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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL
AMANDA PAZ DE SENA
A HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE E A INSERÇÃO DO
ASSISTENTE SOCIAL NO ACOLHIMENTO A PARTURIENTE NO
HOSPITAL DISTRITAL GONZAGA MOTA – BARRA DO CEARÁ
FORTALEZA-CE
2012
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AMANDA PAZ DE SENA
A HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE E A INSERÇÃO DO
ASSISTENTE SOCIAL NO ACOLHIMENTO A PARTURIENTE NO
HOSPITAL DISTRITAL GONZAGA MOTA – BARRA DO CEARÁ
Monografia apresentada ao curso de graduação
em Serviço Social da Faculdade Cearense –
FAC, como requisito parcial para aprovação.
Orientadora: Eniziê Paiva Weyne Rodrigues
FORTALEZA-CE
2012
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AMANDA PAZ DE SENA
A HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE E A INSERÇÃO DO
ASSISTENTE SOCIAL NO ACOLHIMENTO A PARTURIENTE NO
HOSPITAL DISTRITAL GONZAGA MOTA – BARRA DO CEARÁ
Monografia como pré-requisito para obtenção
do título de Graduado em Serviço Social,
outorgado pela Faculdade Cearense – FAC,
tendo sido aprovada pela banca examinadora
composta pelos professores.
Data de aprovação: 08/ 01/ 2013
BANCA EXAMINADORA
Professora Ms. Eniziê Paiva Weyne Rodrigues
Professora Ms. Mariana de Albuquerque Dias Aderaldo
Professora Esp. Cristiane Lima de Oliveira
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AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus pelo dom da vida, pela força e a coragem para
seguir em frente.
Agradeço em especial aos meus pais por todo amor, carinho e dedicação. Agradeço a
toda minha família, pelo apoio e compreensão nos momentos ausentes. Ao meu noivo,
Edvandro, por estar sempre ao meu lado; a minha prima, Carla, por me ajudar a dar o
primeiro passo e estar presente nessa trajetória.
À minha orientadora, assistente social Eniziê Paiva, por me acompanhar e auxiliar
durante esta jornada, por ser mais que orientadora, pela paciência para compreender minhas
idéias e também pela habilidade ao confrontá-las, quando necessário.
Aos meus colegas de faculdade, que tornaram mais leves e agradáveis os momentos
de estudo e dedicação que serviram de base a este trabalho, especialmente: Cristiane
Fernandes, Regina Célia, Monique Mota, Geanne Rios, Natália Andrade, Kézia Kelly.
Aos meus professores, em especial, Eliane Nunes que muito contribuiu para a
construção do meu conhecimento na área da pesquisa científica; e, a professora Mariana
Aderaldo por estar presente nesse momento tão especial, a banca.
Ao gestor e as assistentes sociais do Hospital Distrital Gonzaga Mota – Barra do
Ceará que participaram da pesquisa, que confiaram nela e deram sua contribuição
fundamental para que ela se concretizasse.
Peço desculpas àqueles que não se citei neste trabalho, mas peço também a
compreensão pelas limitações próprias de toda pesquisa. Assim, a estas pessoas fica o meu
agradecimento por tudo.
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RESUMO
Nesta monografia foi feito um estudo acerca da inserção do assistente social no atendimento
humanizado a parturientes, observando a importância desse profissional em âmbito hospitalar,
e as dificuldades que encontram para efetivar essa prática. Utilizou-se uma pesquisa de campo
realizada no Hospital Distrital Gonzaga Mota – Barra do Ceará, realizando uma entrevista
com 5 assistentes sociais atuantes junto as parturientes no hospital, buscando responder ao
seguinte questionamento: Como se dá a atuação do assistente social no atendimento
humanizado às parturientes? Nesse contexto, tem-se como objetivo geral analisar a atuação
dos assistentes sociais no atendimento humanizado às parturientes e definindo como objetivos
específicos: Investigar qual a importância da atuação do assistente social junto às parturientes
no HDGM-BC; Identificar se os assistentes sociais conhecem a Política Nacional de
Humanização e se foram capacitados para a prática; e, Identificar quais as dificuldades e
desafios do atendimento humanizado enfrentados pelos assistentes sociais no HDGM-BC. O
método escolhido baseou-se na pesquisa empírica, com uma abordagem de natureza
qualitativa. A coleta de dados apoiou-se no levantamento bibliográfico, pesquisa documental,
pesquisa de campo utilizando-se de entrevistas semi-estruturadas. Ao final pode-se constatar
que as assistentes sociais que trabalham no referido hospital desempenham papel fundamental
para concretizar o atendimento humanizado com parturientes, atuando no reconhecimento dos
direitos e deveres, priorizando o cuidado, a valorização do momento em que ela se encontra e
melhorando a sua auto-estima. Assim, o acolhimento é parte integrante do processo
interventivo para os assistentes sociais, considerando os mais variados contextos sociais em
que as parturientes se encontram e as formas que estes podem influenciar na saúde delas.
Palavras-Chave: Parturiente. Humanização do atendimento. Hospital. Assistente Social.
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ABSTRACT
In this monograph was a study done about the social insertion of the humanized care to
pregnant women, noting the importance of this professional in the hospital, and the
difficulties encountered to effect this practice. We used a field survey conducted in the
District Hospital Gonzaga Mota - Barra do Ceará, conducting an interview with 5 social
workers working with women in labor in the hospital, trying to answer the following
question: How is the role of the social worker in the humanized parturients? In this context, it
has been aimed at analyzing the role of social workers in humanized care to mothers and
defining specific objectives: To investigate how important the role of the social worker with
the parturients in HDGM-BC; Identify whether the social workers know National
Humanization Policy and were able to practice, and identify what are the difficulties and
challenges faced by the humanized social workers in HDGM-BC. The method chosen was
based on empirical research with a qualitative approach. Data collection was supported in
literature, documentary research, field study using semi-structured interviews. At the end you
can see that the social workers who work in that hospital play key role in achieving the
humanized with mothers acting in recognition of rights and duties, prioritizing care,
appreciation of the moment she is improving and their self-esteem. Thus the host is part of the
intervention process for social workers, considering the most varied social contexts in which
the mothers are and ways they can influence their health.
Keywords: Parturient. Humanization of care. Hospital. Social Worker.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social
AIDS – Acquired Immunological Deficiency Syndrome
CBC – Congresso Brasileiro de Custos
CEBES – Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
CEPESC – Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde Coletiva
CEO – Centro Especializado de Odontologia
CFESS – Conselho Federal de Serviço Social
CONASP – Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária
HDGM – BC – Hospital Distrital Gonzaga Mota – Barra do Ceará
IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal
MS – Ministério da Saúde
OMS – Organização Mundial de Saúde
ONU – Organização das Nações Unidas
PNH – Política Nacional de Humanização
PNHAH – Política Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
SINPAS – Sistema Nacional de Previdência e Saúde Nacional
SUS – Sistema Único de Saúde
UECE – Universidade Estadual do Ceará
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9
1 SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL ........................................................................................ 12
1.1 História e Conceito dos hospitais .................................................................................... 12
1.1.1 A organização hospitalar no Brasil .................................................................................. 15
1.2 Sistema Único de Saúde – SUS ........................................................................................ 18
1.2.1 Os pressupostos delineados no SUS e o atendimento humanizado ................................. 21
2 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE E A HUMANIZAÇÀO DA ASSISTÊNCIA ..
.................................................................................................................................................. 23
2.1 Mudanças de paradigmas e o acolhimento no ambiente hospitalar ............................ 25
2.1.1 Acolhimento: diretriz de maior relevância política, ética e estética da PNH .................. 34
2.2 Dificuldades e desafios da assistência humanizada ....................................................... 34
3 A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL JUNTO ÀS PARTURIENTES NO
HOSPITAL DISTRITAL GONZAGA MOTA – BC .......................................................... 39
3.1 Metodologia ....................................................................................................................... 44
3.2 Hospital Distrital Gonzaga Mota – Barra do Ceará ..................................................... 46
3.2.1 O Serviço Social no Hospital Distrital Gonzaga Mota – Barra do Ceará........................ 49
3.3 Sujeitos da pesquisa .......................................................................................................... 50
3.4 O Serviço Social na área da saúde .................................................................................. 53
3.4.1 Concepção sobre o trabalho do Assistente Social na área da saúde ................................ 54
3.4.2 Conhecimento acerca da Política Nacional de Humanização do SUS – PNH e o
entendimento por atendimento humanizado ............................................................................. 56
3.5 A humanização no Hospital Distrital Gonzaga Mota – Barra do Ceará..................... 60
3.5.1 Dificuldades e desafios do atendimento humanizado no HDGM-BC ............................. 61
3.5.2 A atuação do assistente social junto às parturientes e o atendimento humanizado no
HDGM-BC ............................................................................................................................... 64
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 71
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 74
APÊNDICE ............................................................................................................................. 81
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INTRODUÇÃO
O nascimento de uma criança é visto por muitos como uma dádiva, como um
momento único na vida de uma mulher, estando ela com inúmeros sentimentos que se
confundem como a dor do parto, a emoção de ter um filho, o medo do futuro. Enfim, trata-se
de um momento em que a parturiente encontra-se com seu estado físico e mental fragilizados.
Nesse sentido, sabendo-se a complexidade que envolve o momento de nascimento de uma
criança, o presente trabalho tem como finalidade fazer uma reflexão acerca da atuação do
Assistente Social no atendimento humanizado a parturientes, a partir do ponto de vista de
assistentes sociais que compõem a equipe do Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do
Ceará.
A principal função do profissional de Serviço Social é intervir nas dificuldades
sociais que podem vir a impedir a vida dos indivíduos, limitando sua capacidade de
desenvolvimento biopsicossocial. No ambiente hospitalar essa função não é diferenciada, eles
continuam aptos a intervir em qualquer conflito social que possa surgir nesse ambiente que é
tão propício para esse acontecimento.
Assim, como o nome da profissão já diz o foco do atendimento prestado por esse
profissional é o social. Porém, é comum ver pessoas e outros profissionais questionando
acerca da atuação desses profissionais no âmbito hospitalar, sem entender qual o real intuito
dos seus serviços para os distintos profissionais que prestam serviços no hospital e para os
usuários e pacientes que se encontram lá presentes.
No ambiente hospitalar, os Assistentes Sociais devem buscar que o direito dos
usuários seja garantido, bem como, auxiliá-los a resolver conflitos pessoais, e ainda orientálos no planejamento familiar. A emergência é um dos locais mais prováveis para ocorrer o
inesperado, devendo então estar preparado para orientar os pacientes acerca de seus direitos
sociais.
Para que o atendimento ao usuário seja de qualidade e satisfatório é essencial que
esteja relacionado com a atenção, cortesia, delicadeza, prontidão, bem como, com uma
comunicação efetiva, aspectos estes relacionados ao trabalho do Assistente Social. Esse
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profissional promove uma intervenção de vital importância, considerando que a situação
básica que afeta os indivíduos que são atendidos é a recuperação da saúde.
Ocorre que o trabalho desses profissionais é por vezes desconhecido pelos
usuários no ambiente hospitalar, mesmo sabendo que este profissional integra o quadro de
funcionários do hospital e são profissionais da área da saúde, desconhecem o momento que
podem contar com os mesmos ou por qual motivo procurá-los. Assim, levando em conta esse
desconhecimento, busca-se neste estudo responder o seguinte questionamento: Como se dá a
atuação do assistente social no atendimento humanizado às parturientes?
Nesse contexto, tem-se como objetivo geral analisar a atuação dos assistentes
sociais no atendimento humanizado às parturientes, delineando-se como objetivos específicos:
Investigar qual a importância da atuação do assistente social junto às parturientes no HDGMBC; Identificar se os assistentes sociais conhecem a Política Nacional de Humanização e se
foram capacitados para a prática; e, Identificar quais as dificuldades e desafios do
atendimento humanizado enfrentados pelos assistentes sociais no Hospital Distrital Gonzaga
Mota – Barra do Ceará.
O tema exposto foi escolhido em decorrência da autora deste trabalho ter
cumprido seu período de estágio em um hospital público municipal, oportunizando observar
que a atuação dos assistentes sociais nesse espaço é por vezes mal interpretada pelos usuários
e pacientes, que não sabem com o que de fato o assistente social trabalha. Nesse contexto,
consideramos que este trabalho se justifica pela relevância em contribuir para desvendar a
atuação do assistente social no Hospital Distrital Gonzaga Mota – BC, possibilitando ao leitor
conhecer a prática desse profissional da saúde na perspectiva da política de humanização. No
âmbito profissional o estudo também se faz importante, haja vista que fornecerá a autora deste
trabalho subsídios para melhor conhecer a profissão em que pretende atuar.
Este trabalho respaldou-se em uma pesquisa empírica, tendo como objetivo
descrever os fatos observados em campo. Para coletar os dados necessários ao estudo foram
realizadas entrevistas com assistentes sociais atuantes no Hospital Distrital Gonzaga Mota BC, sendo elaborado um roteiro semi-estruturado composto de perguntas abertas, objetivando
obter informações sobre os conhecimentos, técnicas e instrumentais utilizados na intervenção
profissional.
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Para melhor entendimento do leitor, esta monografia foi dividida em três
capítulos. O primeiro capítulo traz um breve resgate acerca da saúde pública no Brasil
situando-a em um contexto histórico, enquanto o segundo capítulo aborda as políticas
públicas de humanização da assistência hospitalar e a inserção do assistente social no
atendimento humanizado a parturientes. O terceiro capítulo discorre sobre a atuação do
assistente social no Hospital em estudo, junto às parturientes, relacionando-se a pesquisa
empírica realizada para enriquecimento desta monografia, descrevendo os passos
metodológicos percorridos, o hospital em estudo e analisando e discutindo os dados coletados.
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1 SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
Neste capítulo faz-se um estudo acerca da saúde pública no Brasil, destacando
seus principais aspectos, situando-a no contexto histórico, observando sua evolução no
decorrer do tempo, a organização hospitalar no Brasil, o surgimento do Sistema Único de
Saúde como solução para os problemas da saúde pública vigente antes de sua implantação.
Discorre-se ainda sobre os pressupostos do SUS e o atendimento humanizado no âmbito da
saúde pública, observando os fatores que dificultam que este atendimento seja concretizado.
1.1 História e conceito dos hospitais
Nos primórdios da civilização, a assistência médica se caracterizava como um
elemento religioso e místico, as doenças eram consideradas sobrenaturais e o médico era tido
como sacerdote (ROSEN, 1958).
Etimologicamente, a palavra hospital vem do latim hospitalis, que significa ser
hospitaleiro, atualmente a palavra hospital tem a mesma concepção de nosocomium, que
significa lugar dos doentes, e nosodochium que significa recepção de doentes (LISBOA,
2002).
Para descrever sobre a origem dos hospitais, cabe fazer um paralelo sobre a saúde,
tendo em vista que são fatores intrínsecos. As primeiras tentativas de construir o conceito de
saúde partiram de Boorse (1975, p.101) da noção de saúde como ausência de doença.
Segundo a OMS saúde é um estado de completo bem estar físico, mental e social e não apenas
a ausência de doença.
A idéia de Boorse (1975), “saúde como ausência de doença” não dispõe de
embasamentos para os processos e fenômenos referidos à vida, saúde, doença, sofrimento e
morte em nenhum dos níveis de realidade, tratando-se de um grande problema de lógica, a ser
resolvido pela superação da antinomia entre saúde e doença.
Paim e Almeida Filho (2000, p. 62) ressaltam que “a área da saúde tem passado
durante a história por movimentos de recomposição das práticas sanitárias das articulações
entre sociedade e estado que definem as respostas sociais às necessidades e aos problemas de
saúde”.
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Para o homem ter saúde é necessário que este receba assistência quando este
encontrar-se enfermo, uma lógica para justificar a necessidade da criação de hospitais. Ramos
(1972) acredita que a assistência hospitalar originou-se na China por volta do século XII a. C.,
registrando existirem no país agências para o atendimento de doentes pobres.
No levantamento bibliográfico realizado, historicamente, verificou-se que na
Grécia existiam templos para a recepção de doentes, os chamados asclépios, em que tais
doentes eram geralmente viajantes. Já em Roma, os hospitais tinham como foco a recuperação
de militares para novas lutas (SALLES, 1971). No Egito o hospital foi representado pelo
templo de Saturno, seguindo o modelo das Asclepias gregas (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
1965).
As leituras realizadas observam que a assistência hospitalar teve início bem antes
da Era Cristã, contudo a determinação para a criação de hospitais só ocorreu nesta era, sendo
determinado aos bispos, no Concílio de Nicéia, o desenvolvimento de hospitais junto às
catedrais de cada cidade, direcionando o atendimento para destituídos do meio, peregrinos
fatigados e enfermos sem esperança de cura. Esses estabelecimentos funcionaram em toda a
Europa durante a Idade Média, os doentes eram atendidos em nome da caridade cristã
(MASCARENHAS, 1976).
De acordo com Rosen (1958), na época do Mercantilismo, foram construídos
hospitais para o controle de doenças transmissíveis, e as maternidades com o intuito de
proteger os nascimentos. Com o acelerado crescimento das cidades decorrente da Revolução
Industrial, veio a necessidade da melhoria do processo produtivo, necessitando-se de mão de
obra saudável.
Paralelamente à Revolução Industrial, ocorreram pesquisas e descobertas no
campo científico que alteraram a prática médica, tornado difícil os diagnósticos e os
procedimentos terapêuticos e preventivos sem a utilização dos equipamentos e recursos da
medicina moderna, que estavam concentrados nos hospitais (SIQUEIRA, 1985).
Com maiores investimentos no setor hospitalar devido às especializações, a
medicina como profissão foi atingida, havendo uma transição do médico da família, com
atendimento domiciliar, para um profissional altamente especializado que trabalha com
inúmeros recursos para diagnóstico e tratamento, que necessitava de uma estrutura para
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assegurar sua lucratividade e controle, tornado o hospital, o local central de seu trabalho
(SIQUEIRA, 1985).
Segundo Mendes (2001), no Brasil antes da chegada da família real, a única forma
de assistência à saúde existente eram as ervas, os cantos do Pajé e os boticários que viajavam
pelo Brasil Colônia. Após a chegada da família real, suas necessidades forçaram a criação de
duas escolas de medicina: Colégio Médico-Cirúrgico no Real Hospital Militar da Cidade de
Salvador e a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro. E estas perduraram como as únicas
medidas de assistência à saúde até a república. No Brasil, a preocupação com os edifícios
hospitalares teve início na primeira metade do século XIX. Os hospitais do período colonial,
mantidos por ordens religiosas ou instituições filantrópicas, passaram a ser vistos como focos
de epidemias ao lado de outros equipamentos urbanos tais como matadouros, mercados e
cemitérios. Até então, os hospitais em nada se diferenciavam de outros espaços de
confinamento tais como prisões e quartéis, funcionando como asilos para indigentes e
depositários de doentes (MENDES, 2001).
Nos últimos tempos o avanço da tecnologia cada vez mais crescente, possibilitou
o surgimento de novas tecnologias para diagnóstico e tratamento, como novas terapias para
doenças que ainda não tinham esperança de cura levando os profissionais de saúde a se
tornarem cada vez mais especializados exigindo constantes atualizações.
Atualmente, os hospitais estão cada vez mais especializados, proporcionando
diagnósticos e tratamentos de última geração. Os serviços oferecidos variam de hospital para
hospital, como serviço de emergência, traumas, entre outros, e ainda com as mais diversas
especialidades médicas, como: cardiologistas, cirurgiões, fisioterapeutas, clínicos gerais. Os
hospitais são verdadeiras organizações, contando não somente com médicos, mas com
diretores, administradores, contadores, enfermeiros, farmacêuticos, assistentes sociais,
radiologistas, psicólogos, serviços gerais, entre inúmeros outros profissionais que buscam
melhorias tanto para o hospital em si quanto para o melhor atendimento ao paciente, com o
intuito de proporcionar-lhes bem estar físico e social.
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1.1.1 A organização hospitalar no Brasil
Os hospitais, atualmente, são organizações hospitalares e diferem das outras
organizações por cuidar da saúde, consequentemente, da vida do ser humano, necessitando ser
gerido de forma eficaz para o alcance de seus objetivos, consistem em organizações
complexas, que precisam de atenção. Sob o ponto de vista de Schulz e Johnson (1976), a
principal função de um hospital é proporcionar assistência aos pacientes, dando as devidas
atenções para as dimensões que o envolvem como as biológicas, psicológicas, sociais,
ambientais, culturais e temporais, e estas dimensões influenciam em seu comportamento em
relação à doença e ao tratamento.
As áreas funcionais dos hospitais exigem um funcionamento eficaz de todos os
seus membros e grupos, tendo em vista que estas áreas se relacionam de maneira
interdependente. Dalfior (2003) elucida que a estrutura hospitalar é caracterizada por uma
extensa divisão de trabalho especializado que é realizado basicamente em equipe,
necessitando de habilidade e esforços dos profissionais, provocando alta concentração de
especialização com formas distintas.
Em um sistema hospitalar se integram vários subsistemas, que podem variar em
número, complexidade e abrangência de acordo com o tipo e finalidade do hospital, atuando
tanto na atenção direta ao paciente, quanto na indireta que consiste nas funções
administrativas (SCHULZ e JOHNSON, 1976).
Hansen e Mowen (2001 apud CBC, 2007 p. 2) elucidam que as organizações
hospitalares são tidas como prestadoras de serviços, e assim, são afetadas pela intangibilidade,
inseparabilidade, heterogeneidade e perecibilidade dos serviços realizados.
Em relação à intangibilidade, podem-se citar as seguintes características: os
serviços não podem ser estocados: nas organizações hospitalares, tratamentos prolongados
podem ser considerados como serviços em andamento, porém, possivelmente, a relação
custo/benefício de sua determinação não justifica sua aplicação; os serviços não são
patenteados: patentes de medicamentos e equipamentos podem ser requeridas, porém,
técnicas de tratamento não; não é possível prever com exatidão seus resultados: cada paciente,
em cada patologia distinta, tende a reagir melhor a um determinado tratamento ou
medicamento em detrimento a outro, prejudicando a padronização dos tratamentos; há
dificuldade em estabelecer antecipadamente o preço do tratamento: a dificuldade de pré-
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estabelecer um tratamento eficaz, dada a idiossincrasia entre o paciente e o tratamento
prescrito, bem como, a possibilidade de aparecimento de fatos complicadores dificulta e até
mesmo pode impossibilitar a antecipação eficaz de preço de forma genérica. (CBC, 2007)
No que diz respeito à inseparabilidade pode-se dizer que o consumidor está
envolvido na produção, no estágio atual da medicina, é difícil separar o paciente do
profissional da saúde que o atende. No caso dos hospitais, sua própria existência está
relacionada com a necessidade de intervenção direta dos prestadores de serviços (médicos,
enfermeiros, técnicos, dentre outros) com o paciente (cliente) que, para restaurar sua saúde,
necessita de atendimento intensivo e ininterrupto, salvo nos casos de atendimentos
ambulatoriais e de urgência/emergência sem internação, mas que, ainda assim, necessitam do
contato entre médico, recursos e paciente. (CBC, 2007)
Outros consumidores também estão envolvidos na produção, visto que na maioria
das vezes, o paciente não está só, junto com ele há acompanhantes que exigem atenção e até
mesmo adequação nas rotinas, para permitir sua permanência durante o período de
atendimento ao paciente. Diante disso, os hospitais precisam adequar suas instalações para
atender aos acompanhantes do paciente, o que gera custos com alimentação e utilização da
estrutura disponível. Há o caso, ainda, dos alojamentos particulares, que colocam a disposição
dos acompanhantes uma estrutura de hotelaria, neste caso, a um preço diferenciado. (CBC,
2007)
Outro fator referente à inseparabilidade como característica é a dificuldade de
massificação dos serviços, apesar da possibilidade de padronização de procedimentos
médicos, e até do estímulo à realização desta padronização por parte de entidades como a
Organização Mundial das Nações Unidas - ONU, o atendimento normalmente é
individualizado. (CBC, 2007)
Já em relação à heterogeneidade, cita-se que a padronização e o controle de
qualidade são difíceis, os hospitais são instituições muito profissionalizadas, pois, “existe um
conflito velado dentro da instituição hospitalar, pois criou-se a imagem de que o grupo da
saúde é muito mais importante na organização que os demais grupos” (ROCHA, 2004, p. 51).
Destacando a característica da perecibilidade das organizações hospitalares tem-se
que os benefícios dos serviços podem vencer rapidamente e necessitar serem repetidos
frequentemente para um cliente, considerando-se que algumas patologias são únicas e outras
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crônicas. A utilização de controles, como os prontuários e fichas de internação, permite o
controle e o acompanhamento da saúde do paciente, ao longo do tempo. Apesar da ficha
médica por cliente ser comum nos consultórios médicos, a utilização destas, nos hospitais,
pode vir a facilitar o atendimento dos pacientes, principalmente, em casos de urgência e
emergência, pois disponibiliza informações sobre o histórico de atendimentos anteriormente
realizados. (CBC, 2007)
Demonstram importância os elementos organizacionais para que haja uma
gerência eficaz, que atenda as necessidades dos vários grupos operacionais da organização,
buscando uma estrutura organizacional compatível com a realidade e especificidade do
hospital, para tornar mais eficiente à prestação dos seus serviços.
Atualmente, apesar de o Brasil contar com uma rede de serviços hospitalares
construídos e legitimados historicamente, a situação da Atenção Hospitalar ainda está
marcada pelas dificuldades que possuem. Isso tem provocado implicações nas dimensões
sociais. A Atenção Hospitalar tem sido, ao longo de décadas, um dos principais temas de
debate acerca da assistência no Sistema Único de Saúde. (BRASIL, 2011).
Na busca de novas perspectivas para o setor hospitalar brasileiro, tem-se apontado
algumas estratégias como: a garantia de acesso, a humanização dos serviços, a inserção na
rede SUS, a democratização da gestão e a contratualização hospitalar. Assim, a rede
hospitalar no SUS enfrenta uma nova situação de exercer a prática cooperativa entre a rede de
serviços e os usuários antes e depois do processo saúde-doença. É necessário que de fato essa
prática aconteça na realidade para melhorar a organização da atenção, responder às
necessidades da população e aproximar-se dela, bem como para eliminar os gastos
desnecessários.
Segundo Deslandes (2002), os serviços de emergência contemporâneos contêm
uma especificidade que os distingue de quaisquer outros serviços de saúde, tratam-se de
serviços em que a assistência deve ser realizada de forma imediata, eficiente e integrada. Para
melhorar o atendimento no decorrer da história da saúde, surgiu o Sistema Único de Saúde, o
qual será detalhado no tópico a seguir.
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1.2 Sistema Único de Saúde – SUS
A idéia do SUS, para Campos (2002) é promover a saúde de forma integral
vinculando-a a implementação de políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doenças e outros agravos.
O modelo do SUS vem se desenvolvendo desde a Reforma Sanitária na década de
70. Inicialmente, foi criado em 1975 o SNS – Sistema Nacional de Saúde, as ações eram
divididas entre os ministérios da Saúde, da Previdência e da Assistência Social, da Educação e
do Trabalho. (CAMPOS, 2002)
Em 1977 foi criado o SINPAS – Sistema Nacional de Previdência e Saúde
Nacional, que era composto pelo Instituto Nacional de Previdência Social; Instituto Nacional
de Assistência Médica da Previdência Social; Legião Brasileira de Assistência; Fundação
Nacional do Bem–Estar do Menor; Empresa de Processamento de Dados da Previdência
Social; Central de Medicamentos. Dois anos depois foi apresentada pelo Centro Brasileiro de
Estudos em Saúde a primeira proposta para reforma do Sistema de Saúde. Até então a saúde
só era assegurada apenas aos contribuintes da Previdência Social e com a crise econômica dos
anos 80 surgiu ainda mais a necessidade de uma reforma no sistema.
O Sistema Único de Saúde fez com que a saúde fosse direito de todo cidadão. Até
a criação do SUS existiam três categorias de brasileiros que tinham direito a saúde: os que
tinham condições financeiras de arcar com despesas médicas particulares, os que eram
segurados da previdência, ou seja, os que tinham direito à saúde pública e os que eram
desprovidos de quaisquer direitos.
Antes da implantação do SUS somente 30 milhões de pessoas no Brasil eram
atendidas pelo sistema de saúde, após a implantação do sistema o número de beneficiados
saltou para 190 milhões de pessoas, 80% destes são dependentes do Sistema Único de Saúde
no que se refere ao acesso a atendimentos. Atualmente, a responsabilidade pela promoção da
saúde é descentralizada e é administrada pelos estados e municípios, deixando de ser
responsabilidade apenas do governo federal como era antes da implantação do sistema em
1988 com a Lei Maior. (BRASIL, 2007).
Campos (2002), afirma que em 1988 a saúde pública foi consagrada como
produto social, e foi incluída no capítulo da seguridade social. Para que o funcionamento do
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SUS fosse organizado foram elaboradas e aprovadas as Leis Orgânicas de Saúde - Lei
8080/90 e Lei 8142/90. Afirma também que em 1996 foi criado o cartão nacional de saúde
para a estruturação e integração de sistemas de informação que permitiam a identificação do
usuário através de um número único de identificação. Desta forma, o cartão se tornou um
poderoso instrumento para que os dirigentes tivessem condições de garantir a construção de
um novo modelo de saúde. A numeração do cartão é baseada no número do PIS/PASEP,
assim o usuário é identificado facilmente, sua localização e o acompanhamento desse usuário
no pelo SUS.
Segundo a OMS (2000) o Sistema Único de Saúde tem como objetivo garantir o
acesso universal e igualitário a todos os cidadãos, e a saúde é um direito de todos, deixando de
ser um privilégio dos contribuintes.
Souza (1992), afirma que no Brasil a saúde não era pensada como direito e sim,
como um seguro, vinculado ao sistema trabalhista. Com a criação do Sistema Único de Saúde
(SUS) em 1988 pela Constituição Federal Brasileira, a saúde constituiu-se como um direito
fundamental do ser humano. Assim, o SUS foi criado para oferecer atendimento igualitário e
cuidar e promover a saúde de toda a população. O Sistema constitui um projeto social único
que se materializa por meio de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde dos
brasileiros. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000)
A criação do Sistema Único de Saúde pode ser considerada como uma das
maiores reformas sociais realizadas pelo Brasil, o acesso gratuito à saúde pública de modo
geral só foi expandido a partir de sua criação. A partir daí o Estado ficou encarregado de todas
as prestações de serviços que se mostrassem necessárias por órgãos federais, estatais,
municipais, de administração direta ou indireta; por fundações mantidas pelo Poder Público;
por entidades filantrópicas; e pela contratação, em caráter complementar, de clínicas,
laboratórios e hospitais privados. Os serviços de saúde pública financiados pelo poder público
passaram a integrar um só sistema. (SOUZA, 1992).
IBAM/CEPESC (1989, p. 35) define Sistema Único de Saúde – SUS, como
sendo:
[...] Um sistema único porque segue a mesma doutrina e os mesmos princípios
organizados em todo o Território Nacional, sob a responsabilidade das três esferas
do Governo: Federal, Estadual e Municipal. Como sistema, é um conjunto de ações,
serviços e unidades que se integram visando às atividades de promoção, proteção e
recuperação da saúde.
20
Desse modo, o SUS é responsável por oferecer à população em geral as mais
diversas especialidades médicas, desde o procedimento mais simples aos mais complexos.
Porém, parece ainda não suprir todas as necessidades dos usuários que necessitam do sistema,
e na tentativa de melhorar o atendimento o SUS vem dando bastante atenção à saúde primária,
como exemplo pode-se citar o Programa de Saúde da Família e as campanhas de vacinação, o
Programa de Combate à AIDS que é elogiado internacionalmente, e também as cirurgias
coronarianas e os transplantes, destacando o Brasil que já ocupa o segundo lugar no mundo.
(OMS, 2000)
Os recursos direcionados ao SUS são de impostos destinados à seguridade social
(saúde, previdência e assistência social), estes impostos também podem ser utilizados para
outros gastos do governo. Vale ressaltar que é de suma importância a utilização de
fiscalização e controle e a participação efetiva dos usuários para o bom funcionamento do
SUS.
De acordo com o Ministério da Saúde (2000) no ano de 2008 o SUS completou 20
anos de atuação, no entanto, já demonstra necessidade de melhoria em vários aspectos, como
qualidade de atendimento e ampliação da rede de hospitais.
Para Campos (2002) o setor de saúde deve responder a diferentes demandas por
parte da sociedade na busca de uma vida saudável, sendo que somente a recuperação do corpo
em seu aspecto biológico passa a não mais ser suficiente ao atendimento da totalidade das
necessidades de saúde, devendo-se assim levar em consideração o ser humano em sua
totalidade.
A busca por itinerários de cura e cuidado, assim como por redes de apoio e
suporte constituem uma prática que se encontra inserida na sociedade e na vida familiar,
assumindo características peculiares em diferentes épocas e culturas, conforme as
necessidades das pessoas cuidadas.
Em qualquer sociedade moderna e desenvolvida, gerir pela redução de custos e
pela qualidade é, atualmente, um imperativo em todas as áreas de atividade, e a saúde não
pode ser exceção. Diminuir os custos, melhorar a qualidade, a acessibilidade e a eficiência dos
serviços de saúde são desafios a serem alcançados pelas nações.
21
Nesse sentido, os sistemas de saúde em diversos países vêm se esforçando para
criar, a tempo, as condições necessárias à prestação de cuidados de saúde de acordo com os
mais elevados padrões de qualidade aceitos internacionalmente e a otimização da relação
custo/efetividade dos serviços prestados à população.
1.2.1 Os pressupostos delineados no SUS e o atendimento humanizado
Segundo o Ministério da Saúde (2000) o SUS é dos maiores sistemas público de
saúde do mundo, destacando que este abrange desde o mais simples atendimento ambulatorial
até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a
população do Brasil. Afirma ainda que o SUS dispõe de três diretrizes básicas:
descentralização dos serviços, com direção única em cada esfera de governo; atendimento
integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízos assistenciais; e,
participação da comunidade.
Para além das diretrizes, devem-se considerar os princípios que dão base ao SUS:
a universalidade, a equidade e a integralidade; tendo por outro lado seus princípios
organizacionais que são a descentralização, a regionalização e a hierarquização da rede e a
participação social.
O princípio da universalidade destaca a saúde como um direito de todos, devendo
ser assegurada pelo Poder Público, que tem em suas competências a provisão de serviços e
ações que garanta o direito à saúde. Já o princípio da integralidade determina que a atenção à
saúde deve considerar as necessidades específicas de pessoas ou grupo de pessoas, ainda que
estes sejam minoritários em relação ao total da população. No princípio da equidade o
objetivo é reduzir as disparidades sociais e regionais existentes em nosso país. (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2000).
No que diz respeito aos princípios organizacionais, a regionalização e
hierarquização da rede estabelecem que as atribuições dos gestores estaduais e municipais
devem buscar a melhor maneira de garantir a eficiência, a eficácia e a efetividade do SUS,
não raro com recursos escassos. A participação popular é um exercício de aprendizado
constante. Democratização do conhecimento do processo saúde-doença e dos serviços e na
promoção e prevenção de doenças, estimulando a organização da comunidade para o efetivo
22
controle social na gestão do sistema. No caso da descentralização, o Ministério da Saúde
estabelece cooperação financeira com órgãos das três esferas e com entidades públicas e
privadas mediante formas de descentralização de recursos. O emprego desta forma de
descentralização melhora a utilização de recursos, permite identificar com mais precisão as
necessidades de cada comunidade etc. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000).
A universalidade do atendimento é um dos princípios básicos do Sistema Único
de Saúde, este que está estabelecido pela Constituição e regulamentado pela Lei Orgânica da
Saúde 8.080/90.
Acredita-se que os pressupostos do SUS aqui mencionados estão diretamente
relacionados à humanização no atendimento. Para Benevides e Passos (2005) humanizar
significa respeitar uma pessoa, enquanto ser humano significa valorizá-lo em razão da
dignidade que lhe é próprio, pois a dignidade jamais deve ser esquecida ou colocada em
segundo plano.
Contudo, muito se tem estudado sobre a importância de um atendimento mais
humanizado, sendo este fato, inclusive, assegurado pela Constituição Federal Brasileira de
1988, e mais recentemente, pelo Programa Nacional de Humanização da Assistência
Hospitalar (PNHAH) criado pelo Ministério Público, estabelecendo o objetivo de aprimorar
as relações dos profissionais da saúde, tanto entre si, como com a comunidade. (ANDRADE
et al, 2009). Este assunto será detalhado no capítulo a seguir.
23
2 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE E A HUMANIZAÇÀO DA ASSISTÊNCIA
Pode-se dizer que a existência de uma população é inerente às condições de saúde
da mesma, e depende de vários fatores, sobretudo, da forma como se relacionam Estado e
sociedade, onde através das políticas públicas, o Estado age no intuito de proporcionar
qualidade de vida aos cidadãos com relação direta com as Políticas de Saúde. Destaca-se que
as principais funções dos sistemas de proteção social oriundos de um princípio de justiça,
conforme Carvalho e Goulart (1998) referem-se a realizar políticas redistributivas, programas
de renda mínima, bem como, proporcionar proteção para todos os membros da comunidade
nacional.
Discorrendo-se sobre as políticas públicas de saúde no contexto histórico, de
acordo com Zanetti (1993), com o processo de industrialização no Brasil surgiu a necessidade
de implantação de novos mecanismos de proteção, porém antes disso o Sistema Nacional de
Saúde Brasileiro teve processo tardio para sua constituição. O autor afirma que a implantação
desses mecanismos se deve à situação econômica bem peculiar, ou seja, a escassez
orçamentária e limitações políticas.
Assim, as políticas sociais no Brasil, sobretudo as políticas de saúde, foram
estabelecidas com a regularização da noção de cidadania que a deram o norte. A relação
estreita entre as políticas de saúde e o modelo econômico vigente, bem como a diferenciação
entre ações de saúde pública e assistência médica, caracterizam as tentativas de resolução do
problema de saúde visado pela Previdência Social.
Como marco das políticas públicas de saúde no Brasil tem-se o sanitarismo
campanhista1, quando surgiram programas voltados para a promoção da saúde, como o
Serviço Nacional de Febre Amarela, o Serviço de Malária do Nordeste e o da Baixada
Fluminense, e ainda, o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), que ficou responsável por
ações sanitárias em regiões afastadas do país. Porém, de acordo com Cunha e Cunha (1998),
havia interesse estratégico para a economia, como por exemplo, a região de produção de
borracha da Amazônia.
Ressalta-se que a ascensão de Getúlio Vargas à presidência do Brasil e a queda
das oligarquias do poder trouxe uma ampla reforma administrativa e política culminada com a
1
Modelo de saúde que predominou dos anos 1960, com objetivo de combater às doenças através de estruturas
verticalizadas e estilo repressivo de intervenção e execução de suas atividades sobre a comunidade e as cidades,
teve bastante sucesso com excelentes sanitaristas.
24
nova Constituição Federal de 1934, que estabeleceu uma fase de profunda centralização e,
consequente, participação estatal nas políticas públicas, que em pretexto das características de
um governo ditatorial, se materializaram em medidas essencialmente populistas. (BERTOLLI
FILHO, 1996).
Outro marco histórico das políticas públicas de saúde foi no ano de 1964 após o
golpe militar que instaurou no Brasil um regime autoritário, trazendo como consequências
para as políticas de saúde um total esvaziamento da participação da sociedade nos rumos da
previdência. Luz (1991) elucida que o primeiro período da ditadura brasileira, entre 1968 e
1974, ficou caracterizado como a fase do “milagre brasileiro”, caracterizado por
reorganizações setoriais do sanitarismo campanhista do início do século e do modelo de
atenção médica previdenciária do período populista.
O movimento sanistarista brasileiro teve como um de seus principais marcos o I
Simpósio Nacional de Política de Saúde que foi conduzido pela comissão de Saúde da
Câmara de Deputados em 1979, quando foi discutida uma proposta de reorganização do
sistema de saúde colocada pelo Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES), verdadeiro
representante do movimento sanitário. Nesse momento já pode ser vista uma menção ao
Sistema Único de Saúde, de caráter universal e descentralizado, conforme elucida Werneck
(1998).
Segundo Werneck (1998), várias mudanças no sistema, sobretudo na extensão de
cobertura da atenção primária foram consequência das pressões populares e do movimento
sanitário, apesar de no início o governo ter ignorado, tudo isso foi também resultado da
Conferência Internacional de Saúde de Alma-Ata em 1978, com a colocação das práticas de
cuidados básicos de saúde foram sendo colocados em pauta.
Algumas propostas da Reforma Sanitária foram incorporadas pelo Conselho
Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária, o CONASP em 1981, uma delas foram
as Ações Integradas de Saúde, AIS, que foi a primeira experiência num sistema mais
integrado. Muitas conquistas no âmbito da atenção primária dos sistemas de saúde foram
atingidas com a atuação do movimento sanitário, bem como a democratização e
universalização do panorama mundial.
Em 1986 na capital nacional, com a VIII Conferência Nacional de Saúde, o
Movimento Sanitário Brasileiro chega ao seu auge. A conferência foi um marco, sobretudo
25
pela chegada da nova república, com a eleição indireta do primeiro presidente não militar
desde 1964 e o fato de uma nova Constituição que estaria por vir, assim, a conferência foi um
divisor dentro do Movimento pela Reforma Sanitária. A proposta que se destaca dentre várias
no relatório da conferência é a colocação da saúde como direito de todos e de
responsabilidade do Estado, fundava-se aí o SUS, o Sistema Único de Saúde de forma ampla
e universal.
Assim, nas décadas de 1970 e 1980 o Movimento Sanitário Brasileiro com as
lutas intensificadas deram origem ao atual modelo de prestação de saúde no Brasil que é
realizado pelo SUS. Para que o SUS pudesse atuar de forma eficiente foi necessário
redirecionar o foco de atenção em saúde, que até então estava pautado em um modelo
curativo, devendo passar a funcionar como um modelo preventivo, com ações voltadas para a
promoção e a prevenção de doenças. Nesse contexto, conforme menciona Mendes (1995), a
atenção à saúde a partir desse momento deixou de ser meramente clínica, passando a ser
contextualizada com as necessidades de vida e saúde, favorecendo a participação da
população no cuidado ao processo de adoecimento e cura.
Deve-se destacar que as lutas por uma política de saúde melhor continuam até os
dias de hoje, apesar de muito já se ter evoluído o Sistema Único de Saúde ainda não consegue
atender à população brasileira com a qualidade que se almeja. Atualmente, uma das principais
discussões em torno da saúde pública é a humanização do atendimento. As mudanças de
paradigma no ambiente hospitalar visando um atendimento mais humanizado são vistas no
tópico a seguir.
2.1 Mudanças de paradigmas e o acolhimento no ambiente hospitalar
O Brasil, como Estado de Direito e do Bem-Estar Social, tem o dever de
promover a saúde dos seus cidadãos, dever este que está garantido, de acordo com Moraes
(1996), pela Constituição Federal do Brasil de 1988, em seu artigo 196 que diz: “A saúde é
direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação”.
A saúde como direito de todos e dever do Estado é uma das grandes conquistas da
sociedade. Fundamentada nos princípios da universalidade, integralidade, equidade e
26
participação da sociedade, encontramos no Sistema Único de Saúde (SUS) uma proposta, para
a construção de uma sociedade mais justa no que se refere à promoção de saúde.
De acordo com Pereira et. al., (2000) a origem do termo promoção de saúde
surgiu com o médico historiador canadense Henry Sigerist no ano de 1945, onde definiu
quatro tarefas da Medicina, que são: a promoção da saúde, a prevenção da doença, o
tratamento dos doentes e a reabilitação. Existem controvérsias e há uma ênfase dos
historiadores a fim de disseminar, clarificar e desenvolver o discurso da promoção da saúde.
Com isso, a promoção da saúde busca uma concepção que não restrinja a saúde referente
somente a ausência de doença, mas que tenha por finalidade um trabalho sobre os seus
possíveis determinantes. Em relação às concepções de saúde vale ressaltar os vários caminhos
percorridos até se chegar a uma ideia mais clarificada quanto a sua concepção, mais precisa e
enfática que envolva o conceito de saúde de forma universal.
Como marco primordial na promoção de saúde tem-se a Carta de Ottawa com a
concepção de que a promoção da saúde consiste em proporcionar aos povos os meios
necessários para melhorar a sua saúde e manter um maior controle sobre a mesma. A Segunda
Conferência em Adelaide na Austrália, em 1988, também é um marco na promoção à saúde,
trazendo uma declaração em que o principal propósito das políticas públicas saudáveis é a
criação de ambientes físicos e sociais favoráveis a promoção de saúde.
Cita-se, ainda, como marco na promoção à saúde a Terceira Conferência de
Sundsvall na Suíça em 1991, que abordou a firmação do compromisso das organizações do
Sistema das Nações Unidas com o desenvolvimento sustentável, explicitando e enfatizando a
interdependência entre saúde e ambiente.
A Declaração de Jacarta Quarta Conferência da Promoção da Saúde na Indonésia
em 1997 explicita em sua declaração a saúde como um direito humano fundamental e
essencial para o desenvolvimento social e econômico, (BRASIL, 2001, p.43). Em relação à
Quinta Conferência Mundial no México no ano de 2000, também considerada como marco na
promoção da saúde, procurou em sua declaração avançar no desenvolvimento das prioridades
de promoção da saúde para o século XXI.
Como grande marco nas histórias das conferências de saúde no Brasil tem-se a
Oitava Conferência Nacional de Saúde em 1986, foi a primeira vez que a população
27
participou das discussões da conferência. Sua declaração é preconizada no Artigo 196 da
Legislação Brasileira e uma conquista importante para a Reforma Sanitária. (BRASIL, 1986).
A promoção da saúde se mostra de forma mais abrangente e ampla, procurando
identificar e enfrentar as macro-determinantes do processo de saúde-doença, no sentido de
transformá-los favoravelmente na direção da saúde. A prevenção das doenças buscaria que os
indivíduos se tornassem isentos das mesmas.
Em maio de 2000 o Ministério da Saúde (MS) regulamentou o Programa Nacional
de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), tendo na 11ª Conferência Nacional de
Saúde a humanização incluída na pauta, aonde daí em diante esse termo vem sendo utilizado e
ouvido com freqüência na área da saúde.
Em 2003, o governo federal instituiu a Política Nacional de Atenção às Urgências.
De acordo com essa política, devem ser garantidas a universalidade, a equidade e a
integralidade no atendimento às urgências nos hospitais, tendo como eixo principal a Política
Nacional de Humanização - PNH, esta que substituiu o Programa, o PNHAH, por uma
política de assistência, mas conhecida como Humaniza SUS. (BRASIL, 2006).
Neste sentido, torna-se interessante apresentar a PNH e os seus princípios
norteadores, elencados abaixo:
1. Valorização da dimensão subjetiva e social;
2. Estímulo a processos comprometidos com a produção de saúde e com a produção
de sujeitos;
3. Fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, estimulando a
transdisciplinaridade e a grupalidade;
4. Atuação em rede com alta conectividade, de modo cooperativo e solidário, em
conformidade com as diretrizes do SUS;
5. Utilização da informação, da comunicação, da educação permanente [...]
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004, p. 9-10).
Nessa instância a PHN não revelava ainda um conceito específico sobre
humanização, mas apresentava apenas um entendimento. Assim, segundo o Ministério da
Saúde (2004, p.7):
Aumentar o grau de co-responsabilidade dos diferentes atores que constituem a rede
SUS, na produção de saúde, implica mudança na cultura da atenção dos usuários e
da gestão dos processos de trabalho. Tomar a saúde como valor de uso é ter como
padrão na atenção o vínculo com os usuários, é garantir os direitos dos usuários e
seus familiares, é estimular a que eles se coloquem como atores do sistema de saúde
por meio de sua ação de controle social, mas é também ter melhores condições para
que os profissionais efetuem seu trabalho de modo digno e criador de novas ações e
que possam participar como co-gestores de seu processo de trabalho.
28
Campos (2005) afirma que a humanização depende do aperfeiçoamento da gestão
compartilhada dos serviços e das relações cotidianas, envolvendo estratégias que permitam
aumentar o poder dos usuários ante o poder do saber e das práticas sanitárias, com a
modificação das normas de funcionamento das instituições hospitalares, Unidades de Saúde e
demais serviços, tendo em vista o acesso e a garantia dos direitos dos usuários. O mesmo
autor prevê também a humanização como uma estratégia que dificulte o abuso do poder,
sendo as saídas jurídicas pos factum um sintoma de perversidade das instituições e normas
que ora vigoram.
Nas últimas décadas, a grande demanda pela procura dos serviços de saúde,
principalmente os de urgência e emergência, tem causado uma “circulação desordenada”
nestes serviços. E, para que haja um atendimento eficiente e eficaz, capaz de atender e
garantir mesmo que minimamente a resolutividade na assistência, esses serviços tiveram que
passar por uma mudança, uma reorganização nos seus processos de trabalho.
O processo coletivo de trabalho nos serviços de saúde, assim como em outras
instituições que não a sejam, é definido por várias condições históricas. Em 1990, a exemplo,
após a implementação do Sistema Único de Saúde, o SUS, passou-se a exigir novas formas de
organização do trabalho em saúde, determinadas pela hierarquização, descentralização e
democratização do sistema. (COSTA, 1998).
No âmbito da saúde destaca-se a importância da interdisciplinaridade, para que
haja uma articulação entre os diversos setores e os diferentes profissionais, estimulando uma
troca de saberes, conhecimentos, os quais contribuem de forma significativa para o processo
saúde-doença dos pacientes nos hospitais.
No entanto, sabemos que na prática essa articulação e troca de saberes, pouco
acontece. Olivar e Vidal (2006) dizem que o corporativismo, a vaidade, a falta de tempo para
reunir os membros da equipe e, principalmente, o não pensar de forma coletiva fazem com
que a fragmentação do trabalho em saúde seja uma característica.
D’Andrade (2011) ressalta ainda que a falta de médicos seja um dos principais
problemas no atendimento do SUS, visto que tornam os atendimentos mais lentos, fazendo
com que filas de espera sejam geradas. Porém, vale ressaltar que a falta de médicos não é o
único problema, a falta de leitos e remédios também é vivenciada diariamente.
29
Em muitas cidades brasileiras, o caos não é diferente, Abreu e Domingos (2011)
destacam a superlotação dos hospitais em decorrência da demanda de atendimento e estrutura
organizacional e de atendimento dos hospitais, sendo destacada a falta de leitos para
internações. Porém, as autoras destacam que a falta de leitos não pode ser resolvida apenas
colocando-se mais leitos nos hospitais, mas faz-se necessária a regulação do seu uso, visto
que o uso indiscriminado poderá deixar um paciente com maior necessidade sem o amparo
devido.
No Ceará a situação de atendimento aos usuários do SUS é ainda mais precária,
de acordo com o Índice de Desempenho do SUS (2012) o estado recebeu nota de 5,14 ficando
a frente apenas do estado da Paraíba, tendo mais uma vez a justificativa de superlotação na
urgência e emergência dos hospitais. Para se ter uma noção da precariedade no atendimento
do SUS no Ceará, Maia (2012, p. 1) destaca que:
Já estava no fim da manhã e a dona de casa Maria Irisnalda, 33, ainda aguardava
pelo resultado dos exames da filha - com suspeita de dengue - na emergência do
Hospital Geral de Fortaleza (HGF). Ainda não havia previsão de quando o resultado
iria sair nem o horário que seria atendida. Três dias antes, no mesmo hospital, ela
chegou às 8 horas e só saiu às 17 horas. “Dou nota zero ao atendimento. Lá dentro
está lotado, tem gente em maca nos corredores, cadeiras de rodas ou em pé”.
Assim, pode-se notar que os usuários contam com um atendimento precário, não
sendo possível perceber neste cenário o processo de humanização no atendimento, pelo
contrário, o que se pode perceber é uma desumanização, uma desconsideração do usuário do
SUS como uma pessoa de direitos.
É muito comum se ver pessoas comentando quanta a frieza existente no âmbito
hospitalar, principalmente quando se fala em Sistema Único de Saúde (SUS), especificamente
por parte da equipe médica. De acordo com diversos pesquisadores, geralmente, essa frieza é
adquirida pelo profissional no decorrer do tempo em que trabalha na área da saúde. Segundo
Angerami-Camon (2000, p.43):
[...] calosidade profissional é aquela postura onde o profissional da saúde, depois de
anos de prática com o doente e a doença, adquire uma indiferença total para a dor do
paciente, uma calosidade que o impede de ser tocado ainda que minimamente, pelo
sofrimento do paciente.
Entende-se que a afirmação referida pelo autor acima referido, se dá quando o
30
paciente é tratado pelo profissional de saúde com desprezo pela sua dor, sendo bem comum
pacientes narrarem que a informação médica acerca de sua doença foi fria e distante, ou até
médicos que para evitar o contato com o possível sentimento emocional do paciente, delega a
algum outro membro da equipe a função de informar o diagnóstico.
Neste sentido, o fato do profissional de saúde adquirir a calosidade profissional
para não sofrer diante da dor do paciente não é justificável pela forma como esse sofrimento
pode alterar sua própria vida. Angerami-Camon (2000, p. 22) destacam:
É muito difícil a contraposição que existe com grande propulsão social de que o bom
profissional é aquele que não se envolve com a dor do paciente, como se este fosse
capaz diante do sofrimento de acionar algum botão que o desligasse de todo e
qualquer envolvimento que pudesse abalar sua estrutura emocional.
Percebe-se que o profissional de saúde se limita ao relacionamento com a doença,
deixando para a família a responsabilidade no que diz respeito ao sofrimento de sua doença,
levando os pacientes a se sentirem desamparados diante desse procedimento, pois a
informação do diagnostico é colocada como sendo uma informação exclusivamente
profissional sobre determinada doença.
Essa realidade leva outros profissionais da saúde a assumirem outros aspecto
considerados importantes para o atendimento do paciente, notadamente no que se refere a
humanização nos serviços de saúde, dentre estes profissionais destacam-se os assistentes
sociais.
Olivar e Vidal (2006) dizem que:
O assistente social tem sido chamado a gerenciar a exclusão social, pois está diante
de uma realidade que complexifica seu objeto e reduz seus meios de trabalho. Com
o não-investimento do Estado nas políticas sociais, os profissionais encontram maior
dificuldade para implementar projetos e conseguir recursos.
Nas organizações hospitalares o fator humano é um diferencial, sendo
fundamental que os pacientes sintam-se bem, e precisam ser atendidos da melhor maneira
possível. Para tanto, faz-se fundamental uma gestão voltada para a humanização do
atendimento.
Assim, na saúde o profissional de Serviço Social atua de forma a administrar a
tensão existente entre as demandas dos usuários e a falta de recursos para as condições
31
requeridas, estabelecendo uma ponte sobre as contradições existentes na política de saúde e
do próprio Sistema Único de Saúde.
Dessa maneira, o trabalho dos assistentes sociais em um hospital de emergência
está vinculado além de suas atribuições e competências respaldadas pelo Código de ética
profissional e pelos marcos legais da profissão, a um complexo processo de trabalho cuja
estrutura é mediada por uma política pública.
No que diz respeito à humanização do atendimento, vale mencionar que são
vários os conceitos acerca desse termo, sendo discutidas questões sobre a democratização e
atenção à saúde. No Sistema Único de Saúde a questão que ganha ênfase é quanto a
sensibilidade no trato com pacientes dispensada pelos profissionais da saúde. Assim, o que se
quer alcançar é uma maior sensibilização diante do processo saúde-doença, bem como que o
atendimento seja extensivo aos familiares dos pacientes e que sejam acompanhados com
dignidade, sempre proporcionando um ambiente acolhedor.
A construção de estratégias pelos profissionais, dentre eles os assistentes sociais,
que no sentido de realizar um trabalho humanizado vem sendo bastante debatido, haja vista,
que a emergência da Política Nacional de Humanização sugere uma reforma na maneira de se
relacionar entre profissionais e os sujeitos ligados aos programas de saúde. É nesse intuito que
a busca pela valorização das relações entre os profissionais e sujeitos com atitudes recíprocas,
deve respeitar os valores individuais e promover a autonomia.
Vale destacar que a Política Nacional de Humanização surgiu como uma resposta
a um sistema falho, bastante criticado por seus usuários, que insatisfeitos reclamam do
atendimento prestado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente, quando se fala em
relacionamento com os profissionais de saúde, demonstrando os desafios para realização de
um atendimento humanizado.
Pinochet e Galvão (2010) dizem que para que a humanização da assistência
hospitalar seja alcançada é necessário ouvir tanto a palavra do usuário quanto a dos
profissionais da saúde, de modo que se reflita e promova as ações, campanhas, programas e
políticas assistenciais a partir da dignidade ética da palavra, do respeito, do reconhecimento
mútuo e da solidariedade.
32
Para Deslandes (2004), a ideia de se promover uma cultura nova no atendimento à
saúde é que faz com que a proposta de humanização seja diferenciada em relação aos demais
setores. A nova forma de comunicação entre pacientes e profissionais da saúde, vislumbra
uma maneira cuidadora, apesar dos conceitos de humanização ser bem diversificados, pois
várias práticas são consideradas humanizadoras.
Vale salientar que em busca do atendimento humanizado na saúde, inúmeras
ações estão surgindo para que se consiga alcançar um resultado satisfatório, como por
exemplo, o Programa de Humanização do Parto, o Método Canguru, Maternidade Segura,
Saúde da Família e algumas iniciativas no campo dos Cuidados Paliativos. Todos esses
programas têm em vista tornar o atendimento ao paciente mais humanizado, podendo-se
perceber um número significativo de programas voltados para as parturientes.
Outro fator que merece destaque no que concerne à busca pela humanização na
assistência à saúde é a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde, elaborada pelo Ministério da
Saúde em conjunto com o Conselho Nacional de Saúde e Comissão Intergestora Tripartite, e
lançada no ano de 2006, estando fundamentada em seis princípios, quais sejam: 1. Todo
cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde; 2. Todo cidadão
tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema; 3. Todo cidadão tem direito ao
atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação; 4. Todo cidadão tem
direito a atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores e seus direitos; 5. Todo cidadão
também tem responsabilidades para que seu tratamento aconteça da forma adequada; 6. Todo
cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde para que os princípios
anteriores sejam cumpridos. (BRASIL, 2006)
Nesse contexto, é possível dizer que os paradigmas que envolvem o atendimento à
saúde estão sendo modificados, busca-se, atualmente, a humanização do atendimento, voltada
para o acolhimento do paciente, visando uma relação humana entre estes e os profissionais da
saúde.
A humanização dos serviços de saúde é uma política pública que tem entre seus
dispositivos o Acolhimento com a avaliação e classificação de risco que traz no bojo de suas
definições uma postura ética, que implica no compartilhamento de saberes e angústias,
tomando para si a responsabilidade de acolher o outro em suas demandas, com
responsabilidade e resolutividade. Esse processo deve ser entendido como uma ação que
33
precisa ocorrer em todos os locais e momentos dos serviços (MINISTÈRIO DA SAÙDE,
2006).
Segundo o Ministério da Saúde (2001, p.9) o conceito de atenção humanizada é
amplo e envolve um conjunto de conhecimentos, práticas e atitudes que visam à promoção do
parto e do nascimento saudáveis e a prevenção da morbi-mortalidade materna e perinatal.
Para que o atendimento humanizado seja extensivo as parturientes, deve-se levar
em consideração os seguintes aspectos: uma recepção que acolha a mulher e sua família; um
acompanhamento que inclua o respeito ao trabalho de parto, que garanta a presença de um
acompanhante na hora do parto para oferecer à parturiente suporte físico e emocional para
uma melhor evolução do parto normal; e, assistência a parturiente e ao recém-nascido no pósparto.
O acolhimento do paciente, de acordo com Pinochet e Galvão (2010), deve ser
feito de forma a familiarizá-lo com a instituição, tornando a recepção do hospital mais
humana e calorosa. Assim, os autores ressaltam que no momento de acolher o paciente, o
profissional de saúde deve se identificar com sua dor, com sua emoção, buscando sempre
oferecer segurança, permitindo ser olhado e ouvido, bem como ouvir o paciente, possuindo
bom senso no que concerne à relação humana.
Em relação ao Serviço Social, a produção teórica do tema acolhimento na área da
saúde ainda é incipiente, embora Santos (2006) empreenda um de bate sobre o acolhimento
com a afirmação de que:
O Serviço Social, mesmo desenvolvendo um trabalho que envolve o acolhimento de
pessoas, tem deixado de lado a reflexão essa categoria. Entretanto é possível
identificar que a profissão possui sim um acervo de conhecimentos historicamente
construídos, no qual figuram concepções teórico-metodológicas, técnico-operativas
e ético-políticas, que dão base para a reflexão sobre o acolhimento (SANTOS, 2006,
p. 11).
Segundo a autora mencionada é preciso que se mude toda uma concepção sobre o
atendimento na perspectiva do serviço público, pois somente a mudança de uma expressão
não confere o real significado e importância que representa. A autora define assim
acolhimento:
O acolhimento é um processo de intervenção profissional que incorpora as relações
humanas. Não se limita ao ato de receber alguém, mas a uma seqüência de atos
34
dentre de um processo de trabalho. Envolve a escuta social qualificada, com a
valorização da demanda que procura o serviço oferecido, a identificação da situação
problema, no âmbito individual, mas também coletivo. (SANTOS, 2006, P45)
O acolhimento se constitui em um espaço no qual os usuários participam do
processo de garantia de direitos e da consolidação da cidadania. No campo da saúde o
acolhimento objetiva reorganizar os serviços de saúde e modificar a lógica de atendimento,
agora centrada no usuário que acessa o sistema de saúde; e, torna-se responsável pela criação
de vínculos e pela humanização dos profissionais de saúde e os usuários do sistema.
2.1.1 Acolhimento: diretriz de maior relevância política, ética e estética da PNH
Acolher é dar acolhida, admitir, aceitar, dar ouvidos, dar crédito a, agasalhar,
receber, atender, admitir (FERREIRA, 1975). O acolhimento no âmbito da saúde vem sendo
responsável pela reorganização dos serviços de saúde, pela garantia de acesso e pela criação
de vínculos entre profissionais, pacientes e usuários. A Cartilha da PNH sobre o acolhimento
nas práticas de produção de saúde elaborada pelo Ministério da Saúde diz que:
O acolhimento como postura e prática nas ações de atenção e gestão nas unidades de
saúde favorece a construção de uma relação de confiança e compromisso dos
usuários com as equipes e os serviços, contribuindo para a promoção da cultura de
solidariedade e para a legitimação do sistema público de saúde. Favorece, também, a
possibilidade de avanços na aliança entre usuários, trabalhadores e gestores da saúde
em defesa do SUS como uma política pública essencial da e para a população
brasileira. (BRASIL, 2010)
Apesar dos avanços e das conquistas do SUS, ainda existem grandes lacunas nos
modelos de atenção e gestão dos serviços no que se refere ao acesso e ao modo como o
usuário é acolhido nos serviços de saúde pública. Na saúde, com ênfase nos hospitais, deve
existir entre os sujeitos um trabalho coletivo e cooperativo, que exige interação e diálogo
permanentes. Acreditamos que o acolhimento é uma das diretrizes que contribui para alterar
essa situação, na medida em que incorpora a análise e a revisão cotidiana das práticas de
atenção e gestão implementadas nas unidades do SUS. (BRASIL, 2010).
A proposta do acolhimento deve estar articulada com outras propostas de
mudança no processo de trabalho e gestão dos serviços para que ocorra a humanização dos
serviços de saúde. Dessa maneira, nos processos de saúde o acolhimento deve intervir na
35
qualificação da escuta, na construção de vínculos, na garantia de acesso com
responsabilização e resolutividade nos serviços.
Para implantação do acolhimento nos serviços de saúde é necessário que as
unidades de saúde superem a prática tradicional; ampliem a qualificação técnica dos
profissionais e das equipes em atributos e habilidades relacionais de escuta qualificada;
implante a sistemática de acolhimento na rede SUS; adéqüem a ambiência das unidades;
implante o acolhimento com a participação dos trabalhadores da unidade e dos usuários;
promova a ampliação do debate mediante eventos estaduais, regionais e municipais sobre o
tema; e, por último, desenvolva campanha de comunicação social acerca do significado e da
importância do acolhimento como estratégia de qualificação da atenção no SUS, de garantia
de direitos dos usuários e da utilização adequada e das responsabilidades das unidades de
saúde do SUS. (BRASIL, 2010).
O acolhimento na área da saúde significa ter compromisso com o outro, devendo
acolhê-lo no momento de dor, nas dificuldades do cotidiano, buscando estratégias para a
construção ou reconstrução da humanização, assumindo o compromisso efetivo com o outro.
Portanto, o acolhimento é uma atitude humanizada no sentido em que reclama, para
acontecer, um co-existir de pessoas orientado por relações profundamente recíprocas e
afetivas. É um modo de ser orientado pelo “deixar-se afetar pelo outro”. Segundo Mariotti
(2002: 14), o acolhimento é um processo pedagógico e requer compreender e dividir as
relações entre as pessoas.
2.2 Dificuldades e desafios da assistência humanizada
A assistência humanizada pode ser compreendida como um processo amplo,
demorado e complexo que encontra inúmeras resistências para ser de fato aplicada, visto que
envolvem mudanças de comportamento, fator que sempre desperta receio e medo. Humanizar
um atendimento envolve o desafio de sensibilizar-se para reconhecer o outro como
semelhante, estabelecendo relações mais solidárias por meio de um diálogo mais
compreensivo, tendo diante de um atendimento, uma relação humana como uma relação entre
dois sujeitos, e não entre um sujeito e um objeto. (WROBEL; RIBEIRO, 2006).
O descaso com a saúde pública é noticiado pelos mais diversos meios de
comunicação, que mencionam a falta de médicos, de leitos e medicamento, superlotação e
36
demora no atendimento, fatores que se destacam como um desafio para humanização no
atendimento, visto que os profissionais acabam sobrecarregados e mesmo sem condições de
infraestrutura e de recursos humanos e materiais para promover a humanização no
atendimento. Sobre o assunto, Fortes (1998, p. 85) destaca que:
A observação diária dos meios de comunicação parece confirmar o que afirmam ser
os serviços de saúde, principalmente os hospitais, instituições onde mais prevalecem
infrações ao direito do cidadão. Cidadãos que, em virtude de necessidades de
assistência à saúde, requerem o atendimento de instituições e profissionais, aos quais
a sociedade delegou o papel de “cuidar da saúde” da pessoa humana, e que, muitas
vezes, perdendo a condição de cidadania e requeridos como seres passivos,
dependentes, submissos a condutas paternalistas ou autoritárias.
Assim, deve-se refletir sobre o atual contexto da saúde, que diz respeito,
principalmente, à necessidade de garantir o direito humano fundamental de todas as pessoas a
uma assistência humanizada, a qual deve ter como base a promoção da autonomia, justiça e
respeito à dignidade da pessoa humana. Conforme Deslandes (2004), o aprimoramento das
relações entre os usuários e os profissionais na relação comunidade-hospital é o objetivo
central da Política de Humanização, viabilizando assim melhoria na qualidade dos serviços
prestados.
Pessini e Bertachini (2004) destacam que o SUS de fato avançou bastante no que
diz respeito ao avanço científico, utilização de sofisticados aparelhos de diagnóstico, técnicas
cirúrgicas avançadas e desenvolvimento de ações preventivas, porém de acordo com os
usuários desse sistema tais avanços não foram acompanhados de um atendimento
humanizado.
Deslandes (2004), com a análise do Programa de Humanização (OMS, 2000),
observa que a principal queixa é a insatisfação dos usuários do Sistema Único de Saúde
quanto ao tratamento dispensado aos mesmos pelos profissionais da saúde. Afirma ainda que
ao avaliar o documento oficial confirma que a opinião pública considera em considerável
escala as condições precárias, atendimento desrespeitoso e até mesmo violento por parte dos
profissionais de saúde.
Deslandes (2004, p. 9) ao analisar um trecho do documento do Programa de
Humanização afirma que:
[...] Na avaliação do público, a forma do atendimento, a capacidade demonstrada
pelos profissionais de saúde para compreender suas demandas e suas expectativas
37
são fatores que chegaram a ser mais valorizados que a falta de médicos, a falta de
espaços nos hospitais, a falta de medicamentos. A Política de Humanização visa
atravessar as diferentes ações e instâncias gestoras do SUS, tendo como um de seus
principais princípios norteadores, a valorização da dimensão subjetiva e social em
todas as práticas de atenção à saúde, fortalecendo o compromisso com os direitos
dos cidadãos.
Assim, a forma como se relacionam com os profissionais de saúde é um dos
fatores mais criticados pelos usuários, chegando até mesmo a superar os problemas
relacionados à falta de médicos, de materiais e medicamentos. Acredita-se que isso se deve à
indiferença e frieza com que alguns profissionais se reportam ao paciente, que naquele
momento busca um atendimento mais humano, sendo a insatisfação dos profissionais um dos
pontos que influenciam nesse relacionamento.
É justamente para buscar um atendimento mais humanizado que se tem a Política
Nacional dos Serviços de Saúde, sendo uma de suas propostas a melhoria do relacionamento e
da comunicação entre os profissionais de saúde e os usuários do SUS, incluindo não somente
o paciente, mas também seus familiares.
Dessa forma, a Política Nacional de Humanização dos Serviços de Saúde propõe
reflexão acerca da prática profissional no âmbito da saúde, colocando esse fator como
fundamental para a eficácia do SUS. Para Benevides e Passos (2005) colocar na agenda da
saúde o tema da humanização é reativar o movimento constituinte do SUS.
A Política Nacional de Humanização começou a ser pensada a partir do momento
em que os resultados de uma pesquisa realizada com usuários do Sistema Único de Saúde
(SUS) foram analisados, observando-se que havia entre eles uma repetitiva informação sobre
maus tratos por parte dos profissionais de saúde. Este tipo de atendimento pelo profissional de
saúde é por vezes destacado como um descaso ao usuário.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em relação à
Política Nacional de Humanização dos Serviços de Saúde, em 2002, tinha-se “o patamar atual
de humanização da assistência hospitalar se sustenta em grande parte no compromisso
pessoal, motivação profissional, espírito de cidadania e disponibilidade para o trabalho em
equipe dos profissionais que atuam nos hospitais públicos” (BRASIL, 2002, p.44).
Desse modo, percebe-se que o atendimento realizado pelos profissionais de saúde
depende de fatores como sua disponibilidade, sensibilidade e qualificação, bem como a
38
facilidade em trabalhar em equipe e o compromisso com o grupo, devendo-se considerar
ainda as condições materiais ou administrativas para realização do seu trabalho. As condições
de trabalho devem ser consideradas para a humanização do atendimento, visto que as
motivações e a satisfação do profissional também devem ser levadas em consideração. Um
trabalhador que não está motivado e/ou satisfeito passar a perder seu desempenho no trabalho.
Devendo-se considerar este aspecto como um dos desafios da humanização no SUS.
De acordo com Dias e Deslandes (2006) a natureza do contrato de trabalho e a
remuneração recebida por eles está no centro das dificuldades para humanização do
atendimento no âmbito da saúde, segundo o autor, esses profissionais recebem baixos salários
e precisam cumprir carga horária exorbitante, interferindo não apenas no exercício de sua
profissão, mas também na sua qualidade de vida.
Dias e Deslandes (2006) citam ainda a necessidade de aderir a outros trabalhos
por parte dos profissionais para complementar sua renda, exercendo sua profissão em vários
hospitais, o que aumenta ainda mais a sua carga horária. Consideram também as condições de
trabalho, visto que por vezes faltam profissionais na equipe, fazendo com que alguns
assumam uma maior carga de trabalho. Outro aspecto apontado diz respeito a falta de
materiais e equipamentos adequados de trabalho. Assim, para enfrentar as dificuldades e
desafios para humanização do atendimento no âmbito do SUS, além da observação aos
usuários, recomenda-se observar os profissionais que cuidam desses usuários, considerando
que para prestar um atendimento humanizado necessitam também de dispor de condições
adequadas, incluindo nesse contexto, a qualidade de vida um fator de suma importância para o
alcance de resultados satisfatórios.
Ao abrir o noticiário da TV, ler um jornal ou uma revista é possível perceber
críticas ao sistema de saúde, filas, morosidade e falta de leitos são fatos recorrentes do dia a
dia desses hospitais, devendo-se mencionar ainda a as dificuldades de manutenção de
equipamentos de apoio diagnóstico e tratamento. Trata-se de um ambiente estressante, que o
profissional da saúde convive diariamente, contando com os baixos salários e as difíceis
condições de trabalho, seja pelo excesso de demanda, seja pela falta de condições de
diagnóstico e tratamento adequados, dentro outros problemas que surgem nesse ambiente,
fatores que de fato, tornam o atendimento humanizado um desafio.
39
3 A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL JUNTO ÀS PARTURIENTES NO
HOSPITAL DISTRITAL GONZAGA MOTA – BC
Durante muito tempo o nascimento era concebido dentro dos lares com o auxílio
de parteiras, todavia, após a evolução das ciências biológicas iniciaram-se discussões sobre a
segurança das parturientes que tinham seus filhos dentro de seus quartos sem que as devidas
medidas de higienização fossem tomadas. Tais discussões culminaram na institucionalização
do parto, o médico com conhecimentos obstétricos e ginecológicos passou a influenciar os
cuidados ao corpo. De acordo com Barreto (2001) as parturientes passaram a ser controladas
e, em parte, a serem desapropriadas das suas reações orgânicas e vontades, seguindo a lógica
imposta e agindo conforme as conveniências do conhecimento da medicina.
Um dos aspectos que ganhou raízes culturais e tradicionais instituída pela
medicina foi a posição deitada para parir, adotando-se uma mesma metodologia de ação para
todas as mulheres, desde as reações até a dinâmica corporal que deveria ser adotada. Cahill
(2001) afirma que foi a partir do século XIX que a obstetrícia começou a se consolidar, com
mudanças científicas e tecnológicas, que estavam sendo bem acolhidas pela comunidade. O
parto em instituições hospitalares passou a ser visto como uma representação de menores
riscos à saúde da mãe e do neonato.
Vale destacar que apesar de representar uma maior segurança para mãe e filho no
que diz respeito ao caráter higienizador e por se caracterizar como um ambiente imunizado,
evitando que parturiente e neonato corram riscos de infecções, a institucionalização do parto
sofreu críticas devido ao viés medicalizador predominante. Tesser (2006) elucida que esse
caráter medicalizado incide na visão médica de que todos os comportamentos e necessidades
humanas são passíveis de intervenção clínica.
Como os padrões vigentes não atendiam mais as necessidades impostas pela
sociedade, as políticas e práticas de saúde sofreram inúmeras transformações nos últimos
anos. A urgência de se rever os padrões tidos como ideais surgiram através das constantes
mudanças do cotidiano nesses ambientes, assim, tem-se a necessidade da discussão acerca da
organização das práticas de saúde.
As primeiras mudanças surgidas em torno do atendimento à parturiente foram
desencadeadas no ano de 1985, por meio de um movimento internacional coordenado pela
Organização Mundial de Saúde (OMS), apontou a necessidade de revisão práticas até então
40
mantidas durante o parto. Para que as ações de mudanças fossem estabelecidas foi realizada,
no mesmo ano, uma reunião entre a região europeia e a Organização Pan-Americana de Saúde
(OPAS) na cidade de Fortaleza-CE, quando foram estabelecidas recomendações para o
momento do parto, tendo como base uma variedade similar de práticas.
As recomendações estabelecidas durante essa reunião foram agrupadas em um
guia denominado “Pacote Mamãe/Bebê”, tratava-se de práticas simples que deveriam ser
desenvolvidas durante a gestação, no momento do parto, e no pós-parto, sendo tais medidas
caracterizadas pela capacidade de promover intervenções econômicas, sendo teoricamente
mais saudáveis e tecnicamente possíveis de seguimento nos países e suas comunidades.
(WHO, 1994; Prata, Greig, Walsh & Potts, 2004)
Conforme a World Health Organization (WHO, 1994), várias medidas são
necessárias para o bom andamento do parto, e para a segurança da maternidade, são quatro
pressupostos para o desenvolvimento ideal facilitando a gestação, o parto e o nascimento
seguros. O planejamento familiar é um dos pressupostos básicos para se ter uma quantidade
de filhos compatível com suas condições, bem como o acesso a um parto digno e seguro, e no
caso de complicações um aparato ideal para agir conforme as necessidades.
Um parto pode envolver várias características distintas, haja vista, a variedade que
de se ter de mulheres com raças, corpo, classe social e outras peculiaridades que as tornam
bem diferentes umas das outras. Assim, o parto é um ato cultural que é inerente aos valores da
sociedade, sendo regulado e determinado por regras sociais. Nesse contexto, tem-se a inserção
do assistente social como fundamental para o atendimento humanizado das parturientes no
ambiente hospitalar.
Registra-se que os objetivos do trabalho do assistente social estão voltados para as
questões sociais e suas múltiplas manifestações, lidando desde crianças até idosos,
independentemente de gênero, cor, raça ou classe social, incluindo questões relacionadas à
família, à fome, à saúde, à educação, à luta pela cidadania e pelos direitos sociais, entre outras
questões que fazem parte do cotidiano social. Sua função, em linhas gerais, é a de tentar
minimizar os impactos sociais, atuando em todas as questões sociais.
Cabe aqui conceituar o que vem a ser questão social, de acordo com Iamamoto
(1999, p. 27) consiste em:
41
Conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem
uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se
mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada,
monopolizada por uma parte da sociedade.
A falta de eficiência nas políticas públicas voltadas para a sociedade influencia as
condições socioeconômicas da população, colocando a sociedade em riscos sociais, visto que
suas necessidades básicas, como moradia, alimentação, educação, saúde e lazer, são atendidas
de forma precária. É nesse sentido que Pastorini (2004) destaca que não se pode perder de
vista os atores sociais que vivem nesse contexto, pois segundo afirma não considerá-los é o
mesmo que tratar as questões sociais de des-historicizada, des-economizada e des-politizada,
sendo estas palavras literalmente mencionadas pelo autor. É nesse contexto que se destaca o
assistente social considerando sua atuação junto aos sujeitos sociais na tentativa de resolver
ou minimizar os problemas surgidos no cotidiano social.
Estevam e Magri (2005) por sua vez comentam que o direito social está
relacionado ao mínimo de bem estar econômico, como o direito a levar uma vida digna de um
cidadão civilizado conforme os padrões estabelecidos pela sociedade.
Na área da saúde, as gestantes também são amparadas por lei tanto no período
pré-natal como no parto propriamente dito. Alguns direitos sociais como licença maternidade,
preferência em filas e direitos de saúde que disponibilizam determinados exames e outros que
são básicos para um bom andamento no processo de gestação. A hora do parto também deve
ser assistida de forma que a gestante seja ouvida e suas queixas e dúvidas sejam solucionadas
por uma equipe que dispense a mesma atenção necessária.
Vale ressaltar que o parto normal é a maneira mais saudável para o nascimento da
criança, sendo sua escolha um direito da mulher; o parto cesáreo somente deve ser realizado
caso a criança e/ou a mãe corram riscos de saúde, devendo ser uma escolha conjunta entre a
mãe e a equipe médica sobre o tipo de parto a ser realizado. A Portaria nº 2.418 de 2
dezembro de 2005 garante às parturientes o direito a um acompanhante; e a Portaria nº 1.016
de 26 de agosto de 1993 a garante que ficará no mesmo quarto que seu filho. Ao sair do
hospital a mulher tem o direito de ser orientada sobre quando e onde deverá fazer a consulta
de pós-parto e os cuidados com o bebê.
42
Os cuidados com a mulher devem seguir após o parto, com o retorno aos postos
de saúde e a realização de exames necessários. O homem e a mulher devem se consultar para
serem instruídos e alertados acerca de uma nova gravidez precoce ou planejamento de outra.
Uma gravidez saudável e um parto seguro são direitos da gestante e devem ser respeitados.
O processo de humanização do parto tem sido bastante comentado nos últimos
tempos, sendo realizados debates, cursos e programas de educação e treinamento da mulher e
dos próprios profissionais para o parto. Deve-se considerar que para alcançar a humanização
do parto faz-se necessária a realização de um trabalho multidisciplinar, por meio da atuação
de profissionais distintos durante o processo de nascimento, desde o pré-natal até o pós-natal.
As instituições de saúde e alguns profissionais vêm a gestante como centro da
gestação, primando pela humanização do parto desde a gestação até o parto e os cuidados com
o recém-nascido, valorizando os aspectos da essência do ser humano. Após o internamento da
gestante, todas as atenções devem estar voltadas para a mesma, e os profissionais expressam a
importância desse momento, interagindo, orientando e acima de tudo estando junto, passando
toda tranquilidade necessária.
A participação do profissional de serviço social nesse contexto humanizado é de
fundamental importância, visto que esses profissionais atuam no apoio à parturiente,
orientando-as no que diz respeito aos seus direitos fundamentais e contribuindo para a
consolidação dos mesmos, utilizando-se de ações sócio-educativas no sentido de informar e
humanizar as ações.
No HDGM – BC as assistentes sociais se encontram capacitadas para a
identificação dos determinantes sociais como também da apreensão das vulnerabilidades
sociais que interferem na qualidade de vida e saúde os usuários que buscam o hospital, em
particular as mulheres gestantes. Nesse sentido, o serviço Social procura ver a paciente em
sua integralidade, e ao realizar o acolhimento, inicialmente com a família da parturiente na
hora em que estes procuram o Serviço Social para preencher a Ficha Social, vai tecendo as
relações e criando os vínculos ao valorizar a escuta, as atitudes do cuidado e o comportamento
ético que permeiam as relações entre a Assistente Social e o paciente. Destaca-se a
sensibilidade dessas profissionais e o respeito, um compromisso assumido no âmbito dos
atendimentos cotidianos que as assistentes sociais realizam nas relações diretas com os
sujeitos.
43
Os familiares são acolhidos e nesse momento é explicado sobre os procedimentos,
normas, direitos e deveres dos usuários, familiares, visitantes, recebendo um folder com todas
as informações anteriormente repassadas; em segundo momento as assistentes sociais fazem
uma visita à sala de parto para orientar a parturiente. Essa orientação é realizada
individualmente a cada parturiente, deixando-as cientes de seus direitos e acolhidas pelo
hospital.
Nesse contexto, a construção de relações mais humanizadas, reclama,
inexoravelmente, a opção por princípios e valores que concebam o “Outro” como um
semelhante, ou seja, um sujeito social capaz de engajar-se de forma livre e consciente - um
igual em orgulho e dignidade (Caponi, 2000). Dentre os valores que privilegiam esta
compreensão, pautada no princípio da autonomia e da construção do fortalecimento humanosocial, destacam-se: a solidariedade; a compreensão; a horizontalidade; a valorização da
autodeterminação; a reciprocidade; o acolhimento; a valorização dos vínculos afetivos; o
posicionamento em favor da pluralidade humana e da igualdade de direitos etc. Assim, faz-se
necessário que o profissional construa relações mais próximas, empáticas e solidárias, livre de
quaisquer pré-julgamentos e preconceitos.
Estevam e Magri (2005) citam que o papel do assistente social nesse ambiente é o
de defender os direitos fundamentais das parturientes e participar do processo de ampliação de
tais direitos, buscando ações estratégicas para desenvolver nos diversos atores sociais a
capacidade de problematizar suas reais necessidades, inserindo-as nos campos de decisões
políticas. Enquanto, Costa (2000: 52) observa que “a dinâmica de funcionamento dos serviços
dentro do modelo estabelecido, e no ajustamento do usuário às normas estabelecidas, torna-se
objeto da ação profissional”.
O Estado é o responsável pelas políticas públicas e o Serviço Social na
colaboração para a ampliação desses direitos, minimizando as formas de preconceito e
garantindo a qualidade no atendimento pela instituição. Para se ter uma qualidade na gestação
e para que o parto ocorra de forma segura, as gestantes devem receber cuidados especiais e
específicos. Assim, a ação pedagógica realizada pelo Serviço Social deverá ocorrer no intuito
de garantir os direitos para as gestantes e parturientes.
44
3.1 METODOLOGIA
Este estudo se respaldou por uma pesquisa empírica, tendo como objetivo
descrever os fatos observados em campo. Segundo Demo (2000), pesquisa empírica é a
pesquisa dedicada ao tratamento da “face empírica e fatual da realidade; produz e analisa
dados, procedendo sempre pela via do controle empírico e fatual”.
A valorização desse tipo de pesquisa, de acordo com Demo (1994, p. 37) é pela:
Possibilidade que oferece de maior concretude às argumentações, por mais tênue
que possa ser a base fatual. O significado dos dados empíricos depende do
referencial teórico, mas estes dados agregam impacto pertinente, sobretudo no
sentido de facilitarem a aproximação prática.
Assim, esse tipo de pesquisa possibilita uma comparação entre teoria e prática,
podendo-se confirmar ou contrariar a teoria mencionada pelos autores a partir do discurso das
profissionais em estudo.
A pesquisa segundo Minayo (1993, p. 23) é considerada como uma:
Atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma
atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo
intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva
da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e
dados.
Desse modo, buscou-se relacionar nossas perspectivas com a realidade em que se
encontra o objeto em análise, para uma melhor compreensão da atuação do Serviço Social na
Saúde junto a parturientes, sendo este fundamentando por leituras pertinentes a temática e
através dos documentos do governo sobre as Políticas de Saúde, da Humanização, as leis e
decretos etc. e de outros documentos legais que norteiam a profissão.
A pesquisa de campo foi realizada no Hospital Distrital Gonzaga Mota – Barra do
Ceará, município de Fortaleza – CE, com cinco das quinze assistentes sociais que trabalham
no Hospital em regime de plantão. Os critérios de seleção dos participantes foram levados em
consideração devido à identificação da disponibilidade de tempo para participar da entrevista,
o interesse em participar da pesquisa e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
45
Os critérios de exclusão foram estabelecidos para aqueles que não puderam
participar das entrevistas por encontrar-se em período de férias, licença ou apresentaram
dificuldades para o agendamento das entrevistas.
A metodologia utilizada teve como base a abordagem qualitativa, entendida “[...]
como sendo um processo de reflexão e análise da realidade através da utilização de métodos e
técnicas para compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico e/ou
segundo sua estruturação”. (OLIVEIRA, 2007, p.37).
Assim, para coletar os dados necessários ao estudo foram realizadas entrevistas
com assistentes sociais atuantes no hospital aqui em estudo que atuassem com as parturientes,
sendo para este o roteiro elaborado com perguntas abertas, objetivando obter informações
sobre os conhecimentos, técnicas e instrumentais utilizados na intervenção profissional.
A entrevista semi-estruturada questionou às entrevistadas apoiando-se em teorias
e hipóteses relacionadas ao tema da pesquisa. Esse tipo de entrevista “[...] favorece não só a
descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua
totalidade [...]” além de manter a presença consciente e atuante do pesquisador no processo de
coleta de informações (TRIVIÑOS, 1987, p. 152).
Nesse caso, a entrevista foi utilizada como um instrumento facilitador, onde foram
elaboradas questões que interrogavam sobre o trabalho desenvolvido pelas profissionais no
que diz respeito ao objeto de estudo. Para que as entrevistas fossem concretizadas, as
Assistentes Sociais foram convidadas, apresentando-se os objetivos da pesquisa e agendando
as mesmas no período de novembro a dezembro de 2012, de acordo com a disponibilidade de
tempo dos profissionais. Antes do início das entrevistas, entregou-se aos profissionais o
Termo de Consentimento, para leitura e assinatura. Os participantes foram advertidos de que a
entrevista seria gravada em celular e/ou gravador para, posteriormente, ser transcrita na sua
íntegra.
As entrevistas foram registradas por um gravador e sob anotações pessoais e logo
após foram transcritas e revisadas para análise do conteúdo. Além disso, a assinatura do termo
de consentimento livre e esclarecido garante que será resguardado o sigilo da pesquisa,
tornando o pesquisado anônimo.
46
Para observar a significação do discurso, em primeiro lugar, iniciamos à
transcrição das gravações feitas ou no celular ou no gravador. Esta tarefa não foi fácil, uma
vez que as falas tiveram que ser ouvidas por repetidas vezes e isto é trabalho ao mesmo tempo
que enriquecedor, muito cansativo. Após a transcrição, foram realizadas várias leituras de
cada uma das entrevistas realizadas, para que fosse constituído o corpo do estudo, que
conteria as informações representativas do universo que se almejou analisar. Em seguida,
iniciou-se o processo de identificação das categorias empíricas a serem analisadas.
A pesquisa bibliográfica também fez parte deste estudo, onde foram feitas leituras
de autores referenciais a essa temática, através de teses, dissertações, artigos, livros, revistas e
sites da internet; e, as pesquisas documentais, tendo como fonte os documentos e relatórios
produzidos pelo Setor do Serviço Social, podendo-se comparar teoria e prática.
Segundo Gil (2007, p.44, 45) a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de
material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos; já a pesquisa
documental assemelha-se muito a pesquisa bibliográfica, a diferença essencial entre elas esta
na natureza das fontes, a pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem ainda um
tratamento analítico.
Por se tratar de uma pesquisa que envolveu seres humanos, no caso os
profissionais da área da Saúde, deveria ter sido submetida à avaliação do Comitê de Ética.
Porém, nem o Hospital em estudo nem a Instituição de Ensino dispuseram de um comitê,
então o referido estudo foi autorizado mediante ofício preparado pelas Faculdades Cearenses
e autorizado pelo Diretor Geral do HDGM – BC. Por fim, por meio das pesquisas qualitativas,
serão analisadas: o serviço social na área da saúde; o conhecimento acerca da Política
Nacional de Humanização do SUS – PNH; a humanização no HDGM-BC; e, a atuação do
assistente social junto às parturientes e o atendimento humanizado no HDGM-BC.
3.2 HOSPITAL DISTRITAL GONZAGA MOTA – BARRA DO CEARÁ
O Hospital Distrital Gonzaga Mota – Barra do Ceará, cenário desta pesquisa,
conhecido popularmente como Gonzaguinha da Barra, está localizado à Avenida Dom Aluisio
Lorscheider nº 1.130, Conjunto Beira Rio, Fortaleza – Ceará. Sua inauguração ocorreu no
ano de 1986, durante a gestão do então Governador Luiz de Gonzaga da Fonseca Mota, o que
47
justifica o nome dado ao hospital. Destaca-se, que o hospital surgiu como um órgão integrante
da Fundação de Saúde do Estado do Ceará – FUSEC.
De acordo com a história descrita no site do Hospital Distrital Gonzaga Mota –
BC (2012), o objetivo de criação não só deste hospital, mas dos demais que carregam o
mesmo nome e são identificados apenas pela localização em que se encontra, foi o de otimizar
os atendimentos realizados pelos chamados hospitais terciários, como: Hospital Geral Dr.
César Cals - HGCC, Hospital Geral de Fortaleza - HGF e Maternidade Escola Assis
Chatobreand - MEAC.
Com a Municipalização da Saúde ocorrida no ano de 1990, o Hospital Distrital
Gonzaga Mota – BC passou a pertencer à Prefeitura de Fortaleza, passando a ser integrante da
estrutura Administrativa da Secretaria Municipal da Saúde no âmbito da Secretaria Executiva
Regional I – SER – I.
No início, as atividades do hospital estavam limitadas na Clínica Médica e
Obstetrícia para casos de internamento, havendo alguns ambulatórios para Prevenção e PréNatal em Obstetrícia, e ainda, consultas básicas em Pediatria. Assim, pode-se dizer que o
Hospital aqui em estudo possuía um perfil materno-infantil.
Com a crescente demanda para o hospital, em 1990 ele sofreu sua primeira
ampliação, passando a contar com um Berçário de Media Complexidade, que possuía 06
(seis) leitos. Dois anos mais tarde, novamente é ampliado, sendo criado na ocasião, o Serviço
de Pronto Atendimento – SPA, que consistia em uma espécie de emergência em Clínica
Médica, Obstetrícia e Pediatria.
Hoje, manteve seu perfil inicial, tratando-se de uma instituição hospitalar voltada
para o atendimento materno e infantil, prestando assistência ambulatorial e hospitalar nas
áreas clínica, cirúrgica, pediátrica, ginecológica e pronto atendimento (SPA). Trata-se de uma
instituição hospitalar de médio porte, contando com 58 leitos, sendo 28 para obstetrícia, 8
para pediatria, 10 para adultos em geral e 12 para o serviço de pronto atendimento, sendo 6
adultos e 6 pediátricos. Salienta-se, que o hospital conta ainda com o berçário, o qual se
caracteriza para atendimento de médio risco, possuindo 6 leitos para recém-nascidos e 1 sala
para pequenas cirurgias.
48
Quanto à estrutura organizacional do Hospital Distrital Gonzaga Mota – BC temse uma estrutura composta por Diretoria Geral e 3 unidades: médica assistencial; técnica de
apoio clínico; e administrativa financeira. O fluxograma da estrutura organizacional do
Hospital Gonzaga Mota – BC é demonstrada pela imagem a seguir:
Figura 1 – Estrutura Organizacional Hospital Distrital Gonzaga Mota – BC
Fonte: Hospital Distrital Gonzaga Mota (2012)
Hoje o Hospital Distrital traçou como missão atender com qualidade e
humanização todos os usuários do Sistema Único de Saúde, promovendo a cura, amenizando
o sofrimento e proporcionando uma sobrevida com qualidade e dignidade, tornando-se uma
instituição respeitada e acreditada. E como visão: procurar melhorar o atendimento aos
usuários do Sistema Único de Saúde, visando à promoção da cura e diminuindo os
sofrimentos, de forma eficiente e humanizada, utilizando os recursos humanos e tecnológicos
disponíveis, propiciando a todos uma maior sobrevida com qualidade, credenciando-se como
uma instituição que oferece serviços com qualidade. Adotando como valores a competência
técnica e ética profissional favorecendo o crescimento da instituição e a realização do
profissional e satisfação do cliente.
49
3.2.1 O Serviço Social no Hospital Distrital Gonzaga Mota – Barra do Ceará
Para situar o serviço Social no HDGM BC buscou-se o entendimento de Costa
(2000:46), que discorre sobre o conjunto de atividades desenvolvidas pelo Serviço Social nos
serviços de saúde é direcionado por meio dos seguintes núcleos de objetivação: 1)
levantamento de dados para a caracterização e identificação das condições sócio-econômicas
dos usuários; 2) interpretação de normas e rotinas; procedimentos de natureza educativa como
orientação e encaminhamentos individuais e coletivos; 3) agenciamento de medidas e
iniciativas de caráter emergencial20; 4) desenvolvimento de atividades de apoio pedagógico e
técnico político junto aos funcionários, aos representantes dos usuários no sistema e a
comunidade de usuários. Ao abordar a realização destas rotinas de trabalho empreendidas
pelos assistentes sociais que atuam no contexto da saúde.
Atualmente a equipe de Serviço Social do HDGM – BC é composta por 15
assistentes sociais, tendo ainda o apoio de 2 (duas) secretárias. O trabalho realizado pelas
mesmas ocorre 24 horas por dia, contando na semana com 2 (duas) assistentes sociais e 1
(uma) secretária no período diurno; e, 1 (uma) assistente social nos períodos noturnos e finais
de semana.
No HDGM – BC os assistentes sociais desenvolvem além das atividades que são
privativas da sua profissão, ações emergenciais que atendam as demandas requeridas no
cotidiano do hospital. Dentre elas: contatos com familiares de pacientes, contato com
profissionais de outras unidades, remoção de pacientes e altas, comunicação de óbitos, entre
outras ações.
Conforme destaca Costa (2000), a primeira etapa do processo de atendimento
realizado pelo Serviço Social nos serviços de saúde, refere-se à aplicação de instrumentos
como: entrevista, ficha ou questionário para a obtenção de dados pessoais, constituindo esta
ação um conjunto de procedimentos e normas relativo sao internamento do paciente.
As ações voltadas às parturientes no HDGM – BC são as mais variadas. Os
assistentes sociais visitam a sala de parto e os leitos por várias vezes durante todo o plantão.
As visitas têm o intuito de orientar as parturientes quanto seus direitos e deveres sociais. Na
sala de parto é realizado o acolhimento as parturientes, que encontram-se muitas vezes
fragilizadas biopsicossocialmente. Nos leitos, quando os bebês são levados para junto de suas
mães, as assistentes sociais repassam informações sociais sobre o aleitamento materno, o
50
direito do registro de nascimento gratuito, o direito e o dever como mães de realizar o teste do
pezinho e outras dúvidas que vão surgindo e são pertinentes ao trabalho das profissionais do
Serviço Social, ou seja, confirma o que Costa (2000) aponta que os assistentes sociais, em
todos os tipos de fases de atendimento e acompanhamento (individual ou coletivo) nos
serviços de saúde, realizam ações voltadas para a “educação em saúde”, por meio de
orientação e encaminhamento.
O Serviço Social no Hospital Distrital Gonzaga Mota – Barra do Ceará depara-se
com alguns problemas de natureza interna e externa que dificultam o trabalho dos assistentes
sociais. A carência de médicos é insuficiente para atender a demanda, a falta de leitos, a
fragilidade da estrutura organizacional. Porém, cabe ressaltar que o Serviço Social do HDGM
– BC desempenha suas funções mesmo diante das dificuldades para fazer com que os direitos
dos usuários e pacientes sejam garantidos.
3.3 SUJEITOS DA PESQUISA
Como participantes desta pesquisa colaboraram 5 (cinco) assistentes sociais que
atuam no Hospital Distrital Gonzaga Mota – BC e, que possuem contato direto com as
parturientes, tendo, portanto, conhecimento e experiência necessários para responder
perguntas referentes à atuação dos profissionais de serviço social junto às parturientes, dando
destaque ao processo de humanização no atendimento em saúde.
Vale destacar que todos os participantes desta pesquisa são do sexo feminino e
representam aproximadamente 35% das profissionais de serviço social que integram o quadro
de funcionários do hospital cenário deste estudo. Isso releva que a profissão de serviço social
ainda é fortemente marcada pela presença feminina, sendo, portanto uma condição histórica
que perpassa até os dias atuais.
O nome das profissionais que participaram deste estudo será preservado,
utilizando-se apenas a sigla AS para representar o nome Assistente Social, seguido das letras
do alfabeto “A”, “B”, “C”, “D” e “E”, para designá-las. Os gráficos a seguir expõem o perfil
das assistentes sociais que contribuíram para esta pesquisa:
51
Gráfico 1 – Perfil das assistentes sociais participantes da pesquisa
Assistente Social especialista em Gestão em Saúde
graduou-se no ano de 2000 pela Universidade Estadual do
AS “A”
Ceará. Trabalha como assistente social há 12 anos, e atua
no Hospital Distrital Gonzaga Mota desde a fundação do
mesmo, também há 12 anos. Trabalha em regime de
plantões e já participou de capacitação sobre a Política
Nacional de Humanização – PNH.
Assistente Social especialista em Dependência Química
graduou-se no ano de 1980 pela Universidade Estadual do
AS “B”
Ceará. Trabalha como assistente social há 30 anos, e atua no
Hospital Distrital Gonzaga Mota desde o ano de 1997 até os
dias atuais Trabalha em regime de plantões e já participou de
capacitação sobre a Política Nacional de Humanização – PNH.
Assistente Social especialista em Saúde Pública graduou-se no
ano de 1980 pela Universidade Estadual do Ceará. Trabalha
AS “C”
como assistente social há 29 anos, e atua no Hospital Distrital
Gonzaga Mota há 14 anos. Trabalha em regime de plantões e
já participou de capacitação sobre a Política Nacional de
Humanização – PNH.
52
Assistente Social especialista em Gerontologia graduou-se no
AS “D”
ano de 1990 pela Universidade Estadual do Ceará. Trabalha
como assistente social há 16 anos, e atua no Hospital Distrital
Gonzaga Mota também há 16 anos. Trabalha em regime de
plantões e já participou de capacitação sobre a Política
Nacional de Humanização – PNH.
Assistente Social especialista em Saúde Pública graduou-se no
ano de 1982 pela Universidade Estadual do Ceará. Trabalha
como assistente social há 30 anos, e atua no Hospital Distrital
AS “E”
Gonzaga Mota desde o ano de 1997, há 15 anos. Trabalha em
regime de plantões e conhece a Política Nacional de
Humanização – PNH, mas não participou de nenhum curso ou
capacitação sobre a mesma.
Fonte: Dados primários da pesquisa/2012
Nesse contexto, nota-se com base no quadro que expõe o perfil das participantes
que já possuem experiência profissional, como assistentes sociais atuando no Hospital
Distrital Gonzaga Mota – BC, o que lhes dá autonomia para responder à entrevista, podendo
especificar sobre a atuação das assistentes sociais junto às parturientes em geral, e as
peculiaridades do hospital em questão, bem como discorrer sobre as dificuldades e desafios da
humanização na assistência em saúde.
Fica evidente também que as Assistentes Sociais respondentes desta pesquisa
fizeram sua formação acadêmica pela Universidade Estadual do Ceará, UECE, e que todas
possuem cursos de especialização voltados para a área da saúde, tornando-as ainda mais
capacitadas a enfrentar e lidar com as múltiplas expressões advindas do cotidiano no ambiente
hospitalar.
A formação acadêmica deu-se no período entre 1980 a 2000, sendo a maioria
formada na década de 1980, período marcado pelo início de grandes transformações e
modificações do contexto teórico e social do Serviço Social. O currículo de 1982 buscou
clarear o norte teórico e metodológico pela inserção de novos conteúdos programáticos, tanto
53
com a influência do pensamento de Gramsci quanto com o direcionamento dado ao novo
currículo e ao novo Código de Ética da profissão o qual já apontava para um projeto que
estava atrelado a um compromisso político e ético com as classes subalternas (SARMENTO,
1994; ASSUMPÇÃO, 2007).
Nos anos 1990 constatou-se a necessidade de reformulação das concepções para a
formação profissional, na qual foram inseridos pressupostos norteadores, colocando o Serviço
Social como uma profissão interventiva, principalmente em relação à questão social. Nesse
mesmo período foram estabelecidos princípios que direcionavam as diretrizes curriculares da
formação profissional, resultando na capacidade teórico-metodológica, ético-política e ténicooperativa. Para a conquista de uma nova lógica curricular e para a efetivação de um projeto
profissional, tornou-se necessário a instituição de um conjunto de conhecimento dos Núcleos
de Fundamentação da Formação Profissional: fundamentos teórico-metodológicos da vida
social; fundamentos da particularidade da formação sócio-histórica da sociedade brasileira;
fundamentos do trabalho profissional (ABEPSS, 2004, p. 61).
Dessa forma, como já citado anteriormente, modificações ocorreram, dentre elas
estava a criação de um novo currículo profissional a partir do ano de 1996, implementando
novas disciplinas na grade curricular do curso, o que implica que essas profissionais possuem
saberes diferenciados adquiridos durante a graduação.
3.4 O SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA SAÚDE
A partir do momento em que o processo saúde-doença foi compreendido como
resultante de várias determinações sociais e não somente de questões relacionadas ao bemestar físico, o serviço social foi chamado a atuar na saúde, sendo o assistente social
profissional reconhecido na área, com campo específico para exercer sua prática profissional.
De acordo com Bravo et al. (2007), que a partir da década de 1990, com a com
descentralização da gestão da saúde, o número de profissionais na área foi ampliado, sendo
considerado como fundamental para o atendimento das questões cotidianas envolvendo
situações relacionadas com a saúde dos indivíduos.
54
3.4.1 Concepção sobre o trabalho do Assistente Social na área da saúde
Quanto à atuação do assistente social na área da saúde, a assistente social A
destaca que é uma atividade voltada para a garantia dos direitos do ser humano como
principal objetivo da profissão nessa área. Já a assistente social B diz que na saúde, apesar de
ser um trabalho complexo, as pessoas não sabem qual é o papel do assistente social, tendo
aquela velha forma de que assistente social é a coitadinha, é pra ter pena. Quando na
realidade, eles estão ali para reconhecer os direitos do cidadão. Diz que, na área da saúde,
quando uma pessoa está internada, precisa reconhecer que tem esse direito. Então, o assistente
social precisa contribuir para que ele reconheça os seus direitos, principalmente os direitos
relacionados à área da saúde.
Já a assistente social D definiu a atuação do assistente social como facilitadora,
que trabalha junto aos direitos do cidadão, havendo um vasto campo para sua atuação,
podendo, através da saúde, universalizar uma série de direitos dos cidadãos, que muitas vezes
os desconhecem.
Falando acerca do vasto campo de atuação do assistente social, Iamamoto (2008,
p. 5) afirma que:
[...] Nesses espaços profissionais os(as) assistentes sociais atuam na sua formulação,
planejamento e execução de políticas públicas, nas áreas de educação, saúde,
previdência, assistência social, habitação, meio ambiente, entre outras, movidos pela
perspectiva de defesa e ampliação dos direitos da população. Sua atuação ocorre
ainda na esfera privada, principalmente no âmbito do repasse de serviços, benefícios
e na organização de atividades vinculadas à produção, circulação e consumo de bens
e serviços. Mas eles(as) também marcam presença em processos de organização e
formação política de segmentos diferenciados de trabalhadores (CFESS,
15/05/2008).
Assim, pode-se dizer que considerando a amplitude das questões sociais,
consequentemente, o profissional de serviço social também possui um amplo campo para
atuação.
Um dos conceitos sobre questão social mais difundido no serviço social, segundo
Iamamoto e Carvalho (1983, 77) é:
A questão social não é senão as expressões do processo de formação e
desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da
sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do
Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o
55
proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais
além da caridade e repressão.
Quanto à definição da atuação assistente social na área da saúde sob seu ponto de
vista, a profissional afirma sentir sua atuação limitada às questões do hospital, ao
imediatismo, visto que, na maioria das vezes o paciente dá entrada pela manhã e à tarde já é
liberado. Segundo a assistente social E:
A gente não vê com muita clareza e com muito digamos assim, a gente não tem a
visão social do paciente mesmo. [...] E dentro da saúde a gente fica muito limitado
ao imediatismo, ao ativismo. Nós discutimos a questão da cidadania, dos direitos do
paciente, dos direitos do usuário, da questão séria que não ocorre só na área da
saúde, mas ocorre nas áreas, do cabresto eleitoral que ainda existe e ainda é muito
forte. [...] A gente trabalha muito limitado, a gente não tem um trabalho de
acompanhamento de grupo, de formação de grupo, de conscientização, de gestante,
grupo de menor, com paciente menor, porque nós temos muitas parturientes
menores. [...] nós ficamos muito limitadas ao imediatismo, ao internamento, a
estadia do paciente no hospital e a alta. Não temos contato com família, temos na
hora do internamento, a gente recebe a família, um amigo, a pessoa que vem
acompanhando o paciente. Esse espaço é muito assim restrito pra gente ter uma
intervenção profissional, a gente faz da melhor maneira possível. E ate porque nós
não temos contato direto, nós não temos o vínculo com o distrito, com o vínculo
social. O nosso vinculo é com o distrito de saúde, que descaracteriza a nossa atuação
profissional. [...] Apesar de a gente ser profissional de saúde, a gente é um pouco
colocado de lado porque o profissional da área de saúde ele fica muito ligado ao
profissional afim da saúde, que é o enfermeiro, o médico. O social ainda não saúde
não é um ponto... ele é importante, mas a sua importância ainda não tem o seu valor.
Nas palavras da assistente social E podem-se perceber limitações de sua atuação
no âmbito hospitalar, considerando que o contato com o paciente é curto, principalmente nos
casos de emergência, já que o paciente entra e sai do hospital rapidamente, não havendo,
portanto, possibilidades de um maior conhecimento sobre aquele paciente, sobre o contexto
social em que está inserido, sobre sua família, enfim, sobre as questões sociais que os
envolvem, dificultando um atendimento mais eficiente. Outro fator observado foi a posição do
assistente social no ambiente hospitalar, que é visto por muitos profissionais e usuários como
desnecessários à saúde, como se apenas médicos e enfermeiros estivessem ambientados para o
atendimento hospitalar.
56
3.4.2 Conhecimento acerca da Política Nacional de Humanização do SUS – PNH e o
entendimento por atendimento humanizado
As assistentes sociais entrevistadas afirmam conhecer a Política Nacional de
Humanização do SUS. As mesmas informam terem participado de cursos na área, mas o
destaque é dado para uma capacitação oferecida pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, sendo
realizada em duas etapas, a primeira etapa ministrada pela própria Prefeitura e a segunda
etapa com os próprios funcionários do hospital, por meio da equipe de educação continuada.
Afirma a assistente social A ter ajudado a elaborar a palestra da capacitação na própria
instituição em estudo. Vale ressaltar que a Assistente Social E somente conhece a PNH,
porém não participou de nenhum curso de capacitação ou semelhante.
A capacitação na área promovida pela Prefeitura de Fortaleza aconteceu no
Ginásio Paulo Sarasate com todos os servidores do município visando a conscientização
acerca das políticas de saúde do país, além de palestras, a Assistente Social B menciona que
houve dramatização para o melhor entendimento. A assistente social C complementa
afirmando que receberam um material de estudo para aprofundamento do conhecimento.
Segundo as entrevistadas não houve nenhum curso de aperfeiçoamento ou nova capacitação
após esse período.
Além do conhecimento acerca da PNH, queríamos saber o que as assistentes
sociais entendiam se tratar de um atendimento humanizado no âmbito hospitalar.
A assistente social A afirmou apenas que era essencial no atendimento, que todo
atendimento deveria ser feito de forma humanizada, não dando um aprofundamento do seu
conhecimento acerca do assunto, o que impossibilitou uma análise mais concreta.
Já a assistente social B proporciona uma resposta mais consistente para análise
informando que:
Eu entendo assim, que tem que ser do porteiro, todo mundo tem que estar
enquadrado, porque não adianta só o assistente social tratar bem, porque nós já
sabemos disso pela nossa formação profissional, nós já éramos pra ter esse lado
humanizado, em minha opinião. [...] Então eu acho assim, todo mundo tem que falar
a mesma língua, porque infelizmente na prática esse curso não funciona muito bem
não. Infelizmente eu acho que deixa muito a desejar, eu como crítica aqui, acho que
as nossas técnicas de enfermagem elas precisam melhorar. Ver que aquela pessoa
pode ser da sua família. Até com o serviço social, na hora que a gente vai perguntar
eu acho que elas são grosseiras, acha que a gente ta vigiando o trabalho delas. Os
porteiros aqui não são reciclados, eu acho que o Gonzaguinha tem muito que
melhorar em termos de humanização, em minha opinião.
57
Nesse contexto, conforme se percebe, a assistente social B possui conhecimento
acerca do atendimento humanizado, entendendo-o como um processo global que deve
abranger a todo o quadro funcional do hospital, tanto aqueles profissionais envolvidos com a
saúde em si, quanto do setor administrativo em geral, tais como porteiros, serviços gerais,
administração do hospital, entre outros.
Vale aqui mencionar a humanização do atendimento nas palavras de Souza
(1985), que afirma que humanizar o atendimento é considerar a totalidade do indivíduo. Lerch
(1983) complementa afirmando que a humanização hospitalar consiste na principal
característica de uma administração eficaz e como o objetivo primordial de qualquer
profissional prestador de serviço em saúde.
A assistente social B menciona ainda o estresse dos profissionais da saúde como
uma dificuldade para a humanização do atendimento, mencionando, inclusive, casos de
profissionais que agem de forma grosseira até mesmo com os próprios profissionais que
trabalham em conjunto. Leclainche (1962, p. 8) afirma que nos ambientes hospitalar os
profissionais acabam por considerar que “o doente é um número, um caso, objeto de
atividades, mas não um centro de interesse; permanece geralmente sem esclarecimentos sobre
a própria sorte e sem explicação sobre o que lhe é imposto”. Assim, a humanização do
atendimento fica comprometida.
A assistente social C corroborando com a assistente social B também menciona
que para que a humanização no atendimento seja realmente concretizada é necessário contar
com profissionais qualificados, não só os profissionais da saúde, mas desde a entrada no
hospital, com o porteiro e a recepcionista.
A assistente social D menciona ser aquele atendimento no qual o paciente é
esclarecido acerca de seus direitos e seus deveres, e observa a forma de abordar o paciente
como parte do processo de humanização do atendimento, visto que em campo hospitalar o
estresse é alto, não só dos pacientes, mas também dos profissionais de saúde, o que geram
discussões e desentendimentos, sendo necessário ponderar em ambos os lados. A entrevistada
menciona ainda que o número de profissionais presentes no hospital é insuficiente, o que
eleva o estresse e dificulta a humanização.
Em relação à insuficiência de profissionais, Leclainche (1962, p. 9) menciona que:
58
Em relação a falhas na organização do atendimento são apontadas, por exemplo, as
longas esperas e adiamentos de consultas e exames, ausência de regulamentos,
normas e rotinas, deficiência de instalações e equipamentos, bem como falhas na
estrutura física: [...] espera às consultas e à entrada, nas admissões em tempo
dilatado, nos adiamentos impostos aos exames e aos tratamentos, no amontoado
humano dentro das salas [...].
Assim, aumentar o número de profissionais qualificados para atender a demanda
pode auxiliar na melhoria do atendimento humanizado em âmbito hospitalar, todavia, esse
fator demanda de custos, o que dificulta esse processo.
A assistente social E afirma que atendimento humanizado é oferecer todos os
recursos que o hospital dispõe, sem “mascarar” os programas que o hospital disponibiliza para
o usuário, olhando-o nos olhos com uma comunicação efetiva, em tempo hábil sem mecanizar
o atendimento. Sobre o fato de tornar o atendimento hospitalar mecânico, cabe aqui
mencionar o que foi dito por Leclainche (1962, p. 9): “[...] Ao não se dar conta onde termina a
máquina e começa o paciente, a relação com a máquina pode tornar o cuidado de enfermagem
um ato mecânico e o paciente ser visto como uma extensão do aparato tecnológico”.
Assim, para humanizar o atendimento ao paciente é necessário que se busque um
contato mais próximo, não o tornando como um dado do hospital, mas sim, como um sujeito
de direitos que possui sentimentos, no sentido de considerar uma visão holística sobre o
doente. Rizzotto (2002, p. 197) elucida que “outro aspecto que envolve reflexão e mudança
por parte da equipe de saúde para a humanização da assistência diz respeito ao vínculo [...].
Criar vínculos implica em estabelecer relações tão próximas e tão claras que todo o
sofrimento do outro nos sensibiliza”.
Diante do cenário atual, em referência a uma das perguntas feitas às entrevistadas
acredita-se que é possível sim efetivar uma prática humanizada na saúde. Cabe mencionarmos
o que algumas assistentes sociais colocaram como fatores fundamentais para que essa prática
seja positiva.
A assistente social A coloca a gestão hospitalar como fundamental nesse processo,
que deve incentivar aos funcionários, mostrando-os e cobrando um atendimento humanizado,
pois segundo ela, se a gestão não estiver à frente desse processo não há como se concretizar,
visto ser mais fácil não prestar o atendimento do que humanizar. Sobre os aspectos voltados
59
para gestão hospitalar como responsável pela efetivação da humanização, Elias (2002, p. 7)
elucida que:
Vivemos em um mundo onde as questões éticas são relegadas a um segundo plano,
em que a obsessão pelo lucro fácil e a obtenção imediata de resultados vem
corrompendo a estrutura da sociedade e das empresas acredita-se que o objetivo das
organizações não deve ser somente o lucro. Não digo que as empresas não devam
persegui-lo, mas podem criar uma gestão inovadora cujo desempenho obtivesse o
lucro como consequência e não como uma meta obsessiva. É o que chamo da
empresa próspera. A administração focada no ser humano total considera o
indivíduo por inteiro, ou seja, como um corpo, mente e alma, e entende que ele é um
agente de mudanças na organização, por mais simples que seja o seu lugar nela.
Nesse sentido, o respeito pela individualidade e o reconhecimento de que cada um
pode contribuir com seu talento para o funcionamento total da organização é o
agente motivador para que a humanização seja constante em qualquer ambiente de
trabalho, em especial no ambiente dos serviços de saúde.
Nesse contexto, a humanização no atendimento não deve partir apenas dos
funcionários, aliás, é possível dizer que não há possibilidade de partir apenas deles, visto que
deve ser um ato de todo o quadro funcional, se apenas um ou outro realizar um atendimento
humanizado, este não será efetivado, devendo, portanto, partir da gestão hospitalar.
A assistente social B é convicta ao dizer que sim, que é possível efetivar um
atendimento humanizado em âmbito hospitalar, todavia, afirma que no caso do Hospital
Distrital Gonzaga Mota – BC, por ter uma administração política dificulta a efetivação de um
processo humanizado. Aqui mais uma vez, percebe-se a ênfase para a gestão hospitalar,
considerando-a como principal meio para a concretização de um atendimento humanizado.
Novamente a gestão hospitalar é colocada em destaque, a assistente social C
afirma que para que o atendimento humanizado seja efetivado é necessário que a gestão
hospitalar esteja empenhada nesse objetivo. Já a assistente social E, diferentemente das
demais entrevistadas, afirma que não se pode esperar que venha apenas da gestão a iniciativa
para o processo de humanização, devendo o profissional buscar cursos para os seus
conhecimentos, visto que, a maioria dos novatos que chega ao hospital presta um atendimento
humanizado no início, todavia, parecem se acostumar com o ambiente e passam a atender de
forma mecânica, vendo o paciente apenas como um dado.
60
3.5 A HUMANIZAÇÃO NO HOSPITAL DISTRITAL GONZAGA MOTA – BARRA
DO CEARÁ
De acordo com a fala das entrevistadas, identificamos que a maior parte das
assistentes sociais entrevistadas considera que o Hospital Distrital Gonzaga Mota – Barra do
Ceará encontra-se inserido no processo de humanização. Porém, as mesmas destacam que há
questões que dificultam o andamento da humanização da assistência, a sua prática e a sua
efetivação no cotidiano do hospital. Assim, existe uma contradição nas constatações acerca do
processo de humanização do atendimento na instituição aqui em estudo, podendo-se deduzir a
partir disso, que o HDGM-BC apesar da boa vontade das profissionais em humanizar o
atendimento, ainda encontra barreiras que precisam ser superadas para alcançar eficiência
nessa prática.
Somente uma das entrevistadas disse que o processo de humanização ainda não é
uma realidade no HDGM-BC, dependendo do empenho da administração hospitalar para que
se efetive e torne-se uma realidade. (Assistente Social C, 2012)
As demais afirmam que o hospital caminha passo a passo para melhorar o
atendimento existente. A assistente social E menciona novamente a gestão como fundamental
para essa concretização, dizendo que o Hospital Distrital Gonzaga Mota está caminhando para
o processo de humanização no atendimento e afirma que a última mudança ocorrida na gestão
já havia demonstrado melhorias, a limpeza do hospital estava melhor, a própria infraestrutura, os equipamentos e instrumentos de trabalho dos profissionais. Enfim, podendo-se
dizer que o hospital apresentou melhorias e caminha para concretizar a humanização do
atendimento.
Mas, sabemos que não é competência apenas da gestão e nem tampouco dos
profissionais da saúde a responsabilidade sobre a prática da humanização nos serviços de
saúde. São várias as dificuldades e desafios encontrados para efetivar a humanização do
atendimento no hospital em questão.
61
3.5.1 Dificuldades e desafios do atendimento humanizado no HDGM-BC
A assistente social A enfatiza a insuficiência de recursos humanos como principal
dificuldade, afirmando que a falta de médicos é que mais prejudica, visto que negam o
atendimento no hospital, por vez, por não haver médicos para atendimento. De acordo com o
Ministério da Saúde (2006) de fato a insuficiência de leitos hospitalares e de médicos para
atender a demanda é uma das maiores dificuldade da humanização do atendimento no âmbito
dos hospitais que integram o Sistema Único de Saúde (SUS).
A assistente social B dá ênfase à gestão e a considera como maior desafio do
atendimento humanizado no Hospital Distrital Gonzaga Mota – BC, afirmando haver
impasses por parte da direção do hospital. Segundo a participante, até mesmo para conseguir
exames necessários aos pacientes se tem dificuldade, mesmo depois do internamento dos
mesmos, afirmando não haver nenhum convênio com clínicas para a realização dos exames.
Em suas palavras:
Eu acho que o hospital tem que ter aquela responsabilidade. Não está internado, não
internou? Então, vamos ver dentro daquele quadro daquele paciente o que a gente
pode fazer para melhor diagnosticar a causa daquela doença que ele ta tendo. Eu
acho uma dificuldade muito grande isso daí. O que é que a assistente social? A gente
se sente muito uma formiguinha, porque o atendimento corriqueiro, orientação, tudo
bem! Mas isso daí a gente se sente uma formiguinha, ai faz muito mal, eu me sinto
muito impotente, sem poder fazer nada. E a direção, ai eu digo: gente pelo amor de
Deus. Sabe? Já melhorou já se tentou, mas eu acho que na minha opinião isso é uma
obrigação, não é um favor não. (Assistente Social B)
Assim, pode-se notar que há inoperância da gestão hospitalar, não havendo um
esforço para o cuidado com os pacientes, os mesmos passam a ser vistos apenas como
números, como estatísticas, não havendo empenho para melhorar o atendimento prestado aos
mesmos, há um constante descaso.
A assistente social C também considera a própria gestão hospitalar como principal
dificuldade para concretização do processo de humanização no atendimento, contudo, não se
aprofunda em sua resposta. Vale destacar, com base em Ribeiro (2012, p. 1) que “a gestão é o
elemento catalisador no conjunto de procedimentos e práticas que viabilizam a aplicação dos
recursos disponíveis, entendendo como tais, o dinheiro, as pessoas, os imóveis, os
equipamentos, os insumos, os serviços e o conhecimento, que se traduzem em serviços à
sociedade”. Assim, parte da gestão os investimentos e ações para se concretizar quaisquer
62
objetivos não bastam somente à boa vontade dos funcionários se eles não puderem contar com
os recursos necessários para o atendimento.
Novamente, a falta de recursos humanos é mencionada pela assistente social D,
afirmando que o Hospital Distrital Gonzaga Mota – Barra do Ceará possui uma grande
defasagem na equipe médica.
É possível dizer que é justamente essa falta de recursos humanos no hospital que
gera um dos maiores problemas no atendimento humanizado, visto que muitas vezes o
paciente tem que se dirigir a outro hospital por não ter o atendimento que necessita, ou mesmo
passa horas em uma fila esperando atendimento.
A assistente social E torna a destacar que a gestão hospitalar, é a grande
responsável pela falta de equipamentos dentro do hospital, não havendo disponibilidade de
instrumentos de trabalho. Outra dificuldade no processo humanizado neste hospital
mencionado pela entrevistada é a reunião de equipe proposta pelo serviço social, que visa
engajar a equipe nos grupos de estudo dos conselhos, afirmando que a equipe é bastante
desestimulada e não participa, e quando participa é com interesse próprio, seja por está
fazendo uma pós-graduação ou porque está desenvolvendo um trabalho em outro local. A
entrevistada aponta o desinteresse da gestão hospitalar pelo serviço social, afirmando que os
maiores investimentos são voltados para a enfermagem, mencionando um desconhecimento
do trabalho executado pela assistente social no ambiente hospitalar:
[...] porque as pessoas não têm nem noção do seja o trabalho do AS. Nós temos
muitas AS aqui dentro do hospital, todo mundo acha que pode ser assistente social.
Quando na verdade não tem o embasamento técnico, e é um entrave para o trabalho
da gente, é uma dificuldade. Tudo que acontece mandam pra nossa sala, nos somos
informador popular, nós somos delegacia, nós somos tudo, porque tudo é pra AS
resolver, porque não se conhece o trabalho. (ASSISTENTE SOCIAL E)
Dessa forma, de acordo com a assistente social E há desconhecimento da sua
atuação dentro do hospital, não havendo investimentos para melhorias do atendimento. Notase aqui um descaso com as profissionais de serviço social por parte da gestão hospitalar, que
são submetidas a trabalhar com poucos recursos, dificultando a sua atuação.
A assistente social E fala ainda acerca da triagem realizada no hospital,
mencionando as dificuldades existentes, visto que o hospital não atende a todos os tipos de
paciente. Segundo a entrevistada:
63
Na triagem muitas vezes o paciente não é recebido, e o paciente vem pra nossa sala
reclamar isso. E a gente não pode fazer a intervenção necessária, porque a gente
sabe que a questão social, a pessoa passou o dia trabalhando, a pessoa tem que
trabalhar pra se manter, se a pessoa sair do trabalho a pessoa perde um dia de
trabalho, perde a remuneração, AH porque você não veio de manhã, não veio de
manha porque tava trabalhando e não podia sair, veio a noite e não pode ser atendido
porque não é emergência. Não faz uma medicina preventiva, não vai pro posto
marcar uma consulta pra fazer exame, pra fazer check up, porque não tem a
intervenção lá no posto de saúde, lá o profissional não faz a abordagem pra quando a
pessoa chegar aqui ta preparada. O pessoal vem com dor de dente pra cá, mas não é
aqui é no CEO, mas como é que eu vou pro CEO se eu não tenho dinheiro. O que é
o CEO? Ninguém sabe. Como é que eu vou pra lá, ai eu vim pra cá sem dinheiro,
manda uma ambulância me deixar, não uma ambulância não pode deixar paciente
em canto nenhum que não sejam os cantos direcionados dentro do trabalho de
emergência do hospital. Ah eu tive alta, mas eu não posso sair do hospital porque eu
não tenho dinheiro pra taxi, eu não posso ir, manda a ambulância me deixar. A
ambulância não pode deixar paciente em casa, na hora que a ambulância se desloca
pra deixar paciente em casa, a ambulância deixa de estar no hospital pra atender uma
emergência. Chega uma emergência pra transferir paciente? Então nós não temos
aparato, nós não temos o vale transporte, nós não temos um transporte disponível
pra transportar paciente, nós não temos a estrutura que o social requer. Quando nós
estávamos na ação social, nós tínhamos um carro para cada ação nossa. Eram varias
Kombi com motorista a nossa disposição, pra fazer visita domiciliar, pra transportar.
eu mesma uma vez vim aqui no hospital com uma pessoa que teve um problema 1á
no centro urbano presidente Médici, e eu como coordenadora do serviço social de lá
vim deixar o paciente e internar o paciente aqui. O serviço social não tem estrutura
pra desenvolver esses trabalhos, essas ações. Não participou do curso de
capacitação, acho que quem participou mais foi o pessoal do dia, a noite não tinha.
Conforme pode-se notar nas palavras da assistente social E, o serviço social no
âmbito do Hospital Distrital Gonzaga Mota não possui estrutura necessária para atender à
todas as demandas dos pacientes, segundo ela, as limitações vão desde a falta de transporte
para os casos que não se configuram emergência até o fato das pessoas não conhecerem os
serviços públicos de saúde que têm ao seu dispor.
A assistente social B também destaca outras dificuldades na área da saúde, nesse
caso volta-se para as questões hierárquicas existentes. Informa que, ainda prevalece o médico
em primeira instância, depois a enfermeira e somente depois a assistente social, conforme
destaca a entrevistada, como se não tivesse importância na área, elucidando, ainda, que o
principal objetivo do assistente social na saúde é garantir que os direitos do cidadão sejam
cumpridos, fazendo com que ele mesmo reconheça tais direitos.
Rizo (2010, p. 1), reforça o que foi dito pela entrevistada, ao afirmar que “o
assistente social tem tido, muitas vezes, dificuldades de dialogar com a equipe de saúde para
esclarecer suas atribuições e competências face à dinâmica de trabalho imposta nas unidades
de saúde”.
64
Dessa forma, deve-se destacar considerando o que Rizo (2010, p. 1) que o
assistente social é de grande importância na área de saúde não só para garantir que os direitos
do paciente sejam cumpridos e que ele reconheça esses direitos, mas também, por dispor de
“ângulos particulares de observação na interpretação das condições de saúde do usuário e uma
competência também distinta para o encaminhamento das ações, que o diferencia do médico,
do enfermeiro, do nutricionista e dos demais trabalhadores que atuam na saúde”.
Da mesma forma que a assistente social B, a assistente social C afirmou ter
encontrado a hierarquia como dificuldade em sua atuação na área da saúde, enquanto em sua
área de atuação o serviço social era tido como principal foco, na saúde, primeiro estão os
médicos, depois os enfermeiros e, somente depois, os assistentes sociais.
Mais uma vez aqui, emergem as questões relacionadas à hierarquia dentro da área
da saúde, deixando o profissional de serviço social sentir-se inferior e, consequentemente
tornando suas atividades limitadas. No que concerne à atuação limitada, mencionada pela
assistente social E, deve-se ressaltar, com base em Bravo e Matos (Bravo et al. 2007, p. 43)
que o trabalho do assistente social na saúde consiste em “formular estratégias que busquem
reforçar ou criar experiências nos serviços que efetivem o direito social à saúde, em uma ação
articulada com outros profissionais que defendam o aprofundamento do Sistema Único de
Saúde”. Mesmo diante das limitações expostas pela entrevistada, pode-se dizer que o
assistente social possui uma infinidade de ações para desenvolver junto aos pacientes, apesar
de haver diferenças de uma ação social desenvolvida em comunidade, por exemplo, a qual
possui uma maior amplitude de atuação, também há muito que desenvolver na área da saúde.
3.5.2 A atuação do assistente social junto às parturientes e o atendimento humanizado
no HDGM-BC
Em relação à humanização no atendimento a parturientes, é significativo destacar
que o momento do nascimento de uma criança é bastante delicado, envolvendo tanto
emoções, quanto dores, podendo até ser composto por um quadro mais agravado. Diante
desse cenário queríamos saber como as assistentes sociais atuam junto as parturientes dentro
do Hospital Distrital Gonzaga Mota – BC, tendo como foco a humanização do atendimento.
Deve-se destacar aqui a Lei 11.108, de 7 de abril de 2005, que, alterando a lei 8.080/90,
65
assegura às parturientes seus direitos durante o trabalho de parto, o parto e o pós-parto
imediato.
De acordo com a assistente social A, a obstetrícia do hospital é bem melhor
administrada, havendo mais profissionais para atender a demanda e um maior
comprometimento, o que melhora o atendimento para essas pacientes. A fala se repete pela
assistente social B, que também confirma uma maior atenção com as questões obstétricas,
afirmando haver um maior conforto para essas pacientes, segundo ela o atendimento
humanizado é mais visto nesse âmbito do hospital, há sempre uma preocupação por parte dos
profissionais para deixá-las à vontade, tendo consciência do que vão sentir, de como devem
proceder, além de poderem contar com um familiar como acompanhante durante o parto.
Contrariando o que foi informado pelas demais entrevistadas, a assistente social C
afirma que o atendimento realizado junto às parturientes é muito falho, não havendo ligação
entre sala de parto, berçário e enfermaria. Nesse ponto, é possível falar acerca do trabalho
multidisciplinar, que de acordo com Mabuchi e Fustinoni (2008, p. 424) é de “fundamental
relevância na assistência à parturiente, pois esta necessita que aspectos físicos, sociais,
espirituais, psicológicos e biológicos sejam trabalhados”.
A assistente social D afirma que ainda não chegou ao ápice do atendimento
humanizado, porém, afirma que muito já foi melhorado. Em relação ao acompanhante no
momento do parto, a entrevistada afirma que o hospital ainda não possui estrutura para tanto,
porém, afirma que antes do parto isso já é uma realidade dentro do hospital. A assistente
social D afirma que:
Ainda não tem como abranger tudo, mas a gente já vai mostrando as pacientes que
estão mais nervosas, que necessitam de um acompanhante, porque de menores já
tem por direito, mas é... vamos supor outros casos, da paciente que a gente procura,
porque normalmente a estrutura física não oferece, mas a gente procura de certa
forma ter aquele apoio psicológico, que é importantíssimo. Ter uma pessoa, um
familiar ali, mesmo um amigo, uma amiga né?! Um homem ainda não... A realidade
é questão da estrutura física, mas nós estamos melhorando, inclusive a sala de parto
está em reforma.
Desse modo, nota-se que apesar de não possuir um eficaz atendimento
humanizado no Hospital Distrital Gonzaga Mota, os indícios desse processo são claros,
percebendo-se a todo o momento a busca pelo bem estar dessas pacientes.
66
A assistente social E ressalta a carência das parturientes atendidas, ressaltando os
problemas sociais que envolvem essas pacientes, como o desequilíbrio familiar. A
entrevistada afirma que:
Carentes de serem bem recebidas, de serem bem tratadas, de que já ouvi parturiente
dizer que: ai se eu soubesse que era assim! Mas é assim, um parto é com dor, toda
mulher sabe que o parto é com dor, mas na hora que ta vivendo aquilo, quando a
gente não tinha uma pessoa da família perto, dentro da sala de parto era mais difícil.
Hoje mesmo com uma pessoa da família perto, a pessoa ainda se sente carente, se
sente assustada naquele momento, mas já ameniza. Eu acho que isso já é
trabalhando no pré natal, essa questão. Então a parturiente, ela chega aqui ainda é
assim.. .sem muito entender aquilo que vai acontecer com ela. E as vezes acontece
da pessoa não querer o filho, já presenciei um parto da mãe não querer que o filho
nascesse, não..se fechou, não deixava o medico abrir, foi preciso fazer uma coisa
forçada. Ela rasgou no dente lençol, plástico da lona que envolve o colchão, quis me
mordes, quis morder o medico, porque não queria que a criança nascesse. E foi uma
loucura, depois que a criança nasceu que ela foi pro alojamento conjunto, quando ela
se deu por si, ela pediu desculpa a todo mundo pelo comportamento dela, tal e tal,
mas a gente nem imagina e nem sabe porque a gente não acompanha de lá, aquele
comportamento daquela paciente, porque? É questão é bem social, bem social. É
porque ela estava completamente saudável fisicamente, emocionalmente
afetivamente desequilibrada, as causas com certeza sociais.
Nesse sentido percebe-se que há todo um contexto social envolvendo as
parturientes, havendo problemas difíceis de serem resolvidos, demandando muita paciência e
cautela, complicando, muitas vezes, a humanização no atendimento.
Vale ressaltar aqui o que vem a ser um atendimento humanizado no parto, que de
acordo com Brasil (2006):
Uma atenção pré-natal e puerperal qualificada e humanizada se dá por meio da
incorporação de condutas acolhedoras e sem intervenções desnecessárias, do fácil
acesso ao serviço de saúde de qualidade, com ações que integrem todos os níveis de
atenção: promoção, prevenção e assistência à saúde da gestante, do recém-nascido,
desde o atendimento ambulatorial básico até o atendimento hospitalar para alto
risco.
Um atendimento humanizado no parto, assim como em qualquer ambiente
hospitalar, deve ser pautado na busca pelo bem estar do paciente, desde o momento da entrada
no hospital até a saída do mesmo, principalmente, quando se trata de um parto, visto que a
mãe se encontra em um momento de fragilidade, necessitando de máxima atenção. Devendose, ainda, considerar que no Hospital Distrital Gonzaga Mota – BC existem parturientes que
ainda necessitam de uma maior atenção, dado o contexto social da maioria, muitas são
dependentes químicas, e vêm de uma gravidez indesejada.
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A assistente social E afirma que existem entraves dentro do Hospital Distrital
Gonzaga Mota para a concretização das Políticas de Saúde, nesse momento pode-se perceber
na fala da entrevistada o atendimento “frio” prestado às parturientes em um hospital público:
Quando nós colocamos o paciente, quando nós estamos fazendo a intervenção na
questão do parto humanizado, que é o que nós temos, assim mais perto da gente aqui
do serviço social. Então, a gente coloca pro usuário todos os limites e todas as
maneiras de como se deve acompanhar aqui, em Fortaleza, aqui no Hospital
Gonzaguinha da Barra do Ceara na sala de parto. Porque a gente sabe que em outros
estados, as pessoas já participam do parto, ficam em sala com o médico, com o
enfermeiro e com a parturiente, e assistem o parto. Aqui não, aqui mal se pode
colocar uma pessoa acompanhando a parturiente, porque isso, porque os próprios
auxiliares de enfermagem não aceitam os acompanhantes dentro da sala de parto, do
pré parto. Porque as pessoas, elas não são preparadas lá no pré-natal, La onde ela ta,
La na ponta, no posto de saúde, pra vim acompanhar uma parturiente na sala de
parto. Chega aqui ela sabe que tem o direito e quer entrar, mas não sabe como é esse
entrar. Outra coisa, eu... nós temos grande dificuldade é na questão da admissão do
paciente no hospital, na triagem, que eu não vejo nada humanizado, é a realidade,
porque tem pacientes que chegam aqui sentindo milhões de coisas, se não se
caracteriza emergência, a demanda é tão grande e a gente só tem essa unidade de
saúde pra oferecer o serviço que as pessoas vêm pra cá.
Sobre a presença de um acompanhante no momento do parto, vale mencionar que
a Lei n. 11.108/2005, visa garantir que a parturiente tenha a presença de um acompanhante
durante o parto, estabelecendo que os hospitais devem se organizar para no período de
trabalho de parto, parto e puerpério imediato poder receber um acompanhante para cada
parturiente, o qual deverá ser escolhido por ela mesmo, que possa confortá-la e encorajá-la no
momento do nascimento.
Dessa forma, o Serviço Social do HDGM – BC se articula com outros
profissionais da saúde para que essa lei seja concretizada. Por conta da estrutura física do
Hospital não ser adequada para receber acompanhantes antes, durante e após o trabalho de
parto, são liberadas somente acompanhantes do sexo feminino, restringindo-se a presença do
sexo masculino visando manter a privacidade das parturientes. As orientações sobre regras e
procedimentos aos acompanhantes e visitantes são repassadas na sala do Serviço Social
individualmente ou coletivamente. As assistentes sociais orientam os usuários e pacientes
quanto aos seus direitos e deveres, porém salientam a Lei citada no parágrafo anterior não é
cumprida devido à estrutura física do hospital ainda não ser adequada para disponibilizar o
acompanhamento que a parturiente tem direito, como por exemplo, os acompanhantes do sexo
masculino.
68
De acordo com o Ministério da Saúde (2006), a presença de um acompanhante no
momento do parto traz benefícios para a parturiente, visto que ficam mais tranqüilas e
seguras, reduzindo o tempo de trabalho de parto e o número de cesáreas. É mencionado,
ainda, que a permanência de um acompanhante contribui para a redução do risco de depressão
pós-parto, sem contar com o auxílio após o parto, quando a mãe encontra-se em fase de
reabilitação.
Nota-se, portanto, que de acordo com a assistente social E o atendimento
humanizado junto à parturiente ainda não é integral no Hospital Distrital Gonzaga Mota – BC,
se limitando a atender os casos de emergência, considerando que ainda não possui
infraestrutura para receber acompanhante na sala de parto. Ressalta-se que existe aqui o
descumprimento do artigo 19-J da lei 11.108/2005, que assegura a parturiente um
acompanhante no trabalho de parto, no parto e no pós-parto imediato.
O assistente social como ator desse processo, ambientado nesse cenário,
respondeu sobre qual era a sua importância, considerando a sua profissão, junto às
parturientes quanto ao atendimento humanizado.
A assistente social A menciona a importância desse profissional no atendimento
humanizado colocando-se como um dos principais motivos para esse atendimento ocorrer,
visto que estão sempre destacando o direito dos usuários, o direito que a parturiente possui de
ter um acompanhante, que apesar de estar na lei, o Hospital não possui ainda estrutura para
receber um acompanhante em sala de parto, o que impossibilita que a lei seja atendida de
forma integral.
A assistente social B confirma a importância ao informar que a conversa durante o
atendimento é fundamental para bem estar das parturientes, destacando, principalmente, os
casos de aborto, estes são os que mais afetam o emocional da paciente, por envolver uma série
de questões sociais, fatores negativos, que, muitas vezes, exigem sigilo, sendo nesse momento
que a assistente social atua para um atendimento humanizado, dando espaço para a paciente
conversar sem medo de ter seu sigilo quebrado.
Já a assistente social C informa que o profissional dessa área é uma espécie de
serviços, de tudo faz um pouco, é como se o trabalho dos assistentes sociais fizesse com que o
hospital andasse, desempenhando um papel fundamental na interação entre profissionais e
pacientes.
69
A assistente social D também destaca a importância de sua profissão no ambiente
hospitalar, explicando como é a atuação da equipe de serviço social dentro do Hospital
Distrital Gonzaga Mota:
Nós explicamos pra a mesma o direito que ela tem, de acompanhar o bebe que é de
fundamental importância, as vacinas, a questão da certidão de nascimento, porque
nos já funcionamos com o cartório aqui na semana. Então a gente explica a
importância dela fazer uma prevenção depois. Porque é um momento muito rico,
esse momento que a gente tem com a parturiente pode se abranger várias coisas,
explicando pra ela que se deve fazer a prevenção, mas na hora que ela quer fazer a
laqueadura nós explicamos que tem o outro lado, porque as mulheres ligam mais não
pensam nas doenças sexualmente transmissíveis. Então a gente tem que fazer um
alerta também quanto a isso. É um momento riquíssimo, porque a gente tem como
abordar vários assuntos. Eu acho assim, importantíssimo o serviço social nessa área.
Porque realmente a gente procura esclarecer quais são os direitos dela, é o momento
até de aprendizagem mesmo, de educação em saúde, da saúde também do
companheiro dela. Então é o momento da gente chamar até pro companheiro
também, porque o homem realmente é sempre mais complicado, ele vem ao hospital
através da mulher, então eu acho que esse momento é fundamental.
Assim, o atendimento da assistente social junto à parturiente está pautado nos
direitos e deveres, orientando-as a como devem proceder quando saírem do hospital, e
buscando sempre o bem estar da paciente.
Silva e Arizono (2008, p. 1) destacam que “a contribuição do Serviço Social ao
projeto de humanização é fundante no projeto ético-político da profissão, que tem nos direitos
sociais seu alicerce e se configura no ethos interventivo da profissão pela experiência dos
profissionais com o trabalho interdisciplinar e com a abordagem sócio-educativa”.
A assistente social E menciona a importância da assistente social para efetivação
do atendimento humanizado, todavia, destaca o desconhecimento de suas atribuições pelos
pacientes:
[...] as pessoas nos vêem, apesar das pessoas nos ver ainda naquela visão
assistencialista, de que a gente pode dar... ser aquela pessoa que vai ta ali para
prover as necessidades que surgirem naquele momento. De dizer pro médico que o
medico tem que atender naquele momento que a paciente ta sentindo dor, na hora
que a paciente quer, que tem que fazer isso, tem que fazer aquilo. Elas muitas delas,
já atendi muitas que chamam o AS pra ter esse apoio pessoal individualizado. Acho
muito difícil que as pessoas saibam, que tenham essa visão de que a gente pode
orientar na concepção e na execução dos direitos dos pacientes. Elas chamam mais
como um apoio, como aquela pessoa que vai dar um conforto, mas chamam. E a
gente tem que procurar, aproveitar esse momento pra intervir de alguma forma.
Deixando a paciente com a clareza de que o nosso papel não é esse, mas que apesar
da gente ir a gente tem que deixar claro que o nosso papel é outro, não é ir
acompanhar a paciente, mas a gente faz isso, a gente vai.
70
Mais uma vez tem-se o desconhecimento da profissão de serviço social, sendo
colocado, que apesar disso são solicitadas, aproveitando o momento para esclarecer suas
atribuições e auxiliar à paciente no que for necessário.
Fustinoni (2000, p. 25) destaca a atuação do assistente social junto às parturientes
ao ressaltar que:
As mulheres esperam receber informações e explicações sobre seu trabalho de parto
e parto. Para elas, é de extrema importância que o profissional explique os
procedimentos que ir· realizar, fale sobre o bem-estar do feto, converse com a
parturiente, com calma, sem grosseria, pois dessa forma esta se sentir· mais segura,
confiante e colaborativa.
Dessa forma, o bem estar da paciente e as orientações acerca de seus direitos e
deveres são fundamentais para um atendimento humanizado, tendo o assistente social papel
essencial para concretização do mesmo.
71
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta monografia foi feito um estudo acerca da atuação da assistente social no
Hospital Distrital Gonzaga Mota - BC, descrevendo as atribuições e importância desse
profissional nesse âmbito, focando no atendimento humanizado junto a parturientes. Apesar
de possuir campo de atuação na saúde já estabelecida pela legislação brasileira, o assistente
social ainda não tem suas atribuições reconhecidas pelos usuários da saúde e, até mesmo, por
profissionais que trabalham no mesmo ambiente com funções diferenciadas.
O nascimento é tido como um momento único na vida de uma mulher. É uma vida
que está chegando ao mundo, assim, emoções e anseios pairam sobre esse momento.
Inúmeros são os boatos que ocorrem sobre o momento do parto, dores, possíveis patologias
que podem acometer o recém-nascido, principalmente no caso da saúde pública, onde o
descaso dos profissionais de saúde é alvo de críticas. A mulher, no geral, possui atitudes
muito variáveis durante a maternidade, regadas sempre de muitas emoções que por diversas
vezes fica sem exteriorização e que varia de padrão social. Todas as parturientes possuem
receios acerca de dores, medo do novo na hora do parto.
Por meio do estudo aqui realizado, ficou claro que o assistente social se faz de
suma importância para promover o atendimento humanizado com parturientes, visto que
contribui para que essas pacientes conheçam seus direitos, priorizando o cuidado, a
valorização do momento em que ela se encontra e melhorando a sua autoestima.
Faz-se de suma importância que a mulher e a família desfrutem da humanização
do cuidado, ou seja, atenção, responsabilidade, o respeito às particularidades e principalmente
uma assistência integral e abrangente.
Nos hospitais, o assistente social funciona como uma opção real de promover um
modelo eficaz de assistência à saúde, observando o indivíduo de forma holística,
considerando todas as questões sociais a que estão envolvidos e de que forma estas questões
sociais podem influenciar em sua saúde, tendo, portanto, uma atenção integral do indivíduo.
Visando sempre uma atuação interdisciplinar, promovendo um atendimento mais humanizado
no trato com o usuário.
72
Vale ressaltar que, no estudo realizado com as assistentes sociais do Hospital
Distrital Gonzaga Mota - BC, todas mencionaram ter conhecimento acerca das Políticas
Nacionais de Humanização do Atendimento e, consequentemente, sobre a humanização do
atendimento. Mencionando que para que o atendimento humanizado seja realizado de forma
eficiente, é necessário que as ações partam da gestão hospitalar, exigindo e estimulando aos
seus profissionais, sejam eles da saúde ou não, um atendimento humanizado junto às
parturientes. Segundo as profissionais que participaram desta pesquisa, caso as ações não
partam da gestão, não será possível sua implantação, visto que apenas alguns profissionais
irão fazê-lo, não oportunizando, assim, que haja um atendimento integral de forma
humanizada.
Quanto ao atendimento humanizado no Hospital Distrital Gonzaga Mota - BC, as
participantes informaram ainda não ser uma realidade do hospital, apesar de já ter avançado
em relação ao assunto, ainda há muito que ser feito, problemas de infraestrutura e ações da
gestão hospitalar foram colocados como principais barreiras para que o atendimento
humanizado ocorra de forma adequada. Dessa forma, notou-se que ainda é preciso avançar
nesse processo, haja vista, que apesar da área da saúde se apresentar como um campo amplo
para atuação do assistente social, ainda há problemas de hierarquia, pois nos hospitais os
profissionais nucleares são os médicos e os enfermeiros, deixando o assistente social em uma
posição secundária.
No hospital, a atuação do assistente social é potencial, considerando que é um
ambiente, onde as questões sociais são determinantes no processo saúde e doença do usuário,
principalmente no que concerne ao atendimento humanizado às parturientes, visto que são
mulheres que, muitas vezes, estão sobrecarregadas de problemas sociais, como por exemplo,
gravidez indesejada. Nesse contexto, nesse campo, o assistente social é imprescindível,
detectando e atendendo demandas coletivas apresentadas de formas individualizadas pelas
parturientes, bem como promovendo o trabalho interdisciplinar, construindo de forma coletiva
estratégias de ação para o enfrentamento da realidade.
Percebe-se que no ambiente hospitalar são inúmeros os obstáculos que perpassam
a prática cotidiana do assistente social, mas é exatamente a sua capacidade de dialogar e
acreditar sempre em começar algo novo que constrói uma prática diferenciada, o que nesse
aspecto, a humanização da prática profissional pode ser construída concretamente.
73
Por fim, destaca-se que sobre o tema aqui tratado ainda há muito campo a ser
explorado. Não tendo, portanto, a intenção de encerrar as discussões em torno desse assunto,
o intuito é de promover o estudo nessa área, levantando novos interesses e dúvidas sobre o
assunto, para que ele possa ser cada vez mais abordado na literatura, destacando a atuação do
assistente social como primordial para a humanização do atendimento junto ao público
usuário, especialmente às parturientes que necessitam do serviço público.
74
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Dissertação (Mestrado em Saúde Pública – concentração em Políticas Públicas e Saúde) –
Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz / M.S.
81
APÊNDICE
82
APÊNDICE 1 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Estamos desenvolvendo uma pesquisa cujo tema é A humanização da assistência à
saúde e a inserção do assistente social no atendimento a parturiente no Hospital Distrital
Gonzaga Mota – Barra do Ceará, tendo por objetivo Analisar a atuação dos assistentes
sociais no atendimento humanizado às parturientes.
Sua participação é voluntária, não lhe causando nenhum dano a sua qualidade de
vida. A qualquer momento, poderá desistir de participar do estudo sem qualquer prejuízo e
todas as informações obtidas serão mantidas em sigilo assim como sua identidade.
A pesquisa será realizada através de entrevista semi-estruturada. Destacamos que a
entrevista será individualizada e gravada para que não haja perda do conteúdo.
Comprometemo-nos a utilizar os dados coletados somente para a pesquisa e os
resultados poderão ser veiculados através de artigos científicos, em revistas especializadas
e/ou encontros científicos, sem a identificação do entrevistado. Em caso de dúvidas ou para
outras informações, poderá entrar em contato com a pesquisadora responsável, Amanda Paz
de Sena, pelo telefone (85) 8811-1726.
Este termo terá duas vias iguais, sendo uma para o sujeito participante da pesquisa ou
para seu responsável legal e outro para o arquivo da pesquisadora.
Desse modo, tendo tomado conhecimento sobre o teor da pesquisa concordo em
participar dela de forma livre e esclarecida.
Nome:______________________________________________________________
Assinatura:__________________________________________________________
Telefone:________________________
Data: ____________________________
______________________________________________________
Assinatura da Pesquisadora
83
APÊNDICE 2 – ROTEIRO DE ENTREVISTA
Data ____ / ____ / ______
I – Dados de Perfil
Entrevistado: ___________________________________________________________
Ano de Formação Acadêmica: _____________________________________________
Em qual instituição concluiu o curso de Serviço Social? _________________________
Pós-graduação: ( ) Sim ( ) Não
Se sim, especificar:
( ) Especialização. Área: _________________________________________________
( ) Mestrado. Área: ______________________________________________________
( ) Doutorado. Área: _____________________________________________________
Tempo de trabalho como Assistente Social? ___________________________________
Tempo que trabalha como Assistente Social no HDGM – BC? ____________________
II – Saúde, Humanização e Prática Profissional
1. Como foi sua inserção profissional na área da Saúde e como você define o trabalho do
Assistente Social nessa área?
2. Conhece a Política Nacional de Humanização do SUS – PNH? Se conhecer, já
participou de alguma capacitação sobre essa política? Se sim, aonde?
3. O que você entende por atendimento humanizado?
4. Diante do cenário atual, você considera que é possível efetivar uma prática
humanizada na saúde?
5. Você considera que o HDGM – BC está inserido nesse processo de humanização?
84
6. Sob seu ponto de vista quais as maiores dificuldades e desafios de um atendimento
humanizado no HDGM – BC?
7. Entende-se que o momento do nascimento de uma criança é bastante delicado,
envolvendo tanto emoções, quanto dores, podendo até ser composto por um quadro
mais agravado. Observando sob esse ponto de vista, como você pode descrever a
estadia da parturiente aqui no hospital levando em consideração a questão da
humanização?
8. Qual a importância da atuação do assistente social junto às parturientes no HDGM –
BC? Você considera que a sua atuação profissional torna o atendimento a parturiente
no âmbito hospitalar mais humanizado?
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