicas possuidoras de valor preditivo relativamente ao comportamento impulsivo e com potencial utilidade num projecto terapêutico mais eficiente em internamento psiquiátrico. P0145 INTERNAMENTO COMPULSIVO - A REALIDADE DE UM HOSPITAL Vera Martins, Sónia Pimenta; João Viegas; Maria José Piçarra Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra Introdução: A Lei de Saúde Mental, Lei 36/98 de 24/07, tem permitido desde a sua implementação, o internamento compulsivo de doentes psiquiátricos, cuja condição de insanidade mental e recusa ao tratamento assim o exijam, possibilitando a interrupção das alterações de comportamento graves que frequentemente apresentam. Material e Métodos: Procedemos à caracterização dos doentes internados compulsivamente através do Serviço de Urgência dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), desde a unificação da Urgência de Psiquiatria entre o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra (CHPC) e os HUC, focando com maior detalhe os doentes internados no CHPC e a sua evolução. Recorremos, para isso, à análise das Avaliações Clínico-Psiquiátricas efectuadas no Serviço de Urgência e à consulta dos processos clínicos dos doentes com internamento compulsivo no CHPC, no período compreendido entre Outubro de 2008 e Outubro de 2010. Conclusão: O nosso estudo veio reiterar a necessidade da existência da Lei de Saúde Mental e da sua implementação, sobretudo em doentes com sintomatologia psicótica e alterações graves do comportamento, cujo tratamento de outro modo não seria possível. P0146 AVALIAÇÃO MULTIDISCIPLINAR DOS DOENTES EM HOSPITAL DE DIA (HD) NA UNIDADE DE PSIQUIATRIA COMUNITÁRIA E HOSPITAIS DE DIA DO HOSPITAL SÃO JOÃO (HSJ) Diana Maia; Susana Fonseca; Rui Lopes; Pedro Ferreira; Susana Rodrigues; Sara Sousa; Helder Lourenço; Júlia Pereira; Luísa Mon- 47 Sessões de Posters / Posters Sessions teiro; Vanessa Ribeiro; Marta Figueiredo; Dulce Sousa; Mário Viana; Rosário Curral Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental, Hospital de São João, Porto No sentido de definir um plano de cuidados individuais para o doente, foi elaborado um protocolo de avaliação multidisciplinar com o objectivo final da reabilitação psicossocial. Esta avaliação pretende caracterizar a população dos doentes admitidos em regime de Hospital de Dia (1 de Janeiro de 2009 a 30 de Junho de 2010) através da análise dos dados sociodemográficos e clínicos obtidos na data de admissão. Pretende-se ainda avaliar o grau de satisfação dos doentes com os serviços que lhe são prestados. Numa amostra total de 128 doentes foram excluídos 18 doentes (critérios de exclusão: debilidade mental, descompensação psicopatológica que impossibilitasse o preenchimento do protocolo e avaliação prévia num período inferior a 6 meses). Foram utilizados os seguintes instrumentos psicométricos: Brief Symptom Inventory (BSI - escala para avaliação de sintomas psicopatológicos), SF-36 (avaliação de qualidade de vida) e Occupational Self Assessment (OSA - avaliação ocupacional). A análise estatística foi efectuada utilizando o programa informático SigmaStat. Dos 110 doentes estudados, 45,5% eram do sexo masculino (n=50) e 54,5% eram do feminino (n=60). A idade média dos participantes foi de 43,8 anos (SD=11,39), os anos de escolaridade média de 8,4 (SD=3,5), a média de idade de início da doença de 27,5 (SD=12,8) e média do número de anos da doença de 16,1 anos (SD=10,4). Relativamente ao estado civil, os doentes casados e solteiros tinham uma percentagem igual (36,7%), os divorciados 24,1% e viúvos 2,5%. Os diagnósticos mais frequentes foram do Grupo da Esquizofrenia, Perturbações Esquizotípica e Delirante (F20-F29) com 41%, seguido das Perturbações de Humor com 36,4%. No que diz respeito à Qualidade de Vida avaliada através do SF-36, verificou-se em todas as dimensões valores correspondes a pior qualidade de vida quando comparados com os valores da população portuguesa normal. Os resultados encontrados nas 9 dimensões do BSI afastam-se de forma evidente dos resultados na população normal. P0147 A EPIDEMIOLOGIA DO SUICÍDIO EM PORTUGAL: 1980-2008 Sónia Quintão, Susana Costa; Ricardo Gusmão Faculdade de Ciências Médicas - UNL Introdução: Tem sido comum, em comunicações científicas e publicações, a referência a taxas desactualizadas do suicídio em Portugal, assim como têm sido apresentadas análises de tendências com um reduzido número de anos. Objectivos: Dotar a comunidade científica de uma ferramenta actual, metodologicamente correcta, que permita conhecer efectivamente os números do suicídio em Portugal. MÉTODO: Foram obtidos dados brutos de mortes por suicídio, por ano, por faixa etária e sexo e produzidas taxas específicas por 100.000 habitantes e taxas ajustadas à idade. Resultados: De 1980 a 2008 as taxas nacionais da mortalidade por suicídio têm-se mantido estáveis, mas esta tendência não se verifica em todas as faixas etárias, estando a diminuir no que concerne às faixas de idades mais jovens e a aumentar no grupo etário mais elevado. São também apresentados dados conjuntos da mortalidade por suicídio e por causa indeterminada. Discussão: Parte substancial das mortes de causa indeterminada parece corresponder a suicídios mal classificados, contudo não é expectável que esses suicídios não contabilizados alterassem as tendências das taxas de suicídio no período em estudo, pois a soma das mortes de causa indeterminada e das mortes por suicídio parece acompanhar as mesmas tendências. Assim, podemos apresentar tendências realistas para a população portuguesa. P0148 AVALIAÇÃO DE QUALIDADE EM SAÚDE MENTAL: UM ESTUDO OBSERVACIONAL Eva Mendes, Joaquim Cerejeira Hospitais Universidade Coimbra Introdução: A qualidade em Saúde Mental, de uma forma geral, tem-se focado mais no estudo do funcionamento dos serviços e 48 Saúde Mental Mental Health na satisfação dos doentes e seus familiares e não tanto em outros domínios, como sejam o estado clínico dos doentes. De facto, a literatura considera quatro domínios de estudo na área da qualidade em psiquiatria: a satisfação dos doentes e famílias, o funcionamento dos serviços, a qualidade de vida e a evolução clínica dos doentes. No presente estudo observacional, procuramos avaliar o último parâmetro, numa população de doentes em regime de internamento e diversas patologias psiquiátricas. Participantes: trinta e oito doentes (média de idade: 41,9 anos), sexo masculino, internados no nosso serviço entre 5 Abril e 15 Outubro de 2010, com média de 21,0 dias de internamento (Desvio Padrão(DP)= 22,3). Várias patologias observadas, sendo a mais frequente a Síndrome da Dependência de Álcool (13,2%), seguida de Esquizofrenia Paranóide, Reacção de Ajustamento e Perturbação de Ansiedade Generalizada, todas com 10,5%. Outras com menor expressão. Métodos: Qualidade avaliada através da aplicação de duas escalas, no momento da admissão e da alta: Brief Psychiatric Rating Scale (BPRS) e Clinical Global Impression (CGI). Resultados: À entrada, média de BPRS total 44,6 (DP=14,8) e média de CGI 4,5 (DP=1,6), sendo que no momento da alta verificou-se média de BPRS total 33,1 (DP=10,0) - redução de 25,8% - e média de CGI de 2,6 (DP=0,8) - redução de 42,3%. Menores reduções foram observadas em doentes com diagnóstico de síndrome demencial. Discussão e Conclusão: A BPRS e a CGI permitiram-nos inferir sobre a melhoria dos doentes internados no nosso serviço, podendo representar armas úteis em posteriores avaliações de qualidade em Saúde Mental, no que à evolução clínica do doente diz respeito. P0149 AVALIAÇÃO DO SÍNDROME DE BURNOUT NOS INTERNOS DE PSIQUIATRIA E PEDOPSIQUIATRIA Ana Moscoso, João Gama Marques Hospital Dona Estefânia; Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa O Internato Médico pode ser um período stressante no qual os Médicos Internos sentem responsabilidades acima das suas competências e não têm controlo sobre o seu trabalho ou carreira. O síndrome de Burnout é definido como uma resposta inadequada ao stress ocupacional e tem três dimensões: a exaustão emocional, o cinismo e a sensação de ineficácia profissional. O Interno de Psiquiatria não é isento deste risco, apresentando algumas particularidades. Este trabalho faz parte de um estudo multinacional que procura avaliar a presença de Burnout e dos seus factores precipitantes/protectores nos internos das Especialidades de Psiquiatria. Conta já com a presença de 26 países, e outros estão a iniciar a sua participação. Esta comunicação vai centrar-se nos resultados obtidos em Portugal. Foram incluídos no estudo nacional todos os Médicos Internos das Especialidades de Psiquiatria e Psiquiatria da Infância e Adolescência do ano de 2009. O estudo decorreu sob a forma de um questionário online que obteve informação diversa: informação geral (idade, sexo, estado civil, número de filhos, condições habitacionais); educacional; condições de trabalho; lazer. Foram também aplicados 5 questionários estruturados: Maslach Burnout Inventory (MBI-GS); Areas of Worklife Survey (AWLS); Patient Health Questionnaire (PHQ-9); Suicide Ideation and Behaviour Questionnaire (SIBQ); Big Five Inventory (BFI). Nesta apresentação pretende-se mostrar os resultados deste estudo, bem como abrir o debate sobre os mesmos. P0150 REFERENCIAÇÃO DE DOENTES VIH À CONSULTA DE PSICOIMUNOLOGIA DO HOSPITAL DE SÃO JOÃO: CARACTERIZAÇÃOS João Marques, Margarida Leão; Miguel Bragança Hospital de São João; Hospitais Universitários de Coimbra Introdução: A Infecção pelo VIH constitui umas das mais graves epidemias deste século, e requer atenção devido ao seu progressivo avanço em diferentes grupos populacionais. Actualmente, existe uma complexa associação entre perturbações psiquiátricas e o VIH, tanto em doentes com diagnóstico psiquiátrico prévio, como em indivíduos cuja resposta psíquica, frente a aceitação da própria doença, promova perturbações mentais. Estudos recentes revelam taxas de prevalência Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 de cerca de 30 a 60% de perturbações psiquiátricas major em doentes portadores de VIH. Neste sentido, a existência de uma consulta de Psicoimunlogia no H.S.J. surge com o objectivo de dar resposta a estas novas exigências, funcionando em íntima colaboração com a consulta de Doenças Infecciosas, contribuindo para um melhor acompanhamento destes doentes. Objectivos e Métodos: O principal objectivo deste estudo consiste em estabelecer a caracterização sóciodemográfica e clínica dos doentes infectados com VIH e referenciados pela primeira vez à consulta de Psicoimunologia do HSJ, durante o período entre Setembro de 2007 a Setembro de 2010. Trata-se de um estudo descritivo com um total de 229 doentes, 131 homens e 98 mulheres, tendo sido utilizada informação recolhida do processo clínico e durante a entrevista. A análise estatística foi efectuada utilizando o Microsoft Office Excel 2007. Resultados e Conclusão: Este estudo revelou que a maioria dos doentes referenciados são do sexo masculino, apresentam idades compreendidas entre os 35-45 anos, baixo nível educacional e sem actividade laboral. Os principais motivos de referenciação consistem em queixas de sintomatologia depressiva e alterações de comportamento. Depois de avaliação psiquiátrica foi possível estabelecer um diagnóstico clínico em 80% dos doentes, sendo os mais comuns a perturbação de adaptação á doença, episodio depressivo moderado e perturbações relacionadas com o uso de substâncias. 85% dos doentes foram medicados com psicofarmacos. Os resultados do estudo confirmam a alta prevalência de comorbilidades psiquiátrica em doentes HIV, justificando o acompanhamento em consulta específica de Psicoimunologia. P0151 PSICOPATOLOGIA EM INTERNAMENTO DE NEUROLOGIA Rita Mateiro, Ana Margarida Baptista Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Introdução: Estudos internacionais revelam tendência para subtratar patologia psiquiátrica em doentes com patologia neurológica primária, pelo que as autoras consideram pertinente a caracterização psicopatológica de uma amostra de doentes internados em Neurologia. Método: Consulta das notas de alta de 178 doentes internados no serviço de Neurologia do Hospital Garcia de Orta entre 01/10/2008 e 30/06/2009, com recolha dos dados relativos a antecedentes pessoais psiquiátricos (diagnósticos e psicofármacos), psicopatologia de novo no internamento, prescrição de psicofármacos e diagnóstico psiquiátrico de saída. Resultados: Dos resultados encontrados, destaca-se que 23% dos doentes apresentavam antecedentes psiquiátricos (12% abuso e/ou dependência de álcool e 10% síndromes depressivos); na psicopatologia detectada no internamento o mais prevalente foi o humor deprimido em 12% dos doentes. Na nota de alta apenas 18% dos doentes apresentavam diagnóstico psiquiátrico, sendo o mais comum o síndrome depressivo, com 12%. Discussão / Conclusão: A literatura é escassa na caracterização psicopatológica geral de doentes internados em Neurologia, limitando-se os estudos existentes a patologias neurológicas específicas. Nesta amostra, à data de alta, parte dos antecedentes psiquiátricos não foram considerados como diagnósticos de saída. O método do estudo é limitado pela não utilização de escalas validadas para a avaliação de psicopatologia e pela elaboração das notas de alta por médicos de Neurologia. Tal como demonstrado em estudos internacionais, as autoras colocam como hipótese explicativa a não valorização dos sintomas psiquiátricos pelos neurologistas. Dado que a evidência sugere que a sintomatologia depressiva está associada ao aumento da morbilidade e mortalidade em doentes com patologias crónicas, as autoras salientam a importância da caracterização neuropsiquiátrica dos doentes com patologia neurológica primária, sugerindo a realização de estudos adicionais neste âmbito. P0152 PREVENIR E TRATAR EM CASA - PRETRARCA - EXPERIÊNCIA DE 6 MESES Luís Madruga, Albertina Gonçalves; Adília Paz; Alexandra Domingues; Helena Granadeiro; Marco Gonçalves Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Sessões de Posters / Posters Sessions Prevenir e tratar em casa é um projecto aprovado pelo Alto Comissariado para a Saúde e Comissão Nacional para a Saúde Mental no âmbito do financiamento de Programas Inovadores em Saúde Mental. Este projecto é o corolário natural da experiência adquirida e desenvolvida pela equipa do Sector C do CHPL mediante a criação (em 2006) e desenvolvimento do Programa Assertivo de Prevenção das Recaídas (PAPR) de doentes com patologia mental grave. O PRETRARCA desenvolve-se hoje de forma regular, na Clínica Lisboa Cidade e Serviço de Psiquiatria Geriátrica do CHPL. Baseia-se no pressuposto de que pelas características da perturbação mental grave, os doentes têm grande dificuldade em manter adesão ao tratamento, necessitando de redes de suporte familiar e social, que mantenham de forma atenta a continuidade de cuidados. Na sua ausência, muitos doentes que permanecem em ambulatório apresentam elevado risco de recaída, sendo constantes os fenómenos de porta giratória na urgência e no internamento, apresentando elevado risco para um aumento do nº de doentes com comportamentos disruptivos e consequentes internamentos compulsivos a par de um maior risco de deterioração clínica, de sobrecarga sóciofamiliar, de dificuldades na reabilitação e agravamento prognóstico destes doentes que dificultam a inserção dos mesmos na comunidade. Os autores abordam de forma descritiva a actividade desenvolvida pelo PRETRARCA nos primeiros 6 meses (Abril – Outubro 2010) e o conhecimento da população de doentes inseridos no mesmo, com os dados disponíveis até ao momento. P0153 ADESÃO TERAPÊUTICA E INTERNAMENTOS COMPULSIVOS NO CHTS-UPA EM 2009 Bruno Ribeiro, Orlando von Doellinger, Teresa Cabral CHTS-UPA Objectivo: Da Lei da Saúde Mental(LSM), Lei nº36/98 de 24 de Julho,beneficiou a corporização legislativa consagrada a funções de ordenamento e fiscalização de internamentos psiquiátricos compulsivos.Este trabalho traduz-se numa revisão estatística,avaliação e investigação dos internamentos compulsivos,do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa,Unidade Padre Américo (CHTS-UPA) em 2009. Materiais e métodos: Revisão dos Processos Clínicos e Judiciais dos doentes internados compulsivamente no CHTSUPA em 2009. Avaliaram-se os seguintes parâmetros:distribuição dos internamentos,idade,sexo,estado civil,profissão, antecedentes psiquiátricos e adesão terapêutica,proveniência,sintomatologia na 1.ª observação,sintomas à data do internamento,diagnósticos de entrada e saída,dias de internamento,orientação e terapêutica pós-alta. Resultados: 64%dos internados eram do sexo masculino;41% tinham entre 31 e 40 anos;21% casados;49% sem ocupação profissional;82%possuíam antecedentes psiquiátricos,medicados,dos quais 84% abandonaram a terapêutica instituída;nos doentes diagnosticados com Psicose,86,7%abandonaram a medicação oral e 83,3% a medicação injectável;79,5% dos internamentos ocorreram após emissão de mandado de condução,18% após recurso à Urgência Psiquiátrica;na 1ª avaliação clínico-psiquiátrica 76,9% apresentaram actividade delirante/alucinatória,69,2% auto/hetero-agressividade,28,2% antecedentes de consumo de álcool/drogas; à data do internamento 92,3% apresentavam alterações do humor,79,5% actividade delirante e 23% actividade alucinatória;os Diagnósticos de Entrada mais prevalentes foram Alterações Comportamentais(59%),Psicose Esquizofrénica/Descompensação Psicótica(33,3%);o Diagnóstico de Saída mais prevalente foi Psicose Esquizofrénica(53,8%);a duração média do internamento foi de 32,5 dias;66,7% dos doentes tiveram alta em ambulatório compulsivo,15,4% em ambulatório voluntário;53,8% doentes que faziam terapêutica oral passaram a terapêutica injectável. Discussão e conclusão: A principal causa dos Internamentos Compulsivos parece ser a baixa adesão à terapêutica, independentemente da forma de administração terapêutica instituída.Salienta-se a necessidade de maior promoção e cooperação dos diversos profissionais da saúde mental no entendimento e aplicação da LSM. Palavras-chave: Internamento Compulsivo,LSM. 49 Sessões de Posters / Posters Sessions P0154 INTERNAMENTOS POR INTOXICAÇÃO MEDICAMENTOSA VOLUNTÁRIA NOS HUC EM 2009 CARACTERIZAÇÃO EPIDEMIOLOGICA Sandra Gomes Pereira; Catarina Pereira; Fernando Figueiredo; Fernanda Cristina Ordens Miguel; Paula Garrido Hospitais da Universidade de Coimbra; Serviço de Psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra; EventServices As intoxicações medicamentosas voluntárias em contexto de tentativa de suicídio são muito frequentemente alvo de atendimento no serviço de urgência, sendo motivo de internamento hospitalar quando há compromisso vital ou quando acompanhadas de ideação suicida activa e persistente. O presente estudo retrospectivo com abordagem descritiva e quantitativa, tem como objectivos avaliar o perfil epidemiológico dos doentes que fizeram intoxicações medicamentosas e necessitaram de internamento nos Hospitais da Universidade de Coimbra no ano de 2009 e avaliar ainda se estes doentes foram devidamente orientados para a especialidade de Psiquiatria. Foram seleccionados 77 doentes, através do Departamento de Estatística dos HUC, que correspondem à totalidade dos indivíduos que foram submetidos a internamento hospitalar por intoxicação medicamentosa nos HUC durante o ano de 2009. As variáveis avaliadas pela consulta dos processos clínicos destes doentes, estão relacionadas com o doente (características sociodemográficas, existência de comorbilidades médicas e/ou psiquiátricas), o episódio (sazonalidade e factores circunstanciais) e o agente utilizado (classe farmacológica). Apurou-se que o sexo feminino entre os 40-60 anos representa o grupo predominante e que os psicofármacos são os responsáveis pela esmagadora maioria dos casos de intoxicações medicamentosas. Estes resultados podem ser úteis na avaliação da eficácia da referenciação para a Consulta de Prevenção do Suicídio por parte de outras especialidades e a partir do Serviço de Urgência, contribuindo assim para melhorar a orientação psiquiátrica destes doentes. P0155 O SERVIÇO DE REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL DO HOSPITAL DE MAGALHÃES LEMOS: ANÁLISE ESTATÍSTICA 2000-2008 (2ª PARTE) Luís Martins Correia, Liliana Castro; Alexandra Alves Hospital de Magalhães Lemos / Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; Hospital de Magalhães Lemos Introdução: O Serviço de Reabilitação Psicossocial (SRP) do Hospital Magalhães Lemos (HML) destina-se à prestação de cuidados de saúde mental tendo em vista a reabilitação funcional de doentes com patologia mental com prejuízo a nível do seu funcionamento psicossocial e da sua integração na comunidade. Objectivo: Analisar a população que frequenta o SRP do HML, no período compreendido entre 2000 e 2008, em termos de características sociodemográficas, patologia, tipo de cuidados prestados e evolução terapêutica. Métodos: Foi consultada a base de dados em Excel® relativa às admissões no SRP do HML entre 1 de Janeiro de 2000 e 31 de Dezembro de 2008. Também foram consultados os registos clínicos do Sistema de Apoio ao Médico (SAM®). Foi realizada análise estatística descritiva usando o programa SPPS®. Resultados: A esquizofrenia (38,3%), as perturbações de personalidade (30,8%), a patologia depressiva e as reacções de ajustamento (19,1%) foram as patologias mais representadas. Entre a população esquizofrénica, verifica-se um predomínio masculino (3:1), metade da população era da área assistencial do serviço porto. Entre a população com patologia depressiva ou reacções de ajustamento verifica-se predomínio feminino (4:1), metade da população era da área assistencial do serviço do porto e 87% destes doentes frequentou o clube terapêutico. A população com perturbação da personalidade apresenta uma relação 2:3 e metade pertencia à area ssistencial do serviço porto. P0156 CARACTERIZAÇÃO DOS PEDIDOS DE COLABORAÇÃO DE PSIQUIATRIA NUM HOSPITAL GERAL 50 Saúde Mental Mental Health Sofia Caetano, Nuno Cunha; Silvina Fontes; Ana Isabel Oliveira Hospital São Teotónio EPE Objectivos: Caracterizar pedidos de colaboração de Psiquiatria de doentes internados no Hospital Geral. Métodos: Estudo retrospectivo de 309 pedidos de colaboração de doentes internados no Hospital São Teotónio, entre 1 de Janeiro de 2008 e 31 de Dezembro de 2009. Resultados: A média de idades foi 53 anos (n=296). Os serviços que mais requisitaram colaboração foram: Medicina Interna (27.12%), Cirurgia (20.69%), Obstetrícia (9.83%) e Ortopedia (7.80%). A distribuição quanto ao género foi uniforme. Os dias da semana com mais pedidos foram 5ª e 2ªfeira. A maioria dos pedidos tinham carácter urgente, sendo o motivo mais frequente sintomas depressivos/ ansiosos seguido de alterações de comportamento e comportamentos autolesivos. O serviço com maior percentagem de motivo não especificado foi a Ortopedia. Os problemas relacionados com uso/ abuso de drogas foram os que motivaram pedido de colaboração mais precoce. Observou-se em 69.90% dos pedidos informação suficiente/adequada. Em 61% não havia informação sobre antecedentes psiquiátricos. Em 85.10% dos casos os doentes foram observados no próprio dia. Conclusões: Apesar de não haver uma equipa específica de psiquiatria de ligação no Hospital, nem nele estarmos integrados fisicamente, há um número considerável de solicitações (principalmente dos serviços cirurgia e medicina) que indiciam a crescente necessidade de criação dessa valência. P0157 OS DOENTES INTERNADOS COMPULSIVAMENTE TÊM PIOR SITUAÇÃO SOCIAL? Oriana Pinto, Magda Ribeiro; Ângela Venâncio Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho Objectivo: Averiguar se existe uma diferença social significativa entre os doentes com quadro psicótico diagnosticado, que foram internados compulsivamente em relação aos que o foram voluntariamente, no decorrer de 2009, no internamento do Serviço de Psiquiatria do CHVNG/E. Hipótese: Os doentes internados compulsivamente têm globalmente uma pior situação social do que os doentes internados voluntariamente. Métodos: Os dados dos doentes internados de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2009 no internamento misto do Serviço de Psiquiatria do CHVNG/E foram introduzidos numa base de dados e tratados estatisticamente. Seleccionaram-se para a amostra apenas os doentes com diagnóstico, de acordo com a DSM-IV-TR, que se coadunassem com os códigos 295 e 297 e suas subdivisões. Nesta amostra de casos, procedeu-se à divisão em dois grupos: doentes internados compulsivamente e doentes internados voluntariamente. As variáveis analisadas, fazendo sempre a comparação entre os dois grupos, foram: o sexo, a idade, o acompanhamento por Médico de Família, a escolaridade, a situação profissional, a comorbilidade médica e o apoio social. Resultados: Número total de doentes internados – 413; número total de psicóticos internados – 119; número de doentes psicóticos internados compulsivamente – 46 (37%); número de doentes psicóticos internados voluntariamente – 73 (61%). Verificaram-se percentagens mais elevadas de apoio social (32% vs. 26%), emprego (15% vs. 2%) e reforma por invalidez (33% vs. 28%) nos doentes internados voluntariamente, sendo que nos doentes internados compulsivamente havia uma maior taxa de desemprego (67% vs. 49%). Trinta e seis doentes psicóticos habitavam sozinhos com pouco ou nenhum apoio familiar e metade destes doentes encontrava-se internado compulsivamente. Conclusão: Os doentes internados compulsivamente aparentam ter uma estrutura social com menor suporte. Esta situação poderá dar-se devido ao pouco suporte existente a nível comunitário para estes doentes. P0158 AVALIAÇÃO MULTIDISCIPLINAR DOS DOENTES EM HOSPITAL DE DIA (HD) NA UNIDADE DE PSIQUIATRIA COMUNITÁRIA E HOSPITAIS DE DIA DO HOSPITAL SÃO JOÃO (HSJ) Diana Maia, Susana Fonseca; Rui Lopes; Pedro Ferreira; Susana Rodrigues; Sara Sousa; Helder Lourenço; Júlia Pereira; Luísa Mon- Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 teiro; Vanessa Ribeiro; Marta Figueiredo; Dulce Sousa; Mário Viana; Rosário Curral Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental, Hospital de São João, Porto No sentido de definir um plano de cuidados individuais para o doente, foi elaborado um protocolo de avaliação multidisciplinar com o objectivo final da reabilitação psicossocial. Esta avaliação pretende caracterizar a população dos doentes admitidos em regime de HD entre 01/01/2009 e 30/06/2010, através da análise estatística dos dados sociodemográficos e clínicos obtidos à entrada, utilizando o software SigmaStat. Pretende-se ainda avaliar o grau de satisfação dos doentes com os serviços que lhe são prestados. Foram utilizados os seguintes instrumentos psicométricos: Brief Symptom Inventory (BSI), SF-36 e Occupational Self Assessment (OSA). Numa amostra total de 128 doentes foram excluídos 18 (critérios de exclusão: debilidade mental, descompensação psicopatológica que impossibilitasse o preenchimento do protocolo e avaliação prévia num período inferior a 6 meses). Dos 110 doentes estudados, 45,5% eram do sexo masculino (n=50) e 54,5% do sexo feminino (n=60). A idade média dos participantes foi de 43,8 (SD=11,39), anos de escolaridade média de 8,4 (SD=3,5), média de idade de início da doença de 27,5 (SD=12,8) e média do número de anos da doença de 16,1 (SD=10,4). Relativamente ao estado civil, os doentes casados e solteiros tinham uma percentagem igual (36,7%), os divorciados 24,1% e viúvos 2,5%. Os diagnósticos mais frequentes foram do Grupo da Esquizofrenia, Perturbações Esquizotípica e Delirante com 41%, seguido das Perturbações de Humor com 36,4%. No que diz respeito ao SF-36, verificou-se em todas as dimensões valores correspondes a pior qualidade de vida quando comparados com os valores da população portuguesa normal. Os resultados encontrados nas 9 dimensões do BSI afastam-se de forma evidente dos resultados na população normal. Os resultados com a OSA indicam que os aspectos da funcionalidade mais escolhidos pelos doentes para o seu processo de reabilitação psicossocial são: a satisfação com o dia-a-dia, a capacidade de resolução de problemas e a capacidade de comunicar. Neurociências e Psiquiatria P0159 ABORDAGEM TERAPÊUTICA DA PSICOSE NA DOENÇA DE PARKINSON - RELATO DE CASO Eva Osório; João Massano; Maria José Rosas Hospital de São João, E.P.E. Cerca de 20 a 30% dos doentes com doença de Parkinson (DP) medicados cronicamente com agentes antiparkinsónicos apresentam sintomas psicóticos, com impacto significativo na sua qualidade de vida. A psicose na DP (PDP) caracteriza-se, mais frequentemente, pela presença de alucinações visuais e de actividade delirante de teor paranóide, durante pelo menos um mês, em pacientes com DP diagnosticada pelo menos um ano antes do desenvolvimento da psicose. A PDP ocorre geralmente após dez ou mais anos de tratamento. Apesar de muitos clínicos atribuírem à exposição crónica a agentes dopaminomiméticos a principal causa de desenvolvimento de PDP, é difícil estabelecer uma relação entre a dose e o tempo específico de exposição a estes agentes e a ocorrência de PDP. Outros factores de risco podem favorecer o desenvolvimento de PDP, nomeadamente, exposição a antagonistas colinérgicos, idade avançada, presença de deterioração cognitiva, evidência imagiológica de atrofia cerebral ou antecedentes pessoais de psicose induzida por substâncias. O tratamento da PDP revela-se complexo. A redução da dose de drogas dopaminomiméticas e a instituição de fármacos antipsicóticos, necessárias no tratamento da psicose, acarretam um agravamento dos sintomas motores, frequentemente não tolerado pelos doentes. Com o desenvolvimento de antipsicóticos atípicos, novas estratégias terapêuticas surgiram no tratamento da PDP. Neste trabalho, os autores relatam um caso de parasitose delirante num doente de 74 anos de idade, com doença de Parkinson diagnosticada e tratada desde 2001. São objectivos deste trabalho discutir os factores de risco Sessões de Posters / Posters Sessions provavelmente implicados no desenvolvimento da psicose neste doente e o plano terapêutico instituído. P0160 ASSUMIR O PAPEL DE DOENTE: PERTURBAÇÕES FACTÍCIAS EM NEUROLOGIA Ana Eduarda Ribeiro, Estefania Gago; Mónica Santos Hospital de Magalhães Lemos As Perturbações Factícias (PF), caracterizadas por sinais ou sintomas físicos e/ou psicológicos que são simulados, induzidos ou agravados intencionalmente, correspondem a aproximadamente 1% dos doentes observados em consulta de Psiquiatria. Devem ser incluídas no diagnóstico diferencial de múltiplas patologias psiquiátricas ou médicas, podendo apresentar-se com predomínio de sinais e sintomas psicológicos, físicos ou mistos. Os casos que se apresentam com sintomas neurológicos tendem a aproximar-se da variante grave, crónica e refractária conhecida como síndrome de Münchausen. À excepção do relato de caso precoce de Asher, de 1951, o subtipo neurológico das PF tem sido alvo de raras descrições na literatura. Entre os sintomas neurológicos mais frequentemente relatados encontram-se as alterações do estado de consciência, as crises convulsivas, as alterações mnésicas e as cefaleias. A Psiquiatria revestese de um papel fundamental na abordagem destes quadros clínicos, não apenas na orientação terapêutica, mas também no diagnóstico diferencial imperativo com as Perturbações Somatoformes, Dissociativas ou com a Simulação. O atraso no diagnóstico e a ausência de uma intervenção terapêutica precoce podem condicionar danos físicos inegáveis, oriundos dos procedimentos diagnósticos e /ou das atitudes terapêuticas. P0161 RECOMPENSA ALIMENTAR INSÍPIDA: DETECÇÃO PÓS-INGESTIVA DO VALOR CALÓRICO Albino J. Oliveira-Maia; Sidney A. Simon; Miguel A. L. Nicolelis Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental e Champalimaud Neuroscience Program; Duke University Medical Center Os actos alimentares são influenciados pelo prazer e recompensa, mecanismos que são relevantes para o consumo alimentar excessivo e para a obesidade. Na verdade, há evidência que as respostas hédonicas a estimulos alimentares estão alteradas em seres humanos obesos, tanto em termos comportamentais como nas respostas neuronais observadas no estriado, uma região central dos circuitos cerebrais de recompensa, densamente inervada por fibras dopaminérgicas. A existência de respostas dopaminérgicas ao consumo de alimentos, nomeadamente açucares, foi já extensamente demonstrada, particularmente em roedores, tendo sido descrito que a percepção do sabor doce é suficiente para ser libertada dopamina no estriado. No entanto, a participação de mecanismos sensoriais pós-ingestivos, independentes do sabor, não era clara. Os ratinhos sem canais TRPM5 funcionais (Tprm5-KO) não apresentam respostas comportamentais ou neuronais periféricas a substâncias com sabor doce, sendo portanto um modelo útil para compreender as propriedades pósingestivas da sacarose. Anteriormente demonstrámos que, mesmo sem sentir o sabor doce, os animais KO são sensíveis às propriedades de recompensa pós-ingestiva da sacarose, tanto em termos comportamentais como em termos da libertação de dopamina e modulação da actividade neuronal no estriado. No entanto, não é ainda claro quais as vias pós-ingestivas que sinalizam o valor calórico. A insula é a região cortical onde se encontram respostas sensoriais de natureza visceral, incluindo aquelas mediadas pelo nervo vago. Verificámos que, em ratinhos KO, os neurónios insulares respondem às características de recompensa pós-ingestiva da sacarose. A importância desta actividade neuronal é sublinhada pelo facto de, num estudo de lesão, se ter verificado que a expressão de preferências pela sacarose independentemente do sabor fica comprometida na presença de lesões da insula. Um fenótipo comportamental idêntico foi observado em animais com lesão subdiafragmática do vago, sugerindo que o sistema sensorial visceral vagal-insular tem um papel relevante nas 51 Sessões de Posters / Posters Sessions respostas pós-ingestivas a alimentos com valor calórico. P0162 A LIMITAÇÃO DAS CLASSIFICAÇÕES INTERNACIONAIS DE DOENÇA - CASO CLÍNICO Luís Fonseca, Joaquim Duarte Hospital de Braga Introdução: Na prática clínica observa-se com frequência perturbações do foro neuropsiquiátrico que não se enquadram em nenhum dos diagnósticos propostos pelas classificações internacionais. Caso Clínico: (com registo vídeo) Mulher de 53 anos de idade, sem antecedentes neuropsiquiátricos conhecidos até Junho de 2009. Nessa altura inicia terapêutica antidepressiva, prescrita pela médica assistente, por síndrome depressiva. Foi posteriormente observada por duas vezes no SU de psiquiatria, por ausência de melhoria clínica, tendo-lhe sido realizados reajustes medicamentosos, sem resultado. Ao longo destes meses apresentava alterações do comportamento com agravamento progressivo e uma postura que alternava entre um estado de apatia/indiferença afectiva e um estado de angústia. Apresentava interferência funcional grave. Em Dezembro de 2009 é internada em psiquiatria após intoxicação voluntária com lixívia. Tem alta após 1 semana de internamento, sem melhoria significativa. Reinternada no dia 31 de Dezembro de 2009 pela mesma clínica. Teve alta sem grande melhoria. Reinternada por mais duas vezes no mesmo contexto. No último internamento, com a duração de 3 meses, e na ausência de melhoria com medicação, fez ECT, com melhoria parcial. Exames complementares de diagnóstico (ECD) realizados durante o acompanhamento: RM cerebral (focos glióticos inespecíficos potencialmente isquémicos em áreas subcorticais), estudo analítico (normal), estudo neuropsicológico (defeito cognitivo ligeiroamnésico) e SPECT [(hipocaptação anterior bilateral, dorsolateral (+ à esquerda) e temporal mesial (+ à direita)]. Discussão: Mediante as características e a evolução da doença e os resultados dos ECD, não é possível, de momento, atribuir um diagnóstico claro, de acordo com as classificações internacionais. É no entanto indiscutível que a doente apresenta um mal-estar significativo, que interfere na sua capacidade funcional, assim como a existência de disfunção cerebral. A idade tardia de aparecimento da sintomatologia, a ausência de antecedentes, o tipo de sintomatologia e a refractoriedade terapêutica são a favor de um diagnóstico neuropsiquiátrico de demência. No entanto, a ausência de deterioração cognitiva e a melhoria parcial com a ECT podem, em certa medida, questionar este diagnóstico. Também as alterações neuropsicológicas e neuroimagiológicas não são características de nenhum tipo de demência. P0163 STRESSE EM PROFISSIONAIS DE EMERGÊNCIA MÉDICA PRÉHOSPITALAR: CONSTRUÇÃO DE UM MODELO ANALITICO Hugo Amaro Universidade do Algarve Os estudos relativos ao stresse e ao burnout nos profissionais de emergência médica préhospitalar têm procurado descrever os níveis de stresse apresentados por estes sujeitos de estudo. A inexistência de um modelo explicativo do stresse tem dificultado a intervenção terapêutica junto destes profissionais. Dentro destas ideias, surge este estudo cujo objectivo consiste em construir um modelo explicativo do stresse e do burnout nos profissionais de emergência médica préhospitalar, validado empiricamente. A amostra foi constituída por 161 profissionais de emergência médica distribuídos pelo território nacional dos quais 42,2% possuem a categoria profissional de TAE/ TAS, 31,7% são Enfermeiros e 26,1% são Médicos, tendo sido utilizada uma amostragem por clusters, seguida da técnica de amostragem aleatória. A partir do modelo hipotético previamente elaborado, que envolvia as variáveis stresse, burnout, variáveis consideradas como protectoras (coping, resiliência, suporte social), assim como diversas variáveis de hábitos de vida e profissionais, começamos por calcular o efeito das variáveis das variáveis protectoras sobre o stresse, através de testes de mediação (testes de sobel). Seguidamente foi calculado 52 Saúde Mental Mental Health a predição do stresse a partir das variáveis protectoras através de regressão múltipla pelo método stepwise e de seguida o efeito consequente das variáveis protectoras sobre o burnout, quer directos, quer mediados pelo stresse. Com o intuito de melhor os valores de ajustamento do modelo, foram inseridas as variáveis profissionais e de hábitos de vida. Assim, o modelo em questão foi sujeito a análise através de equações estruturais pelo programa AMOS 16, o que permitiu construir um modelo explicativo do stresse e do burnout depurado e com bons valores de ajustamento, permitindo explicar 41% do stresse nos profissionais de emergência médica préhospitalar. Verificou-se que a prática de exercício físico, satisfação com a família, duplo emprego e alterações do sono são importantes na explicação do stresse nos sujeitos de estudo. P0164 A IMPORTÂNCIA DA FARMACOGENÉTICA NA RESPOSTA AOS PSICOFÁRMACOS – UM ESTUDO DE GENOTIPAGEM DO SISTEMA Gabriel Miltenberger-Miltenyi, André Janeiro; Rosario Sanches; Catarina Fernandes; Olívia Robusto-Leitão Instituto de Medicina Molecular, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa; GenoMed, Diagnósticos de Medicina Molecular, IMM, Universidade de Lisboa, Portugal; Serviço de Psiquiatria, CHLN (Hospital de Santa Maria), Lisboa, Portugal O Citocromo P450 é composto por um grupo de isoenzimas altamente polimórficas que metabolizam diversos fármacos como antidepressivos e antipsicóticos. As isoenzimas do Citocromo P450 mais frequentemente investigadas são CYP2D6, CYP2C9, CYP2C19 e, mais recentemente, CYP1A2. Alterações genéticas de carácter benigno, chamados polimorfismos, são comuns nos genes que codificam estas enzimas. Estes polimorfismos são importantes porque podem modificar a estrutura da proteína codificada e, desta forma, influenciar a sua função no metabolismo de fármacos. Como é importante para o clínico monitorizar a resposta de um paciente ao tratamento e adequar, em quantidade e qualidade, esse mesmo tratamento a cada caso, a análise farmacogenética irá representar um papel essencial em Saúde. Contudo, estas análises são ainda raras e por vezes pouco conhecidas. Com base nestas observações, o nosso laboratório de diagnóstico molecular implementou o teste genético para os polimorfismos mais comuns das isoenzimas CYP2D6, CYP2C9, CYP2C19 e CYP1A2. Actualmente, estamos a investigar a influência das alterações genéticas (dos fenótipos) no tratamento de um grupo de utentes da Consulta de Psiquiatria do Hospital Universitário de Santa Maria em Lisboa, maioritariamente constituído por portadores de depressão. Os resultados dos testes genéticos deverão mostrar a associação entre os polimorfismos nas isoenzimas do Citocromo P450 e o metabolismo de vários fármacos utilizados em psiquiatria. Adicionalmente, estes resultados podem ajudar o psiquiatra na escolha dos fármacos mais indicados e a sua dosagem adequada ao paciente em questão, permitindo assim um tratamento médico individualizado. P0165 SINDROME DE TAKOTSUBO: REVISÃO TEÓRICA A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Filipe Silva Carvalho, Adriana Moutinho; Maria Chai Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa; Centro Hospitalar Psiquiatrico de Lisboa O caso clínico apresentado serve como nota introdutória à descrição do síndrome de Takotsubo. O Síndrome de Takotsubo é uma entidade nosológica que tem ganho notoriedade recente. Foi descrito pela primeira vez em 1990 no Japão, e significa “vaso para polvos”, pela forma característica da imagem cardíaca na ventriculografia. Estima-se que seja feito o diagnóstico em 2% dos casos de síndrome coronário agudo. Dos doentes, 85% são do sexo feminino, pósmenopausa; a idade média é de 67 anos. Em 75% dos casos é identificado um factor psicológico desencadeante e em 25-40% dos casos existe diagnóstico de quadro depressivo ou ansioso. A ventriculografia Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 apresenta a imagem típica, com dilatação e hipocinésia apicais, com normalização, em média, em 20 dias. São revistos alguns conceitos fisiológicos sobre a actuação catetocalaminérgica no coração. O fenómeno que ocorre em níveis supra-fisiológicos de epinefrina circulante denomina-se “stimulus traffiking”, resultando numa mudança global da via de sinalização intracelular de Proteína Gs para Gi, que resulta num inotropismo negativo, mais evidente na região apical, onde existe maior densidade de receptores ß2. Nestes doentes o aumento de catecolaminas séricas é proporcionalmente o mais importante. Finalmente são apontados alguns factores fisiopatológicos comuns entre patologia ansiosa e o síndrome de Takotsubo. P0166 “SEXSÓNIA” – COMPORTAMENTO SEXUAL DURANTE O SONO Adriana Moutinho, Alice Varanda Pereira; Gonçalo Jorge Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa; Centro Hospitalar Lisboa Central A sexsónia é um distúrbio que se caracteriza por comportamentos sexuais atípicos durante o sono, desde vocalizações de conteúdo sexual até masturbação violenta e actos sexuais mais complexos como penetração oral, vaginal ou anal. Tem implicações clínicas, psicossociais e médico-legais, tanto para o indivíduo doente como para quem o rodeia. Apesar de existirem poucos estudos e de ser um distúrbio pouco relatado, existem várias descrições de comportamentos agressivos, ataque sexual e envolvimento sexual de menores durante o sono. Sempre que se suspeite que um doente sofre de sexsónia, deve fazer-se uma história clínica rigorosa e completa, avaliação neurológica e psiquiátrica e videopolissonografia nocturna. Confirmado o diagnóstico deve estabelecer-se um plano terapêutico. Maior atenção deve ser prestada às questões psicossociais e médicolegais, assim como novos estudos são necessários para determinar a etiologia e melhorar a abordagem clínica. P0167 PEDOFILIA: MODELOS ETIOLÓGICOS Gonçalo Jorge, Adriana Moutinho; Alice Varanda Pereira Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa; Centro Hospitalar Lisboa Central A pedofilia, definida como a atracção sexual recorrente por crianças pré-púberas, é um problema sério e ubíquo com implicações clínicas, sociais, morais e legais. O presente trabalho tem como objectivo descrever os factores que mais frequentemente surgem associados a esta parafilia e analisar algumas das teorias propostas para a sua etiologia. No passado as teorias etiológicas atribuíam maior importância a factores ambientais, no entanto, estudos recentes têm enfatizado cada vez mais a importância de factores neurobiológicos. Apesar de estarem identificados vários factores, há poucas certezas no que se refere ao seu papel na etiologia desta doença e a maioria das teorias propostas é de natureza especulativa. P0168 HIPERPROLACTINÉMIA INDUZIDA POR ANTIPSICÓTICOS Autor: José Temótio, Vera Martins; João Viegas; Luis Marques; José Cunha Oliveira Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra Introdução: A elevação da prolactinémia é um efeito secundário, frequentemente menosprezado, de alguns antipsicóticos e está associado a hipogonadismo (com diminuição da líbido e infertilidade), galactorreia, distúrbios menstruais, disfunção eréctil e ao aumento do risco de complicações a longo prazo (como osteoporose e neoplasia da mama). Caso clínico: Relatamos o caso clínico de uma jovem do sexo feminino, de 17 anos, internada na Clínica Feminina do CHPC por alterações do comportamento em contexto de um distúrbio de personalidade borderline, medicada com risperidona na dose de 2 mg/dia, há cerca de um ano. Durante o internamento, na sequência de queixas de amenorreia, procedeu-se à avaliação hormonal tendose verificado hiperprolactinémia, hipercortisolismo e hiperaldosteronismo. Após suspensão dos antipsicóticos os valores normalizaram nos 3 meses seguintes, tendo regularizado o ciclo menstrual. Neste contexto foi encaminhada para consulta de endocrinologia e efectua- Sessões de Posters / Posters Sessions do o estudo imagiológico que excluiu causa orgânica, confirmando-se a iatrogenia do quadro. Conclusão: A propósito deste caso clínico procedemos à revisão dos dados mais recentes sobre o impacto clínico da hiperprolactinémia, ponderamos os critérios e os procedimentos de diagnóstico, sistematizamos as estratégias terapêuticas actualmente disponíveis e reflectimos sobre o prognóstico. P0169 PSICOSE NA DOENÇA DE PARKINSON - RELATO DE CASO Sofia Leite, Maria José Rosas; Constança Reis Hospital de São João Doença de Parkinson (DP) é uma doença multisistémica que inclui, além dos sintomas motoras, um largo espectro de sintomas não motores, tais como deterioração cognitiva e perturbações neuropsiquiátricas. Os sintomas psicóticos na DP são actualmente entendidos como uma complexa interacção entre doença e efeitos farmacológicos dos agentes dopaminomiméticos. Os factores de risco implicados na génese da Psicose na DP são, portanto, farmacológicos, genéticos e os relacionados com a doença. Destes, são de extrema importância, a deterioração cognitiva/demência, idade, duração e gravidade da doença, perturbações do sono, perturbações da visão, depressão e disautonomia. A prevalência dos sintomas psicóticos é aproximadamente 30%, sendo as alucinações visuais o sintoma psicótico mais frequente. As características destes sintomas estão bem documentadas o que facilita o diagnóstico diferencial com outras possíveis patologias psiquiátricas. O tratamento consiste na redução da dose dos fármacos dopaminomiméticos e na instituição de anti-psicóticos eficazes no controle dos sintomas psicóticos e que, simultaneamente, não agravem os sintomas motores. Neste trabalho os autores relatam dois casos, que apresentam sintomas psicóticos na fase précirúrgica da Estimulação Cerebral Profunda, com características atípicas à Psicose na DP. Pretende-se discutir os factores de risco implicados no desenvolvimento dos sintomas, as características dos mesmos e possíveis diagnósticos diferenciais. P0170 “DE UM DISTÚRBIO DISSOCIATIVO A UMA MENINGOENCEFALITE HERPÉTICA - CASO CLINICO” José Temótio, Luisa Rosa Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra Introdução: O caso clínico relatado foi inicialmente diagnosticado como um transtorno dissociativo tendo-se vindo a revelar como meningoencefalite herpética. Os transtornos dissociativos caracterizamse por uma perda parcial ou completa da memória, da consciência, da identidade e do controlo dos movimentos. A meningoencefalite herpética tem uma mortalidade significativa, sendo as suas principais manifestações clínicas: rigidez nucal, febre, cefaleias, alterações sensoriais, convulsões e deficits motores. Caso clínico: Apresentamos o caso clínico de uma jovem do sexo feminino, de 23 anos, observada no SU-HUC com um quadro de instalação súbita de elevada ansiedade, perplexidade, desorientação auto e alopsíquica, afasia respondendo às questões com monossílabos ou ecolália. A doente tinha sido previamente observada pela medicina e pela neurologia sem que o seu quadro tivesse sido valorizado do ponto de vista orgânico. Dos antecedentes pessoais recentes e familiares da doente constavam factores stressores capazes de provocar um transtorno dissociativo. Procedeu-se ao internamento no serviço de psiquiatria, onde foi medicada com amisulpride 50mg 1id e clorazepato dipotássico 5mg 3id. A TAC-CE revelou lesão temporal esquerda. Pedida a colaboração da neurologia, foi efectuado estudo através de punção lombar e RMN-CE e confirmada a lesão temporal compatível com meningocefalite herpética tendo a doente sido transferida para o serviço de infecciologia. Durante o internamento esteve medicada com aciclovir em doses terapêuticas, evoluiu favoravelmente mantendose ainda à data da alta pontuais deficits de nomeação e labilidade emocional. Conclusão: A propósito deste caso clínico pretendemos realçar que a abordagem dos doentes com patologia psiquiátrica em ambiente de urgência requer especial atenção, já que muitas vezes 53 Sessões de Posters / Posters Sessions somos confrontados com uma triagem errónea, superficial e marcada pela estigmatização da doença mental. Num quadro que não é típico, não devemos deixar de excluir todas as hipóteses usando os meios complementares de diagnostico disponíveis mesmo quando as causas psicogénicas parecem apontar para doença psiquiátrica. P0171 SINTOMAS NEUROLÓGICOS MEDICAMENTE INEXPLICADOS Diana Correia; Filipa Ramalho e Silva; Mariana Serra Lemos; Ana Maria Moreira Hospital de Magalhães Lemos; Hospital de Magalhães Lemos / Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Os sintomas medicamente inexplicados (MUS) definem-se como sintomas físicos que não têm causa física patológica identificável. São sintomas comuns e alguns estudos referem que estes podem representar a queixa principal em uma de cada cinco primeiras consultas nos cuidados primários. Os MUS constituem um grupo vasto e heterogéneo, presente em todos os contextos clínicos. Pretende o presente trabalho o enfoque particular nos sintomas neurológicos. Este tipo de sintomas tem uma frequência estimada de 1-9% de todos os diagnósticos neurológicos. A sua etiologia é multifactorial e o diagnóstico difícil dada a semelhança com sintomas de ordem neurológica. Os MUS mais frequentes em Neurologia são a dor, os sintomas motores negativos, a vertigem, as crises não-epilépticas psicogénicas e as alterações somatosensitivas. Esta apresentação tem como objectivo a revisão do tema com enfoque particular nas cefaleias, tontura crónica, tremores e crises não-epilépticas psicogénicas. As autoras pretendem abordar as suas características e preditores clínicos, abordagem do diagnóstico psiquiátrico associado e terapêutica, bem como a sua implicação para os cuidados de saúde mental. Aspectos relacionados com a interdisciplinaridade destes sintomas são ainda aflorados. Este trabalho corresponde a uma revisão da literatura mais recente e significativa relativa aos sintomas neurológicos medicamente inexplicados supra-citados. Esta revisão revela-se importante dado que os MUS de tipo neurológico são sintomas relevantes e de frequência significativa, com implicações importantes para o doente e para o sistema de saúde nomeadamente na medida em que podem causar stress significativo com prejuízo do funcionamento, risco de iatrogenia e gastos avultados em cuidados de saúde. P0172 UM SÉCULO DE ARTE DE DOENTES - A COLECÇÃO DO PAVILHÃO DE SEGURANÇA - MUSEU Vitor Albuquerque Freire; Helena Correia Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Miguel Bombarda, no final do séc. XIX, criou no então Hospital de Rilhafoles, com uma finalidade essencialmente clínica, um pequeno museu/colecção de pintura e escritos de doentes, um dos primeiros museus do género no mundo (anterior às famosas colecções recolhidas pelos psiquiatras Morgenthaler e Prinzhorn). Está referenciado na imprensa da época e descrita num livro de Júlio Dantas de 1900. Mas essas obras desapareceram há muito, destruídas, ou apropriadas salvas por funcionários ... A actual Colecção de Arte de Doentes do Pavilhão de Segurança – Museu (sediada num edifício panóptico e vanguardista, também com um precioso acervo de fotografia, de material hospitalar e de manuscritos clínicos e administrativos), produto de um intenso trabalho de recolha e inventariação, nos últimos anos, integra hoje mais de 3500 obras, incluindo pintura, desenhos, pequenas esculturas, azulejos, bordados ou poesia e prosa. Resultado da actividade de oficinas/ateliês de terapia ocupacional, de projectos específicos, como de arte-terapia, ou recolhidos em locais esquecidos, ou ainda doados e depositados por generosos beneméritos, consttuem a maior e a mais antiga colecção de arte de doentes mentais e de Outsider Art do país. Desde um guache de António Gameiro, de 1902, de instalações pré-surrealistas de 1913-1914, passando por desenhos muito espontâneos dos anos 1930 ou pelas obras dos anos 1960, das quais sobressai o genial Jaime Fernandes, a colecção, que se descreve nas vertentes artística e clínica, nesta comunicação, apre- 54 Saúde Mental Mental Health senta as mais heterogéneas temáticas, linguagens formais, técnicas e expressividades, da Outsider Art – Arte Crua, maioritária, até à Naif ou à arte de pendor erudito e convencional. É um manancial riquíssimo e singular, de uma arte que influenciou diversos movimentos do século XX - também terapêutica, e factor de humanização e de auto-estima do doente com perturbação mental - de enorme valor estético, e de grande importância no campo das Neurociências. E que prestigia sobremaneira o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa e a Psiquiatria portuguesa. P0173 CRISES MIOCLÓNICAS EM DOENTES REFERENCIADOS POR TIQUES Sílvia Tavares; Rute Teiga; Marisa Carvalho; Márcio Cardoso; Adriana Ribeiro; Inês Carrilho Departamento de Pedopsiquiatria e Saúde Mental, Centro Hospitalar do Porto; Serviço de Pediatria, Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro; Serviço de Neurologia, Centro Hospitalar do Porto; Serviço de Neurologia Pediátrica, Centro Hospitalar do Porto Introdução: Os Tiques são distúrbios hipercinéticos do movimento que têm como diagnóstico diferencial importante as Crises Mioclónicas. Dada a semelhança sintomática entre essas entidades, a distinção torna-se difícil do ponto de vista clínico. É comum estas crianças receberem um diagnóstico presuntivo de Tiques, sendo referenciadas para diagnóstico diferencial, numa consulta de Neuropediatria, apenas após meses ou anos de tratamento sem sucesso. A clarificação diagnóstica, através da realização de EEG, permite uma intervenção terapêutica mais adequada. Objectivo: Determinar a prevalência de doentes com Crises Mioclónicas, nos doentes referenciados por Tiques à uma consulta de Neuropediatria e comparar características clínicas entre as duas patologias. Materiais e Métodos: Estudo de casos de todas as crianças referenciadas à Consulta de Neurologia Pediátrica do Hospital Maria Pia, de Janeiro a Junho de 2009, para diagnóstico diferencial de tiques exuberantes. Foram avaliadas a idade à data de referenciação, género, tipo de sintomatologia apresentada, sintomatologia associada e resultado do EEG. Resultados: Não se obtiveram resultados estatisticamente significativos. Na amostra (N=11) a idade média à data de referenciação foi de 8,7 anos, não se verificando prevalência de género. Apenas 4 crianças mantiveram o diagnóstico de Tiques. 3 tiveram o diagnóstico de Epilepsia Mioclónica, 2 de Crises Mioclónicas Palpebrais e 2 de Estereotipias. A sobreposição sintomática entre as patologias mostrou-se elevada, nomeadamente entre Tiques e Crises Mioclónicas Palpebrais. Conclusão: Este trabalho confirma a inespecificidade diagnóstica na avaliação clínica, de doentes com distúrbios do movimento hipercinéticos. Além disso, reforça a importância da realização do EEG de rotina no diagnóstico diferencial de doentes com hipótese de diagnóstica de Tiques, levando a uma melhor indicação terapêutica, melhorando a qualidade de vida destes doentes. P0174 ESQUIZOFRENIA: BASES INFLAMATÓRIAS José Oliveira; Filipe Vicente; Maria Chai; Luís Mendonça; Sónia Baldo; Cristina Pablo; Carlos Lacerda Centro Hospitalar Psiquiatrico de Lisboa; Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Introdução: A esquizofrenia é uma doença grave que afecta aproximadamente 1% da população mundial e que envolve virtualmente todas as funções cerebrais. O foco actual incide sobre anomalias dos neurónios e suas sinapses, contudo, a sua etiologia permanece por esclarecer. A evidência aponta para um envolvimento patológico que se inicia in utero e conduz ao desenvolvimento da doença na adolescência, e permite formular uma hipótese inflamatória/imunológica da esquizofrenia. Discussão/Conclusão: A inflamação cerebral imunomediada pode ter consequências severas no sistema nervoso central (SNC) que possui uma capacidade regenerativa limitada e, por isso, está normalmente diminuída por um fenómeno denominado de privilégio imune. Contudo, dados recentes mostram que o Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 envolvimento de processos inflamatórios que podem ter início durante o neurodesenvolvimento e se prolongam durante a vida, sejam eles de origem infecciosa, imunitária, genética ou traumática, podem estar envolvidos em lesão neuronal directa, vascular ou da microglia. A activação do sistema imunitário em doentes com esquizofrenia é evidente em vários estudos que mostram elevação das citocinas pró-inflamatórias como a IL-1, IL-2, IL-6 e TNF-. Assim, é possível supor que a terapia anti-inflamatória tenha efeitos favoráveis em alguns doentes com esquizofrenia, facto este que é suportado pela observação de que o tratamento coadjuvante com anti-inflamatórios não esteróides mostrou ter um impacto positivo na psicopatologia da doença e que os antipsicóticos atípicos possuem propriedades imunomodeladoras que podem conduzir a uma diminuição da resposta imunitária no SNC. P0175 OS ANJOS DE ZALONE - NEUROPSIQUIATRIA REVISITADA Paula Garrido; Catarina Pereira; Adelaide Craveiro; Paulo Abrantes Serviço de Psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra A epilepsia é a doença neurológica crónica mais comum na população geral. 30 a 50% de todos os doentes com epilepsia apresentam algum tipo de comorbilidade psiquiátrica durante o curso da doença, que pode ir de alterações na personalidade (o sintoma comportamental mais comum), até à psicose. O sintomas psicóticos esquizofrenialike ocorrem sobretudo nos doentes com epilepsia do lobo temporal com vários anos de evolução, e nestes é frequente que os afectos se encontrem conservados. As características clínicas desta patologia colocam-na na fronteira (cada vez mais fluida) da Psiquiatria e da Neurologia e os psiquiatras deverão reconhecê-la e conduzir de forma racional os exames auxiliares necessários ao seu diagnóstico em doentes específicos. Após uma revisão sumária do tema, em que serão aludidos os aspectos clínicos e de investigação mais recentes, os autores apresentam uma vinheta clínica relativa a uma doente de 42 anos com diagnóstico simultâneo de esquizofrenia paranóide e epilepsia. A sua psicose esquizofrénica apresenta longos anos de evolução, livre de terapêutica psicofarmacológica, e caracteriza-se por sintomatologia positiva marcada com delírio de sósias, persecutório, místico e cósmico. Os ´´Anjos de Zalone´´ constituem um dos aspectos mais bizarros do delírio desta doente, em que os aspectos neurológicos e psicopatológicos se entrecruzam. P0176 DESDE ANNA O. ATÉ A ACTUALIDADE: DIFICULDADES DIAGNÓSTICAS DAS CRISES EPILÉPTICAS E NÃO EPILÉPTICAS. Estefania Gago; Ana Eduarda Ribeiro; Mónica Santos Hospital de Magalhães Lemos A epilepsia é definida como uma síndrome neurológica marcada pela recorrência de crises na ausência ou abstinência de drogas. A crise epiléptica (CE) consiste numa manifestação clínica relacionada com descargas eléctricas sincrónicas e excessivas de agrupamentos neuronais cerebrais que podem ser identificadas no electroencefalograma. Os fenómenos paroxísticos não epilépticos são eventos de origem fisiológica ou psicogénica. Definem-se crises psicogénicas não epilépticas (CNE) como alterações senso-perceptivas ou comportamentais paroxísticas que imitam CE e não estão associadas a actividade epileptiforme. Estima-se que representem 4% dos diagnósticos de epilepsia e correspondam a 20% dos doentes acompanhados em centros especializados de epilepsia. Estes doentes são medicados com fármacos antiepilépticos e sofrem o estigma e as limitações da epilepsia. O diagnóstico diferencial entre crise epiléptica tónico-clónica generalizada e uma convulsão de natureza conversiva é complexo. Acresce-se que em um terço dos pacientes com CNE associamse crises epilépticas. De facto, após cirurgia de epilepsia bem sucedida, ocasionalmente surgem episódios de CNE. Caso clínico: Homem de 20 anos, solteiro, que apresenta crises estereotipadas nas quais fica arreactivo, com versão óculo-cefálica para a esquerda, seguida de respiração ruidosa e sialorreia. Apresenta ainda movimentos clónicos dos membros com vários minutos de Sessões de Posters / Posters Sessions duração, sem generalização, e com rápida recuperação do estado de consciência. Tem antecedentes de atraso de desenvolvimento psicomotor e dificuldades de aprendizagem. A partir deste caso clínico as autoras pretendem rever a dificuldade diagnóstica entre as CE e as CNE e a elevada comorbilidade existente entre ambas. P0177 ADOLESCÊNCIA E TOXICODEPENDÊNCIA: DA VULNERABILIDADE AO CONSUMO Filipe Arantes-Gonçalves; Emanuel Filipe Santos; Carina Mendonça CHCBEIRA A adolescência é um período do desenvolvimento caracterizado por várias mudanças, especialmente as que envolvem aspectos de maturação no Sistema Nervoso Central. Entre estes, destacamos o desbaste sináptico, mielinização, e alterações nos sistemas de neurotransmissores. De um modo geral, estas alterações no sistema nervoso sugerem que os adolescentes têm uma maior vulnerabilidade para comportamentos de risco. As fases de transição da adolescência acompanham-se, frequentemente, de eventos de stress, e os adolescentes poderão ser afectados de forma mais negativa que os adultos devido a imaturidade neurobiológica. Por outro lado, a diminuição da vigilância parental durante a adolescência poderá facilitar comportamentos de consumo experimental de substâncias psicoactivas com os grupos de amigos. Estas relações de amizade parecem amplificar o risco de consumo e os comportamentos de desinibição. Assim que os adolescentes iniciam os consumos, a evidência indica que estes são mais vulneráveis aos efeitos de várias drogas. Assim sendo, esta vulnerabilidade parece ser mediada pela plasticidade do cérebro adolescente e efeitos do stress. Adicionalmente, as alterações neurobiológicas resultantes do consumo de substâncias, reforçam os comportamentos de consumo das mesmas. P0178 CAÍDO NO ESQUECIMENTO: UM CASO DE AMNÉSIA GLOBAL TRANSITÓRIA APÓS PRÁTICA DE PARAPENTE Isabel Milheiro; Álvaro Machado Hospital de Braga; Hospital Escala Braga Introdução: Amnésia global transitória (AGT) designa uma perturbação súbita e completa da memória episódica anterógrada, sem outros sintomas associados, durando menos de 24 horas não deixando sintomas residuais e sem recorrência. Embora a etiologia se mantenha ainda por definir, há vários precipitantes reconhecidos. Caso Clinico: Homem saudável de 33 anos, trazido ao serviço de urgência após ter ido fazer parapente a uma altitude de cerca de 2000 metros. Ao aterrar, após 20 minutos no ar, notaram que estava agitado, ansioso, continuamente a perguntar “ O que faço aqui? “Como vim aqui parar?”. Sem traumatismo craniano. Sem episódios similares prévios. À excepção das perguntas contínuas, tinha um discurso normal, lembrava-se de tudo antes daquela tarde e não se queixava de mais nada. O exame físico era normal e os exames auxiliares de diagnóstico (TAC e EEG) não revelaram alterações. O quadro teve resolução espontânea e completa em cerca de 6 horas. Discussão: Dos vários precipitantes conhecidos da AGT, os mais comuns são a actividade sexual, o esforço físico e situações emocionalmente intensas. A sua ocorrência a alta altitude foi descrita muito raramente, acreditando-se que possa ocorrer hipóxia no hipocampo por vasoconstrição hipocápnica, secundária à hiperventilação. No doente que descrevemos, esta resposta pode ainda ter sido potenciada pelo esforço físico e stress emocional associados a esta actividade desportiva. É importante que o médico saiba reconhecer a AGT, distinguindo-a dos seus mimetizadores (estados confusionais agudos, amnésia epiléptica transitória, crises parciais complexas e amnésia psicogénica), pois a sua benignidade permite tranquilizar o doente e evitar recursos diagnósticos e terapêuticos desnecessários. P0179 A DEPRESSÃO NA DOENÇA DE HUNTINGTON Sara Oliveira; João Campos Mendes; Filipa Miranda; José Daniel 55 Sessões de Posters / Posters Sessions Rodrigues; Lima Monteiro Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho Introdução: A Doença de Huntington ou Coreia de Huntington é uma doença neurodegenerativa de transmissão autossómica dominante caracterizada por alterações do controlo motor e emocional, disfunção cognitiva e movimentos involuntários, tipicamente coreiformes. As perturbações psiquiátricas são frequentes na Doença de Huntington, incluindo psicose, perturbação delirante, ansiedade, mania e comportamento obsessivo. A depressão é uma das manifestações psiquiátricas mais frequentes, estimando-se que o suicídio ocorra em 5 a 10% dos doentes. Objectivo: Os autores apresentam o caso de um doente do sexo masculino com Doença de Huntington, referenciado à Consulta Externa de Psiquiatria por apresentar sintomatologia depressiva. Os autores fizeram uma revisão da literatura no que respeita às manifestações psiquiátricas na Doença de Huntington. Caso Clínico: J.R.S. é um adulto com 29 anos de idade, sem antecedentes médicos ou psiquiátricos relevantes até aos 27 anos, altura em que lhe foi diagnosticada Doença de Huntington. Não existia história familiar prévia de Doença de Huntington até ao falecimento do tio paterno aos 50 anos, apresentando sintomas motores exuberantes, predominantemente coreia. O teste genético efectuado ao pai e a uma tia paterna foi também positivo. J.R.S. foi referenciado à Consulta Externa de Psiquiatria pela neurologista assistente por apresentar alteração do padrão do sono e labilidade emocional. Foi medicado com fluvoxamina 50 mg/dia com melhoria da sintomatologia. Conclusão: Os sintomas psiquiátricos são comuns na Doença de Huntington e acompanham a evolução da doença, causando elevada morbilidade. O tratamento dos doentes com esta patologia exige uma articulação de esforços entre neurologistas, psiquiatras, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais. P0180 “STRESSE EM PROFISSIONAIS DE EMERGÊNCIA MÉDICA PRÉ-HOSPITALAR” Hugo Amaro Universidade do Algarve O stresse tem sido uma problemática amplamente estudada pela comunidade científica em geral nas mais diversas áreas do saber, em que os profissionais de saúde têm sido um grupo alvo preferencial desses mesmos estudos. Todavia, os estudos efectuados com os profissionais de emergência médica pré-hospitalar em Portugal são ainda extremamente reduzidos, embora a problemática se encontre mais desenvolvida em países como os EUA, Canadá e Japão. Neste sentido, pelas características próprias desta profissão interessa compreender de forma mais aprofundada em que medida se encontram estes profissionais vulneráveis ao stresse, sendo este o objectivo principal deste estudo. A amostra foi constituída por 161 profissionais de emergência médica distribuídos pelo território nacional dos quais 42,2% possuem a categoria profissional de TAE/TAS, 31,7% são Enfermeiros e 26,1% são Médicos, tendo sido utilizada uma amostragem por clusters, seguida da técnica de amostragem aleatória. Os resultados indicam a existência de médias globais baixas de stresse nos sujeitos de estudo. Todavia existem diferenças estatisticamente significativas entre o stresse e a categoria profissional, sendo os TAE/TAS aqueles que apresentam valores médios mais elevados, bem como relativamente às dimensões “Deprivação de afectos e rejeição”, “Subjugação” e “Condições de vida adversas”. No que diz respeito às alterações do sono, verificou-se a existência de diferenças estatisticamente significativas nas dimensões “Perfeccionismo e intolerância à frustração”, “Condições de vida adversas”, “Dramatização da existência”, “Subjugação”, e “Deprivação de afectos e rejeição”, assim como para a totalidade do instrumento de medida do stresse. Os sujeitos de estudo que não praticam exercício físico apresentam valores médios de stresse mais elevados. P0181 HOMOSSEXUALIDADE: CONTRIBUIÇÕES BIOLÓGICAS Adriana Moutinho; Alice Varanda Pereira; Gonçalo Jorge 56 Saúde Mental Mental Health Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa; Centro Hospitalar Lisboa Central A investigação das bases biológicas da homossexualidade permanece extremamente activa em diversas áreas como a endocrinologia, genética, neuroanatomia, demografia familiar ou comportamento animal. No presente trabalho abordam-se as mais fortes linhas actuais de estudo na área da orientação sexual feminina e masculina. Apesar de algumas inconsistências, existe evidência de que a teoria neuro-hormonal é uma realidade, em particular no sexo masculino. Os estudos genéticos sobre famílias e gémeos indicam fortemente a existência de hereditariedade, mas a investigação molecular ainda não elegeu consistentemente nenhum gene específico. Anatomicamente parece haver algum grau de dimorfismo sexual cerebral, mas ainda se estabeleceu a sua relação com a orientação sexual. Embora os resultados apontem globalmente para a existência de influências biológicas na orientação sexual humana, permanece o debate sobre a forma e o grau em que a biologia actua e a sua importância relativa face aos factores psico-sociais. P0182 CO-MORBILIDADE PSIQUIÁTRICA NA DOENÇA DE PARKINSON - UMA ABORDAGEM TERAPÊUTICA Raquel Santos Pereira; Rosa Grangeia Hospital de São João, EPE A Doença de Parkinson (DP) é a segunda doença neurodegenerativa mais frequente, a seguir à Doença de Alzheimer, afectando entre 1 a 2 % da população com mais de 65 anos. Sendo primariamente uma doença do movimento, definida por sintomas motores como bradicinésia, tremor e rigidez, está também associada a sintomas neuropsiquiátricos, nomeadamente depressão (o mais comum, presente em 40 % dos doentes, e largamente subdiagnosticado), ansiedade, demência e quadros psicóticos (alucinações tipicamente visuais, delírios geralmente paranóides ou celotípicos, sendo a presença destes sintomas o mais forte preditor da necessidade de hospitalização ou institucionalização), com substancial impacto clínico e na qualidade de vida, por vezes mesmo superior ao dos sintomas motores. Recentemente, o espectro de sintomas psiquiátricos na DP tem vindo a aumentar, com o reconhecimento de sintomas compulsivos (jogo patológico, oniomania, hipersexualidade, entre outros, com prevalência de 0.4 a 8 %). O diagnóstico e tratamento destes sintomas constitui ainda tema de debate e investigação. Por exemplo, estudos recentes revelaram que a depressão na DP poderá ter também uma base orgânica, ao nível dos neurotransmissores, reflectindo não só disfunção dopaminérgica (núcleo accumbens), mas também perturbações setoroninérgicas e noradrenérgicas, o que eventualmente traduz uma degeneração neuronal mutissistémica. Curiosamente, o suicídio nestes doentes é raro, excepto no período seguinte à retirada ou diminuição rápida da medicação dopaminérgica, após estimulação cerebral profunda. Os autores propõe-se a fazer uma revisão bibliográfica sobre o reconhecimento e abordagem terapêutica dos principais sintomas neuropsiquiátricos na DP. P0183 ALUCINOSE PEDUNCULAR: LESÃO A NÍVEL DA COROA RADIATA ESQUERDA E CENTRO OVAL ESQUERDO Manuela Matos; Cristina Miguel; José Pio Abreu Serviço de Psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra; Hospitais da Universidade de Coimbra As alucinoses podem estar presentes numa variedade de quadros neurológicos e psiquiátricos. Elas constituem um fenómeno complexo com diferentes apresentações. Alguns psicopatologistas concordam em diferenciar as alucinações, as pseudo-alucinações e as alucinoses com base nas suas características (corporeidade mas ausência de convicção de realidade, nas alucinoses). Esta distinção pode ser importante, pois têm diferentes valores semiológicos: enquanto as alucinações e pseudo-alucinações são mais comuns na esquizofrenia, as alucinoses apontam mais para uma lesão estrutural. Apresenta-se o caso clínico de uma mulher com 58 anos, que refere o aparecimento de alucinações visuais de inicio súbito que ocorriam de forma Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 paroxística desde há cerca de um mês, apresentando crítica para a situação. Através de RMN, constatou-se existir uma lesão estrutural a nível da coroa radiata esquerda e centro oval esquerdo. Havia iniciado tratamento com antipsicótico, sem remissão da sintomatologia, tendo o mesmo sido suspenso após diagnóstico da patologia orgânica, com remissão espontânea do quadro. P0184 SABE-SE QUE UM CONTROLO PRECOCE E MANTIDO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL ORIGINA UM RISCO MUITO REDUZIDO PARA DEMÊNCIA (PEILE R E TAL, STROKE 2006), EXISTINDO ATÉ JÁ HIPOTENSORES DITOS REDUTORES DE RISCO Olívia Robusto-Leitão Serviço de Psiquiatria, CHLN (Hospital de Santa Maria), Lisboa, Portugal Sabe-se que um controlo precoce e mantido da hipertensão arterial é fortemente contributivo para uma elevada redução do risco para demência (Peile R e tal, Stroke 2006), existindo até já hipotensores ditos redutores de risco. Com o objectivo de controlar factores de risco cardiovasculares na prevenção de demências (vasculares, Alzheimer e afins), iniciou-se a avaliação do risco para doença grave coronário-cardíaca, com base nos parâmetros da Sociedade Europeia de Cardiologia, que obtém o consenso nacional (e são também adoptados pela Associação Psiquiátrica Europeia na avaliação de risco dos doentes psiquiátricos), que por sua vez utiliza o estudo cardíaco de Framingham com os seguintes factores: idade, género, colesterol total e HDL, tabagismo, tensão arterial e consumo de hipotensores. Excluem-se os portadores de doença cardíaca, diabetes ou outra doença grave. Demonstra-se a efectuação do cálculo, que assenta na grelha de risco SCORE, para países de baixo risco cardiovascular, nos quais Portugal se encontra inserido, embora com alguma contestação. (http://hp2010.nhlbihin.net/atpiii/calculator.asp?usertype=prof) Apresentam-se os primeiros resultados (Maio 2009 a Junho 2010), em 86 utentes da Consulta de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, entre os 27 e os 90 anos de idade (inseridos aleatoriamente com observância dos critérios de exclusão), maioritariamente mulheres, sendo que o risco absoluto mais elevado se situa claramente acima dos 70 anos, pelo que se reveste de particular interesse a análise do risco relativo nos grupos etários mais jovens (igualmente apresentada) pela potencial prevenção no terreno. P0185 “DE UM DISTÚRBIO DISSOCIATIVO A UMA MENINGOENCEFALITE HERPÉTICA - CASO CLINICO” José Temótio, Luisa Rosa Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra Introdução: O caso clínico relatado foi inicialmente diagnosticado como um transtorno dissociativo tendo-se vindo a revelar como meningoencefalite herpética. Os transtornos dissociativos caracterizamse por uma perda parcial ou completa da memória, da consciência, da identidade e do controlo dos movimentos. A meningoencefalite herpética tem uma mortalidade significativa, sendo as suas principais manifestações clínicas: rigidez nucal, febre, cefaleias, alterações sensoriais, convulsões e deficits motores. Caso clínico: Apresentamos o caso clínico de uma jovem do sexo feminino, de 23 anos, observada no SU-HUC com um quadro de instalação súbita de elevada ansiedade, perplexidade, desorientação auto e alopsíquica, afasia respondendo às questões com monossílabos ou ecolália. A doente tinha sido previamente observada pela medicina interna e pela neurologia sem que o seu quadro tivesse sido valorizado do ponto de vista orgânico. Dos antecedentes pessoais recentes e familiares da doente constavam factores stressores capazes de provocar um transtorno dissociativo. Procedeu-se ao internamento no serviço de psiquiatria, onde foi medicada com amisulpride 50mg 1id e clorazepato dipotássico 5mg 3id. A TAC-CE revelou lesão temporal esquerda. Pedida a colaboração da neurologia, foi efectuado estudo através de punção lombar e RMN-CE e confirmada a lesão temporal compatível com meningocefalite herpética tendo a doente sido transferida para o serviço de infecciologia. Durante o internamento esteve medicada com aciclovir Sessões de Posters / Posters Sessions em doses terapêuticas, evoluiu favoravelmente mantendo-se ainda à data da alta pontuais deficits de nomeação e labilidade emocional. Conclusão: A propósito deste caso clínico pretendemos realçar que a abordagem dos doentes com patologia psiquiátrica em ambiente de urgência requer especial atenção, já que muitas vezes somos confrontados com uma triagem errónea, superficial e marcada pela estigmatização da doença mental. Num quadro que não é típico, não devemos deixar de excluir todas as hipóteses usando os meios complementares de diagnostico disponíveis mesmo quando as causas psicogénicas parecem apontar para doença psiquiátrica. P0186 PSICOSE PÓS-PARTO – QUANDO A CULPA É DA TIRÓIDE Adriana Moutinho; Patrícia Pedro; Filipe Silva Carvalho Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Durante a gravidez e puerpério a mulher passa por profundas alterações físicas e psicológicas. A psicose pós-parto é um tipo de perturbação psicótica que ocorre em mulheres em fase puerperal. Inicia-se entre a primeira e a oitava semana após o parto e caracteriza-se pela presença de ideias delirantes, alterações da percepção, desorganização do pensamento e do comportamento, alterações do humor e declínio cognitivo, que representam uma mudança completa no funcionamento prévio da mulher. Estas alterações, associadas à crítica diminuída para a doença, podem conduzir a consequências nefastas pondo em risco a segurança e o bemestar tanto da mãe como do bebé. Tal como em qualquer outra perturbação psicótica, a psicose pós-parto pode ser causada por uma condição médica geral, nomeadamente alterações da função tiroideia, como a tiroidite pósparto (TPP). Trata-se de uma doença autoimune caracterizada por infiltração linfocitária da tiróide e tirotoxicose seguida de hipotiroidismo ou uma destas duas situações isoladamente, nos primeiros 12 meses após o parto. Este trabalho descreve um caso clínico de tirotoxicose pós-parto cuja principal manifestação clínica foi um episódio psicótico. O principal objectivo deste poster é sensibilizar para as possíveis apresentações psiquiátricas das doenças endócrinas. P0187 CO-MORBILIDADE PSIQUIÁTRICA NA DOENÇA DE PARKINSON – UMA ABORDAGEM TERAPÊUTICA Raquel Santos Pereira; Rosa Grangeia Hospital de São João, EPE A Doença de Parkinson (DP) é a segunda doença neurodegenerativa mais frequente, a seguir à Doença de Alzheimer, afectando entre 1 a 2 % da população com mais de 65 anos. Sendo primariamente uma doença do movimento, definida por sintomas motores como bradicinésia, tremor e rigidez, está também associada a sintomas neuropsiquiátricos, nomeadamente depressão (o mais comum, afectando 40 % dos doentes, e largamente subdiagnosticado), ansiedade, demência e quadros psicóticos (presentes em 15-30% dos casos - alucinações tipicamente visuais, delírios geralmente paranóides ou erotomaníacos, sendo a presença destes sintomas o mais forte preditor da necessidade de hospitalização ou institucionalização), com substancial impacto clínico e na qualidade de vida, por vezes mesmo superior ao dos sintomas motores. Cerca de 10% de doentes, segundo alguns estudos, têm depressão e também psicose. Recentemente, o espectro de sintomas psiquiátricos na DP tem vindo a aumentar, com o reconhecimento de sintomas compulsivos (jogo patológico, oniomania, hipersexualidade, entre outros, com prevalência de 0.4 a 8 %). O diagnóstico e tratamento destes sintomas constitui ainda tema de debate e investigação. Por exemplo, estudos recentes revelaram que a depressão na DP poderá ter também uma base orgânica, ao nível dos neurotransmissores, reflectindo não só disfunção dopaminérgica (núcleo accumbens), mas também perturbações setoroninérgicas e noradrenérgicasnérgicas, o que eventualmente traduz uma degeneração neuronal mutisistémica. Curiosamente, o suicídio nestes doentes é muito raro, excepto após a retirada ou diminuição rápida da medicação dopaminérgica, após estimulação cerebral profunda. A etiologia da psicose parece ser também multifactorial, havendo 57 Sessões de Posters / Posters Sessions estudos que a relacionam com o uso de agonistas dopaminérgicos, e outros que não. Os autores propõe-se a fazer uma revisão bibliográfica sobre o reconhecimento e abordagem terapêutica dos principais sintomas neuropsiquiátricos na DP (depressão, psicose e demência). Ética e Psiquiatria P0188 LOUCURA E SANTIDADE Maria Miguel Brenha; Filipa Sá Carneiro; Pedro Teixeira Hospital Magalhães Lemos; Centro Hospitalar do Porto; CHMA- Centro Hospitalar do Médio Ave Introdução: Já Catherine Clement e Sudhir Kakar se debateram com esta questão a propósito do ponto de convergência entre uma louca internada em Paris e um iluminado indiano: a mística. Madeleine e Ramakrishna apresentavam vivências idênticas, mas no séc. XIX, França e Índia não reservavam aos místicos o mesmo destino. E actualmente, onde reconhecemos loucura e santidade? Freud abordou a temática religiosa ao discutir o valor do “sentimento oceânico”. Mas experiência mística não se confunde com religião, pois talvez esteja mais próxima do fundamento da existência do que da divindade. Segundo Mário Simões, apesar das semelhanças, experiências mística e psicótica podem ser diferenciadas atendendo à dificuldade que os indivíduos psicóticos apresentam em estabelecer uma realidade inter-subjectiva partilhada e incapacidade para lidar com níveis de funcionamento social. Caso Clínico: Mulher de 59 anos, separada, 4ª classe, desempregada e sem-abrigo. Antecedentes de internamento no Hospital Conde Ferreira há 17 anos, sem seguimento posterior. A 25/02/2010 foi internada compulsivamente por alterações do comportamento com risco para a sua integridade física: deambulava pelos bairros camarários do Porto em missão de evangelização, andando de transportes públicos sem pagar. À entrada apresentava ideação delirante mística estruturada, comportamento bizarro – respondia só após consultar a bíblia – e sem consciência mórbida. Foram titulados antipsicóticos típicos e atípicos em associação, dose e duração adequadas, sem resposta, pelo que foram suspensos. Teve alta com seguimento através de visitas domiciliárias. Discussão/Conclusão: Várias têm sido as tentativas para distinguir as experiências mística e psicótica. Com base em Mário Simões, parece-nos que o caso apresentado se encontra mais próximo da esfera da experiência psicótica. Contudo, dada a controvérsia do tema e subjectividade as abordagens, diferentes sensibilidades a diferentes conclusões chegarão. Reúne maior consenso a constatação de que “existe doença quando o indivíduo não consegue interactuar com autonomia e em sociedade” P0189 A ABORDAGEM TERAPÊUTICA DOS ABUSADORES SEXUAIS NA CONSULTA DE SEXOLOGIA DO HOSPITAL JÚLIO DE MATOS Afonso Albuquerque; Catarina Soares; Carlos Fernandes; Marco Gonçalves; Íris Monteiro; Joana Florindo; Isabel Albuquerque; José Salgado Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Portugal carece de programas multidisciplinares e abrangentes que envolvam várias entidades, nomeadamente jurídicas, sociais e clínicas, num esforço coordenado e conjunto para a aplicação do tratamento e reabilitação dos abusadores sexuais. Ao invés, são postas em prática abordagens clínicas individuais e isoladas procurando implementar programas de tratamento duma forma pontual. Contudo, apesar de tardias, tem havido um acréscimo na frequência nos pedidos de intervenção dos serviços de re-integração social, por parte dos Tribunais. Da mesma forma, também os advogados de defesa de clientes já detidos ou aguardando julgamento, fazem referenciação para tratamento. Só em casos excepcionais, os próprios abusadores têm a iniciativa de pedir ajuda. Os autores enfatizam a experiência dos clínicos com os abusadores sexuais, os quais cometem principalmente abuso sexual infantil. As características sóciodemográficas da amostra são discutidas, bem como os resultados dos testes de avaliação da personalidade. As formas de tratamento utilizadas são descritas. 58 Saúde Mental Mental Health P0190 RÁDIO AURORA - A OUTRA VOZ. UMA EXPERIÊNCIA EM SAÚDE MENTAL Nuno Faleiro Silva Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa A Reabilitação Psicossocial ocupa o espaço de transição entre a instituição psiquiátrica e a comunidade. Tendo como função principal assistir cada indivíduo na (re) organização de um projecto de vida, situa-se na fronteira entre internamento e ambulatório, entre presente e futuro. Procurando ajustar as necessidades e níveis de autonomia individuais com as respostas/recursos existentes na comunidade, confronta-se quotidianamente com o problema da exclusão/marginalização social vividos pelas pessoas com um diagnóstico psiquiátrico. O desemprego, a pobreza, a falta de condições habitacionais adequadas, o abandono familiar e social marcam demasiadas vezes as vidas dos nossos concidadãos com um diagnóstico psiquiátrico. Estas formas de discriminação resultam de complexos processos de estigmatização e erguem-se como barreiras sociais que influenciam negativamente a evolução de condições sensíveis aos acontecimentos do meio ambiente. O objectivo deste trabalho prende-se com a apresentação da Rádio Aurora - A Outra Voz, o primeiro programa de rádio português produzido e realizado por pessoas com um diagnóstico psiquiátrico. Situada na Unidade de Convalescença do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa – Pólo Júlio de Matos, utiliza a comunicação social (a Radiodifusão) e as novas tecnologias da comunicação (Internet) na reabilitação e reinserção social dos utentes. A Rádio Aurora – A Outra Voz procura colaborar num processo de mudança a dois níveis que se influenciam mutuamente: no plano individual e na comunidade em geral. Ao nível da comunidade, a Rádio Aurora – A Outra Voz pretende ser um dispositivo de redução da estigmatização e discriminação. Desempenha esta função pela diminuição da distância social, informando, sensibilizando a sociedade civil e deste modo colaborando na promoção da Saúde Mental. No plano individual, procura desempenhar uma função coterapêutica ao estimular áreas saudáveis do funcionamento mental (factores de protecção). P0191 “DOMICÍLIOS, BAIXOS E CONTRABAIXOS” Filipa Isabel Simões Veríssimo Hospital de Magalhães Lemos O Sr. “Vasconcelos” é um homem de 53 anos, com história longa de Esquizofrenia Paranóide, invisual há 10 anos por patologia retiniana, e que foi, na sua juventude, baterista de uma banda rock, muito popular no panorama musical português na década de 70. A partir dos 35 anos, teve inúmeros internamentos no Hospital de Magalhães Lemos, no Porto, o mais longo em 2007 (que se prolongou durante cerca de 1 ano) e no qual contactei com o doente pela primeira vez. A duração deste internamento teve a ver essencialmente com a ausência de suporte familiar e não tanto com a dificuldade na compensação clínica. Havia inúmeras questões que tinham de ser devidamente asseguradas no sentido de garantir a autonomia (relativa mas segura) no pós-alta. Optou-se, então, por enquadrar o doente num regime de visita domiciliária de periodicidade mensal. Nesta base, era possível observar as condições habitacionais, de alimentação e higiene e garantir a compliance terapêutica (injectável depot). Este regime ainda se mantém. As visitas são feitas por mim e por uma enfermeira e revelam-se sempre bem mais que um simples apoio domiciliário mensal. O doente, para nos receber, tem o hábito de vestir fato e gravata e de nos proporcionar um mini-concerto. A sua casa, em plena baixa do Porto, está repleta de instrumentos musicais. Baterias, baixos, contrabaixos, guitarras eléctricas, braguesas, órgãos, sintetizadores e mesas de mistura. Apesar de cego, o doente consegue ainda tocar e compor. Sai à rua todos os dias, fazendo as refeições num restaurante da zona, e tem apoio de uma senhora que se desloca semanalmente a sua casa para as lides domésticas. Desde o início do seguimento em visita domiciliária, há cerca de 3 anos, o doente não voltou a necessitar de internamento. Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 Epistemologia Psiquiátrica P0192 ESTIGMA-UMA REFLEXÃO SOBRE A DOENÇA MENTAL Filipa Ramalho e Silva; Joaquim Ramos; José Queirós Hospital de Magalhães Lemos / Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; Hospital de Magalhães Lemos; Hospital de Magalhães Lemos/ Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar Introdução: O estigma tem sido encarado, de um ponto de vista sociológico, como uma “marca da desgraça”. Segundo Corrigan, estigma pode ser genericamente definido com uma “marca que separa um indivíduo de outro baseado no julgamento de tipo social que sugere que alguns grupos de pessoas são catalogados como sendo menos do que as outras. Muitas vezes leva a crenças negativas (estereótipos) - que se tornam reais (preconceitos) - e ao desejo de evitar ou excluir aqueles que detêm o estatuto de estigmatizados (descriminação) ”. O estigma promove a expectativa de que as pessoas com doença mental são incapazes de assumir as suas responsabilidades e de viver independentemente, que estas devem ser temidas devido à sua perigosidade e afastadas da comunidade e mantidas em instituições. Numa perspectiva paternalista os doentes são apontados como necessitando de cuidados de protecção por parte de familiares, amigos e comunidade no geral. Estudos têm vindo a explicitar os efeitos negativos do estigma para o doente mental, a vários níveis, nomeadamente conduzindo a menor qualidade de vida e bem-estar dos mesmos, potenciando situações de stress persistente, baixa autoestima, interferência na recuperação dos doentes, diminuindo os seus direitos a nível legal e potenciando descriminação a nível dos cuidados de saúde. No limite, o estigma representa uma diminuição da esperança média de vida. Objectivo: Rever e discutir sob várias perspectivas o conceito de estigma, o seu significado e relevância na saúde mental. Métodos: Revisão de artigos recentes e relevantes relativos ao assunto tratado neste trabalho. Discussão e Conclusão: O avanço do conhecimento científico, as inovações do tratamento, a desinstitucionalização dos doentes e a instituição de movimentos de promoção da cidadania fariam esperar um melhor conhecimento da doença e a diminuição do estigma. Salienta-se a importância que cada um, a título individual, pode ter no combate ao estigma, nomeadamente promovendo e aumentando os contactos sociais dos doentes mentais. Também as organizações de defesa cívicas (advocacy) e os mecanismos de empowerment, que permitem aos doentes viverem no seu contexto natural, promovendo o exercício da cidadania, a defesa dos seus direitos e potenciando a formação de organizações que representam as pessoas com doença mental e de familiares, são determinantes para a diminuição do estigma. Psiquiatria Geriátrica P0193 MEDO DE MORRER & MEDO DE ENVELHECER Carlos Augusto de Mendonça Lima Centro Hospitalar do Alto Ave, E.P.E. Confrontado com a consciência da morte e do seu envelhecimento o homem experimenta uma ansiedade que necessita ser contida por mecanismos defensivos protetores do seu Ego e que, de alguma forma, contribuem para moldar a personalidade do indivíduo. Usando diversos exemplos nas artes e religiosos, pode-se percorrer como na história este tema foi tratado. No entanto, na idade avançada estes mecanismos defensivos podem vir ser insuficientes face às consequências da velhice vivida como perda intolerável, principalmente quando fatores bio-psicossociais negativos não permitem assegurar o indivíduo como pessoa plena. A maior frequência de condutas suicidas em idosos ilustra bem esta triste realidade. O medo do envelhecimento e da morte podem ambos ser reactivados (i) pela ignorância e desinformação quanto a natureza e o processo do envelhecimento, (ii) pela tendência social à conformidade e segurança e (iii) Sessões de Posters / Posters Sessions pela internalização de idéias estigmatizantes. Estes mesmos medos podem originar (i) preconceitos, (ii) atitudes negativas ao encontro dos idosos e dos profissionais que lhes dispensam cuidados, (iii) a ausência de debate no seio da sociedade sobre o valor das pessoas idosas e (iv) gerar opiniões alarmistas sobre as necessidades, fardo e custo das pessoas idosas para a sociedade. As consequências destes medos poderão se fazer sentir (i) na má qualidade dos cuidados disponíveis, (ii) marginalização dos idosos nos sistemas de saúde, (iii) baixo status dos profissionais que se dedicam a estas pessoas, (iv) inequidade do reebolso dos cuidados, (v) impactos negativos nas famílias e (vi) abusos, negligências e violência. A compreensão da realidade destes mêdos universais deve estar então na base de todo programa que visa a reduzir o estigma e a discriminação ao encontro dos idosos. PO194 AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE DO DELIRIUM NO IDOSO Sónia Martins; Mário R. Simões; Lia Fernandes Unidade de Investigação do Adulto e Idoso – UNIFAI/ICBAS – Universidade do Porto; Serviço de Avaliação Psicológica. Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação – Universidade de Coimbra; Faculdade de Medicina – Universidade do Porto/Serviço de Psiquiatria – Hospital S. João do Porto Introdução: O Delirium caracteriza-se por alterações da consciência, da cognição ou desenvolvimento de uma perturbação da percepção, não sendo devida a uma situação de demência. Esta síndrome clínica desenvolve-se ao longo de um curto período de tempo, com tendência a flutuações ao longo do dia. Acresce a estas características, pela história clínica e exames físicos/laboratoriais, o facto de ser uma perturbação causada por doença médica, intoxicação/abstinência de substância ou por múltiplas etiologias (DSM-IV-TR, 2002). Objectivo: Este estudo de revisão tem como objectivo a descrição das principais características/propriedades psicométricas de seis escalas de avaliação de gravidade do Delirium. Métodos: Procedeu-se a uma pesquisa bibliográfica, através do motor de busca MEDLINE (1990-2010), através das seguintes palavras-chave: delirium, confusão, questionários, escalas e gravidade. Nesta análise apenas foram considerados os estudos originais de validação. Incluíramse as escalas: Delirium Rating Scale (DRS-98-R; Trzepacz et al, 2001), Memorial Delirium Assessment Scale (Breitbart et al, 1997), Confusional State Evaluation (Robertsson et al, 1997), Delirium Severity Scale (Bettin et al, 1998), Delirium Index (McCusker et al, 2004) e Delirium-OMeter (De Jonghe et al, 2005). Resultados: A maioria das escalas incluídas nesta análise foi desenvolvida com base nos critérios do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM), incorporando ainda itens de testes de diagnóstico de Delirium. Para a análise das propriedades psicométricas, grande parte dos estudos testaram a fiabilidade inter-observador, bem como a validade dos resultados através da sua relação quer com instrumentos de avaliação de gravidade de Delirium quer com provas de rastreio cognitivo. Conclusão: O presente estudo pretende dar um contributo para maior conhecimento sobre a avaliação da gravidade de Delirium. Considerando esta análise bem como as recentes revisões da literatura, pode-se concluir que o DRS-98-R surge como o instrumento mais amplamente utilizado. P0195 SÍNDROME DE DIÓGENES Cátia Guerra; Telmo Coelho; Lia Fernandes Serviço de Psiquiatria do Hospital de São João, Porto; Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; Serviço de Psiquiatria do Hospital de São João, Porto O Síndrome de Diógenes (SD) é caracterizado por negligência severa do autocuidado, insalubridade no domicílio, isolamento social e silogomania, traduzindo-se numa acumulação e incapacidade de deixar de parte objectos usados e sem valor. É uma doença frequentemente associada a Perturbações Obsessivo-Compulsivas, Psicóticas e Síndromes Demenciais. Contudo, em cerca de 50% dos doentes não é possível definir um diagnóstico claro. Certos autores apontam para um padrão de Perturbação de Personalidade subclínica que face 59 Sessões de Posters / Posters Sessions a acontecimentos de vida determinantes despoletaria este quadro psicopatológico. A maior prevalência deste síndrome na população geriátrica associa-se ao declínio cognitivo com alterações da personalidade, particularmente presentes em situações de Demência Frontotemporal. Contudo, os défices cognitivos não são evidentes em todos os casos levantando a necessidade de novas hipóteses diagnósticas como uma Reacção ao Stresse Especifica do Idoso. Além disso, estes doentes apresentam numerosas comorbilidades, com doenças crónicas e condições sociais precárias, sendo especialmente vulneráveis às complicações relacionadas com a acumulação de objectos, com consequências por vezes trágicas (infestações, derrocadas e incêndios). Neste sentido, são apresentados dois casos clínicos: o primeiro de um homem de 67 anos, sem suporte sócio-familiar, a viver como indigente apesar de ter habitação própria onde acumulava objectos que encontrava na rua. O segundo de um homem de 65 anos que vivia com a esposa, acumulando lixo em casa, tornando-a inabitável. Em ambos os casos verificava-se ausência de qualquer preocupação com as suas condições básicas de vida. Pretende-se ainda apresentar a complexidade de uma intervenção psiquiátrica, farmacológica e psicoterapêutica, incluindo também uma abordagem de âmbito comunitário e psicoeducacional quer ao nível do idoso quer ao nível do cuidador/familiar. P0196 FACTORES DE RISCO PARA TENTATIVA DE SUICÍDIO NA POPULAÇÃO GERIÁTRICA Miguel Esteves-Pereira; Jorge Bouça; Raquel Ribeiro-Silva Serviço de Psiquiatria do CHVNG/E; Serviço Psiquiatria do CHVNG/E, Serviço de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina, Universidade do Porto Introdução: O suicídio é um problema de saúde pública grave e transversal a todas as faixas etárias, prevendo-se, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, que em 2020 ocupe a décima causa de morte na população geral. O risco suicida aumenta com a idade, bem como a letalidade das tentativas consumadas. Apesar do suicídio e a sua prevenção serem uma área de intervenção prioritária, o suicídio nas pessoas idosas permanece ainda um assunto negligenciado, carecendo de intervenção profilática e de investigação. Objectivo: Neste poster os autores propõem-se a fazer uma revisão sobre os principais factores de risco para tentativa de suicídio (TS) na população geriátrica. Metodologia: Revisão da literatura actual no que respeita a comportamentos suicidários nos idosos através da pesquisa de artigos publicados nas bases de dados de psiquiatria PubMed e Science Direct através das palavras-chave: Suicide Eldery, Risk factors suicide elderey, Suicide and elderly, Vulnerability suicide and elderly, Suicide in late life. Discussão: A depressão e as doenças físicas, particularmente as doenças crónicas, foram os principais factores de risco associados à TS em idosos. Outras variáveis como isolamento social, etilismo, sexo masculino, raça caucasiana e encontrar-se entre os 65 e 75 anos de idade, foram também identificadas. Conclusão: A literatura sobre a temática é escassa, particularmente estudos nacionais, pelo que estudos actuais deverão ser realizados a fim de explorar e ampliar os resultados aqui relatados, assim como contribuir para acções preventivas e interventivas na saúde mental do idoso. P0197 DEPRESSÃO OU HIDROCEFALIA DE PRESSÃO NORMAL? Vera Martins; João Viegas; Sónia Pimenta; Luis Marques; Maria José Piçarra; José Cunha Oliveira Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra Introdução: A Hidrocefalia de Pressão Normal (HPN) caracterizase por aumento do volume do líquido cefaloraquidiano (LCR), sem aumento correspondente da pressão, uma vez que a dilatação das cavidades ventriculares é progressiva, causando danos ao parênquima cerebral adjacente, potencialmente reversíveis com tratamento precoce. Afecta sobretudo idosos, provocando alterações na marcha, incontinência urinária e défices cognitivos sugestivos de síndrome demencial do tipo sub-cortical. O diagnóstico clínico é confirmado 60 Saúde Mental Mental Health com recurso a exames imagiológicos, à punção lombar (confirma a normalidade da pressão e dos parâmetros citoquímicos do LCR) e à cisternografia isotópica (demonstra padrões anormais na dinâmica do LCR). A sua detecção atempada é crucial pois existe tratamento específico: punções lombares expoliadoras (controlo transitório) e colocação de válvula de derivação ventricular. Caso Clínico: Descrevemos o caso de uma mulher, 66 anos de idade, viúva, internada na Clínica Feminina do CHPC, através da Consulta Externa, com o diagnóstico de episódio depressivo, após várias vindas à Urgência por queixas de desequilíbrio, tristeza, apatia, lentificação psicomotora e anorexia. A doente era seguida em Consulta de Psiquiatria por quadro depressivo com vários anos de evolução (primeiro episódio aos 20 anos de idade). Após o falecimento do marido, dois anos antes do internamento, a doente iniciara alterações da marcha, com base alargada, marcha de pequenos passos e dificuldade na sua iniciação, associadas a défices cognitivos, com perda de competências nas actividades de vida diária, e agravamento da sintomatologia depressiva. A investigação imagiológica efectuada no internamento (Tomografia Computorizada) revelou aumento de volume do sistema ventricular, sugestivo de HPN, pelo que a doente foi encaminhada para seguimento por Neurologia/Neurocirurgia. Conclusão: Este caso ilustra a vantagem de uma investigação diagnóstica exaustiva, em doentes com longa história psiquiátrica prévia, no sentido de um diagnóstico inequívoco, revelando como os sintomas clínicos de HPN são insidiosos e como podem ser confundidos com sintomas depressivos. P0198 ANTIPSICÓTICOS NO CONTROLO DE SINTOMAS NEUROPSIQUIÁTRICOS DAS DEMÊNCIAS - REVISÃO DA EVIDÊNCIA Miguel Esteves-Pereira; Ana Teresa Carvalho; Pedro Barros; Raquel Ribeiro-Silva; Hugo Morais Serviço de Psiquiatria do CHVNG/E; Serviço de Neurologia do CHVNG/E; Serviço de Psiquiatria do CHVNG/E, Serviço de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina, Universidade do Porto Introdução: Os sintomas comportamentais e psicológicos das demências ocorrem em cerca de 60% dos doentes no curso da patologia podendo apresentar-se como agitação motora e verbal, ansiedade, depressão, alucinações, delírios e comportamento desinibido. Tais sintomas estão associados a um maior declínio cognitivo, a um maior impacto funcional, a uma institucionalização precoce e a uma diminuição na qualidade de vida, representando um grande sofrimento dos doentes e seus cuidadores e constituindo um verdadeiro desafio em termos de orientação clínica. Cada vez mais se recorre a antipsicóticos no controlo desta sintomatologia, contudo, os idosos têm uma grande susceptibilidade aos seus afeitos. Objectivo: Neste poster os autores propõem-se a fazer uma revisão sobre as evidências que sustentam o uso de antipsicóticos no controlo dos sintomas neuropsiquiátricos das demências, revendo as limitações e riscos desta prática. Metodologia: Revisão da literatura actual no que respeita ao uso de antipsicóticos típicos e atípicos em demenciados. Discussão: Apesar dos ensaios de curta e média duração mostrarem benefícios dos antipsicóticos típicos e atípicos no controlo de quadros psicóticos e das alterações comportamentais nos síndromes demenciais, não se revelaram particularmente eficazes no controlo destes sintomas a longo prazo, estando o seu uso associado a um maior risco de abandono da terapêutica devido aos efeitos adversos. De facto, apesar dos antipsicóticos atípicos estarem associados a uma menor sintomatologia extrapiramidal, poderão condicionar um maior risco de eventos vasculares, agravamento dos défices cognitivos, aumentando o risco de morte súbita e diminuição da sobrevida, sobretudo em doentes vulneráveis. Conclusão: Os antipsicóticos deverão ser reservados para controlo de sintomas neuropsiquiátricos graves, privilegiando-se os atípicos, iniciados sempre em doses baixas, com titulação lenta e progressiva, até se atingir a mínima dose eficaz, avaliando-se individualmente a relação risco-benefício em função dos sintomas-alvo que se pretendem controlar. Volume XII Nº5 Setembro/Outubro 2010 P0199 EDUCAÇÃO SEXUAL GERIÁTRICA: O PAPEL DO PROFISSIONAL DE SAÚDE Adriana Moutinho; Gonçalo Jorge; Alice Varanda Pereira Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa; Centro Hospitalar Lisboa Central Embora haja um indubitável declínio na sexualidade de homens e mulheres com o envelhecimento, adultos mais velhos permanecem seres sexuais com desejos, fantasias, e vida sexual activa. A necessidade de uma sexualidade saudável e satisfatória na crescente população idosa tem vindo a ser cada vez mais tida em consideração. O presente trabalho tem como objectivo rever as mudanças biológicas, psicológicas e sociais que ocorrem com o envelhecimento e que condicionam alterações na vivência da sexualidade; e discutir estratégias úteis para a abordagem do tema junto da população geriátrica pelo profissional de saúde. P0200 RESULTADO DO TRABALHO MULTIDISCIPLINAR DO SERVIÇO DE PSIQUIATRIA GERIÁTRICA Elisa Figueiredo; Alice Nobre; José Salgado; Luís Sampaio; Maria João Borba; Mirela Sabin1; Pedro Gonçalves; Rafael Costa; Sofia Paiva Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa As alterações psíquicas no idoso podem estar associadas ao declínio de alguns sistemas, limitando a sua autonomia. Esta realidade é abrangente ao cuidador / família. Perante este contexto o Serviço de Psiquiatria Geriátrica vem através de uma amostra de população de utentes e famílias, salientar a importância da conjugação das práticas da equipa multidisciplinar de profissionais da saúde - psiquiatras, enfermeiros, clínico geral, neurologista, psicólogos, assistentes sociais e fisioterapeuta - na estabilização, recuperação, manutenção do idoso, bem como ensino e apoio do cuidador. Recorrendo a gráficos de colunas é apresentada a população referida sobre vários aspectos específicos, nomeadamente características, diagnósticos, autonomia e intervenções dos profissionais de saúde. P0201 APRESENTAÇÃO DO SERVIÇO DE PSIQUIATRIA GERIÁTRICA Maria João Borba; Alice Nobre; Elisa Figueiredo; José Salgado; Lurdes dias; Maria José Santos; Rafael Costa; Sandra Duarte; Sofia Paiva Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa O Serviço de Psiquiatria Geriátrica do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa iniciou a sua prestação de serviços em Setembro de 2009. Surgiu da necessidade em dar respostas à população idosa abrangida pela Equipa Lisboa Cidade. Assim, presta apoio aos utentes com mais de 60 anos, abrangendo as várias freguesias dos Olivais à Lapa. A equipa multidisciplinar trabalha com o doente e família nos contextos de internamento e/ou ambulatório, como forma de melhorar a qualidade de vida nas perspectivas física, mental e social. Existe um apoio diário dos vários profissionais dentro das suas valências e actividades terapêuticas individuais e em grupo, bem como intervenções domiciliárias. Nesta apresentação são utilizados diagramas. P0202 CARACTERIZAÇÃO DA EQUIPA MULTIDISCIPLINAR DO SERVIÇO DE PSIQUIATRIA GERIÁTRICA Sofia Paiva; Alice Nobre; Elisa Figueiredo; José Salgado; Maria João Borba; Nuno Marques; Olga Correia; Rafael Costa; Virginio Pateiro Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Caracterizar uma equipa multidisciplinar exige especificar tanto a sua composição como as funções que cada profissional desempenha. Desta forma, apresenta-se a equipa de apoio ao Serviço de Psiquiatria Geriátrica do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa que reúne profissionais de àreas de intervenção diferentes, nomeadamente médicos, enfermeiros, psicólogos assitentes sociais, neuropsicólogo e fisioterapeuta. Elaboram estratégias, definem metodologias e criam intervenções específicas e adequadas à população alvo - o Idoso. Assim sendo, conjugam esforços que permitem estabilidade e autonomia para a inserção do Idoso num contexto social adequado Sessões de Posters / Posters Sessions e organizado. Nesta exposição recorreu-se a diagramas. P0203 QUEIXAS DE MEMÓRIA EM DOENTES PSIQUIÁTRICOS EUTÍMICOS REFLECTEM UM DÉFICE COGNITIVO OBJECTIVO? Maria Odete Vieira; Licínia Ganança; Vera Dias; Ana Luísa Torres; Ana Lisa Carmo; Luís Câmara Pestana; Carlos Roldão Vieira Hospital de Santa Maria Introdução: A relação entre queixas cognitivas subjectivas e um défice objectivo tem sido avaliada em vários estudos com idosos residentes na comunidade. Alguns estudos confirmaram esta relação enquanto outros não, pelo que as conclusões não são claras. Existem poucos estudos com doentes psiquiátricos. Martinez-Arán et al (2005) comparou doentes bipolares eutímicos com um grupo de controlo, concluindo que os doentes bipolares apresentavam pontuações mais baixas em vários testes de avaliação cognitiva. Burdick et al (2005) estudou doentes bipolares e mostrou que mais de 75% apresentavam algum défice cognitivo. O nosso grupo estudou doentes psiquiátricos ambulatórios com doença afectiva em remissão, com queixas de memória. Métodos: Estudámos 76 doentes com mais de 50 anos, predominantemente mulheres (77,6%). Foram avaliados com um auto questionário para a depressão e uma bateria de testes neuropsicológicos que permitiu classificar os doentes em quatro categorias: Sem Défice (SD), Défice Cognitivo Ligeiro (DCL), Demência Ligeira (DL) e Demência Moderada (DM). Resultados: Encontrámos 28,9% dos doentes sem défice, 52,6% com DCL e 14,5% com DL. A etiologia do défice era predominantemente de origem vascular. Conclusões: A maioria dos doentes psiquiátricos que apresentam queixas de memória têm um défice cognitivo. Estas queixas não devem ser subestimadas e os doentes ser avaliados com os testes neuropsicológicos apropriados. P0204 APRESENTAÇÃO DE CASO CLÍNICO: COOPERAÇÃO PARA RESOLUÇÃO DE COMORBILIDADES Rafael Costa; Alice Nobre; Brito Aranha; Elisa Figueiredo; Fátima Monteiro; José Salgado; Maria João Borba; Sofia Paiva; Vitorina Passão Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa Os desafios lançados pelo doente idoso com patologia psiquiátrica são, muitas vezes, substancialmente diferentes da habitual prática do Serviço de Psiquiatria. A exigência de uma abordagem multidisciplinar, quer ao nível das especialidades médicas, quer dos vários profissionais de saúde, permite uma optimização dos resultados terapêuticos. Este trabalho apresenta um caso clínico de um doente idoso com múltiplas patologias, em conjunto com sintomatologia psiquiátrica, que motiva o seu internanento no Serviço de Psiquiatria Geriátrica. A resolução deste caso a nível diagnóstico, terapêutico e social exige a intervenção e cooperação de diversos profissionais e suas àreas de conhecimento. A concretização deste trabalho é retrarada em esquemas. P0205 AVALIAÇÃO DO GRAU DE DEPENDÊNCIA DE IDOSOS Elza Maria da Silva Lemos; Ana Maria Romano; José Manuel Dias Escola Superior de Enfermagem de Vila Real - UTAD As alterações a nível demográfico e o aumento da esperança média de vida determinam nos profissionais de saúde maior preocupação em conhecer as necessidades das pessoas idosas, adequando as estratégias de intervenção. O envelhecer causa perdas na autonomia, relacionadas à diminuição da capacidade de adaptação, das funções sensoriais, da saúde, dos recursos económicos, da rede familiar e de amigos. Estes factores condicionam o modo de vida da pessoa idosa, aumentando a sua dependência, levando-a progressivamente à necessidade de ajuda parcial ou total. Realizamos um estudo em idosos residentes em Lares e a frequentar Centros de Dia do Distrito de Vila Real, tendo por objectivo avaliar o grau de dependência desta amostra. O grau de dependência foi avaliado através da escala Mini Dependance Assessment (MDA), escala de avaliação rápida e global 61 Sessões de Posters / Posters Sessions da dependência para as actividades de vida diárias (Benhamou, s.d.). Permite a avaliação de actividades corporais; locomotoras; sensoriais e mentais, cada uma com três critérios, perfazendo doze itens pontuados de zero a dois. A soma de cada resposta dá-nos um total que pode variar entre zero e vinte e quatro pontos e permitenos determinar o grau de dependência da pessoa idosa. Este estudo de carácter transversal, exploratório, descritivo, foi realizado em 432 idosos, 231 do sexo feminino (53,5%) e 201 do sexo masculino (46,5%), cuja média de idades se situou nos 77,27 anos. Dos resultados obtidos, salientamos que na nossa amostra relativamente ao grau de dependência, 94 (21,8%) apresentou grau nulo, 273 (63,2%) grau ligeiro, 38 (8,8%) grau moderado, 19 (4,4%) grau severo e 8 (1,9%) grau muito severo. Os resultados indicam-nos que a maioria dos idosos do estudo apresenta algum grau de dependência, reforçando a necessidade de maior adequação dos cuidados de saúde às necessidades das pessoas idosas numa perspectiva preventiva e de manutenção da saúde. P0206 DELIRIUM NO DOENTE IDOSO – IMPLICAÇÕES SÓCIO-ÉTICOLEGAIS A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Ana Teresa Nunes; Margarida Dantas de Brito Hospital S. João, Porto L.C., sexo feminino, 81 anos, autónoma, nível sócio-cultural elevado, sem familiares, com boa rede de amigos e elevada interacção social. Ingressou voluntariamente num lar de terceira idade e três dias depois iniciou desorientação temporo-espacial associada a heteroagressividade. Foi medicada com ansiolíticos e por agravamento do quadro encaminhada ao Serviço de Urgência. Encontrava-se prostrada, com discurso escasso e confuso (Escala de Coma de Glasgow 13), desidratada, sem défices neurológicos focais ou outras alterações ao exame físico. Analiticamente salientava-se leucocitose ligeira, insuficiência renal crónica agudizada, proteína C reactiva discretamente aumentada, leucocitúria frustre e intoxicação por benzodiazepinas. Sem alterações na tomografia computorizada cerebral. Foi admitida no Serviço de Medicina e apesar das medidas terapêuticas (nomeadamente antibioterapia e hidratação) manteve estado confusional. No estudo complementar adicional não se evidenciaram alterações relevantes e o quadro clínico foi interpretado como delirium pós infecção, desidratação e intoxicação medicamentosa. No decurso do internamento verificou-se melhoria lenta do estado de consciência, persistindo desadequação e desorientação episódicas, sem recuperação completa do estado habitual mesmo após resolução dos factores precipitantes. Na interpretação do quadro clínico poder-se-á equacionar o stress emocional e a dificuldade de adequação ao novo ambiente, apesar de uma escolha ponderada e voluntária. Adicionalmente torna-se pertinente discutir o contributo de uma cistite aguda e a sobremedicação com ansiolíticos. Levantaram-se múltiplas questões sociais, éticas e legais, nomeadamente no que diz respeito ao destino da doente após a alta hospitalar – estaria a doente capaz de decidir? Deveria retornar ao lar? Poderiam os amigos assumir a responsabilidade e orientação após a alta? Deveria ser interditada e orientada pelo serviço social? São questões complexas e transversais que exigem multidisciplinaridade, sendo fundamental o diálogo entre o internista, o psiquiatra, o neurologista e o assistente social. 62 Saúde Mental Mental Health